Entorpecida
Às vezes, quando queria manter distância de alguma coisa, Demi sentia um entorpecimento invadi-la. Nesses momentos, era bem-vindo o veneno que assolava sua vida. Recebia-o como se fosse o doce perfume das rosas. Era o tipo de torpor que, ela poderia dizer, a “purificava”. No entanto, sentada no café do Bella Lucina, rabiscando números no bloquinho de pedidos, experimentava um entorpecimento inédito, que se enraizava em seu coração como uma espessa erva daninha. Era insuportável.
Por 216 horas... sentindo-se morta.
Por 12.960 minutos... sentindo-se perdida.
Por 777.600 segundos... sentindo-se completamente entorpecida.
Dia após dia, sua concentração, cuidadosamente tecida por fiapos de esperança, ia se desfazendo. Ia se perdendo. Até mesmo durante o sono a mente se deixava ficar em Joseph, os sonhos eram perigosos porque faziam com que se lembrasse de que ele se fora. Ele havia se transformado num lindo vapor que desaparecera em meio ao nada, levando consigo a própria existência de Demi.
Abandonada, com os pensamentos estraçalhados, Demi sofria sabendo que ele a amara quando ela menos merecera. Não. Isso não era algo para o qual já estivesse preparada, embora soubesse que precisava se responsabilizar por cada hora, minuto e segundo.
– Levei outra rodada de bebidas para a mesa doze por você – avisou Fallon, sentando-se ao lado de Demi.
Com a cabeça baixa, ainda imersa na quantidade de tempo que se passara desde a partida de Joseph, Demi não respondeu.
– Também pediram macarrão com legumes para o macaco que se juntou ao grupo. – sem entender, Demi acabou erguendo a vista para Fallon, que acrescentou: – Pois é, encontraram o bicho no acostamento da estrada. Parece que um circo se livrou dele.
Fallon fez um coque desgrenhado com os cabelos.
– Você disse alguma coisa sobre um macaco? – perguntou Demi, a voz soando confusa. – E quando foi que você pintou o cabelo de azul?
– Não. Eu não falei nada sobre um macaco. – Fallon arqueou uma das sobrancelhas e apoiou a cabeça nas mãos, recostando-se na bancada. – Já está azul há três dias e você já tinha visto.
– Ah.
Demi voltou a rabiscar os números.
– O que é que você tem aí? – antes que Demi pudesse responder, Fallon puxou o bloquinho de suas mãos. – O que é esse bando de números?
– Não é nada.
Demi o pegou de volta.
Franzindo a testa, Fallon examinou o rosto da amiga.
– Caipirinha, não estou tentando ser depressiva ou sinistra, mas isso aí não é nenhuma contagem regressiva até você se matar, é?
Com os olhos arregalados, Demi se recostou na cadeira.
– Cruzes, Fallon, você acha mesmo que eu faria uma coisa dessas?
– Responde à pergunta, Caipirinha. Isso é algum tipo de contagem regressiva?
Demi suspirou e bateu com o bloquinho na bancada de granito do bar.
– Nove dias se passaram desde que ele foi embora, Fallon. Nove dias desde que eu o destruí por completo. Eu liguei e ele não atendeu.
– Certo, mas ele não tem atendido às ligações de ninguém. – Fallon passou o braço pelos ombros de Demi. – Outro dia, o Kevin disse ao Trevor que ele nem o atendeu.
– Ok, mas ele não foi embora por causa do Kevin. Foi por minha causa. – Demi balançou a cabeça, lutando para controlar as lágrimas. – Ele me deu o coração e eu o joguei fora. Fiz ele deixar a família, os amigos... a vida dele.
– Demi, em primeiro lugar, você precisa parar de se castigar. Considerando o que você viu naquela manhã, ele tem sorte de você acreditar nele. Não estou dizendo que não deva, mas, fala sério, aquilo foi duro. Em segundo lugar, ele foi embora porque achou que você ia se casar com o Alex. Assim que descobrir que não se casou, ele vai voltar imediatamente.
– Ele já sabe que eu não me casei com o Alex – sussurrou Demi, o coração se despedaçando outra vez. – A Selena me contou que o Kevin deixou um recado com a empregada dele avisando que eu desisti de tudo.
– Ah. Eu não sabia disso – murmurou Fallon, desviando os olhos. Ela enrolou uma mecha dos cabelos e voltou a encarar Demi. – Quem sabe ele precise de um pouco mais de tempo?
– Eu não sei mais o que pensar. – Demi massageou as têmporas. – Só sei que estou perdida sem ele.
Antes que Fallon pudesse dizer qualquer coisa, Trevor se esgueirou por trás dela e cutucou sua costela.
Fallon se virou bruscamente.
– Trevor! – guinchou, chamando a atenção indesejada de Antonio.
Ele a olhou de cara feia, do outro lado do restaurante. Fallon mordeu o lábio e articulou “Desculpe”, sem emitir som. Antonio balançou a cabeça e continuou a almoçar.
– Babaca – sussurrou Fallon, afastando Trevor.
O namorado riu e deu um beijo na cabeça dela.
– Desculpe, esqueci que você sentia cócegas.
– Claro que esqueceu, idiota. – Fallon fez uma careta e se levantou. – O que está fazendo aqui tão cedo? Você sabe que só saio daqui a duas horas.
– Na verdade, eu vim conversar com a Demi. – Trevor olhou para Demi com um sorriso reservado. – Já está de saída?
– Não, ainda não. – Demi ficou de pé, pegando o bloquinho e enfiando-o no bolso do avental. – Ainda tenho meia hora até o fim do turno.
– Caipirinha, eu posso ficar de olho nas suas mesas enquanto você conversa com o meu namorado esquecido. – depois de olhar para Trevor de cara feia, Fallon passou o braço pelos ombros de Demi. – Eu cuido das suas tarefas paralelas e até mesmo me certifico de que o macaco da mesa doze coma sobremesa.
Trevor coçou o queixo.
– Macaco?
– É, um macaco.
Fallon deu um tapinha nas costas do namorado e uma piscadela na direção de Demi. Trevor deu de ombros.
– Vai nessa. Conversa com ele e eu ligo mais tarde.
– Tem certeza? – perguntou Demi, soltando o rabo de cavalo.
– Tenho. Eu ligo para você hoje à noite.
Fallon deu um beijinho na bochecha de Trevor e se afastou.
Trevor olhou para Demi.
– Quer se sentar num reservado?
– Claro. – Demi desamarrou o avental e passou para trás da bancada. – Quer alguma coisa para beber?
– Não, não precisa. Obrigado.
Depois de preparar um espresso duplo para si mesma, conduziu Trevor até um reservado nos fundos do restaurante. Demi deslizou pelo assento e bebericou o líquido quente. Como, nos últimos dias, quase não dormira, tinha esperança de que o choque da cafeína trouxesse seu organismo meio zumbi de volta à vida.
Trevor encarou Demi, o olhar repleto de remorso.
– Em primeiro lugar, quero dizer que me sinto como um babaca por causa dessa história toda com o Alex.
Demi se remexeu no assento, surpresa com a súbita declaração.
– Ora, Trevor, nada disso é culpa sua.
– Não, Demi, sério. Você precisa me ouvir, está bem?
Relutante, Demi assentiu.
– Me desculpe, é a primeira vez que venho ver você desde que a merda toda aconteceu. Parte de mim quis aparecer no dia, mas, no fim, não consegui. Durante o último ano, fiquei assistindo enquanto ele a botava para baixo, sem dizer a porra de uma palavra. – Trevor fez uma pausa, mexendo nervosamente na toalha de linho branca. – Eu me lembro de como você era vibrante quando começaram a namorar e, pedacinho por pedacinho, ele foi desmantelando você. Não me entenda mal, acho que eu sabia que as coisas estavam começando a ficar ruins. Eu só não imaginava quanto.
Trevor se recostou e balançou a cabeça.
– Quer saber de uma coisa? Foda-se. Eu preciso aceitar a minha responsabilidade. Eu vi tudo. Vi com os meus próprios olhos e deveria ter dado fim àquilo. Eu poderia ter feito isso. Eu tive uma porcaria de bate-boca com o Joseph porque ele estava fulanizando Alex. Achava que era porque estava apaixonado por você. – Trevor passou as duas mãos pelos cabelos e soltou um suspiro. Então, voltou a falar, a voz já um sussurro: – Puta merda, o Joseph é o meu melhor amigo desde que a gente era criança e eu não fiquei do lado dele durante nada disso. Fiquei olhando o Alex dar um soco nele no seu jantar de ensaio e não fiz porra nenhuma. Porra nenhuma!
– Trevor, por favor. Você não...
– Não, espere aí. Deixe eu terminar, Demi.
Mais uma vez, Demi aquiesceu.
– A Selena e eu fomos criados por um pai que nunca falaria com a nossa mãe da maneira que o Alex falava com você. – Trevor fitou Fallon, que preparava um bule fresco de café atrás do bar. – Caramba, eu a amo e nunca conseguiria imaginar alguém tratando-a da forma que o Alex a tratava. Eu amarelei e espero que você e o Joseph me perdoem por ser tão covarde. Mas o que passou passou. A única coisa a fazer agora é tentar endireitar a situação. Saí da Morgan & Buckingham. Nem vi o babaca quando fui pegar as minhas coisas, mas, para mim, chega dele e das merdas que ele apronta. Eu disse que a considerava a minha segunda irmã e estava falando sério. Um irmão nunca permitiria que a irmã fosse tratada daquela maneira. – Trevor estendeu a mão em direção à de Demi. – Eu só preciso saber que você me perdoou.
Com lágrimas escorrendo, Demi apertou a mão de Trevor, os pensamentos desordenados.
– Eu não posso perdoar porque nunca culpei você ou qualquer outra pessoa por isso. Desempenhei o papel principal permitindo que ele fizesse isso comigo, então não quero que você se sinta responsável.
– Bem, eu me sinto, sim, responsável.
– Não, Trevor. Eu deixei que ele fizesse isso comigo. – Demi soltou a mão de Trevor e apontou para o próprio peito. – Eu, não você.
– Mas você presenciou tanta coisa quando era pequena... A Selena me contou que a sua mãe trocava um filho da puta por outro. Imagino que isso tenha alguma coisa a ver. Mas eu... eu não tenho desculpa alguma.
A lembrança dos relacionamentos destrutivos da mãe deixou um gosto amargo na boca de Demi. Seu olhar se desviou de Trevor e se deteve em um casal que entrava no restaurante. O riso deles ecoou enquanto Fallon os acompanhava até a mesa.
– É verdade, era assim. Mas eu não precisava seguir os passos dela...
Lutando para manter a compostura, ela encarou Trevor.
– Bem, você deu o primeiro passo, Demi, e estou orgulhoso de você por ter feito uma acusação formal e por ter tomado medidas judiciais de proteção contra ele. Como o Joseph está longe, se o filho da puta tentar entrar em contato com você, ligue para mim, está bem?
Demi passou a ponta dos dedos pela ferida que cicatrizava acima da sobrancelha.
– Pode deixar. Obrigada. – ela hesitou um instante e pigarreou antes de acrescentar: – Posso perguntar uma coisa?
– Claro.
– Você ligou para o Joseph e deixou recados, certo?
– Isso.
Demi respirou bem fundo, retorcendo as mãos sobre o colo.
– Por favor, me diga que você não contou o que o Alex fez comigo.
– Não, eu achei que contar isso por telefone não era o certo. Mas, quando ele voltar, pretendo conversar com ele a respeito, sim.
– Por favor, me escute. Eu não quero que Joseph saiba o que aconteceu. Ele vai... Eu não sei. Mas, por favor, você podia não dizer nada?
Trevor inclinou a cabeça para o lado e perguntou, confuso:
– Está me pedindo para esconder dele o que aconteceu?
Demi engoliu em seco, sentindo uma pontada de apreensão.
– Estou. Ele já foi magoado o suficiente durante essa história toda. Se ele souber, vai atrás do Alex.
– Por que você está tentando proteger aquele monstro? – questionou Trevor, o choque estampado em suas feições.
