26/12/2016

heartbeat: capítulo 10


Intenções amigáveis

– Moça, você não trouxe a nossa entrada.
Sem dizer uma palavra, Demi ficou encarando a mulher, inexpressiva. Os pensamentos dispersos obviamente não estavam onde deveriam. A mulher fuzilou Demi com os olhos.
– Alô? O jantar chegou e você não trouxe a nossa entrada.
– Eu... eu sinto muito – gaguejou Demi. – Já volto com ela.
Entrando às pressas na cozinha, avisou aos cozinheiros que precisava com urgência de uma porção de palitos de mozarela empanados. Voltou à mesa, se desculpou outra vez e avisou aos clientes que a entrada chegaria em alguns minutos. Tentando recuperar qualquer chance de uma gorjeta, Demi ofereceu a sobremesa de cortesia. A mulher sorriu e aceitou, e assim o erro com a entrada logo se tornou coisa do passado.
Suspirando de alívio, Demi foi se sentar junto ao bar, grata por não terem feito nenhuma queixa... ou pelo menos assim achava.
– Caipirinha – começou Antonio. – O que foi que acabou de acontecer? A mesa dezesseis me disse que você esqueceu a entrada deles.
– É, sinto muito. Roberto está cuidando disso agora mesmo.
– Você ofereceu sobremesa a eles?
– Ofereci.
– Está tudo bem? – perguntou ele, colocando uma das mãos em seu ombro, mostrando-
se preocupado. – Você parece meio fora do ar esta noite.
– Tem muitas coisas acontecendo na minha vida, Antonio. Sinto muito. Não vai se repetir.
– Se não estiver se sentindo bem, posso deixá-la ir para casa mais cedo – disse ele, o rosto repleto de preocupação.
– Obrigada, mas estou bem.
Ele assentiu e se dirigiu ao escritório.
Demi se arrastou pelas horas de trabalho que se seguiram. A noite passou num borrão enquanto ela tentava compreender tudo que havia acontecido. Ao final do turno, sentia-se física e mentalmente exausta.
Vasculhando a bolsa em busca da carteira, Demi abriu a porta para sair do restaurante e esbarrou no que parecia ser uma parede de tijolos. Um “ai” audível escapou de seus lábios.
Ergueu a cabeça para se desculpar e seus olhos cor de esmeralda encontraram lindos olhos verdes.
– Nossa, você está bem? – perguntou Joseph, estendendo os braços para ampará-la.
Demi fez de tudo para não arfar diante do contato súbito dos dedos quentes e fortes em seus braços. Por um momento seus sentidos foram recompensados pela colônia que ele usava, pairando no ar. Um rubor coloriu as bochechas dela devido ao súbito aumento de sua temperatura corporal, e Demi sentiu que iria explodir em chamas. Quando Joseph baixou a vista para ela, mirou fundo em seus olhos um gesto perigoso, pois uma garota poderia se perder de verdade naquele olhar, principalmente depois do que havia acontecido entre eles.
Aquele beijo fora devastador, doloroso, eufórico e tudo mais que Demi havia imaginado que seria tudo no mesmo pacote.
Maldito beijo.
Ela se perguntou se algum dia conseguiria retornar à superfície para respirar. Seu coração batia frenético, como uma borboleta tentando escapulir da jaula que era seu peito. A
presença de Joseph ali, de pé à sua frente, desnudava uma série de coisas nas quais Demi não queria pensar.
– Sim, estou bem – respondeu ela, sem fôlego, ainda em estado de choque. Os dois pareciam estar em transe, os olhares fixos, sem se desviar um do outro.
Joseph soltou os braços dela e pigarreou. O coração ficava apertado só de olhar para Demi. E diante daqueles olhos, não era capaz de acreditar que apenas uma semana havia se passado desde que vira seu lindo rosto pela última vez, beijara os lábios macios e tocara a pele cálida. Parecia uma eternidade. 
Joseph odiava que seu subconsciente tivesse escolhido exatamente aquela noite, quando Demi estava vulnerável. Ele sabia que precisava se desculpar.
– Eu passei... – ele fez uma pausa, tentando organizar as ideias. – Passei por aqui na esperança de encontrar você. Será que podemos conversar?
– O que temos para conversar? – perguntou ela, tentando esconder o nervosismo.
Desviou o olhar do dele, sem querer pensar em quão sexy Joseph ficava naquele terno bem
cortado e de gravata.
Ele umedeceu os lábios e a fitou por um momento.
– Acho que está claro, não está?
Ela o olhou, hesitante.
– É, está – admitiu, em voz baixa. – O que você tem em mente?
Respirando fundo, ele passou a mão pela nuca.
– Podíamos beber alguma coisa. Tem um café um pouco depois da esquina.
Um lampejo de dúvida atravessou o rosto dela.
– Não sei. Não tenho certeza se é uma boa ideia.
– Eu só preciso de cinco minutos, Molly... Quero dizer, Demi. – ele abriu um sorriso luminoso.
– Ha-ha – disse ela, seca.
O sorriso se tornou ainda mais largo e ele ergueu as mãos, fingindo se render.
– Só cinco minutinhos?
Ela engoliu em seco, querendo recusar, mas seus esforços foram em vão.
– Está certo, mas nem um minuto a mais.
– Você tem minha palavra. É por aqui – disse ele, indicando-lhe a esquina da Rua 44.
Menos de meio quarteirão adiante, os dois entraram num pitoresco café. O aroma de pães e doces recém-saídos do forno enchiam o ar. Alguns clientes estavam acomodados num confortável sofá vermelho enquanto outros, sentados em mesas castanhas, navegavam na internet. Atrás do balcão, o barista, com cara de tédio, anotou o pedido dos dois, que se retiraram para uma mesinha nos fundos.
Com um sorriso, Joseph ergueu o punho e deu partida no cronômetro.
– Muito bem, meu tempo começa... agora.
Encabulada, Demi olhou para baixo, as mãos se retorcendo no colo.
Joseph se recostou no assento e cruzou os braços, o rosto ficando sério.
– Demi, sinto muito pelo que fiz – sussurrou, com um olhar intenso. – Piorei uma situação que já era desconfortável e me sinto péssimo por isso.
Ela mergulhou no fundo dos olhos dele, incapaz de acreditar nas palavras que saíam
daquela linda boca.
– Você não precisa se desculpar. O erro foi meu, não seu.
– Não, Demi, a culpa foi minha – disse Joseph, enfatizando cada palavra. – Foi errado da minha parte me aproveitar de você. Eu tomei a iniciativa de beijá-la.
– Quando um não quer, dois não brigam.
– Certo, mas...
– Eu retribuí o beijo.
Um sorriso lânguido surgiu nos lábios dele, os olhos faiscando.
– Então você queria me beijar?
– Está falando sério?
– Muito.
– Joseph.
– Demi.
Ela deixou escapar um suspiro.
– Bem, o que você espera que eu diga?
– Quero que diga.
– Diga o quê?
– Que queria me beijar.
– Você está louco – zombou ela. – E por que precisa me ouvir dizer isso?
Esfregando o queixo, Joseph estudou o rosto dela e sua expressão ficou séria de repente.
– Porque preciso saber que não a obriguei a fazer uma coisa que não queria.
– Você não me obrigou.
– Então diga, Demi.
O rubor subiu rapidamente pelo pescoço dela, até chegar às bochechas.
– Você não existe.
– Diga. – ele prolongou as sílabas ao máximo.
– Está bem – nervosa, ela olhou ao redor. Voltando o olhar para o dele, cruzou os braços. – Eu queria beijar você, Joseph. Está feliz, agora?
– Não. Ainda me sinto um babaca por colocá-la naquela situação.
– Então acho que estamos quites, porque me sinto péssima pelo que fiz. – ela se levantou para sair. – De que serviu esta conversa?
– Eu queria que ficássemos amigos. – ele se pôs de pé, na esperança de impedi-la de se afastar.
– E como fazemos isso, Joseph?
– Você admitiu que queria me beijar. Ficou mais do que óbvio que eu queria beijá-la. Agora podemos esquecer tudo e ser amigos.
– Simples assim?
– Simples assim – respondeu ele, embora percebesse a ausência de convicção por trás das
próprias palavras. – Agora sente-se e termine de tomar sua xícara de café com seu novo amigo.
– Pelo visto, você é um amigo exigente – zombou ela, pegando a bolsa. – Mas é sério, tenho que ir. Alex está me esperando no meu apartamento.
Joseph olhou para o relógio.
– Você me deu cinco minutos. Ainda tenho dois.
– Você está brincando?
Ele sentou-se outra vez, bebeu um gole do café e sorriu.
– Para que tantas perguntas, amiga?
