06/02/2017

heartbeat: capítulo 25


Distância

O sol poente caribenho formava sombras baixas sobre o piso de mosaico do pequeno bar a céu aberto. Sentado no ponto mais ao sul da Avenida 5, Joseph conhecia bem o local e o frequentava sempre que visitava a região. A fumaça subia, preguiçosa, da grelha onde ardia o fogo; o aroma de tacos e de tamales de camarão perfumava o ar. Ventos quentes começavam a soprar e seu coração partido batia rápido, no ritmo das ondas que quebravam na areia, à medida que ele absorvia as imagens e os sons à sua volta.
Os tambores de aço tocados na praia zumbiam por seus ouvidos e veranistas terminavam um jogo de vôlei na areia quente. Mulheres com corpos esculturais passavam camadas de óleo de bronzear nos seios com silicone. Um garotinho saltitou até a água turquesa e o pai saiu correndo atrás. Ao pegá-lo, rodopiou com ele. Um tanto zonzo, o garotinho deixou escapar uma gargalhada deliciosa. Joseph esboçou um sorriso. O homem saiu correndo da água com o filho enfiado debaixo do braço e o colocou na areia ao lado da mãe, interrompendo os raros momentos de paz da mulher.
Joseph sentiu uma pontada de pesar ao olhar o homem de meia-idade se agachar ao lado da esposa. Sorrindo, ele abraçou a amada e a beijou. Com uma clareza atiçada pela adrenalina, Joseph se visualizou abraçado a Demi. Pegando o bourbon com o gelo já derretido, forçou-se a desviar os olhos do casal.
– Sr. Jonas.
Joseph ergueu a vista e notou que um dos rapazes que trabalhava no hotel se aproximava com outro bourbon. Ele já o conhecia havia anos. Colocando a bebida diante de Joseph, Miguel ergueu e abaixou as sobrancelhas e, com a cabeça, indicou uma mulher sentada sozinha no bar.
– Isto, senhor, é daquela linda senhorita ali.
Joseph olhou discretamente na direção dela. Cruzando as pernas por baixo de um vestido de seda curto e leve, a mulher abriu um sorriso reservado e bebericou a piña colada. Os lábios pairaram sobre o canudo enquanto ela o observava com intensidade.
Em sinal de agradecimento, Joseph se limitou a fazer um meneio de cabeça.
Voltou a atenção para o jovem funcionário mexicano, sacou a carteira do bolso traseiro e deu uma gorjeta ao rapaz.
– Obrigado, Miguel. Ofereça a próxima rodada para ela por minha conta. – recostando-se, ele passou o braço por cima da cadeira que se encontrava ao seu lado. – Como vão a Maria e o pequeno?
– Ah, estão ótimos, Sr. Jonas – respondeu ele, o olhar entusiasmado. – Estamos tentando ensiná-lo a jogar futebol. – o jovem sorriu e retirou o copo vazio de Joseph da mesa. – Esperamos vê-lo jogar na Copa do Mundo.
Joseph deixou escapar uma risadinha. 
Sorrindo, Miguel jogou um pano de prato no ombro.
– Aí eu e minha família vamos ter tanto dinheiro quanto você. Isso traz muita felicidade, não é?
Joseph girou o copo, fazendo tilintar o gelo da bebida. Deu um sorriso cansado para Miguel e respondeu, atormentado por imagens de Demi:
– É verdade. O dinheiro traz muita felicidade, Miguel. – seu tom de voz era inexpressivo.
Miguel deu um largo sorriso e se virou, deixando Joseph com seus demônios.
Uma dor quase insuportável se agarrava ao seu coração. Indesejados, flashes dos cabelos castanhos de Demi fazendo cócegas no seu rosto passaram por sua mente e sugaram os últimos vestígios de sensibilidade da alma de Joseph. Enquanto um misto de emoções refluía a cada respiração vacilante, a dor dava espaço à raiva. Porém, por mais que tentasse, Joseph não conseguia escapar de Demi. A necessidade que ela lhe causava enrijecia cada músculo de seu corpo e as lembranças deles juntos colidiam e nublavam sua mente.
A inquietação o sufocava e Joseph ergueu a cabeça. Seu olhar se dirigiu à mulher que lhe enviara o drinque. Ela até que era bonita. Na altura dos ombros, os cabelos vermelhos cheios e ondulados caíam sobre as alças do vestido leve.