– Meu Deus, Trevor, eu não estou tentando protegê-lo. Estou tentando proteger o Joseph. Ele já ficou devastado. Se descobrir, com certeza vai atrás do Alex. E Deus me livre se ele o machucar de verdade e parar na cadeia. Ou o Alex poderia machucá-lo de verdade. Eu não conseguiria suportar isso. Já causei dores de cabeça demais para o Joseph. – baixando a vista, Demi enxugou os olhos. – Por favor – sussurrou –, não fale nada.
Trevor passou uma das mãos pelos cabelos, pousando-a na nuca.
– Olha, eu não vou mencionar nada, mas o Joseph conhece o Alex. Ele sabe que o Alex não deixaria você sair da vida dele tão facilmente. Mas eu tenho que ser franco, Demi, se ele me perguntar se alguma coisa aconteceu, eu não vou mentir.
Demi pressionou as têmporas.
– Sinto muito. Não devia pedir para você mentir por mim.
Trevor piscou algumas vezes e ajeitou os óculos no nariz.
– Não se desculpe. Essa história toda é uma merda. Só me prometa que vai contar a ele se vocês dois se acertarem.
– Claro, claro – zombou Demi. – Ele nem ao menos retornou as minhas ligações. – fitando o casal sentado do outro lado do restaurante, tentou ignorar o peso na boca do estômago. – Não quer mais saber de mim.
– Eu acho que a cabeça do Joseph está meio tumultuada no momento, mas ele está apaixonado por você, Demi. Tenho certeza de que, quando ele voltar e olhar para você, não vai ser capaz de resistir. – Trevor se levantou e colocou a mão no ombro dela. – Vamos torcer para que ele não fique longe pelos próximos seis meses.
Com a sensação de que Trevor acabava de arrancar o único pedaço que ainda restava do seu coração, Demi tentou respirar. Pôs-se de pé e o olhou fundo nos olhos, a voz trêmula.
– Você acha que ele ficaria fora tanto tempo assim?
– Demi, não foi isso que eu quis dizer.
– Foi, sim. O que levaria você a dizer uma coisa dessas?
Trevor mordeu o lábio e, brevemente, desviou o olhar, dando de ombros.
– O Joseph consegue sumir quando quer. Eu não sei quanto tempo ele vai ficar fora.
Totalmente desorientada, Demi levou a mão à boca.
– Ah, meu Deus, eu não posso... ele não pode...
Abriu caminho em direção ao bar, os pés se deslocando mais rapidamente do que o corpo conseguia compreender. Enfiou a mão debaixo da bancada em busca da bolsa, do casaco e do cachecol, o coração batendo a toda.
– Olha, eu não devia ter dito aquilo. – Trevor se aproximou, a expressão carregada de remorso. – Ele pode voltar amanhã...
– Ou daqui a seis meses – completou Demi, passando por ele.
Sentiu um aperto de pânico no peito. Um calafrio a percorreu quando saiu do restaurante. Com os pensamentos em velocidade vertiginosa, Demi vestiu o casaco de qualquer jeito e quase correu em meio ao aglomerado de pessoas que atravancavam a calçada. Buzinas, conversas e sirenes a rodeavam, mas ela não conseguia ouvir nada daquilo. Estava surda a tudo. O único som que escutava era a voz de Joseph sussurrando em seu ouvido, a risada de Joseph zumbindo pelo ar e o coração de Joseph embalando-a até ela dormir. As lágrimas começaram a cair quando pensou que ele poderia ficar longe por tanto tempo. Nove dias já haviam destroçado seu coração. Sabia que seis meses a matariam.
À medida que a fachada do Edifício Chry sler ficava visível, a dúvida com relação ao que estava prestes a fazer a deixava arrepiada. No entanto, isso não iria detê-la. Antes que se desse conta, entrou no lobby. E sentiu o ar ser expulso dos pulmões.
Demi deu de cara com um homem de costas que estava apoiado no balcão de informações. Sua vista se nublou diante dos cabelos escuros e do porte físico semelhantes ao de Joseph. Ficou completamente paralisada ao observá-lo enfiar a mão no bolso da calça de forma displicente e passar a outra pelos cabelos da mesma forma que fazia Joseph. Sem fôlego, Demi caminhou devagar em sua direção. Involuntariamente, ergueu uma das mãos, trêmula, e bateu em seu ombro. Ansiando por Joseph, tentou sentir o cheiro do seu perfume antes de ele se virar. Porém, foi brindada por olhos desconhecidos, por um rosto desconhecido, por um sorriso desconhecido. Seu coração se contraiu.
– Posso ajudá-la? – perguntou o homem.
Incapaz de se mover, de falar ou de pensar, Demi encarou o estranho.
Atingida por uma súbita onda de náusea e tontura, abriu a boca para tentar dizer alguma coisa. Nada saía.
– A senhorita está bem? – hesitante, o homem pousou as mãos nos braços de Demi. – Está com cara de quem vai desmaiar.
Demi pigarreou, balançou a cabeça e foi se afastando.
– Eu... eu sinto muito. Eu pensei...
Não conseguiu terminar a frase. Virou-se e se espremeu no elevador cheio, a compulsão de ir em frente quase irresistível.
– Qual é o andar? – perguntou uma mulher vestindo um terno vermelho de sarja.
Demi tentou voltar à realidade, demonstrar algum indício de equilíbrio mental enquanto olhava para a mulher. Mas não teve sucesso.
– Não tenho certeza.
A mulher riu e deu de ombros.
Um homem mais velho, de sorriso simpático, indagou:
– Qual é o nome da empresa que a senhorita está procurando?
– Jonas Industries – respondeu Demi, levando a mão à testa.
– Ah, eu conheço a empresa. E também conheço os dois carismáticos proprietários. – ele fez um gesto de cabeça na direção da pouco amigável mulher de terno que espiava por cima do ombro dela. – Fica no sexagésimo segundo andar. Seja boazinha e aperte para esta jovem.
Juntando todas as forças, Demi sorriu para o homem, que lhe deu uma piscadela. Enquanto o elevador subia, não pôde deixar de se lembrar dela e de Joseph naquele mesmíssimo elevador, na primeira vez que o vira. Embora agora metade do espaço ali estivesse ocupado ainda era como naquele dia, quando só havia eles dois.
– Ela não é minha namorada, caso você esteja se perguntando.
– E quem disse que eu estava?
– E quem disse que você não estava?
A lembrança se foi quando o senhor cutucou-lhe o braço para avisar que haviam chegado. Ela afastou o súbito impulso de deixar o prédio. Assentindo em sinal de agradecimento, Demi passou apressada pelos outros ocupantes do elevador e saiu. Contemplou a parede de vidro jateado com os dizeres “Jonas Industries”. Engoliu em seco e se dirigiu à recepcionista sentada atrás da bancada de mogno alta em formato de meia-lua.
A mulher de cabelos escuros ergueu a vista da tela do computador, o sorriso acolhedor e afetuoso.
– Posso ajudá-la?
De alguma forma, Demi conseguiu sorrir.
– Pode, sim. Eu gostaria de falar com Kevin Jonas.
– Sinto muito, mas, no momento, o Sr. Jonas está numa reunião. Se quiser, pode se sentar e esperar por ele. Não deve demorar mais do que dez minutos. – ela indicou uma espécie de sala de espera próxima de uma dúzia de baias. – Pode me dar o seu nome, por favor?
– Demi Lovato.
– Eu avisarei que a senhorita está à espera.
A mulher abriu mais um sorriso.
– Obrigada.
Demi já ia se virando, mas sua atenção foi atraída por uma porta de escritório que se abria. Teve um ataque de nervos ao ver Kevin sair, sua risada grave e vigorosa pairando no ar enquanto apertava a mão do homem que deixara a sala com ele. Demi sentiu-se mal quando seus olhares se cruzaram. A atitude descontraída de Kevin desapareceu quase que de imediato e seu rosto ficou sem nenhum vestígio de emoção. Com a boca ligeiramente aberta, ele olhou dela para o parceiro de negócios. O corpo de Demi se retesou e ela o observou passar a mão pelos cabelos e tentar recuperar o sorriso simpático de segundos antes. Puxando com nervosismo a bainha da camisa branca do restaurante, aguardou que ele conduzisse o homem até os elevadores.
Kevin a fitou antes de se despedir do cliente uma última vez.
– A gente coloca os assuntos em dia na semana que vem, Tom – disse Kevin, apertando o botão do elevador. – Fale para a Ellie que mandei lembranças e que a minha mãe deve ligar em breve para elas tomarem um brunch juntas.
– Pode deixar – respondeu o homem com um rápido aceno da cabeça antes de desaparecer dentro do elevador.
– Sr. Jonas – chamou a secretária –, a Srta. Lovato está à sua espera.
– Eu já tinha visto. Obrigado, Natalie. – virando-se para Demi, Kevin baixou a cabeça em sinal de cumprimento. – Demi.
– Oi, Kevin.
– O que você está fazendo aqui? – perguntou ele, claramente na defensiva.
Inquieta, Demi olhou fundo naqueles olhos verdes perscrutadores. Engoliu em seco.
– Preciso falar com você.
– Isso é óbvio.
– Então por que perguntou? – rebateu ela, inclinando a cabeça em sinal de indagação.
Kevin ergueu uma das sobrancelhas, um sorriso afetado repuxando o canto da boca.
– Vamos conversar.
Seguindo-o, Demi tentou afastar a náusea de nervosismo que fervilhava em seu estômago. Já na sala, Kevin fechou a porta e tirou o paletó. Sem dizer uma palavra, indicou-lhe uma poltrona diante da mesa. Depois de tirar o casaco e o cachecol, Demi se sentou, os pensamentos lutando contra um forte desejo de partir. Mas não faria isso. Não podia se esquecer do motivo que a levara até ali. De rabo de olho, viu Kevin pendurar o paletó num armário e voltar à mesa, acomodando-se confortavelmente na cadeira.
– Você o magoou, Demi – afirmou ele, encarando-a com seus olhos penetrantes.
A saudade já assolava o coração dolorido de Demi mas, de alguma forma, essas palavras a intensificaram muito além de qualquer medida.
– Eu sei. Eu sei disso melhor do que ninguém. – Demi se esforçou para que a voz não falhasse. – Mas eu o amo e tenho que endireitar as coisas. Você disse para a Selena que ele saiu do país. Preciso que me diga onde ele está, Kevin.
Ele bufou.
– Você o ama? Por que será que eu não consigo acreditar nisso?
Demi se recostou, chocada, mas Kevin foi em frente:
– E como pretende ajeitar as coisas? Mesmo se eu disser onde ele está, quem garante que ele vai querê-la de volta? Você não viu como ele apareceu na minha casa aquela noite. A expressão nos olhos dele. A mágoa em suas feições. – Kevin deu de ombros com displicência, uma certa presunção em sua voz. – Ah, claro, como poderia ter visto? Estava ocupada demais, curtindo o seu jantar de ensaio.
Uma tensão pesada caiu sobre a sala, quase esgotando o oxigênio dos pulmões de Demi. A ironia foi como um tapa na cara. Já incapaz de controlar as emoções, ela piscou, com lágrimas nos olhos.
– Eu paguei por aquela noite de diversas maneiras. Eu me torturei de uma forma que ninguém jamais vai imaginar.
Passou por sua cabeça todo o castigo que Alex lhe infligira por seus atos e indecisão. Por mais que amasse Joseph, recusava-se a se sujeitar às acusações de Kevin de que ela desfrutara de qualquer coisa naquela noite tenebrosa.
Levantando-se extramente da cadeira, levou a mão ao peito e despejou a verdade:
– Você não tem a menor ideia de quanto eu amo o seu irmão. Não consigo respirar sem ele. Não consigo dormir. Eu mal como. Não, de início eu não acreditei nele. Não podia. Naquela manhã, abri a porta e fui parar no passado dele quando achei que eu era o seu futuro. Aquilo me matou. Meus instintos me mandaram sair correndo, então foi o que fiz e, agora, estamos os dois sofrendo por isso.
Cobrindo a boca, Demi olhou para o chão, o coração descompassado no peito. Lentamente, voltou a encarar Kevin, os olhos verdes desesperados e suplicantes.
– Não sei se ele vai me querer de volta. Na verdade, não acho que vai. Eu nem sei se ele vai olhar para mim, já que eu mal consigo olhar para mim mesma. Só sei que preciso vê-lo. Preciso dizer quanto eu sinto pelo que aconteceu. Mesmo que isso signifique que eu vá me expor. – Demi inspirou fundo e estreitou os olhos. – Mas não ouse me dizer que eu não o amo, porque você está errado.
A expressão de Kevin agora era de compreensão e compaixão.
Levantando-se, pegou uma caneta e um post-it, rabiscou alguma coisa e lhe entregou o minúsculo papelzinho.
– Eis o endereço da casa dele e o bar de praia onde você provavelmente o encontrará. – Kevin enfiou a mão no bolso da calça e sacou a carteira. Contou algumas notas e deu um sorrisinho. – Embora eu não gostasse tanto assim de você antes, não vou deixar que pague a conta por ir lá atrás do espertinho. – Kevin pegou a mão de Demi e enfiou o dinheiro nela. – Não faz o meu estilo.
Olhando para as cédulas, Demi fungou e balançou a cabeça.
– Não posso aceitar isto. Já me basta saber onde ele está. – ela tentou devolver o dinheiro.
– Eu insisto. – com cuidado, afastou a mão dela. – Além do mais, são só algumas centenas de dólares. O jato vai levá-la até lá. Vou providenciar todo o resto, incluindo o seu hotel. – Kevin enfiou as mãos nos bolsos. – Embora eu espere o contrário, precisamos partir do pressuposto de que... bem, de que ele pode não ficar entusiasmado com sua aparição.
Demi assentiu. Enquanto juntava os pertences, tentou afastar essa hipótese assustadora da cabeça, mesmo sabendo que talvez tivesse que encarar uma reação dessas. Vestiu o casaco e encarou Kevin por um instante.
– Você teve alguma notícia dele?
– Não. Ainda não.
O medo perfurou o estômago dela como uma faca.
– Como sabe que ele chegou lá? Alguma coisa pode ter acontecido com ele.
– Pode acreditar, eu conheço o meu irmão. Nada aconteceu – afirmou Kevin com convicção, acompanhando Demi até a porta. – Só ele poderia se fazer algum mal.
Demi arregalou os olhos e ficou de boca aberta.
– Você não acha que ele...
– Não. Não – interrompeu Kevin. – Não foi isso que eu quis dizer. Deixa pra lá.
A tensão que pesava sobre os ombros de Demi se dissipou como folhas ao vento. Com a voz baixa, ele acrescentou:
– Perdoe a minha crueza. Ele é o meu irmão mais novo e, embora seja um torcedor fanático dos Yankees... odeio isso, porque sou um torcedor fanático dos Mets... eu meio que gosto muito dele.
– Eu meio que gosto muito dele, também – sussurrou Demi, baixando a cabeça. Em seguida, fitou os olhos de Kevin, que continham traços de Joseph. – Gosto muito mesmo.
– Eu sei, mas você não precisa me convencer. Tem que ir lá e provar isso a ele. Vou pedir para a minha assistente passar as informações necessárias.
Demi abraçou a bolsa, os olhos cheios de gratidão.
– Obrigada, Kevin.
Kevin meneou a cabeça e abriu a porta.
As lágrimas rolavam pelas faces de Demi. Um misto de alívio e medo inundou seu corpo já no elevador onde tudo havia começado. Uma perigosa tempestade assaltou seus nervos, aumentando-lhe os batimentos cardíacos. Seus músculos estavam enrijecidos com a tensão. Embora não soubesse se seria bom aparecer sem aviso para tentar salvar qualquer tipo de relacionamento com Joseph, Demi sabia que não podia acrescentar mais números aos segundos que só faziam crescer, mantendo-os separados.
Tique-taque...
Trevor se achando culpado, o Alex que é uma babaca mesmo.
Kevin ajudando a Demi, será que ela vai conseguir se encontrar com o Joseph?
e qual será a reação dele? tique-taque hahaha
deixem seus palpites.
gostaram? até o próximo.
bjs amores <3
respostas aqui
Ela vai atrás dele, OMG, OMG eles tem que se resolverem por favor Deus
ResponderExcluirmuita coisa vai acontecer mas ela vai atrás dele mesmo.
Excluirvou postar hoje, bjs lindona <3