– Vou repetir a mesma coisa que falei na sua casa – avisou ela, reacomodando-se na cadeira. – Você é mesmo muito engraçadinho.
– De carteirinha. E aí, como tem passado?
– Já estive melhor e já estive pior.
– Certo, então não é necessariamente uma coisa ruim.
– Nisso você tem razão.
– Muito bem. Então, me fale sobre você.
– O que você quer saber?
Qualquer coisa. Tudo. Por que voltou para ele? Deslizando a mão pelos cabelos, ele deu de ombros.
– Qual é o seu sabor de sorvete preferido?
– Baunilha. E o seu?
– Eu também curto baunilha, mas sou mais chegado à chocolate – respondeu ele, observando a forma como Demi se remexia na cadeira, ansiosa.
Fez-se um longo silêncio durante o qual Joseph mais uma vez olhou para ela daquele jeito intenso e inquisidor e Demi notou que ele apertava os lábios, como se para se impedir de perguntar o que realmente queria saber.
– E qual é a sua cor favorita? – disse ele por fim.
– Joseph, posso fazer uma pergunta para você?
– O que quiser.
– O que estamos fazendo?
– Estamos brincando de “vinte perguntas” – respondeu ele, rindo.
– Não, não estamos. O que você quer me perguntar, na verdade?
Erguendo uma das sobrancelhas, ele se recostou e apoiou as mãos na nuca.
– Hum, você é boa em me decifrar. – ele a observou por mais alguns segundos, analisando todos os contornos do rosto. – Gente que me conhece há muito mais tempo já disse que é difícil me entender.
– Acho você bem fácil de decifrar. – e ela achava mesmo. Embora ele mantivesse alguns aspectos de sua vida protegidos, era um livro aberto aos seus olhos. Ela tomou um gole do café. – Então, diga. O que quer saber de verdade?
Ele a estudou por um instante.
– Você está feliz com Alex, Demi?
Ela mordeu o lábio, tensa.
– Por que quer saber isso?
– Somos amigos, e amigos fazem perguntas. Além do mais, foi você quem perguntou, não se esqueça.
– Certo, fui eu. – ela olhou para baixo, para as mãos, e de volta para Joseph. – Sim, estou feliz com ele.
Apoiando o cotovelo na mesa, ele pôs o queixo na palma da mão.
– Por quê?
Demi franziu as sobrancelhas.
– O que quer dizer com “por quê”?
– Me dê detalhes. – ele deu de ombros. – Por que ele faz você feliz?
Ela o encarou, os olhos intensos, mas seu celular tocou e quebrou a concentração.
Enquanto Demi atendia, Joseph se recostou na cadeira e a observou. Sabia que talvez tivesse ido longe demais ao fazer uma pergunta tão pessoal, mas não conseguia lutar contra os próprios instintos. Havia conversado com Alex no dia em que saíra do apartamento dela.
E o deixara pensar que acreditava na história dele, mas na verdade não acreditava nem um
pouco. Conhecia muito bem o amigo. A única pergunta que lhe passava pela cabeça era por que Demi havia caído.
Demi se levantou e enfiou o telefone de volta na bolsa.
– Era Alex. Tenho mesmo que ir.
Joseph colocou-se de pé e roçou a mão pelo braço dela.
– Espero que não tenha se zangado com a minha pergunta. Às vezes minha curiosidade me domina.
Ela engoliu em seco e fez que não com a cabeça.
– Não estou zangada com você, Joseph. No entanto, para responder à única pergunta que importa, sim, Alex me faz feliz por muitos motivos. Mas você vai ter que deixar essa lista para outra hora, está bem?
Ele assentiu como se estivesse satisfeito com a resposta, embora a realidade fosse bem diferente.
No entanto, não iria insistir mais no assunto. Enfiou a mão no bolso.
– Ah, ia me esquecendo. Tenho uma coisa para você.
Joseph pegou a mão de Demi. Segurou-a só um pouco mais do que deveria, mas a pele dela era tão macia que foi difícil soltá-la. Por fim, sabendo que havia chegado ao limite de seu cavalheirismo, pôs uma tampinha de garrafa em sua palma.
Ela baixou os olhos e sorriu.
– Então vai ser assim? Vai me dar uma tampinha sempre que me vir?
– Foi uma das melhores partidas de “Atire a tampinha dentro do vaso” que já joguei. – ele riu. – Então, sim, vai ser uma coisinha nossa. Assim como eu chamá-la de Molly de vez em quando.
Ela sorriu para ele.
– Obrigada.
Os dois saíram e Joseph chamou um táxi para Alex. Ele fechou a porta depois que ela entrou e inclinou o corpo para dentro da janela.
– Ela vai para a Columbus com West 74. – entregou dinheiro ao motorista. – Isso deve dar para a corrida e a gorjeta. – bateu na capota do carro, indicando ao taxista que podia partir.
Quando o carro iria se afastando do meio-fio, Demi pediu ao motorista que parasse.
Saltou quando Joseph já estava indo embora.
– Joseph, espere! – gritou, perguntando-se o que exatamente estava fazendo. Joseph se virou, as mãos nos bolsos, e a encarou. – Eu só queria agradecer – disse ela, tentando acalmar a respiração. – Não só por pagar o táxi, isso foi muito simpático, mas também por... por conversar comigo sobre minha mãe e por passar para me ver hoje. Sei que as duas coisas foram difíceis para você. Foram difíceis para mim também, mas... – ela olhou para o chão e voltou a fitá-lo, obrigando-se a não mergulhar naqueles olhos. – Sei lá. Estou falando sem pensar. Tenho certa tendência a fazer isso. Mas eu só queria agradecer... obrigada, Joseph.
Embora ele quisesse chegar mais perto Deus sabia quanto ele queria, teve que se conter.
– De nada. – ele a encarou por uns segundos a mais. – Nos vemos por aí, amiga?
Demi assentiu.
– Sim, a gente se vê por aí, amigo.
Joseph ficou observando enquanto Demi entrava de novo no táxi. Olhou até a vista doer.
O veículo desapareceu em meio ao fluxo frenético de carros, transformando-se em pouco mais que um minúsculo ponto colorido. De algum modo, o corpo alto, de músculos rijos estava em oposição às suas emoções. Ele desejava Demi. Seu corpo ansiava por ela. Não era apenas luxúria. Porque tudo o que queria, de fato, era beijá-la e sentir o corpo dela colado novamente ao seu. Cada pedacinho dele queria abraçá-la e cuidar dela. Demi o trouxera de volta à vida. Não sabia ao certo por que ela o fazia sentir-se daquele jeito. Ele só sabia que a situação, como um todo, acabaria consumindo-o, o faria arder em chamas, espalhando suas cinzas por toda a cidade...
Ele teria que se contentar só com amizade.


***

– Oi, minha linda – disse Alex quando Demi abriu a porta do apartamento. Ele se levantou do sofá, caminhou até ela e a puxou para seus braços. – Senti sua falta. Por que demorou tanto?
– Tivemos movimento até tarde – respondeu ela, tentando contar de forma convincente a mentira que abria um buraco em seu estômago. – Pegou o filme?
– Peguei. Vá tomar um banho que eu ajeito as coisas para a gente. – ele coçou o peito e foi caminhando lentamente até a cozinha. – Ah, tem uma surpresa no seu quarto.
– O que foi que você fez?
– Nada de mais. – ele jogou um saco de pipocas dentro do micro-ondas. – Só estive pensando em você hoje.
Depois de deixar a bolsa sobre a mesa, Demi seguiu pelo corredor. Encontrou seis dúzias de rosas vermelhas espalhadas pelo quarto, cada buquê em um lindo vaso de cristal. Alex até espalhara algumas pétalas sobre o edredom branco. Embora tenha ficado emocionada com o gesto, seu sorriso foi fraco. Sentiu o agradável perfume das flores enquanto tentava não se inflamar de culpa por ter acabado de voltar de um “encontro secreto” com Joseph. Já de banho tomado, retornou à sala de estar e se deitou com Alex no sofá. O corpo dele se enroscou no dela possessivamente e Demi ficou fazendo desenhos com os dedos no peito nu dele, sem pensar em muita coisa.
Ela olhou-o nos olhos.
– Obrigada pelas flores. São lindas.
– Fico feliz que tenha gostado. – ele beijou seus cabelos úmidos. – Como eu disse, pensei em você o dia todo.
– Você é um amor. – ela roçou o nariz no pescoço dele. – Ah, esqueci de contar. Recebi resposta de uma das escolas para as quais mandei meu currículo.
– É mesmo. Que sensacional, gata. Onde fica?
– No Brooklyn. – ela pensou por um instante. – Bush alguma coisa. Tenho que rever o que anotei. Tenho uma entrevista na segunda.
– Bushwick?
– Isso, é esse o nome. – ela sorriu, estendendo o braço para pegar a pipoca, na extremidade da mesa.
– Demi, você não pode aceitar um emprego lá. Não é seguro.
– Alex, eu vou ficar bem.
– Não, Demi. Você não vai aceitar esse emprego. Mande mais alguns currículos e espere pintar alguma outra coisa – disse ele em tom definitivo.
– Está falando sério?
– Gata, só estou tomando conta de você. Aquela região é perigosa – respondeu ele, encostando a boca na testa dela. – Você vai esperar outra coisa. Além do mais, já conversamos sobre isso: se precisar de dinheiro, eu lhe dou.
– Não é isso, Alex. Já esperei o bastante e quero começar no próximo ano letivo.
Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, a porta se abriu.
Selena entrou, a bolsa balançando alegremente no braço. Revirou os olhos para Alex e fez um som de ânsia de vômito.
– Sel, fale para a minha namorada como Bushwick é ruim.
Demi esperou a resposta de Selena, mas ela não veio. A amiga ignorou Alex, chutou os sapatos para longe e sentou-se em uma das confortáveis poltronas reclináveis.
– Oi, amiga – disse Selena para Demi, um sorriso surgindo em seu rosto. – Como foi seu dia?
– Hum... meu dia foi bom – respondeu Demi, incapaz de esconder um leve divertimento na voz. – Mas será que você poderia responder à pergunta de Alex? Quero ouvir sobre esse bairro barra-pesada.
Ainda sem responder, Selena desviou o olhar para estudar o esmalte rosa descascado das unhas.
– Selena, você poderia responder à pergunta dele?
Os olhos castanhos de Selena se estreitaram para Alex, como os de uma cobra.
– Sinto muito, Demi, não falo com babacas que rifam o esperma comendo qualquer piranha que aceita pagar boquete para eles nas costas da minha amiga – sibilou ela, as palavras frias como gelo.
Demi quase engasgou tentando engolir a pipoca. Sentiu o corpo de Alex enrijecer ao seu lado antes de ele se levantar do sofá.
Ele fuzilou Selena com o olhar, embora a voz tivesse permanecido sinistramente calma.
– Vai se foder.
Selena abriu um sorriso com os dentes cerrados.
– Nossa, que coisa mais original. – ela soou pouco afetada pelo insulto enquanto o aplaudia com ironia.
– Ah, meu Deus, Alex, como você pode dizer uma coisa dessas? – Demi olhou para ele, chocada.
– Ela que se foda. – foi até a cozinha e pegou algo na geladeira.
– Não, sério, vai se foder você, seu merda! – cuspiu Selena.
– Caramba, será que vocês poderiam parar?
– Eu paro quando você enxergar que esse charme que ele usa na sua frente é falso, Demi! Ele a trai e você continua completamente alheia a isso! – Selena se levantou e brandiu um dedo para Alex. – Mas ele está na minha casa, porra! Então ou ele me atura, ou dá o fora!
Alex pegou a camisa em cima do sofá, vestiu-a e pescou as chaves no bolso.
– Alex, espere! – Demi atravessou a sala para ir atrás dele.
– Manda essa vaca estúpida se foder! Ligo para você mais tarde! – ele escancarou a porta e a bateu com uma força trovejante.
Com a saída dele, Demi ficou plantada onde estava, como se houvesse criado raízes. Seus pensamentos estavam turvos enquanto ela tentava digerir o que tinha acabado de acontecer.
Virou-se e fuzilou Selena com os olhos.
– Você prometeu que não diria nada – lágrimas quentes brotaram em seus olhos.
– Bem, quer saber de uma coisa, Demi? Não consegui me controlar quando vi você toda coladinha nele, como se ele não tivesse feito nada! – Demi abriu a boca para falar, mas Selena a interrompeu: – E, não é por nada não, amiga! Se em algum lugar desse seu cérebro você não achasse que fosse verdade, nunca teria beijado Joseph – rosnou ela, e suas palavras partiram o coração de Demi.
Demi respirou, tentando controlar o desejo súbito de dar um soco na cara de Selena.
– Você não bate bem – declarou num tom de voz muito calmo, que fez até mesmo Selena titubear. – Como pode me dizer uma coisa dessas sabendo o que passei esta semana inteira?
– Não foi minha intenção – retrucou Selena, aproximando-se com cautela. – Só acho que você está em negação, Demi. Acho que está negando o jeito como Alex a trata e que sente alguma coisa pelo Joseph, ainda que seja uma coisinha de nada.
Um grito dolorido escapou da garganta de Demi.
– Não estou negando nada, Selena. Eu amo Alex e acredito nele. Por que é tão difícil para você entender isso? – Demi foi andando em direção ao seu quarto e parou à porta. – Eu não vi o beijo todo. Vi exatamente o que Alex disse que vi. Aquela vagabunda o puxou e eu me virei antes de ele se afastar. O único motivo para eu ter beijado Joseph foi não ter testemunhado a cena toda. Eu estava com raiva. Minhas emoções tomaram conta de mim quando voltei para cá. Foi só isso, nada mais...
Um silêncio desconfortável caiu sobre o apartamento antes que Demi se recolhesse em seu quarto, enfiando-se na cama. Nunca tinha ficado tão magoada com as alfinetadas de Selena.
Sentindo uma dor de cabeça súbita, tentou analisar os próprios sentimentos. Não podia perder a melhor amiga e se recusava a perder Alex também. Odiava a expressão “estar entre a cruz e a espada”, mas era exatamente assim que se sentia. Duas das pessoas que mais amava se odiavam como nunca. A cabeça de Demi rodava enquanto a dor causada por toda aquela situação a oprimia.
Vinte minutos mais tarde, Selena deu uma batida suave à porta e espiou pelo vão.
– Posso entrar?
Demi assentiu. Selena sentou-se na cama.
– Sinto muito, Demi. Eu não devia ter dito aquilo. – enfiou os cabelos escuros atrás da orelha, os olhos vidrados. – Você passou por tanta coisa. Só quero vê-la feliz.
– Eu estou feliz, Selena. Por favor, acredite. Não posso deixar que você aja dessa forma com ele – falou, sentando-se. – Vocês dois vão acabar me dando um esgotamento nervoso.
Depois de um longo minuto de uma óbvia discussão interna, Selena bufou.
– Está bem, não vou dizer mais nada para ele, mas só porque amo muito você. Sabe como isso vai ser difícil para mim, não é?
– Sei, sim. E é por isso que eu amo muito você.
Elas se abraçaram apertado.
– Vou me certificar de que ele se desculpe pelo que disse.
Selena deixou escapar uma risada de desdém.
– Não preciso de desculpas, Demi. Alias, a maior parte de Bushwick é barra- pesada. Alguma outra coisa vai pintar. Espere um pouco, você vai ver.
Um sorriso fraco surgiu na boca de Demi.
– Obrigada, vou seguir o conselho de vocês dois e aguardar.
Selena soprou um beijo para a amiga e saiu do quarto.
Depois de ligar para Alex e insistir veementemente em que ele se desculpasse com Selena, Demi tentou dormir. Ficou se revirando na cama enquanto os pensamentos vagavam de volta a Joseph.
Tentava lutar contra as próprias emoções, lembrando-se o tempo todo de que amava Alex, embora Joseph estivesse preso em sua memória como um parasita. Sempre que ele estava por perto, sua presença magnética deixava o ar denso. Quanto mais ela pensava a respeito, mais a ideia da amizade entre eles lhe parecia impossível. Havia variáveis perigosas demais. Demi sentia-se engolida pela própria confusão. Enquanto o consciente vagava em direção ao sono, a mente tentava travar uma batalha sangrenta contra aquilo que o corpo já sabia. Ela o desejava, e muito. Atire a culpa às favas, gritava ele. Por enquanto, pelo menos, a razão iria vencendo a guerra contra o corpo, optando por não arriscar a possível destruição de
sua vida.
Mas maldito fosse ele e aquele beijo.

primeiramente me desculpem por não ter postado mas eu não estava em casa e fiquei sem tempo algum para entrar aqui. E feliz natal atrasado para vocês amores <3
agora sobre a história, quanto tempo será que eles irão ficar só na amizade? quando ela saiu do táxi para falar com ele achei que ela iria dá um beijão nele, me iludi kkkkkkkkk
Selena te amo, tenta abrir os olhos da Demi sobre esse babaca do Alex mas a Demi está cega. Pensamentos da Demi só da o Joseph agora hahaha 
bjs lindonas e até o próximo <3
respostas aqui

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