29/07/2016

certain love: capítulo 30


Nossa primeira parada é o lugar onde Joseph deixou seu Camaro 1969, e eu vejo meu primeiro texano estereotipado quando paramos na oficina onde Joseph aparentemente costumava trabalhar. 
— Você sabe que eu te demiti, né? - diz um homem alto de chapéu e botas pretas de caubói, saindo para nos receber. Ele estava dentro da oficina, falando com outro homem que tem mais cara de mecânico. 
Ele aperta a mão de Joseph e o puxa para um abraço de macho, batendo em suas costas. 
— Sei, sim - Joseph diz, batendo nas dele. — Mas tive que fazer o que eu tinha que fazer. Joseph se vira para mim. 
— Billy, esta é minha namorada, Demi. Demi, este é meu ex-chefe, Billy Frank. 
Meu coração pulou quando ele me chamou de sua namorada. Ouvir isso com certeza teve um efeito maior sobre mim do que eu imaginava que poderia ter. 
Billy estende uma mão suja de óleo e calejada e eu a aperto sem hesitação. 
— Prazer em conhecer você - sorrio. 
Ele sorri também, seus dentes são tortos e amarelados, provavelmente por muitos anos de vício em café e cigarro. 
— Mas que belezinha - Billy diz, sorrindo para Joseph. — Eu também largava meu emprego por uma garota assim - ele dá um soco amigável no braço de Joseph. 
Voltando a me olhar, ele pergunta: 
— Ele tá te tratando direito? Esse moleque tem uma língua, que se ele morder morre envenenado. 
Rio baixinho e digo:
 — É, a língua dele é fogo. Mas ele me trata maravilhosamente. 
Os olhos de Joseph sorriem para mim ao meu lado. 
— Bom, se ele te der trabalho, já sabe onde me encontrar. Ninguém aqui consegue botar esse cara nos eixos como eu - ele sorri para Joseph. 
— Obrigada, vou me lembrar disso. 
Deixamos Billy Frank, atravessamos a oficina e saímos por uma porta lateral que leva a uma área cercada onde ficam os carros. Sei imediatamente qual é o de Joseph, embora jamais o tenha visto, a não ser camuflado no tronco da árvore da tatuagem dele.
É o mais bonito de todos. Cinza-escuro com duas faixas pretas no meio do capô. É bem parecido com o Chevelle do pai dele. Andamos por um labirinto de carros e ele abre a porta do motorista, depois de verificar a lataria dos dois lados, da frente até a traseira. 
— Se ela não estivesse precisando de alguns consertos quando decidi não ir de avião pra Wyoming - Joseph diz, correndo os dedos pela porta. — Eu teria ido dirigindo, em vez de pegar aquele ônibus. 
— Bom, não quero falar mal da tua garota aqui -  digo, sorrindo e dando tapinhas no capô. — Mas fico feliz por ela não ter podido te levar. 
Joseph me olha com o rosto iluminado, da mesma forma que o vejo cada vez mais todo dia. — Também fico feliz - ele diz. 
Por um breve momento, penso onde nós dois estaríamos agora se isso tivesse acontecido, se nunca tivéssemos nos conhecido. Mas um momento breve já é tempo demais, porque pensamentos assim me embrulham o estômago. Não consigo imaginar não tê-lo conhecido. Nem quero.
— Então a gente vai nesse, não no Chevelle? 
Joseph morde a bochecha por dentro, pensativo. Ele fica na frente da porta aberta, com a palma da mão no teto do carro, dá um tapinha leve e olha para mim. 
— O que você acha? O que você prefere, gata? 
É minha vez de morder a bochecha por dentro contemplativamente. Eu não achava que seria eu a decidir. Chego mais perto do carro e olho para dentro, verifico os bancos esportivos de couro e... bem, é a única coisa que verifico. 
— Sinceramente? - pergunto, cruzando os braços. 
Ele balança a cabeça. 
Olho para o Camaro novamente, ponderando a questão. 
— Eu meio que gosto do Chevelle - digo. — Adoro este carro, é muito irado, mas acho que tô mais acostumada com o outro - para reforçar meu argumento, aponto para os bancos. — E como vou deitar a cabeça no teu colo, ou dormir na frente, com bancos assim? 
Joseph sorri delicadamente e acaricia o teto do carro, como que para lhe garantir que não é nada pessoal. 
Ele dá mais um tapinha e fecha a porta. 
— Então a gente vai de Chevelle - diz. — Mais tarde venho buscar esta caranga e deixar em casa. 
Joseph me leva para comer fora e para alguns lugares variados que ele gosta de frequentar em Galveston Island. E então, depois do horário de pico, recebe um telefonema da sua mãe. 
— Tô nervosa - digo do lado do passageiro, quando nos aproximamos da casa dela. 
Ele franze as sobrancelhas, me olhando de alto a baixo, e diz: — Não precisa, minha mãe vai adorar você - ele volta a olhar para a estrada. — Ela não é uma daquelas peruas de nariz empinado que acham que mulher nenhuma serve pro filho delas.
— Que alívio. 
— E até se fosse - ele diz, sorrindo para mim. — Iria adorar você do mesmo jeito. 
Dobro as mãos no colo e sorrio. Não importa, ele pode dizer quanto quiser que ela é um doce, não vai ajudar nada a acalmar essa sensação nervosa no meu estômago. 
— Você vai contar pra ela? - pergunto. 
Ele olha para mim. 
— O que, que a gente vai embora? 
— É. 
Ele balança a cabeça. 
— Vou contar, senão ela vai se preocupar tanto comigo que vai precisar fazer terapia. 
— O que você acha que ela vai dizer? 
Joseph dá uma risadinha. 
— Eu tô com 26 anos, gata. Moro sozinho desde os 19. Ela vai ficar bem. 
— Bom, só tô falando... sabe... do motivo de você ir embora e do que a gente pretende fazer exatamente - desvio o olhar para o para-brisa. — Não é como fazer as malas e se mudar pra outra cidade, até minha mãe aguentaria essa notícia. Mas se eu contasse pra ela que pretendo viajar pra todo lugar e que vou fazer isso com um cara que conheci num ônibus, provavelmente ela ia ficar meio bolada. 
— Provavelmente? - Joseph pergunta. — Tipo, se você contar? 
Olho para ele. 
— Não, eu vou contar, com certeza. Como você, também acho que ela precisa saber... mas, Joseph, você entendeu o que eu quis dizer. 
