26/04/2018

7. lie or truth


— Seu terno está grande demais — comentou Demi, puxando as mangas, cujo comprimento passava dos meus dedos. A margarida que dei a ela estava atrás de sua orelha esquerda desde que saímos do recital.
— É do Nicholas — expliquei. — Ele me emprestou quando percebi que o mala sem alça não viria.
— Ele está gigante em você. Mas ainda assim ficou bonito. Nunca te vi tão bem-vestido antes. Gostou do recital? Não foi meu melhor desempenho.
— Foi perfeito.
— Obrigada, Joseph. Acho que deveríamos fazer algo divertido hoje. Você não acha? Acho que deveríamos fazer.... não sei... algo muito louco!
Ela falava sem parar, era muito boa nisso. Rodopiava, sorria e falava, falava e sorria.
Mas eu não a ouvia direito, pois minha cabeça estava em outro lugar.
Queria apenas continuar dizendo a Demi o quanto ela foi incrível no recital, como ela se saiu melhor do que todos os outros que se apresentaram. Como ela fez eu me sentir vivo penas com o toque de seus dedos nas teclas do piano. Como não consegui tirar os olhos dela.
Como não queria soltá-la daquele abraço nunca mais. Como eu pensava nela quando estava fazendo coisas aleatórias, tipo escovando os dentes, penteando o cabelo ou procurando meias limpas. Queria dizer tudo o que eu estava pensando, porque ela estava em todos os meus pensamentos.
Queria dizer o que sentia por ela. Que estava me apaixonando por ela. Que amava seu cabelo desgrenhado e sua boca sempre falante.
Eu queria...
— Joseph... — sussurrou Demi na calçada.
Minhas mãos, de alguma forma, tocavam a parte inferior de suas costas e a traziam para perto de mim. Minha respiração pairava a poucos centímetros dos lábios de Demi. Sua expiração quente misturava-se com minha respiração ofegante, nossos corpos tremiam nos braços um do outro.
— O que você está fazendo? — perguntou ela.
O que eu estava fazendo? Por que nossos lábios quase se tocavam? Por que nossos corpos estavam tão próximos? Por que eu não conseguia tirar os olhos dela? Por que eu estava me apaixonando pela minha melhor amiga?
— Você quer que eu minta ou que fale a verdade?
— Minta — sussurrou Demi.
— Estou ajeitando a flor no seu cabelo. — coloquei um de seus cachos atrás da orelha. — Agora me pergunte de novo.
— O que você está fazendo? — repetiu ela quando eu me aproximei ainda mais, sentindo as palavras tocarem meus lábios.
— Mentira ou verdade?
— Verdade.
— Não consigo parar de pensar em você. O tempo todo. Você está na minha cabeça de manhã, de tarde e de noite. Não consigo parar de pensar em te beijar. Não consigo parar de pensar em te beijar bem devagar. Mas tem que ser bem devagar, porque assim o beijo vai durar mais tempo. E eu quero que dure.
— Essa é a verdade? — perguntou Demi suavemente, os olhos fixos em meus lábios, arfante.
— Sim, é a verdade, mas, se você não quiser que eu te beije, não vou fazer isso. Se você quiser que eu minta, vou mentir.
Seus olhos encontraram os meus, e suas mãos se apoiaram em meu peito. Meu coração batia na ponta de seus dedos. Ela mordeu o lábio inferior e sorriu de leve.
— Você é o meu melhor amigo — sussurrou Demi, puxando para baixo seu vestido de bolinhas. — Você é a primeira pessoa em quem eu penso quando acordo. Sinto sua falta  Joseph. E, para ser sincera, quero que você me beije. Não só uma, mas muitas vezes.
Nós nos abraçamos, e eu senti o nervosismo dela.
— Nervosa? — perguntei.
— Sim, nervosa.
Foi estranho, mas, ao mesmo tempo, foi exatamente como eu imaginava. Como se fôssemos feitos um para o outro.
Dei de ombros.
Ela deu de ombros.
Eu ri.
Ela riu.
Entreabri meus lábios.
Ela entreabriu os lábios.
Eu me inclinei na direção dela.
Ela se inclinou na minha direção.
E minha vida mudou para sempre.
Minhas mãos pressionaram suas costas. Ela me beijava com mais intensidade a cada segundo, como se ainda tentasse decidir se aquilo era real ou não.
Era real?
Talvez minha mente perturbada estivesse apenas imaginando coisas. Talvez, na realidade, eu estivesse apenas sonhando. Talvez Demi Lovato nunca tivesse existido e fosse apenas uma criação da minha mente para me ajudar a viver meus dias de merda.
Mas então por que parecia tão real?
Afastamos nossos lábios por uma fração de segundo. Nós olhamos um para o outro, como se estivéssemos avaliando se deveríamos continuar com aquele sonho ou se seria melhor pararmos antes que aquilo estragasse nossa amizade.
Demi passou as mãos pelo meu cabelo.
— Por favor — sussurrou.
Meus lábios roçaram os dela, e seus olhos se fecharam antes de nossas bocas se unirem novamente. As mãos de Demi me puxaram para mais perto, e sua língua se esgueirou entre meus lábios. Retribuí o beijo com ainda mais intensidade. Nós nos apoiamos na parede do prédio mais próximo, as costas de Demi indo de encontro às pedras frias. Eu a desejava mais do que algum dia ela poderia me desejar. Nosso beijo se tornou mais febril, nossas línguas se encontravam, minha mente me enganava com a falsa promessa de que eu sentiria Demi para sempre junto ao meu corpo.
Eu não estava fazendo isso, seus lábios, os mesmos lábios que eu tinha imaginado nos meus por tanto tempo, os mesmos lábios que sempre davam sorrisos que iluminavam meus dias, agora me beijavam.
Beijei minha melhor amiga, e ela me beijou.
Demi me beijou como se realmente quisesse aquilo, e eu a beijei como se ela fosse tudo o que eu tinha no mundo.
E ela era.
Ela era o meu mundo.
Quando nos separamos novamente, estávamos ofegantes.
Dei um passo para trás. Estávamos trêmulos, e era como se não soubéssemos o que fazer a seguir.
Dei de ombros.
Ela deu de ombros.
Eu ri.
Ela riu.
Entreabri meus lábios.
Ela entreabriu os lábios.
Eu me inclinei na direção dela.
Ela se inclinou na minha direção.
E começamos tudo de novo.

