19/06/2016

certain love: capítulo 12 (Parte 2)


A palavras dele me calam por uns cinco segundos. Minha mão solta o seu cotovelo. 
— Acho que a sua situação é um pouco mais importante que a minha, agora - argumento. 
— É mesmo? - ele diz. — E você querer viajar sozinha de ônibus por aí, sem saber aonde tá indo e correndo perigo; isso você não acha nem um pouco importante? 
Ele parece furioso. Posso perceber que ele está, mas a maior parte da raiva, se não toda ela, é porque o pai dele está morrendo lá em cima, e Joseph não consegue aceitar isso. Eu lamento por ele, por ter sido criado acreditando que não se pode demonstrar o tipo de emoção necessária numa situação como essa sem se tornar menos homem por isso. 
Também não consigo demonstrar emoção, mas não fui criada assim, fui forçada a isso. 
— Você nunca chora? - pergunto. — Nem por outros motivos? Alguma vez você já chorou? Ele bufa. 
— Claro. Todo mundo chora, até caras fortões como eu. 
— Tá, me diz uma vez. 
Ele responde com facilidade: 
— Um... um filme me fez chorar, uma vez - mas de repente parece constrangido, e talvez arrependido da resposta. 
— Qual filme? 
Ele não consegue me olhar nos olhos. Sinto o clima pesando menos entre nós, apesar do motivo por trás do peso. 
— Que importa isso? - Joseph desconversa. 
Sorrio e chego mais perto dele. 
— Ah, conta logo, vai, que foi, acha que vou rir de você e te chamar de mulherzinha? 
Ele abre um tênue sorriso por baixo do rubor constrangido do seu rosto. 
— Diário de uma paixão - ele diz, tão baixo que não consigo entender direito. 
— Você disse Diário de uma paixão? 
— É! Chorei vendo Diário de uma paixão, tá?
Joseph me dá as costas e eu uso todas as minhas forças para não cair na risada. Não acho nada engraçado ele ter chorado vendo Diário de uma paixão, o que é engraçado é ele ficar tão humilhado por admitir. 
Eu rio. Não consigo segurar, o riso simplesmente escapa. 
Joseph se vira, com os olhos maiores do que pratos, e me fuzila com o olhar por um segundo. Dou um gritinho quando ele me agarra e me joga sobre o ombro, me carregando para fora do hospital. 
Estou rindo tanto que meus olhos enchem de lágrimas. Lágrimas de alegria, não aquelas que parei de derramar depois que Wilmer morreu. 
— Me bota no chão - eu bato os punhos nas costas dele. 
— Você falou que não iria rir! 
Dizendo isso, ele só me faz rir mais. Eu gargalho e faço uns barulhos estranhos que nem sabia que era capaz de fazer. 
— Por favor, Joseph! Me bota no chão - meus dedos se enterram nas suas costas através do tecido da camisa. 
Finalmente, sinto meus sapatos tocarem o chão. Olho para ele e paro de rir, porque quero que ele converse comigo. Não posso deixar que abandone o pai. 
Mas ele fala primeiro: 
— Só não posso ficar chorando por ele, como já te falei. 
Toco o braço dele delicadamente. 
— Bom, então não chora, mas pelo menos fica. 
— Não vou ficar, Demetria - ele me olha intensamente nos olhos, e eu sei, só pelo modo como está me olhando, que não vou conseguir fazê-lo mudar de ideia. — Agradeço você tentar ajudar, mas isso é algo que não posso fazer.
Com relutância, balanço a cabeça. 
— Talvez, em algum momento desta viagem com a qual você concordou, vamos conseguir contar um pro outro as coisas que não queremos contar - ele concede, e meu coração, por algum motivo, reage à sua voz. 
Há uma palpitação no meu peito, por baixo dos meus seios, atrás das costelas. 
Joseph sorri luminosamente, seus esverdeados perfeitos como o centro de seu rosto esculpido. 
Ele é lindo mesmo... 
— Então, o que você decidiu? - ele pergunta, cruzando os braços e parecendo curioso. — Vou te comprar uma passagem de avião pra casa ou quer mesmo ir pra lugar Nenhum, Texas? 
— Você quer mesmo ir comigo? - simplesmente não consigo acreditar nisso, e ao mesmo tempo, quero mais do que tudo que seja verdade. 
Prendo a respiração esperando a resposta. 
Ele sorri. 
— Sim, quero mesmo. 
A palpitação se transforma num calor e eu abro um sorriso tão grande que por um longo momento pareço não conseguir relaxar o rosto. 
