— Oi, pai. Só queria saber se você vai vir pro recital de piano.
— Oi! Você viu minha última mensagem?— Oi, sou eu de novo. Estou mandando essa mensagem só pra saber se você está bem. Dallas e eu estamos preocupadas.
— Pai?
— Você ainda está acordado, Joe?
Olhei para o celular, meu coração batendo forte ao enviar a mensagem para Joseph. Vi as
horas, respirei fundo.
Duas e trinta e três da madrugada.
Eu deveria estar dormindo, mas estava pensando em meu pai novamente. Mandei quinze
mensagens de texto e dez mensagens de voz para ele nos últimos dois dias, mas não tive
retorno.
Coloquei o celular sobre o peito e respirei fundo. Quando o aparelho começou a vibrar, eu
o atendi rapidamente.
— Você deveria estar dormindo — sussurrei, feliz por ele ter ligado. — Por que não está?
— Qual é o problema? — perguntou Joseph, ignorando minha pergunta.
Uma risada escapou dos meus lábios.
— Por que você acha que estou com problemas?
— Demi... — repreendeu ele, severo.
— O mala sem alça não me ligou de volta. Liguei para ele vinte vezes essa semana, mas
ele não me retornou.
Mala sem alça era o apelido que dei ao meu pai depois que ele saiu de casa. Nós éramos
muito próximos, os músicos da família, e, quando ele se foi, uma parte de mim foi embora junto. Eu não falava muito sobre meu pai, e, embora eu nunca tenha dito isso claramente,
Joseph sabia que aquela situação me incomodava.
— Esqueça ele. O cara é uma merda.
— O recital de piano do verão, o mais importante da minha carreira até agora, está
chegando, e não sei se vou conseguir participar sem a presença dele.
Tentei ao máximo manter as emoções sob controle. Fiz o melhor que pude para não
chorar, mas estava perdendo a batalha aquela noite. Eu me preocupava mais com ele do que a mamãe ou Dallas. Talvez por elas nunca terem entendido sua personalidade, como artista, como músico. As duas tinham sempre o pé no chão, eram muito estáveis, enquanto meu pai e eu éramos espíritos livres, indomáveis como o fogo.
Mas ele não havia telefonado nos últimos dias. E eu estava muito preocupada.
— Demi... — começou Joseph.
— Joseph — sussurrei, minha voz levemente trêmula. Ele ouviu os soluços do outro lado da
linha, e eu me sentei. — Quando eu era pequena, tinha muito medo de tempestades e
trovões. Eu corria para o quarto dos meus pais e pedia para dormir lá. Minha mãe nunca
deixava, ela dizia que eu tinha que aprender que as tempestades não me fariam mal. O mala sem alça sempre concordava com ela. Então, eu voltava para o meu quarto, me encolhia embaixo dos cobertores, ouvia os trovões e fechava os olhos para não ver os relâmpagos. Um minuto depois, a porta do quarto se abria, ele trazia o teclado e tocava ao lado da minha cama até eu adormecer. Consigo me manter forte a maior parte do tempo. Fico bem. Mas, hoje, com a tempestade e todas as chamadas não atendidas... Ele está acabando comigo.
— Não permita que isso aconteça, Demi. Não deixe ele vencer.
— Eu só... — comecei a chorar ao telefone. — Só estou triste, só isso.
— Estou a caminho.
— O quê? Não. Está tarde.
— Estou a caminho.
— Os ônibus param de circular às duas, Joseph. E minha mãe trancou o portão. Você não
teria como entrar. Está tudo bem.
Minha mãe era uma advogada importante e tinha dinheiro. Muito dinheiro. Morávamos
no topo de uma colina, e nossa propriedade tinha um enorme portão. Era quase impossível entrar depois que ela o trancava à noite.
— Estou bem — insisti. — Só precisava ouvir sua voz. E que você me lembrasse de que
estou melhor sem ele.
— Porque você está — disse Joseph.
— Estou.
— Demi, é sério. Você está melhor sem o mala sem alça.
Voltei a chorar descontroladamente e tive que levar a mão à boca para que Joseph não me ouvisse. Meu corpo tremia. Desmoronei, as lágrimas caindo, meus pensamentos me deixando ainda mais nervosa.
E se alguma coisa tivesse acontecido com ele? E se ele estivesse bebendo de novo? E se...
— Estou a caminho.
— Não.
— Demi, por favor. — o tom de voz de Joseph parecia quase suplicante.
— Você está chapado? — perguntei.
Ele hesitou, e aquilo foi o suficiente para mim. Eu sempre sabia quando ele tinha fumado
maconha, na verdade, ele quase sempre estava chapado. Joseph sabia que isso era algo que me incomodava, mas dizia que era como um hamster na roda, incapaz de mudar seus hábitos.
Éramos tão diferentes. Eu não havia feito muita coisa na vida. Praticamente só trabalhava, tocava piano e saía com Joseph. Ele era muito mais experiente em algumas coisas. Já tinha usado drogas que eu sequer sabia o nome. Desaparecia quase toda semana, geralmente depois de cruzar com o pai ou discutir com a mãe, mas sempre voltava para mim.
Eu me esforçava para fingir que aquilo não me incomodava, mas, às vezes, não conseguia disfarçar.
— Boa noite, melhor amigo — falei com delicadeza.
— Boa noite, melhor amiga — respondeu ele, suspirando.
***
normalmente liso, estava ondulado, colado na testa, e cobria os olhos. Usava seu moletom de capuz vermelho favorito e um jeans preto que tinha mais rasgos do que eu julgava ser possível em uma calça. Nos lábios, um sorriso bobo.
— Joseph, são três e meia da manhã — sussurrei, esperando não acordar minha mãe.
— Você estava chorando — justificou ele, de pé no vão da porta. — E a tempestade não
parou.
— Você veio andando até aqui? — perguntei.
Ele espirrou.
— Não é tão longe.
— Você escalou o portão?
Joseph se virou um pouco, mostrando-me um dos rasgos no jeans.
— Escalei o portão e... — ele finalmente mostrou as mãos, que seguravam uma fôrma de
torta embrulhada em papel alumínio. — Trouxe uma torta para você.
— Você fez uma torta?
— Assisti a um documentário sobre tortas hoje cedo. Você sabia que elas existem desde o
Egito Antigo? A primeira torta de que se tem registro foi criada pelos romanos e era de
centeio...
— Torta de queijo de cabra e mel? — interrompi.
Ele ficou chocado.
— Como você sabe?
— Você me disse ontem.
Joseph pareceu um pouco envergonhado.
— Ah. Certo.
Eu ri.
— Você está chapado.
Ele riu.
— Estou mesmo.
— São quarenta e cinco minutos a pé da sua casa até aqui, Joseph. Você não deveria ter
andado tanto. E está tremendo. Entre.
Puxei-o pela manga do moletom, que estava pingando, e o conduzi pelo corredor até o
banheiro da minha suíte. Fechei a porta e fiz Joeph se sentar na tampa do vaso.
— Tire o moletom e a camisa — pedi.
Ele sorriu maliciosamente.
— Você não vai nem me oferecer uma bebida primeiro?
— Joseph Adam Jonas, não fale coisas estranhas.
— Demetria Devonne Lovato, sou sempre estranho. É por isso que você gosta de mim.
Ele não estava errado.
Joseph tirou o moletom e a camisa e as jogou na banheira. Meus olhos percorreram seu
peitoral por um segundo, e eu tentei ao máximo ignorar o frio na barriga enquanto envolvia seu corpo com algumas toalhas.
— O que estava passando pela sua cabeça?
Seus olhos eram gentis, e ele se inclinou na minha direção, fixando seu olhar no meu.
— Você está bem?
— Estou. — passei os dedos pelo cabelo de Joseph, que estava gelado e macio. Ele
observava cada movimento meu. Peguei uma toalha pequena, me ajoelhei diante dele e
comecei a secar seu cabelo, balançando a cabeça em um gesto de reprovação.
— Você deveria ter ficado em casa.
— Seus olhos estão vermelhos.
Eu ri.
— Os seus também.
Um trovão soou lá fora, e eu me assustei. Josepg pousou a mão em meu braço para me
confortar, e um breve suspiro escapou de meus lábios. Fitei os dedos que me tocavam, e o
olhar dele recaiu sobre o mesmo lugar. Pigarreei e dei um passo para trás.
— Vamos comer a torta agora?
— Vamos.
Fomos para a cozinha em silêncio, na esperança de não acordar minha mãe, mas eu tinha
quase certeza de que ela não acordaria graças à quantidade de remédios para dormir que
tomava toda noite. Sem camisa e com o jeans ainda encharcado, Joseph sentou-se na bancada, segurando a torta.
