15/07/2016

certain love: capítulo 22


Lá pelo fim da tarde, me sinto melhor, não 100%, mas bem o suficiente para passear por Nova Orleans com Joseph num bonde, indo a alguns lugares que não conseguimos visitar ontem. Depois que consegui engolir uns ovos e duas torradas, pegamos o Bonde Riverfront até o Aquário das Américas Audubon e andamos por um túnel de 9 metros com água e peixes ao nosso redor. Periquitos comeram na nossa mão e visitamos mostras da Floresta Amazônica. Alimentamos arraias e tiramos fotos com nossos celulares, daquelas bem bestas, com o braço esticado à frente, segurando o aparelho. Mais tarde olhei com mais atenção as fotos que tiramos, como nossas bochechas estavam apertadas juntas e o modo como sorríamos para a câmera, como se fôssemos qualquer outro casal vivendo seu melhor momento. 
Qualquer outro casal... mas não somos um casal e me dou conta de que precisei me lembrar disso. 
A realidade é uma bosta. 
Mas não saber o que você quer também é. Não, a verdade é que eu sei o que quero. 
Não posso mais me forçar a duvidar disso, mas ainda tenho medo. Tenho medo de Joseph e do tipo de dor que ele poderia causar se um dia me magoasse, pois tenho a sensação que não seria do tipo que consigo aguentar. Já é insuportável e ele ainda nem me magoou. 
Desta vez enfiei o pé na jaca mesmo, sem dúvida. 
Quando a noite cai novamente sobre Nova Orleans e os baladeiros já saíram de suas tocas, Joseph me faz atravessar o Mississippi num ferry e andar até um lugar chamado Old Point Bar. Fico feliz por ter decidido voltar a calçar meus chinelos de dedo pretos, em vez das sandálias de salto novas. Joseph meio que insistiu nisso, especialmente porque teríamos que andar. 
— Nunca vou embora de Nova Orleans sem dar uma passada aqui - ele diz, andando ao meu lado, segurando minha mão. 
— O que, então você é um frequentador assíduo? 
— É, pode-se dizer que sim, mas minha assiduidade se resume a uma ou duas vezes por ano. Já me apresentei lá algumas vezes. 
— Tocando violão? - presumo, olhando-o curiosa. 
Um grupo de quatro pessoas vem da direção oposta e eu chego mais perto de Joseph para dar passagem na calçada. 
Ele tira sua mão da minha e a passa na minha cintura por trás.
— Toco violão desde os 6 anos de idade - ele sorri para mim. — Com 6 anos, não era muito bom, mas precisava começar de algum jeito. Não toquei nada que valesse a pena ouvir até fazer uns 10 anos. 
Solto um suspiro, impressionada. 
— Jovem o suficiente pra ser um talento musical, eu diria. 
— Acho que sim, eu era o “músico”, quando a gente era criança, e Kevin era o “arquiteto” porque costumava construir coisas... uma vez construiu uma casa enorme numa árvore na floresta. E Nicholas era o “jogador de hóquei”. Meu pai adorava hóquei, quase mais do que boxe, mas não mais. Nicholas desistiu do hóquei depois de um ano... tinha só 13 anos, papai queria que ele jogasse mais do que ele próprio. Nicholas só queria saber de mexer com eletrônica... tentou fazer contato com ETs com uma traquitana que montou com tranqueiras que achou pela casa depois de ver o filme Contato. 
Nós dois rimos. 
— E o seu irmão? - Joseph pergunta. — Você me contou que ele tá na prisão, mas como era o relacionamento de vocês antes disso? 
Meu rosto fica discretamente amargo. 
— Cole era um irmão mais velho maravilhoso até o fim do ginásio, quando começou a andar com o marginal do bairro: Braxton Hixley, sempre detestei esse cara. Bom, Cole e Braxton começaram a usar drogas e fazer todo tipo de doideira. Meu pai tentou interná-lo num lar pra jovens problemáticos pra ajudá-lo, mas Cole fugiu e se meteu em mais encrenca ainda. Daí pra frente só piorou - olho para a frente quando mais gente vem na nossa direção pela calçada. — E agora ele tá no lugar que merece. 
— Talvez ele volte a ser o irmão mais velho que você lembrava quando sair de lá. 
— Talvez - dou de ombros, duvidando muito. 
Chegamos ao final da calçada e viramos a esquina da Patterson com a Olivier, e lá está o Old Point Bar, que de fora parece mais um sobrado histórico com um anexo construído ao lado. Passamos por baixo do letreiro antigo e alongado, onde há algumas mesas e cadeiras de plástico do lado de fora, com várias pessoas fumando e falando bem alto. 
Ouço uma banda tocando lá dentro. 
Depois que um casal sai, Joseph segura a porta aberta e pega na minha mão. O lugar não é grande, mas é aconchegante. Olho para o pé-direito alto, notando as muitas fotografias, placas de carro, luminosos de cerveja, faixas coloridas e anúncios antigos pendurados em cada centímetro das paredes. Vários ventiladores de teto baixos pendem do forro de madeira. E à minha direita está o bar, que, como todo bar, tem uma TV na parede do fundo. Mesmo em meio à pequena multidão de pessoas, uma mulher que está trabalhando atrás do balcão levanta a mão e parece acenar para Joseph. 
Joseph sorri para ela e acena com dois dedos em resposta, como para dizer “daqui a pouco falo com você”. 
Parece que todas as mesas estão ocupadas, e tem muita gente dançando na pista. A banda que está tocando do outro lado do salão é muito boa; blues rock ou algo do tipo. 
Eu gosto. Um cara negro sentado num banquinho dedilha uma guitarra prateada e um branco canta com um violão preso ao ombro com uma alça. Um cara corpulento está na bateria, e há um teclado no palco, mas ninguém está tocando. 
Fico surpresa quando olho para o chão e vejo um cachorro preto e descabelado me olhando e abanando o rabo. Estendo a mão e coço a orelha dele. Satisfeito, ele vai até o dono, que está sentado à mesa ao lado, e deita aos seus pés. 
Depois de esperar alguns minutos, Joseph nota três pessoas se levantando de uma mesa não muito longe de onde a banda está tocando, ele me puxa, vamos até lá e a ocupamos. Ainda não me recuperei totalmente da ressaca e minha cabeça não está completamente sem dor, mas, surpreendentemente, apesar do ambiente ser barulhento, não está piorando minha dor de cabeça. 
— Ela não vai beber - Joseph diz gentilmente para a mulher que estava atrás do balcão, apontando para mim.
Ela abriu caminho entre as pessoas e já tinha chegado à nossa mesa quando me sentei. 
A mulher, com o cabelo castanho macio preso atrás das orelhas, parece ter 40 e poucos anos e está tão sorridente ao dar um abraço de urso em Joseph que começo a me perguntar se é tia ou prima dele. 
— Já faz dez meses, Jonas - a mulher diz, batendo nas costas dele com as duas mãos. — Onde você se meteu? 
Depois sorri, olhando para mim. 
— E quem é essa? - ela olha para Joseph com ar brincalhão, mas detecto mais alguma coisa em seu sorriso: está tirando conclusões, talvez. 
Joseph pega a minha mão, e eu me levanto para ser apresentada adequadamente.
— Esta é Demi - ele diz. — Demi, esta é Jennifer, ela trabalha aqui há pelo menos seis das minhas lamentáveis apresentações. 
Jennifer empurra o peito de Joseph, rindo, e olha de novo para mim. 
— Não acredite nas mentiras dele - diz, apontando-o e erguendo as sobrancelhas. — Esse garoto sabe cantar - ela pisca para mim e aperta a minha mão. — Prazer em te conhecer. Também sorrio para ela. 
Cantar? Eu achava que ele só tocava aqui, não sabia que também cantava. Acho que isso não me surpreende. Ele já provou que sabe cantar em Birmingham, quando acertou aquela nota do “alibis” em Hotel California. E de vez em quando, no carro, ele esquecia que eu estava lá, ou não ligava e soltava a voz em várias canções de rock clássico que saíam dos alto-falantes. 
Mas eu não esperava que Joseph tocasse de verdade em algum lugar. Pena que ele não trouxe o violão, adoraria vê-lo se apresentar hoje. 
— É bom ver você de novo - Jennifer diz, e aponta para o cara negro no palco. — Tom vai ficar contente que você está aqui. 
Joseph balança a cabeça e sorri enquanto Jennifer atravessa novamente a pequena multidão e volta para o bar. 
— Quer tomar um refrigerante, alguma coisa? 
Recuso com um gesto. 
— Não, tô legal. 
Ele permanece de pé, e quando a banda para de tocar, entendo por quê. O cara da guitarra prateada nota Joseph e sorri, encosta a guitarra na cadeira e se aproxima. Eles se abraçam da mesma forma que Jennifer o abraçou e eu me levanto novamente para ser apresentada, apertando a mão de “Tom”. 
— Jonas! Você sumiu um tempão - Tom diz, com um forte sotaque cajun da região.
 — Quanto tempo faz, um ano?
 Jennifer também tem um pouco de sotaque, mas não tanto quanto Tom. 
— Quase - Joseph diz, com um sorriso. 
Joseph parece muito feliz de estar ali, como se aquelas pessoas fossem parentes que ele não vê há muito tempo, e com os quais nunca se desentendeu. Até seu sorriso está mais gentil e acolhedor. Aliás, quando ele me apresentou Jennifer e Tom, seu sorriso iluminou o salão. Me senti a garota que ele finalmente decidiu trazer para casa e apresentar à família, e pelos olhares dos dois quando Joseph me apresentou, eles também acharam isso. 
— Vai tocar hoje? 
Me sento de novo e olho para Joseph, tão curiosa com a sua resposta quanto Tom parece estar. Tom tem aquela expressão de “não aceito ‘não’ como resposta” em seu rosto sorridente, e as rugas ao redor dos seus olhos e boca afundam. 
— Bom, eu não trouxe o violão desta vez. 
— Ah - Tom balança a cabeça. — Você sabe que não tem problema, tá querendo me fazer de bobo? - ele aponta para o palco. — Tá cheio de guitarra lá. 
— Quero te ouvir tocar - digo atrás dele. 
Joseph olha para mim, indeciso. 
— É sério. Tô pedindo - inclino a cabeça para um lado, sorrindo para ele. 
— Hã-hã, essa garota tem aquele olhar, tem, sim - Tom sorri ao lado de Joseph. 
Joseph entrega os pontos. 
— Tá, mas só uma música. 
— Só uma, né? - Tom segura o queixo enrugado e diz: — Se vai ser só uma, eu que vou escolher - ele aponta para si, logo acima de sua camisa branca. Um maço de cigarros desponta do bolso esquerdo no peito. Joseph balança a cabeça, concordando. 
— Tá, você escolhe. 
O sorriso de Tom se alarga e ele me olha com uma expressão suspeita. 
— Uma pra derreter o coração das damas, que nem você cantou da última vez. 
— Rolling Stones? - Joseph pergunta. 
— Hã-hã - Tom diz. — Aquela mesmo, garoto. 
— Qual aquela? - pergunto, apoiando o queixo na mão fechada. 
— Laugh, I Nearly Died - Joseph responde. — Acho que você não conhece. 
E ele está certo. Balanço a cabeça devagar. 
— Não conheço mesmo.
Tom acena para Joseph, pedindo que ele o siga até o palco. Joseph se abaixa, me surpreende com um selinho e se afasta da mesa. 
Fico sentada, nervosa, mas empolgada, com os cotovelos apoiados na mesa. Tantas conversas acontecem ao meu redor que tudo parece um zumbido contínuo flutuando no ambiente. De vez em quando, ouço um copo ou uma garrafa de cerveja tilintando ao bater em outra ou numa mesa. O salão todo está na penumbra, iluminado apenas pela luz dos numerosos luminosos de marcas de cerveja e das partes superiores das janelas, que deixam entrar o luar e a luz de fora. De vez em quando, um clarão amarelo surge atrás do palco, à direita, quando pessoas entram e saem do que presumo serem os banheiros. 
Joseph e Tom chegam ao palco e começam a se preparar: Joseph pega outro banquinho de algum lugar atrás da bateria e o coloca no meio do palco, bem na frente do microfone no pedestal. Tom diz alguma coisa para o baterista, provavelmente qual a canção que vão tocar e o baterista assente com a cabeça. Outro homem surge das sombras atrás do palco com mais uma guitarra, ou talvez seja um baixo; nunca prestei muita atenção na diferença. Tom entrega a Joseph uma guitarra preta, já plugada num amplificador próximo, e eles trocam palavras que não consigo ouvir. E então Joseph se senta no banquinho, apoiando uma bota na parte de baixo. Tom se senta no dele depois. 
Eles começam a ajustar isto e afinar aquilo, e o baterista bate algumas vezes ao acaso nos pratos. Ouço estalos e apitos quando outro amplificador é ligado ou calibrado, e depois um tum-tum-tum quando Joseph bate com o polegar no microfone algumas vezes. 
Meu estômago já está cheio de borboletas, estou nervosa como se fosse eu que estivesse prestes a cantar na frente de um monte de desconhecidos. Mas as borboletas são principalmente porque é Joseph. Ele me olha de relance do palco, nossos olhares se cruzam e então o baterista começa a tocar, batendo algumas vezes de leve nos pratos, no ritmo. E então Tom começa a tocar guitarra; uma melodia lenta e contagiante que faz facilmente a maioria das pessoas em volta virarem a cabeça e notar que uma nova canção está começando, obviamente, uma que todos já ouviram e da qual nunca se cansam. Joseph toca alguns acordes junto com Tom, e já sinto meu corpo balançando suavemente no ritmo da música. 
Quando Joseph começa a cantar, parece que tenho uma mola no pescoço. Paro de me balançar e jogo a cabeça para trás, sem conseguir acreditar no que estou ouvindo, um blues tão cativante. Ele fica de olhos fechados enquanto canta, sua cabeça balançando no ritmo quente e cheio de alma da canção. 
E quando começa o refrão, Joseph tira o meu fôlego... 
Sinto minhas costas pressionando um pouco o encosto da cadeira e meus olhos se arregalando quando a música sobe e a alma de Joseph acompanha cada palavra. Sua expressão muda a cada nota intensa, se acalmando quando as notas se acalmam.
Ninguém mais está conversando no bar. Não consigo desviar os olhos de Joseph para ver, mas posso sentir que a atmosfera mudou assim que ele começou aquele refrão tão forte, com um timbre sexy que eu nem imaginava que ele tinha. 
Na segunda estrofe, quando o ritmo diminui novamente, ele já tem a atenção total de todas as pessoas no salão. Todos estão dançando e balançando ao meu redor, casais aproximando seus quadris e lábios, porque não há outra coisa a fazer com essa canção. 
Mas eu... só olho, sem ar, a distância, deixando a voz de Joseph percorrer cada canal e osso do meu corpo. É como um veneno irresistível: estou hipnotizada pelo que ele me faz sentir, embora possa destruir minha alma, mas eu o bebo assim mesmo. 
E Joseph mantém os olhos fechados como se precisasse bloquear a luz ao seu redor para sentir a música. E quando vem o segundo refrão, ele se entrega ainda mais, quase a ponto de se levantar do banquinho, mas fica ali, com o pescoço esticado para o microfone e cada emoção passional marcando-lhe o rosto enquanto canta e toca a guitarra em seu colo. 
Tom, o baterista e o baixista começam a cantar dois versos com Joseph, e a plateia também canta baixinho. 
Na terceira estrofe, quero chorar, mas não consigo. É como se o choro estivesse ali, dormente, no fundo do meu estômago, mas quisesse me torturar. 
Laugh, I Nearly Died... 
Joseph canta e canta, tão apaixonadamente que eu quase morro, meu coração batendo cada vez mais rápido. E então a banda começa a cantar de novo e a música fica mais lenta, só com a bateria; batidas profundas e ásperas do bumbo que sinto sob meus pés, vindo do chão. E a plateia bate os pés junto com o bumbo e começa a cantar o refrão repetitivo. Todos batem palmas uma vez ao mesmo tempo, rasgando o ar quando suas mãos se juntam. Mais uma vez. E Joseph canta: — Yeah-Yeah!  - e a canção termina abruptamente. 
Surgem gritos, assobios, muitos “aí” e alguns “puta merda”. Calafrios percorrem minha espinha e se espalham pelo resto do meu corpo. 
Laugh, I Nearly Died... Nunca mais vou esquecer essa música, enquanto eu viver. 
Como ele pode ser real?
Estou esperando o azar entrar em ação a qualquer momento, ou acordar no banco de trás do carro de Damon, com Selena debruçada em cima de mim, dizendo que Blake me dopou no underground. 
Joseph apoia a guitarra emprestada no banquinho, vai apertar a mão de Tom, depois a do baterista, e por último a do baixista. Tom o acompanha até o meio do caminho da nossa mesa, mas se detém, pisca para mim e volta ao palco. Gosto muito de Tom. Há algo de honesto, bom e espiritual nesse homem. 
Joseph não consegue andar até a nossa mesa sem que algumas pessoas da plateia o parem para apertar sua mão e provavelmente lhe dizer o quanto gostaram da apresentação. Ele agradece e, lenta mas resolutamente, continua a se aproximar de mim. 
Vejo algumas mulheres olhando para ele com um pouco mais do que admiração. 
— Quem é você? - pergunto, meio que para provocá-lo. 
Joseph fica um pouco vermelho e puxa uma cadeira vazia para se sentar na minha frente. 
— Você é demais, Joseph. Eu nem imaginava. 
— Obrigado, gata. 
Ele é muito modesto. Eu achava que ele fosse brincar comigo, me chamando de sua tiete e me pedindo para acompanhá-lo até os fundos do prédio ou algo assim. Mas Joseph parece realmente não querer falar do seu talento, como se isso não o deixasse à vontade. Ou será que elogios de verdade o deixam pouco à vontade? 
— É sério - digo. — Eu queria saber cantar assim. 
Isso o faz reagir, mas só um pouco. 
— Claro que você sabe - ele diz. 
Jogo a cabeça para trás e balanço numa negativa exagerada. 
— Não-não-não-não - respondo, para desencorajar quaisquer ideias dele. — Não sei cantar muito bem. Acho que não sou um lixo total, mas com certeza não fui feita pra cantar em cima de um palco. 
— Por que não? - Jennifer traz uma cerveja para ele, sorri para mim e volta a atender os outros clientes. — Tem medo do palco? 
Ele encosta o gargalo nos lábios e joga a cabeça para trás. 
— Bom, nunca pensei em cantar, a não ser ouvindo som no carro, Joseph - eu me encosto na cadeira. — Nunca alimentei a ideia o suficiente pra descobrir se tenho medo do palco. Joseph dá de ombros e toma outro gole antes de deixar a cerveja na mesa. 
— Bom, só pra você saber, eu acho tua voz bonita. Te ouvi cantando no carro. 
Eu reviro os olhos e cruzo os braços. 
— Obrigada, mas é fácil dar a impressão de cantar bem quando a gente tá cantando junto com outra voz. Se você me ouvir só com a música, provavelmente vai querer tapar os ouvidos. 
Me debruçando para a frente, acrescento: 
— Como é que eu virei o assunto da conversa, afinal? - aperto os olhos de brincadeira para ele. — É de você que a gente deveria falar, como aprendeu a cantar assim? 
— Influências, acho - ele diz. — Mas ninguém canta como Jagger.
 — Ah, eu discordo - digo, erguendo o queixo. — Por que, Jagger é teu ídolo musical ou algo assim? - pergunto, meio de brincadeira, e ele sorri calorosamente. 
— Ele tá ali, entre as minhas influências, mas, não, meu ídolo musical é um pouco mais velho do que ele. 
Há algo secreto e profundo se escondendo nos olhos dele. 
— Quem? - pergunto, completamente absorta. 
Sem avisar, Joseph salta para a frente e me segura pela cintura, me pondo no seu colo, de frente para ele. Fico um pouco chocada, mas sem repelir o gesto. Ele me olha nos olhos, sentada ali no seu colo. 
— Demi? - sorrio para ele, só imaginando por que está fazendo isso. 
— Que é? - inclino a cabeça para um lado devagar, minhas mãos estão sobre o peito dele. Um pensamento parece relampear pelo seu rosto e ele não responde. 
— Que foi? - pergunto, mais curiosa agora. 
Sinto suas mãos na minha cintura, e então ele se curva e roça os lábios nos meus. 
Meus olhos se fecham, absorvendo o seu toque. Sinto que poderia beijá-lo, mas não sei ao certo se devo. 
Meus olhos se abrem de novo quando ele afasta os lábios. 
— O que você tem, Joseph? 
Ele sorri, e isso literalmente me aquece por dentro. 
— Nada - diz, batendo delicadamente com as mãos abertas nas minhas coxas, e voltando num instante a ser o Joseph brincalhão e não tão sério. — Só queria te pôr no meu colo - ele sorri maliciosamente. 
Começo a rebolar para me desvencilhar, não de verdade e ele passa os braços na minha cintura e me segura ali. A única vez que me tira do colo o resto da noite é quando preciso ir ao banheiro, e ele fica de pé na porta, esperando por mim. Ficamos no Old Point ouvindo Tom e a banda tocar blues e blues rock e até algumas canções de jazz antigo antes de voltar para o hotel, depois das 23h.

Gostaram? Eu adorei essa capítulo!!!
Comentem, bjs lindonas <3

2 comentários: