Que se foda!
– Joseph, você poderia responder à pergunta do Sr. Rosendale sobre a nossa abordagem?
Sem aviso, a voz profunda de Kevin se intrometeu nos pensamentos de Joseph, pensamentos perversos que o consumiam ao longo das últimas dezesseis horas, desde que Demi explicara o que Alex tinha feito com ela. Cercado por executivos que representavam um dos principais gigantes farmacêuticos do país que necessitava de uma maciça campanha publicitária, Joseph sabia que devia estar prestando atenção. Mas não conseguia. Seu mundo acabava de ser virado do avesso e seu coração fora rasgado. Não havia palavras adequadas para expressar seu estado mental naquele final de manhã de sexta-feira.
Seu estado mental privado de sono.
Na escuridão, Joseph fitara o teto enquanto abraçava Demi. Escutando sua respiração suave, perfeitamente acordado, com a adrenalina bombeando em suas veias, Joseph tentou apagar as imagens de Alex machucando Demi. Em vão. Sua mente brincava com ele. O burburinho insistente do desejo de sentir o sangue de Alex nas mãos gritava alto em seus ouvidos. Ferveu de raiva até o sol nascer. Joseph nunca teria imaginado que o corpo macio de Demi enroscado ao seu não fosse capaz de afastá-lo do penhasco de destruição assassina de onde desejava tão ansiosamente saltar. A noite anterior lhe provara que, muito embora abraçá-la diminuísse parte da raiva que fervia em sua pele, Demi não conseguia extinguir a chama que a alimentava.
Kevin repetiu o que lhe havia pedido, trazendo Joseph violentamente de volta ao presente. Ergueu a cabeça pesada e cravou os olhos no irmão. Kevin o encarou com uma expressão confusa. Joseph vasculhou a papelada à sua frente. Quando ouviu um dos quatro cavalheiros sentados do outro lado da mesa pigarrear, rompeu o silêncio:
– Não. Eu não posso responder à pergunta dele. – espalhou os papéis sobre a mesa de reunião. – Por que você mesmo não dá a informação, Kevin?
Não se tratava de um pedido educado e, sim, de um “chega pra lá”. O rosto do cliente ficou cinzento, parecido com a cor dos cabelos. Mais uma vez, o silêncio envolveu a sala.
Irritado, Colton se concentrou nos executivos impacientes.
– Eu lhes peço desculpas, senhores. Parece que o meu irmão acordou com o pé esquerdo esta manhã. – Kevin deu de ombros displicentemente, dando um sorriso afetado. Olhou para Joseph de soslaio, o humor substituindo a irritação. – Parece que não comeu ninguém ontem à noite.
Dali a segundos, a mesa inteira, exceto Joseph, irrompeu numa sinfonia de risos. Mesmo querendo dar um tapa na cara do irmão pela observação cretina, não pôde deixar de se impressionar com a reação rápida e espirituosa do filho da mãe. Kevin sempre tivera um talento especial para situações embaraçosas e Joseph teve de admitir que diminuiu a tensão no escritório. Joseph imitou o sorriso idiota do irmão e se recostou na cadeira, esfregando a mão no queixo. Passou a atenção para o relógio de parede, ignorando a lenga-lenga enganosa que Kevin tecia sobre o grupo na tentativa de conseguir uma das maiores contas que a Jonas Industries poderia adquirir. O dinheiro pouco importava para Joseph naquele momento. Onze e quinze. Pouco mais de uma hora até o encontro com Demi. Antes de adormecer na noite anterior, ela havia sugerido docemente um almoço tranquilo em um pequeno café do Battery Park, pois sairia do trabalho mais cedo. Joseph sabia que ela estava tentando acalmá-lo. Essa era uma das muitas coisas que amava nela: a forma como o deixava equilibrado. Meu Deus, como ele a amava. Abriria mão de qualquer coisa por ela. Atravessaria o mundo a qualquer instante se ela insistisse. Não havia limite ao qual ele não chegaria ou fronteira que não ultrapassaria para fazê-la feliz. Agora, só precisava convencê-la de que ela valia cada bocadinho de esforço.
Um momento depois, os pensamentos de Joseph foram interrompidos novamente quando os homens se levantaram ostentando sorrisos de satisfação. Joseph se ergueu e avaliou Kevin, que o fitava com um sorriso maroto. Sempre fazia isso ao conseguir a conta sem sua ajuda e Joseph estava certo de que o irmão vomitaria seu descontentamento assim que todos saíssem. Estava pouco se lixando.
– Parece-me um bom plano – comentou o Sr. executivo grisalho, apertando a mão de Kevin. – Mandaremos os contratos até o fim de segunda-feira.
Kevin exibiu seu sorriso triunfante.
– Excelente. Estamos ansiosos por fazer isso funcionar. Fizeram a escolha certa.
– Vamos torcer para o seu irmão aqui ter uma vida sexual ativa enquanto estiverem elaborando a campanha – disse o homem secamente, apertando a mão de Joseph. Mais uma vez, a sala explodiu em gargalhadas. Mais uma vez, Joseph não se juntou a elas. – Tenho contatos na cidade, se precisar de ajuda nesse departamento. Elas não são baratas, mas com certeza valem cada centavo.
Joseph deu um aperto mais forte do que o normal, mostrando não ter gostado do comentário idiota. Sabia lidar com tipos como esse sem ser ofensivo demais. Ou não. Mais uma vez, não estava dando a mínima. Joseph abriu um sorriso astuto.
– Estou certo disso e agradeço a oferta, mas eu nunca tive que pagar por esse tipo de serviço. Elas costumam se oferecer a mim de livre e espontânea vontade. Mas cada um faz o que pode, não é mesmo?
O sorriso do homem desapareceu e ele franziu a testa, mas Joseph não lhe deu oportunidade de falar:
– Estamos ansiosos por receber esses contratos, Sr. Rosendale. – Joseph se dirigiu à porta do escritório e a manteve aberta para o grupo de ricaços polidos que o encarava. – Meu irmão tem razão. Vocês fizeram a escolha certa. A Jonas Industries vai fazer a sua campanha. Vamos mantê-los todos muito ricos. Com martínis secos e garotas de programa caras aos borbotões.
Ele deu um sorriso lento e convencido, não mais enrugando a testa.
– Tenho fé de que você e seu irmão farão o melhor por nós, Sr. Jonas. Mas, só para você saber, garoto, não gosto de martíni seco. Prefiro uísque. Um Dalmore 1962, Single Malt Highland Scotch, para ser mais exato.
– Excelente escolha – comentou Joseph, desabotoando o paletó azul Ermenegildo Zegna de 22 mil dólares.
Sabia que o cara estava sendo escroto, tentando esfregar uma garrafa de uísque de 58 mil dólares na sua cara. Joseph sorriu com toda a intenção de ser igualmente escroto.
– Vou mandar a nossa secretária lhe enviar duas caixas, assim o senhor ficará devidamente abastecido. Está bem assim?
O homem hesitou por um instante, o olhar ainda mais aguçado.
– Ótimo. Nos vemos de novo em março.
Ele assentiu para Colton e deixou o escritório com a equipe de filhos da mãe igualmente arrogantes.
Joseph atravessou o escritório e riu quando Kevin bateu a porta.
– Que porra foi essa? – disparou Kevin. – Como se não bastasse você passar a reunião toda em transe, quase mata o maldito contrato do seu estilo típico.
Joseph se virou, estreitando os olhos.
– Que porra está querendo dizer com isso?
– Quer que eu soletre para você, rapazinho?
– É, talvez queira, sim – replicou Joseph, seco.
Cruzando os braços, sentou-se na beirada da mesa, à espera da resposta do irmão. Com a cabeça inclinada, Kevin enfiou as mãos nos bolsos.
– Sério, a gente passou meses trabalhando naquela proposta. Onde você estava com a cabeça, caralho? – questionou ele, perdendo a paciência.
Embora Joseph estivesse tendo um dia ruim, a culpa o invadiu. Droga. Kevin tinha razão. Haviam trabalhado horas intermináveis para obter aquela conta. Que sacanagem a dele: o irmão passara noites longe de Danielle e dos filhos para ter certeza de que tudo estivesse pronto para a reunião.
O rosto de Joseph se suavizou.
– Desculpe, está bem?
Kevin suspirou.
– O que está acontecendo com você, cara? – perguntou, o tom mais calmo.
– Notei que alguma coisa o incomodava desde que você chegou esta manhã.
Joseph consultou o relógio. Tinha pouco tempo para explicar o que havia acontecido. Encarando Kevin, sentiu o sangue correr mais rápido pelo corpo.
– O Alex bateu na Demi na manhã do casamento deles.
O queixo de Kevin caiu.
– O quê?
– É. Ele bateu nela, porra, e apareceu no trabalho dela ontem.
Levantando-se, Joseph passou as mãos pelos cabelos, recordando a conversa que ele e Demi haviam tido depois de fazerem amor na noite anterior. Ela conseguira tirar seu mundo ainda mais do eixo ao lhe contar que Alex fora à sua escola. Mesmo querendo que ela deixasse o emprego naquele mesmo segundo, não seria possível. Lecionar significava muito para Demi, ela amava os alunos. Mas estava tudo bem. Sem o conhecimento dela, Joseph dera um telefonema naquela manhã se certificando de que Demi seria seguida por toda parte. Com
um pouco de dinheiro e um velho amigo que acabava de cumprir uma pena de sete anos numa prisão no interior, Alex teria uma sombra pelo resto da sua maldita vida.
– Você sabia que ele tinha batido nela?
Kevin arregalou os olhos.
– Por que diabos eu saberia uma coisa dessas? Claro que eu não sabia.
– Eu achei que soubesse porque, pelo visto, o Trevor sabia e não me contou.
Joseph percorreu o escritório atrás das chaves, remoendo o segundo round da conversa da noite anterior. Antes de adormecer, Demi contara tudo. Joseph tentou se livrar do turbilhão de emoções que invadira sua cabeça depois da confissão. Mesmo sabendo que Trevor é que insistira para que Demi revelasse tudo a Joseph se eles voltassem, ele não estava nada satisfeito com aquilo. Tinha visto Trevor no dia em que ela se mudara para o apartamento dele. Na verdade, o filho da puta havia agido como se tudo estivesse às mil maravilhas. Mal sabia Joseph que sua vida estava prestes a se tornar mais complicada do que nunca.
– Ele sabia e não disse nada? – questionou Kevin, sentando-se à mesa. – E eu quero deixar uma coisa bem clara: sou seu irmão e nunca esconderia uma coisa dessas de você. Entendeu?
– É, eu entendi. Mas ele é como um irmão para mim – murmurou Joseph, olhando o relógio. Sem dúvida o motorista já havia pegado Demi no trabalho. Precisava sair já para atravessar a cidade a tempo de encontrá-la. – Ainda não falei com ele, mas estou planejando fazer isso em breve.
– Entendo. Estou certo de que lidar com o Alex está no topo da sua lista de prioridades. – Kevin girou o pescoço e estalou os nós dos dedos, um sorriso perverso se formando nos lábios. – Eu sou um pouco mais velho e não tão forte quanto você, mas, se precisar de ajuda, estou mais que disposto a dar uns murros no canalha.
Joseph hesitou por um momento antes de se virar em direção à porta.
– Olha, eu tenho que dar uma saída. Vou almoçar com a Demi daqui a 45 minutos.
– Espere – Kevin deixou escapar, ficando de pé. – Não me diga que não vai dar uns sopapos naquele babaca. Eu o conheço melhor do que pensa. O que é que está acontecendo?
Com um suspiro, Joseph se deteve um pouco antes de chegar à porta.
– A Demi me fez prometer que eu não iria atrás dele.
Kevin franziu a testa e riu.
– Joseph, você está lidando com uma mulher que também fez prometer não comprar um carro para ela porque acha desnecessário em Manhattan.
Joseph não pôde deixar de rir.
– Pois é. E daí que é Manhattan? Ela não sabe, mas eu já encomendei um.
– Exatamente. – Kevin voltou a se sentar. Outra vez sério, uniu as pontas dos dedos debaixo do queixo. – Agora vá e chute o traseiro do Alex. O que a Demi não sabe não irá machucá-la. – Kevin fez uma pausa, encarando Joseph. – Mas, se você não fizer nada, isso vai te matar.
Kevin disse essas quatro últimas palavras com toda a simplicidade, mas a verdade delas atravessou a sala como uma bala. Lutando para se manter fiel à promessa feita a Demi, por mais que pudesse sentir o sabor do sangue de Alex na boca, Joseph deixou o escritório.
***
Não importava se era o meio da manhã, o início ou o fim da tarde: o trânsito de Manhattan era sempre uma merda. Uma merda. Joseph começava a achar que Demi tinha razão ao não querer um carro. Mas dirigir era um vício irresistível. É claro que podia mandar o motorista levá-lo de um lado para outro na limusine como o ricaço babaca que algumas pessoas achavam que era, mas Joseph não conseguia abrir mão da sensação de controle que sentia quando estava ao volante. Adorava aquilo. Com as janelas fechadas e o som estéreo aos berros, mesmo que o trânsito desse um nó, tratava-se de um dos poucos momentos só seu, que de fato lhe acalmavam os nervos e deixavam os pensamentos leves. Entretanto, enquanto serpenteava em meio à enxurrada de carros que entupia as ruas, não sentia-se nem um pouco calmo. Não. Nem de perto. A cabeça estava agitada. A cada segundo, os pensamentos ficavam mais confusos. Embora “The Red”, da Chevelle, estourasse nas caixas, a única coisa que Joseph conseguia ouvir eram as palavras de Kevin reverberando em sua cabeça: Mas, se você não fizer nada, isso vai te matar.
Não fazer nada o mataria com certeza. Ele sabia disso. Também sabia que, se ficasse de mãos atadas, iria se transformar num homem amargo. Embora não fosse algo que achasse possível no momento, tinha medo de se ressentir de Demi com o passar dos anos. Avistando o café onde devia encontrá-la, Joseph a imaginou sentada à mesa à sua espera. Mais algumas centenas de metros e estaria lá. Mais alguns minutos e seria capaz de manter a promessa feita a ela.
Pelo menos por aquele dia.
Mas, se você não fizer nada, isso vai te matar.
Te matar...
Te matar...
Te...
Matar...
– Ah, que se foda! – cuspiu Joseph.
Antes que a mente pudesse compreender o que o corpo estava fazendo, Joseph deu uma guinada para a direita quando o sinal ficou verde. Houve uma sinfonia de buzinas e diversos motoristas nova-iorquinos putos exibiram o dedo médio para ele, mas ele não via nem ouvia nada. Seu novo destino? O escritório de Alex no distrito financeiro. Passando as marchas com violência, Joseph conseguiu avançar pelas ruas apinhadas sem matar ninguém. O que não queria dizer que não tivesse chegado perto. Avançou um sinal vermelho ao atravessar a Church Street, quase batendo na traseira de um ônibus aberto de dois andares cheio de turistas. Mais uma explosão de buzinas. Mais uma vez, Joseph não pôde ouvi-las. Também não enxergava os pedestres saltarem para o meio-fio, desviando de sua Ferrari FF, porque a visão estava vermelho-sangue.
Segurando o volante com força com uma das mãos, usou a outra para arrancar a gravata do pescoço. Entrando na garagem subterrânea do prédio de Alex, tirou o paletó, pagou o estacionamento e enfiou o carro numa vaga. Depois de fechar a porta com violência, encaminhou-se ao elevador e apertou o botão do andar de Alex.
Joseph já não travava uma batalha confusa dentro da cabeça. Arregaçou as mangas e submergiu num sinistro mar de tranquilidade. Estava alimentando o corpo com aquilo que desejava, portanto sentia-se inebriado. Enquanto subia ao décimo quinto andar, o rosto de Demi ondulava em seus pensamentos. Seu coração afundou no peito ao consultar o relógio. A ideia de que ela estivesse sentada num café à sua espera, ignorando por completo o que ele estava prestes a fazer, o incomodava. No entanto, não podia se impedir.
Joseph irrompeu de dentro do elevador logo que as portas se abriram, embrenhando-se numa confusão. Era algo que estava acostumado a ver. Usando ternos ordinários comprados pelo eBay e gravatas dadas pelas avós quando atingiram a maioridade, jovens profissionais iniciantes e ávidos por dinheiro andavam de um lado para outro diante de seus cubículos. Utilizando receptores Bluetooth, falavam rápido com ricaços, na tentativa de arrancar um naco de carne de um portfólio que continha mais dinheiro do que eles ganhariam em toda a vida. Enquanto Joseph se movia com facilidade em meio ao caos, alguns assentiam à guisa de cumprimento. Nenhum deles interromperia a conversa com a potencial pilha de dinheiro que tentava obter. Considerando que só havia compartilhado uma ou duas cervejas com eles nos anos em que Alex o chamara para sair, Joseph pouco se lixava para isso. Estava completamente concentrado na porta que ficava no canto esquerdo. Atrás dela, encontrava-se o pedaço de carne que ele estava prestes a despedaçar. Joseph sentia a ânsia devorar seu estômago.
– Oi, Joseph – ronronou uma conhecida voz feminina.
Ele desviou o olhar da porta que ocultava seu almoço, embora os pés não parassem de se deslocar.
– Oi, Kimberly. Ele está na sala?
A loura peituda assentiu.
– Com certeza.
– Ótimo – comentou ele, curto e grosso, dando a volta na mesa dela.