— Entendi, sim, gata - ele diz, dando seta para a esquerda e virando num semáforo. — E você tá certa, não é exatamente normal - então ele abre um sorriso para mim, e isso instantaneamente me faz sorrir também. — Mas esse não é um dos motivos pra gente querer fazer isso? Porque não é normal? 
— É, sim. 
— Claro que o maior motivo é quem vai me acompanhar - ele acrescenta. 
Eu fico vermelha. 
Mais duas quadras de casas aconchegantes e suburbanas e calçadas brancas com crianças pedalando suas bicicletas e chegamos à entrada da casa da mãe de Joseph. 
É uma casa térrea, com um belo jardim florido ao redor de toda a fachada, e dois arbustos verdejantes dos dois lados da calçada que vão até a porta. O Chevelle ronrona ao entrar, parando atrás de um carro de família branco de quatro portas, estacionado dentro da garagem escancarada. Eu me olho rapidamente no retrovisor para me certificar de que não estou com meleca no nariz ou alface nos dentes, do sanduíche de frango que comi, e Joseph dá a volta e abre a porta para mim. 
— Ah, saquei - brinco com ele. — Você só abre a porta do carro pra mim quando a mamãe pode estar olhando. 
Ele estende a mão e faz uma reverência dramática. 
— Vou abrir a porta pra você de agora em diante, se você gosta dessas coisas, milady... mas... - ponho minha mão na dele, sorrindo para o espetáculo. — Não pensei que você fosse desse tipo. 
— Ah, é? - digo, com um sotaque britânico horrível, erguendo mais o queixo. — E que tipo pensou que eu fosse, sr. Jonas? 
Ele fecha a porta e passa o braço pelo meu, mantendo as costas eretas e o queixo erguido. 
— Pensei que você fosse do tipo que tá se lixando, contanto que a porta abra quando você quer sair. 
Eu rio. 
— Bom, você acertou - digo, e me encosto no ombro dele enquanto vamos para a porta dentro da garagem. 
A porta se abre para a cozinha e o cheiro de carne de panela. Eu penso: ela já teve tempo pra fazer carne de panela? Mas então vejo a panela elétrica com timer sobre o balcão. Joseph dá a volta no balcão comigo e entra na sala de estar, quando uma bela mulher de cabelos negros surge de um corredor.
— Que bom que você chegou - ela diz, abraçando-o forte, praticamente esmagando-o com seu corpinho. Joseph deve ser uns 8 centímetros mais alto que ela. Mas vejo a quem ele puxou os olhos esverdeados e as covinhas. 
Ela sorri para mim do jeito mais acolhedor do mundo e, para minha surpresa, me abraça também. Retribuo o abraço, apertando meus braços na vertical nas costas dela. 
— Você deve ser Demi - ela diz. — Sinto que já conheço você.
Isso me parece estranho. Eu nem sabia que ela existia até hoje. Olho disfarçadamente para Joseph e seus lábios se curvam num sorriso furtivo. Acho que ele teve muitas oportunidades de falar de mim enquanto estávamos na estrada, especialmente antes de ficarmos no mesmo quarto, mas o que mais me surpreende é saber que ele falou tanto de mim para ela. 
— Prazer em conhecê-la, senhora... - arregalo os olhos quando me viro para Joseph para informá-lo que vou chutar sua canela mais tarde, por ele não ter me dito o nome da mãe dele antes. Aperto os lábios, furiosa, mas ele continua apenas sorrindo.
— Pode me chamar de Denise - ela diz, abaixando os braços e segurando minhas mãos. Ela levanta minhas mãos com as dela, sempre me olhando com aquele sorriso radiante. — Vocês já jantaram? - ela pergunta, olhando para Joseph e depois para mim. 
— Sim, mãe, a gente comeu alguma coisa mais cedo. 
— Ah, mas vocês precisam comer. Fiz carne de panela e uma caçarola de vagem - ela solta só uma das minhas mãos, mantendo a outra delicadamente apertada na sua, e a sigo para outra sala, onde uma TV gigante está montada em cima de uma lareira. — Podem sentar que vou fazer um prato pra vocês.
— Mãe, ela não tá com fome, pode acreditar. 
Joseph aparece atrás de nós. 
Minha cabeça já está rodando um pouco. Ela sabe de mim, aparentemente o suficiente para sentir que já me conhece. É tão gentil e cheia de sorrisos como se já me amasse. 
Sem falar que segurou minha mão, não a de Joseph, para me levar pela casa. Será que perdi alguma coisa, ou ela é a pessoa mais doce e de personalidade mais encantadora do planeta? Bem, seja como for, sinto o mesmo por ela. 
Ela me olha e inclina a cabeça para um lado, esperando que eu diga algo. Fico um pouco constrangida, porque não quero magoá-la, e digo: — Obrigada pelo convite, mas acho que não consigo comer nada agora. 
Seu sorriso se abranda.
— Bom, então que tal uma bebida? 
— Perfeito, tem chá? 
— Claro - ela diz. — Com açúcar, sem, sabor limão, pêssego, framboesa? 
— Só com açúcar está ótimo, obrigada. 
Eu me sento na almofada do meio do sofá cor de vinho. 
— Querido, você quer o quê? 
— O mesmo de Demi. 
Joseph se senta ao meu lado, e antes de sair e voltar para a cozinha, ela nos olha por um momento, sorrindo, como se estivesse pensando alguma coisa em silêncio. E então desaparece. 
Eu me viro rapidamente para Joseph e cochicho: — O que você falou de mim pra ela? 
Joseph sorri. 
— Nada de mais - ele diz, tentando parecer casual, mas sem conseguir. — Só que conheci uma garota doce e inimaginavelmente sexy, boca-suja e que tem uma pintinha na parte de dentro da coxa esquerda. 
Dou um tapa na perna dele. Seu sorriso só aumenta. 
— Não, gata - ele diz, falando sério agora. — Só falei pra ela que te conheci no ônibus e que a gente tá junto desde então - ele passa a mão na minha coxa para me reconfortar. 
— Parece que ela gosta demais de mim pra você ter contado só isso. 
Joseph dá discretamente de ombros, e então sua mãe volta para a sala com dois copos de chá. Ela os coloca à nossa frente na mesinha de centro. O vidro dos copos é decorado com pequenos girassóis amarelos. 
— Obrigada - digo e tomo um gole, pousando o copo de volta delicadamente. Procuro um descanso de copo sobre a mesinha para apoiá-lo, mas não há nenhum. 
Ela se senta na poltrona que faz jogo com o sofá à nossa frente. 
— Joseph falou que você é da Carolina do Norte. 
Ahan... foi só isso que ele contou, o caramba! Posso sentir que ele está rindo por dentro, consigo até ouvir. Ele sabe que não posso fuzilá-lo com o olhar, nem lhe dar um tapão, nem fazer nada que normalmente eu faria. Apenas sorrio como se ele não estivesse sentado ao meu lado. 
— Sim - respondo. — Nasci em New Bern, mas morei quase a vida toda em Raleigh - eu tomo outro gole. 
Denise cruza as pernas e dobra as mãos com anéis no colo. Suas joias são simples, só dois aneizinhos em cada mão, brincos pequenos de ouro e um colar combinando por cima dos botões de sua blusa branca. 
— Minha irmã mais velha morou em Raleigh por 16 anos antes de voltar pro Texas, o estado de vocês é lindo. 
Apenas concordo com a cabeça e sorrio. Acho que era um assunto só para quebrar o gelo, porque fica um silêncio embaraçoso no ar agora, e noto que ela olha muitas vezes de relance para Joseph. E ele não diz nada. O silêncio está me dando uma sensação estranha, como se eu fosse a única pessoa presente que não sabe o que os outros estão pensando. 
— Então, Demi - Denise diz, tirando os olhos de Joseph. — Aonde você estava indo quando conheceu Joseph? 
Que legal, eu não esperava isso. Não quero mentir, mas a verdade não é exatamente algo que possa ser mencionado casualmente ao tomar chá com alguém que você acaba de conhecer. Joseph toma um grande gole de chá e põe o copo sobre a mesa. 
— Ela tava mais ou menos no mesmo barco que eu - ele responde por mim, e fico muda com o choque. — Eu tava fazendo hora na estrada, Demi tava a caminho do nada, e por coincidência fomos parar no mesmo lugar. 
Os olhos de Denise se iluminam de curiosidade. Ela inclina o queixo para um lado, olha primeiro para mim, depois de novo para Joseph, depois para nós dois. Há algo meigo, mas muito misterioso em seu rosto, e não o ceticismo confuso que eu esperava. 
— Bom, Demi, quero que saiba que fico muito feliz que vocês tenham se conhecido. Parece que sua companhia ajudou Joseph a enfrentar momentos muito difíceis. 
Seu sorriso luminoso perde um pouco o brilho depois desse comentário, e de soslaio percebo que Joseph a olha cautelosamente. Pelo jeito ela já falou o suficiente, ou talvez ele tema que ela vá dizer alguma coisa constrangedora na minha frente. 
Me sentindo um pouco desconfortável por ser a única que obviamente não tem todas as informações, forço um sorrisinho só para o benefício da mãe de Joseph. 
— Bem, a gente se ajudou muito, pra ser sincera - digo, sorrindo mais agora, porque estou dizendo a verdade. 
Denise bate de leve nas coxas com as palmas das mãos, abre um sorriso feliz e se levanta. 
— Preciso dar um telefonema - ela diz, gesticulando. — Esqueci completamente de avisar Nicholas sobre a moto que ele quer comprar do sr. Sanders. Melhor ligar pra ele antes que eu me esqueça de novo, me deem licença um minutinho. 
Seus olhos pousam discretamente em Joseph antes que ela saia da sala. Eu vi, com certeza nenhum dos dois acha que não sei que mais alguma coisa está acontecendo que eu obviamente não tenho como saber. Não sei se ela não gostou de mim e está disfarçando para não deixar Joseph constrangido, ou se é algo completamente diferente. 
Isso está me deixando louca, e não estou mais tão calma quanto fiquei ao conhecê-la. 
E para confirmar, alguns segundos depois que ela sai da sala, Joseph se levanta. 
— O que tá acontecendo? - pergunto baixinho. 
Joseph olha para mim e sinto que ele sabe que não vou ignorar isso eternamente. Ele tem plena consciência de que fui mais observadora do que ele gostaria que eu fosse. 
Seus olhos examinam meu rosto, mas ele não sorri, apenas me olha como alguém olha para uma pessoa antes de se despedir dela. Então ele se curva e me beija. 
— Não tá acontecendo nada, gata - ele diz, decidindo agora ser o Joseph sorridente e brincalhão que conheço tão bem, mas não engulo isso. Sei que ele está mentindo, e de jeito nenhum vou deixar passar. Vou relevar por enquanto, enquanto estamos aqui, mas depois é outra história. 
— Volto já - ele diz, e sai por onde sua mãe saiu. 

Porque será que a mãe do Joseph está tão estranha? Algum palpite? O capítulo tem continuação...
Gostaram? Preciso dizer que a história já está quase chegando ao fim :(
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3

28/07/2016

certain love: capítulo 29


Quando vejo a revista de sacanagem atrás da privada, guardada tão casualmente como se fosse uma revista de motociclismo, não consigo deixar de rir para mim mesma. 
Fico me perguntando brevemente se existe algum homem no mundo que não usa pornografia, e então percebo como a pergunta é idiota. Eu não posso falar nada, já vi minha cota de vídeos pornôs na internet. 
Tomo um banho demorado e quente, me enxugo com a toalha de praia que Joseph me deu e me visto. 
Não gosto daqui. Do apartamento dele. Do Texas. 
Em qualquer outra época e em outras circunstâncias, seria diferente, mas o que eu disse a ele naquela noite, quando paramos na beira da estrada, continua sendo verdade. 
Este lugar, tudo nele parece o fim. A magia do nosso tempo juntos na estrada literalmente quase evaporou com a chuva da semana passada. Não nossos sentimentos um pelo outro... não, eles são tão fortes que pensar no fim, de qualquer forma que seja, está me deixando metaforicamente de joelhos. O que sentimos um pelo outro é... bem, é tudo o que nos resta. A estrada à nossa frente se foi. As paradas espontâneas, às vezes sem saber onde estamos, mas se lixando pra isso, se foram. Os motéis e as pequenas coisas como carne-seca, óleo Johnson’s e banho de espuma, tudo isso se foi. A trilha sonora do nosso tempo juntos, da nossa curta vida juntos, silenciou com o fim da última faixa do disco. Agora só consigo ouvir a vibração suave do silêncio saindo dos alto-falantes. Sinto que tudo o que quero é estender a mão e tocar tudo de novo, mas minha mão não se move para apertar o botão. 
