03/10/2018

24. i'm not dying


Não sou nada igual a minha mãe! — sussurrei, seguindo Dallas e entrando no restaurante de Jacob.
Eu vi! — sussurrou ela, o dedo em riste batendo com força em meu peito. — Eu vi,
Joseph!
Você acha que viu alguma coisa, mas não viu nada. Eu não iria fazer nada!
Não minta para mim, seu idiota! Como você pôde?! Você prometeu! Prometeu!
Antes que eu pudesse responder, Nicholas se aproximou.
— Por que demoraram tanto?
Dallas estava com o semblante fechado, mas foi obrigada a disfarçar sua expressão ao ver a
preocupação nos olhos do noivo.
— Tive que fazer uma parada no caminho — justificou ela, beijando-o no rosto. — Mas
estamos aqui! E mal posso esperar para te ouvir tocar!
O olhar de Nicholas voltou-se para mim, e seus olhos continuaram preocupados. Dei de
ombros, incapaz de mentir para o meu irmão.
Ele fez um gesto em direção à porta da frente.
— Quer pegar um ar comigo, Joseph? Só vamos começar daqui a uns quinze minutos.
— Sim, com certeza.
Eu ainda me sentia irritado com a forma como Dallas falou comigo no carro alguns minutos
antes, meus punhos estavam cerrados dentro dos bolsos da calça jeans. Mas eu não podia
ficar bravo com ela por causa disso.  Dallas só conhecia a pessoa que foi embora da cidade há
alguns anos. Para ela, eu era o idiota viciado em drogas que arruinou a vida deles e partiu o coração de sua irmã ao não retornar os telefonemas. Para ela, eu era o babaca que quase
matou Nicholas e Demi na noite em que fiquei chapado e tentei pegar o volante do carro. Eu
era o responsável por Demi a ter perdido nosso filho. Para ela, eu era o fardo que tanto Demi
quanto Nichols não mereciam carregar.
Para ela, eu era a pessoa que eu tentava desesperadamente não ser mais.
Nicholas e eu saímos, e o ar frio do anoitecer nos atingiu em cheio. Ele se encostou na parede do bar, com o pé esquerdo apoiado nos tijolinhos e os olhos fechados, a cabeça inclinada para trás, voltada para o céu. Peguei um cigarro em um dos meus bolsos, mas me detive.
Merda.
Proibido fumar.
Também me recostei na parede, ao lado dele.
— Como você está? — perguntei, o isqueiro na mão, acendendo-o e apagando-o.
— Sinceramente?
— Sim.
Ele abriu os olhos, e percebi seu esforço para conter as lágrimas.
— Eu estava ensaiando com o violão, e minha mão começou a tremer. No outro dia,
aconteceu o mesmo. Acho que é coisa da minha cabeça, porque estou com medo da
quimioterapia. Li muita coisa na internet sobre os efeitos dela no cérebro. As pessoas podem
perder algumas funções cognitivas. Então talvez eu não consiga mais tocar. Ou escrever.
Quero dizer... — Nicholas mordeu o lábio e respirou fundo. Meu irmão durão, sempre forte,
estava desmoronando aos poucos. E eu não podia fazer nada. — Quero dizer... a música... é o
que sou. Essa é minha vida. Passei tanto tempo fugindo dela, e agora, se eu não puder mais
tocar...
— Vou tocar por você — falei, do fundo do coração.
Ele riu.
— Você não tem nenhum talento para música, Joseph.
— Posso aprender. Lembra quando você aprendeu a cozinhar depois que meu pai quebrou
minha mão?
— Quando fiz o peru do Dia de Ação de Graças naquele ano?
Eu ri.
— E você gritava “quem iria adivinhar que um peru precisa ser descongelado por mais de
quatro horas?” enquanto tentava cortá-lo.
— Mas, fala sério, quem iria adivinhar?
— Hum, qualquer um que tenha cérebro? Mas eu tenho que te dar o crédito: eu nunca vi
um peru completamente queimado por fora e totalmente cru por dentro. Para fazer isso, é
necessário ter talento. O que nossa mãe disse? — perguntei, lembrando-me de uma das
poucas boas recordações que tínhamos.
Falamos em uníssono:
— Que porra de peru é esse?! Se você queria me matar, poderia ter usado uma faca de
açougueiro. Teria sido menos doloroso do que comer esse peru horrível.
Nicholas e eu demos uma gargalhada. Não era engraçado, mas rimos tanto que a barriga
começou a doer. Cheguei a chorar de tanto rir.
Quando paramos, um silêncio frio tomou conta do ambiente. Pelo menos eu não estava
sozinho ali. Meu irmão estava comigo.
— Como ela estava hoje? — perguntou Nicholas.
— Não é da sua conta. É sério. Estou de volta, então vou cuidar dela. Você tem muito com
que se preocupar. É a minha vez de ajudá-la.
Ele inclinou a cabeça em minha direção.
— Sim, mas e você? Como você está?
Suspirei.
Não podia dizer a ele o quão perto eu estive de voltar às drogas.
Não podia dizer a ele o quanto eu havia ficado de coração partido ao ver nossa mãe
daquele jeito.
Não podia decepcioná-lo quando ele mais precisava de mim.
Eu tinha que ser forte por meu irmão, porque ele passou a vida toda tentando me salvar.
Eu não era um herói, não podia salvá-lo, mas eu era seu irmão. E eu realmente esperava que
isso fosse o suficiente.
— Estou bem, Nicholas — falei. Ele não acreditou em mim. — Estou sim, juro.
Ele sabia que era mentira, mas não me contestou.
— Estou muito preocupado com nossa mãe. E não sei como ajudá-la... E se eu morrer... —
Nicholas se deteve, como se os medos que guardava dentro de si tivessem acidentalmente
escapado por seus lábios.
Eu me afastei da parede e fique na frente dele.
— Não. Não. Não diga uma merda dessas, tá legal? Olha, você está aqui. Vai fazer a
quimioterapia. Tudo vai dar certo. Ok?
Eu podia ver dúvida em seu olhar.
Cutuquei o ombro dele.
— Você não está morrendo, Nicholas. Entendeu?
Ele estremeceu e assentiu.
— Certo.
— Não, diga isso com convicção. Você não está morrendo! — exclamei, aumentando o tom
de voz.
— Eu não estou morrendo.
— Mais uma vez!
— Eu não estou morrendo!
— Mais uma vez!
Eu não estou morrendo, porra! — gritou ele, sorrindo, os braços erguidos.
Eu o puxei para mim e dei um abraço apertado. Escondi as lágrimas que começaram a cair
e balancei a cabeça em um gesto negativo, sussurrando.
— Você não vai morrer.
Voltamos para dentro do restaurante, e eu assisti ao show. Suas mãos tremiam mais do
que eu queria admitir, mas sua performance foi a melhor que já presenciei. Dallas o observava como se estivesse olhando dentro da alma dele. Ela o amava. E isso era motivo suficiente para que eu a amasse também. Mesmo que minha futura cunhada me odiasse, parte de mim a amava, porque ela amava Nicholas.
Depois do show, fomos para o bar. Ficamos ali bebendo, rindo com Jacob e tentando
esquecer os dias difíceis que nos aguardavam.
— Tenho que voltar para casa para terminar um trabalho — disse Dallas.
— Vou com você — decidiu Nicholas. Ele enfiou a mão no bolso e jogou para mim as chaves
do carro. — Você pode levar meu carro, Joseph.
Essas palavras podiam não ter a menor importância para qualquer outra pessoa, mas elas
demonstravam que ele confiava em mim.
Nicholas sempre confiava em mim, mesmo quando eu não era digno de confiança.
— Eu te encontro em frente ao seu carro, Dallas. Só vou pegar o violão.
Ela assentiu e saiu. Quando ela se afastou, Nicholas se dirigiu a Jacob com um olhar sincero.
— Cara, só queria que você soubesse... Se algo acontecer comigo... — ele se voltou para
mim e sorriu. — Bom, não vai acontecer nada, porque não estou morrendo. Mas, se algo
acontecer, eu ficaria feliz se você cuidasse da Dallas, sabe? Eu ficaria bem com isso.
Jacob se inclinou para a frente e apoiou os cotovelos na bancada.
— E esse é o momento em que eu mando você se ferrar só por pensar nisso.
Nicholas  riu.
— Não, é sério. Você vai cuidar dela?
— Não estamos falando sobre isso.
— É, Nicholas, pare de ser dramático — concordei.
— Cara, estou com câncer.
— Não me venha com essa de câncer. — Jacob riu, atirando um pano de prato nele. — Eu
não dou a mínima — continuou em tom de brincadeira.
— Mas promete que vai cuidar dela? — pediu Nicholas mais uma vez.
Jacob suspirou.
— Se isso for fazer você dormir melhor à noite, eu prometo que vou cuidar da Dallas.
Mesmo que NADA vá acontecer contigo.
Nicholas pareceu mais leve, seus ombros relaxaram, e ele saiu para se juntar à noiva.
Quando peguei o casaco para ir embora, chamei Jacob. Inclinando-me sobre ele, segurei-o
pela gola da camisa branca e o encarei.
— Se eu vir você olhando para a Dallas de um jeito diferente, juro por Deus que vou
arrancar suas bolas e enfiá-las na sua goela.
Ele bufou e riu até perceber o olhar severo em meu rosto.
— Cara, Dallas é como uma irmã para mim. Isso é nojento. Agora, Demi, por outro lado... — Ele sorriu e ergueu as sobrancelhas.
— Você é terrível — retruquei com um tom de voz seco.
Ele riu novamente.
— Estou brincando! Vamos, foi engraçado. Confie em mim, as irmãs Lovatos estão fora do
meu alcance.
— Ótimo. Só queria ter certeza de que estamos entendidos.
— Estamos entendidos. Além disso, Nicholas não vai morrer.
Assenti.
Porque Nicholas não estava morrendo.

amores, desculpem pela a demora mas minha vida anda bem corrida ultimamente.
Joseph e Dallas brigam, mas no fundo gostam um do outro.
amo essa amizade entre o Joseph, Nicholas e Jacob <3
muitas coisas ainda estão por vim na história.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

4 comentários:

  1. Espero que Nick não morra e que Joe deixe de ser chato!

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    Respostas
    1. Muitas coisas ainda estão por vim e muitas surpresas.
      Joseph só está passando por uma fase difícil, depois isso passa hahaha.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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  2. Respostas
    1. Muitas coisas ainda estão por vim e será tudo uma surpresa.
      Vou postar mais hoje.
      Obrigado pelo o carinho.
      Beijos, Jessie.

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