25/06/2018

13. goodbye


— Oi — sussurrou Joseph ao entrar em meu quarto.
Ele já não usava roupas de hospital, e os poucos hematomas em seu rosto não estavam tão
feios. Esperava que ele soubesse como era sortudo por ter saído vivo daquele acidente.
— Oi.
Passei o dia anterior sentada na cama, pensando no que eu iria dizer a ele. Por um tempo,
meus sentimentos variaram entre a dor e a raiva. Eu queria gritar. Queria dizer o quanto eu o culpava, o quanto me ressentia por ele não ter sequer perguntado o que eu pensava com
relação ao bebê. Eu conhecia seus sonhos e seu coração. Sabia que podia encontrar uma
maneira de fazer as coisas darem certo. Mas ele desapareceu. Queria odiá-lo, mas, no
momento em que o vi, tudo dentro de mim mudou.
Eu só estava de coração partido.
Ele fez menção de dizer algo, mas se deteve. Passou os dedos pelo cabelo, sem olhar para
mim. Tudo parecia surreal, estávamos tão perto, e, ao mesmo tempo, tão longe. Eu não
conseguia acordar daquele sonho ruim e queria que Joseph me ajudasse a despertar.
Queria que ele dissesse que aquilo era só um sonho, um pesadelo cruel, e que eu acordaria
ao amanhecer.
Eu queria acordar. Por favor, meu Deus... me acorde.
Sentei na cama, com os joelhos junto ao peito. Minha respiração era ofegante. O ar no
quarto estava abafado, tóxico, morto. Tive vontade de chorar. Só de olhar para Joseph eu
sentia meu coração se dilacerar, mas não derramei uma lágrima.
— Estou bem — eu disse finalmente, sendo desmentida por cada osso do meu corpo.
— Posso te abraçar?
— Não.
— Ok.
Olhei para as minhas mãos trêmulas. Eu estava confusa.
— Pode.
— Posso? — perguntou ele, elevando um pouco o tom de voz.
— Pode.
Ele pousou a mão em meu ombro antes de se sentar ao meu lado na cama do hospital e me
abraçar. Estremeci ao sentir seu toque em minha pele pela primeira vez em muito tempo.
— Sinto muito, Demi.
Seu toque era tão acolhedor...
Você voltou para mim.
Não consegui conter as lágrimas. Meu corpo tremia incontrolavelmente, mas Joseph se
mantinha forte, recusando-se a me soltar. A testa dele se apoiou na minha, e suas lágrimas
quentes se misturaram às minhas.
— Eu sinto tanto...
Continuamos abraçados, sentindo o peso do mundo em nossos ombros, até que
adormecemos.
Ele voltou.
Quando acordei, Joseph ainda estava me abraçando como se eu fosse sua tábua de
salvação. Virei-me para olhar o rosto dele. Ele estava dormindo, sua respiração era quase um sussurro. Minhas mãos procuraram as dele, e nossos dedos se entrelaçaram. Ele se mexeu um pouco antes de abrir os olhos.
— Demi, não sei o que dizer. Eu não sabia que você estava... Eu não...
Nunca tinha ouvido aquela vulnerabilidade em sua voz. O Joseph que foi embora da
minha casa semanas atrás estava tão distante de mim, de suas emoções. Agora, suas lágrimas e o toque de suas mãos dilaceravam aquela pequena parte do meu coração que ainda se mantinha firme.
— Eu não deveria ter ido tão longe — continuou ele, soltando minha mão e segurando
meu rosto. — Deveria ter ficado com você. Deveria ter conversado com você. Mas, por minha
causa, por minha culpa... — ele enterrou a cabeça em meu ombro, chorando copiosamente. — Eu matei o bebê, é minha culpa.
Segurei seu rosto, da mesma forma que ele segurava o meu.
— Joseph, não faça isso com você.
Os olhos dele transbordavam remorso. Aninhei a cabeça na curva de seu pescoço, e minha
respiração aquecia sua pele. Meus olhos estavam exaustos, e pisquei algumas vezes antes de
fechá-los e sussurrar novamente em seu ouvido: — Não faça isso com você.
Eu não conseguia odiá-lo. Não importava o que tinha acontecido, eu não era capaz de
odiar Joseph. Mas amá-lo? O amor sempre estaria ali. Tínhamos que descobrir como seguir
em frente juntos, como superar aquele acidente terrível e trágico. Éramos nós dois contra o
mundo. Nós iríamos nos reerguer, juntos.
— Estou indo embora — disse ele, levantando-se e enxugando os olhos.
Eu me sentei, alarmada.
— O quê?
— Vou embora. Vou para uma clínica de reabilitação em Iowa.
Meus olhos se iluminaram. Nicholas havia me contado sobre a clínica de reabilitação, e nós
esperávamos que Joseph fizesse o tratamento de noventa dias. Isso não acabaria com o nosso sofrimento, mas o ajudaria a lidar melhor com a perda.
— Isso é bom, Joseph. É uma boa notícia. E, quando você voltar, podemos começar tudo de
novo. Podemos ser nós dois de novo — prometi.
Ele franziu o cenho, balançando a cabeça negativamente.
— Eu não vou voltar, Demi.
— O quê?
— Eu vou embora de True Falls e não vou voltar. Nunca mais vou voltar ao Wisconsin e
nunca mais vou voltar aqui.
Eu recuei.
— Pare com isso.
— Não vou voltar. Sempre acabo machucando as pessoas. Eu destruo a vida de todo
mundo, Demi. E não posso continuar destruindo sua vida, ou a do Nicholas. Preciso sumir.
— Cale a boca, Joseph! — gritei. — Pare de dizer isso.
— Sei como essas coisas acontecem. Ficaríamos como um hamster na roda, presos em um
ciclo, e eu estragaria sua vida. Não posso fazer isso com você. E não vou.
Joseph se levantou da cama, enfiou as mãos nos bolsos e deu um sorriso triste.
— Sinto muito, Demi.
— Não faça isso, Joseph. Não me deixe assim — implorei, pegando as mãos dele e puxando-o
para junto de mim. — Não me deixe de novo. Não fuja. Por favor. Eu preciso de você.
Eu não podia passar por aquilo sem Joseph. Precisava que ele me ajudasse a ficar de pé
novamente. Precisava ouvir a voz dele tarde da noite, precisava sentir seu amor de manhã
cedo. Precisava de alguém que tivesse perdido o mesmo que eu para chorar comigo.
Precisava que Joseph ficasse ao meu lado.
Seus lábios beijaram minha testa, e, em seguida, ele sussurrou algo em meu ouvido antes
de se virar e me abandonar ali, gritando seu nome.
A última coisa que ele me disse ficou ecoando em minha mente por um longo tempo.
Aquelas palavras me marcaram mais profundamente do que qualquer outra coisa no mundo.
— Eu teria sido um merda — sussurrou Joseph, e senti um arrepio. — Eu teria sido um
merda de pai. Mas você? — ele engoliu em seco. — Você teria sido a melhor mãe de todas.
Seu amor seria uma honra para o nosso filho.
E se foi.
Com essas palavras simples e o som de seus passos afastando-se no corredor, eu descobri a
dor de um coração partido.