E eu não consigo entender por quê. 
Enxugo a lágrima do meu rosto, empurro minhas emoções para os pulmões e as prendo ali, respirando fundo, antes de abrir a porta do banheiro. 
Ouço Joseph falando ao telefone quando passo pela sala de jantar: — Não fode comigo, Kevin. Não tô com saco pra essa merda. É, e daí? Quem é você pra me dizer o que fazer da minha vida? Quê? Dá um tempo, mano; ir a um enterro não é obrigatório. Por mim, prefiro nunca mais ir a nenhum, a não ser que seja o meu. Não sei pra que serve um funeral, aliás, ir ver alguém que você gosta deitado numa porra duma caixa, completamente sem vida. Prefiro que a última vez que eu veja alguém seja ainda com vida. Não me vem com essa, Kevin! Você sabe que é babaquice! 
Não quero ficar num canto como se estivesse bisbilhotando, mas também não parece exatamente adequado entrar lá ainda.
Entro assim mesmo. Ele está ficando bravo demais, só quero acalmá-lo. Assim que ele me vê, baixa o tom zangado com Kevin e levanta as costas do sofá. 
— Olha, preciso desligar - ele diz. — Já, já liguei pra mamãe. Sim. Tá, tudo bem, entendi. Até. 
Ele desliga o celular e o deixa na mesa de carvalho de centro, ao lado de seu pé descalço. 
Eu me sento ao lado dele na outra almofada. 
— Desculpa por isso - ele diz, dando tapinhas na minha coxa e depois passando a mão nela. — Ele nunca mais vai me deixar em paz. 
Eu me aproximo, me sento no colo de Joseph e ele me puxa para seu peito, como se eu fosse o que ele precisa para se acalmar. Abraço o seu pescoço, cruzando os dedos ao redor do seu ombro. Me curvando, beijo o canto de sua boca. 
— Demi - ele me olha nos olhos. — Escuta, também não quero que isto seja o fim - ele diz, como se tivesse lido meus pensamentos enquanto eu estava no banheiro, momentos atrás. 
De repente, Joseph me levanta e me faz sentar reta no seu colo, de frente para ele, com uma perna de cada lado e os joelhos dobrados no sofá. Ele pega minhas mãos com as suas e me olha com seriedade e intensidade nos olhos. 
— E se a gente... - ele desvia o olhar, ponderando profundamente suas palavras, mas eu gostaria de saber se é porque ele quer dizer do jeito certo, ou talvez para não dizer nada. 
— E se a gente o quê? - tento motivá-lo. Não quero que ele recue, não importa o que seja; quero que ele diga. Sinto um sopro renovado de esperança e não aguento deixar que passe. — Joseph? 
Seus olhos esverdeados e intensos param sobre os meus quando minha voz o traz de volta ao momento. 
— E se a gente fosse embora juntos? - ele diz, e meu coração começa a bater mais forte. — Não quero ficar aqui. E não tô dizendo isso por causa do meu pai ou do meu irmão. Nada disso tem a ver com o que eu tô sentindo. Agora. Aqui com você. Com o que senti todo esse tempo, desde o dia em que te vi sentada sozinha naquele ônibus no Kansas - ele aperta mais a minha mão. — Sei que você perdeu teu parceiro no crime, mas... quero que você seja a minha parceira. Talvez a gente devesse viajar juntos pelo mundo, Demi... Sei que não posso substituir teu ex... 
Lágrimas correm dos meus olhos. 
Joseph interpreta isso mal. Sua mão solta a minha, e de repente ele não consegue mais olhar para mim. Pego o seu rosto em minhas mãos, forçando seu olhar torturado.— Joseph... - balanço a cabeça, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Sempre foi você - sussurro com voz rouca. — Mesmo com Wilmer, eu sentia que faltava alguma coisa. Te falei naquela noite no pasto, te falei que... - minha voz some. Sorrio e digo: — Você é meu parceiro no crime. Já sei disso há muito tempo. 
Beijo seus lábios.
 — Não consigo pensar em nada neste mundo que eu queira mais do que conhecer o mundo com você. Nosso lugar é na estrada. Juntos. É onde quero estar. 
Seus olhos estão rasos d’água, mas ele deixa seu sorriso luminoso afastar as lágrimas antes que caiam. E então esmaga minha boca com a sua, os dois segurando o rosto um do outro com as mãos. Seu beijo tira o meu fôlego, mas eu só o beijo mais, bebendo o máximo possível de seu hálito. E sem deixar de me beijar, suas mãos soltam meu rosto e ele aperta meu corpo, me colocando de pé com ele. 
— Você precisa conhecer minha mãe hoje - ele diz, examinando meu rosto, olhando profundamente nos meus olhos. 
Enxugo o resto das minhas lágrimas, fungando, e balanço a cabeça. 
— Vou adorar conhecer tua mãe. 
— Ótimo - ele diz, afastando-me do seu peito e me pondo no chão. — Vou tomar banho, vamos fazer umas coisas na cidade e depois visitá-la quando ela voltar do trabalho. 
— Tá - concordo, sem tirar o sorriso do rosto. 
Não conseguiria tirá-lo nem tentando. 
Ele me olha por um longo momento, como se não quisesse se separar de mim nem o tempo de tomar banho, seus olhos sorridentes tão radiantes como os vi naquela noite depois da nossa apresentação no Old Point. Seu rosto transmite todo tipo de coisa que alguém que está incrivelmente feliz pode querer dizer, mas ele não diz nada. 
Não precisa dizer. 
Joseph finalmente sai do quarto para tomar banho e eu vou ver minhas mensagens de texto. Mamãe ligou, finalmente. Deixou uma mensagem na caixa postal, contando tudo sobre seu cruzeiro nas Bahamas, que acabou durando oito dias. Parece que ela está gostando de verdade desse Roger. Talvez eu precise passar em casa e ficar tempo suficiente para testar a personalidade dele no meu radar anti babacas, verificar se ele não cegou minha mãe com algo que disfarça os sinais de alerta: mais dinheiro que meu pai, um corpo mais sexy que o de Joseph bom, isso não é muito provável ou o tamanho do... Não sei ao certo como vou descobrir isso, a não ser perguntando diretamente pra minha mãe. Não vai rolar. Meu pai também ligou. Disse que vai pra Grécia daqui a um mês em viagem de negócios e perguntou se quero ir com ele. Eu adoraria, mas sinto muito, papai, se eu for pra Grécia em algum momento do ano que vem, vai ser com Joseph. Sempre fui a menina do papai, mas todos precisam crescer um dia, e agora... agora sou a menina do Joseph.
Afasto essas fantasias do meu cérebro e volto a verificar as mensagens. Selena finalmente ligou, em vez de ficar mordendo a língua, mandando mensagens. Sei que a esta altura ela está mais do que maluca para saber o que ando fazendo e com quem estou. Talvez eu já a tenha torturado o suficiente. 
Hum... posso dar um aperitivo a ela. 
Um sorriso maldoso se abre no meu rosto. Um aperitivo pode ser uma tortura ainda maior, mas é melhor do que nada. 
Quando Joseph sai do chuveiro, andando pelo apartamento com uma toalha úmida no pescoço, eu o chamo na sala de estar. Ele fica ali, sem camisa: a coisa mais sexy que já vi na vida, com água escorrendo pelo seu tanquinho bronzeado. Quero lambê-lo, mas me contenho pelo bem de Selena. 
— Amor, vem cá - digo, chamando com um dedo. — Quero mandar uma foto de nós dois pra Selena. Ela tá me perguntando de você desde Nova Orleans, mas ainda não falei nada pra ela, nem o teu nome. Ela deixou uma mensagem na caixa postal - começo a apertar teclas no meu celular. 
Ele ri, enxugando a nuca com a toalha. 
— O que ela disse? 
— Tá a ponto de explodir, praticamente. Quero mexer com a cabecinha dela. 
As covinhas de Joseph ficam mais fundas. 
— Demorou, eu tô dentro - ele desaba no sofá e me puxa junto. 
Tiro algumas fotos de nós dois: uma com os dois só olhando para a câmera, outra dele me dando um beijo estalado na bochecha e outra dele olhando para a câmera, sedutor, com a língua saindo do canto da boca, lambendo o meu rosto. 
— Esta ficou perfeita - digo, escolhendo a terceira foto, empolgada. — Ela vai surtar. Prepare-se, o Texas pode ser atingido pelo furacão Selena quando ela receber esta foto. Joseph ri e me deixa no sofá, mexendo no celular. 
— Vou ficar pronto daqui a uns minutos - ele diz, saindo da sala. 
Anexo a foto à mensagem e digito:Aqui estamos, Selena, em Galveston, Texas.
E então aperto send. Ouço Joseph zanzando pelo apartamento. Começo a me levantar para espiá-lo quando, menos de um minuto depois que mandei a foto, Selena me responde: 
Meu Deus! Você está dormindo com Kellan Lutz???
Caio na risada. Joseph aparece no canto, infelizmente vestindo uma camisa desta vez, prendendo a parte da frente no cinto. E ele já trocou a bermuda por um jeans. 
— Quê? Ela já respondeu? - ele parece achar certa graça. 
— Já - digo, ainda rindo. — Eu sabia que não iria demorar. 
Mais mensagens começam a aparecer em sequência rápida, como se uma máquina as estivesse disparando na outra ponta: 
Demi, ele é um gato, cacete! Que porra??? 
Me liga. Tipo já!!!
Demetria Devonne Lovato! É melhor você me ligar!! 
Tô mordendo aqui!!! 
Eu quis dizer MORDENDO 
PORRA DE CORRETOR ORTOGRÁFICO! 
Odeio esta bosta de celular. 
MORRENDO, não mordendo.
Não consigo parar de sorrir. Joseph aparece atrás de mim e tira o celular da minha mão. Ele ri lendo as tontices dela. 
— Essa garota é alfabetizada? - ele pergunta. — Quem é Kellan Lutz, cacete? Ele é feio? - Joseph me olha com uma ponta de medo nos olhos. 
Não... hãã, pra feio ele não serve. 
— É só um ator - tento explicar. — E não, não é. Nem esquenta, Selena sempre, mas sempre compara todo mundo com algum famoso, geralmente exagerando muito - pego o celular de volta enquanto ele está parcialmente absorto pela minha explicação e o deixo no sofá. — Nós duas fomos colegas de Shay Mitchell e Hayden Panettiere, Megan Fox foi a rainha do baile, e Chris Hemsworth, o rei - estalo a língua. — E tinha a arqui-inimiga de Selena, uma líder de torcida que tentou roubar Damon dela no colegial, Selena dizia que ela era a versão vadia de Nina Dobrev, nenhum deles se parecia muito com nenhum desses famosos, não muito, pelo menos. Selena é... esquisita. 
Joseph balança a cabeça, sorrindo. 
— Bom, ela é uma figura, já deu pra ver. 
Ainda ouvindo meu celular vibrando sobre o sofá, eu o ignoro e ando até Joseph, passando os braços em sua cintura. 
— Tem certeza que quer fazer isso comigo? 
Ele me olha nos olhos, pondo suas mãos nas minhas bochechas. 
— Nunca tive mais certeza de alguma coisa na minha vida, Demi. 
E então ele começa a andar de um lado para outro. 
— Sempre senti um... um...- seus olhos estão intensos, concentrados. — Um buraco... tipo, não era um buraco vazio, sempre tinha alguma coisa dentro dele, mas nunca era a coisa certa. Nunca se encaixava. Fiz faculdade por um tempo, até que um dia falei pra mim mesmo: Joseph, que porra você tá fazendo aqui? E aí caiu a ficha: eu não estava lá porque era o que eu queria, estava lá porque era o que as pessoas esperavam, até pessoas que não conheço, a sociedade. É o que as pessoas fazem. Elas crescem, vão pra faculdade, arrumam um emprego e fazem a mesma coisa todo dia pelo resto da vida, até que ficam velhas e morrem, como você explicou naquela noite, quando me contou teus planos com teu ex - ele move a mão direita como se estivesse dando um tapa no ar. — A maioria das pessoas nunca vê nada além do lugar onde cresceu - ele está andando mais rápido, parando de vez em quando para enfatizar uma palavra ou uma ideia importante. Mal olha para mim, parece estar dizendo essas coisas mais para si próprio, como se um rio de respostas que ele procurou a vida toda estivesse finalmente inundando sua mente, e ele estivesse tentando absorver todas de uma vez. — Nunca fiquei feliz fazendo nada...
Finalmente, ele olha para mim. 
— E aí conheci você... e foi como se alguma coisa disparasse na minha cabeça, ou acordasse, n-não sei, mas... - ele para na minha frente de novo. Quero chorar, mas não choro. — Mas eu sabia que, fosse o que fosse, era o certo. Encaixava. Você se encaixa. 
Fico na ponta dos pés e beijo seus lábios. Há tantas coisas que quero dizer, mas estou esmagada por todas elas e não consigo escolher. 
— Acho que preciso fazer a mesma pergunta pra você - ele diz. — Tem certeza que você quer fazer isso? 
Meus olhos sorriem para ele com ternura. 
— Joseph, isso não é nem uma pergunta - respondo. — Sim! 
Joseph abre um sorriso tão brilhante para mim que seus olhos esverdeados diabolicamente sexy cintilam. 
— Então é oficial - ele diz. — Vamos partir amanhã. Tenho um dinheiro no banco que vai dar pra gente se virar por uns tempos. 
Balanço a cabeça, sorrio e digo: 
— O dinheiro que tenho no banco não foi ganho com o meu trabalho, e por causa disso sempre gastei com moderação, mas pra fazer isso vou usar cada centavo, e quando ele acabar... 
— Antes que o nosso dinheiro fique perto de acabar - ele interrompe. — A gente vai trabalhar na estrada, como você falou antes. Podemos tocar em clubes, bares e feiras-livres - ele ri alto com a ideia, mas está falando sério. — E a gente pode até trabalhar em bares e restaurantes, cozinhando, lavando louça e servindo mesas e... sei lá, mas vamos pensar em alguma coisa. 
Tudo parece um sonho louco que fugiu do controle, mas nenhum dos dois se importa. Estamos vivendo o momento. 
— É, trabalhar antes que o dinheiro acabe é um plano melhor, com certeza - concordo, ficando vermelha. — Não quero virar mendiga, dormir atrás de caçambas de lixo ou ficar parada numa esquina com uma plaquinha dizendo: Trabalho em troca de comida. 
Joseph ri e aperta meus ombros com as mãos. 
— Não, a gente nunca vai chegar a esse ponto. Vamos trabalhar sempre, mas não por muito tempo num lugar só, e nunca fazendo a mesma coisa toda vez. 
Olho nos seus olhos por um momento e passo os braços no seu pescoço, beijando apaixonadamente. 
Então ele pega a chave. 
— Vem - diz, jogando a cabeça para trás e estendendo a mão para mim. Eu a seguro. 
— Vamos começar pelo princípio: preciso dar uma olhada na minha máquina. Ela deve estar sentindo a minha falta! 
Revistas de sacanagem e um carro tratado como uma mulher! 
Balanço a cabeça, rindo baixinho, enquanto ele me puxa para a porta. Pego minha bolsa do chão e nós saímos.

Morri com a Selena hahaha e eles são tão fofinhos juntos!!!
Gostaram?
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3

26/07/2016

certain love: capítulo 28


— Você tem que fazer, só pra ter certeza - Marsters disse, sentado em sua poltrona preta clichê, em sua sala clichê, usando um uniforme clichê.
— Não tenho que fazer nada - eu retruco, sentado do outro lado. — O que mais resta dizer? O que mais resta para se achar?
— Mas você...
— Não, quer saber? Vá se foder - levantei, empurrando a cadeira para trás e derrubando uma planta atrás de mim. — Não vou mais me sujeitar a essa merda.
Saí batendo a porta da sala atrás de mim com tanta força que o vidro tremeu no
caixilho.
— Joseph! Amor, acorda - ouço a voz de Demi dizer. Abro os olhos. Ainda estou do lado do passageiro do carro. Me pergunto quanto tempo dormi.
Eu me levanto, estalo o pescoço dos dois lados e passo a mão no rosto.
— Você tá bem?
Está escuro. Vejo o olhar preocupado de Demi me encarando, até que ela é obrigada a olhar para a estrada.
— Tô - respondo, balançando a cabeça. — Tô bem. Acho que tive um pesadelo, mas nem lembro o que foi - minto de novo.
— Você esmurrou o painel - ela diz, rindo um pouco. — Deu um soco do nada, levei um baita susto.
— Desculpa, amor - eu me aproximo sorrindo e beijo o seu rosto. — Há quanto tempo você tá dirigindo?
Ela olha para os números brilhantes do relógio.
— Não sei, umas duas horas, acho.
Olho para uma placa e vejo que ela fez o que pedi e continuou na 90.
— Para ali - aponto para uma área plana ao lado da estrada.
Ela sai da estrada e vai para o asfalto trincado, pondo o câmbio em park. Começo a me levantar, mas ela segura meu braço e me detém.
— Peraí... Joseph.
Olho para Demi. Ela desliga o motor e solta o cinto de segurança.
— Vou dirigir um pouco e te deixar dormir.
— Eu sei - ela diz, me olhando com ar sombrio.
— O que foi?
Ela fecha as duas mãos sobre o volante e se encosta no banco.
— Não sei mais se quero ir pro Texas.
— Por que não?
Chego mais perto dela.
Finalmente, ela olha para mim.
— Porque e depois? - ela pergunta. — Parece que é o fim da linha. Você mora lá. O que mais resta fazer?
Sei por que ela diz isso, e tenho sentido os mesmos temores em segredo já há algum tempo.
— O que resta fazer é qualquer coisa que a gente queira fazer - respondo.
Eu me viro no banco e seguro o queixo dela com a ponta dos dedos.
— Olha pra mim.
Ela olha. Vejo um anseio em seus olhos, algo assustado e torturado. Sei disso porque estou sentindo a mesma coisa.
Engulo em seco, depois me aproximo e a beijo com cuidado.
— A gente pensa nisso quando chegar lá, tá?
Ela balança a cabeça relutantemente. Tento forçar um sorriso, mas é difícil quando sei que não posso dar nenhuma das respostas que ela procura. Não posso dar as respostas que quero dar.
Demi desliza sobre o assento e vai para o lado do passageiro, enquanto eu saio e dou a volta no carro.
Dois carros passam, cegando-nos com seus faróis altos. Fecho a porta e fico sentado por um momento. Demi está olhando pela janelinha, sem dúvida com pensamentos parecidos com os meus: perdida, insegura e talvez até com medo.
Nunca senti com mais ninguém uma ligação como a que tenho com ela, e isso me mata aos poucos. Ao estender a mão para virar a chave, paro com os dedos segurando o metal. Suspiro profundamente.
— A gente vai pelo caminho mais longo - digo baixinho, sem olhar para ela, e então o motor ganha vida.
Percebo quando ela vira a cabeça para me olhar.
Olho para ela.
— Se você quiser.
Um sorrisinho dá vida ao seu rosto novamente. Ela balança a cabeça. Aperto o botão para ligar o CD play er e o aparelho troca de CD. Bad Company começa a tocar nos alto-falantes. Lembrando nosso acordo, vou mudar a música, mas Demi diz:
— Não, pode deixar - e seu sorriso fica ainda mais meigo.
Será que ela se lembra daquela primeira noite em que nos conhecemos no ônibus, quando perguntei o título de alguma canção do Bad Company ? Ela disse Ready For Love. E eu falei: “Você tá mesmo?” Na hora, eu não sabia por que disse isso, mas agora percebo que não estava tão errado, no fim das contas. Estranho que essa música esteja tocando agora.
Viajamos pela maior parte do sul do estado da Louisiana e ficamos na 82 até chegar ao Texas. Demi está toda sorrisos de manhã, apesar de estar no Texas, e vê-la assim só me faz sorrir também. Estamos dirigindo com as janelas abertas, e ela está com os pés descalços para fora há uma hora, só o que consigo ver pelo retrovisor quando tento enxergar o trânsito são suas belas unhas pintadas.
— Não é uma viagem de carro se você não põe os pés pra fora da janela na estrada! - ela grita por cima da música e do vento atravessando o carro. Seu cabelo está preso numa trança só, desta vez, mas o vento fica empurrando os fios soltos ao redor do seu rosto.
— Tem razão - concordo, apertando o acelerador. — E numa viagem de carro de verdade, você também precisa fazer sacanagem com um caminhoneiro.
O cabelo de Demi cobre seu rosto de novo quando ela vira a cabeça.
— Hã?
Eu sorrio.
— É - tamborilo com os dedos no volante no ritmo da música. — É obrigatório. Você não sabia? Precisa fazer uma destas três coisas: primeira - eu levanto um dedo: — Mostrar a bunda pra um deles.
Ela arregala os olhos.
— Segunda: a gente tem que passar do lado de um enquanto você finge que tá se
masturbando.
Ela arregala os olhos ainda mais e seu queixo cai.
— Ou terceira: simplesmente faça assim com o braço - levanto e abaixo o braço com o punho erguido. — Pra ele tocar a buzina.
O alívio toma conta do rosto dela.
— Tá - ela diz com um sorriso misterioso no canto dos lábios. — Na próxima oportunidade, vou consumar esta viagem de carro fazendo sacanagem com um caminhoneiro - ela diz isso de forma indiscutível.
Dez minutos depois, nossa vítima bom, está mais pra felizardo; afinal, é Demi que vai mexer com ele surge à frente. Estamos num longo trecho de estrada reta que corta uma paisagem plana e sem árvores dos dois lados.
Alcançamos a carreta e mantemos uma velocidade constante de 100 quilômetros por hora atrás dele. Demi, usando aquele shortinho branco minúsculo de algodão que eu adoro tanto, tira as pernas de cima do banco e põe os pés no assoalho. Ela está com um sorriso malicioso, e eu estou ficando meio excitado.
— Tá pronta? - pergunto, abaixando um pouco a música.
Demi balança a cabeça e eu olho pelos retrovisores primeiro, depois à frente na mão contrária para ver se nenhum carro está vindo dos dois lados. Quando saio de trás da carreta e vou para a outra pista, Demi enfia a mão direita dentro do short.
Fico de pau duro na hora.
Eu tinha certeza que ela iria só fazer o gesto de buzinar!
Sorrio com malícia para ela, com todo tipo de pensamento pervertido rodopiando no cérebro, e ela sorri em resposta. Piso mais no acelerador e vou aumentando gradualmente a velocidade até alcançarmos a janela do motorista da carreta.
Meu Deus do céu...
A mão de Demi se mexe suave mas visivelmente por baixo do tecido fino do short, o indicador e o polegar da mão esquerda estão enfiados por dentro do elástico, baixando-o o suficiente para desnudar sua barriga. Ela encosta a cabeça no banco e puxa o short um pouco mais para baixo. Estou quase distraído demais para manter os olhos na estrada.
Ela morde o lábio inferior e mexe os dedos furiosamente dentro do short.
Começo a achar que ela não está fingindo coisa nenhuma. Meu pau está tão duro que
poderia cortar um diamante.
A carreta também está mantendo o ritmo. Distraído com Demi, não percebi que meu pé estava relaxando aos poucos no acelerador, e quando a nossa velocidade caiu um pouco, a carreta também reduziu.
Uma voz uivante e rouca sai da janela da carreta: — Puta que pariu! Vai me matar do coração, neném! U-huu! - ele toca sua buzina ensurdecedora, excitado.
Sentindo um acesso de possessividade, reduzo de 100 para 70 quilômetros por hora e volto para trás do caminhão. Bem a tempo, porque uma van estava vindo na outra pista.
Olho para Demi, sabendo que meu olhar deve estar tresloucado. Ela tira a mão de dentro do short e sorri para mim.
— Eu não esperava isso!
— Foi por isso que eu fiz - ela diz, voltando a apoiar os pés na porta do carro e obstruindo o retrovisor com os dedos dos pés.
— Você tava... se masturbando de verdade?
A velocidade baixou de 70 para 60. Meu coração está disparado no peito.
— Tava, sim - ela diz. — Mas não pro caminhoneiro.
Seu sorriso se aprofunda quando ela tira alguns fios de cabelo que se alojaram entre seus lábios. Não consigo deixar de olhar para aqueles lábios, estudando-os, querendo beijá-los e mordê-los.
— Bom, não que eu esteja reclamando - digo, tentando prestar atenção na estrada e não matar a nós dois. — Mas agora tô com... um probleminha.
O olhar de Demi para no meu colo e ela olha para o meu rosto de novo, inclinando a cabeça para um lado com uma expressão de malícia e sedução. Então ela desliza no banco para perto de mim e enche a mão no meio das minhas pernas.
Agora meu coração está quicando nas costelas. Estou com os nós dos dedos brancos de tanto apertar o volante com as duas mãos. Ela beija meu pescoço, meu maxilar e passa os lábios na minha orelha. Arrepios me estupram.
Ela começa a abrir o zíper da minha bermuda.
— Você me ajudou com meus “problemas” - sussurra no meu ouvido, mordendo meu pescoço de novo. — É justo que eu retribua o favor.
Demi olha para mim.
Eu só balanço a cabeça feito um idiota porque não consigo pensar com a cabeça de cima tempo suficiente para formar uma frase, no momento.
Aperto mais as costas contra o assento quando ela pega o meu comprimento na mão e põe sua cabeça entre a minha barriga e o volante. Meu corpo estremece um pouco quando sinto sua língua serpentear para lambê-lo. Ai meu Deus... Ai meu Deus... Não sei como vou dirigir...
Quando ela me enfia no fundo de sua garganta, eu tremo, minha cabeça vai um pouco para trás, ainda tentando manter os olhos na estrada, e meu queixo cai. Agora só estou segurando o volante com a mão esquerda, enquanto ela me chupa com força e rápido, minha mão direita largou o volante e está segurando sua nuca, seu cabelo misturado aos meus dedos crispados.
A velocidade aumentou de 65 para 80 km/h.
Quando chego a 95 km/h, minhas pernas estão tremendo e eu não consigo enxergar.
Seguro o volante com as duas mãos de novo, tentando manter algum controle sobre alguma coisa, especialmente a porcaria do carro, e solto um grito e gemo quando gozo.
Consegui não matar a gente na estrada depois do boquete avassalador de Demi.
Chegamos a Galveston de manhã e ela continua capotada no banco, com as pernas parcialmente estendidas no assoalho. Não me dou ao trabalho de acordá-la ainda.
Primeiro passo devagar pela casa da minha mãe, notando que seu carro não está na garagem, o que significa que ela está trabalhando no banco hoje. Para matar o tempo, faço o caminho mais comprido até meu apartamento, passando pela 53rd.  Demi não dormiu muito a noite passada, mas acho que o carro andando mais devagar do que o normal bastou para acordá-la. Ela começa a se espreguiçar antes que eu entre no estacionamento do meu condomínio, na Park com a Cedar Lawn.
Demi levanta sua linda cabeça loura do banco, e quando vejo o rosto dela, uma risada escapa dos meus lábios.
Ela inclina a cabeça já bastante bagunçada pelo sono para um lado e resmunga:
— Qual é a graça?
— Gata, eu tentei não te deixar dormir assim.
Demi estica o pescoço, se aproxima do retrovisor e revira os olhos ao ver as três longas marcas das costuras do banco numa das bochechas, indo até a orelha. Ela cutuca as marcas ao espelho.
— Uau, isso dói - diz.
— Você tá linda, mesmo com listras - eu rio e ela não consegue deixar de sorrir.
— Bom, chegamos - digo finalmente, parando numa vaga e desligando o motor, depois deixando as mãos ao lado do corpo.
O carro está constrangedoramente silencioso. Embora nem eu nem ela jamais tenhamos realmente dito que nossa viagem terminaria no Texas, ou que as coisas entre nós iriam mudar, é como se ambos pudéssemos sentir isso.
A única diferença entre nós é que... só eu sei por que vão mudar.
Demi está perfeitamente imóvel e em silêncio no seu lado, com as mãos dobradas no colo.
— Vamos entrar - digo, para quebrar o silêncio.
Ela força um sorriso para mim e abre a porta.
— Uau, isto aqui parece mais uma república estudantil do que um condomínio de apartamentos - ela põe a mochila e a bolsa no ombro, olhando para o prédio antigo
e os carvalhos gigantes espalhados pela paisagem.
— Era um hospital dos Fuzileiros Navais na década de 1930 - digo, tirando minhas mochilas do porta-malas.
Demi pega o violão de Kevin do banco de trás.
Andamos por uma calçada branca como giz e cheia de curvas e chegamos ao meu apartamento de um quarto no térreo. Achando a chave certa, abro a porta da grande sala de estar. O cheiro de casa fechada me atinge assim que entramos, não é um fedor, só um cheiro de lugar vazio.
Deixo minhas mochilas no chão.
Demi fica parada ali, de início, examinando o lugar.
— Pode deixar suas coisas onde quiser, gata.
Vou até o sofá e pego o jeans que está jogado no encosto, depois uma cueca e uma camiseta da poltrona e da espreguiçadeira do conjunto.
— Este apartamento é muito legal - ela comenta, olhando ao redor.
Finalmente, ela larga suas coisas no chão e apoia o violão de Kevin no encosto do sofá.
— Não é grande coisa como apartamento de solteiro - digo, indo para a sala de jantar. — Mas gosto daqui, e queria mesmo morar perto da praia.
— Não mora com ninguém? - ela pergunta, me seguindo.
Balanço a cabeça, vou para a cozinha e abro a geladeira, as várias garrafas e potes na porta tilintam uns contra os outros.
— Não mais. Meu amigo Heath morou comigo por uns três meses quando me mudei pra cá, mas acabou indo pra Dallas morar com a noiva.
Antes de fechar a geladeira, pego uma garrafa de dois litros de Ginger Ale.
— Quer também? - seguro a garrafa e mostro para ela. — Viu? Eu tenho alguma coisa além de refrigerante e cerveja na geladeira, e você viu que não passei aqui antes pra colocar.
Ela sorri com doçura e diz:
— Obrigada, mas não tô com sede agora. Você comprou isso pra quê? Ressaca, enjoo?
Sorrio para ela e tomo um gole do gargalo. Ela não fica horrorizada como eu esperava que ficaria.
— É, você me pegou - admito, tampando a garrafa. — Se quiser tomar banho - digo, saindo da cozinha e apontando para o corredor. — O banheiro fica logo ali, vou ligar pra minha mãe pra ela não ficar preocupada e dar uma arrumada aqui antes de tomar banho. Minha planta já deve ter morrido.
Demi parece um pouco surpresa.
— Você tem uma planta?
Eu sorrio.
— Tenho, o nome dela é Georgia.
Suas sobrancelhas se erguem um pouco mais.
Eu rio baixinho e a beijo de leve nos lábios.
Enquanto Demi está no chuveiro, vasculho cada centímetro visível do meu apartamento à procura de qualquer coisa incriminatória: meias nojentas, encardidas, camisinhas, embalagens abertas de camisinha , mais roupa suja e uma revista de sacanagem.
Depois, lavo os poucos pratos sujos que deixei na pia antes de viajar e me sento na sala para ligar para a minha mãe.

O que acharam? Demi danadinha hahaha
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3