29/12/2017

begin again: capítulo 31


As long as it takes 

Passo a maior parte do fim de semana trabalhando. Em uma paródia estranha do que costumava ser o nosso casamento, Simon e eu nos sentamos à mesa da sala de jantar, olhando para nossos respectivos Notebook, parando de vez em quando para fazer uma xícara de chá um para o outro. Ele me fala sobre seu caso atual, uma disputa de uma década sobre os limites de uma propriedade e eu lhe ofereço histórias sobre encomendas de comida que tive de negociar. É tranquilo e leve, nada como a tensão dos últimos meses.
Em nenhum momento essa trégua me faz lamentar minha decisão. Se posso dizer alguma coisa, essa situação reforça que era o caminho certo. Renegociamos nossas posições, encontramos novas que nos deixam confortáveis na companhia um do outro. Se fôssemos adolescentes, eu diria que entramos na zona de amizade.
Na segunda-feira, luto contra a hora do rush matinal para me encontrar com Joseph. Ele me surpreendeu ao sugerir que nos encontrássemos às 9h, fazendo uma oferta de café e bolos. Concordei prontamente, embora eu sempre achasse que ele fosse do tipo que dorme até tarde.
Seu ateliê fica em um armazém antigo, convertido em uma série de salas pequenas, mas utilizáveis, a maioria das quais povoadas por um pessoal artista. Há ceramistas e tecelões de cestos, pintores e escultores. Quando vejo a luz entrar pelas janelas altas vitorianas, percebo exatamente por que eles todos ficam agrupados ali, o brilho do sol é como uma demão de cal sobre os tijolos marrons do armazém. Ilumina, faz tudo parecer muito claro. Lindo.
Ando pela varanda do primeiro andar e chego a um pequeno sótão no canto do prédio que abriga Joseph Jonas, o Artista. Embora eu esteja carregando uma bolsa enorme cheia de anotações e catálogos, a única coisa realmente pesada é essa sensação de desespero. A necessidade de vê-lo novamente puxa minha alma. Quanto mais me aproximo, mais meu coração começa a acelerar. Minha respiração fica rasa quando a porta dele entra no meu campo de visão. Tenho de me lembrar de que somos amigos, que esta é uma reunião de negócios. São 9h da manhã de uma segunda-feira, pelo amor de Deus, mas não consigo tirar esse sorriso bobo do rosto.
É o cheiro de café que me atinge primeiro. O aroma de grãos torrados escapa das frestas ao redor da porta metálica, sobrepujando o cheiro terroso de tinta e o odor marcante de terebintina, e me chama até que eu esteja batendo na porta dele.
– Oi. – ele parece sem fôlego quando abre, mas é seu sorriso que rouba o meu. A luz inunda pela janela atrás dele, projetando um brilho vago atrás de seu corpo.
– Oi para você também. Estou sentindo cheiro de café?
Ele balança a cabeça.
– Não, isso é o aroma amargo dos meus sonhos perdidos.
Ele pega minha bolsa sem perguntar e eu o sigo até o minúsculo enclave, olhando ao redor para me familiarizar. Uma das paredes é repleta de prateleiras cheias de tintas e pincéis e tudo o mais que ele possa precisar. A oposta tem desenhos pendurados em vários estágios de confecção: de leve rascunho a traços mais grossos a lápis. A terceira parede tem uma série de telas apoiadas umas sobre as outras, e são elas que chamam minha atenção. Lembro-me de como fiquei impressionada com as obras dele quando as vi pela primeira vez na galeria de Elise. As que estão aqui são tão incríveis quanto aquelas.
Quando olho para Joseph, ele está de costas para mim, mexendo com a cafeteira.
– Como você prefere? – pergunta, sem olhar em volta.
– O ateliê?
– Não, Demi, como você prefere o café? – ele se vira e olha para mim, com um divertimento que ilumina seus olhos.
– Bastante leite e dois cubos de açúcar, por favor.
Ele faz como pedi, resmungando algo sobre sacrilégio.
– O quê?
– Café não é sorvete. É para ser forte e amargo. – ele me dá uma caneca, e seus dedos tocam os meus por um breve instante. – Aposto que você adora um bom café com leite.
– E eu aposto que você só bebe café expresso. – tomo um gole, é quente e delicioso. – Você é um esnobe do café.
Quando ele ri, os cantos de seus olhos ficam vincados.
– Eu levo café muito a sério.
Eu percebo. Ele tem um canto no ateliê dedicado a isso. Um moedor, um pote com grãos, uma cafeteira e as canecas estão todos alinhados como um santuário à cafeína. Há algo muito característico de Joseph ali. Gosto dessas pequenas nuances em sua personalidade, os pequenos insights sobre que tipo de homem ele é. Um bom homem, eu acho. Gentil e forte.
– Em que você está trabalhando? – vou até a parede onde ele pendurou os esboços, estudando as linhas de seu lápis, querendo percorrê-las com os dedos.
Quando ele para atrás de mim, seu braço roça meu ombro, e ouço sua respiração suave enquanto ele observa os desenhos comigo.
– Um banco em Dublin encomendou dez quadros para o novo escritório. Estou trabalhando em algumas propostas para eles.
– Que legal. – viro-me e olho para ele, mas Joseph apenas dá de ombros.
– O garoto local se deu bem. Conta uma boa história, explica por que eles estão gastando tanto dinheiro em coisas inúteis.
– Não é qualquer garoto local – aponto. – Eles escolheram você. Isso tem de significar alguma coisa.
Ele é modesto demais para responder. Termino o café e lavo a caneca na pia.
Em seguida, sorrio para ele.
– Me mostra suas pinturas? – peço.
Ele começa a rir.
– O quê? Sem conversa fiada primeiro? Nenhuma discussão sobre técnicas ou seus artistas favoritos? Apenas um direto “põe pra fora”?
Inclino a cabeça de lado.
– Você quer preliminares artísticas? – um pequeno alarme começa a ecoar no meu cérebro. Eu o ignoro e em vez disso me concentro na forma como os lábios dele se curvam.
– Um artista gosta de ser cortejado. Palavras bonitas, pequenos elogios...
Quero dar um passo adiante e envolver seu pescoço com meus dedos, puxar sua cabeça para baixo até que os lábios pressionem os meus. Quero que ele tire tudo de cima da mesa velha com um movimento simples de braço e me deite sobre ela até ambos ficarmos ofegantes.
É por isso que recuo um passo.
– Nesse caso, por favor, você poderia me mostrar seus quadros, porque você é um artista incrivelmente talentoso e quero muito vê-los? – sarcasmo. Minha espada e meu escudo.
Ele percebe a mudança de tom e responde à altura.
– Eu só estava brincando. Sou como um homem que leva a foto dos filhos por aí. Basta tocar no assunto e começo a esfregar as fotos na sua cara, esperando que você me diga como são lindas as pinturas que faço. – ele indica a parede oposta com a cabeça. – Vou mostrar no que ando trabalhando.
Ele me fala sobre a exposição que está planejando para dali a alguns meses, vagamente intitulada “Corpos de arte”. Fico olhando para as pinturas que ele fez até agora, enquanto ele explica o conceito. Fico maravilhada com a forma como ele consegue escolher o tom certo de cor, como usa a textura certa para dar vida às suas pinturas. Ele me conta sobre o modelo que encontrou com queimaduras de terceiro grau, e o portador de psoríase cuja pele está praticamente saindo. Ele fala de densidade muscular e estrutura óssea, e me apego a cada palavra sua, como se fosse algum tipo de tiete de arte.
– Eu lhe mostrei isto? É o projeto do encarte de CD do Nicholas. – ele pega uma tela pequena, quadrada e segura-a para eu ver. O fundo branco está coberto com pinceladas coloridas, cada uma se curva sobre a seguinte. Os tons se misturam para formar uma silhueta no centro. – É um pássaro – diz ele, sorrindo ironicamente. – O álbum se chama Fear of Flying, ou seja, medo de voar.
– Igual ao nome da banda? É bonito. – na verdade, é lindo, mas sinto que já bajulei o suficiente. Como sempre, a maneira como ele sobrepõe as camadas de cores me faz querer tocá-las. Como se, ao senti-las, eu pudesse me conectar com Joseph.
Gostaria de saber se o desejo de tocá-lo nunca vai desaparecer.
– Eles parecem ter gostado. Vão usar camisetas da turnê. – seu olhar cruza com o meu. – Eu vou ser famoso.
Desta vez nós dois rimos.
Uma tela velha no canto, uma que não olhamos, chama minha atenção.
– O que é essa?
Ele guarda de novo a pintura que estava segurando e rapidamente responde:
– Nada.
Claro, sua resposta vaga me faz querer ver o quadro com mais detalhe. Dou um passo à frente e curvo os dedos em torno da moldura de madeira, tirando-a da parede. A primeira coisa que vejo é pele cor de creme, em seguida, um pescoço delgado, curvando-se em ombros delicados.
Um nu. Não sei por que me afeta. Talvez porque seja muito realista, e sei que ele precisou de uma modelo. Uma pontada de ciúme crava as garras no meu estômago assim que percebo que a imagem mostra praticamente tudo, exceto o rosto.
Joseph quase corre para arrancá-la das minhas mãos. Suas bochechas ficaram tão vermelhas quanto as minhas.
– Eu posso explicar...
– Você não me deve nada.
Ele continua como se eu não tivesse dito uma palavra.
– Eu terminei naquele verão. Foi provavelmente a única coisa que me manteve são depois que Digby morreu. Fiz esboço após esboço de memória, e de alguma forma finalmente a imagem surgiu. – ele ergue os olhos e parece envergonhado. – Eu nunca tinha mostrado a ninguém.
Levo um momento para registrar o que suas frases confusas querem dizer.
Pego a tela suavemente de suas mãos e a observo. Sigo com os olhos a curva dos meus seios, a maciez das minhas coxas. Quero chorar, porque é lindo. A garota que eu era, antes de tudo dar errado, está capturada para sempre em óleo e tela.
Pele sem mácula, sonhos intactos estão todos ali para serem vistos.
– Você guardou. – minha voz fica embargada, mas tento não chorar.
– Foi a única coisa que guardei. A única coisa boa daquele tempo. Aquelas últimas semanas passaram em branco. Tomamos droga demais e fizemos coisas loucas demais. Mas em algum lugar havia uma pequena semente de algo incrível.
Ele parece tão desolado que pego sua mão. Imediatamente, seus dedos envolvem os meus.
– É verdade – concordo.
Ficamos em silêncio por um instante. Estou consciente da maneira como ele está me segurando. Da maneira como ele está olhando para mim. A batida do meu coração é quase ensurdecedora.
– E agora? Ainda existe alguma coisa aqui? – ele pergunta.
Minha voz é um sussurro.
– Acho que sim.
Com cuidado, ele pega a tela e a coloca de volta no lugar. Em seguida, passa os dedos pelo meu rosto. Fico olhando para seus lábios, absorvendo a cor, a forma como eles tremem. Não consigo nem mesmo respirar, com tanto medo de que eu vá fazer alguma coisa, ou dizer alguma coisa, que estrague o momento. Em vez disso, fecho os olhos, sentindo o cheiro dele quando sua testa repousa na minha.
– Eu vou esperar o tempo que for preciso – ele me diz. – Vou estar aqui, você só tem que dizer as palavras.
Joseph tem cheiro de café e hortelã. Os dois perfumes se misturam enquanto ele respira lentamente, dentro e fora. Abro os olhos e o encontro olhando diretamente para mim. Tenho que engolir em seco antes de encontrar forças para falar.
– Você vai esperar por mim? – pergunto. – Porque não estou pronta, não agora. Com a separação e... – minha voz some.
Ele segura meu rosto nas mãos ásperas e beija minha testa suavemente. Seus lábios continuam ali quando ele começa a falar:
– O tempo que for preciso.

eu amei este capítulo, eu amo esses dois <3
Joseph sempre guardou a pintura dela.
ele vai esperar por ela, que lindo.
agora falta só a Demi saber o que ela quer.
espero que vocês tenham gostado do capítulo.
me digam o que acharam nos comentários.
respostas do capítulo anterior aqui.

27/12/2017

begin again: capítulo 30


Nove anos antes

O ar está denso com entusiasmo e hormônios, que se elevam dos corpos de trezentos estudantes dançando. Bêbados, chapados, em busca de diversão. Estamos quase desesperados em nossa necessidade de comemorar. De nos sentirmos jovens e livres. Queremos roubar a noite e torná-la nossa, porque, ao longo dos próximos dias, vamos arrumar nossas coisas e voltar para casa.
Então dançamos e bebemos e engolimos e fazemos tudo o que sabemos que não deveríamos.
Um palco improvisado foi montado no terreno. A música que pulsa dos enormes alto-falantes pretos tem uma vida própria. Serpenteando em torno de nossos corpos e encharcando nossa pele. Pulsando em nossas veias até que nos tornemos uma massa orgânica, suada. Pulando na grama macia, nosso cabelo balança, gritamos as palavras até nossa garganta protestar e nossos pulmões ameaçarem explodir.
Os braços de Joseph estão firmes em volta da minha cintura, as palmas das mãos apoiadas na minha barriga. Estão suadas e quentes, mas eu não as afasto. Em vez disso, eu me inclino no corpo dele e o deixo me puxar com a multidão até sermos parte de uma enorme onda de corpos, indo e voltando com a música. Vamos girando, e é tão bom que faz minha pele formigar. Nosso jeito de dançar e mexer é sensual; uma orgia sem o sexo. Gotas de suor encharcam meu cabelo antes de se derramarem pelo meu rosto. Eu as enxugo, ocupada demais em dançar para sequer me importar com minha aparência.
À minha esquerda, noto que Digby parou de pular com a música. Seu rosto está quase inchado, mas seus lábios estão pálidos e azulados. Embora ele não esteja mais dançando, seu corpo ainda está se mexendo, sendo empurrado para lá e para cá pela multidão como um objeto à deriva na maré.
– Você está bem? – tenho de gritar duas vezes. Chego mais perto dele e toco seu braço. Está quente como fogo.
– Estou, só preciso fazer uma pausa. – ele ainda está balançando. – Vou pegar alguma coisa para beber.
Abro a boca para me oferecer para ir com ele, mas a música muda e os braços de Joseph apertam minha cintura. Viro-me e olho para ele. Joseph está sorrindo para mim, e por um momento seu sorriso apaga os pensamentos do meu cérebro. Só consigo focar na boca. Pressiono os lábios contra os dele e fecho os olhos, sentindo o fogo se acender dentro da minha barriga.
Quando os abro novamente, Digby não está mais lá. Digo a mim mesma que ele vai ficar bem, que vai pegar uma bebida, vai voltar e todos nós vamos continuar dançando, celebrando as horas finais da nossa liberdade hedonista. Não faz sentido procurar por ele, Digby poderia estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa, e ele vai voltar em poucos minutos.
Só que ele não volta.

um pouco mais sobre o passado dos dois.
Digby morreu mas nos próximos capítulos terá mais sobre este assunto.
desculpem, o capítulo ficou pequeno mas recompensarei.
vou postar capítulo sexta e no sábado para vocês pois não postarei nem no domingo e segunda.
me digam o que acharam nos comentários.
respostas do capítulo anterior aqui.

23/12/2017

begin again: capítulo 29


Friends

Joseph volta para a clínica na semana seguinte. Estou sentada na mesinha no canto da classe, fazendo planos para os lugares dos convidados no evento beneficente. Entre o bufê, leilões e entretenimento, não está me sobrando muito tempo para dormir. Talvez por isso eu não o note de imediato. Estou muito ocupada em resolver a situação dos O’Donahue e mudando-os para uma mesa vazia mais perto do palco.
– Oi. – sua voz é baixa, mas há um ar de superioridade em seu andar quando ele entra na classe. Não parece ser a caminhada da vergonha.
– Você deveria ter ligado – digo. – Eu teria preparado um novilho gordo.
Ele olha para baixo e sorri mais.
– Sempre achei que você fosse uma novilha magra.
Ele me pega de surpresa, não pela súbita reaparição, mas também pelo tom leve de brincadeira. Sua resposta súbita é confusa, mas há algo sobre ela que acende uma pequena chama dentro de mim. Balanço a cabeça, olho para baixo para que ele não possa ver meu sorriso e, lentamente, escrevo o nome dos O’Donahue em sua nova mesa.
Aja normalmente, digo a mim mesma.
– Então, o que você estava planejando fazer hoje? – ainda estou olhando para a mesa, mas meu sorriso não sumiu. Quando finalmente olho para ele, Joseph está sentado sobre a mesa, olhando o papel.
– O que é isso? – diz, ignorando a pergunta.
– Planos para o evento beneficente da clínica. Estou tentando descobrir o melhor plano de lugares para os convidados. Os pobres Smithson já foram mudados de lugar três vezes.
Ele ri e puxa o papel em sua direção.
– Onde você me colocou?
– Você vai?
– Vou, a Elise me convidou. – ele percebe minha sobrancelha levantada e rapidamente acrescenta: – Alguns de nós, da galeria, vamos. Ela também me pediu que doasse uma pintura para o leilão. Eu ia falar com você sobre isso.
– Sobre o quê? – ainda estou chocada simplesmente por ele estar aqui, que dirá falar comigo.
– Sobre o tipo de pintura que eu deveria doar. Se há alguma coisa em particular que você está procurando.
– Eu não sei. Eu...
– Ei, eu tenho uma ideia, por que você não vem e dá uma olhada no ateliê? Posso lhe mostrar uns trabalhos que tenho feito e alguns dos meus desenhos antigos. Você pode me ajudar a escolher qual deles doar. – ele me olha com expectativa.
– O quê? – alguns dias atrás ele estava me dizendo que não poderia suportar me ver de novo. Agora, aqui está ele, sentado na minha mesa, um sorriso sexy brincando em seus lábios. Sei que deveria preferir o Joseph convencido ao Joseph devastado que vislumbrei antes, e prefiro. Porém, ainda não consigo descobrir o que causou tal transformação. – Não sei se tenho tempo.
Ele se inclina para frente até seu rosto ficar a centímetros do meu, tão perto que posso sentir sua respiração aquecendo meu rosto.
– Arranje tempo – ele sussurra, e é preciso todas as minhas forças para não estremecer. Ele não perdeu nada de sua potência nas poucas semanas em que fiquei sem vê-lo; se posso dizer alguma coisa, penso que ele está mais atraente do que nunca.
Penso sobre todas as coisas que eu ainda tenho de fazer: as visitas ao hotel onde vai acontecer o evento, reuniões com os músicos e organização da impressão de material. Mal terei um minuto livre para mim mesma nas próximas duas semanas.
Droga, vou arrumar tempo. Claro que vou.
– Está bem.
Só posso descrever seu sorriso resultante como “convencido”. Tento ignorar o efeito que tem sobre mim. Tento esquecer a última vez em que estivemos juntos em um ateliê, quando ele me colocou de costas em uma mesa e envolveu minhas pernas em seus quadris. Reprimir essas memórias não é tão fácil assim. Estou quase aliviada quando ele desce da mesa e caminha até a porta para pegar uma caixa de materiais. Eu me pego acompanhando-o com olhos arregalados, observando a forma como a parte de trás de sua calça jeans fica
justa quando ele se abaixa, querendo que sua camiseta suba o bastante para eu ver sua pele.
– Pensei que a gente poderia estudar algumas obras do Klimt – ele diz em voz alta, mas quase absorvida pelo papelão. É o suficiente para eu me recompor e me lembrar de onde estamos.
– Eles vão adorar as cores – digo. – Mas não sei se os garotos vão gostar dos penteados.
Vinte minutos mais tarde, as crianças entram de uma vez. No início, a atenção delas é tomada pela súbita reaparição de Joseph. As reações vão desde prazer até silêncio, dependendo da idade e do que eles entendem como uma percepção descolada. Cameron faz um aceno de cabeça, o que é praticamente o Oscar de reconhecimento dos garotos descolados, e me lembro de algo que tenho vontade de perguntar a ele desde a semana passada.
– Cameron – digo, quando chego à sua mesa. – Posso lhe pedir um favor? Com um gesto dramático, ele levanta uma sobrancelha e pisca com o outro olho.
– É só pedir.
– Não esse tipo de favor, Cameron. – Suspiro. – Você mora no mesmo condomínio da Charlotte, não mora?
Ele imediatamente parece suspeitar.
– Moro.
– Você acha que poderia ficar de olho nela? Me dizer se acontecer alguma coisa, ou se você vir algo estranho?
– Quer que eu fique espionando?
– Não – respondo, apesar de ser exatamente isso. – Só quero que você cuide dela e me diga se vir algum homem entrando no apartamento da mãe dela.
Ele aperta os olhos.
– Por que eu deveria fazer isso?
– Porque você está me devendo uma? – sugiro. – Porque estou preocupada com ela e quero saber se ela está bem?
Ele esfrega o queixo com o polegar e o indicador, como se estivesse pensando no meu pedido.
– O que eu ganho em troca?
– Ah, não sei, talvez a consciência de que você está fazendo algo de bom para alguém? Ou, se preferir, você pode pensar nisso como retribuição por eu ter ficado com você por horas numa delegacia de Nova York, quando eu poderia estar num jantar.
– Oh, vai jogar na cara mesmo? Lamento ter arruinado sua noite, Vossa Majestade.
– Você está perdoado. Ou vai estar se fizer isso para mim.
Ele dá um suspiro exagerado.
– Tá bom, tá bom. Vou ser seu espião, já que você insiste. Posso chamar você de Srta. Money penny?
Eu tento não rir.
– Não.
Um beicinho simulado.
– Dirigir um Aston Martin?
– Nem pense nisso. – começo a ir embora.
– Posso comer um monte de mulheres e participar de perseguições de lancha? – ele diz em voz alta, atrás de mim. Desta vez, escolho ignorá-lo, mas é quase impossível esconder o sorriso. Cameron pode ser um moleque insolente, mas não consigo deixar de gostar dele.
Quando a aula termina, as crianças saem umas por cima das outras, ruidosamente, gritando e se empurrando em um esforço de serem as primeiras a passar pela porta. Cameron me dá uma piscadela exagerada, e Charlotte corre e joga os braços em volta da minha cintura.
– Você ficou sabendo? – pergunta ela, sem fôlego. – Vou ficar na casa da minha mãe neste fim de semana. Ela disse que vou morar com ela logo, logo. – Charlotte olha para mim, rosto iluminado, olhos brilhantes. Sinto uma pontinha de vergonha pela forma como persuadi Cameron a ficar de olho nelas.
– Fiquei sabendo, você está animada? – tento ecoar seu entusiasmo, mas soa falso para meus ouvidos cansados. Essa sensação incômoda no meu interior simplesmente não quer desaparecer.
– Mal posso esperar. Minha mãe diz que podemos decorar meu quarto e comprar uma colcha nova.
Está vendo?, digo a mim mesma. Nenhuma menção a Darren. Não sou insensível a ponto de abafar seu entusiasmo com minhas preocupações.
– Uau, e de que tipo você vai comprar?
Ela dá de ombros.
– Não sei, mas com certeza alguma coisa rosa. Eu amo rosa.
Sua afirmação do óbvio me faz sorrir. Estou prestes a responder quando sua assistente social coloca a cabeça na porta e olha para Charlotte.
– Você está pronta? Tenho um táxi esperando lá fora.
– Desculpe. Fui eu que a segurei aqui. – mostro um sorriso e pego um pedaço de papel da minha mesa, rabisco apressadamente o meu número de celular e entrego à Charlotte. – Aqui, guarde este número com você para o caso de precisar de alguma coisa – digo, tentando manter a voz leve. – Você pode me ligar a qualquer hora e depois me contar qual colcha você escolheu.
Ela enfia o papel no bolso e sai correndo. Faço uma aposta comigo mesma de que vai acabar na máquina de lavar ao anoitecer, com a tinta escorrendo e se misturando na água enquanto gira e gira. Eu daria um celular a ela se pudesse, um com meu número na discagem rápida, mas seria um pouco estranho. Muito estranho. De qualquer maneira, eu não teria como fazer isso.
– Você está bem? – Joseph para ao meu lado, com os braços cheios de latas de tinta. – Parece a quilômetros de distância.
Apenas uns quinze quilômetros, eu acho. Em um condomínio de concreto caindo aos pedaços, onde pessoas podem ser espancadas e quase morrer e seus vizinhos nem mesmo notarem. Onde as crianças exibem contusões como braçadeiras e ninguém nem pisca.
Respiro fundo.
– Estou bem. Só tenho coisas demais para fazer nas próximas semanas. Não sei como vou conseguir encaixar tudo.
– Posso ajudar com alguma coisa?
– Você é bom em planejamento de lugares?
– Uma merda? – ele oferece. Tento não rir.
– Em lidar com gerentes de hotel, gente com frescura para comer, músicos, gráficas? – começo a desfiar minha lista de desgraças. – Criar catálogos de leilões...
– Bom, com isso eu posso ajudar. Já trabalhei em exposições suficientes para saber catalogar.
Olho para ele diretamente nos olhos.
– Quem é você e o que você fez com Joseph Jonas? Sabe aquele idiota malvado, mal-humorado, que não queria responder minhas mensagens?
– Estou tentando ser seu amigo – ele admite. – Eu disse que seria e fracassei absurdamente, então estou tentando uma segunda vez, amiga.
A forma como ele diz dispara pequenos impulsos de eletricidade que percorrem minha espinha de cima a baixo. Ficamos ali por um instante, olhando um para o outro. Me sinto idiota, porque não consigo pensar em nada para dizer em resposta. Assim, em vez disso, fico ali parecendo tonta e tentando não rir.
– Posso acompanhá-la até lá fora? – pergunta ele. Por um momento, penso em cavalheiros vitorianos cortejando senhoras acompanhadas por damas de companhia.
– Não... eu... hum... tenho que terminar aqui. Vou demorar pelo menos umas duas horas.
– Sem problemas. Vou terminar de limpar e depois vou deixar você em paz.
Você está livre na segunda-feira para ir ao ateliê? Podemos escolher uma pintura e conversar sobre catálogos.
Sorrio antes de responder.
– Você acreditaria se eu dissesse que essa é a melhor oferta que recebi em semanas?

***

Depois de uma hora olhando para nomes no mapa de assentos, percebo que agora estou apenas olhando para o nada. Meus olhos estão ardendo e estou morrendo de fome, para não mencionar o fato de precisar de uma injeção de cafeína. Então sigo para a pequena cozinha no primeiro andar, na esperança de que alguém não tenha comido todos os biscoitos Bourbon antes de eu ter a chance de pegar alguns.
Não passo muito tempo na clínica fora dos horários estipulados. É diferente quando não há pacientes no edifício. Sem vida e estéril. Se minha vida fosse um filme de terror, esta seria a parte em que os zumbis invadem. 
Quase rio quando encontro Selena na cozinha. Embora ela não seja uma morta- viva, está com a aparência péssima. Há sombras escuras debaixo de seus olhos, e seus lábios estão secos e rachados. Parece que ela não tomou líquido nenhum durante semanas.
– Ei, você está bem? Parece horrível. – claro, eu lamento imediatamente a diarreia verbal.
Seu rosto se enruga.
– Estou grávida.
Por um momento, minha respiração enrosca na garganta.
– Parabéns! Ai, meu Deus, não posso acreditar. – faço menção de abraçá-la, mas ela se inclina sobre a pia e vomita. Afasto seu cabelo do rosto enquanto espasmos reviram seu estômago. Mesmo que não saia nada, sinto náuseas de solidariedade.
– Pobrezinha – murmuro. – Há quanto tempo isso vem acontecendo?
– Uma semana – diz ela, entre espasmos. – É uma coisa horrível. Ninguém fala o quanto faz a gente passar mal.
– Mas você vai ter um bebê! Isso é maravilhoso. – acaricio seu cabelo enquanto ela limpa a boca. Não há nem mesmo um traço de ciúme em mim a respeito de seu estado de gravidez. Apenas entusiasmo, ansiedade e um monte de compaixão. Ela parece mal de verdade.
– Eu sei. Eu deveria estar animada e correndo por aí, mas só me sinto péssima o tempo todo. Quem chamou isso de enjoo matinal era um idiota, ou um mentiroso.
– Você pode tomar alguma coisa para isso?
Ela nega com a cabeça.
– O médico diz que é normal. Na verdade, ele chegou ao ponto de dizer que é um bom sinal, porque estudos mostram que mulheres que sentem enjoo são menos propensas a sofrer aborto.
Tento não rir da expressão no rosto dela. Uma mistura de horror e raiva, com uma pitada de ansiedade.
– Se os homens menstruassem e tivessem bebês, imagine como o mundo seria subpovoado.
– Você não está errada. – ela toma um gole de água, girando o pescoço como se para relaxar a tensão. – De qualquer forma, o que você está fazendo aqui tão tarde?
Enrugo o nariz.
– Coisas do evento.
– Ai, coitada de você. Faz a gente analisar o enjoo matinal de outro modo. – ela quase sorri. – Ainda assim, pelo menos você sabe que vai acabar em algumas semanas.
– Acabo de receber uma oferta de ajuda.
– De quem?
– Joseph. Ele parecia realmente... estranho, na verdade. Nada parecido com o cara que gritou comigo no telefone na semana passada. Ele foi atrevido, quase convencido. – enrugo todo o rosto, tentando a descrição correta. – Parecia que ele estava flertando comigo.
Selenase distrai com a claraboia, olhando-a como se fosse algo incrível.
– Selena?
Ela olha para mim. Sua expressão é quase culpada.
– Nicholas pode ter contado a ele sobre você e Simon se separarem – ela confessa.
Oh.
Acho que essa poderia ser a explicação. O tom descontraído. A maneira como ele sorriu para mim e me chamou de amiga.
– Espero que ele não tenha tido a ideia errada – digo. Selena sabe que não estou procurando nada, nem ninguém, não agora, quando ainda estou sob o teto de Simon. Estamos tentando manter as coisas amigáveis. Partir para outra tão depressa seria errado.
Ela balança a cabeça, e noto um pouco de cor voltando ao seu rosto.
– Ele não iria tentar nada. Ele sabe que você está vulnerável, e não acho que Joseph seja um idiota. Ele se sentiu muito culpado sobre beijá-la e depois lhe dar um gelo.
– Não quero que ele se sinta culpado. Eu só... – o que eu quero? Não sei mais.
Tudo o que sei é que o retorno à nossa amizade fácil de hoje foi como encontrar um farol em meio a uma tempestade. Me ancora e me levanta ao mesmo tempo. Vê-lo me deixa mais feliz do que estive em semanas. Se pudermos ser amigos, estou plenamente disposta. – Não quero dar falsas esperanças a ele, eu acho.
– Você não está fazendo isso. Não vai fazer. – ela parece muito certa... adoro a crença que ela tem em mim. Eu só queria ter a mesma certeza.

como dito antes voltei com mais um capítulo para vocês.
Joseph voltou e agora os dois voltaram a ser ''amigos''.
será que isso irá durar por muito tempo? acho que não.
me digam o que acharam nos comentários.
feliz natal meus amores e obrigado por tudo.
espero que aproveitem o capítulo, volto em breve.

22/12/2017

begin again: capítulo 28


Miss you
(leiam as notas finais)

Há mais uma coisa que preciso fazer. Mesmo no meio de todo o resto, só consigo pensar em Joseph Jonas. Durante quase seis semanas, não ouvi nenhuma notícia dele, exceto uma desculpa ocasional via Michael. Está começando a parecer que ele é uma invenção da minha cabeça.
Cristo, como sinto falta dele.
O que vai fazer você feliz, Demi?
Quero fazer as pazes com Joseph. Odeio a maneira como deixamos as coisas tão tensas no ar. Se vou mesmo retomar o controle da minha vida, como Louise me incitou a fazer, não quero me arrepender de nada. E me arrependo de tê-lo feito sofrer. Muito mesmo.
No final, envio uma mensagem de texto. Simples, mas eficiente. Algumas palavras para ver se ele morde a isca, se pretende falar comigo novamente.
Sei que você não está doente.
Claro, ele não responde. Não sei se eu esperava mesmo que ele respondesse. Só queria que ele soubesse que eu não sou idiota, que eu estou pensando nele. Ele precisa saber que eu não vou desistir tão facilmente.
No dia seguinte, envio outra mensagem. Dessa vez, um pouco mais forte. Uma pergunta em vez de uma declaração.
Por que você não fala comigo?
Outro dia de silêncio. No entanto, não me ofendo com a falta de resposta. Na verdade, estou começando a esperar por isso, enviar as mensagens, falar que ainda estou por perto. No terceiro dia, tento uma abordagem direta.
Estou com saudades.
Me arrependo assim que envio. É um pouco sincero demais. Decido que vai ser minha última tentativa, a última coisa que eu quero é parecer uma perseguidora. Mas, em seguida, alguns minutos mais tarde, meu telefone começa a tocar. E estou tremendo quando levanto o aparelho. Ver o nome dele no visor faz meu estômago apertar com náuseas de ansiedade.
– Alô? – sussurro. O silêncio que se segue me faz pensar que ele não me ouviu. Assim que estou prestes a repetir a palavra, Joseph começa a falar:
– Demi, você está aí?
Limpo a garganta.
– Estou aqui.
– Deus do céu, por que não pode me deixar em paz? Foi você que amarelou, foi você que me repeliu. Quer me torturar, é isso? – ele fala de maneira pausada naturalmente, mas parece mais forte do que o normal. Tento não vacilar diante de sua veemência.
– Me desculpe, Joseph, eu... – era isso o que eu queria? Me sentir culpada e infeliz de uma só vez? Meu pai um dia me disse que eu sou meu pior inimigo, e estou começando a acreditar que ele estava certo. – Não tive a intenção de fazê-lo sofrer. Achei que a gente era amigo.
– Você definitivamente parecia amigável. – o sarcasmo escorre de suas palavras. – O que você quer de mim, Demi?
– Eu quero que a gente volte para o que era antes. Sinto sua falta na clínica e as crianças também. Nós queremos você de volta.
Há silêncio do outro lado. Espero por uma resposta, todo meu corpo está tenso.
– Joseph, você me ouviu?
– Ouvi. – sua voz é baixa, e tenho que me concentrar para ouvir. – Só não entendo por que você está me dizendo isso agora.
– Porque sinto sua falta. – as palavras surgem da minha boca como se estivessem correndo para serem ouvidas. – As crianças também estão sentindo sua falta. A aula de arte não é a mesma sem você.
– O que você quer que eu diga? Que vou estar de volta amanhã, fingindo que nada aconteceu? Que nós podemos rir, brincar e tirar sarro um do outro como se aquele beijo fosse só minha imaginação?
É isso o que realmente quero? Esquecer aquele beijo lindo, sensual, incrível? Apagar as palavras que a mãe dele sussurrou para mim? Me esquecer de tudo, exceto da nossa amizade?
– Cameron Gibbs fez um cartão para você. Cameron Gibbs, droga. O mesmo garoto que rouba galerias de arte e enfrenta policiais realmente pintou um cartão para lhe dizer que sentiu sua falta. Isso não quer dizer nada?
– Claro que sim – ele responde. Sua voz é densa. – Você não acha que sinto falta deles também?
E de mim?
– Então, volte. Prometo não fazer mais nada para o deixar aborrecido. Não quero fazer você se sentir mal...
– Você acha que isso é culpa sua?
– Não é? Fui eu que o beijei e depois fugi. Eu é que sou casada. Claro que a culpa é minha.
– Você não sabe de nada. No instante em que eu a vi na porta, eu soube que ia beijar você. Não me importei se você era casada, na verdade, e ainda não dou a mínima. Eu só conseguia pensar em como você estava e como eu sabia que seria a sensação de ter você nos meus braços.
Prendo a respiração enquanto ele fala. Quase consigo sentir a firmeza de seus bíceps nas laterais do meu corpo. Lembro-me de como ele me olhou antes de pressionar os lábios contra os meus. Como se eu fosse a oitava maravilha.
– Eu também o beijei. – minha voz é pequena. Entre nós dois, sou eu que tenho mais culpa. – Eu não deveria...
– Jesus, Demi, você não entende? Eu queria que você me beijasse também. Ainda quero. É por isso que não posso vê-la de novo.
– Você poderia fazer isso? – pergunto. – Poderia ir embora e esquecer que alguma coisa aconteceu?
– Eu fui embora. Não sou o tipo de cara que corre atrás de mulher casada. Não vejo emoção nenhuma em perseguir algo que não é meu. – ele suspira profundamente. – Não vou ser a pessoa que vai arruinar tudo para você.
– Você é gentil demais. – minha voz falha.
– Eu sei.
A pressão no meu peito vai aumentando.
– Não foi você que arruinou tudo, fui eu.
– Você é muito dura consigo mesma. – seu tom amolece. – Assume a culpa quando não é necessário. Às vezes a vida é uma porcaria, não é culpa de ninguém, simplesmente acontece. Eu parti para cima de uma mulher casada, não é culpa sua. Você ficar com Simon também não é culpa sua. Por mais que me mate dizer isso.
Não tento corrigi-lo. Não quero que ele pense que eu só estou ligando para ele porque me separei de Simon. Isso é o mais distante possível da verdade. Estou ligando porque quero ser feliz. Porque quero meu amigo de volta. Mesmo se isso for tudo o que pudermos ser.
– Por favor, pense em voltar para a aula, mesmo que apenas por causa das crianças. Posso até pedir a Cameron que faça outro cartão para você.
Pela primeira vez, o riso soa quase genuíno.
– Vou pensar no assunto.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento. Não porque não há nada a dizer, pelo menos não da minha parte. É porque há tudo para ser dito, mas sei que não posso fazê-lo. Não posso dizer o quanto minha vida está mudando. Há algumas coisas que a gente só pode dizer a outra pessoa cara a cara, quando é possível ver a reação, compreender as emoções do interlocutor. Então eu me forço a manter o equilíbrio, quando só o que quero é colocar tudo para fora.
– Acho que é melhor eu desligar – digo, tentando manter a voz estável. – Talvez a gente possa se ver em breve?
– Talvez. – sua voz é baixa. – Eu também sinto muita falta daqueles meninos.
E de mim, quero perguntar novamente. Você sente falta de mim? Claro que não pergunto. Mordo a língua e tento respirar, lembrando-me de que é apenas um começo.
– Está bem, então, vou ficar de dedos cruzados.
– Pode ficar. – uma pausa. – E você? Você está bem?
Quando respondo, percebo que estou sorrindo.
– Sabe de uma coisa, Joseph? Acho de verdade que vou ficar.

amores, me desculpem por não postar novamente esta semana mas o meu computador ficou ruim de novo e mais problemas aconteceram mas agora acho que ele está bom de vez.
então para recompensar vocês irei postar um capítulo hoje e outro amanhã pois na segunda não vou poder postar aqui, tudo bem? espero que gostem dos capítulos.
o que dizer deste capítulo? Demi sentindo saudade dele e acho que o Joseph esta correto pois ela ainda é uma mulher casada e ele não quer sofrer por ela.
será que eles irão se resolver? o que eu posso dizer é que esta próximo momento Jemi novamente.
pelo menos ele apareceu e irá pensar se voltará a trabalhar.
me digam o que acharam nos comentários.
espero que gostem do capítulo, volto amanhã.
respostas do capítulo anterior aqui.

16/12/2017

begin again: capítulo 27


Concern 

Simon e eu conversamos sobre como mudar minhas coisas para o quarto de hóspedes. Não digo que já tentei uma vez. Desta, eu vou até o fim. Conversamos mais nos últimos dias do que nos últimos meses. Com o espectro do nosso casamento moribundo finalmente tendo levado o golpe de misericórdia, somos capazes de encontrar algum meio-termo.
Isso me dá esperança de que possamos, em algum momento, descobrir o santo graal dos casais separados: a amizade. Não posso imaginar uma vida onde Simon não existe mais. Espero não precisar.
Na segunda-feira, nos separamos amigavelmente. Ele vai para o escritório, e pego um táxi para o edifício de concreto cinza que abriga o departamento de serviço social. Daisy espera por mim do lado de fora, fumando freneticamente uma bituca de cigarro. Sua saia preta é um pouco curta demais, e o suéter é um pouco apertado demais. Só espero que percebam o esforço que ela fez para parecer limpa e respeitável.
Ela me vê e joga o cigarro no chão, apagando-o sob a sola da bota preta. Indico com a cabeça o cinzeiro de metal afixado na parede, e ela rapidamente pega e joga lá dentro.
– Você está pronta? – pergunto. Faltam dez minutos para o horário que marcamos com Grace O’Dell, mas não faz mal chegar um pouco antes. Daisy afirma com a cabeça freneticamente antes de mudar de ideia e dizer que não.
– Vomitei minhas entranhas hoje de manhã – ela confidencia. – E se eles nunca a deixarem voltar para casa?
Passo o braço em volta dela e caminhamos para o prédio.
Nós nos identificamos na recepção, o segurança nos dá crachás temporários que penduramos no pescoço. Há uma fileira de cadeiras de um lado da sala e ele indica para aguardarmos lá. Daisy caminha até um bebedouro com água gelada, e seus lábios se curvam para cima quando ela coloca um pouco de água em um copo de papel.
– Nunca vi um desses ao vivo antes. É irado.
Ela drena o copo e se serve de um segundo, antes de finalmente se aproximar e se sentar ao meu lado. Suas pernas balançam constantemente, seus olhos percorrem a sala com nervosismo, e coloco a mão em seu ombro para acalmá-la.
– Está tudo bem.
Embora ela acene com a cabeça, a expressão de medo permanece.
– Eu só a quero de volta.
– Eu sei.
Daisy fica cada vez mais nervosa, à medida que os minutos vão se passando. Seus movimentos se tornam maníacos e suas perguntas ficam sem fôlego.
Quando Grace finalmente aparece na porta de segurança, não sei dizer qual de nós duas ficou mais aliviada.
– Desculpem o atraso, está uma confusão só aqui no escritório esta manhã. Minha última reunião durou meia hora além do previsto. – ela nos mostra um sorriso contrito. – Ainda assim, estamos todos aqui agora. Podem me seguir, por favor?
Antes mesmo de se levantar, Daisy me lança um olhar nervoso.
– Aonde estamos indo?
– Apenas a uma sala de reuniões. Alguns colegas meus estão lá, e as anotações do seu caso também. Nada para se alarmar.
A garantia não faz nada para acalmar Daisy. Seu nervosismo é palpável.
Quase posso senti-lo vibrando no ar. Procuro sua mão enquanto caminhamos pela porta de segurança, apertando seus dedos frios apenas para mostrar que estou aqui.
– Por favor, sentem-se. – Grace aponta para duas cadeiras vazias.
A sala é pequena, cerca de três metros quadrados, mal cabem uma mesa e cinco cadeiras. Nós nos esprememos para passar por duas pessoas já sentadas, colegas de Grace, imagino e pegamos nossos dois lugares vagos na extremidade. Assim que se senta, Daisy começa a se balançar sobre as duas pernas traseiras da cadeira. O movimento provoca um chiado nos pés de borracha sobre o chão de ladrilhos. Seguro o espaldar de sua cadeira para deter o movimento, mas em seguida puxo a mão depressa.
Ela não é criança, então por que eu estou tratando-a como uma?
– Certo, acho que estamos prontos para começar. – Grace remexe em alguns papéis enquanto fala. – Como vai você, Daisy?
– Quero minha filha de volta.
Sem se abalar, Grace mostra um sorriso.
– Bem, é sobre isso que vamos discutir aqui hoje. Talvez possamos começar com algumas apresentações?
Descobrimos que o homem sentado em frente à Daisy é um funcionário do abrigo onde Charlotte está hospedada, e a mulher mais velha é uma representante do conselho. Grace começa descrevendo as principais questões relacionadas ao caso de Charlotte e explica sobre a internação de Daisy no hospital.
Ouvir as especificidades da boca de outra pessoa é angustiante. Sinto-me sufocar quando eles descrevem as ocasiões específicas em que Charlotte foi negligenciada, deixada em casa e ignorada em geral. Se eu mesma não conhecesse Daisy, olharia para ela e chegaria à conclusão de que é uma péssima mãe. Mas ela não é. Quando Daisy destina toda sua atenção à Charlotte pode ser uma mãe incrível. É sua inconsistência que preocupa tanto. Por essa razão apenas, estou feliz que ela esteja no radar dos serviços sociais.
Enquanto Grace se refere a alguns relatórios, Daisy começa a se balançar na cadeira de novo. Ela olha pela janela, seus olhos vidrados como se não estivesse realmente ali. Tento prestar atenção extra, sabendo que eu provavelmente vou ter de explicar tudo de novo quando sair.
– E você cortou todas as relações com seu ex-namorado?
Tenho que cutucar Daisy, que olha duas vezes.
– O quê?
– Você cortou qualquer vínculo com... – a oficial do conselho vasculha suas anotações – o Sr. Darren Tebbit?
– Nós terminamos.
A mulher acena com a cabeça e faz algumas anotações em seu bloco. Vejo sua esferográfica fazer voltas e curvas pela página, e tento entender o que ela está escrevendo. Capto algumas palavras, mas nada que me diz como a reunião está indo.
Enquanto Grace detalha todas as interações que Charlotte teve com os serviços sociais, a raiva inunda minhas veias. Há situações sobre as quais tenho conhecimento, a ocasião em que Daisy desapareceu com Darren por uma semana inteira, a overdose que a deixou inconsciente na calçada fora do seu apartamento. Mas há um milhão de outros pequenos incidentes que também não conheço. Visitas ao pronto-socorro para um dedo quebrado e lacerações, relatórios da escola sobre hematomas nos braços de Charlotte. Todos eles
ocorreram durante os períodos em que Darren passou com Daisy.
A miríade de indicadores se destaca de forma tão robusta que já não fico mais preocupada se Charlotte não voltar para casa.
Estou mais preocupada que ela volte.
Em seguida, o representante do abrigo nos dá um resumo de suas descobertas. Ele confirma o que já sabemos, que Charlotte é uma menina muito reservada. Ela encontrou extrema dificuldade em se adaptar lá. Quando ele explica que os pontos altos de sua semana têm sido nossos passeios aos sábados, sinto lágrimas nos olhos.
Graças a Deus nunca dei ouvidos a Simon.
Quando enfim chegamos à conclusão, Daisy ainda está olhando pela janela, é como se ela não estivesse realmente conosco. Grace tem de dizer seu nome três vezes para fazê-la virar a cabeça bruscamente.
– Chegamos a uma série de recomendações que acreditamos ser o melhor para a segurança da sua filha – explica Grace. – Para os próximos dois fins de semana, nós vamos recomendar direitos de visita. Você vai poder buscar Charlotte às 17h na sexta-feira e devolvê-la ao abrigo no domingo às 16h.
Finalmente, Daisy presta atenção.
– Só nos fins de semana?
– Nas duas primeiras semanas. Depois disso, se as visitas forem bem, vamos devolver a custódia total de Charlotte.
– Vou tê-la de volta? – um sorriso radiante irrompe nos lábios de Daisy. – Sério?
– Ela vai permanecer no Registro de Risco por um período de seis meses, e então faremos uma revisão do caso. – Grace começa a delinear o plano de ação multi agências que eles desenvolveram, que inclui uma fiscalização rigorosa, visitas domiciliares e a exigência de que Daisy frequente a clínica semanalmente. Por sua vez, Daisy apenas balança a cabeça, concordando com tudo sem realmente prestar atenção.
– Você ouviu isso, Demi? – ela pergunta. – Vou ter meu bebê de volta.
Balanço a cabeça para ela, quase sem poder olhá-la nos olhos.
– Eu ouvi.
Grace começa a passar alguns papéis para Daisy olhar e, embora eu me apoie na mesa, não consigo me concentrar neles. Ainda estou pensando nas lacerações, nos hematomas e no dedo quebrado. Como não percebi nada disso? Tenho visto Charlotte regularmente durante os dois últimos anos e nunca notei um único arranhão.
Que tipo de amiga isso faz de mim? Sou adulta, eu deveria saber, eu poderia tê-la protegido. Uma sensação de náusea se aloja na boca do meu estômago, aninhada como se estivesse aqui para ficar, e começo a pensar em todas as vezes que defendi Daisy. Expliquei que, embora ela fosse dependente química, é uma boa mãe porque ama realmente a filha.
Mas que tipo de mãe permite que o namorado maltrate a filha? Não me importo que seja um arranhão ou uma fratura, Darren machucou Charlotte.
Quando Grace encerra a reunião, Daisy e eu caminhamos de volta para o lobby, devolvendo nossos crachás temporários. Estou atordoada quando finalmente saio no ar da brilhante manhã. Minha mente está repleta de hematomas e hospitais. Não posso olhar para Daisy quando nos despedimos. Em vez disso, fico remexendo na bolsa como se tivesse perdido alguma coisa e mostro um sorriso apertado em resposta aos agradecimentos dela. Observo-a se dirigir à estação de metrô, socando o ar como se fosse uma vitória.
Chamo um táxi com o humor bem mais sombrio, tentando segurar as lágrimas que estão lutando para se derramar. Quando deslizo no banco detrás, faço uma promessa silenciosa à Charlotte de que não importa o que aconteça, não importa o que eu acabe tendo de fazer, Darren Tebbit nunca, jamais, vai tocá-la novamente.
E estou falando sério.

amores, me desculpem por não postar esta semana mas eu estava sem computador.
mas agora está tudo resolvido e voltei para ficar hahaha.
Daisy conseguiu a Charlotte de volta mas o que eu posso dizer é que isso não será muito bom.
o que acham que irá acontecer?
me digam o que acharam nos comentários.
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

10/12/2017

begin again: capítulo 26


Nove anos antes

Cinquenta e dois por cento. Não é repetência, mas foi por um pouquinho de nada. Leio o número de novo e me pergunto se eu deveria ficar satisfeita ou chocada. Parte de mim está radiante por eu ter passado, apesar dos meus piores temores. Não vou ter de repetir um ano, nem ficar de recuperação no verão. Não vou ter de rastejar na frente dos meus pais, passando o chapéu para suplicar que eles paguem um quarto ano de faculdade.
Mas cinquenta e dois por cento. Apenas três pontos a menos e eu estaria em um mundo de problemas. Deve ser um alerta, um lembrete de por que estou aqui. Uma segunda chance para fazer as coisas direito.
Quando entro no ateliê, Joseph não está. Em vez disso, encontro Digby debruçado sobre algum tipo de monstruosidade de argila, com o rosto contorcido de concentração.
– Joseph está por aí? – pergunto.
Digby levanta os olhos.
– Faz algum tempo que não o vejo.
– Queria saber onde ele está.
– Eu não sei. – ele volta os olhos para sua argila e começa a moldar o que parece ser um braço. – Ele disse algo sobre ir buscar uns materiais.
Tento esconder a decepção, mas ele percebe. Passei muito tempo com Digby desde que fumamos viúva branca juntos na casa dele. Ele me leva para tomar café e me escuta falar sobre Joseph por horas. Às vezes até se junta à conversa.
Estou começando a suspeitar que ele tem uma queda pelo Joseph tanto quanto eu. Por alguma razão, não me faz sentir ciúmes. Ter alguém que saiba exatamente como me sinto é reconfortante. Como se eu não estivesse ficando totalmente louca.
– Você vai à festa mais tarde? – ele pergunta. Vai acontecer uma grande rave em um dos salões mais suntuosos. DJS e pista de dança. Um monte de drogas. Estou ansiosa por isso há semanas.
– Vou, não perderia por nada no mundo. – vou desfrutar do hedonismo enquanto eu puder. Só resta uma semana antes de eu ter de ir para casa, passar as férias de verão. Voltar para mamãe e papai, para o céu encoberto de Essex.
Voltar a fingir que sou uma boa menina.
Estou morrendo de medo.
– Você me reserva uma dança? – ele me mostra um olhar fofo, para combinar com o pedido. Vou sentir falta de suas expressões engraçadas durante o verão.
– Claro. Macarena eu só danço com você.
Mas não dançamos juntos naquela noite.
Nem nunca mais.

amores, resolvi postar hoje para vocês pois amanhã não terei tempo para postar aqui.
estava pensando em fazer uma maratona de fim de ano para vocês, o que acham?
estou com vários capítulos finalizados aqui e pensei sobre isto.
esse foi mais um pouco do passado.
e está próximo o capítulo de como a Digby morreu :(
me digam o que acharam nos comentários e me digam o que acham da maratona?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

04/12/2017

begin again: capítulo 25


Divorce

Quando Joseph não aparece para a aula pela quinta semana consecutiva, sinto a paciência começar a se esvair. Durante o último mês, eu não fiz nada a não ser analisar o que eu deveria estar sentindo, o que eu deveria estar fazendo, e ele apenas parece ter desaparecido. É como se tivesse ateado fogo na situação e fugido para não ver a explosão.
Porém, mais do que isso, sinto falta dele. Quando olho pela classe, sinto o estômago afundar, mesmo que as crianças pareçam felizes o suficiente que Michael esteja lhes dando atenção. Por mais gentil que seja o substituto, ele não é Joseph, e eu estou começando a perceber que Joseph é a única coisa faltando na minha vida.
O que vai fazer você feliz?
Estou presa a essa questão há mais de uma semana. Penso nas palavras de Simon a cada noite quando fecho os olhos, tentando enxergar um caminho. E a cada vez meus pensamentos se dirigem a Joseph, àquele beijo, à maneira como ele me tocou até meu corpo parecer estar pegando fogo.
Ele me fez sentir viva. Algo que eu não sei se senti durante muito tempo. Durante as sessões com Louise, nós discutimos minhas escolhas. Ela destacou que nunca realmente superei a morte de Digby ou minha participação nela. Que eu estava com medo de me permitir sentir vulnerável novamente. E talvez a escolha de me casar com Simon tenha sido minha maneira de me proteger da dor, de me isolar do mundo. Mas, envolvida em sua proteção, consegui viver como se estivesse entorpecida por tempo demais.
E agora estou exposta pela primeira vez desde sempre. Permitindo-me sentir emoções que eu tinha esquecido.
Paixão. Medo. Vulnerabilidade.
– Vai doer no começo – ela me diz. – Como quando você arranca a casca de uma ferida fresca. Pode arder, pode se infectar, mas em algum momento vai cicatrizar.
– E se eu preferir me sentir dormente?
– Essa escolha é sua. Mas, se você realmente se sente assim, o que está fazendo aqui? Por que não está apenas voltando para sua antiga vida, para seu casamento? O fato de você continuar vindo à terapia me diz que há algo com que você não está feliz.
Ela está certa. Ela sempre está. Louise parece ter essa capacidade de fazer com que eu me veja com mais clareza. Cortar o papo-furado e dizer as coisas como elas são.
Ainda estou pensando sobre isso quando Michael limpa o último frasco de tinta e se despede. E eu me lembro das outras coisas que Louise sugeriu: que eu deveria decidir o que eu quero e não depender que alguém tome decisões por mim.
Mas o que vai me fazer feliz? Não ficar do jeito que estou. Porque, no momento, isso está me fazendo sentir péssima. E quando eu descartar essa possibilidade, sei que a única opção é a de mudar as coisas: ou transformar meu casamento ou sair dele.
Nós tentamos consertá-lo. Nós dois. Durante as últimas cinco semanas já conversamos sobre melhorar as coisas, mas tudo o que fizemos foi conversar.
Nenhum de nós realmente fez alguma diferença. As coisas ainda estão do jeito que estavam.
Eu não quero mais isso.
Estou cansada de lutar por algo que nem acho mais que desejo.
Nem parece que há uma decisão a ser tomada.

***

Faz uma hora que estamos conversando. Andando em círculos, percorrendo o perímetro doloroso do nosso casamento. Simon está sentado em sua poltrona de costume, corpo inclinado para frente, com o cotovelo apoiado sobre as coxas. Notei que Martin, nosso terapeuta, ficou quieto. Ele não diz nada, apenas nos observa com olhos interessados.
– Eu não estou feliz – digo a Simon. – Nenhum de nós está. E parece que fizemos tudo o que poderíamos para fazer isso funcionar. O que mais há para se fazer?
Ele não diz nada por um momento. Apenas olha para mim. Seu rosto parece esgotado, velho, e tenho a sensação aguda da nossa diferença de idade.
– Cristo. – ele esfrega o rosto com as palmas abertas. – Eu não sei. Só parece que você está desistindo cedo demais. Antes eu a fazia feliz. Eu sei que fazia.
Confirmo com a cabeça, tentando não deixar meus olhos se encherem de lágrimas.
– Você fazia.
– Então me deixe fazer de novo. Pare de brigar comigo o tempo todo. Pare de me questionar. Só me deixe cuidar de você do jeito que eu quero.
Não funciona assim. Do jeito que ele fala parece que sou algum tipo de animalzinho de estimação esperando para ser penteado e arrumado. Não alguém com seus próprios sentimentos, emoções. Suas próprias necessidades.
– Não é o que eu quero.
– E quanto ao que eu quero?
– Eu não acho que você me quer assim. – meu riso é melancólico. Nós dois sabemos que ele estava à procura de companheirismo e amor, não de uma mulher confusa e claramente infeliz. Sinto uma onda de tristeza por não poder ser quem ele quer que eu seja. Linda, simpática. A esposa-troféu.
– Então o que vamos fazer?
Respiro fundo, tentando juntar um pouco de coragem. Podemos ficar nessa lenga-lenga o dia todo, Deus sabe que é o que fizemos , mas vai chegar uma hora em que algum de nós vai ter de dizer. Abro a boca e hesito no mesmo instante, meu coração cheio, minha garganta doendo. Porque assim que pronuncio as palavras, sei que nada mais vai ser o mesmo.
Contudo, mesmo assim, preciso dizer.
– Acho que devemos nos separar.
Lentamente ele se levanta, anda e se ajoelha diante de mim. Lágrimas se derramam sobre minhas bochechas. Ele deita a cabeça no meu colo, como se em súplica, e me vejo acariciando seu cabelo fino enquanto ele respira sobre minhas coxas. Ficamos assim por alguns minutos, lágrimas encharcando minha calça jeans, minhas próprias lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto. Então, ele olha para cima, com os olhos vermelhos, seu cabelo despenteado por minhas carícias.
– Fique – ele sussurra, segurando minhas duas mãos. – Fique comigo. 
Procuro por Martin, mas ele saiu da sala. Estamos sozinhos. Parece que sempre estivemos.
– Não posso.
– Sim, você pode. Vou me esforçar mais, nós dois vamos. Vamos fazer isso funcionar. – há um toque determinado em seus lábios. Ele é um vencedor na vida, sempre foi. Lutar está na natureza dele.
– Nós tentamos, Simon, e nenhum de nós está feliz. Vamos ficar melhor separados.
– E como é que você vai arcar com os gastos de viver sem mim? – ele questiona. – Sua renda da clínica não vai levá-la muito longe.
– A questão não é dinheiro. – sei que não vou poder encontrar muita coisa.  Uma quitinete no máximo, ou um quarto encardido em um apartamento compartilhado. – Quer mesmo que eu fique com você por causa do seu dinheiro?
Seu riso é duro e sem humor.
– Quero.
Estendo a mão e envolvo o rosto dele nas mãos. Sua pele é fria e úmida.
– Isso não é verdade. Você não iria querer que eu fosse uma caçadora de fortunas mais do que eu iria querer que você fosse meu papaizinho. Isso não é jeito de ter um relacionamento. A gente se casou porque se amava, porque queria ficar junto. – minha voz falha. – Porque funcionávamos juntos.
– Ainda podemos funcionar. Dê algum tempo, podemos encontrar outro terapeuta, podemos ir duas vezes por semana, se for preciso. Apenas me diga o que fazer e eu vou fazer.
– Quantas vezes vamos tentar? – pergunto. – Me fale, quando foi a última vez que você se sentiu realmente feliz?
Ele para por um instante, o suficiente para limpar os olhos com um lenço muito branco.
– Não sei.
– Eu também não, e isso não está certo. Você merece ser feliz, nós dois merecemos. – inclino o corpo para frente até que nossa testa se toque. É um gesto íntimo, mas não sensual. Como é possível quando nossos olhos estão tão turvos pelas lágrimas?
– Sei que nós dois vamos nos sentir mais felizes dentro de algum tempo.

Demi está sentindo falta do Joseph <3
finalmente ela pediu o divorcio para o Simon.
O Simon gosta dela mas não dá certo.
e agora o que será que vai acontecer?
me digam o que acharam nos comentários, ok?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.