Joseph foi embora mas foi por uma boa causa.
como a Demi ficará hein? agora terá um salto temporal de 5 anos.
Joseph se sentindo super culpado mas entendam ele.
o que acharam do capítulo? eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
resposta do capítulo anterior aqui.

18/06/2018

12. rehabilitation


Quando abri os olhos, estava em uma cama de hospital, e a luz do sol entrava reluzente pela
janela. Tentei mudar de posição, mas tudo doía.
— Merda — murmurei.
— Você está bem? — indagou uma voz.
Virei a cabeça e vi Nicholas sentado em uma cadeira com algumas brochuras na mão e um
grande curativo na testa. Ele usava um casaco com capuz e calça de moletom, e em seu rosto
não havia o sorriso de sempre.
— Não. Parece que fui atropelado por um caminhão.
— Ou talvez você tenha batido com o carro em um prédio, seu idiota — murmurou
alguém.
Virei o rosto para o outro lado e vi Dallas. Ela estava de braços cruzados, e seu olhar era
duro. Ao seu lado, um homem de gravata-borboleta segurava um bloco de anotações, e Jacob estava sentado em um canto.
O que aconteceu? Por que Jacob estava com Nicholas?
— Você não lembra? — perguntou Nicholas, parecendo um pouco ríspido comigo.
— Eu não me lembro do quê?
— De ter batido com o carro em um maldito prédio! — exclamou Dallas, com a voz
trêmula.
O homem ao lado dela pousou a mão em seu ombro, tentando confortá-la. Fechei os olhos,
tentando me lembrar do que aconteceu, mas tudo parecia um borrão.
— Joseph... — Nicholas esfregou os olhos. — Nós encontramos você passando mal na varanda de uma casa. Tentamos levá-lo ao hospital, mas você surtou e tentou pegar o
volante, e o carro bateu em um prédio.
— O quê? — minha garganta ficou seca. — Você está bem?
Ele assentiu, mas Dallas discordou.
— Mostre a ele a lateral do seu rosto, Nicholas.
— Pare, Dallas.
— Não. Ele precisa ver. Precisa ver o que fez.
Nicholas abaixou a cabeça e encarou os próprios sapatos.
— Deixa pra lá, Dallas.
— Mostre — pedi.
Ele puxou o capuz e mostrou o lado esquerdo do rosto, que estava repleto de hematomas
roxos, azulados e pretos.
— Puta merda! Eu fiz isso?
— Está tudo bem — disse Nicholas.
— Não está tudo bem — retrucou Dallas.
Ela tinha razão, não estava tudo bem.
— Nicholas, eu sinto muito. Eu não queria...
— Isso nem é o pior de tudo! Você quase matou a minha irmã! — gritou ela.
Senti um aperto no peito.
Demi.
Meu maior vício.
— O que aconteceu com Demi? Onde ela está? — murmurei, tentando me sentar, mas foi
impossível com a dor que senti nas costas.
— Joseph, relaxe. Os médicos estão cuidando dela. Agora precisamos falar de você. Nós
trouxemos uma pessoa aqui para te ajudar — disse Nicholas.
— Me ajudar com o quê? Não preciso da ajuda de ninguém. O que aconteceu com Demi?
Senti as paredes do quarto me sufocando. O que eu estava fazendo aqui? Por que todo
mundo olhava para mim com tanto desprezo? Por que eles não me contavam o que tinha
acontecido com Demi?
— Estamos todos aqui porque amamos você... — começou Nicholas.
A ficha caiu. Entendi porque o homem de gravata-borboleta estava ali no quarto. Minha
atenção se voltou para as brochuras que Nicholas tinha nas mãos, e fechei os olhos com força.
Eles queriam me colocar na reabilitação. Em um quarto de hospital.
— Porque me amam? — sussurrei. À medida que eu me dava conta do que estava
acontecendo, minha voz se enchia de amargura. — Quanta bobagem.
— Qual é, Joseph, isso não é justo — retrucou Nicholas.
Ao virar o rosto na direção dele, deparei-me com seus olhos tristes e seu semblante repleto de medo e preocupação.
— Não me venha com “Qual é, Joseph”. E aí? Vão me mandar para a reabilitação? Vocês
acham que eu estou tão fodido que precisam se reunir em um quarto de hospital e me
encurralar? Acham que sou perigoso? Precisam trazer pessoas que não dão a mínima para
mim? Cometi um erro ontem. — fiz um gesto na direção de Jacob. — É muita hipocrisia
trazer até aqui o idiota que passou a semana toda chapado comigo, não acha? Jacob, tenho
quase certeza de que você está drogado.
Jacob franziu o cenho.
— Qual é, Joseph...
— E, Dallas, eu nem sei por que você está aqui. Você não me suporta.
— Eu não odeio você, Joseph. — ela engoliu em seco. — Qual é, isso foi grosseiro.
— Eu realmente gostaria muito que vocês parassem de dizer “qual é”, como se fossem
melhores que eu. Vocês não são melhores que eu. — ri de maneira sarcástica e tentei me
sentar. Bem lá no fundo, eu estava na defensiva, pois sabia que eles tinham razão. — Tudo
isso é muito engraçado. Estamos aqui falando que eu só sei fazer merda, mas o quarto está
cheio de gente que é tão ou mais fodido que eu. Nicholas não pode dar um pio sobre ser músico em vez de advogado perto do merda do pai. Jacob é viciado em pornografia estranha, com garfos e tal. Dallas quebra um prato e compra cinquenta para substituí-lo, só para garantir, caso a porra do prato novo quebre também. Ninguém acha que isso é maluquice?
— Acho que todos nós só queremos que você fique bem, Joseph — disse Nicholas. Eu só
queria saber se o coração dele batia tão frenético quanto o meu. — Eu imagino o que você
passou morando com a nossa mãe. Deve ser difícil não usar drogas morando com ela.
— Você deve estar se sentindo muito bem, Nicholas — falei, esfregando o nariz. — Porque
você é o Nicholas, o menino de ouro. Aquele que tem o pai rico. O que tem futuro. O que tem
passagem garantida para uma das melhores faculdades do país, que vai se tornar um grande
advogado. E eu sou só o irmão fodido, com uma mãe drogada e um pai traficante. Bem,
parabéns, Nicholas. Você é o vencedor. É o melhor filho que nossa mãe poderia ter. O filho que conquistou algo, e eu sou só um merda que provavelmente vai morrer antes dos vinte e cinco anos.
Nicholas respirou fundo.
— Por que você sempre diz essas baboseiras? — ele começou a andar pelo quarto, irritado.
— Qual é o seu problema, Joseph? Acorda. Acorda. Queremos te ajudar, e você está gritando
com a gente como se fôssemos seus inimigos, quando, na realidade, seu inimigo é você
mesmo. Você está se matando. Porra, você está se matando e não se importa com isso —gritou Nicholas.
Ele nunca levantava a voz, nunca.
Fiz menção de dizer algo, mas o olhar de Nicholas me deteve. Por um segundo, pensei ter visto ódio nele.
Meu irmão passou as mãos pelo rosto algumas vezes, tentando se acalmar. Fungou para
conter as lágrimas e atirou os panfletos em minha direção. Quando eles caíram no meu colo,
li as palavras várias vezes.

Clínica de Saúde e Reabilitação St. Michaels
Waterloo, Iowa

— Então vocês acham que eu preciso de tratamento? — perguntei. — Eu estou bem.
— Você bateu com o carro em um prédio — disse Dallas pela centésima vez.
— Foi um acidente, Dallas! Você nunca cometeu um erro?
— Sim, Joseph, mas não um erro que quase matou o meu namorado e a minha irmã. Você
está no fundo do poço e, se não se ajudar, vai machucar mais pessoas.
Onde está  Demi?
— Olha, estamos perdendo o foco. Joseph, queremos ajudar. Meu pai vai pagar seu
tratamento em Iowa. É uma das melhores instituições do país. Acho que lá você realmente
vai encontrar ajuda — explicou Nicholas.
Fiz menção novamente de dizer algo, mas Nicholas me silenciou. Por um segundo, pensei
ter visto amor em seu olhar.
Esperança.
Súplica.
— Posso ficar sozinho com meu irmão? — murmurei, fechando os olhos.
Todos os outros saíram do quarto. A porta finalmente se fechou.
— Sinto muito, Nicholas — eu disse, brincando com os dedos. — Não tive a intenção de causar o acidente. Eu não queria que isso tivesse acontecido. Mas depois que Demi disse que iria fazer um aborto...
— O quê? — interrompeu Nicholas.
— Você não sabia? Demi estava grávida. Mas ela fez um aborto há algumas semanas. A
mãe providenciou tudo, e isso fodeu com a minha vida, Nicholas. Sei que fiquei fora de mim nos últimos dias, mas estou confuso.
— Joseph... — Nicholas se aproximou e puxou uma cadeira para se sentar ao lado da cama. — Ela não fez o aborto.
— O quê? — meu coração começou a acelerar, e meus dedos agarraram a estrutura de
metal da cama. — Mas a mãe dela disse...
— A mãe de Demi a expulsou de casa quando ela resolveu que iria ficar com o bebê. Ela
queria te contar, mas você desapareceu.
Eu me sentei, cheio de dor, mas também cheio de esperança.
— Ela não fez o aborto?
Nicholas baixou os olhos, encarando as próprias mãos, que estavam entrelaçadas.
— Não.
— Então... — respirei fundo, tentando controlar as emoções que me invadiam. — Vou ser
pai?
— Joseph... — começou Nicholas, balançando a cabeça. Sua boca se abriu, mas ele não disse
nada por alguns instantes. Massageou as têmporas. — Demi não estava usando cinto de
segurança quando sofremos o acidente. Ela tentou te segurar quando você foi pegar o
volante. No momento da batida, o vidro de trás quebrou, e ela foi lançada para fora do carro.
— Não. — balancei a cabeça.
— Ela está bem, mas...
— Não, Nicholas.
— Joseph, ela perdeu o bebê.
Tentei conter as lágrimas.
— Não diga isso, Nicholas. Não diga isso. — eu o empurrei. — Não diga isso.
— Sinto muito, Joseph.
Levei as mãos ao rosto e comecei a chorar, histérico. Eu sou o culpado. Eu causei o acidente,
sou o culpado. É tudo culpa minha. Nicholas me abraçava enquanto eu desabava, incapaz de falar, incapaz de fazer a dor parar, incapaz de respirar. Inspirar era doloroso, expirar, uma tortura.

Nicolas eu te amo, abre mesmo os olhos do Joseph.
Demi não abortou mas perdeu o bebe no acidente :(
Joseph irá se sentir muito culpado e tadinha da Demi irá sofrer.
o que acharam do capítulo? eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
eu estou muito feliz pelo os comentários de vocês, muito obrigada.
volto em breve, respostas do capítulo anterior aqui.

10/06/2018

11. stoned


Passei a odiar telefonemas no meio da noite. Eles sempre me deixavam nervosa. Nenhuma
boa notícia viria às três e meia da manhã. Infelizmente, nos últimos meses, essas ligações
começaram a fazer parte da minha rotina, tudo culpa de um cara que roubou meu coração.
Sempre que o telefone tocava, eu imaginava as piores situações possíveis: doença, acidente,
morte. Algumas noites eu ficava acordada, com as pálpebras pesadas, esperando as ligações.
Quando o telefone não tocava, às vezes eu pensava em ligar para o número de Joseph só para ouvir sua voz, só para ter certeza de que ele estava bem.
— Estou bem, Demetria Devonne Lovato — diria ele.
— Que bom, Joseph Adam Jonas — eu responderia, antes de adormecer ao som de
sua respiração.
Mas fazia tempo que não nos falávamos.
Quando eu ficava preocupada, não podia ligar para ele.
Quando eu sentia medo, não ouvia o som de sua respiração do outro lado da linha.
Quando o telefone tocou naquela noite, eu entrei em pânico.
— Demi? — soou uma voz ao meu ouvido, mas não era Joseph, mesmo que o nome dele
tivesse aparecido na tela.
— Quem é? — perguntei, o sono ainda deixando minhas pálpebras pesadas.
— É Jacob... amigo do Joseph. Eu... — ele hesitou. — Olha, estou em uma festa e encontrei
Joseph. Ele não está muito bem. Eu não sabia para quem ligar.
Eu me sentei na cama.
— Onde ele está?
Jacob me deu todas as informações e eu me levantei da cama, procurando papel e caneta para anotar tudo.
— Obrigada, Jacob. Estarei aí em breve.
— Está bem. É melhor você trazer Nicholas.
Corri até o quarto de Ncholas e Dallas e bati à porta. Meu coração estava acelerado, e tive
que fazer um grande esforço para conter as lágrimas. Quando ele abriu a porta, respirei
fundo. Sua voz era tão parecida com a do irmão que, por um momento, fiquei abalada. Fazia
algumas semanas desde que Joseph tinha parado de falar comigo. Tudo o que eu queria era
ouvir a voz dele novamente.
— Demi? O que houve? — perguntou Nicholas, preocupado. Ele sabia tanto quanto eu que,
com Joseph usando drogas por aí, uma ligação tarde da noite não era sinônimo de boas
notícias. — Ele...
— Não sei — respondi.
Contei a Nicholas tudo o que sabia, e saímos de casa em poucos minutos.
Quando chegamos à festa, Jacob estava na varanda de uma casa caindo aos pedaços. Joseph
estava deitado em um banco. Ele mal conseguia abrir os olhos, e a saliva escorria pela boca.
— Meu Deus — murmurou Nicholas, indo até o irmão.
— Ele não está reagindo.
— O que ele usou? — perguntou Nicholas.
— Ele estava com um pouco de heroína, acho que a usou mais cedo. Mas não sei se teve
mais alguma coisa.
— Por que você não chamou a polícia? — gritei.
Corri até Joseph e tentei erguê-lo. Ele se retraiu e começou a vomitar na varanda.
— Não sei, cara. Normalmente Joseph é bem resistente a esse troço, mas, nas últimas
semanas, ele tem se afundado cada vez mais. Eu não chamei a polícia porque... Olha, eu não
sabia o que fazer. Então liguei para vocês.
Eu conhecia Jacob há um tempo. Joseph não tinha muitos amigos, e Jacob era uma das
poucas pessoas que ele considerava como tal. Mas discordei dele naquela noite. Um amigo de verdade jamais deixaria alguém chegar ao fundo do poço daquele jeito sem sequer estender a mão.
— Você deveria ter chamado uma ambulância — sibilei, irritada. Assustada. Irritada e
assustada.
— Preciso de ajuda para levá-lo até o carro — disse Nicholas a Jacob. Os dois o colocaram no banco de trás, e eu me sentei com ele. — Joseph pode vomitar de novo, Demi. Talvez você
queira se sentar na frente.
— Estou bem aqui — respondi.
Nicholas agradeceu a Jacob, e seguimos para o hospital mais próximo. Eu nunca tinha visto Joseph daquele jeito e estava a segundos de enlouquecer.
— Mantenha-o acordado, ok? — pediu Nicholas.
Assenti, minhas lágrimas caindo nas bochechas de Joseph.
— Você tem que ficar acordado, tá? Fique de olhos abertos, Joseph.
Ele deitou a cabeça no meu colo. Eu tinha medo de que, se ele fechasse os olhos, talvez não
conseguisse abri-los novamente. Seu corpo estava encharcado de suor, e cada inspiração
parecia dolorosa. Cada expiração, exaustiva.
Ele riu.
— Oi.
Dei um sorriso torto.
— Oi, Joseph.
A cabeça dele balançou para a frente e para trás, e ele se apoiou nos cotovelos.
— Estou chapado. C-H-A-P-A-D-O
Eu odiava quando ele dizia isso. Odiava quando ele se perdia, quando deixava de ser meu
melhor amigo e se transformava em meu maior medo. O que aconteceu com você, Joseph? O que o fez ir tão fundo na escuridão?
Fiz uma pausa, sabendo a resposta.
Fui eu.
Eu fiz isso com ele.
Eu o fiz ir em busca de seus demônios.
Sinto muito, Joseph.
As palavras de minha mãe ecoaram em minha mente enquanto eu olhava nos olhos de
Joseph. Está doente e não vai melhorar. Ele vai te arrastar para o fundo do poço antes que você consiga tirá-lo de lá. Você precisa desistir desse garoto. Ele é uma causa perdida. Você e Nicholas permitem que ele faça esse tipo de coisa. Vocês permitem que essas coisas aconteçam, e ele só vai piorar.
— Demi? — sussurrou Joseph, a cabeça tombando novamente no meu colo.
— O quê?
— Você me chama de Joe, uma palavrinha de nada, insignificante. Eu sou insignificante,
porra. Mas você? — ele riu e fechou os olhos. — Você acabou comigo.
Senti uma imensa tristeza me invadir e o abracei.
— Fique de olhos abertos, Joseph. Está bem? Só fique de olhos abertos.
Olhei para o banco do motorista, Nicholas passava a mão pelo rosto para secar as lágrimas.
Eu sabia que ver o irmão daquele jeito era muito difícil para ele.
Eu sabia que o coração de Nicholas estava tão dilacerado quanto o meu.
— Me leve de volta — murmurou Joseph, tentando se sentar no banco de trás.
— Fique calmo, Joseph. Está tudo bem — disse Nicholas.
— Não, eu quero voltar! — gritou Joseph, levantando-se de repente e lançando-se ao volante. Nicholas conseguiu evitar uma colisão. — Me leve de volta!
Nós dois tentamos detê-lo e acalmá-lo, mas Nicholas acabou perdendo o controle do carro.
O veículo deu uma guinada à esquerda.
E tudo ficou escuro.

Demi finalmente reencontrou o Joseph mas não numa situação boa.
todos sofreram um acidente e uma coisa ruim esta para acontecer :(
o que acham que será? o que posso dizer é que Joseph se sentirá culpado.
o que acharam do capítulo? eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
respostas do capítulo anterior aqui.