— Mas só tenho uma queixa sobre essa ideia - ele diz, levantando um dedo. 
— Qual? 
— Viajar naqueles ônibus - ele diz. — Odeio aquela porra. 
Rio baixinho e sou obrigada a concordar com ele. 
— E de que outro jeito podemos viajar? 
Ele ergue um lado da boca num sorriso esperto. 
— A gente pode ir de carro - sugere. — Eu dirijo. 
Eu não hesito. 
— Tá. 
— Tá? - ele exclama, fazendo uma pausa. — Fácil assim? Vai entrar no carro de um cara que você mal conhece, e confiar que ele não vai te estuprar em alguma estrada deserta? A gente já não conversou sobre isso?
Eu inclino a cabeça para um lado, cruzando os braços.
— Faria alguma diferença se eu tivesse te conhecido numa biblioteca, e depois saísse com você, sozinha no seu carro? - inclino a cabeça para o outro lado. — Todo mundo é desconhecido no começo, Joseph, mas nem toda mulher encontra um desconhecido que a salva de um estuprador e a leva pra conhecer o pai, que está morrendo, praticamente na mesma noite. Eu diria que você já passou no teste da confiança faz algum tempo. 
O lado esquerdo de sua boca se ergue num sorriso, perturbando a seriedade das minhas palavras sinceras. 
— Então esta viagem é um encontro? 
— Hein? - eu rio. — Não! Foi só uma analogia. 
Sei que ele sabe disso, mas preciso dizer alguma coisa para que ele não note minhas bochechas, que estão ficando vermelhas. 
— Você entendeu. 
Ele sorri. 
— É, entendi, mas você me deve um jantar “amigável” na companhia de um filé - ele faz aspas com os dedos quando diz “amigável”. O sorriso nunca deixa o seu rosto. 
— Devo, sim, não nego. 
— Então tá combinado - ele decide, me dando o braço e me levando para o táxi que espera perto do estacionamento. 
— Vamos buscar o carro do meu pai na rodoviária, passar pela casa dele pra pegar umas coisas e depois cair na estrada.
Ele abre a porta de trás do táxi para que eu entre primeiro e a fecha depois de se sentar ao meu lado. 
O táxi começa a rodar. 
— Ah, acho que preciso estabelecer algumas regras básicas antes de a gente fazer isso. 
— Ah, é? - me viro e olho para ele, curiosa. — Que tipo de regras básicas? 
Ele sorri. 
— Bom, primeira: meu carro, meu som; sei que não preciso explicar mais. 
Eu reviro os olhos. 
— Então você tá me dizendo, basicamente, que vou ser obrigada a ouvir só rock clássico nessa viagem? 
— Ah, você vai acabar gostando. 
— Não acabei gostando nem quando era criança e tinha que aguentar meus pais ouvindo o dia todo. 
— Segunda - ele continua, erguendo dois dedos e ignorando completamente o meu protesto. — Você tem que fazer tudo que eu mandar. 
Viro a cabeça bruscamente e franzo a testa. 
— Hã? Que história é essa? 
Seu sorriso fica ainda maior, maquiavélico até. 
— Você disse que confia em mim, então confie nisso também. 
— Bom, vai ter que me explicar melhor. Sério, sem brincadeira. 
Ele afunda no banco e cruza os dedos entre suas pernas abertas. 
— Prometo que não vou te pedir pra fazer nada doloroso, degradante, perigoso ou
inaceitável. 
— Então, basicamente, não vai me pedir pra chupar teu pau por quinhentos dólares, nem nada do tipo? 
Joseph joga a cabeça para trás e ri alto. O taxista se mexe no banco da frente. Noto que seus olhos desviam do retrovisor quando olho para ele. 
— Não, nada disso, com certeza, juro - ele ainda está rindo um pouco.
 — Tá, mas o que vai me pedir pra fazer, então? 
Estou completamente desconfiada dessa conversa. Ainda confio nele, admito, mas também estou um pouco apavorada agora, temendo algo como acordar com um bigode desenhado com canetinha. 
Ele dá uns tapinhas na minha coxa. 
— Se isso te faz sentir melhor, você pode me mandar catar coquinho se não quiser fazer alguma coisa, mas espero que não faça isso, porque quero muito te mostrar como viver a vida. 
Uau, isso me pega completamente desprevenida. Ele está falando sério; não há nada de engraçado nessas palavras, e mais uma vez fico fascinada por ele. 
— Como viver a vida? 
— Você faz perguntas demais - ele dá mais um tapinha na minha coxa e põe a mão novamente no próprio colo. 
— Bom, se você estivesse sentado deste lado do carro, também faria um monte de perguntas. — Talvez. 
Meus lábios se abrem um pouco. 
— Você é uma pessoa muito estranha, Joseph Jonas, mas tá, confio em você. 
Seu sorriso fica mais terno quando ele apoia a cabeça no banco, olhando para mim. 
— Mais alguma regra básica? - pergunto. 
Ele olha para cima, pensativo, e morde a bochecha por dentro por um momento. 
— Não - sua cabeça cai para o lado. — Só isso. 
É a minha vez. 
— Bom, também tenho algumas regras básicas. 
Ele levanta a cabeça, curioso, mas deixa as mãos sobre a barriga, com os dedos fortes cruzados.
— Tá, manda - ele responde, sorrindo, com certeza preparado para qualquer coisa que eu inventar. 
— Número um: em nenhuma circunstância você vai me comer. Só porque sou simpática com você e tô concordando com... bem, com a coisa mais doida que já fiz, tô te avisando logo que não vou ser sua próxima transa, nem vou me apaixonar por você, nem qualquer coisa do tipo. Entendido? - estou tentando falar bem sério. Estou mesmo. E acredito no que falei. Mas aquele sorriso idiota dele está meio que me forçando a sorrir, e eu o odeio por isso. 
Ele faz um bico, pensativo. 
— Completamente entendido - concorda, embora eu ache que exista um significado oculto nas suas palavras. 
Eu concordo com a cabeça. 
— Ótimo - me sinto melhor por ter deixado isso claro. 
— O que mais? - ele pergunta. 
Por um segundo, esqueci a outra regra básica. 
— Tá, a número dois é: nada de Bad Company. 
Ele parece levemente arrasado. 
— Que raio de regra é essa? 
— É minha regra e pronto - digo com um sorrisinho. — Algum problema? Você pode ouvir todas as outras bandas de rock clássico e eu não posso ouvir nada que eu quero, então não vejo nada de errado na minha condição minúscula - abro meu polegar e indicador um centímetro para mostrar quão minúscula. 
— Bom, não gostei dessa regra - ele resmunga. — Bad Company é uma ótima banda, por que tanto ódio? 
Ele parece magoado. Acho isso bonitinho. 
Estufo os lábios. 
— Sinceridade? - acho que vou me arrepender disto. 
— Sinceridade, claro - ele diz, cruzando os braços. — Desembucha. 
— Eles cantam demais sobre o amor. É piegas. 
Joseph ri alto de novo e eu começo a achar que o taxista está ficando com os ouvidos cheios, com a gente no carro. 
— Parece que alguém aqui está amarga - Joseph diz, e um sorriso se espalha pelos seus lábios.
É, me arrependi. 
Desvio o olhar porque não posso deixar que ele perceba nada em meu rosto que confirme que ele acertou na mosca sua avaliação a meu respeito. Ao menos no tocante ao meu ex infiel, Christian. Com ele, é amargura. Com Wilmer, é uma dor cruel e inalterada. 
— Bom, a gente vai consertar isso também - ele comenta casualmente. 
Volto a olhar para ele.
— Ah, obrigada, dr. Phil, mas não preciso de ajuda com isso. 
Peraí, cacete! Quem foi que falou que eu preciso ser “consertada”? 
— É? - ele vira o queixo, parecendo curioso. 
— É - digo. — Sem falar que isso meio que infringiria minha regra básica número um. 
Ele pisca e sorri. 
— Ah, você automaticamente presumiu que eu iria me oferecer como cobaia? - seus ombros se agitam com uma risada discreta. 
Ai! 
Tento não parecer ofendida. Não sei se está funcionando, então uso outra tática. 
— Bom, espero que não - comento, piscando. — Você não faz meu tipo. 
Ah, sim, roubei a bola, acho que ele se assustou agora.
— E o que eu tenho de errado? - Joseph pergunta, mas já não acredito nem um pouco que meu comentário tenha sido ofensivo. Normalmente, as pessoas não sorriem quando estão chateadas. 
Viro o corpo completamente, apoiando as costas na porta do táxi, e o olho de alto a baixo. Estaria mentindo descaradamente se dissesse que não gosto do que vejo. Ainda não encontrei nada nele que não faça meu tipo. Aliás, se não fosse pelo fato de que não tô a fim de nada dessas coisas de sexo, de sair, de namorar nem de amor, Joseph Jonas seria o tipo de cara no qual com certeza eu investiria, e pelo qual Selena babaria descaradamente. 
Ela iria colocá-lo no meio dos peitos. 
— Não tem nada de “errado” em você - admito. — Mas é que eu acabo ficando com... caras mais mansos. 
Pela terceira vez, Joseph joga a cabeça para trás e ri. 
— Mansos? - Joseph repete, ainda rindo. Ele balança a cabeça algumas vezes e acrescenta: — É, acho que você tem razão em dizer que não sou lá do tipo mais manso - ele levanta um dedo, como se fosse apresentar um argumento. — Mas a coisa mais interessante é você dizer que “acaba ficando” com eles. O que você acha que isso significa? 
Como é que ele roubou a bola de mim? Eu nem vi. 
Espero que Joseph dê a resposta, mesmo a pergunta tendo partido dele. Ele ainda está sorrindo, mas há algo muito mais meigo e perspicaz em seu sorriso agora, em vez da zombaria de sempre. 
Ele não diz nada. 
— Eu-eu não sei - digo distraidamente, e então olho para ele. — Por que isso precisa ter algum significado, afinal? 
Ele balança a cabeça de leve, mas se limita a olhar para a frente enquanto o táxi entra no estacionamento perto da rodoviária. O Chevy Chevelle 1969 do pai de Joseph é o único carro no pátio. Acho que eles curtem mesmo carros antigos. 
Joseph paga a corrida e nós saímos. 
— Boa noite pra você, cara - ele diz, acenando, quando o taxista vai embora. 
Acabo caindo num silêncio pensativo depois que partimos no Chevelle, pensando no que ele disse, mas esqueço o assunto quando paramos na frente da casa imaculada do pai dele. 
— Uau - exclamo, boquiaberta, enquanto saio do carro. — É muita casa. 
Ele fecha a porta do seu lado. 
— É, meu pai tem uma empresa grande de construção e projetos - ele explica casualmente. — Vem, não quero ficar muito tempo aqui, Kevin pode aparecer. 
Ando com ele pelo caminho paisagístico cheio de curvas que leva para a porta da casa de três andares. É um lugar tão luxuoso e impecável que não posso imaginar o pai dele morando ali. O pai de Joseph parece um homem simples, não alguém tão materialista quanto a minha mãe. 
Mamãe desmaiaria numa casa assim. 
Joseph procura uma chave e a enfia na fechadura. 
Ela estala e se abre. 
— Não quero ser enxerida, mas por que teu pai ia querer morar numa casa desse tamanho? O saguão cheira a potpourri de canela.
— Que nada, isso é coisa da ex-mulher, não foi lance dele não - eu o sigo até a escadaria forrada de carpete branco. — Ela é legal; Linda, aquela que ele mencionou no hospital; mas não conseguiu conviver com o meu pai, e eu não posso culpá-la. 
— Achei que você iria dizer que ela casou com o seu pai por dinheiro. 
Joseph balança a cabeça enquanto subimos a escada. 
— Não, não foi assim. Simplesmente é difícil conviver com o meu pai - ele enfia o chaveiro no bolso direito da frente do jeans. 
Dou uma olhadinha na bunda de Joseph naquele jeans enquanto ele sobe a escada na minha frente. Mordo o lábio inferior e em seguida me estapeio mentalmente. 
— Este é o meu quarto - entramos no primeiro quarto à esquerda. Está bem vazio, parece mais um depósito com algumas caixas bem empilhadas contra uma parede bege, alguns equipamentos de musculação e uma estátua indígena esquisita no canto, parcialmente embrulhada em plástico. Joseph vai até o amplo closet e aperta o interruptor da luz. Fico no meio do quarto, de braços cruzados, olhando ao redor e tentando não parecer curiosa demais. 
— Você disse que “é” o teu quarto? 
— É - ele diz de dentro do closet. — Pra quando venho visitar, ou se um dia eu quiser vir morar aqui. 
Chego mais perto do closet e o vejo mexendo em roupas penduradas como penduro as minhas. 
— Vejo que você também tem TOC. 
Ele me olha interrogativamente. Aponto para as roupas organizadas por cor em cabides iguais de plástico preto. 
— Ah, não, não mesmo - ele explica. — A faxineira do papai entra aqui e faz essa porra. Eu tô me lixando se minha roupa tá no cabide, muito menos arrumada pela cor, é muita... peraí... -ele se afasta das camisas e me olha de lado. — Você faz isso com a tua roupa? - ele corre o dedo horizontalmente pelas camisas. 
— Faço - confesso, mas me sinto esquisita admitindo isso para ele. — Gosto das minhas coisas organizadinhas, e tudo tem que ter um lugar. 
Joseph ri e volta a mexer nas camisas. Sem olhar muito para elas, puxa algumas e alguns jeans dos cabides e joga tudo sobre o braço. 
— Não é estressante? - ele indaga. 
— O quê? Deixar minha roupa organizada?
Joseph sorri e joga o pequeno monte de roupas nos meus braços. 
Olho para elas, sem graça, e novamente para ele. 
— Deixa pra lá - ele desconversa, e aponta para trás de mim. — Pode guardar isso na mochila pendurada no banco de exercícios? 
— Claro - digo, e as levo para lá. 
Primeiro ponho tudo sobre um banco de vinil preto, depois pego a mochila que está pendurada no apoio dos halteres. 
— Então, pra onde a gente vai primeiro? - pergunto, dobrando a primeira camisa da pilha. Ele ainda está fuçando no closet. 
— Não, não - ele diz lá de dentro; sua voz chega meio abafada. — Nada de planejamento, Demi. Vamos só pegar o carro e rodar. Nada de mapas, nem planos, nem...- ele pôs a cabeça para fora do closet e sua voz está mais clara. — O que você tá fazendo? 
Ergo o olhar, com a segunda camisa da pilha já meio dobrada. 
— Dobrando suas camisas. 
Ouço um tum-tum quando ele deixa cair um par de tênis pretos e vem do closet na minha direção. Quando chega, me olha como se eu tivesse feito algo errado e tira a camisa dobrada das minhas mãos. 
— Não seja tão perfeitinha, gata, só enfia tudo na mochila. 
Ele faz isso para mim, como se quisesse me mostrar como é fácil. 
Não sei o que chama mais minha atenção: sua aula de desorganização ou o frio na minha barriga quando ele me chamou de “gata”. 
Dou de ombros e deixo que ele guarde as roupas do jeito dele. 
— A roupa que você usa não importa muito, na verdade - ele continua, voltando para o closet. — Só o que importa é aonde você vai e o que está fazendo enquanto a usa. 
Ele joga o par de tênis preto para mim, um de cada vez, e eu pego. 
— Enfia isso também, se não se importa. 
Faço exatamente o que ele diz, literalmente socando o tênis na mochila, e fico horrorizada ao fazê-lo. Ainda bem que, pelo estado das solas, o tênis não parecia ter sido usado, senão eu iria ser obrigada a protestar. 
— Sabe o que eu acho sexy numa garota? 
Ele está de pé, com um braço musculoso bem acima da cabeça, mexendo numas
caixas na prateleira mais alta do closet. 
— Hum, não sei - digo. — Garotas que vestem roupas amarrotadas? - torço o nariz. 
— Garotas que acordam e vestem qualquer coisa - ele responde, pegando uma caixa de sapatos. 
Ele sai do closet carregando a caixa na palma da mão. 
— Aquele look acabei-de-acordar-e-tô-pouco-me-lixando é sexy. 
— Entendi - digo. — Você é um desses caras que desprezam maquiagem, perfume, todas essas coisas que fazem as garotas serem garotas. 
Ele me entrega a caixa de sapatos e, como fiz com as roupas, olho para ela com ar de interrogação. 
Joseph sorri. 
— Não, não odeio, só acho que o simples é sexy. 
— O que você quer que eu faça com isso? 
Bato na tampa da caixa com o dedo. 
— Abra. 
Olho para a caixa, indecisa, depois para ele. Ele balança a cabeça para me motivar. 
Levanto a tampa vermelha e vejo um monte de CDs nas capas originais de plástico. 
— Meu pai era preguiçoso demais pra instalar um ipod no carro - ele começa. — E na estrada nem sempre o rádio pega bem, às vezes não dá pra achar nenhuma estação decente. 
Ele tira a caixa de sapatos das minhas mãos. 
— Esta vai ser nossa playlist oficial - ele abre um sorriso, revelando todos os seus dentes perfeitos e brancos. 
Eu, nem tanto. Faço uma careta e torço um canto da boca amargamente. 
Está tudo lá, todas as bandas que ele mencionou quando o conheci no ônibus, e várias outras de que nunca ouvi falar. Tenho quase certeza de que ouvi 99% daquelas músicas vez ou outra por causa dos meus pais. Mas se alguém me perguntasse o nome desta ou daquela canção, ou de que disco é, ou que banda está cantando, eu provavelmente não saberia. 
— Que legal - comento sarcasticamente, sorrindo e enrugando o nariz para ele.
Seu sorriso só aumenta. Acho que ele adora me torturar.

Gostaram? Agora que começa mesmo a viajem dos dois e muita coisa vai rolar!!!
Comentem, bjs lindonas <3

Um comentário: