Praticamente desabo seu corpo e em seus braços. Ele me abraça tão forte, embora não tão forte quanto quero. Quero que ele me mate esmagada e nunca mais me solte, que me leve junto com ele. Mas Joseph ainda está fraco.
Posso perceber que o que ele está enfrentando o está esgotando rapidamente. Joseph segura meu rosto com as mãos, afasta o cabelo dos meus olhos e enxuga com beijos as lágrimas que me esforcei tanto para esconder para o bem dele, para que ele não tivesse que gastar nada de suas forças comigo. Mas o coração tem vontade própria e sempre consegue o que quer, especialmente quando está morrendo.— Eu sinto muito - ele diz numa voz dolorosa e desesperada, com meu rosto ainda em suas mãos. — Eu não podia te contar, Demi... não queria que nosso tempo juntos fosse diferente de como foi.
Lágrimas caem dos meus olhos, pingando em seus dedos e escorrendo pelos seus pulsos.
— Espero que você não...
— Não, Joseph... - eu engulo algumas lágrimas. — Eu entendo você, não precisa explicar. Ainda bem que você não me contou...
Joseph parece surpreso, mas feliz. Ele puxa o meu rosto e beija meus lábios.
— Você tem razão - digo. — Se você tivesse me contado, nosso tempo juntos teria sido sinistro e... eu-eu não sei, mas teria sido diferente, e não suporto imaginá-lo diferente; mas, Joseph, eu queria que você tivesse me contado só por um motivo: eu iria fazer qualquer coisa, qualquer coisa pra te levar pra um hospital antes - minha voz começa a ficar mais alta quando a triste verdade das minhas palavras me machuca ao dizê-las. — Você poderia ter...
Joseph balança a cabeça.
— Amor, já era tarde demais.
— Não fala isso! Agora ainda não é tarde demais! Você ainda tá aqui, ainda há uma chance.
Ele sorri com ternura e suas mãos finalmente soltam meu rosto, voltando para os
lados do seu corpo, sobre o cobertor branco do hospital que o cobre. Um cateter sai das costas de sua mão e vai para uma máquina.
— Tô sendo realista, Demi. Eles já me falaram que minhas chances não são boas.
— Mas ainda existe uma chance - discordo, segurando mais lágrimas e querendo poder desligá-las apertando um botão. — Uma pequena chance é melhor do que chance nenhuma.
— Se eu deixar que me operem.
Sinto que levei um tapa na cara.
— Como assim, se?
Seus olhos desviam dos meus.
Seguro o seu queixo com firmeza, fazendo-o virar e me olhar.
— Não tem nada de “se”, Joseph, você não pode estar falando sério.
Joseph estende a mão e abre espaço na cama. Ele me convida a deitar ao seu lado, e quando me encolho para deitar, passa um braço por cima de mim e me puxa para perto.
— Se eu não tivesse conhecido você - ele diz, olhando nos meus olhos, a centímetros dos dele. — Nunca iria fazer isso. Se você não estivesse aqui comigo agora, eu não iria querer. Iria achar um desperdício de dinheiro e de tempo que só daria uma falsa esperança pra minha família, atrasando o inevitável.
— Mas você vai deixar que eles te operem - digo, desconfiada, embora seja mais uma pergunta.
Ele roça minha bochecha com o polegar.
— Eu faço qualquer coisa por você, Demi Lovato. Não importa o que seja, não importa... peça o que quiser que eu faço. Sem exceções.
Soluços sacodem meu peito.
Antes que eu possa dizer mais nada, Joseph passa a mão no meu rosto, afastando o meu cabelo.
Ele me olha profundamente nos olhos.
— Eu vou deixar.
Esmago minha boca sobre a dele e nos beijamos febrilmente.
— Não posso te perder - digo. — A gente tem a estrada à nossa frente. Você é meu parceiro no crime - forço um sorriso em meio às minhas lágrimas.
Ele beija a minha testa.
Ficamos deitados juntos por um tempinho, falando da cirurgia e dos exames que ainda precisam ser feitos, e eu digo que não vou sair do lado dele. Vou ficar ali com ele pelo tempo que for preciso. E ficamos falando e falando dos lugares que queremos visitar, e ele começa a lembrar canções que quer que eu aprenda para podermos cantá-las juntos na estrada. Nunca estive tão disposta a cantar com ele quanto estou agora. Eu toparia enfrentar Celine Dion ou uma cantora de ópera, não me importa. Eu toparia. O público todo com certeza sairia correndo e gritando, mas eu toparia. Uma enfermeira vem ver como ele está, e Joseph recupera um pouco de sua personalidade brincalhona e mexe com ela, dizendo que ela podia se deitar conosco se quisesse fazer algo a três.
