31/10/2016

breathe: capítulo 36


— Você tem quatro segundos antes que eu derrube essa porta, mulher — gritou Selena na varanda. Quando eu a abri, ela se sobressaltou. — Pelo amor de Deus, quando foi a última vez que você tomou banho?
Eu vestia pijama, e meu cabelo estava preso no coque mais bagunçado de todos os tempos, os olhos inchados. Levantei o braço e cheirei minha axila.
— Passei desodorante.
— Ah, querida — murmurou ela, entrando na minha sala. — Cadê a Elizabeth?
— É sexta-feira, Elizabeth passa a noite fora — expliquei e desabei no sofá.
— O que está acontecendo, Demi? Seu namorado foi até o café dizendo que você não está falando com ele. Ele magoou você?
— O quê? Não. Ele é... Ele é perfeito.
— Então por que o voto de silêncio? E por que você parece uma mendiga? — ela se sentou ao meu lado.
— Porque não posso mais falar com ele. Não posso mais ficar com ele.
Contei tudo sobre o acidente, explicando por que as coisas entre mim e Joseph não dariam certo. A seriedade no olhar de Selena era uma coisa que eu não via com frequência, o que só confirmou o quanto a situação era complicada.
— Amiga, você tem que contar a ele. O pobre homem está definhando sem saber o que fez de errado.
— Eu sei... é só... eu amo Joseph. E, por causa disso tudo, vou perdê-lo.
— Olha, não sei muito sobre amor pra ficar dando palpite. Quando meu coração foi sacaneado, eu joguei merda no cara, quase literalmente. Ainda assim me senti despedaçada e triste, mas alguém me disse uma vez que mesmo um coração partido valia a pena, porque, pelo menos, eu tinha experimentado o que era o amor.
Concordei e deitei em seu colo.
— Quando é que a vida vai parar de nos machucar?
— Quando a gente aprender a dizer foda-se e passar a se concentrar nas pequenas coisas que nos fazem sorrir.
— Sinto muito por Matty ter magoado você.
Selena tirou o elástico do meu cabelo antes de começar a penteá-lo com os dedos.
— Tudo bem. Foi só um pouquinho. Então, o que vamos fazer esta noite? Podemos dar uma de menininhas e ver Diário de uma paixão ou algo do tipo, ou... pedir pizza, beber cerveja e assistir Magic Mike XXL.
Magic Mike ganhou.


***

No dia seguinte, à tarde, eu e Elizabeth entramos na Artigos de Utilidade e encontramos Joseph sorrindo atrás do balcão do café.
— Oi, meninas — disse ele com o maior sorriso do mundo.
— Oi, Pluto — exclamou Elizabeth, subindo em uma das cadeiras.
Ele se inclinou e apertou o nariz dela.
— Oi, Fifi. Chocolate quente?
— Com marshmallow extra — gritou ela.
— Com marshmallow extra — ecoou ele, virando-se. Aquele bom humor não era um bom sinal. Eu não sabia o que significava ou como interpretá-lo. Nós não conversávamos há dias, e ele estava agindo como se tudo estivesse bem. — Você quer alguma coisa, Demetria?
Ele me chamou de Demetria, não de Demi.
— Só água — falei, sentando ao lado de Elizabeth. — Está tudo bem? — perguntei, enquanto Joseph servia água para mim e entregava um copo de chocolate nem tão quente assim para Elizabeth, porque ela sempre pedia para colocar gelo. Ela pulou da cadeira e foi atrás de Zeus.
— Está tudo bem. Tudo ótimo.
Franzi o cenho.
— Precisamos conversar. Sei que você deve estar preocupado por eu estar te evitando...
— Você está me evitando? — ele sorriu. — Não percebi.
— Sim, é só que...
Joseph começou a limpar o balcão.
— Seu marido matou minha família? É, isso não foi legal.
— O quê? — senti um nó na garganta, meus ouvidos ainda ecoando o que ele havia acabado de dizer. — Como você...?
— Seu melhor amigo, Stephen, deu uma passada aqui ontem. Ele queria, você sabe, convencer o Sr. Henson a fechar a loja. E depois nós tivemos uma conversinha. Ele acha incrível eu ter conseguido superar o fato de que seu marido matou minha família.
— Joseph...
Ele atirou o pano no balcão diante de mim.
— Há quanto tempo você sabe?
— Eu... eu queria contar a você.
— Há quanto tempo?
— Joseph... eu não sabia...
— Que droga, Demetria — gritou ele, batendo com o punho na bancada. Elizabeth e o Sr.
Henson olharam para nós, preocupados. O Sr. Henson foi rápido e levou Elizabeth para dentro. — Quanto tempo? Você sabia disso quando disse que me amava?
Fiquei em silêncio.
— Você já sabia disso no dia do casamento da sua mãe?
Minha voz ficou trêmula.
— Achei... achei que iria perder você. Eu não sabia como contar.
Ele deu um sorriso irônico e assentiu.
— Maravilha. São 2 dólares e 20 centavos pelo chocolate quente.
— Me deixa explicar.
— São 2 dólares e 20 centavos, Demetria.
Os olhos de Joseph se tornaram sombrios novamente, com a mesma frieza que eu não via em seu olhar desde o dia em que o conheci. Levei a mão ao bolso, peguei umas moedas e coloquei-as na frente dele. Joseph recolheu o dinheiro e o jogou na caixa registradora.
— Vamos conversar depois — insisti. — Se você deixar, eu explico tudo da melhor forma possível.
Joseph virou de costas para mim e se agarrou à bancada onde ficavam as máquinas de café. Ele abaixou a cabeça, e vi o quanto suas mãos estavam vermelhas por segurar o balcão com tanta força.
— Você precisa de mais alguma coisa? — perguntou.
— Não.
— Então, faça o favor de sair da minha vida.
Joseph tirou a mão do balcão, chamou Zeus, que veio correndo, e os dois saíram da loja, fazendo a sineta tocar quando a porta se abriu. O Sr. Henson e Elizabeth saíram em seguida da sala dos fundos.
— O que aconteceu? — perguntou ele, vindo até mim. Pousou a mão no meu ombro, mas não conseguiu fazer meu corpo parar de tremer.
— Acho que acabei de perdê-lo.


esse capítulo só me deu vontade chorar :( Stephen acabando com a vida de todo mundo
os próximos capítulos vão ser bem tristes, os dois sofrendo tadinhos
mais prometo logo fazerem eles ficarem juntos 
Gostaram? me contem aqui nos comentários
bjs lindonas e até o próximo <3
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28/10/2016

breathe: capítulo 35


6 de abril de 2014
Um dia antes do adeus

— Estou morto — murmurei ao olhar para o espelho do banheiro.
A garrafa de uísque vazia estava na bancada, o frasco de comprimidos laranja ao lado, minha vista completamente embaçada. Eu ouvia meus pais falando do lado de fora sobre os últimos detalhes, os planos para o funeral, nosso transporte da igreja para o cemitério.
— Estou morto — repeti. A gravata estava pendurada no pescoço, esperando o nó. Pisquei e, quando abri os olhos novamente, vi Ashley diante de mim, arrumando minha gravata.
— O que aconteceu, meu amor? — murmurou ela, meus olhos se enchendo de lágrimas.
Levantei a mão e toquei seu rosto suave. — Por que você está assim?
— Estou morto, Ashley, eu morri — solucei, sem conseguir controlar minha dor. — Quero que tudo acabe. Quero que isso acabe. Não quero mais ficar aqui.
— Shh — sussurrou, aproximando os lábios do meu ouvido. — Amor, você precisa respirar fundo. Está tudo bem.
— Não está nada bem. Não está nada bem.
Ouvi a batida na porta do banheiro.
— Joseph, sou eu, seu pai. Abre a porta, filho.
Eu não conseguia. Estava morto. Estava morto.
Ashley olhou para a pia e viu a garrafa de uísque vazia e o frasco.
— Amor, o que você fez? — encostei na parede e deslizei para dentro da banheira, soluçando.
Ashley veio, apressada, até mim. — Joseph, você tem que vomitar agora.
— Não posso... não posso...
Minhas mãos cobriram o rosto, estava tudo embaçado. Minha mente me pregava peças. Eu estava desmaiando. Eu sentia que ia desmaiar.
— Amor, pense em Charlie. Ele não iria querer ver você assim. Vamos lá — ela me levou até o vaso sanitário. — Não faça isso, Joseph.
Vomitei. Senti tudo queimando dentro de mim. Minha garganta parecia pegar fogo quando finalmente botei o uísque e os comprimidos para fora do meu corpo.
Encostei de novo na parede. Abri os olhos e Ashley tinha ido embora, ela nunca esteve ali.
— Sinto muito — murmurei, passando as mãos pelo cabelo. O que seria de mim?
Como eu iria sobreviver?
— Joseph, por favor, precisamos saber se você está bem — gritavam minha mãe e meu pai do outro lado da porta do banheiro.
— Estou bem — menti. Ouvi o suspiro de alívio da minha mãe. — Já vou sair.
Eu quase conseguia sentir a mão do meu pai no meu ombro, tentando me confortar.
— Tudo bem, filho. Nós estamos aqui, esperando você. Não vamos a lugar algum.


***

Demi disse que iria até a loja do Sr. Henson no dia seguinte, mas mudou de planos na última hora. Cinco dias se passaram sem que nos falássemos. As cortinas dela estavam fechadas a semana toda e, quando eu batia na porta, ela estava sempre de saída ou simplesmente me ignorava.
Parei no Doces & Sabores para ver se ela estava trabalhando e encontrei Selena gritando com um cliente, dizendo que os ovos mexidos dele não estavam quase crus.
— Oi, Selena — chamei, interrompendo a discussão.
Ela se virou em seus saltos altos e levou as mãos ao quadril. Dava para ver a hesitação em seu olhar. A última vez que nos vimos foi quando briguei com Stephen no bar, e eu sabia que ela não se sentia bem com a minha presença. Eu ouvia todos na cidade cochichando sobre mim, e tinha certeza de que algumas mentiras já haviam chegado a Selena.
— Oi — cumprimentou ela.
— Demi está trabalhando hoje?
— Ela está doente. Já está em casa há alguns dias.
— Ah, certo.
— Por que você não vai até lá? Vocês brigaram? — ela pareceu nervosa. — Ela está bem?
— Não brigamos. Pelo menos eu acho que não. Ela só... — pigarreei. — Ela não está falando comigo e não sei o motivo. Ela disse algo a você? Sei que você é a melhor amiga dela e...
— Acho melhor você ir embora, Joseph.
Pela forma como reagiu, dava para perceber que ela não acreditava em mim, que ela achava que eu tinha magoado Demi.
Assenti, abri a porta para sair e parei.
— Selena, eu amo a Demi. Eu entendo o fato de você não confiar em mim e entendo até se me odiar. Por um longo tempo eu fui um monstro. Depois que Ashley e Charlie morreram, eu me transformei num monstro que nem eu reconheceria. Me perdoe por ter te assustado no dia da festa, me desculpe, eu surtei... mas eu nunca a machucaria... ela... — levei meu pulso à boca, tentando controlar minhas emoções. — Ano passado, morri junto com minha esposa e meu filho. Fiquei fora da realidade, fora do mundo. Eu estava bem vagando sozinho, porque viver todo santo dia era uma tortura. Mas Demi apareceu e, apesar de eu estar morto, ela me viu. Ela teve a paciência de me ressuscitar. Ela trouxe a vida de volta à minha alma. Ela me tirou da escuridão. E agora não está atendendo minhas ligações, nem olhando para mim. Estou mal porque sei que alguma coisa a magoou e não consigo ajudá-la como ela fez comigo. Então, você pode me odiar à vontade. Por favor, até eu me odeio de vez em quando. Eu mereço isso e, por causa de Demi, vou aguentar. Mas, se você puder me fazer um favor e ir até lá ver se está tudo bem, se você puder ajudá-la a respirar um pouco, eu te agradeceria do fundo do meu coração.
Saí do café e enfiei as mãos nos bolsos.
— Joseph — Virei e vi Selena olhando para mim. Os olhos dela eram mais gentis. A postura rígida tinha ficado para trás.
— O que foi?
— Eu vou até lá — prometeu ela. — Vou ajudá-la.
Quando eu estava chegando à Artigos de Utilidade, vi Stephen pela vitrine e decidi me apressar. Sabia que provavelmente ele estava importunando o Sr. Henson, insistindo novamente para que vendesse a loja. Eu queria muito que ele desse um tempo.
— O que está acontecendo? — perguntei ao abrir a porta, e o sininho da entrada tocou.
Stephen virou-se para mim com um sorriso dissimulado no rosto.
— Só estamos falando de negócios.
Olhei para o rosto vermelho do Sr. Henson. Ele raramente ficava nervoso, mas dava para perceber que Stephen tinha falado alguma coisa que o havia deixado incomodado.
— Talvez seja melhor você ir embora, Stephen.
— Dá um tempo, Joseph. Eu só estava batendo um papo com o Sr. Henson — ele pegou umas cartas de tarô e começou a embaralhá-las. — Você consegue fazer uma leitura bem rápida pra mim, Sr. Henson?
Meu amigo permaneceu em silêncio.
— Vá embora, Stephen.
Ele sorriu e inclinou-se na direção do Sr. Henson.
— Você acha que as cartas vão me mostrar que você vai ceder esse espaço pra mim? É por isso que não quer ler? Não quer saber a verdade?
Minha mão pousou no ombro de Stephen, que recuou. Bom. A forma como ele desdenhava do Sr. Henson fazia meu sangue ferver.
— Está na hora de você ir embora.
O Sr. Henson suspirou, aliviado por eu ter assumido o controle da situação, e foi para a sala dos fundos.
Stephen afastou minha mão e fingiu tirar uma poeirinha do ombro.
— Fica frio, Joseph. Eu só estava me divertindo com o velho.
— Você precisa ir embora agora.
— Tem razão. Preciso mesmo. Tem gente aqui que tem um emprego de verdade. Mas olha, estou feliz de ver que você e Demi conseguiram superar tudo depois que ela contou sobre o acidente. Foi legal. Quer dizer, você é uma pessoa muito melhor que eu. Eu acho que não conseguiria nem ficar perto de uma pessoa sabendo que ela estava envolvida nisso tudo.
— O que você está querendo dizer? — perguntei.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Você não sabe, não é? Merda... Demi disse que tinha te contado.
— Contado? Contado o quê?
— Que o marido dela estava dirigindo o carro que matou sua família — ele arregalou os olhos. — Ela não contou, não é mesmo?
Minha garganta ficou seca, e por um instante considerei a possibilidade de ele estar mentindo. Stephen me odiava porque eu e Demi nos amávamos. Ele era um cretino filho da puta que enchia o saco de todo mundo e decidiu infernizar minha vida.
A última coisa que ele disse era que sentia muito e que não queria nos trazer problemas. Disse que estava feliz por eu e Demi termos nos encontrado, que queria que ela fosse feliz. Mas eu sabia que tudo o que ele estava falando era um monte de merda.


***

Naquela noite, sentei na minha cama com meu celular na mão e liguei para meu pai. Eu não disse nada quando ele atendeu, mas ouvir a voz dele foi muito bom. Era disso que eu precisava.
— Joseph — dava até para sentir o alívio em sua voz. — Oi, filho. Sua mãe me contou que você telefonou há algum tempo, mas não disse nada. Ela também contou que com certeza viu você a caminho do mercado, em Meadows Creek, mas falei que era só imaginação — ele parou. — Você não vai falar nada? — ele fez outra pausa. — Tudo bem. Eu sempre fui meio tagarela.
Era mentira. Meu pai sempre foi quieto, sempre preferiu ser um bom ouvinte. Coloquei o telefone no viva-voz e deitei na cama, fechando os olhos enquanto ele contava tudo que eu tinha perdido.
— Seus avós estão na cidade nos visitando, e imagino que você saiba o quanto eles me deixam louco. A casa deles está em reforma, e sua mãe achou que seria uma ótima ideia eles passarem um tempo aqui. Já faz três semanas que chegaram, e eu já bebi mais gim do que pensei ser possível para um ser humano. Ah! E sua mãe, não sei como, me convenceu a fazer ginástica com ela porque está preocupada com a minha alimentação à base de Doritos e refrigerante. Mas, quando eu apareci na aula, vi que era o único homem. Acabei fazendo uma aula de zumba. Minha sorte é que eu sei requebrar o quadril.
Eu ri.
Meu pai continuou falando, e eu iria de um cômodo a outro, ouvindo-o contar histórias, falar de esportes e de como os Packers ainda eram um dos melhores times da liga de futebol americano. Ele abriu uma lata de cerveja, e eu fiz o mesmo. Parecia até que estávamos bebendo juntos.
Quando era quase meia-noite, ele disse que precisava ir para a cama. Disse que me amava e que sempre estaria do outro lado da linha se eu precisasse conversar.
Antes de desligar, falei:
— Obrigado, pai.
Ouvi a voz dele falhar e a emoção dominá-lo.
— Ligue sempre que quiser, filho. Ligue a qualquer hora que precisar, de dia ou de noite. E, quando estiver pronto para voltar, vamos estar aqui. Não iremos a lugar algum.
O mundo precisava de mais pais como os meus.


o Joseph descobriu e agora o que acham que vai acontecer?
Stephen um filha da mãe né? que raiva hauhsuhauah
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bjs lindonas e até o próximo <3

26/10/2016

breathe: capítulo 34


Naquela noite, abri o armário e olhei para todas as roupas de Zachary. Respirei fundo e comecei a tirar tudo dos cabides. Esvaziei a cômoda. Esvaziei as gavetas.
Respirei fundo e coloquei tudo em caixas para doação.
Em seguida, fui até minha cama e removi os lençóis.
Eu estava realmente preparada para deixar Joseph entrar na minha vida, e sabia que isso significava que eu tinha que deixar Zachary partir. Eu sabia que, para seguir em frente, tinha que contar a Joseph tudo sobre o acidente. Ele merecia e precisava saber. Se ele realmente falou a verdade quando disse que iria lutar por mim, por nós, sem se importar com mais nada, nós ficaríamos bem.
Pelo menos, era isso que eu esperava. E, mesmo assim, uma grande parte de mim sabia que nada ficaria bem. A contagem regressiva da nossa bomba-relógio estava prestes a começar.


***

— Precisamos conversar — eu disse a Joseph um dia, quando estávamos na varanda. — É sobre Stephen, sobre aquele dia em que ele veio aqui, antes do casamento da minha mãe.
— Ele te machucou? — perguntou Joseph, acariciando meu rosto. Ele deu um passo na direção do hall, aproximando-se de mim, e eu recuei. — O que ele disse?
As palavras estavam na ponta da minha língua, mas eu sabia que, se falasse, aqueles gestos carinhosos iriam desaparecer para sempre. Eu sabia que, quando ele ouvisse o que Stephen descobriu, eu iria perdê-lo. Eu não estava pronta para acordar do sonho que estávamos vivendo.
— Amor... por que está chorando? — indagou Joseph. Eu nem tinha notado as lágrimas em meu rosto. Logo minha visão estava completamente embaçada.
— Demis, o que houve?
Balancei a cabeça.
— Nada, nada. Você acha... você pode me abraçar um pouquinho?
Ele me abraçou bem apertado. Inspirei seu cheiro, tendo quase certeza de que, se contasse a verdade a ele e eu sabia que tinha que contar, perderia aquele momento. Joseph não iria mais me abraçar, não iria mais me tocar, não iria mais me amar. Ele acariciou minhas costas, e eu o abracei com mais força, como se eu quisesse me agarrar a algo que já tinha perdido. 
— Você sabe que pode confiar em mim, não sabe? Você pode me dizer qualquer coisa. Estarei aqui sempre que precisar — prometeu ele.
Afastei-me e dei um leve sorriso.
— Acho que preciso descansar, só isso.
— Então, vamos pra cama.
Ainda com a mão nas minhas costas, Joseph me conduziu para o quarto.
— Eu quis dizer sozinha. Preciso passar a noite sozinha.
A decepção em seus olhos tempestuosos partiu meu coração, mas ele me deu um sorriso triste.
— Sim, é claro.
— Nos vemos amanhã — prometi. — Passo na loja do Sr. Henson.
— Tá. Combinado — ele parecia apreensivo. — Você está bem? — murmurou, claramente preocupado. Assenti. Ele segurou meu rosto e beijou minha testa. — Eu te amo, Demi.
— Também te amo.
Ele se encolheu.
— Então por que parece que estamos dizendo adeus?
Porque eu acho que estamos.

esse capítulo :(
gente no próximo capítulo que o Joseph descobre sobre o acidente e não vai ser nada legal.
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bjs amores e até o próximo <3

24/10/2016

breathe: capítulo 33


Primeiro, me apaixonei pela ideia. Me apaixonei pela ideia de que um homem me faria rir e chorar novamente. Eu me apaixonei pela ideia de alguém me amar, mesmo estando tão despedaçada, com meu coração em cacos. Eu me apaixonei pela ideia de sentir seus beijos, seus toques, seu calor.
Numa manhã gelada, caminhei até a varanda segurando uma caneca de café quente. Joseph estava deitado na grama coberta de neve, fazendo anjinhos e olhando para as nuvens com Elizabeth ao seu lado. Eles brigavam o tempo todo, mas pelas coisas mais bobas do mundo. Naquela manhã, Joseph enxergava uma girafa na nuvem, e Elizabeth jurava que era um pinguim. Depois de um tempo, ele fingiu concordar com ela.
Os lábios de Elizabeth se abriram num sorriso, e os dois continuaram em silêncio, movendo os braços e as pernas, criando perfeitos anjos de neve.
E foi naquele momento silencioso que descobri. Eu o amava. Eu o amava muito. Não era apenas um sonho, não era apenas uma ideia.
Era real.
Era verdadeiro.
Era amor.
Ele me fazia sorrir. Ele me fazia feliz. Ele me fazia rir num mundo que estava decidido a me fazer chorar.
Lágrimas se formaram em meus olhos, e tentei entender como eu poderia me permitir amar um homem que também me amava.
Era um sentimento muito especial ser correspondida no amor. Encontrar um homem que não somente me amava, mas que adorava a melhor parte de mim, minha filha. Não tinha palavras para expressar o quanto eu era abençoada.
Eu e Elizabeth amávamos Joseph, e ele nos amava da mesma forma. Talvez ele amasse mais nossas cicatrizes. Talvez a verdadeira forma de amor nasça da dor mais profunda.
Tudo aconteceu de uma forma muito inusitada. Primeiro, nós mentimos, nos usamos para nos agarrar ao passado. Depois, nos apaixonamos sem querer.
Eu sabia que tinha que contar a verdade sobre o acidente a ele. Sabia que precisava fazer isso, mas eu não conseguiria naquela manhã. Naquela manhã, queria que ele soubesse apenas de uma coisa.
Os dois levantaram. Elizabeth correu para dentro de casa para tomar café da manhã, e eu fiquei na varanda, encostada na grade, com um sorriso que era reservado apenas a Joseph. Ele estava com as mãos nos bolsos do jeans e tinha um pouco de grama grudada na camisa e no cabelo molhado. Com certeza Elizabeth o havia derrubado no jardim. Ele percorreu o caminho até a varanda sorrindo para mim. 
— Eu te amo — eu disse a ele.
Seu sorriso tornou-se ainda mais amplo.
Porque ele já sabia.


fiquei abalada com esse capítulo, finalmente Demi disse que o amava <3
sobre a treta do acidente ainda vai ter um ou dois capítulos até o Joseph descobrir
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bjs amores e até o próximo <3
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21/10/2016

breathe: capítulo 32


Eu não sabia como dizer a Joseph o que Stephen tinha me contado. Fomos de carro até a casa da minha mãe, e ele percebeu que Stephen tinha falado algo que me deixou incomodada, mas não me pressionou para contar. Tentei disfarçar usando o meu melhor sorriso na festa de casamento da mamãe e do Mike, mas por dentro meu coração estava muito confuso.
Elizabeth carregou Joseph para a pista de dança. Não consegui deixar de sorrir ao ver Elizabeth pisando nos pés dele quando tocou uma música lenta. Mamãe veio em minha direção em seu lindo vestido marfim e sentou-se ao meu lado.
— Você não trocou uma palavra comigo a noite toda — observou ela, com um sorriso meio triste.
— Mas eu vim. Não é o suficiente? — uma parte de mim se sentia traída com esse casamento tão rápido. Ela sempre dava um jeito de apressar as coisas em seus relacionamentos, mas até agora ela não tinha sido louca o suficiente para acabar no altar com um homem que mal conhecia. — O que você está fazendo, mamãe? Seja honesta comigo... Você está com problemas financeiros de novo? Podia ter pedido minha ajuda.
O rosto dela ficou vermelho de vergonha, ou talvez de raiva.
— Para com essa bobagem, Demi. Não acredito que você está insinuando isso de novo justo hoje.
— Mas... é que foi tão repentino.
— Eu sei.
— E sei que ele tem muito dinheiro. Olha essa festa.
— O dinheiro não importa — argumentou ela. Ergui uma sobrancelha. — De verdade.
— Então, o que é isso tudo? Qual foi o motivo de você correr pra se casar, se não foi dinheiro?
O que você está ganhando com isso?
— Amor — sussurrou. — Estou ganhando amor.
Por algum motivo, aquelas palavras me machucaram. Meu coração doeu quando ela confessou que amava outro homem que não era meu pai.
— Como você pôde? — perguntei com os olhos cheios de lágrimas. — Como você pôde jogar fora todas as cartas daquele jeito?
— O quê?
— As cartas do papai. Eu as encontrei na lata de lixo, antes de ir embora com Elizabeth. Como você pôde?
Ela suspirou profundamente, torcendo as mãos.
— Demi, eu não as joguei fora, simplesmente. Eu li cada uma daquelas cartas por dezesseis anos seguidos. Todas as noites. Centenas de cartas. E, um dia, acordei e percebi que aquilo não era mais um conforto pra mim, e sim algo que me impedia de seguir em frente com a minha vida. Seu pai era um homem maravilhoso. Ele me ensinou a amar incondicionalmente. Ele me ensinou o que era estar apaixonada. E, depois, eu esqueci. Esqueci tudo que ele me ensinou no dia em que partiu. Fiquei completamente perdida. Eu tinha que me libertar daquelas cartas pra me curar. Você sempre foi tão mais forte que eu.
— Eu me sinto fraca. Quase todo dia, eu me sinto fraca.
Ela segurou meu rosto e encostou a testa na minha.
— Essa é a diferença. Você sente. Eu estava entorpecida. Não sentia nada. Mas você sente.
Você precisa saber o que é se sentir fraca pra encontrar forças novamente.
— Mike... ele te faz feliz de verdade? — perguntei.
O rosto dela se iluminou.
Ela realmente o amava.
Eu não sabia que poderíamos nos permitir amar novamente.
— Joseph. Ele te faz feliz?
Fiz que sim com a cabeça.
— E isso te dá medo?
Assenti mais uma vez.
Ela sorriu.
— Ah, isso significa que você está no caminho certo.
— No caminho certo?
— Apaixonando-se.
— Mas é muito cedo... — respondi, com a voz trêmula.
— Quem disse?
— Eu não sei. A sociedade? Quanto tempo você precisa esperar pra se apaixonar de novo?
— As pessoas falam muito e se atrevem a dar conselhos sobre como superar o luto. Elas dizem que você não deve namorar por anos, que deve esperar o tempo passar, mas a verdade é que não existe tempo para o amor. A única coisa que importa para o amor é a batida do seu coração. Se você o ama, não deixe isso te atrapalhar. Apenas se permita sentir novamente.
— Tem uma coisa que preciso contar a ele. Uma coisa horrível, e acho que vou perdê-lo.
Minha mãe franziu a testa.
— O que quer que seja, ele vai entender se realmente gostar de você da mesma forma que você gosta dele.
— Mamãe — lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu observava aqueles olhos tão parecidos com os meus. — Achei que tinha perdido você para sempre.
— Sinto muito por tê-la abandonado, querida.
Eu a abracei.
— Não importa. Você voltou.

***

Joseph dirigiu no caminho de volta para casa, já que eu tinha tomado algumas taças de vinho a mais. Elizabeth, por sua vez, dormiu na cadeirinha no banco de trás assim que saímos. Não trocamos uma palavra, mas dissemos o suficiente um ao outro quando minha mão, depois de ter passado tanto tempo solitária, se uniu à de Joseph.
Não consegui desviar os olhos daquele gesto tão simples. Beijei a mão dele.
Como eu iria contar que foi Zachary quem causou o acidente?
Como eu começo a dizer adeus?
Ele olhou para mim e abriu um meio-sorriso.
— Você está bêbada?
— Um pouco.
— Está feliz?
— Muito.
— Obrigado por me convidar. Acho que meus pés estão machucados de tanto que Elizabeth pisou neles, mas eu adorei.
— Ela adora você — comentei.
Seus olhos focaram na estrada escura.
— Eu adoro ela.
Ah, meu coração. Parou ou acelerou? Um pouco de cada, talvez.
Beijei a mão dele mais uma vez. Passei os dedos em cada linha da palma. Quando paramos na frente de casa, Joseph tirou Elizabeth da cadeirinha e carregou-a no colo até o quarto. Ele a colocou na cama, e encostei no batente da porta, observando-os. Ele tirou os sapatos dela e os deixou junto ao pé da cama.
— É melhor eu ir pra casa — disse ele, vindo em minha direção.
— Provavelmente.
Ele sorriu.
— Obrigado de novo por hoje. Foi ótimo — ele beijou minha testa e saiu do quarto. — Boa noite, Demis.
— Não.
— Não o quê?
— Não vá. Fique aqui hoje.
— O quê?
— Fique comigo.
— Você está bêbada.
— Um pouco.
— E você quer que eu fique?
— Muito.
Suas mãos seguravam minha cintura, e Joseph me puxou para junto de seu corpo.
— Se eu ficar, vou te abraçar a noite toda, e eu sei que isso te assusta.
— Muitas coisas me assustam. Muitas coisas me dão medo, mas você ficar comigo a noite toda não me amedronta mais.
Ele passou o dedo pelos meus lábios. Ergueu meu queixo e me beijou devagar, carinhosamente.
— Adoro você — sussurrou.
— Adoro você — respondi.
Os dedos dele deslizaram para o meu peito, e ele sentiu as batidas do meu coração. Apoiei minhas mãos no peito dele, fazendo o mesmo.
— Gosto disso — sussurrou.
— Eu também — respondi.
Os olhos dele se dilataram, e senti sua respiração em mim. Inspirei, viciada nele. Seu cheiro era como a brisa que corria entre pinheiros, refrescante,
reconfortante, tranquilo. Como um lar.
Fazia muito tempo que eu não me sentia em casa.
Sentimos a respiração um do outro, imploramos um ao outro silenciosamente para irmos além. Fomos para o meu quarto, onde tiramos nossas roupas e nos beijamos.
— Todo mundo na cidade acha que isso é errado. Todos pensam que somos uma bomba relógio prestes a explodir — comentei. — E tenho quase certeza de que vou acabar estragando tudo. E aí todos vão dizer: “Eu avisei.”
— Por um segundo, vamos fingir que eles estão certos. Vamos fingir que, no fim, não vamos ficar juntos e felizes — ele suspirou em minha pele, os lábios tocando minha barriga nua. — Mas, enquanto o ar continuar enchendo meus pulmões, enquanto eu respirar — sua língua tocou o elástico da minha calcinha. — Vou lutar por você. Vou lutar por nós.

Ainda bem que a Demi se resolveu com a mãe dela.
Que lindos eles dois, só falta eles dizerem que amam o outro <3
Esse final abalou as minhas estruturas kkkkkkkk
Gostaram? me contem aqui nos comentários
bjs amores e até o próximo <3
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19/10/2016

breathe: capítulo 31


Andei na ponta dos pés até a cozinha, às seis da manhã, para não acordar Joseph. A casa estava em silêncio, mas eu sentia o aroma de café fresco invadindo os cômodos.
— Você também gosta de acordar cedo? — perguntou Mike, com uma caneca de café na mão. Só o seu sorriso já foi suficiente para que eu me sentisse péssima por ter tratado minha mãe e ele tão mal ontem à noite. Ele parecia ser simpático.
Mike pegou outra caneca e serviu café para mim.
— Açúcar? Leite?
— Puro — respondi, pegando a caneca da mão dele.
— Ah, temos algo em comum. Eu sempre digo que sua mãe bebe açúcar e leite com café, e não o contrário, mas, pra mim, quanto mais forte, melhor — ele sentou na banqueta da ilha da cozinha, e eu sentei ao seu lado.
— Preciso pedir desculpas a você, Mike. Ontem foi um desastre.
Ele deu de ombros.
— Às vezes, a vida é estranha. Você só precisa aprender a lidar com a esquisitice dela e encontrar algumas pessoas igualmente estranhas que vão te ajudar a seguir em frente.
— Minha mãe é a sua “pessoa estranha”?
Ele abriu um largo sorriso.
Ela é.
Os dedos dele seguraram a caneca com mais força, e ele ficou olhando para o café.
— Richard era uma pessoa horrível, Demi, e ele fez coisas imperdoáveis com Dianna. Quando eles foram ao meu consultório, naquele dia, vi como ele abusava dela. Eu o expulsei de lá, e ele a deixou pra trás, chorando. Cancelei todas as consultas daquele dia e permiti que ela ficasse sentada ali pelo tempo que precisasse. Entendo o fato de você achar que o que há entre nós não é real. Sei o que ela fez no passado, sei que usou e machucou outros homens, mas quero que você saiba que eu realmente amo a sua mãe. Amo muito, e vou passar o resto da minha vida protegendo-a.
Minha mão tremia, a caneca balançava.
— Ele machucou a minha mãe? Ela estava ferida, e eu disse aquelas coisas terríveis pra ela ontem à noite...
— Você não sabia.
— Não importa. Eu nunca deveria ter falado aquilo. Se eu fosse ela, não me perdoaria.
— Ela já te perdoou.
— Quase esqueci que vocês dois acordam com as galinhas — mamãe bocejou ao entrar na cozinha. Ela ergueu uma sobrancelha. — O que aconteceu?
Levantei correndo e a abracei.
— Demi, o que você está fazendo? — perguntou ela.
— Dando os parabéns pelo seu noivado.
Seu rosto se iluminou.
— Você vai ao casamento?
— É claro que vou.
Ela me abraçou com força.
— Estou muito feliz, porque o casamento vai acontecer em três semanas.
— Três semanas? — perguntei em voz alta. Parei e me contive. Mamãe não precisava da minha opinião agora, ela precisava do meu apoio. — Três semanas! Maravilha!
Mamãe e Mike foram embora algumas horas mais tarde, depois de brincarem de zumbi com
Elizabeth, inclusive com o sangue de ketchup. Joseph, Elizabeth, Zeus e eu sentamos no sofá por um tempo, até que Joseph se apoiou nos cotovelos, olhou para mim e disse:
— Vamos fazer umas compras pra minha casa?
Ainda precisávamos resolver os últimos detalhes da decoração, coisas com que ele não se importava, como almofadas, quadros e pequenos itens que eu adorava.
— Claro — vibrei. Adorava um motivo para fazer compras.

***

— Essas são feias, Pluto! — exclamou Elizabeth, franzindo o nariz quando Joseph escolheu almofadas roxas e cor de mostarda para seu sofá.
— O quê? Essas são ótimas
— Parecem cocô — Elizabeth riu.
Tive que concordar com ela.
— Até parece que você quer deixar a casa medonha, depois de Elizabeth e eu termos nos empenhado tanto para deixá-la maravilhosa.
— É isso aí — concordou Elizabeth. — Parece mesmo — ela jogou o cabelo por cima do ombro. — Você devia deixar isso com a gente.
— Vocês não são fáceis.
Elizabeth ficou de pé no carrinho de compras e arremessou algo na direção de uma pessoa.
— Perdão — disse Joseph rápido, antes de ver quem era.
— Tio Stephen — gritou Elizabeth, saindo do carrinho e correndo para abraçá-lo.
— Oi, menininha — respondeu Stephen antes de colocá-la no chão.
— O que aconteceu com o seu rosto? — perguntou ela.
Stephen olhou para mim. Vi os machucados da noite anterior no rosto dele. Uma grande parte de mim queria confortá-lo, mas a outra queria dar um tapa na cara dele pelo que falou para Joseph.
— Joseph, você poderia levar Elizabeth para escolher alguns quadros? — pedi.
Joseph gentilmente pousou a mão em meu braço.
— Você está bem? — sussurrou ele.
Fiz que sim com a cabeça. Eles se afastaram, mas antes Joseph se desculpou com Stephen, que não disse uma palavra sequer em resposta. Quando ficou sozinho comigo, no entanto, ele despejou uma série de comentários ofensivos.
— Sério, Demi? Ontem à noite, ele atacou seu amigo e agora vocês estão passeando, fazendo compras como uma família feliz? E você deixou ele ficar sozinho com a sua filha? O que Zachary...
— Você falou que a morte da família de Joseph era culpa dele?
Stephen fez uma cara de espanto.
— O quê?
— Ele me contou.
— Demi, olha para o meu rosto — ele chegou mais perto de mim. Senti-me aflita ao ver seu olho preto. Ele levantou a camisa para mostrar as marcas roxas. — Olha as minhas costelas. O cara que você mandou tomar conta da sua filha fez isso. Porra, ele me atacou como um animal! E você está parada aqui, perguntando o que eu disse a ele? Eu estava bêbado e talvez tenha falado coisas idiotas, mas ele surtou do nada. Eu vi os olhos dele. Ele estava completamente furioso.
— Você é um mentiroso — ele está mentindo. Está mentindo. Joseph é bom. Ele é uma pessoa muito boa. — Você nunca deveria ter dito nada sobre a família dele. Nunca. 
Comecei a me afastar, os saltos do meu sapato ressoando pelo corredor da loja, mas Stephen agarrou meu braço, forçando-me a encará-lo.
— Olha, eu entendo. Você está brava comigo. Tudo bem. Fique brava. Me odeie. Mas sei que tem alguma coisa errada com esse cara. Sei que tem, e não vou parar até descobrir o que é, porque eu me importo demais com você e com a Elizabeth pra deixar algo de ruim acontecer com vocês. Tá, eu disse algumas merdas que não deveria, mas eu merecia isso? É só uma questão de tempo antes que você fale alguma coisa errada e ele surte e te machuque.
— Stephen — eu disse, abaixando o tom de voz. — Você está me machucando.
Ele soltou meu braço, deixando marcas vermelhas na minha pele.
— Desculpe.
Quando cheguei à seção de quadros e objetos de decoração da loja, encontrei Joseph e Elizabeth debatendo o que comprar e, é claro, ela estava certa. Joseph sorriu e se aproximou de mim.
— Está tudo bem? — perguntou.
Acariciei seu rosto e olhei dentro de seus olhos. Seu olhar era suave e gentil, e me fazia lembrar de todas as coisas boas do mundo. Enquanto Stephen via o inferno no olhar de Joseph, eu só conseguia ver o céu.


***

Três semanas depois do meu aniversário, as coisas começaram a voltar ao 
normal aos poucos. Naquela noite, íamos de carro até a cidade da minha mãe para o casamento e, antes de partirmos, Elizabeth conseguiu convencer a mim e a Joseph que comprássemos sorvete para ela, mesmo com a temperatura abaixo de zero.
— Acho sorvete de menta nojento — opinou Elizabeth ao sair da sorveteria, com Joseph carregando-a nos ombros. Ela tomava uma casquinha de baunilha, derramando sorvete no cabelo dele de vez em quando.
Algumas gotas caíram na bochecha de Joseph. Eu me aproximei, limpei o sorvete do rosto dele com um beijo e, em seguida, beijei seus lábios.
— Obrigada por vir com a gente.
— Na verdade, eu só estava interessado no sorvete de menta — respondeu ele com um sorriso brincalhão. O sorriso permaneceu em seus lábios até chegarmos perto de casa. Quando ele olhou para os degraus da minha varanda, a alegria desapareceu, e ele desceu Elizabeth dos ombros.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei a Stephen, que estava sentado na escada, segurando uns papéis.
— Temos que conversar — avisou ele, levantando-se. Seu olhar se dirigiu a Joseph e, em seguida, a mim. — Agora.
— Não quero falar com você — respondi, ríspida. — Além do mais, vamos sair daqui a pouco para visitar minha mãe.
— Ele vai com você? — perguntou, com a voz baixa.
— Não comece, Stephen.
— Temos que conversar.
— Stephen, olha, eu entendo. Sei que você não gosta do Joseph, mas eu gosto. E estamos felizes. Só não entendo por que você...
— Demi — gritou, me interrompendo. — Já entendi, tá legal? Mas preciso falar com você. — seus olhos estavam vidrados, os músculos do rosto, tensos. — Por favor.
Olhei para Joseph, que me observava, esperando que eu decidisse o que fazer. Parecia que Stephen realmente tinha algo importante a me dizer.
— Tudo bem, vamos conversar.
Stephen suspirou de alívio. Virei para Joseph.
— Vejo você daqui a pouco, tá?
Joseph assentiu e beijou minha testa. Stephen entrou em casa comigo e, enquanto Elizabeth foi para o quarto brincar, ele ficou de pé na ilha da cozinha.
Minhas mãos se agarraram à beirada do balcão.
— O que você tem de tão importante pra me dizer, Stephen?
— Joseph.
— Não quero falar sobre ele.
— Temos que falar sobre ele.
Desviei o olhar de Stephen e comecei a tirar a louça da máquina para me manter ocupada.
— Não, já estou farta disso. Você não se cansa?
— Você sabe o que aconteceu com a mulher e o filho dele? Sabe como eles morreram?
— Ele não gosta de falar no assunto, e isso não o torna uma pessoa terrível.
Isso o torna mais humano.
— Foi o Zachary, Demi.
— Foi Zachary o quê? — perguntei, guardando os pratos rapidamente nos armários.
— O acidente que matou a mulher e o filho do Joseph. Foi o Zachary. Foi o carro do Zachary que tirou o deles da estrada.
Senti um aperto no coração e olhei para Stephen. O olhar dele encontrou o meu e, quando balancei a cabeça, ele assentiu.
— Tentei levantar umas informações sobre esse cara, e honestamente, eu só queria encontrar alguma merda que o fizesse parecer um monstro pra você. Selena foi até a oficina e implorou para que eu parasse com essa “caça às bruxas”. Ela achava que isso iria acabar com a pouca amizade que nos restou, mas eu tinha que saber quem era esse cara. Eu não encontrei nada errado. Descobri que ele é só um cara que perdeu tudo na vida.
— Stephen...
— Mas acabei descobrindo também essas notícias sobre o acidente — ele empurrou uns papéis em minha direção, e eu levei a mão ao peito. Meu coração disparava, alucinado. — Quando Zachary perdeu o controle do carro, ele bateu num Altima branco com três passageiros.
— Pare... — sussurrei, a mão cobrindo a boca, meu corpo tremendo de medo.
— Denise Jonas, de 61 anos, sobreviveu ao acidente.
— Stephen, por favor. Pare.
— Ashley Jonas, de 31 anos...
As lágrimas caíram dos meus olhos, e senti meu estômago se revirar.
— ... e Charlie Jonas de 8, morreram.
Pensei que eu fosse vomitar. Dei as costas para ele e chorei, soluçando, inconformada, sem querer acreditar no que Stephen estava dizendo. Zachary foi o responsável por Joseph ter perdido tudo que amava? Zachary foi o responsável por toda a dor que Joseph sentia?
— Você precisa ir embora — consegui dizer. Stephen colocou a mão no meu ombro, tentando me confortar, mas eu o afastei. — Não consigo pensar nisso agora, Stephen. Vá embora.
Ele suspirou pesadamente.
— Eu não queria que você se machucasse, Demi, eu juro. Imagina se vocês descobrissem isso depois? Imagina se ele descobrisse tudo quando vocês estivessem mais apaixonados?
Olhei para ele.
— O que quer dizer?
— Bom, vocês não podem ficar juntos. Não tem como... — disse ele, hesitante, passando a mão pela nuca. — Você vai contar a ele, não vai? — abri a boca, mas a voz não saiu. — Demi, você tem que contar a ele. Ele tem o direito de saber.
Sequei as lágrimas.
— Preciso que você vá embora, Stephen. Por favor, vá embora.
— Só estou dizendo que, se você o ama, se realmente gosta desse cara, você tem que terminar. Precisa deixar que ele siga em frente com a vida dele.
A última coisa que ele me disse era que não queria me machucar.
Foi muito difícil acreditar nisso.


Esse momento deles em família foi lindo, mas o Stephen vai estragar tudo a partir de agora
O Stephen só quer que eles se separem mesmo para ele ter chances com a Demi, um desgraçado mesmo kkkkk
Essa história sobre o acidente é verdade e muita coisa ruim está por vim :(
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