19/09/2018

23. nicholas


O consultório do Dr. James Petterson estava frio. Mais frio do que o necessário. Lá fora
provavelmente devia estar uns trinta graus o que era quente para o Wisconsin, mas o
médico não precisava transformar o lugar em um cubo de gelo. James ou James Vareta
(JV), como todo mundo na cidade o chamava por causa do seu corpo alto e magro, era o
único médico em quem confiava. Ele não era um médico comum. Muitas vezes eu me
perguntava se JV realmente era formado em medicina ou se, num sábado à noite, ele ficou
entediado, comprou um estetoscópio, vestiu um jaleco branco e nunca mais o tirou. Ele
morava em um apartamento acima do consultório.
Aliás, até seu consultório parecia uma farsa. Em cima da lareira atrás da mesa havia uma
grande cabeça de veado. JV jurava tê-lo abatido de olhos fechados há alguns anos. Ao lado da cabeça empalhada havia o que ele alegava ser pele de um urso preto, mas, na verdade, não era nada além de um tapete que provavelmente tinha comprado no Walmart. JV sempre
dizia que havia matado o urso com uma lata de cerveja na mão direita e a espingarda na
esquerda.
No canto da mesa, à esquerda, havia um pote de jujubas. À direita, balas de alcaçuz. Eu
sempre achei estranho um médico incentivar os pacientes a comer doces, mas, para JV, isso
fazia sentido, pois sua esposa, Effie, era uma das poucas dentistas da cidade, e ela estava
sempre à procura de novos pacientes.
JV e a esposa deveriam ter mais bom senso ao escolher os doces, porque ninguém em seu
juízo perfeito comeria alcaçuz.
Cruzei os braços e me encolhi, na tentativa de afastar o frio. Merda. Eu estava congelando.
Meus olhos se voltaram para a cadeira ao meu lado, onde Nicholas estava sentado.
Quando olhei para JV, vi que seus lábios ainda se moviam rapidamente. Ele continuava
falando, explicando a situação milhares de vezes. Pelo menos foi o que eu imaginei, pois já
não estava mais ouvindo.
Eu não me lembrava do momento exato em que tinha parado de ouvi-lo, mas, nos últimos
cinco ou dez minutos, fiquei simplesmente observando os movimentos de sua boca. Sons sem sentido fluíam rapidamente de seus lábios.
Minhas mãos agarraram a lateral da cadeira.
O choque foi a pior parte. Quando JV confirmou o diagnóstico, eu não sabia se chorava ou
não, se ficava apenas chateado ou socava a parede. Não sabia quanto tempo eu ainda tinha
com o meu irmão. A sensação esmagadora de isolamento me fez perder o fôlego por alguns
instantes. As batidas irregulares do meu coração eram aterrorizantes, mas a sensação não era desconhecida para mim. O medo e raiva tornavam cada momento insuportável.
— Joseph — disse JV, trazendo-me de volta à conversa. — Esse não é o fim do seu irmão.
Ele está sendo atendido pelos melhores médicos do estado. Está recebendo o melhor
tratamento.
Nicholas assentiu.
— Esse não é o fim, Joseph. É apenas um percalço.
O movimento que ele fez com a cabeça não combinava com sua escolha de palavras, e isso
me confundiu. Se aquele não era o fim, Nicholas não deveria fazer que não com a cabeça em
vez de assentir?
Passei a mão pelo rosto.
— Precisamos de uma segunda opinião. — comecei a andar pela pequena varanda do
consultório. — E então, de uma terceira. E de uma quarta.
Era isso que as pessoas faziam, certo? Procuravam uma resposta que fosse mais fácil? Mais
promissora?
Precisávamos de uma resposta melhor.
— Joseph... — JV deu um sorriso. — Uma segunda opinião só vai nos atrasar. Já estamos
enfrentando o problema e temos esperança de que...
Então aconteceu novamente. Parei de ouvir.
A consulta continuou, mas eu não disse mais nada. Não havia nada a dizer.
Nicholas e eu permanecemos em silêncio por todo o caminho de volta para casa, e minha
mente não conseguia se calar, repetindo a palavra câncer o tempo todo.
Meu irmão, meu herói, meu melhor amigo estava com câncer.
E eu não conseguia mais respirar.

***

Quando Nicholas me disse que Dallas iria fazer paradas no caminho antes de me deixar na casa da minha mãe, eu não imaginei que ficaríamos mais de vinte minutos no corredor de uma loja.

Fazia apenas um dia que Nicholas havia me contado sobre seu estado de saúde, e a cada minuto eu pensava em usar drogas para lidar com isso, o que era melhor do que a cada segundo.
Dallas tinha um tipo diferente de vício para lidar com o estresse, a loja Pottery Barn.
— Quanto tempo vamos ficar aqui? — perguntei. Estávamos em frente a uma prateleira
com louça caríssima pelo que pareciam horas, e Dallas escolhia atentamente o novo jogo de
pratos, já que tinha quebrado praticamente toda a porcelana da casa.
— Fique quieto — ordenou ela, os braços cruzados, olhos semicerrados, completamente
fora de si. — Isso leva tempo.
— Não mesmo. — fiz um gesto em direção a um jogo de pratos. — Veja. Pratos. Ah, olhe,
mais pratos. Caramba, o que temos aqui, Dallas? Eu acho que são pratos.
— Por que você tem que ser tão difícil o tempo todo? Eu realmente esperava que você
tivesse amadurecido nesses cinco anos.
— Sinto muito desapontá-la. Mas, sério, podemos ir?
Ela me dirigiu um olhar irritado.
— Por que está com tanta pressa para ver a sua mãe? Há cinco anos você foi embora e
deixou tudo nas mãos de Nicholas. Era ele quem iria até lá quando ela surtava, e você nunca
telefonou para saber como ela estava. Você nunca a procurou, então por que quer vê-la
agora?
— Porque meu irmão está com câncer, minha mãe é viciada em drogas, e eu me sinto um
filho e um irmão de merda por ter ido embora. É isso que você quer ouvir, Dallas? Eu sei, sou um merda. Mas, se você conseguisse parar de jogar isso na minha cara por uns dois segundos, seria ótimo.
Ela bufou e desviou o olhar, voltando-o para os pratos. Ficamos em silêncio.
Cinco minutos. Dez. Quinze malditos minutos.
— Aqueles. Vou levar aqueles ali. Pegue dois jogos, Joseph.
Dallas se virou e seguiu para o caixa, me deixando perplexo.
— Por que eu tenho que pegar dois jogos? — gritei.
Ela não se preocupou em responder, apenas continuou andando.
Tentando equilibrar os dois jogos de pratos em meus braços, fui até a parte da frente da
loja e coloquei-os diante do caixa. Dallas e eu ficamos em silêncio até ele nos dizer o valor
total.
— Cento e oito dólares e vinte e três centavos.
— Você só pode estar de brincadeira — falei. — Você vai pagar mais de cem dólares em
pratos?
— O que eu faço com o meu dinheiro não é da sua conta.
— Eu sei, mas qual é, Dallas. Você poderia comprar pratos mais baratos em uma loja de um
e noventa e nove, já que provavelmente você vai quebrá-los amanhã mesmo.
— Eu não fico perguntando a Nicholas o que ele faz com o dinheiro dele. Ou melhor, com
quem ele gasta o dinheiro dele. Então, prefiro que você não questione minhas escolhas.
— Você sabia que Nicholas me dava dinheiro?
— Claro que sabia, Joseph. Se tem uma coisa que Nicholas não consegue fazer é mentir. Não
me importo que ele dê dinheiro a você, mas... — ela suspirou, e seus olhos se tornaram mais
suaves quando se voltaram para mim. Pela primeira vez desde que voltei, Dallas parecia
derrotada. — Não o desaponte, Joseph. Ele está cansado. Não vai demonstrar isso, mas está.
Está exausto. Sua presença aqui deixa ele muito feliz. Está sendo bom para ele. Mas fique
bem, ok? Por favor, não o decepcione.
— Juro que não estou usando drogas, Dallas. Não menti. Realmente estou limpo.
Cada um de nós pegou uma caixa com um jogo de pratos e nos dirigimos até o carro.
Colocamos as compras no porta-malas, entramos no carro, e ela começou a dirigir rumo ao
apartamento de minha mãe.
— Eu acredito — disse Dallas. — Mas estamos prestes a ver sua mãe, e sei o quanto ela
influenciava o seu vício.
— Não sou o mesmo de antes.
— Sim. Acredito em você, mas confie em mim: sua mãe continua a mesma. Às vezes, acho
que as pessoas não mudam de verdade.
— Mudam, sim. Se elas tiverem uma oportunidade, são capazes de mudar.
Ela engoliu em seco.
— Espero que você esteja certo.
Quando chegamos à casa de minha mãe, perguntei a Erika se ela ia entrar, mas ela
recusou, olhando ao redor.
— Vou ficar aqui.
— É mais seguro lá dentro.
— Não, tudo bem. Não me sinto muito bem quando vejo... certos estilos de vida.
Eu não a culpava.
— Volto logo.
Meus olhos dispararam pelas ruas escuras, e vi algumas pessoas paradas na esquina, como
acontecia quando eu era mais novo. Talvez Dallas estivesse certa. Talvez algumas pessoas,
algumas coisas, alguns lugares nunca mudassem.
Mas eu tinha a esperança de que alguns deles conseguiam mudar, sim.
Caso contrário, o que exatamente estava acontecendo comigo?
— Só não demore muito, tá? O show do Nicholas começa em quarenta e cinco minutos lembrou Dallas.
— Acho que não deveríamos ter passado duas horas tentando escolher pratos, hein?
Ela me enxotou. Um gesto carinhoso, eu tinha certeza disso.
— Serei rápido. Vai ficar bem aqui fora?
— Estou bem. Só vá logo.
— Ei, Dallas? — falei, saindo do carro.
— O que foi?
Mais uma vez observei as pessoas nas esquinas, olhando em nossa direção.
— Tranque as portas.

***

Eu não sabia no que estava me metendo. Sabia que iria ser ruim, mas não tinha ideia do quanto minha mãe estava mal. Nicholas sempre falava muito pouco dela. Dizia que eu tinha que me preocupar em ficar bem, em vez de me preocupar com nossa mãe.
Agora era a vez de meu irmão seguir aquele conselho.
Mas isso significava que alguém tinha que cuidar dela, e esse alguém era eu. Eu não podia
deixar Nicholas na mão quando ele mais precisava de mim.
A porta estava aberta, e fiquei tão preocupado que senti um aperto no peito. O apartamento estava completamente imundo, com latas de cerveja, garrafas de vodca, frascos
de comprimidos vazios e roupas sujas espalhadas por todos os lugares.
— Meu Deus, mãe... — murmurei para mim mesmo, um pouco chocado.
O mesmo sofá quebrado continuava diante da mesma mesa de centro nojenta. Eu estaria
mentindo se dissesse que não notei o saquinho de cocaína em cima da mesa.
Puxei a pulseira de elástico.
Respire fundo.
— Saia daqui!
O grito veio da cozinha, e percebi o medo na voz de minha mãe. Eu estava de volta ao
inferno. Corri até lá, pronto para afastar meu pai dela. Eu sabia que, sempre que minha mãe
gritava, os punhos dele estavam esmurrando sua alma.
Mas, quando entrei na cozinha, minha mãe estava sozinha, tendo um ataque de pânico.
Ela arranhava a pele com força, deixando-a vermelha.
— Saia de perto de mim! Fique longe de mim!
Fui até ela.
— Mãe, o que você está fazendo?
— Elas estão em cima de mim!
— O que está em cima de você?
— As baratas! Estão em toda parte! As baratas estão em cima de mim. Me ajude, Nicholas!
Tire essa merda de cima de mim!
— Sou eu, mãe. Joseph.
Seus olhos opacos fixaram-se em mim e, por uma fração de segundo, eles me lembraram
da versão sóbria da minha mãe.
Então ela começou a se arranhar novamente.
— Tudo bem, tudo bem. Vamos. Vamos tomar banho, está bem?
Tive um pouco de trabalho, mas consegui que ela se sentasse dentro da banheira e abri o
chuveiro, deixando a água cair em seu corpo. Ela continuou esfregando a pele, e eu me sentei na tampa fechada do vaso sanitário.
— Nicholas me disse que você iria parar de usar drogas, mãe.
— Sim. — ela assentiu. — Com certeza. Com certeza. Nicholas quis me mandar para a
reabilitação, mas eu não sei. Posso melhorar sozinha. Além disso, essas coisas custam muito
dinheiro. — ela me encarou e sorriu, estendendo as mãos em minha direção. — Você voltou
para casa. Eu sabia que iria voltar. Seu pai disse que não, mas eu sabia. Ele ainda vende coisas para mim de vez em quando.
Minha mãe olhou para baixo e começou a lavar os pés. Os hematomas nas costas e nas
pernas quase me fizeram vomitar. Eu sabia que o parasita do meu pai tinha feito aquilo. E o
fato de que eu não estava lá para protegê-la fez com que eu me sentisse tão mau quanto ele.
— Você acha que eu sou bonita? — sussurrou ela. Lágrimas rolavam por seu rosto, mas ela
parecia nem ter se dado conta de que estava chorando.
— Você é linda, mãe.
— Seu pai me chamou de puta feia.
Cerrei os punhos e respirei fundo.
— Meu pai que se foda. Você está melhor sem ele.
— Sim. Com certeza. Com certeza. — minha mãe assentiu de novo. — Eu só queria que ele
me amasse, só isso.
Por que nós, seres humanos, sempre desejamos ser amados por pessoas incapazes de tal
sentimento?
— Você pode passar xampu no meu cabelo?
Eu disse que sim. Toquei de leve os hematomas em sua pele, mas ela não teve qualquer
reação. Por um tempo, ficamos ali sentados, ouvindo o som da água. Eu não sabia como
conversar com ela. Não sabia se queria fazer isso, mas o silêncio se tornou insuportável
depois de um tempo.
— Vou passar no supermercado para você amanhã, mãe. Quer me dar o cartão do vale-
alimentação?
Ela fechou os olhos.
— Droga! Que merda! Devo ter deixado o cartão no apartamento da minha amiga na outra noite. Ela mora aqui na rua. Posso ir lá buscar — disse ela, tentando se levantar, mas eu a detive.
— Você ainda está com xampu no cabelo. Enxague e seque com a toalha. Depois me
encontre na sala de estar. Vamos falar sobre a comida outro dia.
Eu me levantei e saí. Quando cheguei à sala, meus olhos focaram no saquinho de cocaína na mesa.
— Porra... — sussurrei, puxando a pulseira de elástico.
Foco. Essa não é a sua vida. Essa não é sua história.
A Dra. Khan disse que, depois da reabilitação, haveria momentos em que eu me
encontraria a segundos de voltar aos velhos hábitos. Mas, segundo ela, essa não era mais a
minha história.
Eu me sentei no sofá, as palmas das mãos suadas. Não sei como, mas, de alguma forma, o
saquinho de cocaína foi parar nelas. Fechei os olhos, respirando fundo. Meu peito queimava,
minha mente estava um caos. Estar de volta à cidade era demais para mim, mas abandonar
Nicholas não era uma opção.
Como eu iria sobreviver?
— Olha, vamos nos atrasar... — Dallas entrou no apartamento e fez uma pausa ao me ver
com a cocaína na mão. Meus olhos se voltaram rapidamente para a droga e, em seguida, para Dallas. Ela suspirou. — Como eu imaginava...
Ela se virou e saiu apressadamente da sala. Merda. Eu a segui, chamando-a, mas Dallas me
ignorou ao longo de todo o caminho até o carro. Quando entramos no veículo, ela acelerou.
Alguns minutos se passaram sem que nenhuma palavra fosse dita.
— Escute, o que você viu lá em cima... — comecei, mas ela balançou a cabeça.
— Não fale nada.
— Dallas, não é o que você está pensando.
— Não consigo fazer isso, Joseph. Não consigo. Não posso ficar te dando carona para você
ir atrás de drogas. Não posso ver você decepcionar seu irmão.
— Eu não estou usando drogas.
— Você está mentindo.
Ergui as mãos, derrotado, e soltei um suspiro.
— Eu não sei nem como começar uma conversa com você.
— Então não fale nada.
— Ótimo. Não vou falar.
Os dedos de Dallas agarravam o volante com força, o aromatizador de ar preso ao espelho
retrovisor balançava para a frente e para trás.
— Ele está doente e está tentando não demonstrar o quanto se preocupa com você ou com
sua mãe, mas sei que ele está apavorado. Acho que precisamos encarar a realidade, e a realidade é que eu vi você segurando um saquinho com drogas. A última coisa que Nicholas precisa é que você estresse ele ainda mais.
— O que você tem na cabeça? Você faz um monte de coisas doidas e julga as pessoas por
coisas que nunca aconteceram. Você é muito parecida com a maluca da sua mãe, sabia?
Chegamos ao restaurante, e ela estacionou o carro. Com um tom severo, ela se virou para
mim e disse:
— E você é igualzinho à sua.

será que a mãe do Joseph irá ser recuperar?
Dallas e Joseph sempre se afrontando, será que eles irão se entender?
achei que esse capítulo não ficou bom, o que acharam?
eu espero muito que vocês tenham gostado amores, volto em breve.

09/09/2018

22. i don't need you


— Joseph? — sussurrei ao bater à porta do quarto dele.
Fazia mais ou menos meia hora que Joseph tinha se trancado no quarto, e eu não conseguia
nem imaginar como estava a cabeça dele depois que Nicholas havia lhe contado sobre o câncer.
Eu o ouvi se mover pelo cômodo antes de a porta se abrir. Ele fungou um pouco e passou a
mão pelo rosto antes de olhar para mim.
— O que foi?
Seus olhos estavam vermelhos e um pouco inchados. Eu queria abraçá-lo, trazê-lo para
junto de mim, consolá-lo, aliviar suas mágoas e seu sofrimento.
Você estava chorando.
— Eu só queria dizer oi e ver como você está — falei suavemente.
— Estou bem.
Dei um passo na direção da porta, aproximando-me dele. Eu sabia que Joseph não devia
estar nada bem. Ncholas era tudo para ele. Quando foi embora para Iowa, o irmão foi a única pessoa com quem Joseph manteve contato. Ele ignorou todos os meus telefonemas, mas atendeu todas as ligações de Nicholas.
— Você não está bem.
— Estou. — ele balançou a cabeça com um olhar frio. — Estou bem. Não vou ter uma
recaída, Demi. Pessoas têm câncer todos os dias. Pessoas vencem o câncer todos os dias. Ele
está bem, eu também. Tudo bem.
Para qualquer outra pessoa, o leve tremor em seus lábios teria passado despercebido, mas
não para mim. Vi como seu coração estava cheio de dor.
— Joseph, vamos lá. Sou eu. Você pode conversar comigo.
— E quem é você, exatamente? — sussurrou ele, seu tom amargurado. — Há quanto
tempo você sabe? Há quanto tempo você sabe que ele está doente?
Fiz menção de responder, mas ele continuou falando.
— Então você sabia? Mil e noventa mensagens, Demi. Você me deixou mil e noventa
mensagens. Ligou para o meu telefone mil e noventa vezes, mas não conseguiu deixar uma
mensagem dizendo que meu irmão estava com câncer, o mesmo tipo de câncer que matou
nosso avô?
A mão de Joseph agarrou a maçaneta, e ele fechou a porta, o que não me surpreendeu.
Suas palavras eram duras, mas o que ele dizia não era mentira. Eu sabia sobre o câncer de
Nicholas há um tempo, mas não era meu papel dar a notícia a ele. Nicholas me fez jurar que não contaria nada.
Meus dedos tocaram a porta, e eu fechei os olhos.
— Eu moro na esquina da Cherry Street com Wicker Avenue. É uma casa amarela, com
um vaso de flores em formato de piano na varanda. Você pode ir até lá se precisar, Joseph. Se quiser conversar com alguém. Pode vir sempre, a qualquer hora.
A porta se abriu, e eu respirei fundo quando Joseph deu um passo na minha direção,
ficando bem próximo de mim. Seu rosto estava duro, e os olhos, antes avermelhados de tanto chorar, agora pareciam furiosos.
— Porra, qual parte você não entendeu? — sussurrou ele.
Joseph deu outro passo na minha direção, e eu recuei, até que minhas costas tocaram a
parede do corredor e seu corpo ficou a centímetros do meu. Nossas bocas estavam tão
próximas que, se eu me movesse, poderia sentir o toque dos lábios pelos quais ansiei por
tanto tempo. Quando ouvi suas palavras, cada sílaba me feriu profundamente.
— Eu não preciso de você, Demi. Eu. Não. Preciso. De. Você. Então, se puder me fazer um
favor e parar de agir como se fôssemos amigos, seria ótimo. Porque não somos amigos. Nunca seremos amigos de novo. Eu não preciso de você. E não preciso apoiar a cabeça no seu ombro, porra.
Ele voltou para o quarto e fechou a porta. Respirei fundo algumas vezes, abalada. Meu
coração ainda batia freneticamente no peito quando voltei para a sala para pegar meu casaco.
Quem era aquela pessoa?
Esse não era o mesmo cara que eu conheci há alguns anos. Ele não era meu melhor amigo.
Ele era um completo estranho para mim.
— Você está bem? — perguntou Dallas, franzindo o cenho.
Dei de ombros.
— Pode pegar um pouco mais leve com ele, Dallas?
— Sério? — minha irmã bufou, irritada. — Ele foi grosseiro com você! E você está me pedindo para pegar leve? Estou a dois segundos de mandá-lo cair fora da minha casa.
— Não — falei rapidamente, balançando a cabeça. — Não. Não. Ele está passando por um
momento difícil. Quer dizer, nem consigo imaginar... Se fosse com você... — não consegui
terminar a frase. Eu não tinha a menor ideia de como lidaria com a situação se descobrisse
que minha irmã estava com câncer. — Só dê um tempo a ele.
Ela relaxou um pouco.
— Ok. — Dallas me abraçou e cochichou no meu ouvido: — Tudo bem se você quiser ficar
longe dele, Demi. Você sabe disso, certo? Sei que vê-lo novamente deve magoá-la um bocado.
— Está tudo bem. Estou bem.
— Sim, mas talvez seja melhor manter uma distância segura. Para o coração dos dois.
Concordei. Além disso, eu não via possibilidade de encontrá-lo tão cedo.
Apoiei as costas na porta do quarto até ouvir Demi ir embora. Iria ser difícil ficar longe dela,
porque uma grande parte de mim queria trazê-la sempre para perto.
Sentei na cama com o celular e busquei na internet informações sobre câncer de cólon.
Meus olhos percorreram as páginas, deixando-me com mais medo do que eu imaginava ser
capaz de sentir. Durante um tempo, li muitos relatos de pessoas que sobreviveram à doença,
mas, em seguida, não sei como, fui parar em uma espécie de submundo da internet onde só
existiam histórias de pessoas que haviam morrido muito rápido por causa desse tipo de
câncer.
Encontrei remédios naturais. Relatos mentirosos. Fiquei acordado até o sol nascer e seus
raios de luz entrarem pela minha janela.
Quando meus olhos ficaram tão pesados quanto o meu coração, deixei o telefone de lado.
As únicas coisas que aprendi naquela noite foram que os sites médicos são coisa do
demônio e que Nicholas provavelmente não sobreviveria a mais uma noite.
Peguei um cigarro e o acendi com o isqueiro. Abri a janela, coloquei-o no parapeito e me permiti ter aqueles poucos momentos de dor.

Joseph um pouco alterado mas ele está bravo por conta do câncer do Nicholas.
Demi querendo ajudar ele mas logo ele entenderá mais sobre o assunto.
será que o Joseph e a Demi irão se resolver? e será que a Dallas vai pegar leve com o Joseph?
o que acharam? gostaram do capítulo?
eu espero muito que vocês tenham gostado amores, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.