amores, me desculpem pela a demora para postar mas minha vida anda corrida.
finalmente teve o beijo deles e que beijo hein, o que acharam?
agora só vem amor pela a frente e uma treta está bem próxima de acontecer.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.

17/04/2018

6. recital


— Como foi o ensaio? — perguntou minha mãe quando voltei da casa de Joseph.
Em vez de ir para o ensaio, fui até a casa dele e pedi que entregasse o ingresso ao meu pai. Mas eu não podia contar isso à minha mãe, ela não entenderia. Ela estava no escritório, digitando algo no computador e fazendo o que sabia fazer de melhor: trabalhando. Havia uma garrafa de vinho e uma taça na mesa. Ela não ergueu o olhar e, antes que eu pudesse responder, disse:
— Se tiver alguma roupa suja por aí, coloque-a no cesto do banheiro. E, se puder, lave as roupas e dobre o que está na secadora.
— Ok — respondi.
— Fiz lasanha. Se puder, coloque-a no forno às quatro e quarenta e cinco e deixe por uma hora.
— Ok.
— E, por favor, Demi. — ela interrompeu a digitação e se voltou para mim. — Você poderia parar de deixar seus sapatos no hall? Sério, basta dar dois passos para a esquerda para colocá-los no armário.
Olhei para o corredor, onde estavam meus tênis.
— Eu os coloquei no armário.
Ela me dirigiu um olhar severo.
— Coloque-os no armário, por favor.
Eu os coloquei no armário.
Quando a comida ficou pronta, nós nos sentamos à mesa da sala de jantar, ela respondendo e-mails no celular, eu comentando posts no Facebook.
— A lasanha está com um gosto diferente — falei, remexendo a comida com o garfo.
— Usei omelete de claras em vez de massa.
— Mas não é lasanha por causa da massa? O nome da massa não é esse, lasanha? Sem ela, estamos apenas comendo ovos, molho e queijo.
— Assim tem menos carboidratos. Você se lembra do que eu disse sobre ficar de olho nos carboidratos antes de ir para a faculdade? Quando disse que você ficaria ficar igual ao boneco da Michelin no seu primeiro ano, não estou brincando. E eu li um artigo que dizia que as pessoas que já estão acima do peso tendem a engordar ainda mais do que as pessoas normais.
— Do que as pessoas normais? Você está dizendo que eu não sou normal?
Senti um aperto no peito.
Minha mãe revirou os olhos de modo dramático.
— Você é muito sensível, Demi. Queria que fosse mais estável, como a sua irmã. E os hábitos alimentares dela são dez vezes melhores que os seus. Isso é um fato. Você precisa cuidar melhor da sua alimentação, só isso. — ela mudou de assunto rapidamente. — Você não me contou como foi o ensaio — disse, colocando uma garfada na boca.
— Foi bom. Você sabe que o piano é um velho amigo.
Ela bufou.
— Sim, eu sei. Desculpe não poder ir ao recital esta noite. Tenho muito trabalho.
Foi minha vez de revirar os olhos, mas ela não percebeu. Minha mãe nunca iria a nenhum dos meus recitais, pois achava que a música era um hobby, não uma escolha de vida. Quando descobriu que eu iria para a faculdade estudar musicoterapia, ela quase se recusou a ajudar a pagar meus estudos, até que Dallas a convenceu do contrário. Minha irmã era do tipo realista, como minha mãe, mas ainda acreditava em minha música. Talvez porque o namorado dela, Nicholas, também era músico, e ela o amava com toda sua complexidade artística.
Às vezes eu fechava os olhos e tentava me lembrar de uma época em que minha mãe não fosse tão dura e cruel. Eu meio que me recordava dela sorrindo. Mas talvez isso fosse apenas fruto da minha imaginação desejando se apegar a uma bela lembrança. Será que ela se tornou fria no dia em que meu pai nos deixou? Ou o calor dele apenas ocultou sua alma gélida por um tempo?
— Acho que vou à sala de concertos me preparar para esta noite. Obrigada pelo jantar, mãe — falei, enquanto ela se servia de mais vinho. 
— Ok.
Assim que peguei um casaco leve, o tênis e a bolsa feita à mão que meu pai comprou quando viajou para um concerto na América do Sul, ela me chamou:
— Demi!
— Sim, mãe?
— Ligue a lava-louças antes de ir. E coloque aquela roupa para secar. E traga um litro de sorvete da Bally’s Cream Shop. Mas não compre sorvete para você. Você sabe, boneco da Michelin e tal.

***

Senti como se meu coração estivesse pegando fogo.
O assento 4A continuava vazio quando espiei de trás do palco. Ele estava a caminho, falei
para mim mesma. Ele me ligou, disse que viria, pensei. Com margaridas.
Eu amava margaridas, eram minhas flores favoritas. Meu pai sabia disso e ia trazê-las para mim. Porque ele prometeu que faria isso.
— Você é a próxima, Demi — anunciou meu professor.
Meu coração martelava no peito. A cada passo que eu dava em direção ao piano, tinha a sensação de que iria desmoronar. A ausência dele me sufocava, eu tinha vertigens só de pensar que tudo que tinha saído de sua boca era mentira. Mentira. Uma mentira maldosa e inútil.
Então ergui os olhos.
Pró.
O assento 4A estava ocupado.
Ele veio.
Relaxei no banco do piano e me perdi nas teclas. Meus dedos se uniram ao instrumento, e a magia aconteceu, os sons da minha alma invadiram o ambiente. Eu não queria chorar, mas algumas lágrimas caíram enquanto eu tocava. Quando terminei, me levantei e fiz uma reverência. O público deveria aplaudir apenas depois que todos tivessem tocado, assim, aqueles que não fizessem uma apresentação tão boa não se sentiriam mal por não receberem  ovações da plateia. Mas o cara do assento 4A estava de pé, com uma única margarida na mão, batendo palmas como um louco, gritando e urrando.
Ele vestia um terno grande demais para o seu tamanho. Sorri.
Sem pensar, corri até a plateia e o abracei.
— O ingresso era para você — menti.
Ele me abraçou ainda mais apertado.
Quem precisava do mala sem alça, afinal? Eu tinha Joseph Adam Jonas.
Isso era mais que suficiente para mim.

amores, eu estive doente e fiquei sem postar aqui mas eu estou bem agora.
o pai da Demi não foi mas o Joseph sim.
tem como não amar esse casal <3
eu estou tão feliz com os comentários de vocês, obrigada <3
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.

08/04/2018

5. suitcase without a handle


— Joseph! Joseph! — chamou Demi uma semana depois do meu aniversário, correndo em minha direção na chuva.
Eu estava no degrau mais alto da escada, limpando as janelas do terceiro andar do prédio.
Obviamente minha mãe só me pedia para limpá-las quando estava chovendo. A voz de
Demi me assustou, e acabei derrubando o balde de água.
— Meu Deus, Demi! — gritei.
Ela franziu o cenho, segurando um guarda-chuva de bolinhas amarelas.
— O que você está fazendo?
— Limpando as janelas.
— Mas está chovendo.
Não brinca, Sherlock, pensei comigo mesmo. Mas Demi não tinha culpa de eu estar
limpando as janelas, ela não merecia meu mau humor. Desci a escada e fitei minha amiga. Ela deu um passo em minha direção e segurou o guarda-chuva sobre nós dois.
— Sua mãe te obrigou a fazer isso? — perguntou ela com o olhar mais triste que já vi.
Não respondi.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, um pouco irritado.
Demi não costumava frequentar aquele tipo de lugar. Eu morava em um bairro de merda, não era um lugar seguro, muito menos para alguém como ela. Tinha uma quadra no final da rua onde havia mais gente comprando e vendendo drogas do que jogando basquete.
Alguns caras ficavam parados nas esquinas de manhã até a noite, tentando ganhar um dinheirinho extra. Prostitutas andavam de um lado para o outro, drogadas. E eu sempre ouvia tiros, mas felizmente nunca vi ninguém ser atingido.
Eu odiava aquele lugar. Aquelas ruas. Aquelas pessoas.
E eu odiava que Demi aparecesse ali de vez em quando.
Ela piscou algumas vezes, como se tivesse esquecido a razão de ter vindo.
— Ah, sim! — exclamou ela, seu semblante fechado transformando-se em um grande sorriso— O mala sem alça me ligou! Eu queria que ele viesse ao meu recital de piano esta noite, mas ele não me retornou, lembra? Bom, ele me ligou e disse que poderá vir!
Permaneci impassível.
O mala sem alça era conhecido por fazer esse tipo de promessa e sempre arrumar um
jeito de dar para trás no último minuto.
— Não faça isso — disse ela, apontando para mim.
— Não faça o quê?
— Não me venha com esse olhar de “Pare de ter esperanças, Demi”. Não fui eu quem ligou, Joseph, foi ele. Ele quer estar lá.
Ela não conseguia parar de sorrir. Isso me deixou realmente triste. Nunca vi alguém tão
carente de atenção em toda a minha vida.
Você tem toda a minha atenção, Demetria Devonne Lovato. Eu juro.
— Eu não estava olhando para você desse jeito — menti. Definitivamente estava.
— Ok. Vamos avaliar os prós e contras da situação — sugeriu Demi.
— Pró número um — começou ela, com voz entediada. — Ele aparecer.
— Contra número um, ele não aparecer — retruquei.
Ela parecia irritada.
— Pró número dois, ele aparecer com flores. Ele me perguntou quais eram as minhas flores favoritas. Ninguém faz isso se não for levar flores!
Margaridas. O mala sem alça deveria saber quais eram as flores favoritas de Demi.
— Contra número dois, ele ligar e cancelar no último minuto.
— Pró número três. — Demi colocou as mãos no quadril. — Ele aparecer e me dizer o quanto eu sou incrível. E o quanto tem orgulho de mim. E o quanto sentiu saudades e o quanto me ama. — fiz menção de falar algo, mas ela me silenciou, deixando a voz monótona de lado. — Joseph, chega de contras. Preciso que você fique feliz por mim, ok? Mesmo que seja uma felicidade falsa!
Demi continuava sorrindo, o tom de voz alto e empolgado, mas seus olhos sempre demonstravam como ela realmente se sentia. Ela estava nervosa, com medo de que o pai a decepcionasse novamente.
Então sorri, pois não queria que ela ficasse nervosa ou com medo. Queria que ela realmente se sentisse tão feliz quanto fingia estar.
— Que bom, Demi — eu disse, cutucando seu braço de leve. — Ele está vindo!
Ela soltou o ar dos pulmões e assentiu.
— Ele vai estar lá com certeza.
— Claro que vai — concordei, mas não acreditava nisso. — Porque se tem alguém no mundo que vale a pena ver é a incrível Demi Lovato!
Suas bochechas coraram.
— Essa sou eu! A incrível Demi Lovato! — ela enfiou a mão no bolso de trás e pegou um ingresso que estava em um saquinho plástico. — Certo. Bem, eu preciso de sua ajuda. Estou paranoica porque minha mãe não pode descobrir que eu tenho tentado falar com o meu pai. Não quero que ele seja visto perto da nossa casa. Eu disse que ele poderia pegar o ingresso aqui com você.
Demi me fitou com um olhar esperançoso, confiante de que seu plano daria certo. Não pude deixar de notar que ela o estava chamando de pai novamente, em vez de mala sem
alça. Mais uma vez, fiquei triste por ela.
Esperava que ele realmente aparecesse.
— Pode deixar — falei.
Os olhos de Demi se encheram de lágrimas, e ela me entregou o guarda-chuva para que pudesse secá-las.
— Você é o melhor amigo que uma garota poderia ter. — ela se inclinou na minha direção e me deu seis beijos no rosto.
Fingi não notar que meu coração deu seis pulos de felicidade.
Ela não percebia nada, não é? Não percebia que dava vida nova ao meu coração toda vez que estava perto de mim.

