25/03/2018

3. memories


Minha mãe e eu não tínhamos TV a cabo em nosso apartamento, por mim, tudo bem. Eu não me importava muito. Nós tínhamos TV a cabo quando eu era criança, mas não valia muito a pena por causa do meu pai. Era ele quem pagava a conta e sempre se queixava quando eu assistia a desenhos animados. Era como se o odiasse o fato de eu ter alguns instantes de alegria. Então, um dia, ele entrou em casa, levou a televisão embora e cancelou o serviço.

Foi o dia em que ele se mudou do apartamento.
Foi também um dos melhores dias da minha vida.
Depois de um tempo, encontrei uma televisão em uma caçamba de lixo. Era uma TV pequena, de dezenove polegadas com leitor de DVD, o que permitia que eu pegasse vários documentários na locadora. Eu era a pessoa que sabia muito sobre qualquer assunto: beisebol, pássaros tropicais, Área 51, tudo por causa dos documentários. Ao mesmo tempo, eu não sabia absolutamente nada.
De vez em quando, minha mãe me fazia companhia, mas, na maioria das vezes, eu assistia
aos documentários sozinho.
Minha mãe me amava, mas não gostava muito de mim.
Bem, isso não era verdade.
Quando estava sóbria, minha mãe me amava como se eu fosse seu melhor amigo.
Quando estava drogada, ela era um monstro, e essa era a única versão que morava em
nossa casa ultimamente.
Eu sentia saudades de minha mãe sóbria. Às vezes, quando fechava os olhos, eu me lembrava de sua risada, de seus lábios se curvando quando ela estava feliz.
Pare, Joseph.
Eu odiava essas lembranças. Eram como punhaladas na alma, e eu quase não tinha boas
recordações em que me agarrar.
Não fazia muita diferença, pois eu sempre estava chapado o suficiente para esquecer a vida de merda que eu levava. Quando eu me trancava em meu quarto com um monte de
documentários e um bagulho bom, quase conseguia esquecer que minha mãe estava há
algumas semanas em uma esquina qualquer, tentando vender o corpo por duas carreiras de
cocaína.
Essa foi uma ligação que nunca quis receber do meu amigo Jacob.
Cara, acabei de ver sua mãe na esquina da Jefferson com a Wells Street. Acho que ela é uma... —Jacob parou. — Acho que você deveria vir até aqui.
Terça de manhã, eu estava sentado na cama, olhando para o teto enquanto um documentário sobre artefatos chineses passava na TV como se fosse uma música de fundo.
Ela gritou meu nome.
— Joseph! Joseph! Joseph, venha aqui!
Continuei imóvel, esperando que ela parasse de me chamar, mas isso não aconteceu.
Levantei-me do colchão e saí do quarto. Encontrei minha mãe sentada à mesa de jantar.
Nosso apartamento era pequeno; não tínhamos muita coisa para colocar dentro dele. Um sofá quebrado, uma mesa de centro manchada e uma mesa de jantar com três cadeiras, uma diferente da outra.
— O que foi? — perguntei.
— Preciso que você limpe as janelas pelo lado de fora, Joseph — disse ela, servindo-se de
uma tigela de leite trincada com cinco sucrilhos dentro.
Minha mãe dizia que estava fazendo uma nova dieta. Ela devia pesar pouco mais de
cinquenta quilos e tinha um metro e setenta e cinco de altura. Eu a achava quase esquelética.
Ela parecia exausta. Será que dormiu na noite passada?
Seu cabelo estava um caos naquela manhã, porém não mais do que sua vida. Minha mãe sempre foi desleixada com a própria aparência, e eu não conseguia me lembrar de um
momento em que não fosse assim. Ela sempre pintava as unhas no domingo de manhã e
descascava o esmalte no domingo à noite, deixando pequenas manchas coloridas até o
próximo domingo de manhã, quando repetia a tarefa. Suas roupas estavam sempre sujas,
mas, antes de passá-las, às quatro da manhã, minha mãe espirrava nelas um desses sprays
amaciantes. Ela achava que aquilo era um substituto decente para a lavanderia local.
Eu discordava de sua técnica e, sempre que possível, pegava as roupas dela escondido para
lavá-las. A maioria das pessoas provavelmente deixava para lá quando passava por alguma
moeda no chão, mas, para mim, elas eram sinônimo de calças limpas durante a semana.
— Deve chover o dia todo. Vou limpá-las amanhã — respondi.
Só que não. Ela se esqueceria disso logo. E limpar as janelas do nosso apartamento no terceiro andar sem varanda parecia algo ridículo. Especialmente durante uma tempestade. Abri a porta da geladeira para olhar as prateleiras vazias. Fazia dias que não havia nada ali.
Continuei segurando a porta. Eu a abria e fechava, como se a comida fosse aparecer num passe de mágica para encher meu estômago, que roncava. Logo a porta da frente se abriu e, num passe de mágica, meu irmão Nicholas surgiu, carregando sacolas de supermercado e sacudindo a água da chuva de sua jaqueta.
— Está com fome? — perguntou ele, cutucando meu braço.
Talvez minha mãe só estivesse comendo sucrilhos porque era tudo o que tínhamos. Nicholas era a única pessoa em quem eu confiava além de Demi. Nós parecíamos gêmeos, mas ele era mais forte, mais bonito e mais estável. Meu irmão tinha o cabelo bem curtinho, usava roupas de grife e não tinha olheiras. Os únicos hematomas que apareciam em sua pele eram provocados pelos jogos de futebol na faculdade, coisa que não acontecia com frequência.
Nicholas foi agraciado com uma vida melhor simplesmente porque tinha um pai melhor. Ele era cirurgião. O meu estava mais para um farmacêutico das ruas, que oferecia drogas para os adolescentes do bairro e para a minha mãe.
DNA: às vezes você ganha, às vezes você perde.
— Nossa — disse ele, olhando para a geladeira. — Vocês vão precisar de mais coisas.
— Como você sabia que precisávamos de comida? — perguntei enquanto o ajudava a tirar as compras das sacolas.
— Eu liguei para ele — respondeu minha mãe, comendo um dos seus sucrilhos e bebendo o leite. — Você não consegue nem comprar comida para nós.
Minhas mãos se fecharam e bati com os punhos na lateral do corpo. Minhas narinas se expandiram, mas tentei conter a raiva. Eu odiava o fato de Nicholas ter que intervir e nos
ajudar tantas vezes. Ele merecia estar longe, muito longe da nossa realidade.
— Vou comprar mais algumas coisas e trago tudo quando sair da aula à noite.
— Você mora a uma hora daqui. Não tem que voltar para cá.
Ele me ignorou.
— Algum pedido especial? — perguntou.
— Comida seria bom — resmunguei, e meu estômago voltou a roncar.
Nicholas abriu a mochila e pegou dois sacos de papel marrom.
— Comida.
— Você cozinhou para nós?
— Bem, não exatamente. — ele pegou os sacos e os colocou na bancada. Eram ingredientes aleatórios, que ainda não haviam sido preparados. — Eu lembro que, quando você passou um tempo comigo, nós assistimos a muitos programas de culinária em que os participantes recebiam alguns suprimentos e tinham que preparar uma refeição. Demi me disse que você queria se tornar chef.
— Demi fala demais.
— Ela é louca por você.
Não discuti.
— Bem — ele sorriu, jogando uma batata na minha direção. — Tenho algum tempo livre antes de ir trabalhar. Faça sua mágica, chef!
E eu fiz. Comemos um panini grelhado com três tipos de queijo, presunto e molho de alho. Além disso, fiz batatas fritas caseiras com ketchup picante sabor bacon.
— Como está? — perguntei, os olhos fixos em Nicholas. — Gostou?
Coloquei metade do meu sanduíche diante de minha mãe. Ela balançou a cabeça.
— Dieta — murmurou, comendo seu último sucrilho.
— Caramba, Joseph. — Nicholas suspirou, ignorando a resposta dela. Eu gostaria de poder fazer o mesmo. — Isso é incrível!
Sorri, com uma centelha de orgulho.
— Sério?
— Quando mordi o sanduíche, quase morri de tão bom que está. Isso seria a única coisa que me faria acreditar no Paraíso.
