17/02/2018

begin again: capítulo 41


Complete family

Leva três dias para uma conferência sobre o caso ser organizada. Três dias que eu passo no abrigo, sentada com Charlotte, abraçando-a enquanto ela chora, brincando quando ela está pronta para sorrir. Vou agindo conforme os sinais, observando as expressões dela com um olhar desconfiado. Esperando para ver o que ela vai fazer em seguida.
Nos encontramos em frente ao prédio de serviços sociais: Selena, eu e a advogada de família que Simon me recomendou. Rafiya, a advogada, aconselhou que seria melhor Joseph não estar presente na primeira reunião. Com uma eficiência implacável, ela explica que não quer complicar as coisas com explicações sobre minha vida amorosa.
Somos chamados em uma sala de reunião logo após as onze da manhã. Sento- me em outra cadeira dura de plástico, minha mão dobrada com força na de Selena, e ouço as discussões como se não estivesse envolvida. Rafiya passa por uma lista de eventos que demonstram que sou parte da rede de apoio de Charlotte,  as aulas, os passeios, meu envolvimento com Daisy. Ela diz sobre nos mudarmos para Hudson, explicando por que um novo começo seria muito
melhor no longo prazo. E eu fico espantada que todas essas pessoas, que não conhecem nem Charlotte nem eu, vão tomar decisões sobre o resto de nossas vidas.
Esta não é a única vez em que vamos estar sujeitos a esse tipo de escrutínio. Com o tempo, pretendo adotá-la, e as investigações rigorosas que esse passo vai demandar fazem a reunião de hoje ser mamão com açúcar. Já tive de ouvir Rafiya explicando todas as armadilhas, e agora estou recebendo mais um sermão.
Isso é certo, digo a mim mesma. Afinal, estamos falando sobre o futuro de uma criança. Nenhum escrutínio poderia ser grande demais.
– É muito importante que Charlotte receba acompanhamento profissional – Grace me aborda diretamente, ignorando Rafiy a por completo. – Você já procurou esse tipo de serviço em Hudson?
Meus lábios se contorcem porque Grace sabe que eu procurei. Tivemos uma conversa telefônica de uma hora a respeito disso ontem à noite. Eu queria ter certeza de que tinha coberto todas as possibilidades.
– Procurei, eu falei com um terapeuta infantil esta semana. Marcamos uma consulta preliminar para vermos se vai ser possível construir um relacionamento. Também falei com a escola local e expliquei a situação. Eles confirmaram que existe vaga para Charlotte.
Selena aperta minha mão e consigo respirar um pouco mais fácil. Só quero Charlotte comigo.
A reunião continua a respeito da minha adequação como responsável pela criança. Rafiya apresenta um relatório do meu médico e três depoimentos de amigos meus. A sala fica em silêncio enquanto todos folheiam os documentos, e me vejo examinando a expressão dos presentes, tentando ver se tenho alguma chance aqui. Grace me olha nos olhos e mostra o menor dos sorrisos. Mesmo que tenhamos tido nossas diferenças, ambas queremos o que é melhor para Charlotte.
Posso me contentar com isso.
Perto do final da reunião, me perguntam se quero acrescentar alguma coisa. Limpo a garganta, mexendo nos meus papéis para encontrar a declaração que Rafiya me ajudou a preparar. Mas então eu titubeio, sabendo a imagem que eles teriam de mim com as palavras frias e clínicas de um texto lido em voz alta. Em vez disso, olho pela sala, nos olhos de todos que estão sentados na minha frente.
Quero ser ouvida.
– Sei que estamos todos aqui pela mesma razão: porque uma menina perdeu a mãe. A mãe que ela viu morrer diante de seus olhos. Entendo que os senhores têm de se certificar de que, não importa para onde ela vá, ela precisará receber cuidados. Não quero deixar nenhum dos senhores em dúvida sobre meus sentimentos por Charlotte. Eu a amo. É puro e simples desse jeito. Podem querer me dizer que o amor não é suficiente, e eu não poderia concordar mais. Na clínica onde trabalho, vemos crianças que sofrem todos os dias, independente de quanto seus pais as amem. Por isso, também posso prometer que vou me dedicar a criá-la bem, a oferecer um lar estável. Um onde ela não vai ter de se perguntar se vai poder jantar à noite. Um onde ela possa se sentir segura o suficiente para se sentir triste, feliz, ou o que precisar sentir. Onde possa passar dos limites e ser trazida de volta. – respiro fundo, tentando afrouxar o aperto no meu peito. – Quero devolver a ela o direito de ser criança.
Quando olho para Selena, ela está sorrindo para mim, mesmo que seus olhos estejam brilhando. Há um silêncio na sala, e espero por uma resposta, olhando para o discurso que não cheguei a ler. Finalmente, alguém pigarreia. Grace dá um leve sorriso e olha para o resto dos reunidos.
– Os senhores têm mais alguma pergunta?
Há murmúrios de “não”, acompanhados pela negação frenética de cabeças. Dou um suspiro de alívio. Tem de ser uma boa notícia, espero, o fato de não quererem me fazer mais nenhuma pergunta.
– Muito bem, vamos acabar por aqui. Acredito que a senhora vai receber uma visita de serviço social infantil de Hudson e Hove?
– Correto. – Rafiya responde por mim. Talvez ela tenha decidido que falei demais.
– A menos que surja alguma questão decorrente dessa visita, posso confirmar que vou endossar o pedido de alojamento em lar de parentesco adotivo.
Levo um instante para compreender o que foi dito. Então percebo que todos os olhos estão em mim. Levanto a cabeça e vejo cinco rostos expectantes. Mas o alívio me deixa muda, incapaz de dizer qualquer coisa com aparência de coerente. Em vez disso, balanço a cabeça e me concentro na tentativa de não chorar.
Charlotte vai voltar para casa comigo. Para nossa casa, onde posso cuidar dela e vê-la crescer. Um lugar onde podemos ir à praia, respirar ar fresco e fingir que podemos enxergar a França. Em algum lugar onde Darren Tebbit e caras como ele não vão poder tocá-la.
Ela vai voltar para casa.
Os minutos seguintes são um borrão. Rafiya fala em voz baixa com Grace, enquanto Selena me abraça e me diz como está orgulhosa. Concordo com a cabeça nos momentos certos, abraçando-a e tentando não ficar histérica. Quando saio da sala, Rafiya aperta minha mão, explicando que ela vai enviar algum documento antes da visita a Hudson do dia seguinte. Depois ela se vai e só sobramos Selena e eu, duas mulheres bobas de felicidade, incapazes de completar uma frase.
– Ai, meu Deus, estou tão feliz...
– Muito obrigada por estar aqui. Eu não poderia ter feito isso...
Nós duas rimos e tentamos nos acalmar. Selena respira fundo e começa novamente: – Não posso acreditar que nós duas vamos ser mães. – olho para baixo e há
uma pequena protuberância em sua barriga. – E não posso acreditar que você vai
me deixar. Hudson é muito longe.
– É uma hora de trem – digo. – Você pode ir me visitar o quanto quiser. – tento não demonstrar, mas esse pensamento me deixa triste. Estou muito acostumada a ver Selena todos os dias na clínica, mesmo que seja apenas alguns minutos, e agora nossa interação vai ser por telefone e e-mail. – Prometo que vou estar lá para o nascimento.
– É melhor estar. Nicholas tem medo de ver sangue. Meio que estou esperando que ele saia correndo e gritando quando a primeira contração começar.
Rio com a imagem que isso evoca. Nicholas sempre parece muito arrogante e no controle das situações. Talvez o bebê vá amolecê-lo um pouco.
– Vou estar lá.
Saímos do prédio e uma névoa fina de chuva cobre nosso cabelo, deixando gotas presas às mechas como orvalho sobre teia de aranha. Selena me abraça pela última vez e se dirige para o metrô, enquanto encosto na parede e pego o celular. Preciso ligar para Nicholas, contar para ele como foi, antes de voltar para o abrigo e ficar com Charlotte.
Um movimento à minha esquerda me chama a atenção e me faz olhar para cima. É quando o vejo. O cabelo escuro ficou preto por causa da chuva, colado à testa. Gotas escorrem por seu rosto e caem sobre os ombros. Embora ele esteja ensopado, corro para seus braços, deixando que ele me abrace enquanto conto tudo o que aconteceu. As mãos de Joseph apertam em torno da minha cintura e conto que Charlotte deve ir para casa comigo em alguns dias.
Ele aperta o rosto no meu cabelo e respira.
– Você ainda tem cheiro de chuva.
Sorrio com as memórias que suas palavras evocam. Nosso primeiro beijo na chuva. Alimentado por drogas, doce e cheio de necessidade. Embora estejamos mais velhos agora e sóbrios, essa necessidade ainda finca as garras em mim, exigindo ser alimentada. Então eu lentamente levanto o rosto até que meus lábios estejam a milímetros dos dele.
– Também tenho gosto de chuva?
Seu sorriso é devastador. Faz minhas pernas amolecerem e meu coração disparar até eu ser pouco mais do que uma boneca de pano em seus braços.
Logo, ele abaixa a cabeça o suficiente para pressionar os lábios nos meus, e a sensação é do sol que explode as nuvens. Porque é isso o que ele faz por mim. Beijo-o, e minha língua desliza de leve na boca dele. Meus punhos seguram a parte de trás de sua jaqueta como se ele fosse uma espécie de bote salva-vidas.
Um dia, quando éramos tão autodestrutivos, levei anos para superar os resultados catastróficos. Ainda assim, aqui estamos nós, nos abraçando como se fôssemos um casal normal, numa relação funcional. Independente da minha separação, da carreira imprevisível de Joseph e do fato de que estou prestes a adotar uma criança, de alguma forma. Pela primeira vez, eu realmente me sinto com os pés no chão.
Ele se afasta, o rosto corado e reluzente com a chuva. Quando tira o cabelo molhado da minha testa, seus dedos são delicados. Pouco mais de uma carícia. Ele recua, passando as mãos pelo próprio cabelo encharcado e diz:
– Vamos ver a nossa menina.

este é o penúltimo capítulo amores :(
Charlotte irá ficar com a Demi, ainda bem <3
e o casal Jemi tanto amor aw.
desculpem pela a demora para postar.
prometo que a próxima história será ótima.
espero que tenham gostado amores.
me digam o que acharam nos comentários, volto logo com o epilogo.
respostas do capítulo anterior aqui.

4 comentários:

  1. Eu ia fazer textão nesse porque ele tá simplesmente o melhor capítulo da história inteira. Mas sei que ainda vem o último, então ainda vou esperar e reunir tudo no final.

    Cara, quase choro com o discurso da Demi, juro por Deus.
    E Selena gravidinha? Coisa linda!
    Não vou nem falar nada de Jemi, pq sei que vem mais no último.
    Você arrasa, Jessie. Parabéns! 💜
    #sadporestaracabando

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    1. Fico muito feliz que você gostou do capítulo amor.
      Selena linda gravidinha <3
      Muito obrigada pelo o carinho.
      Beijos, Jessie.

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  2. Ahhh eu amo tanto essa história que da uma bad em pensar que esta chegando o the end dela...
    Vem Epílogo

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    1. Fico muito feliz que tenha gostado da história.
      Epílogo já esta postado.
      Beijos, Jessie.

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