A enfermeira apenas sorriu, revirando os olhos, e continuou com seu trabalho.
Ela se sentiu bonita e poderosa, e era só isso que ele queria.
Por um momento, enquanto estou deitada naquela cama com Joseph, é como quando estávamos na estrada. Não pensamos em doença ou morte e não choramos.
Só conversamos e rimos e de vez em quando ele tenta me tocar em todos os lugares certos.
Eu dou risadinhas e afasto suas mãos, pois sinto que estou fazendo algo errado.
Que ele deveria estar descansando.
Finalmente, eu cedo e deixo. Porque ele é persistente. E, claro, irresistível. Deixo que ele me toque por baixo do cobertor, e depois faço o mesmo por ele com a mão.
Depois de mais uma hora, me levanto da cama.
— Gata, qual o problema?
— Problema nenhum - digo sorrindo, e então tiro a calça e a camiseta.
Ele está sorrindo de orelha a orelha. Eu sabia que as engrenagens pervertidas da cabeça dele começariam a rodar antes de qualquer coisa.
— Por mais que eu fosse adorar transar com você num quarto de hospital - digo, voltando a me deitar. — Isso não vai acontecer, você vai precisar de todas as suas forças pra cirurgia - eu transaria com ele nessa cama numa boa, mas no momento não estou pensando em sexo.
Joseph me olha, curioso, quando me deito novamente ao lado dele só de calcinha e sutiã e me aninho em seu corpo, como antes. Por baixo do cobertor, ele só está usando uma calça fina do hospital. Aperto bem o meu peito contra o seu e enrosco minhas pernas nas dele. Nossos corpos estão perfeitamente alinhados, nossas costelas se tocando.
— O que você vai fazer? - ele pergunta, ficando mais curioso e impaciente, mas adorando cada segundo.
Eu mexo meu braço livre e traço sua tatuagem de Eurídice com os dedos. Ele observa com atenção. E quando meu dedo indicador encontra o cotovelo de Eurídice, onde a tinta termina, eu o passo na minha pele para continuar o desenho.
— Quero ser tua Eurídice, se você deixar.
Seu rosto se ilumina e suas covinhas ficam mais fundas.
— Quero fazer a outra metade - continuo, tocando seus lábios com meus dedos, agora. — Quero desenhar Orfeu nas minhas costelas e reunir os dois.
Ele está em choque. Posso ver isso nos seus olhos brilhantes.
— Amor, não precisa fazer isso, nas costelas dói pra cacete.
— Mas eu quero fazer, e não me importa quanto vai doer.
Seus olhos ficam cheios d’água quando ele olha para mim, e então sua boca cobre a minha e nossas línguas dançam juntas por um longo momento cheio de amor.
— Eu adoraria isso - ele sussurra nos meus lábios.
Eu o beijo de leve e sussurro em resposta:
— Depois da cirurgia, quando você estiver bem o suficiente, a gente vai.
Ele balança a cabeça.
— É, Gus vai precisar mesmo que eu esteja lá pra alinhar a tua tatuagem com a minha, ele riu da minha cara quando mandei fazer esta.
Eu sorrio.
— Riu, é?
— Sim - Joseph dá uma risadinha. — Me acusou de ser um romântico incurável e ameaçou contar pros meus amigos. Respondi que ele era igualzinho ao meu pai e mandei calar a boca. Gus é um cara legal, e um tremendo tatuador.
— Tô vendo.
Joseph passa os dedos no meu cabelo, sempre penteando-o para trás. E enquanto me olha, examinando meu rosto, me pergunto o que está passando pela sua cabeça. Seu sorriso lindo desapareceu, e ele parece mais concentrado e cauteloso.
— Demi, quero que você esteja preparada.
— Não começa...
— Não, amor, você precisa fazer isso por mim - ele diz, com preocupação no olhar. — Você não pode ter 100% de certeza de que vou sobreviver. Não pode fazer isso.
— Joseph, por favor. Para.
Ele põe quatro dedos sobre meus lábios, me calando. Já estou chorando de novo. Ele está tentando ser o mais suave possível com a verdade, contendo suas próprias lágrimas e emoções até melhor do que eu consigo. É ele que pode morrer, e sou eu que estou sem forças. Isso me deixa furiosa, mas não posso fazer nada além de chorar e ficar puta comigo mesma.
— Só me promete que vai continuar dizendo a si mesma que eu posso morrer.
— Não posso pensar uma coisa dessas!
Ele me abraça mais forte.
— Promete.
Cerro os dentes, sentindo meu maxilar rangendo dentro das bochechas. Meu nariz e meus olhos ardem e queimam.
Finalmente digo:
— Prometo - e isso esmaga meu coração. — Mas você precisa me prometer que vai sair dessa - digo, apertando a cabeça sob o queixo dele de novo. — Não consigo ficar sem você, Joseph. Você deve saber que não consigo.
— Eu sei, meu amor... eu sei.
Silêncio.
— Você canta pra mim? - ele pergunta.
— O que você quer que eu cante?
— Dust in the Wind - ele responde.
— Não. Não vou cantar essa música. Nunca mais me peça isso. Nunca.
Seus braços se apertam ao meu redor.
— Então canta qualquer uma - ele sussurra. — Só quero ouvir tua voz.
E assim, começo a cantar Poison & Wine, a mesma que cantamos juntos em Nova Orleans quando ficamos deitados nos braços um do outro naquela noite. Ele canta comigo algumas estrofes, mas posso ver o quanto está fraco por dentro, porque mal consegue alcançar as notas.
Adormecemos nos braços um do outro.
— Preciso fazer uns exames - ouço uma voz dizendo acima da cama.
Abro os olhos e vejo a enfermeira do sexo a três parada ao lado da cama.
Joseph também acorda.
Já é de tardinha, e posso ver pela janela que vai escurecer logo.
— É melhor você se vestir - diz a enfermeira, com um sorriso compreensivo.
Ela deve achar que Joseph e eu fizemos de tudo aqui em algum momento, considerando que estou seminua.
Saio da cama e me visto enquanto a enfermeira verifica os sinais de Joseph e parece prepará-lo para sair do quarto com ela. Há uma cadeira de rodas perto do pé da cama.
— Que tipo de exames? - Joseph pergunta com voz fraca.
A fraqueza da sua voz me faz olhar. Ele não parece bem. Parece... desorientado.
— Joseph? - volto para perto da cama.
Cautelosamente, ele levanta uma mão para me afastar.
— Não, amor. Tô bem, só um pouco zonzo. Tentando acordar.
A enfermeira me olha, e embora elas sejam treinadas para parecer calmas e não deixar transparecer suas verdadeiras preocupações no rosto, posso ver nos seus olhos: ela sabe que alguma coisa não está certa.
Ela força um sorriso e dá a volta para ajudá-lo a se sentar, tirando o soro do caminho.
— Vou levá-lo por uma ou duas horas, talvez mais, pra fazer uns exames - ela diz. — É melhor você ir comer alguma coisa, esticar as pernas e voltar depois.
— Mas eu-eu não quero sair de perto dele.
— Faz o que ela tá dizendo - Joseph balbucia, e quanto mais o ouço tentando falar, mais medo sinto. — Quero que você vá comer - ele consegue virar a cabeça para me olhar, desta vez, e aponta um dedo, sério. — Mas nada de filé - exige, brincando. — Você ainda me deve um jantar, lembra? Quando eu sair daqui, é a primeira coisa que a gente vai fazer.
Ele consegue um sorriso de mim, como pretendia, mas é tênue.
— Tá - concordo, balançando a cabeça com relutância. — Volto daqui a algumas horas e te espero.
Vou para perto dele e o beijo. Ele me olha profundamente nos olhos quando me afasto. Só consigo ver dor em seus olhos. Dor e exaustão. Mas ele tenta ser forte, e um sorrisinho puxa um canto de sua boca. Ele se senta na cadeira de rodas e me olha uma vez, antes que a enfermeira o empurre para fora do quarto.
Minha respiração fica presa.
Sinto que quero gritar para ele que o amo, mas não digo nada. Eu o amo com todas as forças, mas lá no fundo sinto que, se eu disser isso, se finalmente admitir isso em voz alta, tudo vai desmoronar. Talvez, se eu mantiver isso dentro de mim, se nunca disser essas palavras, nossa história nunca termine.
Dizer aquelas três palavras pode ser um início, mas para mim e Joseph, temo que seja o fim.
Não aguento com esses capítulos tristes :( O próximo capítulo já é o último gente!!!
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3
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