vi ter muitas surpresas nesse recital ainda.
 o grande beijo está chegado e vai ser top.
logo logo os dois irão perceber que se amam.
eu estou tão feliz com os comentários de vocês, obrigada <3
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.

02/04/2018

4. i'm falling in love for you


Eu nunca havia comemorado meu aniversário até uns dois anos atrás, quando conheci Demi. Nicholas sempre me levava para jantar, e eu adorava. Ele era ótimo em me lembrar de que eu não estava sozinho no mundo, mas Demi se superava a cada ano. Há dois anos, fomos a Chicago assistir a um documentário especial sobre Charles Chaplin em um cinema antigo. Depois, ela me levou a um restaurante chique para o qual eu estava muito malvestido.
Jantares extravagantes faziam parte de seu estilo de vida, mas eu vinha de um mundo em que nem sempre havia algo para comer no jantar. Quando ela percebeu que eu me sentia
pouco à vontade, acabamos vagando pelas ruas de Chicago, comemos cachorros-quentes e
nos sentamos embaixo daquela escultura que mais parece um feijão gigante.
Esse foi o primeiro melhor dia da minha vida.
No ano passado, havia um festival de cinema em Wisconsin, e ela alugou uma cabana para nos hospedarmos. Assistimos a todas as sessões durante o fim de semana. Ficamos até tarde discutindo quais filmes acrescentaram algo à nossa vida e quais foram feitos por pessoas que provavelmente estavam sob efeito de ácido.
Esse foi o segundo melhor dia da minha vida.
Mas hoje era diferente. Era o meu aniversário de vinte e quatro anos, já passava das onze da noite, e Demi sequer tinha me telefonado.
Fiquei no quarto assistindo a um DVD sobre Jackie Robinson enquanto escutava minha mãe cambaleando pelo apartamento, tropeçando em tudo. Uma pilha de contas estava ao lado da minha cama, e eu senti um aperto no estômago: o medo de não conseguir pagar o aluguel esse mês. Se não conseguíssemos pagar, meu pai nunca nos deixaria esquecer disso.
Se eu pedisse ajuda a ele, tinha certeza de que minha mãe pagaria a dívida.
Peguei um envelope que ficava embaixo do colchão e contei o dinheiro que havia nele. As palavras escritas no envelope me enojaram.
Dinheiro para a faculdade.
Que piada.
Havia quinhentos e cinquenta e dois dólares. Eu estava juntando dinheiro há dois anos, desde que Demi meio que me convenceu de que eu poderia fazer faculdade algum dia.
Passei muito tempo pensando que conseguiria poupar o suficiente para fazer faculdade, ter uma carreira sólida e comprar uma casa para morar com minha mãe.
Nós nunca teríamos que depender do meu pai para nada, a casa seria nossa, e só nossa. Ficaríamos limpos também. Nada de drogas, só alegria. Minha mãe choraria de felicidade, não porque meu pai batia nela.
A versão sóbria da minha mãe voltaria, aquela que me colocava para dormir quando eu era menino. Que cantava e dançava pela casa. Que sorria.
Fazia muito tempo que eu não a via, mas uma parte de mim ainda tinha a esperança de que um dia ela estaria de volta. Ela tinha que voltar para mim.
Suspirei e tirei um pouco de dinheiro do envelope para pagar a conta de luz.
Restaram trezentos e vinte e três dólares.
E assim o sonho pareceu estar um pouco mais distante.
Peguei um lápis e comecei a fazer alguns rabiscos na conta de luz. Desenhar e assistir a documentários eram meus modos de fugir da realidade. Além disso, uma garota desajeitada, com cabelos lisos, sorridente e que falava pelos cotovelos surgia o tempo todo em minha mente. Demi ocupava meus pensamentos mais do que deveria. O que era estranho, porque eu realmente não dava a mínima para ninguém ou para o que pensavam de mim.
Se eu me preocupasse com as pessoas, ficaria vulnerável a elas, e minha mente já estava destruída pelo amor que eu sentia por minha mãe problemática.
— Não! — Eu a ouvi berrar da sala de estar. — Não, Ricky, eu não queria... — gritou ela.
Senti um aperto no peito.
Meu pai estava aqui.
Eu me levantei da cama e corri para a sala. Ele era forte e tinha mais cabelos brancos do que negros, o semblante mais sombrio do que alegre, e seu coração tinha mais espaço para o ódio do que para o amor. Sempre usava terno. Daqueles que pareciam muito caros, com gravata e sapatos de couro croco. Todo mundo na vizinhança sabia que deveria manter a cabeça baixa ao passar por ele, pois até encará-lo poderia ser perigoso. Meu pai era o tirano das ruas, e eu o odiava com todas as minhas forças. Tudo nele me enojava. O que eu mais odiava, porém, era o fato de eu ter os olhos dele.
Sempre que eu olhava para ele, via um pedaço de mim.
Minha mãe estava trêmula em um canto, a mão na bochecha, que tinha a marca dos dedos do meu pai. Ele estava prestes a dar outra bofetada quando eu entrei na frente dela,  recebendo o tapa em cheio no rosto.
— Deixa ela em paz — falei, tentando agir como se o tapa não tivesse doído.
— Isso não tem nada a ver com você, Joseph — disse ele. — Saia da minha frente. Sua mãe me deve dinheiro.
— E-eu vou pagar, juro. Só preciso de tempo. Tenho uma entrevista em um supermercado no final da rua essa semana — mentiu ela.
Minha mãe não trabalhava havia anos, mas sempre inventava que tinha essas entrevistas misteriosas que nunca davam em nada.
— Achei que ela já tinha pagado o que devia — falei. — Ela te deu duzentos dólares no fim de semana.
— E pegou trezentos há dois dias.
— Por que você dá dinheiro a ela? Sabe que ela não pode te pagar.
Meu pai segurou meu braço, cravando as unhas em minha pele e me fazendo recuar. Com um puxão, ele me atirou do outro lado da sala, veio até mim e se inclinou na minha direção.
— Quem diabos você pensa que é, falando desse jeito comigo?
— Eu só achei...
Ele me deu tapa na nuca.
— Você não acha nada. Essa conversa é entre sua mãe e eu. Não me interrompa.
Ele me bateu de novo, mais forte dessa vez. Sua mão se fechou e, quando o soco atingiu meu olho, gemi de dor. Em seguida, ele voltou sua atenção para minha mãe, e eu me coloquei entre os dois novamente, como um idiota.
— Está querendo morrer, Joseph?
— Eu vou pagar — falei, tentando manter a cabeça erguida, embora ele sempre conseguisse fazer com que eu me sentisse humilhado. — Um segundo.
Corri para o meu quarto, enfiei a mão embaixo do colchão e peguei o dinheiro que estava guardando para a faculdade. Podia sentir os olhos se encherem de lágrimas enquanto contava as notas.
Restaram vinte e três dólares.
— Aqui — falei, enfiando o dinheiro nas mãos do meu pai.
Ele me encarou, semicerrando os olhos antes de começar a contá-lo. Murmurou alguma coisa, mas não me importei. Eu só queria que ele fosse embora dali.
Meu pai colocou o dinheiro no bolso de trás.
— Saibam que vocês dois têm sorte de me ter por perto, mas não pensem que vou continuar pagando o aluguel, como tenho feito.
Nós não precisamos de você, eu queria dizer. Vá embora e não volte nunca mais, eu queria gritar. Mas fiquei em silêncio.
Meu pai deu alguns passos na direção da minha mãe, e eu a vi recuar quando ele acariciou sua bochecha.
— Você sabe que eu te amo, não sabe, Julie? — perguntou.
Ela assentiu lentamente.
— Sei.
— Eu só quero que a gente seja feliz. Você não quer?
Ela assentiu de novo.
— Quero.
Ele se abaixou e a beijou na boca. Tive vontade de atear fogo nele. Queria vê-lo queimar e se contorcer de dor por usá-la, humilhá-la e praticamente cuspir em sua alma.
Mas também queria gritar com minha mãe, porque ela definitivamente correspondeu ao beijo. Quando se separaram, ela o encarou como se ele fosse um deus, quando, na verdade era apenas satanás em um terno caro.
— Joseph — chamou ele ao caminhar em direção à porta. — Se você precisar de um trabalho de verdade, um trabalho de homem mesmo, tenho certeza de que poderia colocá-lo nos negócios da família. Esse dinheiro ridículo que você está ganhando não vai levá-lo a lugar algum.
— Não estou interessado.
Um sorriso sinistro surgiu nos lábios dele ao ouvir minha resposta. Era a mesma resposta que eu sempre dava, mas todas as vezes ele sorria como se guardasse um segredo, como se escondesse algo de mim. Quando ele saiu do apartamento, soltei um suspiro.
— Qual é o seu problema? — gritou minha mãe, investindo contra mim, batendo em meu peito. Agarrei seus pulsos finos, confuso. Ela continuou gritando: — Você está tentando estragar tudo?
— Eu impedi ele de te dar uma surra!
— Você não sabe do que está falando. Ele não iria me machucar pra valer.
— Você está louca. Ele já estava te machucando.
— Me solta!
Ela tentou se libertar de mim, e eu a soltei. No instante seguinte, ela me deu um tapa no rosto com força.
— Não se atreva a se meter na minha vida novamente. Você me ouviu?
— Ouvi — murmurei.
Minha mãe tinha o dedo em riste e um olhar severo.
— Você. Me. Ouviu? — perguntou novamente.
— Ouvi! — gritei. — Eu te ouvi.
Mas eu estava mentindo, porque, se meu pai tocasse nela novamente, eu a defenderia.
Lutaria por ela. Seria a sua voz, mesmo que eu perdesse a minha própria. Porque eu sabia que ela tinha se calado por causa dele. Foi por causa dele que o fogo dentro dela se apagou.
Mãe, volte para mim.
Quando eu a perdi? Ela ficaria perdida para sempre?
Se eu tivesse uma máquina do tempo, impediria que minha mãe cometesse os erros que a
deixaram assim. Eu a guiaria pelo caminho certo. Imploraria para que ela não fumasse aquele cachimbo. Eu a lembraria de que era bonita, mesmo que um homem lhe dissesse algo
diferente. Eu deixaria seu coração, que tinha sido tão despedaçado, novinho em folha.
Fui para o meu quarto e tentei apagar as lembranças do meu pai, mas as imagens voltavam à minha mente. Todo o meu ódio, toda a minha raiva, toda a minha dor. Tudo inundava novamente meu cérebro, e eu precisava calar as vozes que enchiam minha cabeça.
Você vai morrer antes dos vinte e cinco anos.
Entrei em pânico, minha cabeça latejava, e eu estava a um segundo de permitir que meus
demônios retornassem. Eles zombavam de mim, me feriam e envenenavam minha mente.
Olhei para a mesa de cabeceira, onde ficava minha seringa, e a ouvi sussurrar meu nome e me pedir para alimentar aqueles demônios até que eles fossem embora.
Eu queria ser vitorioso aquela noite. Queria ser forte, mas não era. Nunca fui forte, nunca seria.
Desista.
Você vai morrer antes dos vinte e cinco anos.
Respirei fundo, minhas mãos trêmulas. Respirei fundo, meu coração dilacerado. Respirei fundo e fiz a única coisa que sabia fazer.
Abri a gaveta. Estava prestes a permitir que a escuridão entrasse, que a luz se apagasse, quando meu celular apitou.
Demi: O que você está fazendo?
Demi me mandou uma mensagem exatamente quando eu precisava, mesmo que eu estivesse magoado por ela ter esperado até as onze da noite para me escrever. A única pessoa que me parabenizou pelo meu aniversário foi Nicholas, que me levou para jantar. Meu pai me deu um olho roxo de presente, e minha mãe, uma decepção.
Mas eu podia contar com Demi. Ela era minha melhor amiga, embora não tivesse dito uma palavra durante o dia todo.
—  Deitado na cama.
Demi: Certo.
Pontinhos.
Demi: Venha aqui embaixo.
Eu me sentei e li novamente a mensagem. Enfiei os pés no tênis, apressado, peguei os óculos de sol, meu moletom vermelho, e saí correndo do apartamento. Demi havia estacionado o carro em frente ao meu prédio e sorria para mim. Olhei ao redor, observando as pessoas bebendo e fumando.
Cara, odeio quando você vem aqui. Especialmente à noite.
Sentei no banco do carona e tranquei as portas assim que entrei.
— O que está fazendo, Demi?
— Por que você está usando óculos escuros?
— Por nada.
Ela estendeu a mão e o tirou.
— Ah, Joseph... — sussurrou Demi, tocando de leve o olho machucado.
Eu sorri e recuei.
— Você acha isso ruim? Deveria ver como ficou o outro cara.
Ela não riu.
— Seu pai?
— Sim, mas está tudo bem.
— Não está tudo bem. Eu nunca odiei tanto alguém na minha vida. Sua mãe está bem?
— Longe disso, mas está bem. — vi as lágrimas brotarem nos olhos de Demi e me apressei em repetir: — Está tudo bem. Eu juro. Vamos para onde quer que você queira ir.
Assim eu esqueço disso por um tempo.
— Ok.
— E, Demi?
— Sim, Joseph?
Meus dedos secaram as lágrimas e permiti que meu toque se prolongasse em seu rosto.
— Sorria.
Ela me deu um sorriso enorme, elegante e falso. Foi o suficiente para mim.
Demi dirigiu por bastante tempo. Não falamos durante o caminho, e eu não sabia o que ela tinha em mente. Quando o carro parou em uma estrada abandonada, fiquei ainda mais
confuso.
— Sério, o que estamos fazendo aqui?
— Vamos lá — disse ela.
Demi saiu do carro e começou a caminhar pela estrada. Essa garota ainda iria me matar, mas, por morte, eu queria dizer vida. Quando a conheci, de alguma forma me libertei da prisão em que eu vivia todos os dias.
Fui atrás dela, pois, quanto mais Demi se afastava, mais eu me perguntava aonde estava indo.
Ela se deteve diante de uma escada que conduzia a um letreiro.
— Tchã-rã! — exclamou ela, dançando com empolgação.
— Hum?
— É o seu presente de aniversário, bobo!
— Meu presente é... uma escada e um letreiro?
Ela revirou os olhos e suspirou de modo dramático.
— Siga-me — disse ela, subindo a escada. Fiz o que ela pediu.
Subimos a escada mais alta que eu já tinha visto. Nós nos sentamos em frente a um grande letreiro que dizia “Hambúrgueres do Hungry Harry’s Diner: dois por cinco”. Demi devia ter um pouco de medo de altura, pois tentava ao máximo não olhar para baixo. Havia um parapeito no letreiro, mas, ainda assim, parecia alto demais para o gosto dela.
— Está com medo? — perguntei, aprendendo algo novo sobre minha amiga.
— Hum, talvez? Acho que as pessoas só sabem que têm medo de altura quando estão... no alto. — ela caminhou lentamente até a lateral do painel e trouxe de lá uma cesta de piquenique e alguns embrulhos de presente. — Aqui está. Abra os presentes primeiro. 
Quase tive um treco quando vi o que eram.
— Eu não sabia ao certo qual você viu com o seu avô, então comprei todos os DVDs que consegui encontrar — explicou ela.
Observei os mais de doze DVDs com documentários sobre a galáxia, e o que assisti com o meu avô estava entre eles.
— Meu Deus — murmurei, contendo as lágrimas.
Ela apontou para o céu.
— E este foi o melhor lugar que encontrei para ver as estrelas à noite. Dirigi pela cidade durante vários dias para encontrá-lo. Sei que é meio bobo, mas pensei que você ia gostar. — ela franziu o cenho. — É uma bobagem, não é? Eu deveria ter feito algo melhor. Fui tão bem nos anos anteriores... Achei que isso seria...
Segurei a mão dela.
Demi ficou em silêncio.
— Obrigado — sussurrei, passando a mão livre pelos olhos. Funguei. — Obrigado.
— Você gostou?
— Gostei, sim.
Estou me apaixonando por você...
Meneei a cabeça, tentando afastar esse pensamento.
Eu não podia me apaixonar por ela. Amor era sinônimo de dor. E ela era uma das duas únicas coisas boas na minha vida.
Voltei a olhar para o céu, apontando as estrelas.
— Se você olhar para lá, vai ver a constelação de escorpião. Dependendo do mês, é possível ter uma visão melhor de uma constelação ou outra. Ela começa com aquela estrela ali e se divide em cinco pontos, parecendo um dente-de-leão. Antares é a estrela mais brilhante da constelação. Meu avô dizia que era o coração do escorpião. Consegue ver? — perguntei. Ela assentiu. — A lenda diz que Órion, o caçador, se vangloriava de ser capaz de matar todos os animais do planeta, mas ele foi derrotado por um escorpião, e Zeus assistiu à batalha. À noite, ele levou o escorpião para o céu para sempre.
— É lindo.
— É — sussurrei, olhando para ela, para o céu. — É, sim.
— Isso é lindo também — disse ela.
— O quê?
Ela continuava admirando as estrelas.
— O modo como você olha para mim quando acha que não estou vendo.
Meu coração teve um sobressalto.
Demi a viu que eu estava olhando para ela?
— Você sempre percebe quando eu estou te olhando?
Ela assentiu lentamente.
— E quando não estamos juntos, fecho os olhos e sua imagem me vem à mente. Assim
nunca me sinto sozinha.
Estou me apaixonando por você.
Eu queria abrir a boca e dizer aquelas palavras. Queria deixar que Demi entrasse em minha alma, queria dizer que sonhava acordado com ela. Então lembrei quem ela era, quem eu era e o motivo de não poder fazer aquilo.
Demi interrompeu o silêncio constrangedor.
— Ah! Também preparei um jantar para nós — anunciou ela, pegando a cesta de piquenique. — Não quero que você se sinta ofendido por minha comida ser incrível. Sei que está acostumado a ser o melhor chef da cidade, mas acho que te superei.
Ela enfiou a mão na cesta e tirou um pote com sanduíches de manteiga de amendoim e geleia. Eu ri.
— Não acredito! Você fez isso?
— Com minhas próprias mãos. Exceto pela manteiga de amendoim, a geleia e o pão. Eles vieram prontos do supermercado.
Essa era minha melhor amiga.
Mordi o sanduíche.
— Geleia de frutas vermelhas?
— É, sim.
— Nossa, que extravagância.
Ela sorriu. E eu me derreti por dentro.
— Para a sobremesa, eu trouxe framboesas e isso. — ela pegou um pacote de Oreo. — Eu me esforcei muito, viu? Aqui. — Demi pegou um biscoito, separou as duas partes, colocou uma framboesa em uma delas e as juntou novamente. Então começou a fazer o som de um aviãozinho. Eu abri a boca e dei uma mordida.
— Hum...
Demi ergueu a sobrancelha, satisfeita.
— Você está gemendo por causa do meu biscoito?
— Com certeza.
Ela vibrou e suspirou.
— Se eu ganhasse um dólar toda vez que um cara me diz isso...
— Você teria um dólar e zero centavos.
Demi me deu um empurrão, e eu sentia que estava mesmo me apaixonando por ela. Não
sabia o que eu desejava mais: seus lábios ou suas palavras. A ideia de ter as duas coisas me
deixava mais feliz do que eu jamais poderia imaginar.
Palavras, fique com as palavras.
— Qual é o seu maior sonho? — perguntei, jogando algumas framboesas na boca antes de
colocar algumas na dela.
— Meu maior sonho?
— Sim. O que você quer ser ou fazer no futuro?
Ela mordeu o lábio.
— Quero tocar piano e fazer as pessoas sorrirem. Quero deixar as pessoas felizes. Sei que parece pouco para um monte de gente, minha mãe, por exemplo. E sei que parece um objetivo de vida bem idiota, mas é o que quero. Quero que minha música inspire as pessoas.
— Você é capaz de fazer isso, Demi. Já está fazendo.
Eu acreditava que ela seria capaz de realizar seu sonho. Sempre que eu a ouvia tocar piano, todas as coisas ruins da vida simplesmente desapareciam. Sua música me trazia alguns momentos de paz.
— E você? — perguntou ela, colocando uma framboesa em meus lábios.
Minha vida não me permitia sonhar, mas, quando eu estava com Demi, tudo parecia possível.
— Quero ser chef. Quero que as pessoas cheguem ao meu restaurante mal-humoradas e fiquem felizes depois de comer o que preparei para elas. Quero que se sintam bem comendo a minha comida e que se esqueçam das coisas ruins por alguns minutos.
— Adorei isso. Devíamos abrir um restaurante, colocar um piano nele e chamá-lo de DemiJo.
— Ou, JoeDemi.
— DemiJo soa muito melhor. E foi ideia minha.
— Bem, vamos fazer isso. Vamos abrir o DemiJo, fazer comidas maravilhosas, tocar músicas incríveis e viver felizes para sempre.
— E fim?
— Fim.
— Fechado? — perguntou ela, estendendo o mindinho em minha direção. Meu dedo
mindinho envolveu o dela.
— Fechado.
Nossas mãos se entrelaçaram.
— Que outro sonho você tem? — questionou Demi.
Fiquei na dúvida se deveria dizer a ela, porque parecia uma bobagem, mas, se havia alguém que eu tinha certeza de que não me julgaria, era Demi.
— Quero ser pai. Sei que parece meio idiota, mas realmente quero isso. Meus pais não conhecem o significado da palavra amor. Se eu tivesse filhos, amaria eles mais do que qualquer coisa. Eu os levaria a jogos de beisebol, a apresentações de dança... Eu amaria eles independentemente se quisessem ser advogados ou garis. Eu seria melhor do que meus pais.
— Eu sei que seria, Joseph. Você seria um ótimo pai.
Não sei por que, mas suas palavras trouxeram lágrimas aos meus olhos.
