6 de abril de 2014
Um dia antes do adeus
— Estou morto — murmurei ao olhar para o espelho do banheiro.
A garrafa de uísque vazia estava na bancada, o frasco de comprimidos laranja ao lado, minha vista completamente embaçada. Eu ouvia meus pais falando do lado de fora sobre os últimos detalhes, os planos para o funeral, nosso transporte da igreja para o cemitério.
— Estou morto — repeti. A gravata estava pendurada no pescoço, esperando o nó. Pisquei e, quando abri os olhos novamente, vi Ashley diante de mim, arrumando minha gravata.
— O que aconteceu, meu amor? — murmurou ela, meus olhos se enchendo de lágrimas.
Levantei a mão e toquei seu rosto suave. — Por que você está assim?
— Estou morto, Ashley, eu morri — solucei, sem conseguir controlar minha dor. — Quero que tudo acabe. Quero que isso acabe. Não quero mais ficar aqui.
— Shh — sussurrou, aproximando os lábios do meu ouvido. — Amor, você precisa respirar fundo. Está tudo bem.
— Não está nada bem. Não está nada bem.
Ouvi a batida na porta do banheiro.
— Joseph, sou eu, seu pai. Abre a porta, filho.
Eu não conseguia. Estava morto. Estava morto.
Ashley olhou para a pia e viu a garrafa de uísque vazia e o frasco.
— Amor, o que você fez? — encostei na parede e deslizei para dentro da banheira, soluçando.
Ashley veio, apressada, até mim. — Joseph, você tem que vomitar agora.
— Não posso... não posso...
Minhas mãos cobriram o rosto, estava tudo embaçado. Minha mente me pregava peças. Eu estava desmaiando. Eu sentia que ia desmaiar.
— Amor, pense em Charlie. Ele não iria querer ver você assim. Vamos lá — ela me levou até o vaso sanitário. — Não faça isso, Joseph.
Vomitei. Senti tudo queimando dentro de mim. Minha garganta parecia pegar fogo quando finalmente botei o uísque e os comprimidos para fora do meu corpo.
Encostei de novo na parede. Abri os olhos e Ashley tinha ido embora, ela nunca esteve ali.
— Sinto muito — murmurei, passando as mãos pelo cabelo. O que seria de mim?
Como eu iria sobreviver?
— Joseph, por favor, precisamos saber se você está bem — gritavam minha mãe e meu pai do outro lado da porta do banheiro.
— Estou bem — menti. Ouvi o suspiro de alívio da minha mãe. — Já vou sair.
Eu quase conseguia sentir a mão do meu pai no meu ombro, tentando me confortar.
— Tudo bem, filho. Nós estamos aqui, esperando você. Não vamos a lugar algum.
***
Demi disse que iria até a loja do Sr. Henson no dia seguinte, mas mudou de planos na última hora. Cinco dias se passaram sem que nos falássemos. As cortinas dela estavam fechadas a semana toda e, quando eu batia na porta, ela estava sempre de saída ou simplesmente me ignorava.
Parei no Doces & Sabores para ver se ela estava trabalhando e encontrei Selena gritando com um cliente, dizendo que os ovos mexidos dele não estavam quase crus.
— Oi, Selena — chamei, interrompendo a discussão.
Ela se virou em seus saltos altos e levou as mãos ao quadril. Dava para ver a hesitação em seu olhar. A última vez que nos vimos foi quando briguei com Stephen no bar, e eu sabia que ela não se sentia bem com a minha presença. Eu ouvia todos na cidade cochichando sobre mim, e tinha certeza de que algumas mentiras já haviam chegado a Selena.
— Oi — cumprimentou ela.
— Demi está trabalhando hoje?
— Ela está doente. Já está em casa há alguns dias.
— Ah, certo.
— Por que você não vai até lá? Vocês brigaram? — ela pareceu nervosa. — Ela está bem?
— Não brigamos. Pelo menos eu acho que não. Ela só... — pigarreei. — Ela não está falando comigo e não sei o motivo. Ela disse algo a você? Sei que você é a melhor amiga dela e...
— Acho melhor você ir embora, Joseph.
Pela forma como reagiu, dava para perceber que ela não acreditava em mim, que ela achava que eu tinha magoado Demi.
Assenti, abri a porta para sair e parei.
— Selena, eu amo a Demi. Eu entendo o fato de você não confiar em mim e entendo até se me odiar. Por um longo tempo eu fui um monstro. Depois que Ashley e Charlie morreram, eu me transformei num monstro que nem eu reconheceria. Me perdoe por ter te assustado no dia da festa, me desculpe, eu surtei... mas eu nunca a machucaria... ela... — levei meu pulso à boca, tentando controlar minhas emoções. — Ano passado, morri junto com minha esposa e meu filho. Fiquei fora da realidade, fora do mundo. Eu estava bem vagando sozinho, porque viver todo santo dia era uma tortura. Mas Demi apareceu e, apesar de eu estar morto, ela me viu. Ela teve a paciência de me ressuscitar. Ela trouxe a vida de volta à minha alma. Ela me tirou da escuridão. E agora não está atendendo minhas ligações, nem olhando para mim. Estou mal porque sei que alguma coisa a magoou e não consigo ajudá-la como ela fez comigo. Então, você pode me odiar à vontade. Por favor, até eu me odeio de vez em quando. Eu mereço isso e, por causa de Demi, vou aguentar. Mas, se você puder me fazer um favor e ir até lá ver se está tudo bem, se você puder ajudá-la a respirar um pouco, eu te agradeceria do fundo do meu coração.
Saí do café e enfiei as mãos nos bolsos.
— Joseph — Virei e vi Selena olhando para mim. Os olhos dela eram mais gentis. A postura rígida tinha ficado para trás.
— O que foi?
— Eu vou até lá — prometeu ela. — Vou ajudá-la.
Quando eu estava chegando à Artigos de Utilidade, vi Stephen pela vitrine e decidi me apressar. Sabia que provavelmente ele estava importunando o Sr. Henson, insistindo novamente para que vendesse a loja. Eu queria muito que ele desse um tempo.
— O que está acontecendo? — perguntei ao abrir a porta, e o sininho da entrada tocou.
Stephen virou-se para mim com um sorriso dissimulado no rosto.
— Só estamos falando de negócios.
Olhei para o rosto vermelho do Sr. Henson. Ele raramente ficava nervoso, mas dava para perceber que Stephen tinha falado alguma coisa que o havia deixado incomodado.
— Talvez seja melhor você ir embora, Stephen.
— Dá um tempo, Joseph. Eu só estava batendo um papo com o Sr. Henson — ele pegou umas cartas de tarô e começou a embaralhá-las. — Você consegue fazer uma leitura bem rápida pra mim, Sr. Henson?
Meu amigo permaneceu em silêncio.
— Vá embora, Stephen.
Ele sorriu e inclinou-se na direção do Sr. Henson.
— Você acha que as cartas vão me mostrar que você vai ceder esse espaço pra mim? É por isso que não quer ler? Não quer saber a verdade?
Minha mão pousou no ombro de Stephen, que recuou. Bom. A forma como ele desdenhava do Sr. Henson fazia meu sangue ferver.
— Está na hora de você ir embora.
O Sr. Henson suspirou, aliviado por eu ter assumido o controle da situação, e foi para a sala dos fundos.
Stephen afastou minha mão e fingiu tirar uma poeirinha do ombro.
— Fica frio, Joseph. Eu só estava me divertindo com o velho.
— Você precisa ir embora agora.
— Tem razão. Preciso mesmo. Tem gente aqui que tem um emprego de verdade. Mas olha, estou feliz de ver que você e Demi conseguiram superar tudo depois que ela contou sobre o acidente. Foi legal. Quer dizer, você é uma pessoa muito melhor que eu. Eu acho que não conseguiria nem ficar perto de uma pessoa sabendo que ela estava envolvida nisso tudo.
— O que você está querendo dizer? — perguntei.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Você não sabe, não é? Merda... Demi disse que tinha te contado.
— Contado? Contado o quê?
— Que o marido dela estava dirigindo o carro que matou sua família — ele arregalou os olhos. — Ela não contou, não é mesmo?
Minha garganta ficou seca, e por um instante considerei a possibilidade de ele estar mentindo. Stephen me odiava porque eu e Demi nos amávamos. Ele era um cretino filho da puta que enchia o saco de todo mundo e decidiu infernizar minha vida.
A última coisa que ele disse era que sentia muito e que não queria nos trazer problemas. Disse que estava feliz por eu e Demi termos nos encontrado, que queria que ela fosse feliz. Mas eu sabia que tudo o que ele estava falando era um monte de merda.
***
Naquela noite, sentei na minha cama com meu celular na mão e liguei para meu pai. Eu não disse nada quando ele atendeu, mas ouvir a voz dele foi muito bom. Era disso que eu precisava.
— Joseph — dava até para sentir o alívio em sua voz. — Oi, filho. Sua mãe me contou que você telefonou há algum tempo, mas não disse nada. Ela também contou que com certeza viu você a caminho do mercado, em Meadows Creek, mas falei que era só imaginação — ele parou. — Você não vai falar nada? — ele fez outra pausa. — Tudo bem. Eu sempre fui meio tagarela.
Era mentira. Meu pai sempre foi quieto, sempre preferiu ser um bom ouvinte. Coloquei o telefone no viva-voz e deitei na cama, fechando os olhos enquanto ele contava tudo que eu tinha perdido.
— Seus avós estão na cidade nos visitando, e imagino que você saiba o quanto eles me deixam louco. A casa deles está em reforma, e sua mãe achou que seria uma ótima ideia eles passarem um tempo aqui. Já faz três semanas que chegaram, e eu já bebi mais gim do que pensei ser possível para um ser humano. Ah! E sua mãe, não sei como, me convenceu a fazer ginástica com ela porque está preocupada com a minha alimentação à base de Doritos e refrigerante. Mas, quando eu apareci na aula, vi que era o único homem. Acabei fazendo uma aula de zumba. Minha sorte é que eu sei requebrar o quadril.
Eu ri.
Meu pai continuou falando, e eu iria de um cômodo a outro, ouvindo-o contar histórias, falar de esportes e de como os Packers ainda eram um dos melhores times da liga de futebol americano. Ele abriu uma lata de cerveja, e eu fiz o mesmo. Parecia até que estávamos bebendo juntos.
Quando era quase meia-noite, ele disse que precisava ir para a cama. Disse que me amava e que sempre estaria do outro lado da linha se eu precisasse conversar.
Antes de desligar, falei:
— Obrigado, pai.
Ouvi a voz dele falhar e a emoção dominá-lo.
— Ligue sempre que quiser, filho. Ligue a qualquer hora que precisar, de dia ou de noite. E, quando estiver pronto para voltar, vamos estar aqui. Não iremos a lugar algum.
O mundo precisava de mais pais como os meus.
o Joseph descobriu e agora o que acham que vai acontecer?
Stephen um filha da mãe né? que raiva hauhsuhauah
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bjs lindonas e até o próximo <3
Voltei.... tive alguns problemas, por isso não comentei antes... mas Graças a Deus coloquei a leitura em dia... vontade de matar esse idiota do Stephen... eles estavam tão bem juntos... tomara que o Joseph não a culpe pelo acidente... ainda acho que esse infeliz desse filhote de cruz credo teve culpa nesse acidente... continuaaaa....
ResponderExcluirNão se preocupe amor, o importante que você está gostando da história.
ExcluirStephen é um idiota, ele teve culpa sim mas só pela frente iremos saber como.
Vou postar hoje, bjs lindona <3