Meu sorriso ficou ainda maior.
— Sério? Eu meio que me superei.
— Incrível.
Dei de ombros, com aquele olhar de satisfação no rosto.
— Sou meio incrível mesmo.
Eu nunca teria como agradecer a Nicholas. Aquela foi uma das coisas mais divertidas que fiz em muito tempo. Talvez um dia eu pudesse ir para a faculdade... talvez Demi estivesse
certa.
— Tenho que ir. Tem certeza de que não quer dar uma volta? — perguntou Nicholas.
Com certeza eu queria sair do apartamento. Mas não sabia se meu pai estava por perto, e eu não queria que ele se encontrasse com minha mãe. Sempre que os dois ficavam a sós, a
pele dela ganhava alguns tons de roxo.
Era preciso ser um demônio para bater em uma mulher.
— Não. Estou bem. Vou trabalhar no posto de gasolina mais tarde.
— Mas o posto não fica a uma hora a pé daqui?
— Não. Quarenta e cinco minutos. Mas tudo bem.
— Você quer que eu deixe dinheiro para a passagem de ônibus?
— Eu vou andando.
Nicholas pegou a carteira e colocou o dinheiro na mesa.
— Ouça... — ele se inclinou na minha direção e sussurrou: — Se quiser ficar na casa do meu pai, que é mais perto do seu trabalho...
— Seu pai me odeia — interrompi.
— Não odeia, não.
Olhei para ele como quem diz “tá de sacanagem, né?”.
— Tudo bem. Ele não morre de amores por você, mas vamos ser justos: você roubou trezentos dólares da carteira dele.
— Eu tinha que pagar o aluguel.
— Sim, mas, Joseph, seu primeiro pensamento não deveria ter sido roubá-lo.
— Então qual deveria ter sido? — perguntei, chateado, principalmente porque eu sabia que ele estava certo.
— Não sei. Talvez pedir ajuda?
— Não preciso da ajuda de ninguém. Nunca precisei e nunca vou precisar.
Meu orgulho sempre foi cruel. Eu entendia o motivo de algumas pessoas dizerem que era um pecado mortal.
Nicholas franziu o cenho; ele sabia que eu precisava fugir dali. Ficar naquele apartamento por muito tempo deixava qualquer um maluco.
— Tudo bem então. — ele se virou para nossa mãe e a beijou na testa. — Amo você.
Ela meio que sorriu.
— Tchau, Nicholas.
Ele veio para trás de mim, pousou as mãos em meus ombros e falou suavemente: — Ela está ainda mais magra do que na última vez que a vi.
— Está mesmo.
— Isso me assusta.
— Sim, a mim também. — a preocupação de Nicholas era evidente. — Mas fique tranquilo. Vou fazer com que ela coma alguma coisa.
A preocupação dele não desapareceu.
— Você parece mais magro também.
— É por causa do meu metabolismo acelerado — brinquei. Ele não riu. Dei um tapinha em suas costas. — Sério, Nicholas, estou bem. E vou tentar fazê-la comer. Prometo tentar, ok?
Ele soltou um suspiro.
— Bom, vejo você mais tarde. Se não tiver voltado do trabalho quando eu passar por aqui hoje à noite, nos vemos na semana que vem.
Nicholas acenou e, antes que ele fosse embora, eu o chamei.
— O que foi? — disse ele.
Ergui o ombro esquerdo. Ele fez o mesmo com o direito. Era assim que dizíamos “eu te amo” um para o outro. Meu irmão era muito importante para mim. Era a pessoa que um dia eu sonhava em me tornar. Ainda assim, nós éramos homens. E homens não diziam “eu te amo”. Na verdade, eu não dizia essas palavras a ninguém.
Pigarreei.
— Obrigado. Por... — ergui o ombro esquerdo novamente. — Tudo.
Ele sorriu e ergueu o ombro direito.
— Sempre.
Ele foi embora.
Meu olhar recaiu sobre minha mãe, que conversava com sua tigela de leite.
— Nicholas é o filho perfeito — murmurou ela antes de se voltar para mim. — Ele é muito melhor do que você.
Onde estava a versão sóbria da minha mãe?
— Sim — concordei, levantando-me e levando a comida para o meu quarto. — Eu sei, mãe.
— É verdade. Ele é bonito, inteligente e cuida de mim. Você não faz merda nenhuma.
— Você está certa. Eu não faço merda nenhuma por você — murmurei, indo embora. Não queria lidar com sua mente perturbada naquela manhã.
No meio do caminho para o quarto, me assustei quando a tigela passou raspando pela
minha orelha esquerda e se espatifou na parede. Leite e vidro quebrado espirraram em mim.
Voltei-me na direção de minha mãe, que tinha um sorriso malicioso nos lábios.
— Preciso que você limpe as janelas hoje, Joseph. Agora mesmo. Tenho um encontro esta noite. Ele vem me buscar, e este lugar está nojento — gritou ela. — Dê um jeito nesse caos.
Meu sangue começou a ferver, porque era ela quem estava um caos. Como alguém pode ficar tão perdido na vida? Havia alguma chance de ela voltar ao normal? Sinto tanto sua falta, mãe...
— Não vou limpar isso.
— Você vai, sim.
— Com quem você vai sair, mãe?
Ela se sentou ereta, como se fosse da realeza.
— Não é da sua conta.
— Sério? Porque eu tenho certeza de que a última pessoa com quem você saiu foi algum babaca que conheceu numa esquina qualquer. E antes dele você saiu com o meu pai e voltou com duas costelas quebradas.
— Não se atreva a falar do seu pai desse jeito. Ele é bom para nós. Quem você acha que paga a maior parte do nosso aluguel? Definitivamente não é você.
— Eu pago metade, o que já é muito, e ele não passa de um merda.
Minha mãe bateu as mãos na mesa, irritada. Seu corpo estava trêmulo, e ela ficava cada vez mais inquieta.
— Ele é mais homem do que você jamais poderá ser!
— É? — Fui até ela e vasculhei seus bolsos, sabendo exatamente o que encontraria. — Ele é mais homem? E por quê?
Finalmente achei o saquinho de cocaína em seu bolso de trás. Eu o balancei diante do rosto
dela e vi o pânico em sua expressão.
— Pare com isso! — gritou minha mãe, tentando tomá-lo de mim.
— Não, eu entendo. Ele te dá isso, e isso o torna um homem melhor do que eu jamais poderei ser. Ele bate em você, porque é um homem melhor. Ele cospe na sua cara e te chama de merda, porque é um homem melhor do que eu. Não é?
Ela começou a ficar muito nervosa. Não pelas minhas palavras, pois eu tinha certeza de que ela raramente me ouvia, mas tremia de medo porque seu amigo, o pó branco, estava em perigo.
— Me dê isso, Joseph! Pare!
Seus olhos estavam vazios, e eu tinha a impressão de que lutava com um fantasma. Com um suspiro, atirei o saquinho na mesa de jantar. Vi quando ela limpou o nariz antes de abri-lo, pegou a navalha e formou duas carreiras finas.
— Você não tem jeito. Chegou ao fundo do poço e nunca vai ficar bem — desabafei enquanto ela cheirava o pó.
— Olha quem está falando, o cara que provavelmente vai para o quarto fechar a porta e cheirar o presente que ganhou do papai. Ele é o grande Lobo Mau, mas o Chapeuzinho
Vermelho gosta quando ele aparece, porque consegue uma dose extra. Você acha que é melhor do que eu ou ele?
— Acho — falei. Eu usava drogas, mas não muito. Eu tinha o controle. Não era um viciado.
Eu era melhor do que meus pais.
Tinha que ser.
— Não é, não. Sua alma tem o pior de nós dois. Nicholas é bom, vai ter uma vida boa. Mas você? — ela fez mais duas carreiras de cocaína. — Eu ficaria surpresa se você não estivesse morto aos vinte e cinco anos.
Meu coração.
Parou de bater.
Quando as palavras saíram da boca de minha mãe, fiquei chocado. Ela sequer hesitou ao dizer aquilo, e senti uma parte de mim morrer. Eu queria contrariar todas as expectativas dela. Queria ser forte, estável, digno de viver.
Mas, ainda assim, eu era como um hamster na roda.
Dava voltas e voltas, sem chegar a lugar algum.
Entrei no quarto, bati a porta e me perdi no universo habitado por meus próprios demônios. Fiquei imaginando como seria minha vida se eu nunca tivesse dito oi para meu pai tantos anos atrás. O que teria acontecido se nunca tivéssemos nos cruzado.

***

Logan, sete anos

Conheci meu pai na varanda de um estranho. Minha mãe me levou a uma casa naquela noite e me disse que esperasse do lado de fora. Falou que seria apenas uma passada rápida e que logo iríamos para casa, mas parecia que ela e os amigos estavam se divertindo mais do que imaginaram.

O lugar estava em ruínas, e meu moletom vermelho não era a melhor opção para o frio do inverno, mas eu não me queixava. Minha mãe odiava quando eu reclamava, ela dizia que eu parecia um fraco.
Havia um banco de metal quebrado na varanda, e me sentei nele, dobrando as pernas e encostando os joelhos no queixo. O tempo passava. A tinta cinza do corrimão da escada estava descascando, e suas ripas de madeira, rachadas, acumulavam neve que já havia derretido e congelado novamente.
Vamos, mãe.
Estava muito frio naquele dia. Eu podia ver o vapor da minha respiração, então, para passar o tempo, ficava soprando ar quente nas mãos.
Pessoas entraram e saíram da casa o dia todo e sequer me notaram sentado no banco. Enfiei a mão no bolso de trás, peguei um pequeno bloco de papel e a caneta que eu sempre levava comigo e comecei a fazer alguns rabiscos. Sempre que minha mãe não estava por perto, eu desenhava.
Fiz muitos desenhos, até que comecei a bocejar. Por fim, adormeci, puxei o moletom vermelho por cima das pernas e me deitei no banco. Quando estava dormindo, não sentia tanto frio, o que era bom.
— Ei! — chamou uma voz áspera, me acordando. No instante em que abri os olhos, me lembrei do frio. Meu corpo começou a tremer, mas não me sentei. — Ei, garoto! O que você está fazendo aqui, porra? Levante.
Sentei e esfreguei os olhos, bocejando.
— Minha mãe está lá dentro. Só estou esperando ela.
Meus olhos focaram no cara que estava falando comigo e se arregalaram. Ele era mal-encarado e tinha uma grande cicatriz no lado esquerdo do rosto. Seu cabelo era desgrenhado, grisalho, e os olhos se pareciam um pouco com os meus. Castanhos e entediados.
— É? Há quanto tempo você está aí? — sussurrou ele, com um cigarro entre os lábios.
Olhei para o céu, já era noite. Estava claro quando eu e minha mãe chegamos. Não respondi. Ele resmungou e se sentou ao meu lado. Cheguei mais perto da extremidade do banco, afastando-me o máximo possível dele.
— Desembucha, garoto. Ninguém vai machucar você. Sua mãe é viciada? — perguntou ele. Eu não sabia o que isso significava, então dei de ombros. Ele riu. — Se ela está nessa casa, é viciada. Qual é o nome dela?
— Julie — sussurrei.
— Julie de quê?
— Julie Jonas.
Seus lábios se entreabriram, e ele inclinou a cabeça, olhando em minha direção.
— Julie Jonas e é sua mãe?
Assenti.
— E ela deixou você aqui fora?
Assenti novamente.
— Aquela cadela... — murmurou o homem, levantando-se do banco com as mãos fechadas. Ele fez menção de entrar na casa, mas se deteve ao abrir a porta de tela. Pegou o cigarro que estava em seus lábios e o estendeu para mim. — Você fuma maconha?
Não era um cigarro comum. Eu deveria ter percebido pelo cheiro.
— Não.
— Você disse Julie Jonas, certo? — assenti pela terceira vez. Ele colocou o cigarro em minhas mãos. — Então você fuma maconha. Isso vai mantê-lo aquecido. Já volto com a vadia da sua mãe.
— Ela não é uma... — a porta bateu antes que ele pudesse me ouvir completar a frase — ... vadia.
Segurei o baseado entre os dedos e estremeci de frio.
Isso vai mantê-lo aquecido.
Eu estava congelando ali.
Dei uma tragada e quase engasguei de tanto tossir.
Tossi por bastante tempo e pisei no baseado. Não entendia por que alguém fazia aquilo, por que alguém sentia vontade de fumar. Naquele momento, jurei nunca mais fumar de novo.
Quando o homem saiu da casa, arrastava minha mãe com ele. Ela estava suada e mal parecia consciente.
— Pare de me puxar, Ricky! — gritou ela.
— Cala a boca, Julie. Você deixou seu maldito filho aqui o dia todo, sua drogada.
Meus punhos se fecharam, e eu estufei o peito. Como ele ousava falar daquele jeito com a minha mãe? Ele não a conhecia. Ela era minha melhor amiga, a única amizade que eu tinha além do meu irmão Nicholas. E aquele cara não tinha o direito de falar com ela daquele jeito. Nicholas ficaria furioso se o ouvisse dizer aquelas coisas. Ainda bem que ele não estava ali e tinha ido viajar com o pai para pescar no gelo.
Eu não sabia que as pessoas podiam pescar quando havia gelo, mas Nicholas tinham me explicado como faziam isso na semana passada. Minha mãe disse que pesca no gelo era para esquisitões e perdedores.
— Eu disse a você, Ricky! Não estou mais usando nada. E-eu juro — gaguejou ela. — Só parei aqui para ver Becky.
— Mentira — retrucou ele, puxando-a. — Vamos lá, garoto.
— Aonde estamos indo, mãe? — perguntei, indo atrás dela, perguntando-me o que aconteceria em seguida.
— Vou levar vocês para casa — respondeu o homem. Ele colocou minha mãe no banco do carona; ela se recostou e fechou os olhos. Em seguida, o homem abriu a porta de trás para mim e fechou-a assim que entrei. — Onde vocês moram? — perguntou ao se sentar no banco do motorista. Logo o carro se afastava do meio-fio.
O carro era bacana, mais do que qualquer outro que eu já tinha visto. Minha mãe e eu pegávamos ônibus para ir a qualquer lugar, por isso me senti como um rei naquele banco de trás.
Minha mãe começou a tossir desesperadamente.
— É por isso que eu tinha que encontrar Becky. Meu senhorio está sendo um idiota e disse que eu não paguei os últimos dois meses! Mas eu paguei, Ricky! Pago aquele idiota, e ele está agindo como se eu não pagasse. Então vim para ver se Becky me arranjava um dinheiro.
— Desde quando Becky tem dinheiro? — perguntou ele.
— Desde nunca. Ela não tinha dinheiro, acho. Mas eu precisava vir, porque o proprietário disse que eu não poderia voltar se não tivesse o dinheiro. Então não sei para onde devemos ir. Você deveria me deixar falar com Becky agora mesmo — murmurou ela, abrindo a porta do carro enquanto o veículo estava em movimento.
— Mãe!
— Julie!
Ricky e eu gritamos ao mesmo tempo. Do banco de trás, estendi a mão e consegui segurar a camisa dela. Ricky, por sua vez, puxou-a pela manga e fechou a porta do carro.
— Você está maluca? — gritou. — Que droga! Vou pagar a dívida amanhã, mas esta noite você vai ficar na minha casa.
— Você faria isso, Ricky? Meu Deus, nós ficaríamos muito gratos. Não é, Joe? Eu vou te pagar, vou devolver cada centavo.
Meneei a cabeça, finalmente sentindo o calor dentro do carro.
Calor.
— Vou dar comida ao garoto também. Duvido que você o alimente.
Ele enfiou a mão no bolso e pegou um maço de cigarros e um isqueiro em forma de dançarina de hula-hula. Quando ele acendeu o isqueiro, a dançarina moveu os quadris. Fiquei hipnotizado com aquilo, não conseguia desviar os olhos dela. Mesmo depois de dar a primeira tragada no cigarro, o homem o acendia e apagava sem parar.
Quando chegamos ao apartamento de Ricky, fiquei deslumbrado com a quantidade de coisas que ele tinha. Dois sofás e uma poltrona enorme, pinturas, uma televisão imensa, TV a cabo e a geladeira cheia, com comida suficiente para alimentar o mundo. Depois que eu comi, ele me acomodou em um dos sofás, e eu comecei a ficar sonolento, mas ainda ouvia os sussurros da minha mãe no corredor.
— Ele tem os seus olhos.
— Sim, eu sei. — oo tom de voz dele parecia perverso, mas eu não sabia por quê. Escutei seus passos se aproximarem de mim e abri os olhos. Ele se agachou ao meu lado, as mãos entrelaçadas, e estreitou o olhar. — Você é meu filho, não é?
Não respondi.
O que eu deveria dizer?
Um sorriso malicioso surgiu no canto de sua boca. Ele acendeu um cigarro e soprou a fumaça na minha cara.
— Não se preocupe, Joseph. Vou cuidar de você e de sua mãe. Prometo.

***

Às quatro da manhã, quando o efeito da droga começou a passar, deitei na cama e fiquei
olhando para o teto.
— Está acordada?
Encarei o telefone, esperando que os pontinhos aparecessem, mas isso não aconteceu.
Quando o aparelho tocou, respirei fundo.
— Eu acordei você — sussurrei.
— Mais ou menos — respondeu Demi. — O que aconteceu?
— Nada — menti. — Estou bem.
Você vai morrer antes dos vinte e cinco anos.
— Foi sua mãe ou seu pai?
Ela sempre sabia de tudo.
— Minha mãe.
— Ela estava chapada ou sóbria?
— Chapada.
— Você acredita no que quer que ela tenha dito ou não?
Hesitei e comecei a acender e apagar meu isqueiro.
— Ah, Joseph.
— Desculpe por acordar você. Vou desligar. Volte a dormir.
— Não estou cansada. — ela bocejou. — Fique comigo no telefone até dormir, ok?
— Ok.
— Você está bem, Joseph Adam Jonas.
— Estou bem, Demetria Devonne Lovato.
Mesmo sendo uma mentira, a voz de Demi sempre me fazia acreditar naquilo.

neste capítulo é mais para mostrar um pouco do passado do Joseph.
o pai do Joseph é um nojento e que abandonou ele e a mãe.
Demi sempre ajudando o Joseph, que amor <3
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
volto logo e respostas do capítulo anterior aqui.

19/03/2018

2. best friends


— Oi, pai. Só queria saber se você vai vir pro recital de piano.
— Oi! Você viu minha última mensagem?
— Oi, sou eu de novo. Estou mandando essa mensagem só pra saber se você está bem. Dallas e eu estamos preocupadas.
 Pai?
— Você ainda está acordado, Joe?
Olhei para o celular, meu coração batendo forte ao enviar a mensagem para Joseph. Vi as
horas, respirei fundo.
Duas e trinta e três da madrugada.
Eu deveria estar dormindo, mas estava pensando em meu pai novamente. Mandei quinze
mensagens de texto e dez mensagens de voz para ele nos últimos dois dias, mas não tive
retorno.
Coloquei o celular sobre o peito e respirei fundo. Quando o aparelho começou a vibrar, eu
o atendi rapidamente.
— Você deveria estar dormindo — sussurrei, feliz por ele ter ligado. — Por que não está?
— Qual é o problema? — perguntou Joseph, ignorando minha pergunta.
Uma risada escapou dos meus lábios.
— Por que você acha que estou com problemas?
— Demi... — repreendeu ele, severo.
— O mala sem alça não me ligou de volta. Liguei para ele vinte vezes essa semana, mas
ele não me retornou.
Mala sem alça era o apelido que dei ao meu pai depois que ele saiu de casa. Nós éramos
muito próximos, os músicos da família, e, quando ele se foi, uma parte de mim foi embora junto. Eu não falava muito sobre meu pai, e, embora eu nunca tenha dito isso claramente,
Joseph sabia que aquela situação me incomodava.
— Esqueça ele. O cara é uma merda.
— O recital de piano do verão, o mais importante da minha carreira até agora, está
chegando, e não sei se vou conseguir participar sem a presença dele.
Tentei ao máximo manter as emoções sob controle. Fiz o melhor que pude para não
chorar, mas estava perdendo a batalha aquela noite. Eu me preocupava mais com ele do que a mamãe ou Dallas. Talvez por elas nunca terem entendido sua personalidade, como artista, como músico. As duas tinham sempre o pé no chão, eram muito estáveis, enquanto meu pai e eu éramos espíritos livres, indomáveis como o fogo.
Mas ele não havia telefonado nos últimos dias. E eu estava muito preocupada.
— Demi... — começou Joseph.
— Joseph — sussurrei, minha voz levemente trêmula. Ele ouviu os soluços do outro lado da
linha, e eu me sentei. — Quando eu era pequena, tinha muito medo de tempestades e
trovões. Eu corria para o quarto dos meus pais e pedia para dormir lá. Minha mãe nunca
deixava, ela dizia que eu tinha que aprender que as tempestades não me fariam mal. O mala sem alça sempre concordava com ela. Então, eu voltava para o meu quarto, me encolhia embaixo dos cobertores, ouvia os trovões e fechava os olhos para não ver os relâmpagos. Um minuto depois, a porta do quarto se abria, ele trazia o teclado e tocava ao lado da minha cama até eu adormecer. Consigo me manter forte a maior parte do tempo. Fico bem. Mas, hoje, com a tempestade e todas as chamadas não atendidas... Ele está acabando comigo.
— Não permita que isso aconteça, Demi. Não deixe ele vencer.
— Eu só... — comecei a chorar ao telefone. — Só estou triste, só isso.
— Estou a caminho.
— O quê? Não. Está tarde.
— Estou a caminho.
— Os ônibus param de circular às duas, Joseph. E minha mãe trancou o portão. Você não
teria como entrar. Está tudo bem.
Minha mãe era uma advogada importante e tinha dinheiro. Muito dinheiro. Morávamos
no topo de uma colina, e nossa propriedade tinha um enorme portão. Era quase impossível entrar depois que ela o trancava à noite.
— Estou bem — insisti. — Só precisava ouvir sua voz. E que você me lembrasse de que
estou melhor sem ele.
— Porque você está — disse Joseph.
— Estou.
— Demi, é sério. Você está melhor sem o mala sem alça.
Voltei a chorar descontroladamente e tive que levar a mão à boca para que Joseph não me ouvisse. Meu corpo tremia. Desmoronei, as lágrimas caindo, meus pensamentos me deixando ainda mais nervosa.
E se alguma coisa tivesse acontecido com ele? E se ele estivesse bebendo de novo? E se...
— Estou a caminho.
— Não.
— Demi, por favor. — o tom de voz de Joseph parecia quase suplicante.
— Você está chapado? — perguntei.
Ele hesitou, e aquilo foi o suficiente para mim. Eu sempre sabia quando ele tinha fumado
maconha, na verdade, ele quase sempre estava chapado. Joseph sabia que isso era algo que me incomodava, mas dizia que era como um hamster na roda, incapaz de mudar seus hábitos.
Éramos tão diferentes. Eu não havia feito muita coisa na vida. Praticamente só trabalhava, tocava piano e saía com Joseph. Ele era muito mais experiente em algumas coisas. Já tinha usado drogas que eu sequer sabia o nome. Desaparecia quase toda semana, geralmente depois de cruzar com o pai ou discutir com a mãe, mas sempre voltava para mim.
Eu me esforçava para fingir que aquilo não me incomodava, mas, às vezes, não conseguia disfarçar.
— Boa noite, melhor amigo — falei com delicadeza.
— Boa noite, melhor amiga — respondeu ele, suspirando.

***

Ele estava com as mãos para trás, encharcado da cabeça aos pés. O cabelo preto,
normalmente liso, estava ondulado, colado na testa, e cobria os olhos. Usava seu moletom de capuz vermelho favorito e um jeans preto que tinha mais rasgos do que eu julgava ser possível em uma calça. Nos lábios, um sorriso bobo.
— Joseph, são três e meia da manhã — sussurrei, esperando não acordar minha mãe.
— Você estava chorando — justificou ele, de pé no vão da porta. — E a tempestade não
parou.
— Você veio andando até aqui? — perguntei.
Ele espirrou.
— Não é tão longe.
— Você escalou o portão?
Joseph se virou um pouco, mostrando-me um dos rasgos no jeans.
— Escalei o portão e... — ele finalmente mostrou as mãos, que seguravam uma fôrma de
torta embrulhada em papel alumínio. — Trouxe uma torta para você.
— Você fez uma torta?
— Assisti a um documentário sobre tortas hoje cedo. Você sabia que elas existem desde o
Egito Antigo? A primeira torta de que se tem registro foi criada pelos romanos e era de
centeio...
— Torta de queijo de cabra e mel? — interrompi.
Ele ficou chocado.
— Como você sabe?
— Você me disse ontem.
Joseph pareceu um pouco envergonhado.
— Ah. Certo.
Eu ri.
— Você está chapado.
Ele riu.
— Estou mesmo.
— São quarenta e cinco minutos a pé da sua casa até aqui, Joseph. Você não deveria ter
andado tanto. E está tremendo. Entre.
Puxei-o pela manga do moletom, que estava pingando, e o conduzi pelo corredor até o
banheiro da minha suíte. Fechei a porta e fiz Joeph se sentar na tampa do vaso.
— Tire o moletom e a camisa — pedi.
Ele sorriu maliciosamente.
— Você não vai nem me oferecer uma bebida primeiro?
— Joseph Adam Jonas, não fale coisas estranhas.
—  Demetria Devonne Lovato, sou sempre estranho. É por isso que você gosta de mim.
Ele não estava errado.
Joseph tirou o moletom e a camisa e as jogou na banheira. Meus olhos percorreram seu
peitoral por um segundo, e eu tentei ao máximo ignorar o frio na barriga enquanto envolvia seu corpo com algumas toalhas.
— O que estava passando pela sua cabeça?
Seus olhos eram gentis, e ele se inclinou na minha direção, fixando seu olhar no meu.
— Você está bem?
— Estou. — passei os dedos pelo cabelo de Joseph, que estava gelado e macio. Ele
observava cada movimento meu. Peguei uma toalha pequena, me ajoelhei diante dele e
comecei a secar seu cabelo, balançando a cabeça em um gesto de reprovação. 
Você deveria ter ficado em casa.
— Seus olhos estão vermelhos.
Eu ri.
— Os seus também.
Um trovão soou lá fora, e eu me assustei. Josepg pousou a mão em meu braço para me
confortar, e um breve suspiro escapou de meus lábios. Fitei os dedos que me tocavam, e o
olhar dele recaiu sobre o mesmo lugar. Pigarreei e dei um passo para trás.
— Vamos comer a torta agora?
— Vamos.
Fomos para a cozinha em silêncio, na esperança de não acordar minha mãe, mas eu tinha
quase certeza de que ela não acordaria graças à quantidade de remédios para dormir que
tomava toda noite. Sem camisa e com o jeans ainda encharcado, Joseph sentou-se na bancadasegurando a torta.
— Pratos? — ofereci.
— Só um garfo — respondeu ele.
Peguei um garfo e sentei-me na bancada ao lado de Joseph. Ele pegou o talher da minha
mão, cortou um grande pedaço de torta e o estendeu para mim. Dei uma mordida, fechei os olhos e me apaixonei.
Meu Deus.
Ele era um ótimo cozinheiro. Com certeza não havia muitas pessoas capazes de fazer uma
torta de queijo de cabra e mel. Joseph não apenas a preparou, deu vida a ela. Era cremosafresca, muito deliciosa.
Fechei os olhos e abri a boca, à espera de outra garfada, que ele me deu.
— Hum — suspirei de leve.
— Você está gemendo por causa da minha torta?
— Com certeza estou gemendo por causa da sua torta.
— Abra a boca. Quero ouvir isso de novo.
Ergui uma sobrancelha.
— Você está falando coisas estranhas de novo.
Joseph sorriu. Eu amava aquele sorriso. Ele não tinha muitos motivos na vida para sorrir,
por isso aprendi a valorizar cada um daqueles momentos. Ele pegou um pedaço da torta e o aproximou dos meus lábios. Começou a fazer ruídos de avião, movendo o garfo como se
estivesse voando. Fiz um grande esforço para não rir, mas não resisti. Abri a boca, e o avião aterrissou.
— Hum.
— Você geme muito bem.
— Se eu ganhasse um dólar toda vez que ouço isso... — zombei.
Ele semicerrou os olhos.
— Você teria zero dólares e zero centavos — retrucou Joseph.
— Você é tão idiota...
— Só para ficar claro, se qualquer outro cara além de mim disser que você geme bem,
mesmo que seja em tom de brincadeira, eu acabo com ele.
Joseph sempre dizia que iria acabar com qualquer cara que olhasse para mim, e
provavelmente esse era um dos motivos pelos quais meus relacionamentos não davam certo: todos tinham muito medo de Joseph Adam Jonas. Mas eu não tinha medo dele. Para
mim, ele era um grande urso de pelúcia.
— Essa é a melhor coisa que comi o dia todo. É tão bom que quero emoldurar o garfo.
— Tão bom assim? — ele sorriu, bastante orgulhoso.
Tão bom assim. Já falamos sobre isso antes, você deveria fazer faculdade de gastronomia. Você se daria muito bem.
Ele bufou, franzindo o cenho.
— Faculdade não é para mim.
— Mas pode ser.
— Próximo assunto — disse Joseph.
Eu não o pressionaria. Sabia que aquele era um assunto delicado. Joseph não se achava
inteligente o suficiente para entrar na faculdade, mas isso não era verdade. Ele era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia. Se ele se visse da maneira como eu o via, sua vida mudaria para sempre.
Roubei o garfo de sua mão, levei mais um pedaço à boca e gemi alto para deixar a
conversa mais leve. Joseph sorriu novamente. Ótimo.
— Estou muito feliz por você ter trazido isso, Joseph. Quase não comi o dia todo. Minha mãe
disse que eu precisava perder uns dez quilos antes de começar a faculdade no outono, caso contrário corro o risco de me transformar em um boneco da Michelin no primeiro ano.
—Você não acha que está exagerando?
— Minha mãe disse que eu já estou acima do peso, e todos engordam no primeiro ano de
faculdade. Então provavelmente vou ficar muito mais gorda que a maioria dos estudantesVocê sabe, é assim que ela me ama.
Ele revirou os olhos.
— Que amor.
— Não devo comer depois das oito da noite.
— Felizmente já passou das quatro da manhã. É um novo dia! Devemos comer a torta toda
antes das oito!
Eu ri, tapando a boca de Joseph para que ele não continuasse falando alto. Senti seus lábios beijarem a palma da minha mão de leve, e meu coração teve um sobressalto. Afastei a mão devagar, sentindo mais uma vez aquele frio no estômago.
— É um trabalho árduo, mas alguém tem que fazer isso.
E assim foi, comemos a torta toda. Quando fui lavar o garfo, ele segurou a minha mão.
— Não, não podemos lavá-lo. Temos que emoldurá-lo, lembra?
Quando a mão dele segurou a minha, meu coração parou de bater por um instante.
Nossos olhos se encontraram, e ele se aproximou.
Só para você saber: você é linda do jeito que é. Dane-se a opinião da sua mãe. Acho
você bonita. Não apenas por fora, com aquela beleza que acaba com o tempo, mas de todos os modos possíveis. Você é uma pessoa incrivelmente bonita, então, foda-se a opinião dos outros. Você sabe o que acho sobre as pessoas.
Assenti, pois conhecia seu lema de cor.
— Fodam-se as pessoas, é melhor ter um bicho de estimação.
— É isso aí.
Joseph sorriu e apertou minha mão. Quando se afastou, senti falta do seu toque. Ele
bocejou, o que me distraiu dos meus batimentos cardíacos irregulares.
— Cansado? — perguntei.
— Eu dormiria agora.
— Vai ter que ir embora antes da minha mãe acordar.
— Não faço isso sempre?
Fomos para o meu quarto. Dei a Joseph uma calça de moletom e uma camisa que eu havia
roubado dele há algumas semanas. Depois que ele se trocou, nós nos deitamos. Eu nunca
tinha dividido uma cama com um cara, com exceção de Joseph. Às vezes, quando dormíamos juntos, eu acordava com a cabeça no peito dele e, antes de me afastar, ouvia as batidas de seu coração. Ele respirava pesadamente, pela boca. Na primeira vez que fizemos isso, não consegui pregar os olhos. No entanto, com o passar do tempo, seus sons se tornaram um refúgio para mim, como um lar. Descobri que um lar não é um lugar específico, mas a sensação que temos quando estamos com as pessoas que são importantes para nós, um sentimento de paz que apaga os incêndios da alma.
— Muito cansado? — perguntei quando estávamos deitados na escuridão, minha mente
ainda desperta.
— Sim, mas podemos conversar.
— Só estava pensando... Você nunca me contou por que ama tanto documentários.
Ele passou as mãos pelo cabelo antes de deixá-las na nuca. Ficou olhando para o teto.
— Fiquei com meu avô durante um verão antes de ele morrer. Ele tinha um documentário
sobre a galáxia, e aquilo me deixou viciado em saber tudo... de tudo. Eu queria me lembrar do nome do documentário, eu o compraria num piscar de olhos. Era algo como buraco negro... ou estrela negra... — ele franziu o cenho. — Não sei. Não importa. Começamos a assistir a documentários juntos, e isso se tornou algo nosso. Foi o melhor verão da minha vida. — uma onda de tristeza o invadiu. — Depois que ele morreu, continuei com nossa tradição. Provavelmente é uma das únicas tradições que já segui.
— Você sabe muito sobre as estrelas?
Muito. Se houvesse um lugar nessa cidade sem tanta poluição luminosa, eu te mostraria
as estrelas e algumas constelações. Mas, infelizmente, acho que não há.
— Que pena. Eu adoraria vê-las. Mas estive pensando... Você deveria fazer um
documentário sobre a sua vida.
Ele riu.
— Ninguém iria querer assistir a isso.
Inclinei a cabeça em sua direção.
— Eu assistiria.
Ele deu um meio sorriso antes de passar o braço em torno dos meus ombros e me puxar
para perto de si. Seu calor sempre enviava faíscas pelo meu corpo.
— Josph? — sussurrei, meio acordada, meio dormindo, apaixonando-me em segredo pelo
meu melhor amigo.
— Sim?
Fiz menção de falar, mas, em vez de palavras, saiu apenas um suspiro. Apoiei minha
cabeça no peito dele e ouvi o som das batidas de seu coração. Comecei a contá-las. Um... dois...quarenta e cinco...
Em poucos minutos, minha mente desacelerou. Em poucos minutos, esqueci o motivo de
estar tão triste. Em poucos minutos, adormeci.

Joseph faz tudo pela a Demi mesmo e os dois já estão sentindo um sentimento diferente.
a Demi ainda vai ter muitos problemas com o pai dela.
mas o Joseph vai ajudar muito ela e vai vim muitas tretas por aí.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.

11/03/2018

1. friendship


Dois anos, sete namoradas, dois namorados,
nove términos e uma amizade
ainda mais forte depois.

Assisti a um documentário sobre tortas.

Passei duas horas da minha vida sentado em frente a uma televisão pequena, assistindo a
um DVD da locadora sobre a história das tortas. As tortas remontam à época dos antigos
egípcios. A primeira de que se tem registro foi criada pelos romanos, foi feita com queijo de cabra e mel e coberta com centeio. Parecia ser muito nojenta, mas, de alguma forma, no final do documentário, tudo que eu queria era comer aquela maldita torta.
Eu não era muito de comer tortas, gostava mais de bolos, mas, naquele momento, eu só
conseguia pensar em comer aquela massa folheada e crocante.
Eu tinha todos os ingredientes necessários para prepará-la. A única coisa que me impedia
de fazer isso era Shay, minha agora ex-namorada, para quem mandei algumas indiretas nas últimas horas.
Eu era péssimo em terminar relacionamentos. Na maioria das vezes, enviava mensagens
de texto com um simples “não está dando certo, desculpe” ou dava um telefonema de cinco segundos, mas Demi havia me dito que terminar com alguém pelo telefone era a pior coisa que uma pessoa poderia fazer.
Então, eu tinha que me encontrar com Shay. Péssima ideia.
Shay, Shay, Shay. Quem me dera não ter transado com ela. Três vezes. Depois que eu terminei com ela. Mas agora já passava de uma da manhã e...
Ela. Não. Ia. Embora.
Também não parava de falar.
Nós estávamos em frente ao meu prédio, e caía uma chuva fria. Eu só queria ir para o meu quarto e relaxar um pouco. Era pedir muito? Fumar um baseado, ver outro documentário e fazer uma torta. Ou cinco tortas.
Queria ficar sozinho. Ninguém gostava mais de ficar sozinho do que eu.
Meu celular apitou e vi o nome de Demi aparecer na tela.
Demi: Já fez a boa ação?
Sorri, sabendo que ela se referia ao término com Shay.
— Sim.
Vi os três pontinhos aparecerem no meu telefone, indicando que ela estava respondendo.
Demi: Mas você não transou com ela, transou?
Mais pontinhos.
Demi: Meu Deus, você transou com ela.
Mais pontinhos.
Demi: O que houve com as indiretas?
Não pude deixar de rir, porque ela me conhecia melhor do que ninguém. Nos últimos dois
anos, eu e Demi nos tornamos melhores amigos, apesar de sermos o extremo oposto um do outro. A irmã mais velha dela estava namorando meu irmão Nicholas, e, no começo, nós
achávamos que não tínhamos nada em comum. Ela ia à igreja, enquanto eu fumava maconha na esquina. Ela acreditava em Deus, enquanto eu enfrentava meus próprios demônios. Ela tinha um futuro, enquanto eu, de alguma forma, parecia preso no passado.
Mas tínhamos, sim, algumas coisas em comum, e, de um modo estranho, elas davam
sentido à nossa amizade. A mãe dela apenas a tolerava, a minha me odiava. O pai dela era um idiota, o meu era satanás em pessoa.
Quando percebemos as pequenas coisas que tínhamos em comum, passamos mais tempo juntos, e nossa amizade se fortaleceu ainda mais.
Ela era a minha melhor amiga, o ponto alto dos meus dias de merda.
— Transei com ela uma vez.
Demi: Duas vezes.
 Sim, duas vezes.
Demi: Três vezes Joseph? Meu Deus!
— Com quem você está falando? — choramingou Shay, e meu olhar se desviou do telefone.
— Quem poderia ser mais importante do que a nossa conversa agora?
— Demi — respondi sem rodeios.
— Sério? Ela simplesmente não consegue largar do seu pé, não é? — reclamou Shay. Isso
não era novidade, todas as garotas com quem eu saí nos últimos dois anos tinham ciúmes de Demi e do nosso relacionamento. — Aposto que você transa com ela de vez em quando.
— É — eu disse.
Essa foi a primeira mentira. Demi não era fácil e, mesmo se fosse, não seria fácil comigo.
Ela tinha padrões, padrões aos quais eu não correspondia. Além disso, eu também havia
estabelecido padrões para os relacionamentos dela, padrões aos quais nenhum cara
correspondia. Ela merecia o mundo, e a maioria das pessoas em True Falls, Wisconsin, tinha apenas migalhas para oferecer.
— Aposto que ela é o motivo de você estar terminando comigo.
— Sim, é.
Essa foi a segunda mentira. Eu fazia minhas próprias escolhas, mas Demi sempre me
apoiava, independentemente de qualquer coisa. No entanto, ela nunca deixava de dar sua
opinião e sempre me dizia quando eu estava errado em meus relacionamentos. A sinceridade dela era dolorosa às vezes.
— Ela nunca levaria você a sério. Ela é uma boa menina, e você... Você é um merda! —
gritou Shay.
— Você está certa.
Essa foi a primeira verdade.
Demi era uma boa menina, e eu era o cara que nunca teria a chance de ficar com ela. Às
vezes, eu até olhava para aquele cabelo liso e pensava em como seria abraçá-la e saborear seus lábios lentamente. Talvez, em um mundo diferente, eu fosse bom o suficiente para ela. Talvez, em um mundo diferente, eu tivesse uma vida melhor e não fosse um merda.
Eu faria faculdade e teria uma carreira, algo que me daria muito orgulho. Então, eu a
convidaria para sair, a levaria a um restaurante chique e diria a ela que pedisse qualquer coisa no cardápio, porque dinheiro não era um problema.
Eu poderia dizer a ela que seus olhos sempre sorriam, mesmo quando ela franzia o
cenho, e que eu amava o modo como ela mordia a gola da camisa quando estava ansiosa ou entediada.
Eu poderia ser digno de ser amado, e ela me permitiria amá-la também.
Em um mundo diferente, talvez. Mas eu só tinha o aqui e agora, e Demi era minha melhor amiga.
Eu tinha sorte de tê-la dessa forma.
— Você disse que adorava ficar comigo! — as lágrimas de Shay rolavam por seu rosto.
Há quanto tempo ela estava chorando? Aquela garota era uma chorona profissional.
Olhei para ela e enfiei as mãos nos bolsos da minha calça jeans. Meu Deus. Ela estava
péssima. Ainda estava meio chapada, e a maquiagem, borrada, manchava o rosto todo.
— Eu não disse isso, Shay.
— Sim, você disse! Mais de uma vez! — jurou ela.
— Você está imaginando coisas.
Rastreei minha memória em busca do instante em que eu teria pronunciado aquelas
palavras, mas eu sabia que isso não havia acontecido. Eu não adorava ficar com ela, não a
amava, mal gostava dela. Meus dedos massagearam minhas têmporas. Shay realmente
precisava entrar no carro e ir para bem longe.
— Não sou idiota, Joseph! Eu sei o que você disse! — pelas suas palavras, ela acreditava
mesmo naquilo. Isso era muito triste. — Você disse isso hoje cedo! Lembra? Você disse que
adorava ficar comigo.
Hoje?
Ah, droga.
— Shay, eu disse que adoro trepar com você. Não que eu adoro ficar com você.
— É a mesma coisa.
— Acredite, não é.
Shay pegou a bolsa e me atacou, e eu permiti que ela me batesse. A verdade era que eu
merecia aquilo. Ela girou a bolsa de novo, e eu deixei que me atingisse mais uma vez.
Quando ela estava prestes a me atacar pela terceira vez, agarrei a bolsa e puxei-a. Pousei a mão na parte inferior de suas costas, e ela estremeceu ao meu toque. Pressionei seu corpo contra o meu. Sua respiração era pesada, e as lágrimas ainda rolavam por seu rosto.
