23/08/2016

breathe: capítulo 4


Na manhã seguinte, Starla e David chegaram bem cedo, animados para levar Elizabeth para um final de semana repleto de aventuras. Já estava pronta para sair quando ouvi alguém bater na porta. Assim que a abri, tive que forçar um sorriso ao ver minhas três vizinhas, três mulheres que não me fizeram a menor falta.
— Oi, Marybeth, Susan e Erica. 
Eu devia ter imaginado que não demoraria muito para as três maiores fofoqueiras da cidade aparecerem na minha porta. 
— Ah, Demi — falou Marybeth ofegante, me abraçando. — Como você está, querida? Ouvimos alguns rumores de que você tinha voltado, mas você sabe, nós odiamos fofocas, então decidimos vir aqui pessoalmente para confirmar. 
— Fiz rocambole de carne — exclamou Erica. — Você foi embora tão rápido quando Zachary morreu que nem tive tempo de fazer um agrado. Então aqui está, finalmente pude fazer esse prato para ajudá-la nesse momento de luto. 
— Obrigada. Na verdade, eu estava indo para... 
— Como está Elizabeth? — interrompeu Susan. — Ela está superando a perda? Minha Rachel sempre pergunta por ela. Será que elas podem brincar juntas lá em casa? Acho que seria ótimo — ela fez uma pausa e se aproximou de mim. — Mas cá entre nós, Elizabeth não está com depressão, né? Ouvi dizer que pode contagiar outras crianças. 
Que ódio. Que ódio. Que ódio. 
— Ah, não, Elizabeth está bem. Estamos bem. Está tudo ótimo — respondi sorrindo. 
— Então você vai voltar ao nosso clube do livro? Estamos nos reunindo todas as quartas na casa da Marybeth. As crianças ficam brincando no andar de baixo enquanto nós comentamos sobre o romance da vez. Esta semana, estamos lendo Orgulho e preconceito
— Eu... — não quero ir de jeito nenhum. Elas ficaram me observando, e eu sabia que, se dissesse não, causaria mais problemas. Além do mais, seria bom para Elizabeth passar um tempo com meninas da idade dela. — Eu vou, sim. 
— Perfeito — Marybeth olhou ao redor. — Seu jardim tem uma personalidade e tanto — comentou com um sorrisinho nos lábios, mas o que ela queria mesmo dizer era: “Quando você vai cortar essa grama? Isso é uma vergonha para todas nós.” 
— Vou dar um jeito nele — respondi. Peguei o rocambole de Erica, coloquei-o dentro de casa e fechei a porta, esforçando-me para deixar claro que eu estava de saída. — Obrigada pela visita, meninas. Preciso ir à cidade. 
— O que você vai fazer na cidade? — quis saber Marybeth. 
— Vou dar uma passada na Doces & Sabores para ver se o Matty precisa de alguma ajuda. 
— Mas ele acabou de contratar uma pessoa. Duvido que tenha vaga pra você — retrucou Erica. 
— Ah, então é verdade? Você não vai mesmo reabrir a empresa? Faz sentido, agora que você não tem mais Zachary — disse Marybeth. 
— Ele era muito competente — acrescentou Susan, concordando. — E sei que você só tem o diploma de designer de interiores. Deve ser difícil deixar um negócio tão interessante e voltar para um trabalho tão... inferior, como garçonete. Eu não conseguiria. É dar um passo para trás. 
Vão se ferrar, vão se ferrar, vão se ferrar
— Bem, vamos ver. Foi ótimo revê-las. Com certeza nos encontraremos em breve — falei, sorrindo. 
— Quarta, às sete — Susan riu. 
Revirei os olhos ao passar por elas e as ouvi cochichar, dizendo que engordei um pouco e que estava com olheiras profundas. 
Andei na direção da Doces & Sabores e tentei disfarçar meu nervosismo. E se eles não precisassem mesmo de ajuda no café? O que eu iria fazer? Os pais de Zachary disseram que eu não deveria me preocupar com dinheiro, que eles ajudariam por um tempo, mas eu não queria ajuda. Precisava encontrar uma maneira de me sustentar. Assim que abri a porta do café, ri ao ouvir um grito vindo de trás do balcão. 
— Por favor, me diga que não é um sonho e que minha melhor amiga voltou — berrou Selena, pulando e me agarrando. Assim sem me soltar, ela olhou para o dono do café. — Matty, me diga que você está vendo o mesmo que eu e que não estou tendo alucinações por causa das drogas que usei antes de vir trabalhar. 
— Ela está aqui mesmo, sua maluca. 
Ele riu. Matty era bem mais velho e sempre revirava os olhos e dava risinhos afetados diante da personalidade vibrante de Selena. Seus olhos castanhos encontraram os meus, e ele acenou para mim. 
— Bom te ver, Demi. 
Selena se aconchegou no meu peito como se fosse o travesseiro dela. 
— Agora que voltou, você nunca, nunca mais vai embora. 
Selena era bonita de uma maneira singular. Seus cabelos eram castanho com mechas loiras. As unhas estavam sempre pintadas com cor neutras, e seus vestidos sempre ressaltavam suas curvas perfeitas. 
O que a fazia ser tão bonita, no entanto, era sua autoconfiança. Selena sabia que era deslumbrante, mas não pela aparência. Ela tinha orgulho de si mesma, não precisava da aprovação de ninguém. 
Eu a invejava por isso. 
— Bom, vim até aqui pra saber se vocês estão contratando. Sei que não trabalho aqui desde a época da faculdade, mas estou precisando de um emprego. 
— É claro que estamos! Ei, Sam — chamou Selena, apontando para um rapaz que eu não conhecia. — Você está despedido. 
— Selena — protestei. 
— O quê? 
— Você não pode simplesmente demitir as pessoas — eu a repreendi ao ver o medo nos olhos de Sam, coitado. — Você não está demitido. 
— Ah, está, sim. 
— Cala a boca, Selena. Não, não está. Como você pode demitir alguém? 
Ela levantou a cabeça e bateu no crachá com seu nome, apontando para o seu cargo. 
— Alguém tinha que ser gerente, mulher. 
Virei para Matty , em choque. 
— Você promoveu Selena à gerência? 
— Acho que ela me drogou — disse ele, rindo. — Mas se precisa mesmo de emprego, sempre vamos ter um lugar pra você aqui, mesmo que por meio período. 
— Meio período seria ótimo. Qualquer coisa está bom — respondi sorrindo, agradecida. 
— Ou eu posso demitir Sam — insistiu Selena. — Ele já tem outro emprego de meio período e é meio esquisitão. 
— Eu estou ouvindo — interveio Sam, envergonhado. 
— Não interessa. Está demitido. 
— Não vamos demitir Sam — interveio Matty. 
— Você é sem graça. Mas quer saber de uma coisa? — ela tirou o avental e soltou um grito: — Hora do almoço 
— São nove e meia da manhã — retrucou Matty . 
— Hora do café, então!— corrigiu Selena, me pegando pelo braço. — Voltamos em uma hora. — Os intervalos são de apenas trinta minutos. 
— Tenho certeza de que Sam vai me dar cobertura. Sam, você não está mais demitido. 
— Você nunca foi demitido, Sam. — Matty riu. — Uma hora, Selena. Traga-a de volta, Demi, ou ela é que vai ser demitida. 
— Ah, é? — Selena colocou as mãos na cintura, quase... sedutora? Matty deu um sorrisinho e passou os olhos pelo corpo dela, de um modo quase...sexual? 
Mas o que foi isso
Saímos do café, o braço de Selena agarrado ao meu, enquanto eu tentava entender o que havia acabado de acontecer entre ela e Matty. 
— O que foi aquilo? — ergui a sobrancelha. 
— Aquilo o quê? 
Aquilo — falei, apontando na direção de Matty. — Aquela cena sensual entre vocês dois? — ela não respondeu e mordeu o lábio. — Meu Deus! Você dormiu com Matty? 
— Cala a boca! Quer que a cidade inteira escute? — ela olhou para os lados, envergonhada. — Foi sem querer. 
— Ah, sério? Sem querer? Você estava distraída, andando pela rua principal, quando Matty veio em sua direção, e o pau dele saiu da calça por acidente? E aí bateu um vento forte e o pau dele foi parar dentro da sua vagina? Foi esse tipo de acidente? — perguntei, tirando sarro. 
— Não foi bem assim. — ela passou a língua pelos cantos da boca. — O vento meio que levou o pau dele até a minha boca primeiro. 
— Pelo amor de Deus, Selena! 
— Eu sei, eu sei! É por isso que as pessoas não deveriam sair de casa quando venta. As pirocas ficam agitadas nos dias de ventania. 
— Não estou acreditando nisso. Ele tem o dobro da sua idade. 
— O que eu posso fazer? Acho que estou curtindo homens mais experientes... uma figura paterna. 
— Bom, seu pai é incrível. 
— Exatamente. Nenhum cara da nossa idade se compara a ele! E Matty... — ela suspirou. — Acho que estou gostando dele. 
Aquilo foi um choque. Selena nunca usou a palavra “gostar” para se referir a um cara. Ela era a maior pegadora que eu conhecia. 
— O que significa “gostar dele”? — perguntei, com a voz cheia de esperança de que minha amiga, finalmente, fosse sossegar. 
— Calma aí, Nicholas Sparks. O que eu quis dizer é que gosto do pau dele. Até dei a ele um apelido. Quer saber qual é? 
— Pelo amor de tudo que é mais sagrado nesse mundo, não. 
— Ah, mas agora vou dizer. 
— Selena — murmurei. 
— Matty Grossinho — contou ela, com um sorriso safado. 
— Você sabe que não precisa me contar essas coisas. Tipo nunca, nunca, nunca mesmo 
— Estou falando: pensa em duas salsichas alemãs. Esse é Matty Grossinho. É como se o deus da salsicha finalmente tivesse ouvido minhas preces. Você se lembra do Peter dedinho e do Nick Cabeludo? Então, é muito melhor! Matty Grossinho é o paraíso das salsichas. 
— Estou quase vomitando. Literalmente. Dá pra mudar de assunto? 
Ela riu e me puxou para perto. 
— Como senti sua falta! Vamos para o nosso lugar de sempre? O que acha? 
— Claro. 
Andamos por alguns quarteirões, e Selena me fez rir muito. Perguntei-me por que fiquei tanto tempo longe. Talvez uma parte de mim se sentisse culpada por saber que, se eu ficasse aqui, me recuperaria aos poucos. Essa ideia me apavorava. Mas, naquele momento, rir era exatamente o que eu precisava. Quando eu ria, não tinha muito tempo para chorar, e eu já estava cansada das lágrimas. 
— É estranho estar aqui sem Elizabeth — comentou Selena, sentando na gangorra do parquinho. Começamos a subir e descer no brinquedo, rodeadas de crianças correndo e brincando com seus pais e suas babás. Uma delas olhou para nós como se fôssemos loucas, mas Selena foi bem rápida e gritou: — Nunca cresçam, crianças! É uma armadilha. 
Ela era ridícula o tempo todo. 
— Então, há quanto tempo está rolando esse lance com Matty? — perguntei. 
— Sei lá... tipo, um mês ou dois — respondeu ela, corando. 
— Dois meses? 
— Talvez sete. Ou oito.
 — O quê? Oito? Nós nos falamos pelo telefone quase todos os dias. Como você nunca comentou nada? 
— Não sei — Selena deu de ombros. — Você estava passando por tantas coisas... E parecia um pouco insensível falar do meu sex-cionamento — Selena nunca teve relacionamentos, mas era profissional nos sex-cionamentos. — Meus problemas eram pequenos, mas os seus... — ela franziu a testa, deixando-me no alto da gangorra. Selena quase nunca assumia uma expressão séria, mas Zachary era como um irmão para ela. Eles brigavam o tempo todo, muito mais do que quaisquer irmãos de verdade que conheci, mas também se importavam muito um com o outro. Foi ela quem nos apresentou, na faculdade. Os dois se conheciam desde a quinta série e eram grandes amigos. Eu nunca havia visto tristeza nos olhos dela até o dia em que Zachary morreu, e eu tinha certeza de que agora esse sentimento era mais frequente em seu semblante. Eu provavelmente estava vivendo o meu próprio desespero e não percebi que minha melhor amiga também sofria com a morte de seu irmão postiço. Ela pigarreou e abriu um meio sorriso. — Meus problemas eram pequenos, Demi. Os seus, não. 
— Olha, quero que você saiba que sempre pode me dizer tudo, Selena — ela se colocou no alto da gangorra. — Quero saber tudo sobre essas aventuras sexuais com o velho Matty. 
— Temos que voltar antes que você seja demitida.
— Se Matty me demitir, as bolas dele vão ficar roxas pelo resto da vida
Selena e eu rimos.
Começamos a andar na direção do café, seu braço agarrado ao meu, nossos pés caminhando juntos. 
— Estou tão feliz por você meio que ter voltado, Demi— murmurou, apoiando a cabeça no meu ombro. 
— Meio que ter voltado? Como assim? Estou aqui, estou de volta. 
Ela olhou para mim com um sorriso sábio. 
— Ainda não. Mas daqui a pouco você chega lá, meu docinho. 
A forma como ela enxergava a minha dor, muito além das aparências, era impressionante. Eu a puxei para perto e, com certeza, não a soltaria tão cedo.

A Selena é puro humor hahaha Amo elas duas juntas <3
Gostaram? Comentem e até o próximo!!!
bjs lindonas <3
respostas aqui

4 comentários:

  1. amei o capítulo
    selena é uma verdadeira comédia e eu já estou apaixonada pela Elizabeth
    ela é tão amorzinho.
    to ansiosa pro reencontro jemi, joe é um puto, mau humorado...
    desculpa não comentar não comentar no capítulos anteriores mas eu fiquei doente por um tempo e acabei ficando sem tempo, enfim...
    posta logo, ok?
    bjs linda

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Selena é um amor e a Elizabeth também!!! Reencontro dos dois está no capítulo 5, e vai ser bem constrangedor hahaha
      Tudo bem linda, não se preocupe!!! Postei já, bjs <3

      Excluir
  2. Adorei a Selena ela é muito comédia kkkkk que ódio dessas fofoqueiras entrometidas.... acho que a Demi deveria continuar com a empresa e calar a boca delas.... a Elisabeth é realmente uma fofura... tbém estou muito ansiosa para a reencontro dela com o "pluto" kkkkkkkk posta logoooo!!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Selena é uma comédia mesmo
      Elas são muito fofoqueiras, sempre irá querer saber da vida da Demi e falar mal do Joseph...
      A Elizabeth é uma amor e o encontro dos dois irá rolar no capítulo 5!
      Postei lindona, bjs <3

      Excluir