parar lá. Não sabia nem se ela fecharia a porta na minha cara.
Mas eu não tinha outro lugar para ir. Não tinha ninguém a quem recorrer.
Ela abriu a porta, e meus olhos percorreram seu corpo. Demi vestia uma regata branca e
um jeans justo. Quando encontrei seus olhos, quase caí em prantos, pois imediatamente me
lembrei de como era não estar sozinho.
Com os braços cruzados, ela ergueu uma sobrancelha.
— O que você quer, Joseph? Vai gritar mais comigo? Vai me fazer sentir uma bosta?
Porque é quase uma da manhã, e eu não quero ficar aqui aturando esse tipo de coisa.
Sua postura decidida quase me fez rir. Quando abri a boca para dar uma risada, engasguei.
Vi seus olhos se tornarem mais suaves. Ela saiu para a varanda.
— O que foi? — perguntou Demi, alerta. A preocupação era nítida em suas palavras.
Meneei a cabeça. Senti um aperto no peito.
— Ele está... — pigarreei. Enfiei as mãos nos bolsos. Meu olhar recaiu sobre o piso
desgastado da varanda. — Ele está...
— Joseph, fale comigo. — Demi pousou a mão em meu peito, bem em cima do meu coração,
na tentativa de me acalmar. Involuntariamente, ele começou a acelerar com seu toque. —
Qual é o problema?
Abri a boca, mas gaguejei de novo. Tentei forçar as palavras a saírem de mim, e meu corpo
começou a tremer.
— Quando eu tinha onze anos, meu pai me obrigou a ficar na chuva só porque olhei feio
para ele. Fiquei do lado de fora por mais de quatro horas, sentado em uma caixa de madeira,
enquanto ele me olhava da janela para se certificar de que eu não sairia dali. E, hum...
Nicholas chegou para deixar algumas coisas. Ele tinha só quinze anos, mas sabia que minha
mãe estava mal, então todo dia passava lá em casa para me ver. Trazer comida. Roupas que
não cabiam mais. Quando ele virou a esquina e me viu sentado lá, todo molhado, seu rosto
ficou vermelho. Eu disse a ele que estava tudo bem, mas ele me ignorou, me levou para
dentro do apartamento e começou a gritar com meu pai, chamando-o de parasita. O que é
uma loucura, porque você conhece o meu pai. As pessoas não o enfrentam; elas sequer o
encaram. Mas Nicholas o enfrentou. Estufou o peito, olhou o filho da puta bem nos olhos e
disse que, se ele tocasse em mim novamente ou fizesse qualquer merda comigo, como me
deixar sentado na chuva, iria matá-lo. Não era para valer, você sabe. Nicholas não faria mal a uma mosca. Mas ele me defendeu do meu maior medo. Ele lutou por mim quando eu não
podia mais lutar. E o meu pai bateu nele. — soltei um suspiro ao me lembrar disso. — Bateu
nele com força. Mas Nicholas continuou de pé. Por mim. Ele enfrentou meu pai por minha
causa. Ele sempre cuidou de mim, sabe? É o meu irmão mais velho. Ele é o meu...
Meneei a cabeça. Senti outro aperto no peito.
— Ele está... — pigarreei de novo, e minhas mãos afundaram ainda mais em meus bolsos.
Meu olhar recaiu para meus cadarços esfarrapados. — Ele está... ele está morrendo. — assim
que as palavras saíram da minha boca, elas se tornaram reais. Meu irmão, meu herói, meu
mundo, estava morrendo. — Nicholas está doente. Ele está morrendo, Demi. Está morrendo — meu corpo tremia incontrolavelmente, tentando lutar contra as lágrimas que se formavam em meus olhos. Eu queria me calar, mas não conseguia parar de repetir as palavras mais assustadoras do mundo. — Ele está morrendo. Está morrendo. Nicholas está morrendo.
— Ah, Joseph...
— Há quanto tempo você sabe? Há quanto tempo sabe que ele está doente? Por que você
não me ligou? Por que não... ele está morrendo...
Cara, eu estava mal. Estava a segundos de desmoronar. Foi então que ela estendeu a mão
para mim. Segurou a minha mão. Envolveu-me em seus braços e não falou nada. Apenas me
abraçou bem apertado enquanto eu permanecia ali, desnorteado, na varanda de sua casa,
naquela noite de verão.
Por um momento, éramos nós novamente. Por um momento, ela era o fogo que mantinha
meu coração frio aquecido durante a noite. Por um momento, ela era a minha salvadora. Meu porto seguro. Minha linda e brilhante Demi.
Mas, depois dos bons momentos, sempre vinham os ruins.
— O que está acontecendo? — perguntou uma voz grave atrás de Demi, vindo na direção
da porta. Ergui o olhar quando ele falou novamente: — Quem é?
O homem estava de camisa social com as mangas dobradas até os cotovelos, calça e sapatos que pareciam caros. Ele saiu para a varanda, e me afastei de Demi, confuso.
— Dan, esse é Joseph, meu... — ela hesitou, porque não sabia o que dizer. E com razão. A
verdade é que não éramos nada um do outro. Éramos lembranças fugazes de algo que tinha
ficado no passado. Nada mais, nada menos. — É um velho amigo.
Um velho amigo?
Eu te amei.
Um velho amigo?
Você mudou minha vida.
Um velho amigo?
Sinto sua falta pra caralho.
— Está tudo bem? — perguntou ele.
Dan se aproximou de Demi com olhos perscrutadores e pousou a mão no ombro dela de
modo protetor. Por uma fração de segundo, pensei em bater nele por tocá-la. Por tocar na
minha garota. Mas, depois, eu lembrei.
Ela não era minha.
Ela não era minha havia anos.
Demi afastou a mão dele.
Desviei o olhar.
— Vou indo.
Eu ri, mas nada era engraçado. Puxei a pulseira de elástico, desci os degraus e ouvi Demi
me chamar.
Eu a ignorei.
Ignorei a chama que ardia dentro da minha alma também.
Eu tinha poucas certezas no mundo, mas uma delas era de que ele sempre iria me ferrar.
***
estavam pesadas, mas eu não podia voltar para a casa de Nicholas. Não podia vê-lo. Precisava dormir, e pensei em ficar ali por um tempo, perto do céu, tirando um cochilo até que o sol me acordasse. Mas sempre que eu fechava os olhos, me lembrava de algumas horas antes, quando JV confirmou a pior notícia da minha vida.
Devia ser proibido que um coração sofresse tanto quando o meu sofria naquele momento.
Ele é meu irmão...
Eu não podia imaginar minha vida sem Nicholas.
Eu me odiava naquele momento. Eu me odiava porque parte de mim queria encontrar
refúgio nas drogas. Parte de mim queria pegar o celular e discar os números das pessoas que
eu não precisava ver de novo para pedir que me arrumassem alguma merda. Parte de mim
queria voltar ao fundo do poço, porque lá não havia sentimentos. No fundo do poço, a dor da
realidade nunca vinha à tona.
Dobrei as pernas e passei os braços em torno dos joelhos.
Não rezei. Eu não acreditava em Deus. Mas, por um breve instante, pensei em ser
hipócrita e começar a acreditar nele naquela noite.
Meus olhos se fecharam, e voltei o rosto para o céu.
Os passos eram silenciosos. Em seguida, a escada de metal começou a balançar um pouco
enquanto ela subia.
Ela trazia um saco plástico, os jeans justos e a camisa regata. Ainda havia preocupação em
seu olhar.
Demi se deteve por um instante. Não era necessário dizer nada: ela me pedia permissão
para se juntar a mim. Dei de ombros, e Demi soube que aquilo era um sim. Enquanto seus
passos se aproximavam, senti meus olhos arderem e meu coração bater forte. Ela se sentou ao meu lado, dobrou as pernas e colocou os braços em torno dos joelhos, como eu. Finalmente, nós nos olhamos.
Ela abriu o saco plástico e pegou um pacote de Oreo, um pote plástico de framboesas, uma
caixa de leite semi desnatado e dois copos descartáveis vermelhos.
Escutei o barulho do pacote de biscoito sendo aberto, trazendo de volta uma parte do
nosso passado.
Abri a caixa de leite e servi nos dois copos.
Ela separou as duas partes do biscoito, colocou uma framboesa dentro, uniu-as novamente
e me entregou.
Seus lábios se curvaram em um meio sorriso.
— Você está bem, Joseph Adam Jonas — disse ela.
— Estou bem, Demetria Devonne Lovato — retruquei.
Desviamos o olhar, comemos dois pacotes inteiros de biscoito com framboesa e ficamos
olhando para o céu iluminado.
Quando ela sentiu frio, dei meu moletom a ela.
Quando meu coração parecia prestes a se despedaçar, ela segurou minha mão.
amores, vou confessar estou tão desanimada com o blog mas os comentários de vocês me fazem melhor.
que dó do Joseph sofrendo por causa do Nicholas.
Demi está sempre do lado dele e logo mais eles irão se reaproximar cada vez mais.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.