— Não chore — sussurrei, usando meu charme para tentar fazê-la ir embora. — Você é
bonita demais para chorar.
— Você é um idiota, Joseph.
— E é exatamente por isso que você não deve ficar comigo.
— Nós terminamos há três horas, e você se tornou uma pessoa completamente diferente.
— Que engraçado — murmurei. — Porque, pelo que lembro, foi você que ficou diferente
quando saiu com Bradley.
— Ah, nem vem. Foi um erro. Nem rolou sexo. Você é o único cara com quem transei nos
últimos seis meses.
— Humm, estamos saindo há oito meses.
— Quem é você, um guru da matemática? Isso não importa.
Shay foi o meu relacionamento mais longo dos últimos dois anos. Na maioria das vezes,
meus casos duravam apenas um mês, mas fiquei com ela durante oito meses e dois dias. Eu não sabia exatamente por que, além do fato de sua vida ser praticamente idêntica à minha. A mãe dela também não era nada estável, e o pai estava na prisão. A irmã foi expulsa de casa pela mãe porque engravidou de um idiota. Ela não tinha ninguém.
Talvez a escuridão dentro de mim tenha se identificado com a escuridão que existia dentro dela. Nossa relação fazia sentido. Mas, à medida que o tempo passava, percebi que era justamente por causa das semelhanças que não dava certo. Nós éramos muito confusos. Estar com Shay era como olhar para um espelho e ver todas as minhas cicatrizes me encarando.
— Shay, vamos acabar com isso. Estou cansado.
— Certo. Eu esqueci. Você é o Sr. perfeito. Todo mundo toma decisões erradas na vida.
— Você saiu com o meu amigo, Shay.
— É isso mesmo: saí! E só fiz isso porque você me traiu.
— Eu nem sei como responder a isso, porque nunca traí você.
— Talvez não com sexo, mas emocionalmente, Joseph. Você nunca esteve cem por cento
nesse relacionamento. É tudo culpa da Demi. Ela é o motivo de você nunca ter se entregado a essa relação. Ela é uma vad...
Levei meus dedos à boca de Shay, interrompendo o fluxo de palavras.
— É melhor parar por aqui. — abaixei a mão, e ela permaneceu em silêncio. — Você sabia
como eu era desde o primeiro dia. É culpa sua pensar que poderia me mudar.
— Você nunca vai ser feliz com ninguém, e sabe por quê? Porque está obcecado por uma
garota que nunca vai ser sua. Você vai acabar triste, sozinho e amargurado. Então vai sentir falta de quando estava comigo!
— Você poderia ir embora?
Suspirei e passei as mãos pelo rosto. Aquilo era tudo culpa da Demi.
“Termine com ela pessoalmente, Joe. É assim que um homem de verdade deve agir. Você
não pode terminar com alguém pelo telefone.”
Ela tinha péssimas ideias de vez em quando.
Shay não parava de chorar.
Meu Deus, quantas lágrimas.
Eu não conseguia lidar com aquilo.
Depois de fungar algumas vezes, ela baixou os olhos. Pareceu ter recuperado a
autoconfiança, pois logo ergueu a cabeça novamente.
— Acho que deveríamos terminar.
Fiquei chocado.
— Terminar? Mas nós já terminamos!
— Acho que estamos seguindo caminhos diferentes.
— Ok.
Ela pousou os dedos em meus lábios para me silenciar, apesar de eu não estar falando
nada.
— Não fique tão chateado. Sinto muito, Joseph, mas não vai dar certo.
Eu ri por dentro, por Shay querer dar a impressão de que o rompimento era ideia dela. Dei
um passo para trás e cruzei as mãos na nuca.
— Você está certa. Você é boa demais para mim.
Por que você ainda está aqui?
Ela se aproximou de mim e tocou meus lábios com a ponta dos dedos.
Você vai encontrar alguém. Sei disso. Quero dizer, talvez ela seja meio desajeitada, mas, ainda assim...
Shay finalmente foi até o carro, abriu a porta e entrou. Quando o veículo começou a
andar, senti um aperto no estômago e percebi que havia cometido um erro. Comecei a correr debaixo de uma chuva torrencial, gritando seu nome.
— Shay! Shay! — berrei, acenando na escuridão.
Corri por pelo menos cinco quadras, até que ela parou em um sinal vermelho. Bati na
janela do motorista, e ela deu um grito, assustada.
— Joseph! O que você está fazendo? — perguntou ela, abrindo a janela. A expressão
confusa logo se transformou em um sorriso orgulhoso, e ela estreitou os olhos. — Você quer voltar, não é? Eu sabia.
— Eu... — bufei. Eu não era um atleta, isso era mais com o meu irmão. Tentei normalizar
minha respiração apoiando as mãos na beirada da janela. — E-eu... preciso de...
— Você precisa de quê? De que, meu bem? Do que você precisa? — perguntou ela,
acariciando meu rosto.
— Torta.
Ela recuou, confusa.
— O quê?
— Torta. As compras que eu fiz. Estão no banco de trás do carro.
Você está de sacanagem comigo? — gritou Shay. — Você correu atrás do meu carro por várias quadras por causa dos ingredientes de uma torta?
Arqueei uma sobrancelha.
— Humm, sim?
Ela esticou a mão até o banco de trás, pegou a sacola e atirou-a em meu peito.
— Você é inacreditável! Aqui está seu lixo, idiota!
Eu sorri.
— Obrigado.
O carro arrancou, e não pude deixar de rir quando a ouvi gritar:
— Você me deve vinte dólares pelo queijo de cabra!
Assim que subi os degraus e cheguei ao meu apartamento, peguei o telefone celular e
enviei uma mensagem de texto.
— Da próxima vez que eu terminar com uma garota, vou mandar uma mensagem de texto.
Demi: Foi tão ruim assim?
— Terrível.
Demi: Eu me sinto mal por ela. Ela realmente gostava de você.
— Ela me traiu!
Demi: E ainda assim você transou com ela três vezes.
— De que lado você está?
Pontinhos.
Demi: Ela é um monstro!
Estou tão feliz por ela não fazer mais parte da sua vida.
Ninguém merece ficar com uma pessoa tão psicótica.
Ela é nojenta.
Espero que ela pise acidentalmente em peças de Lego pelo resto da vida.
Essa era a resposta de que eu precisava.
Demi: Amo você, melhor amigo.
Li as palavras dela e tentei ignorar o aperto em meu peito. Amo você. Eu nunca dizia essas coisas para as pessoas, nem mesmo para minha mãe ou Nicholas. Mas, às vezes, quando Demetria Devonne Lovato dizia que me amava, eu meio que desejava poder dizer o mesmo.
Mas eu não amava ninguém.
Eu nem gostava de ninguém.
Pelo menos essa era a mentira que eu dizia a mim mesmo todos os dias para não me
machucar. A maioria das pessoas acreditava que o amor era uma recompensa, mas eu sabia que não. Tinha visto minha mãe amar meu pai durante anos, e nada de bom veio desse sentimento. O amor não era uma benção, era uma maldição, e, uma vez que você o deixava entrar em seu coração, ele o queimava por completo.

eu estou muito animada para postar esta história aqui pois acho que vai ser uma das melhores.
demorei mais voltei e aí o que acharam do capítulo?
ainda bem que o Joseph mandou a Shay ir embora hahaha.
Demi e Joseph não escondem o que sentem mesmo.
os próximos capítulos prometem.
me digam o que acharam e comentem aqui embaixo.
respostas do capítulo anterior aqui.