Ficamos ali por um tempo, sem falar nada, apenas olhando para o céu.
Era tão tranquilo ali... Aquele era o único lugar em que eu queria estar naquele momento. Continuávamos de mãos dadas. Será que ela gostava de segurar minha mão? Será que seu coração acelerava quando fazia isso? Será que ela estava se apaixonando por mim também? Apertei a mão de Demi. Eu não sabia se seria capaz de soltá-la.
— Qual é seu maior medo? — perguntou ela.
Peguei meu isqueiro com a mão que estava livre e comecei a acendê-lo e apagá-lo.
— Meu maior medo? Não sei. De que algo aconteça com as poucas pessoas com quem me
importo. Nicholas. Você. Minha mãe. E você?
— Perder meu pai. Sempre que a campainha lá de casa toca, espero que seja ele. Sempre que meu telefone toca, sinto um aperto no peito. Sei que ele tem sido um pai ausente nos últimos meses, mas sei também que ele vai voltar. Ele sempre volta. Fico arrasada só de pensar em não vê-lo nunca mais.
Ouvimos o que cada um tinha de mais sombrio. Agora era a hora de mostrarmos nosso lado mais feliz.
— Conte uma bela lembrança de sua mãe — pediu Demi.
— Hum... Quando eu tinha sete anos, ia e voltava da escola a pé todos os dias. Um dia, estava chegando em casa quando ouvi uma música na varanda do nosso antigo apartamento.
O aparelho de som tocava canções antigas, The Temptations, Journey, Michael Jackson, todos esses clássicos. Minha mãe disse que pegou o CD emprestado com um vizinho e que teve vontade de dançar. Ela estava dançando no meio da rua e só foi para a calçada quando um carro passou. Estava tão bonita naquele dia... Dancei com ela até anoitecer. Nicholas também. Ele foi levar as sobras do jantar para mamãe e eu. Quando chegou, nós três dançamos juntos.
Quando penso nisso hoje, tenho certeza de que ela já usava drogas naquela época, mas eu não tinha como saber. Só me lembro de rir, rodopiar e dançar com ela e Nicholas. Sua risada era a melhor parte, porque era muito alta. Essa é minha melhor recordação familiar. Sempre me lembro disso quando minha mãe parece distante.
— É uma ótima lembrança, Joseph.
— Eu sei.
Abri um sorriso tenso. Nunca tinha revelado a ninguém o quanto sentia falta da minha mãe, mas sabia que Demi me entendia, pois ela também sentia falta do pai.
— E qual é a sua melhor recordação do seu pai?
— Sabe o toca-discos no meu quarto?
— Sei.
— Ele me deu aquilo de Natal, e começamos uma tradição: todas as noites ouvíamos e cantávamos uma música antes de eu ir para a cama. De manhã, assim que acordávamos, fazíamos a mesma coisa. Música contemporânea, clássicos, qualquer coisa. Era uma coisa nossa. Às vezes, minha irmã vinha até o quarto e cantava com a gente, e às vezes minha mãe gritava para que desligássemos o som, mas nós sempre ríamos dela.
— É por isso que, quando vou te ver, você sempre está ouvindo música à noite?
— É. É engraçado como eu ouço as mesmas músicas, mas agora todas as letras parecem
diferentes.
Ficamos conversando a noite toda.
Dei framboesas a Demi, e, em troca, ela me deu seus sonhos.
Ela colocou framboesas em minha boca, e, em troca, eu depositei meus medos em suas mãos.
Nós olhamos para o céu noturno, nos sentindo seguros e livres por um instante.
— Já pensou em como as pessoas são malucas? — perguntei. — Há mais de trezentos bilhões de estrelas na Via Láctea. Trezentos bilhões de partículas de luz que nos lembram de tudo o que existe lá fora, no universo. Trezentos bilhões de partículas de fogo que parecem tão pequenas. No entanto, são maiores do que você poderia imaginar. Há tantas galáxias, tantos mundos que nunca descobriremos... Há tantas maravilhas no universo, mas, em vez de chegarmos à conclusão de que todos nós somos muito, muito insignificantes em um lugar
muito, muito pequeno, gostamos de fingir que somos os maiorais da galáxia. Gostamos de nos sentir importantes. E cada um de nós gostaria que nosso jeito fosse o melhor, e a nossa dor, a maior de todas, quando, na verdade, não somos nada além de um pontinho flamejante na imensidão do céu. Um pontinho do qual ninguém sentiria falta. Um pontinho que em breve será substituído por outro pontinho que acha que é mais importante do que realmente é. Eu só gostaria que as pessoas parassem de brigar por coisas idiotas como raça, orientação sexual e reality shows. Gostaria que elas se dessem conta de como são pequenas e tirassem cinco minutos do seu dia para olhar para o céu e respirar fundo.
— Joseph?
— Sim?
— Eu amo a sua mente.
— Demi?
— Sim?
Estou me apaixonando por você...
— Obrigado por esta noite. Você não tem ideia do quanto eu precisava disso, do quanto eu
precisava de você. — apertei sua mão de leve. — Você é o meu maior vício.

esse pai do Joseph é um escroto e a mãe do Joseph ainda gosta dele.
que lindo eles dois juntos, e essa surpresa que a Demi fez? 
e eles contando seus sonhos e suas lembranças, amei.
um dos meus capítulos favoritos e tem treta vindo por ai hahaha.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.