— Pratos? — ofereci.
— Só um garfo — respondeu ele.
Peguei um garfo e sentei-me na bancada ao lado de Joseph. Ele pegou o talher da minha
mão, cortou um grande pedaço de torta e o estendeu para mim. Dei uma mordida, fechei os olhos e me apaixonei.
Meu Deus.
Ele era um ótimo cozinheiro. Com certeza não havia muitas pessoas capazes de fazer uma
torta de queijo de cabra e mel. Joseph não apenas a preparou, deu vida a ela. Era cremosa, fresca, muito deliciosa.
Fechei os olhos e abri a boca, à espera de outra garfada, que ele me deu.
— Hum — suspirei de leve.
— Você está gemendo por causa da minha torta?
— Com certeza estou gemendo por causa da sua torta.
— Abra a boca. Quero ouvir isso de novo.
Ergui uma sobrancelha.
— Você está falando coisas estranhas de novo.
Joseph sorriu. Eu amava aquele sorriso. Ele não tinha muitos motivos na vida para sorrir,
por isso aprendi a valorizar cada um daqueles momentos. Ele pegou um pedaço da torta e o aproximou dos meus lábios. Começou a fazer ruídos de avião, movendo o garfo como se
estivesse voando. Fiz um grande esforço para não rir, mas não resisti. Abri a boca, e o avião aterrissou.
— Hum.
— Você geme muito bem.
— Se eu ganhasse um dólar toda vez que ouço isso... — zombei.
Ele semicerrou os olhos.
— Você teria zero dólares e zero centavos — retrucou Joseph.
— Você é tão idiota...
— Só para ficar claro, se qualquer outro cara além de mim disser que você geme bem,
mesmo que seja em tom de brincadeira, eu acabo com ele.
Joseph sempre dizia que iria acabar com qualquer cara que olhasse para mim, e
provavelmente esse era um dos motivos pelos quais meus relacionamentos não davam certo: todos tinham muito medo de Joseph Adam Jonas. Mas eu não tinha medo dele. Para
mim, ele era um grande urso de pelúcia.
— Essa é a melhor coisa que comi o dia todo. É tão bom que quero emoldurar o garfo.
— Tão bom assim? — ele sorriu, bastante orgulhoso.
— Tão bom assim. Já falamos sobre isso antes, você deveria fazer faculdade de gastronomia. Você se daria muito bem.
Ele bufou, franzindo o cenho.
— Faculdade não é para mim.
— Mas pode ser.
— Próximo assunto — disse Joseph.
Eu não o pressionaria. Sabia que aquele era um assunto delicado. Joseph não se achava
inteligente o suficiente para entrar na faculdade, mas isso não era verdade. Ele era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia. Se ele se visse da maneira como eu o via, sua vida mudaria para sempre.
Roubei o garfo de sua mão, levei mais um pedaço à boca e gemi alto para deixar a
conversa mais leve. Joseph sorriu novamente. Ótimo.
— Estou muito feliz por você ter trazido isso, Joseph. Quase não comi o dia todo. Minha mãe
disse que eu precisava perder uns dez quilos antes de começar a faculdade no outono, caso contrário corro o risco de me transformar em um boneco da Michelin no primeiro ano.
—Você não acha que está exagerando?
— Minha mãe disse que eu já estou acima do peso, e todos engordam no primeiro ano de
faculdade. Então provavelmente vou ficar muito mais gorda que a maioria dos estudantes. Você sabe, é assim que ela me ama.
Ele revirou os olhos.
— Que amor.
— Não devo comer depois das oito da noite.
— Felizmente já passou das quatro da manhã. É um novo dia! Devemos comer a torta toda
antes das oito!
Eu ri, tapando a boca de Joseph para que ele não continuasse falando alto. Senti seus lábios beijarem a palma da minha mão de leve, e meu coração teve um sobressalto. Afastei a mão devagar, sentindo mais uma vez aquele frio no estômago.
— É um trabalho árduo, mas alguém tem que fazer isso.
E assim foi, comemos a torta toda. Quando fui lavar o garfo, ele segurou a minha mão.
— Não, não podemos lavá-lo. Temos que emoldurá-lo, lembra?
Quando a mão dele segurou a minha, meu coração parou de bater por um instante.
Nossos olhos se encontraram, e ele se aproximou.
— Só para você saber: você é linda do jeito que é. Dane-se a opinião da sua mãe. Acho
você bonita. Não apenas por fora, com aquela beleza que acaba com o tempo, mas de todos os modos possíveis. Você é uma pessoa incrivelmente bonita, então, foda-se a opinião dos outros. Você sabe o que acho sobre as pessoas.
Assenti, pois conhecia seu lema de cor.
— Fodam-se as pessoas, é melhor ter um bicho de estimação.
— É isso aí.
Joseph sorriu e apertou minha mão. Quando se afastou, senti falta do seu toque. Ele
bocejou, o que me distraiu dos meus batimentos cardíacos irregulares.
— Cansado? — perguntei.
— Eu dormiria agora.
— Vai ter que ir embora antes da minha mãe acordar.
— Não faço isso sempre?
Fomos para o meu quarto. Dei a Joseph uma calça de moletom e uma camisa que eu havia
roubado dele há algumas semanas. Depois que ele se trocou, nós nos deitamos. Eu nunca
tinha dividido uma cama com um cara, com exceção de Joseph. Às vezes, quando dormíamos juntos, eu acordava com a cabeça no peito dele e, antes de me afastar, ouvia as batidas de seu coração. Ele respirava pesadamente, pela boca. Na primeira vez que fizemos isso, não consegui pregar os olhos. No entanto, com o passar do tempo, seus sons se tornaram um refúgio para mim, como um lar. Descobri que um lar não é um lugar específico, mas a sensação que temos quando estamos com as pessoas que são importantes para nós, um sentimento de paz que apaga os incêndios da alma.
— Muito cansado? — perguntei quando estávamos deitados na escuridão, minha mente
ainda desperta.
— Sim, mas podemos conversar.
— Só estava pensando... Você nunca me contou por que ama tanto documentários.
Ele passou as mãos pelo cabelo antes de deixá-las na nuca. Ficou olhando para o teto.
— Fiquei com meu avô durante um verão antes de ele morrer. Ele tinha um documentário
sobre a galáxia, e aquilo me deixou viciado em saber tudo... de tudo. Eu queria me lembrar do nome do documentário, eu o compraria num piscar de olhos. Era algo como buraco negro... ou estrela negra... — ele franziu o cenho. — Não sei. Não importa. Começamos a assistir a documentários juntos, e isso se tornou algo nosso. Foi o melhor verão da minha vida. — uma onda de tristeza o invadiu. — Depois que ele morreu, continuei com nossa tradição. Provavelmente é uma das únicas tradições que já segui.
— Você sabe muito sobre as estrelas?
— Muito. Se houvesse um lugar nessa cidade sem tanta poluição luminosa, eu te mostraria
as estrelas e algumas constelações. Mas, infelizmente, acho que não há.
— Que pena. Eu adoraria vê-las. Mas estive pensando... Você deveria fazer um
documentário sobre a sua vida.
Ele riu.
— Ninguém iria querer assistir a isso.
Inclinei a cabeça em sua direção.
— Eu assistiria.
Ele deu um meio sorriso antes de passar o braço em torno dos meus ombros e me puxar
para perto de si. Seu calor sempre enviava faíscas pelo meu corpo.
— Josph? — sussurrei, meio acordada, meio dormindo, apaixonando-me em segredo pelo
meu melhor amigo.
— Sim?
Fiz menção de falar, mas, em vez de palavras, saiu apenas um suspiro. Apoiei minha
cabeça no peito dele e ouvi o som das batidas de seu coração. Comecei a contá-las. Um... dois...quarenta e cinco...
Em poucos minutos, minha mente desacelerou. Em poucos minutos, esqueci o motivo de
estar tão triste. Em poucos minutos, adormeci.
Joseph faz tudo pela a Demi mesmo e os dois já estão sentindo um sentimento diferente.
a Demi ainda vai ter muitos problemas com o pai dela.
mas o Joseph vai ajudar muito ela e vai vim muitas tretas por aí.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
Ela também o ama!!!
ResponderExcluirSim, falta pouco para os dois perceberem isso.
ExcluirVou postar mais hoje amor.
Beijos, Jessie.
São lindos juntos!!! Quem vai dar o primeiro passo? Ansiosa... Posta logo!!!
ResponderExcluirSão sim!!!
ExcluirIsso você terá que ver daqui para frente rsrs
Vou postar mais hoje amor.
Beijos, Jessie.