16/12/2017

begin again: capítulo 27


Concern 

Simon e eu conversamos sobre como mudar minhas coisas para o quarto de hóspedes. Não digo que já tentei uma vez. Desta, eu vou até o fim. Conversamos mais nos últimos dias do que nos últimos meses. Com o espectro do nosso casamento moribundo finalmente tendo levado o golpe de misericórdia, somos capazes de encontrar algum meio-termo.
Isso me dá esperança de que possamos, em algum momento, descobrir o santo graal dos casais separados: a amizade. Não posso imaginar uma vida onde Simon não existe mais. Espero não precisar.
Na segunda-feira, nos separamos amigavelmente. Ele vai para o escritório, e pego um táxi para o edifício de concreto cinza que abriga o departamento de serviço social. Daisy espera por mim do lado de fora, fumando freneticamente uma bituca de cigarro. Sua saia preta é um pouco curta demais, e o suéter é um pouco apertado demais. Só espero que percebam o esforço que ela fez para parecer limpa e respeitável.
Ela me vê e joga o cigarro no chão, apagando-o sob a sola da bota preta. Indico com a cabeça o cinzeiro de metal afixado na parede, e ela rapidamente pega e joga lá dentro.
– Você está pronta? – pergunto. Faltam dez minutos para o horário que marcamos com Grace O’Dell, mas não faz mal chegar um pouco antes. Daisy afirma com a cabeça freneticamente antes de mudar de ideia e dizer que não.
– Vomitei minhas entranhas hoje de manhã – ela confidencia. – E se eles nunca a deixarem voltar para casa?
Passo o braço em volta dela e caminhamos para o prédio.
Nós nos identificamos na recepção, o segurança nos dá crachás temporários que penduramos no pescoço. Há uma fileira de cadeiras de um lado da sala e ele indica para aguardarmos lá. Daisy caminha até um bebedouro com água gelada, e seus lábios se curvam para cima quando ela coloca um pouco de água em um copo de papel.
– Nunca vi um desses ao vivo antes. É irado.
Ela drena o copo e se serve de um segundo, antes de finalmente se aproximar e se sentar ao meu lado. Suas pernas balançam constantemente, seus olhos percorrem a sala com nervosismo, e coloco a mão em seu ombro para acalmá-la.
– Está tudo bem.
Embora ela acene com a cabeça, a expressão de medo permanece.
– Eu só a quero de volta.
– Eu sei.
Daisy fica cada vez mais nervosa, à medida que os minutos vão se passando. Seus movimentos se tornam maníacos e suas perguntas ficam sem fôlego.
Quando Grace finalmente aparece na porta de segurança, não sei dizer qual de nós duas ficou mais aliviada.
– Desculpem o atraso, está uma confusão só aqui no escritório esta manhã. Minha última reunião durou meia hora além do previsto. – ela nos mostra um sorriso contrito. – Ainda assim, estamos todos aqui agora. Podem me seguir, por favor?
Antes mesmo de se levantar, Daisy me lança um olhar nervoso.
– Aonde estamos indo?
– Apenas a uma sala de reuniões. Alguns colegas meus estão lá, e as anotações do seu caso também. Nada para se alarmar.
A garantia não faz nada para acalmar Daisy. Seu nervosismo é palpável.
Quase posso senti-lo vibrando no ar. Procuro sua mão enquanto caminhamos pela porta de segurança, apertando seus dedos frios apenas para mostrar que estou aqui.
– Por favor, sentem-se. – Grace aponta para duas cadeiras vazias.
A sala é pequena, cerca de três metros quadrados, mal cabem uma mesa e cinco cadeiras. Nós nos esprememos para passar por duas pessoas já sentadas, colegas de Grace, imagino e pegamos nossos dois lugares vagos na extremidade. Assim que se senta, Daisy começa a se balançar sobre as duas pernas traseiras da cadeira. O movimento provoca um chiado nos pés de borracha sobre o chão de ladrilhos. Seguro o espaldar de sua cadeira para deter o movimento, mas em seguida puxo a mão depressa.
Ela não é criança, então por que eu estou tratando-a como uma?
– Certo, acho que estamos prontos para começar. – Grace remexe em alguns papéis enquanto fala. – Como vai você, Daisy?
– Quero minha filha de volta.
Sem se abalar, Grace mostra um sorriso.
– Bem, é sobre isso que vamos discutir aqui hoje. Talvez possamos começar com algumas apresentações?
Descobrimos que o homem sentado em frente à Daisy é um funcionário do abrigo onde Charlotte está hospedada, e a mulher mais velha é uma representante do conselho. Grace começa descrevendo as principais questões relacionadas ao caso de Charlotte e explica sobre a internação de Daisy no hospital.
Ouvir as especificidades da boca de outra pessoa é angustiante. Sinto-me sufocar quando eles descrevem as ocasiões específicas em que Charlotte foi negligenciada, deixada em casa e ignorada em geral. Se eu mesma não conhecesse Daisy, olharia para ela e chegaria à conclusão de que é uma péssima mãe. Mas ela não é. Quando Daisy destina toda sua atenção à Charlotte pode ser uma mãe incrível. É sua inconsistência que preocupa tanto. Por essa razão apenas, estou feliz que ela esteja no radar dos serviços sociais.
Enquanto Grace se refere a alguns relatórios, Daisy começa a se balançar na cadeira de novo. Ela olha pela janela, seus olhos vidrados como se não estivesse realmente ali. Tento prestar atenção extra, sabendo que eu provavelmente vou ter de explicar tudo de novo quando sair.
– E você cortou todas as relações com seu ex-namorado?
Tenho que cutucar Daisy, que olha duas vezes.
– O quê?
– Você cortou qualquer vínculo com... – a oficial do conselho vasculha suas anotações – o Sr. Darren Tebbit?
– Nós terminamos.
A mulher acena com a cabeça e faz algumas anotações em seu bloco. Vejo sua esferográfica fazer voltas e curvas pela página, e tento entender o que ela está escrevendo. Capto algumas palavras, mas nada que me diz como a reunião está indo.
Enquanto Grace detalha todas as interações que Charlotte teve com os serviços sociais, a raiva inunda minhas veias. Há situações sobre as quais tenho conhecimento, a ocasião em que Daisy desapareceu com Darren por uma semana inteira, a overdose que a deixou inconsciente na calçada fora do seu apartamento. Mas há um milhão de outros pequenos incidentes que também não conheço. Visitas ao pronto-socorro para um dedo quebrado e lacerações, relatórios da escola sobre hematomas nos braços de Charlotte. Todos eles
ocorreram durante os períodos em que Darren passou com Daisy.
A miríade de indicadores se destaca de forma tão robusta que já não fico mais preocupada se Charlotte não voltar para casa.
Estou mais preocupada que ela volte.
Em seguida, o representante do abrigo nos dá um resumo de suas descobertas. Ele confirma o que já sabemos, que Charlotte é uma menina muito reservada. Ela encontrou extrema dificuldade em se adaptar lá. Quando ele explica que os pontos altos de sua semana têm sido nossos passeios aos sábados, sinto lágrimas nos olhos.
Graças a Deus nunca dei ouvidos a Simon.
Quando enfim chegamos à conclusão, Daisy ainda está olhando pela janela, é como se ela não estivesse realmente conosco. Grace tem de dizer seu nome três vezes para fazê-la virar a cabeça bruscamente.
– Chegamos a uma série de recomendações que acreditamos ser o melhor para a segurança da sua filha – explica Grace. – Para os próximos dois fins de semana, nós vamos recomendar direitos de visita. Você vai poder buscar Charlotte às 17h na sexta-feira e devolvê-la ao abrigo no domingo às 16h.
Finalmente, Daisy presta atenção.
– Só nos fins de semana?
– Nas duas primeiras semanas. Depois disso, se as visitas forem bem, vamos devolver a custódia total de Charlotte.
– Vou tê-la de volta? – um sorriso radiante irrompe nos lábios de Daisy. – Sério?
– Ela vai permanecer no Registro de Risco por um período de seis meses, e então faremos uma revisão do caso. – Grace começa a delinear o plano de ação multi agências que eles desenvolveram, que inclui uma fiscalização rigorosa, visitas domiciliares e a exigência de que Daisy frequente a clínica semanalmente. Por sua vez, Daisy apenas balança a cabeça, concordando com tudo sem realmente prestar atenção.
– Você ouviu isso, Demi? – ela pergunta. – Vou ter meu bebê de volta.
Balanço a cabeça para ela, quase sem poder olhá-la nos olhos.
– Eu ouvi.
Grace começa a passar alguns papéis para Daisy olhar e, embora eu me apoie na mesa, não consigo me concentrar neles. Ainda estou pensando nas lacerações, nos hematomas e no dedo quebrado. Como não percebi nada disso? Tenho visto Charlotte regularmente durante os dois últimos anos e nunca notei um único arranhão.
Que tipo de amiga isso faz de mim? Sou adulta, eu deveria saber, eu poderia tê-la protegido. Uma sensação de náusea se aloja na boca do meu estômago, aninhada como se estivesse aqui para ficar, e começo a pensar em todas as vezes que defendi Daisy. Expliquei que, embora ela fosse dependente química, é uma boa mãe porque ama realmente a filha.
Mas que tipo de mãe permite que o namorado maltrate a filha? Não me importo que seja um arranhão ou uma fratura, Darren machucou Charlotte.
Quando Grace encerra a reunião, Daisy e eu caminhamos de volta para o lobby, devolvendo nossos crachás temporários. Estou atordoada quando finalmente saio no ar da brilhante manhã. Minha mente está repleta de hematomas e hospitais. Não posso olhar para Daisy quando nos despedimos. Em vez disso, fico remexendo na bolsa como se tivesse perdido alguma coisa e mostro um sorriso apertado em resposta aos agradecimentos dela. Observo-a se dirigir à estação de metrô, socando o ar como se fosse uma vitória.
Chamo um táxi com o humor bem mais sombrio, tentando segurar as lágrimas que estão lutando para se derramar. Quando deslizo no banco detrás, faço uma promessa silenciosa à Charlotte de que não importa o que aconteça, não importa o que eu acabe tendo de fazer, Darren Tebbit nunca, jamais, vai tocá-la novamente.
E estou falando sério.

amores, me desculpem por não postar esta semana mas eu estava sem computador.
mas agora está tudo resolvido e voltei para ficar hahaha.
Daisy conseguiu a Charlotte de volta mas o que eu posso dizer é que isso não será muito bom.
o que acham que irá acontecer?
me digam o que acharam nos comentários.
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

2 comentários:

  1. Acho q o namorado de daisy vai fazer alguma merda... tá perfeito! Que bom que voltou pra ficar. Não posso viver sem suas fica 💜

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    1. Só nos próximos capítulos saberão hahaha.
      Meu computador ficou ruim de novo por isso não postei mas acho que agora ele ficou bom de vez.
      Mas eu irei postar um capítulo hoje e outro amanhã para recompensar vocês pois na segunda não irei fazer poste aqui.
      Beijos, Jessie.

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