Joseph passou os olhos rapidamente por seu corpo elegante enquanto ela o fitava com um sorriso tímido nos lábios. Apesar de não a considerar uma mulher que se destacaria na multidão, Joseph não conseguia parar de fitar os olhos e o sorriso que iluminavam seu rosto. Observou-a deslizar graciosamente do banquinho do bar.
Ela pegou o drinque e a bolsa e se pôs a caminhar em sua direção. Com os olhos grudados nos dela, Joseph engoliu em seco, escutando saltos fazerem toque-toque no deque. No meio do caminho, a mulher se deteve. Inclinou a cabeça e examinou o rosto dele como se perguntasse se haveria problema em sentar-se junto. Joseph achou atraente a hesitação. Com um relutante aceno de cabeça, ele indicou o assento à sua frente.
Sorridente, ela desceu para o pátio que ladeava a praia. Puxando uma cadeira, colocou o drinque e a bolsa na mesa e a brisa morna soprou seus cabelos por cima do rosto. Quando ela enfiou as mechas de cabelos por trás da orelha,
Joseph notou seus olhos, o tom de uma assombrosa familiaridade, e teve que lutar desesperadamente contra pensamentos de Demi. 
– Eu consigo reconhecer um homem de coração partido a mais de um quilômetro de distância – ronronou a mulher, afundando no assento. Cruzou as pernas e bebericou o drinque congelado.
Inclinou-se sutilmente sobre a mesa. Um sorriso sedutor surgiu em seus lábios reluzentes de gloss e seu olhar passou do rosto de Joseph para o peito. Depois de vagar por seus membros superiores, voltou a encará-lo.
– O que posso fazer para solucionar esse problema para você, Sr...?
Joseph se recostou e balançou a cabeça.
– Não é tão tímida quanto aparenta – murmurou ele, pegando a bebida. – Mas aparências enganam. Tudo bem. Eu também não sou tão tímido quanto pareço.
Joseph virou o resto do drinque, depôs o copo e deu um peteleco nele com o dedo médio. A condensação fez com que ele deslizasse sobre o tampo de vidro, tilintando de encontro a um cinzeiro. Descansou os cotovelos sobre a mesa, deu um sorriso afetado e uniu as pontas dos dedos debaixo do queixo.
– Então você quer solucionar o meu problema? Estou intrigado, Srta...?
A desconhecida mordeu o lábio e imitou a pose dele.
– Um: fico satisfeita por estar intrigado. Esse foi o meu único objetivo ao vir até aqui. Gosto quando um homem me acha intrigante. Dois: eu não sou tão tímida quanto aparento ser, querido. Longe disso. Três: eu nunca disse que você parecia ser. Nada a seu respeito dá essa impressão, e isso é bom.
Ela descruzou as pernas, tirou a sandália do pé direito e se abaixou para massageá-lo. Inclinando a cabeça, Joseph observou sério enquanto ela corria as unhas vermelho-sangue da sola do pé até a panturrilha. Acomodando-se outra vez na cadeira, enfiou o pé descalço por baixo do corpo e sorriu.
– Quatro: sim, eu gostaria de solucionar o seu problema da forma que você achar conveniente. Eu mesma estou passando por um período difícil, logo isso beneficiaria a nós dois. E cinco: você não me disse o seu nome, então por que eu iria lhe dar o meu? Ao que parece, sou um pouco mais velha que você, de maneira que você me deve respeito. Não concorda, Sr...?
Joseph deu um sorrisinho.
– Joseph Jonas.
– Muito bem, Sr. Jonas, cujo coração foi claramente machucado, é um prazer conhecê-lo. Sou a Srta. Layton, mas pode me chamar de Amanda.
Olhando fundo nos olhos dele, estendeu a mão por cima da mesa, oferecendo-a a Joseph. Ele a tomou e sentiu os dedos dela fazerem pequenos círculos na palma de sua mão. Amanda puxou a mão e deu uma ajustada nos seios.
– Então, quem é ela e por que diabos ela partiu o coração de um homem tão sedutor?
Joseph olhou para além de Amanda, como se tivessem atingido um ponto fraco seu. Ergueu a mão para que Miguel trouxesse outra rodada de drinques.
Girou o pescoço para alongá-lo, recostou-se na cadeira e enfiou as mãos nos bolsos da bermuda cargo de cor cáqui. Com o rosto impassível e os olhos grudados nos dela, inclinou a cabeça para o lado.
– Vamos esclarecer algumas coisas. Seu nome é Amanda, correto?
Mostrando-se ligeiramente desorientada pela pergunta e pelo tom de voz, ela assentiu.
– Bem, Amanda, primeiro ponto: a minha vida e quem fez parte dela não são da sua conta. Não volte a me perguntar a respeito. Segundo: você pode achar que consegue solucionar o meu problema, mas eu estou bastante certo de que não. Entretanto, estou mais do que certo de que posso fodê-la até você perder a consciência, tirando da sua cabeça o recente momento difícil pelo qual passou. Eu posso ser mais novo do que você, mas você não é a minha primeira experiência. Está entendendo aonde quero chegar?
Com os olhos arregalados, Amanda entreabriu os lábios, mas não disse nada.
Voltou a aquiescer.
– Ótimo, fico contente por estarmos falando a mesma língua. – Joseph entregou o cartão de crédito para Miguel, que se aproximara com os drinques. – Terceiro: eu já estive com muitas mulheres intrigantes, então não leve a minha afirmação como elogio. Não há nada de lisonjeiro em considerar uma mulher intrigante devido à sua abordagem meio pirada, louca por sexo. Quarto: se você quiser trepar, a gente trepa. Minha casa fica a dois minutos daqui, a pé. Mas vou logo avisando que será só isso. Não pense que vai dormir por lá. Vou comer você, e vou comê-la muito bem, mas vou mandá-la embora assim que a nossa trepadinha terminar. Não vou dar o meu telefone e você nunca mais vai fazer parte dos meus pensamentos. E, então, Amanda... – Joseph apoiou o queixo nas mãos, com a testa franzida, como se tentasse lembrar seu sobrenome.
– Layton – completou Amanda, a voz falha. – Meu sobrenome é Layton.
– Ah, isso mesmo. Então, Srta. Amanda Layton, agora é com você.
Joseph passou a mão pelos cabelos e lhe deu uma piscadela. Mais uma vez,
Miguel se aproximou da mesa com o cartão de crédito de Joseph. Após enfiá-lo na carteira, Joseph olhou para Amanda, ainda muda, os dedos esfregando o pescoço.
– A escolha é sua, porque, sinceramente, se a gente não fizer isso – ele deu de ombros –, eu volto para casa e bato uma punheta.
Chocada, Amanda se levantou, calçou as sandálias e pegou a bolsa.
Supondo que a reação grosseira a tivesse espantado, Joseph encolheu os ombros mais uma vez e voltou a contemplar a família que estivera admirando antes. Observou-os se dirigirem, de mãos dadas, para uma lata-velha de merda de duas portas. Sabia que sua riqueza não se comparava à felicidade deles. Queria aquela felicidade. Queria aquela lata-velha de merda.
– Está pronto? – perguntou Amanda, a voz denotando urgência sexual.
Joseph desviou a atenção daquele sonho e viu Amanda arrancar o bourbon de suas mãos e tomá-lo de um gole só. Depois de colocar o copo vazio sobre a mesa, passou as pontas dos dedos pelas têmporas de Joseph, descendo-os por sua face e percorrendo a curva do seu queixo. Ele ficou com o corpo completamente rijo e tentou não se encolher diante do toque. Levantou-se e agarrou a mão de Amanda. Como se tivessem vontade própria, os pés os conduziram à sua casa.
– Então, você não está só um pouquinho curioso quanto ao motivo de eu estar sozinha no México? – perguntou Amanda enquanto atravessavam um pequeno passadiço de madeira.
Olhando para as ondas que quebravam, com os últimos raios de sol adormecendo abaixo do horizonte, Joseph balançou a cabeça.
– Na verdade, não.
– Sabe, você não é um cara muito bacana.
Ela soltou a mão e isso não afetou Joseph de jeito nenhum. Ainda assim, Amanda o seguiu bem de perto.
– Não, eu não sou um cara muito bacana – resmungou Joseph, se perguntando inutilmente onde Demi estaria naquele momento.
A solidão invadiu-lhe o peito, mas ele deu as boas-vindas à sua presença sufocante. Aquilo era algo que ele conhecia bem, lhe era muito familiar. Quase a considerava uma velha amiga.
– Certo. – Amanda bufou, o tom tenso de ceticismo. – Bem, considerando o que estamos prestes a fazer, será que você podia tentar ser... agradável?
Parando um pouco antes de chegarem à sua casa, Joseph a encarou, a testa franzida.
– Olhe aqui, eu fui sincero. Posso fazer sexo, mas não vou fazer agrados. É pegar ou largar.
Por um milésimo de segundo, Joseph sentiu o estômago embrulhar. Fora criado para sempre tratar as mulheres com respeito e imaginou o pai enojado com a forma que estava agindo. Ainda assim, o pensamento foi efêmero. O velho hábito gritava, acenando com seu efeito paliativo. Feche-se em si mesmo. Desligue-se. Desconecte-se.
Amanda franziu os lábios.
– Tudo bem. Mas só porque eu preciso disso mais do que você imagina.
Já na varanda dele, Amanda jogou os cabelos vermelhos para o lado e Joseph se viu subitamente engolfado pelo perfume de seu corpo. O perfume de jasmim evocou lembranças que vinha tentando esquecer. Aquilo o balançou, quase fazendo-o perder o equilíbrio. Respirou fundo e voltou a firmar o corpo. Baixando a vista para os olhos dela, cheios de desejo, passou a mão por sua nuca e a puxou com força em direção à boca. Amanda pressionou o peito de encontro ao dele e deixou escapar um gemido, as mãos subindo para lhe agarrar os cabelos.
Apesar de ser próprio de um anseio sedutor e feminino, não era o gemido que ele desejava ouvir. Os lábios dela, doces à sua maneira, não lhe davam a sensação adequada quando colados aos dele. Não se encaixavam como uma peça de quebra-cabeça.
A raiva foi se insinuando e Joseph se pôs a beijá-la com uma intensidade voraz. Pressionou-a contra a parede, agarrou sua coxa e enroscou suas pernas ao redor da própria cintura. Ela soltou o ar pesadamente enquanto ele passava a mão de forma rude por baixo do vestido, sob a calcinha. Com um movimento rápido, enfiou três dedos nela. Os quadris de Amanda saltavam a cada estocada dele e ela se agarrou ao seu pescoço, segurando o colarinho da camisa de linho branco entre os punhos cerrados. A boceta, apesar de molhada e tão receptiva quanto qualquer homem no mundo poderia querer, pareceu-lhe estranha. Ao constatar isso, Joseph enfiou os dedos ainda mais fundo, com mais força.
– Espere – ronronou ela, tentando recuperar o fôlego. Inclinou a cabeça para trás e o olhou nos olhos. – O que é que você está fazendo? Vai me comer aqui fora mesmo?
Com um sorriso presunçoso, Joseph recuou, deixando-a prostrada contra a parede.
– Pelo visto, você não é tão divertida quanto pareceu – murmurou ele, tirando o chaveiro do bolso.
Enfiou a chave na porta, destrancou-a e a manteve aberta enquanto esperava que Amanda ajeitasse as roupas.
Com um suspiro, ela pegou a bolsa do chão. Ao passar por ele, revirou os olhos. Deixando a bolsa cair sobre uma mesa antiga de pés esculpidos no vestíbulo, Amanda contemplou a espaçosa casa de beira de praia.
– Bonito lugar. – ela se virou para ele com um sorriso, demonstrando que estava impressionada. – E, então, onde estávamos?
– Você ia tirar a roupa para mim.
Joseph atirou o chaveiro em cima da mesa e tirou a camisa. Encostou-se no batente da porta da cozinha e cruzou os braços, olhando-a se despir. Amanda tirou a última peça de roupa e foi até Joseph. Tomou seu rosto entre as mãos e começaram a se beijar. Foi então que Joseph empurrou Demi para dentro do armário do seu coração dolorido, trancou a porta e atirou a chave longe. Enquanto desafivelava o cinto, veio-lhe à mente um pensamento nítido.
Demi ficaria orgulhosa por ele estar levando um “preenchedor de vazios” para a cama naquela noite.

o que acharam dessa Amanda? Joseph só tentado esquecer ela.
será que essa Amanda irá voltar? o que acham?
deixem seus palpites.
gostaram? até o próximo.
bjs amores <3
respostas aqui

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