05/10/2016

breathe: capítulo 25


Algumas semanas se passaram e, quando não estava me beijando, Joseph se via envolvido em alguma discussão espirituosa com Elizabeth. Eles brigavam por causa das coisas mais estranhas e sempre acabavam rindo juntos. 
— Eu estou falando, Fifi, o Homem de Ferro é o melhor dos Vingadores — disse Joseph, jogando batata frita em Elizabeth, que estava sentada do outro lado da mesa. 
— Não mesmo! Ele não tem um escudo legal como o Capitão América, Pluto! Você não sabe de nada. 
— Sei um pouco de tudo, pode apostar — debochou ele, mostrando a língua para ela. Elizabeth ria e dava língua também. 
— Você não sabe de NADA! 
Esse tipo de conversa acontecia toda noite, e eu estava começando a adorar nossa nova rotina. 
Uma noite, depois que coloquei Elizabeth para dormir, eu e Joseph deitamos no chão da sala, cada um com um livro nas mãos. Eu lia Harry Potter, e ele, a Bíblia. De vez em quando, eu o flagrava me olhando com um leve sorriso no rosto antes de voltar a ler. 
— Certo — eu disse, apoiando meu livro no colo. — Seus comentários sobre a Bíblia até agora. 
— É um livro que faz a gente pensar. Que nos faz querer saber mais sobre tudo
— Mas? — perguntei, pois sabia que tinha um “mas”. 
— Mas... não entendo noventa e nove por cento das coisas — ele riu, colocando o livro no chão. 
— O que você quer da vida, Joseph? 
Ele se virou para mim, semicerrando os olhos, sem entender minha pergunta. 
— Como assim? 
— O que você quer da vida? — perguntei novamente. — Nunca falamos sobre isso, só estou curiosa. 
Ele passou o dedo sobre o nariz e deu de ombros, sem saber como responder. 
— Não sei. Quer dizer, antigamente eu era pai, marido. Mas agora... eu não tenho ideia. 
Fiz uma pequena careta. 
— Queria tanto que você enxergasse o que eu vejo quando olho para você. 
— O que você vê? 
— Um guerreiro. Vejo força. Coragem. Alguém que ama intensa e profundamente. Alguém que não foge das responsabilidades quando as coisas complicam. Quando olho pra você, enxergo possibilidades infinitas. Você é inteligente, Joseph. E muito talentoso — ele se encolheu. Balancei a cabeça. — Você é. E pode fazer qualquer coisa. Qualquer coisa que quiser. Seu talento com madeira é impressionante, você poderia trabalhar com isso. 
— Eu trabalhei. Eu e meu pai estávamos começando a fazer nosso negócio decolar. No dia do acidente, estávamos a caminho de Nova York para encontrar alguns empresários que estavam interessados no nosso trabalho. 
— E não deu em nada? 
Ele negou. 
— Nem chegamos a Nova York. Quando pousamos em Detroit pra fazer a conexão e ligamos o celular, recebemos inúmeras mensagens sobre Ashley e Charlie. 
— Isso é tão... 
— Foi o pior dia da minha vida. 
Antes que eu respondesse, ouvi o som de passos no corredor. 
— Mamãe! Mamãe! Olha! — chamou Elizabeth segurando sua máquina fotográfica em uma mão e duas plumas brancas na outra. 
— Você deveria estar dormindo, mocinha.
Ela resmungou. 
— Eu sei mamãe, mas olha! Duas plumas brancas! 
— Ah, parece que papai está mandando beijos pra você — comentei. 
Ela negou. 
— Não, mamãe. Essas não são do papai. — Elizabeth caminhou até Joseph e entregou as plumas para ele. — São da família dele. 
— São pra mim? — perguntou ele, emocionado. 
Ela concordou e sussurrou: 
— Isso quer dizer que eles te amam — explicou Elizabeth, segurando a câmera. — Agora, vamos tirar uma foto. Mamãe, tira uma foto com ele!— ordenou ela. Obedecemos. Quando a foto da Polaroid ficou pronta, ela a entregou a Joseph, que lhe agradeceu várias vezes. 
— Tá bom, hora de dormir. Que tal se eu lesse uma história pra você? — perguntei. 
— Será que Joseph pode ler pra mim? — indagou ela, bocejando. 
Olhei para ele, questionando-o em silêncio. Ele se levantou do chão. 
— É claro que sim. O que vamos ler? — perguntou, pegando minha garotinha no colo. 
— Eu gosto de O gatola da cartola — respondeu Elizabeth.  — Mas você tem que ler fazendo de conta que é um zumbi.
Seu sorriso se tornou ainda maior enquanto eles caminhavam pelo corredor. 
— Ah, essa é uma das minhas formas favoritas de ler histórias. 
Sentei do lado de fora do quarto da Elizabeth, encostada na parede, ouvindo Joseph ler para ela. Ela dava várias risadinhas com aquela voz terrível de zumbi e parecia tão feliz que, por um instante, minha vida se iluminou, se encheu de alegria. Não existe nada melhor para uma mãe do que ver seu filho sorrir. E eu não tinha palavras para agradecer a Joseph por isso. 
— Pluto? — chamou ela, bocejando. 
— Sim, Fifi? 
— Sinto muito pela sua família. 
— Tudo bem. Também sinto muito pelo seu pai. 
Espiei e vi Joseph sentado no chão, com o livro junto ao peito ao lado da cama de Elizabeth. Zeus estava deitado ao pé da cama. Ela bocejou de novo. 
— Sinto saudades dele. 
— Aposto que ele sente saudades de você também. 
Ela fechou os olhos e se encolheu, enroscando-se como uma bola. 
— Pluto? — sussurrou ela, quase sonhando. 
— Sim, Fifi? 
— Amo você e Zeus, apesar da sua voz de zumbi ser horrível. 
Joseph fungou e passou a mão pelo nariz antes de cobri-la. Colocou Bubba nos braços dela e ajeitou o cobertor. 
— Também te amo, Elizabeth — quando saiu do quarto, ele me viu e abriu um sorriso. Eu retribuí. — Vamos, Zeus — chamou ele. O cachorro abanou o rabo, mas não se mexeu. Joseph franziu o cenho. — Zeus, vamos. Vamos pra casa. 
Zeus choramingou e se aconchegou ainda mais aos pés de Elizabeth. 
Eu ri. 
— Acho que você tem um traidor. 
— Não posso culpá-lo. Tudo bem se ele dormir aqui hoje? 
— Claro. Acho que os dois acabaram se acostumando um com o outro quando você passou aqueles dias aqui em casa. 
Ele encostou na porta, observando Zeus se esgueirar para os braços de Elizabeth, onde Bubba estava. Elizabeth o abraçou apertado e sorriu, sonhando. Joseph cruzou os braços. 
— Eu entendo por que você não ficou tão destruída quanto eu. Você tinha Elizabeth, e ela é... ela é maravilhosa. Ela é tudo de bom no mundo, não é? 
— Sim — concordei. — É sim


***

Na segunda semana de novembro, uma imensa tempestade de raios chegou a Meadows Creek. Sentei na varanda, vendo as gotas de chuvas caírem grossas na grama. Estava surpresa por não ter nevado ainda, mas tinha certeza de que, em algumas semanas, tudo ficaria coberto de branco. 
O céu ficava mais escuro a cada minuto, e os trovões se seguiam aos raios. Elizabeth estava dormindo, e fiquei aliviada por ela ter um sono tão profundo, caso contrário se assustaria com a tempestade. Zeus estava sentado ao meu lado na varanda, observando a chuva, os olhos quase fechando. Ele lutava bravamente contra o sono, mas perdia a batalha. 
— Demi — gritou Joseph, correndo de sua casa. Entrei em pânico ao vê-lo se aproximar. 
— Demi — berrou. Estava encharcado da cabeça aos pés quando chegou na varanda e apoiou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. A chuva caía sobre ele. 
— O que aconteceu? — perguntei com a voz cheia de medo. Parecia que ele tinha enlouquecido. Desci a escada da varanda e fui até ele na chuva. — Você está bem? 
— Não. 
— O que aconteceu? 
— Estava sentado na oficina e pensei em você — sua mão envolveu a minha, e ele me abraçou. Meu coração batia forte, disparando ao absorver cada palavra que saía de sua boca. — Tentei tirar você da cabeça. Tentei arrancar você dos meus pensamentos. Mas continuei pensando em você, e meu coração parecia que iria parar de bater. E... — ele aproximou o rosto, seus lábios a milímetros dos meus, sua boca passando pela minha, bem devagar. O calor que emanava dele dispersava o frio trazido pela chuva. Joseph tinha um tipo de calor que eu nem sabia que existia, era como um cobertor que dissipava a dor e a tristeza. A voz dele estava trêmula. — E... eu me dei conta de que amo você. 
— Joseph… 
Ele balançou a cabeça. 
— É ruim, certo? 
— É... 
Joseph deu uma leve mordida em meus lábios. 
— Terrível. Então, agora, Demi... se você não quiser que eu te ame, me diga pra parar. Vou embora e vou deixar de amar você. Pode se afastar, se quiser. Me peça pra ir, e eu irei. Mas, se existe uma pequena parte de você que se sente bem com isso, então, me abrace. Me leve para sua casa, me leve para seu quarto, e me deixe mostrar o quanto eu te amo. Me deixe mostrar o quanto eu adoro cada parte do seu corpo. 
Um sentimento de culpa tomou conta de mim. Baixei os olhos. 
— Não sei se já estou preparada para dizer... 
Ele levantou meu queixo com um dedo e olhou nos meus olhos. 
— Não tem problema — prometeu, com a voz baixa. — Eu tenho quase certeza de que tenho amor suficiente pra nós dois. 
Fechei os olhos e, a cada respiração, senti uma paz que nunca havia sentido antes. Nunca pensei, nunca imaginei que iria ouvir a palavra amor de outro homem, mas Joseph a pronunciou, e eu me senti completa de novo. 
Ele ficou ali, respirando junto aos meus lábios. O ar que ele expirava se confundia com o da minha inspiração, se tornava minha cura. Continuamos por mais alguns instantes na chuva, até que meus passos nos levaram para o calor da casa.


Finalmente o Joseph disse que ama a Demi, que capítulo lindo.
Ela logo dirá também, só está insegura com isso...Elizabeth muito fofa aw
Gostaram? Comentem aqui
bjs amores e até o próximo <3
respostas aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário