28/07/2016

certain love: capítulo 29


Quando vejo a revista de sacanagem atrás da privada, guardada tão casualmente como se fosse uma revista de motociclismo, não consigo deixar de rir para mim mesma. 
Fico me perguntando brevemente se existe algum homem no mundo que não usa pornografia, e então percebo como a pergunta é idiota. Eu não posso falar nada, já vi minha cota de vídeos pornôs na internet. 
Tomo um banho demorado e quente, me enxugo com a toalha de praia que Joseph me deu e me visto. 
Não gosto daqui. Do apartamento dele. Do Texas. 
Em qualquer outra época e em outras circunstâncias, seria diferente, mas o que eu disse a ele naquela noite, quando paramos na beira da estrada, continua sendo verdade. 
Este lugar, tudo nele parece o fim. A magia do nosso tempo juntos na estrada literalmente quase evaporou com a chuva da semana passada. Não nossos sentimentos um pelo outro... não, eles são tão fortes que pensar no fim, de qualquer forma que seja, está me deixando metaforicamente de joelhos. O que sentimos um pelo outro é... bem, é tudo o que nos resta. A estrada à nossa frente se foi. As paradas espontâneas, às vezes sem saber onde estamos, mas se lixando pra isso, se foram. Os motéis e as pequenas coisas como carne-seca, óleo Johnson’s e banho de espuma, tudo isso se foi. A trilha sonora do nosso tempo juntos, da nossa curta vida juntos, silenciou com o fim da última faixa do disco. Agora só consigo ouvir a vibração suave do silêncio saindo dos alto-falantes. Sinto que tudo o que quero é estender a mão e tocar tudo de novo, mas minha mão não se move para apertar o botão. 
E eu não consigo entender por quê. 
Enxugo a lágrima do meu rosto, empurro minhas emoções para os pulmões e as prendo ali, respirando fundo, antes de abrir a porta do banheiro. 
Ouço Joseph falando ao telefone quando passo pela sala de jantar: — Não fode comigo, Kevin. Não tô com saco pra essa merda. É, e daí? Quem é você pra me dizer o que fazer da minha vida? Quê? Dá um tempo, mano; ir a um enterro não é obrigatório. Por mim, prefiro nunca mais ir a nenhum, a não ser que seja o meu. Não sei pra que serve um funeral, aliás, ir ver alguém que você gosta deitado numa porra duma caixa, completamente sem vida. Prefiro que a última vez que eu veja alguém seja ainda com vida. Não me vem com essa, Kevin! Você sabe que é babaquice! 
Não quero ficar num canto como se estivesse bisbilhotando, mas também não parece exatamente adequado entrar lá ainda.
Entro assim mesmo. Ele está ficando bravo demais, só quero acalmá-lo. Assim que ele me vê, baixa o tom zangado com Kevin e levanta as costas do sofá. 
— Olha, preciso desligar - ele diz. — Já, já liguei pra mamãe. Sim. Tá, tudo bem, entendi. Até. 
Ele desliga o celular e o deixa na mesa de carvalho de centro, ao lado de seu pé descalço. 
Eu me sento ao lado dele na outra almofada. 
— Desculpa por isso - ele diz, dando tapinhas na minha coxa e depois passando a mão nela. — Ele nunca mais vai me deixar em paz. 
Eu me aproximo, me sento no colo de Joseph e ele me puxa para seu peito, como se eu fosse o que ele precisa para se acalmar. Abraço o seu pescoço, cruzando os dedos ao redor do seu ombro. Me curvando, beijo o canto de sua boca. 
— Demi - ele me olha nos olhos. — Escuta, também não quero que isto seja o fim - ele diz, como se tivesse lido meus pensamentos enquanto eu estava no banheiro, momentos atrás. 
De repente, Joseph me levanta e me faz sentar reta no seu colo, de frente para ele, com uma perna de cada lado e os joelhos dobrados no sofá. Ele pega minhas mãos com as suas e me olha com seriedade e intensidade nos olhos. 
— E se a gente... - ele desvia o olhar, ponderando profundamente suas palavras, mas eu gostaria de saber se é porque ele quer dizer do jeito certo, ou talvez para não dizer nada. 
— E se a gente o quê? - tento motivá-lo. Não quero que ele recue, não importa o que seja; quero que ele diga. Sinto um sopro renovado de esperança e não aguento deixar que passe. — Joseph? 
Seus olhos esverdeados e intensos param sobre os meus quando minha voz o traz de volta ao momento. 
— E se a gente fosse embora juntos? - ele diz, e meu coração começa a bater mais forte. — Não quero ficar aqui. E não tô dizendo isso por causa do meu pai ou do meu irmão. Nada disso tem a ver com o que eu tô sentindo. Agora. Aqui com você. Com o que senti todo esse tempo, desde o dia em que te vi sentada sozinha naquele ônibus no Kansas - ele aperta mais a minha mão. — Sei que você perdeu teu parceiro no crime, mas... quero que você seja a minha parceira. Talvez a gente devesse viajar juntos pelo mundo, Demi... Sei que não posso substituir teu ex... 
Lágrimas correm dos meus olhos. 
Joseph interpreta isso mal. Sua mão solta a minha, e de repente ele não consegue mais olhar para mim. Pego o seu rosto em minhas mãos, forçando seu olhar torturado.— Joseph... - balanço a cabeça, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Sempre foi você - sussurro com voz rouca. — Mesmo com Wilmer, eu sentia que faltava alguma coisa. Te falei naquela noite no pasto, te falei que... - minha voz some. Sorrio e digo: — Você é meu parceiro no crime. Já sei disso há muito tempo. 
Beijo seus lábios.
 — Não consigo pensar em nada neste mundo que eu queira mais do que conhecer o mundo com você. Nosso lugar é na estrada. Juntos. É onde quero estar. 
Seus olhos estão rasos d’água, mas ele deixa seu sorriso luminoso afastar as lágrimas antes que caiam. E então esmaga minha boca com a sua, os dois segurando o rosto um do outro com as mãos. Seu beijo tira o meu fôlego, mas eu só o beijo mais, bebendo o máximo possível de seu hálito. E sem deixar de me beijar, suas mãos soltam meu rosto e ele aperta meu corpo, me colocando de pé com ele. 
— Você precisa conhecer minha mãe hoje - ele diz, examinando meu rosto, olhando profundamente nos meus olhos. 
Enxugo o resto das minhas lágrimas, fungando, e balanço a cabeça. 
— Vou adorar conhecer tua mãe. 
— Ótimo - ele diz, afastando-me do seu peito e me pondo no chão. — Vou tomar banho, vamos fazer umas coisas na cidade e depois visitá-la quando ela voltar do trabalho. 
— Tá - concordo, sem tirar o sorriso do rosto. 
Não conseguiria tirá-lo nem tentando. 
Ele me olha por um longo momento, como se não quisesse se separar de mim nem o tempo de tomar banho, seus olhos sorridentes tão radiantes como os vi naquela noite depois da nossa apresentação no Old Point. Seu rosto transmite todo tipo de coisa que alguém que está incrivelmente feliz pode querer dizer, mas ele não diz nada. 
Não precisa dizer. 
Joseph finalmente sai do quarto para tomar banho e eu vou ver minhas mensagens de texto. Mamãe ligou, finalmente. Deixou uma mensagem na caixa postal, contando tudo sobre seu cruzeiro nas Bahamas, que acabou durando oito dias. Parece que ela está gostando de verdade desse Roger. Talvez eu precise passar em casa e ficar tempo suficiente para testar a personalidade dele no meu radar anti babacas, verificar se ele não cegou minha mãe com algo que disfarça os sinais de alerta: mais dinheiro que meu pai, um corpo mais sexy que o de Joseph bom, isso não é muito provável ou o tamanho do... Não sei ao certo como vou descobrir isso, a não ser perguntando diretamente pra minha mãe. Não vai rolar. Meu pai também ligou. Disse que vai pra Grécia daqui a um mês em viagem de negócios e perguntou se quero ir com ele. Eu adoraria, mas sinto muito, papai, se eu for pra Grécia em algum momento do ano que vem, vai ser com Joseph. Sempre fui a menina do papai, mas todos precisam crescer um dia, e agora... agora sou a menina do Joseph.
Afasto essas fantasias do meu cérebro e volto a verificar as mensagens. Selena finalmente ligou, em vez de ficar mordendo a língua, mandando mensagens. Sei que a esta altura ela está mais do que maluca para saber o que ando fazendo e com quem estou. Talvez eu já a tenha torturado o suficiente. 
Hum... posso dar um aperitivo a ela. 
Um sorriso maldoso se abre no meu rosto. Um aperitivo pode ser uma tortura ainda maior, mas é melhor do que nada. 
Quando Joseph sai do chuveiro, andando pelo apartamento com uma toalha úmida no pescoço, eu o chamo na sala de estar. Ele fica ali, sem camisa: a coisa mais sexy que já vi na vida, com água escorrendo pelo seu tanquinho bronzeado. Quero lambê-lo, mas me contenho pelo bem de Selena. 
— Amor, vem cá - digo, chamando com um dedo. — Quero mandar uma foto de nós dois pra Selena. Ela tá me perguntando de você desde Nova Orleans, mas ainda não falei nada pra ela, nem o teu nome. Ela deixou uma mensagem na caixa postal - começo a apertar teclas no meu celular. 
Ele ri, enxugando a nuca com a toalha. 
— O que ela disse? 
— Tá a ponto de explodir, praticamente. Quero mexer com a cabecinha dela. 
As covinhas de Joseph ficam mais fundas. 
— Demorou, eu tô dentro - ele desaba no sofá e me puxa junto. 
Tiro algumas fotos de nós dois: uma com os dois só olhando para a câmera, outra dele me dando um beijo estalado na bochecha e outra dele olhando para a câmera, sedutor, com a língua saindo do canto da boca, lambendo o meu rosto. 
— Esta ficou perfeita - digo, escolhendo a terceira foto, empolgada. — Ela vai surtar. Prepare-se, o Texas pode ser atingido pelo furacão Selena quando ela receber esta foto. Joseph ri e me deixa no sofá, mexendo no celular. 
— Vou ficar pronto daqui a uns minutos - ele diz, saindo da sala. 
Anexo a foto à mensagem e digito:Aqui estamos, Selena, em Galveston, Texas.
E então aperto send. Ouço Joseph zanzando pelo apartamento. Começo a me levantar para espiá-lo quando, menos de um minuto depois que mandei a foto, Selena me responde: 
Meu Deus! Você está dormindo com Kellan Lutz???
Caio na risada. Joseph aparece no canto, infelizmente vestindo uma camisa desta vez, prendendo a parte da frente no cinto. E ele já trocou a bermuda por um jeans. 
— Quê? Ela já respondeu? - ele parece achar certa graça. 
— Já - digo, ainda rindo. — Eu sabia que não iria demorar. 
Mais mensagens começam a aparecer em sequência rápida, como se uma máquina as estivesse disparando na outra ponta: 
Demi, ele é um gato, cacete! Que porra??? 
Me liga. Tipo já!!!
Demetria Devonne Lovato! É melhor você me ligar!! 
Tô mordendo aqui!!! 
Eu quis dizer MORDENDO 
PORRA DE CORRETOR ORTOGRÁFICO! 
Odeio esta bosta de celular. 
MORRENDO, não mordendo.
Não consigo parar de sorrir. Joseph aparece atrás de mim e tira o celular da minha mão. Ele ri lendo as tontices dela. 
— Essa garota é alfabetizada? - ele pergunta. — Quem é Kellan Lutz, cacete? Ele é feio? - Joseph me olha com uma ponta de medo nos olhos. 
Não... hãã, pra feio ele não serve. 
— É só um ator - tento explicar. — E não, não é. Nem esquenta, Selena sempre, mas sempre compara todo mundo com algum famoso, geralmente exagerando muito - pego o celular de volta enquanto ele está parcialmente absorto pela minha explicação e o deixo no sofá. — Nós duas fomos colegas de Shay Mitchell e Hayden Panettiere, Megan Fox foi a rainha do baile, e Chris Hemsworth, o rei - estalo a língua. — E tinha a arqui-inimiga de Selena, uma líder de torcida que tentou roubar Damon dela no colegial, Selena dizia que ela era a versão vadia de Nina Dobrev, nenhum deles se parecia muito com nenhum desses famosos, não muito, pelo menos. Selena é... esquisita. 
Joseph balança a cabeça, sorrindo. 
— Bom, ela é uma figura, já deu pra ver. 
Ainda ouvindo meu celular vibrando sobre o sofá, eu o ignoro e ando até Joseph, passando os braços em sua cintura. 
— Tem certeza que quer fazer isso comigo? 
Ele me olha nos olhos, pondo suas mãos nas minhas bochechas. 
— Nunca tive mais certeza de alguma coisa na minha vida, Demi. 
E então ele começa a andar de um lado para outro. 
— Sempre senti um... um...- seus olhos estão intensos, concentrados. — Um buraco... tipo, não era um buraco vazio, sempre tinha alguma coisa dentro dele, mas nunca era a coisa certa. Nunca se encaixava. Fiz faculdade por um tempo, até que um dia falei pra mim mesmo: Joseph, que porra você tá fazendo aqui? E aí caiu a ficha: eu não estava lá porque era o que eu queria, estava lá porque era o que as pessoas esperavam, até pessoas que não conheço, a sociedade. É o que as pessoas fazem. Elas crescem, vão pra faculdade, arrumam um emprego e fazem a mesma coisa todo dia pelo resto da vida, até que ficam velhas e morrem, como você explicou naquela noite, quando me contou teus planos com teu ex - ele move a mão direita como se estivesse dando um tapa no ar. — A maioria das pessoas nunca vê nada além do lugar onde cresceu - ele está andando mais rápido, parando de vez em quando para enfatizar uma palavra ou uma ideia importante. Mal olha para mim, parece estar dizendo essas coisas mais para si próprio, como se um rio de respostas que ele procurou a vida toda estivesse finalmente inundando sua mente, e ele estivesse tentando absorver todas de uma vez. — Nunca fiquei feliz fazendo nada...
Finalmente, ele olha para mim. 
— E aí conheci você... e foi como se alguma coisa disparasse na minha cabeça, ou acordasse, n-não sei, mas... - ele para na minha frente de novo. Quero chorar, mas não choro. — Mas eu sabia que, fosse o que fosse, era o certo. Encaixava. Você se encaixa. 
Fico na ponta dos pés e beijo seus lábios. Há tantas coisas que quero dizer, mas estou esmagada por todas elas e não consigo escolher. 
— Acho que preciso fazer a mesma pergunta pra você - ele diz. — Tem certeza que você quer fazer isso? 
Meus olhos sorriem para ele com ternura. 
— Joseph, isso não é nem uma pergunta - respondo. — Sim! 
Joseph abre um sorriso tão brilhante para mim que seus olhos esverdeados diabolicamente sexy cintilam. 
— Então é oficial - ele diz. — Vamos partir amanhã. Tenho um dinheiro no banco que vai dar pra gente se virar por uns tempos. 
Balanço a cabeça, sorrio e digo: 
— O dinheiro que tenho no banco não foi ganho com o meu trabalho, e por causa disso sempre gastei com moderação, mas pra fazer isso vou usar cada centavo, e quando ele acabar... 
— Antes que o nosso dinheiro fique perto de acabar - ele interrompe. — A gente vai trabalhar na estrada, como você falou antes. Podemos tocar em clubes, bares e feiras-livres - ele ri alto com a ideia, mas está falando sério. — E a gente pode até trabalhar em bares e restaurantes, cozinhando, lavando louça e servindo mesas e... sei lá, mas vamos pensar em alguma coisa. 
Tudo parece um sonho louco que fugiu do controle, mas nenhum dos dois se importa. Estamos vivendo o momento. 
— É, trabalhar antes que o dinheiro acabe é um plano melhor, com certeza - concordo, ficando vermelha. — Não quero virar mendiga, dormir atrás de caçambas de lixo ou ficar parada numa esquina com uma plaquinha dizendo: Trabalho em troca de comida. 
Joseph ri e aperta meus ombros com as mãos. 
— Não, a gente nunca vai chegar a esse ponto. Vamos trabalhar sempre, mas não por muito tempo num lugar só, e nunca fazendo a mesma coisa toda vez. 
Olho nos seus olhos por um momento e passo os braços no seu pescoço, beijando apaixonadamente. 
Então ele pega a chave. 
— Vem - diz, jogando a cabeça para trás e estendendo a mão para mim. Eu a seguro. 
— Vamos começar pelo princípio: preciso dar uma olhada na minha máquina. Ela deve estar sentindo a minha falta! 
Revistas de sacanagem e um carro tratado como uma mulher! 
Balanço a cabeça, rindo baixinho, enquanto ele me puxa para a porta. Pego minha bolsa do chão e nós saímos.

Morri com a Selena hahaha e eles são tão fofinhos juntos!!!
Gostaram?
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3

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