30/04/2019

37. hospital


— O que aconteceu? — perguntei, irrompendo no quarto de hospital. Nicholas estava deitado na cama com uma sonda no braço. — Nicholas, você está bem?
— Estou bem. Não sei por que ela chamou vocês. Não aconteceu nada.
— Ele estava indo ao banheiro e desmaiou no corredor — explicou Dallas, sentada em uma
cadeira, balançando-se para a frente e para trás com as mãos embaixo das pernas.
— Eu logo recuperei a consciência — argumentou ele. — Estou bem.
— Nicholas, você não conseguia andar e não se lembrava do meu nome.
Ele abriu a boca para falar, mas, em vez disso, suspirou. Fechou os olhos. Nicholas estava
cansado. Ele ficava mais frágil a cada dia, e eu não parava de me perguntar quando a
quimioterapia começaria a surtir efeito. A mediação parecia apenas estar acabando com ele.
Quando Nicholas adormeceu, Dallas se levantou e nos conduziu a um canto do quarto. Ela
envolveu o corpo com os próprios braços e se apoiou na parede mais próxima.
— Os médicos estão fazendo mais alguns exames. Ele está cansado e muito fraco. A
enfermeira disse que poderiam nos ceder uma cadeira de rodas quando fôssemos para casa, e isso o ajudaria a se locomover por aí, mas Nicholas disse que não queria. Ele está sendo muito orgulhoso. Mas precisa... — ela passou a mão pelo rosto antes de apoiar a cabeça nela. — Precisamos ajudá-lo. Ele não é o tipo de pessoa que pede ajuda. Ele sempre foi a pessoa que ajuda todo mundo. Mas precisa de nós. Mesmo que tente nos afastar.
— O que você precisar, eu faço — falei. — Qualquer coisa.
Dallas me deu um sorriso triste. Seus olhos estavam pesados também. Ela não dormia mais.
Eu tinha quase certeza de que sempre que Nicholas fechava os olhos à noite, ela ficava acordada.
— Você também precisa de ajuda, Dallas — continuei. — Não tem que fazer tudo sozinha.
É por isso que estou aqui.
— É só... — notei a hesitação em sua voz ao olhar na direção de Nicholas. — Só preciso de
um tempo para entender que as coisas vão ficar muito piores antes de melhorarem. Isso me
assusta. Estou aterrorizada. Joseph, se alguma coisa acontecer... se alguma coisa acontecer
com ele... — ela começou a chorar, e eu a conduzi para fora do quarto e a abracei. — Eu não
posso perdê-lo. Não posso.
Nunca tinha visto Dallas desmoronar. Ela sempre foi forte, sempre teve tudo sob controle.
Vê-la tão destruída demonstrava o quanto a situação estava se tornando difícil.
Quando ela se recompôs, deu um passo para trás e enxugou as lágrimas.
— Estou bem. Está tudo certo. Estou bem — disse, tentando nos tranquilizar. — Eles vão
mantê-lo em observação durante a noite. Vou ficar aqui com ele.
— Eu posso ficar — sugeri. — Sei que suas provas finais estão se aproximando.
— Não, tudo bem. Está tudo certo. Estou bem.
— Dallas... — sussurrou Demi, enxugando as lágrimas da irmã.
— Estou bem. Sério. Vão para casa. Eu mando uma mensagem se algo acontecer.
Olhei para o quarto.
— Posso ficar a sós com ele um segundo?
Ela assentiu.
— Claro. Demi, quer vir comigo pegar um café?
As duas se afastaram, e eu voltei para o quarto e puxei uma cadeira até a lateral da cama
de Nicholas. As máquinas apitavam e faziam barulhos, e eu observei o peito dele subir e descer.
Até respirar parecia difícil para meu irmão ultimamente.
— Está dormindo? — sussurrei.
— Não — respondeu ele. — Só com sono.
Passei a mão pelo rosto para conter a emoção.
— Que merda que você está fazendo aí, Nicholas? Era eu quem deveria acabar num lugar
desses, lembra? Não você.
Ele me deu um sorriso fraco.
— Eu sei.
— Você está bem?
Ele inspirou profundamente. Ao expirar, tossiu.
— Sim. Estou bem. — Nicholas inclinou a cabeça em minha direção, e seus olhos sempre
gentis pareceram sorrir. — Estou acabando com ela — sussurrou, referindo-se a Dallas.
— O quê? Não.
Ele se virou, tentando esconder as lágrimas que rolavam por suas bochechas.
— Estou. Me ver morrer acaba com ela.
— Você não está morrendo, Nicholas.
Ele não respondeu.
— Ei! Você me ouviu? Eu disse que você não está morrendo. Repita.
Ele olhou para o teto e, em seguida, fechou os olhos. As lágrimas ainda escorriam.
— Eu não estou morrendo.
— Mais uma vez.
— Eu não estou morrendo.
— Mais uma vez, irmão mais velho.
— Eu não estou morrendo!
— Ótimo. E não se esqueça disso, porra. Todo mundo está bem. Vamos passar por isso
juntos.
Segurei a mão dele e a apertei de leve, tentando dar-lhe algum conforto.
— Está tudo bem. Você está certo. Desculpe, eu só estou...
— Cansado?
— Cansado.
Fiquei com ele por mais tempo do que imaginei. Dallas voltou para o quarto, mas pedi para
passar a noite ali com Nicholas. Ela finalmente concordou, e Demi decidiu ficar com ela para
não deixá-la sozinha.
Não dormi aquela noite. Fiquei ali, observando as máquinas e a respiração do meu irmão.
Quando amanheceu, ele abriu os olhos e sorriu para mim.
— Vá para casa — disse Nicholas.
— Não.
— Vá. Vá viver a sua vida, Joseph. Você não tem alguém para amar? — perguntou ele.
— O que você acha que estou fazendo agora? — respondi, apoiando a cabeça na cama. Ele
sorriu e ergueu o ombro direito. Sorri para ele e ergui o ombro esquerdo.

***

Eu gostaria de poder dizer que as coisas estavam melhorando, mas Nicholas parecia cada dia
pior. Quando não estava no hospital, ele passava a maior parte do tempo na cama. Meu
irmão sorridente aos poucos se transformava em alguém que não demonstrava quase
nenhuma emoção. Sempre gentil, ele se irritava cada vez mais com Dallas por qualquer coisa, o que a deixava ainda mais nervosa.
Era de partir o coração, porque Dallas fazia o melhor que podia.
Nicholas nunca gritou comigo, desejei que ele o fizesse. Dallas estava à beira de um colapso.
As aulas iam começar dentro de poucos dias, e ela parecia sobrecarregada, especialmente por não ter conseguido frequentar o curso de verão do mestrado. O nível de estresse dela estava nas alturas.
— Convide-a para sair — sugeriu Nicholas.
Quando eu o ajudei a se sentar no sofá da sala de estar, ele soltou um suspiro. Estava de
saco cheio de ter que ficar no quarto olhando para as paredes. Parecia um pouco
claustrofóbico.
— Convidar quem para sair? — perguntei.
Nicholas me dirigiu um olhar do tipo você sabe de quem estou falando.
— Demi. Na mesa de centro tem dois ingressos para a ópera hoje à noite em Chicago.
Também fiz uma reserva para uma noite em um hotel. Acho que ela vai gostar. Dallas e eu
íamos na lua de mel, mas... — a voz de Nicholas sumiu, e ele fechou os olhos. — Leve-a para
sair.
— Não vou dirigir até Chicago e passar a noite lá com você nesse estado.
— Sim, você vai.
— Não, eu não vou. Você fez quimioterapia ontem. Sempre passa mal alguns dias depois.
— Estou bem. Além disso, Dallas vai me ajudar.
— Nicholas.
— Joseph. — Nicholas se sentou no sofá. — Você merece ser feliz.
— Eu estou feliz.
— Não. Você está só existindo, está se deixando levar pela vida. O que faz sentido. Tudo o
que você passou, tudo o que você viu, se tornou uma rotina doentia da qual você não
consegue escapar. Mas a única vez que vi você feliz, realmente feliz, foi quando você estava
com Demi.
— Nicholas, pare.
— Lembra de quando você veio me pedir dinheiro para comprar um terno que servisse em
você só para levá-la a um recital de piano em Chicago? Você estava radiante, cheio de
esperança. Eu nunca tinha te visto daquele jeito.
— Por uma boa razão. Esperança é um desperdício de tempo. Lembra-se de que nós não
fomos a Chicago porque Ricky apareceu e eu fui parar no fundo do poço?
Ele revirou os olhos.
— Você não é mais essa pessoa. Convide-a para sair.
— Não.
— Sim.
— Não.
— Sim.
— Não!
— Estou com câncer.
Revirei os olhos.
— Cara. Golpe baixo. Por quanto tempo você vai usar esse papo de câncer?
Ele sorriu para mim e me deu um tapinha no ombro.
— Convide-a para sair, ok?
— Ok.

amores, estou de volta e agora para ficar hahahaha.
que saudades que eu estava do blog e resolvi postar logo hoje.
essa capítulo ao mesmo tempo que é triste e lindo pois todo mundo junto ao Nicholas.
o que acham que irá acontecer com ele? eu tenho muitas ideias para o final.
será que o Joseph irá pedir a Demi para sair?
espero que vocês tenham gostado amores.
o que acharam? deixem seus comentários, volto logo.
respostas do capitulo anterior aqui