Aproximando-se da porta, Joseph abaixou-se um pouco na tentativa de enxergar através das persianas que cobriam metade da vidraça do escritório. Alex estava de costas, diante da mesa, com os braços cruzados. Num mesmo movimento, Joseph abriu e fechou a porta. Depois, trancou-a, isolando-os de qualquer pessoa.
Que comecem os jogos.
Sem se virar, Alex bufou, irritado.
– Kimberly, nos últimos meses, quantas vezes eu disse que não vou mais comer você aqui dentro? Volte para a sua mesa que eu chamo mais tarde se estiver a fim.
– Não é a Kimberly, babaca – rosnou Joseph, fuzilando Alex com os olhos. – Eu avisei que iria matá-lo se você tocasse nela de novo.
Estreitando os olhos, Alex abriu a boca, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Joseph o atacou, atirando-o sobre a mesa. Apesar de ser uma peça sólida de cerejeira, ela rangeu sob o peso dos dois homens. Joseph prendeu-o debaixo de si, estrangulando-o, e mal notou o soco que Alex lhe desferiu na boca. O sangue do lábio aberto pingou no rosto do rival, escorrendo por sua face. Enquanto Joseph fitava os olhos sem alma do homem que considerara um amigo em algum momento da vida, vislumbres de Demi sendo brutalizada faziam a adrenalina correr por suas veias. A raiva fervia lentamente e Joseph não tinha a menor intenção de impedi-la de entrar em erupção.
Segurando o pescoço de Alex, Joseph ergueu a cabeça dele e a esmurrou de encontro à mesa, provocando um baque surdo. Joseph teve certeza de ter lhe rachado o crânio.
– Seu covarde filho da puta! – disparou Joseph, o corpo inteiro tremendo. – Eu avisei que iria matar você se a machucasse!
– Fodam-se você e ela! – exclamou Alex, engasgando, se contorcendo sob o peso de Joseph.
Joseph apertou mais, as mãos se fechando com tanta força que sentia os batimentos de Alex nos polegares. Alex ergueu os braços e segurou os braços do outro numa tentativa deplorável de se livrar. Isso só deixou Joseph ainda mais puto. Voltou a bater a cabeça de Alex na mesa. Depois do segundo golpe, que poderia ter lhe rachado o crânio, Alex sorveu o ar com sofreguidão e conseguiu soltar um dos braços do rival. Tentou socá-lo de novo, só que dessa vez o golpe não foi rápido e Joseph desviou com facilidade, sentindo-o perder a força, desfalecer. Observou os vasos sanguíneos de Alex saltarem, dando ao seu rosto um leve tom de azul.
E foi então que Demi veio a sua mente: Joseph Jonas, você é mais homem do que qualquer um que eu já conheci. Você é de uma sensibilidade impressionante e não poderia fazer mais nada para eu me apaixonar ainda mais por você. Nem uma coisinha.
Joseph se viu travando uma batalha completamente diferente. Algo dentro dele se retorceu enquanto ele decidia se deveria ou não parar. Aquele doente filho da mãe talvez dominasse seus sentimentos naquele exato momento, mas a mulher pela qual ele se dispunha a matar seria dona de seu coração para sempre. Optando pelo amor acima do ódio, Joseph respirou fundo para se fortalecer e soltou o pescoço de Alex, afastando-se da mesa.
Passando os punhos fechados pelos cabelos, Joseph caminhou de um lado para outro, observando o corpo quase sem vida de Alex escorregar até o chão, arrastando junto pilhas de papel, canetas e um telefone. Sufocando, Alex virou de lado e ficou de quatro, arfante. Um arrepio percorreu Joseph enquanto observava Alex tentar ficar de pé. Não adiantava. Não conseguia. Joseph arrancara dele toda e qualquer energia. Desviou a atenção de Alex e concentrou-se nos berros e nos murros do outro lado da porta. Não fazia ideia se tentavam entrar desde o início ou se haviam começado naquele momento. Enquanto a vida de Alex escorria por entre os dedos, o tempo parecia voar.
Engolindo em seco, Joseph caminhou até ele e o agarrou pelos cabelos.
Ajoelhando-se ao lado, Joseph puxou o rosto de Alex com violência para que ficasse a centímetros do seu.
– Eu acho bom você ouvir cada palavra que eu vou dizer, caralho – falou, trêmulo; seu hálito era um sussurro perverso.
– Vá se foder, babaca! – esbravejou Alex, olhando nos olhos de Joseph e ainda respirando com dificuldade. – Você vai ser preso por isso, filho da puta!
Joseph deu uma cotovelada na boca de Alex. Tentando se afastar, ele se retraiu. Agora, Joseph já não era o único com o lábio partido. Segurou os cabelos de Alex com mais força, um sorriso perverso retorcendo-lhe os lábios.
– Se você der parte, eu devo ir preso. Você tem sorte de eu não ter matado você. Mas saiba de uma coisa – Joseph fez uma pausa, tentando controlar a súbita ânsia de estrangular Alex quase até a morte. – Eu vou sair um dia. Pode apostar. E, quando eu sair... nada vai me impedir de matar você. Nem mesmo o amor insano que eu sinto pela mulher que você jogou fora vai me impedir de acabar com a sua vida. Assim, pense bem nisso antes de correr para a polícia. Se você me conhece, nem que seja um pouco, sabe que não se trata de uma ameaça vazia de um covarde que gosta de dar porrada em mulher. Isso está vindo de um homem que vai rir a caminho da câmara de gás enquanto a sua mãe chora a caminho da porra da sepultura. Está me entendendo?
Com a respiração pesada, Alex encarou Joseph em silêncio. Uma resolução simples para uma pergunta sem resposta. Mais uma cotovelada na boca.
– Você está me entendendo, caralho? – rosnou Joseph, o rosto tomado pela raiva.
– Estou! – respondeu Alex, por entre dentes cerrados e sangrentos.
– Ótimo – respondeu Joseph suavemente, pondo-se de pé. Antes de destrancar a porta, virou-se com os olhos semicerrados. – E, se eu descobrir que você deu as caras no trabalho dela outra vez, vou me certificar de que seja um funeral de caixão fechado.
Joseph abriu a porta e passou pelo aglomerado de pessoas. Sem olhar para trás, ouviu a comoção que se formava na sala de Alex. Não, nada disso. Na verdade, ouviu Alex berrar para que todo mundo saísse da sua sala. Dava para notar o constrangimento em sua voz.
Enquanto descia de elevador, Joseph consultou o relógio: tinha menos de cinco minutos para atravessar a cidade. Sacou o celular do bolso e mandou uma mensagem de texto para avisar a Demi que se atrasaria. Ao chegar ao carro, ela já havia respondido: Estou esperando. Por favor, tenha cuidado. Nada de correr! Te amo.
Joseph saiu do estacionamento. Enquanto se arrastava pelo trânsito, não parava de olhar o celular. Releu a mensagem de Demi diversas vezes. Com as emoções à flor da pele, estava ciente de que teria que entrar no café passando alguma ilusão de normalidade. Só não estava certo de que conseguiria. Trinta minutos mais tarde, estava prestes a ser posto à prova.
Depois de encontrar uma vaga, Joseph saltou do carro, passou as mãos pelos cabelos e entrou. Não dera nem três passos quando avistou Demi. A respiração falhou, como sempre acontecia, ao vê-la sentada a uma mesa lendo um livro. Foi então que Joseph se deu conta de que estava estritamente conectado a ela. Sabia que não havia uma única coisa da qual não abriria mão por ela. Diabos, enquanto respirasse a seu lado, todos os dias lhe pareceriam completos. Por ela, abriria mão da liberdade. Até mesmo da própria vida. Demi corria em seu sangue e ele não se importava de passar os próximos vinte anos atrás das grades. Joseph só esperava conseguir remover as correntes do coração dela, porque, por mais que pudesse encher Alex de porrada, nada disso a livraria das cicatrizes deixadas por ele. Joseph sabia que sempre secaria suas lágrimas, mas queria desesperadamente poder apagar seu passado doloroso.
Como se sentisse sua presença, Demi ergueu a cabeça e abriu um lindo sorriso. Podia ser clichê dizer isto, mas a verdade era que o sorriso dela iluminava o salão como uma bola de fogo num céu escuro. Os chavões haviam sido criados para ela. Fim de papo. Mais uma vez, o ar pareceu ser arrancado dos pulmões de Joseph. Observou o sorriso de Demi sumir, o rosto ganhando uma expressão preocupada enquanto ela se levantava. Droga. Joseph olhou para as próprias roupas. Imerso em pensamentos durante o caminho, ele se esquecera de se arrumar. Sabia que estava completamente amarfanhado: sem o paletó e com a camisa para fora da calça. Sem falar da gravata ausente ou dos respingos de sangue na frente da camisa branca bem engomada.
Enquanto Joseph se aproximava dela, emanando poder, Demi reprimiu a sensação ruim que penetrava seu estômago. Foi encontrá-lo no meio do café apinhado de gente, a centímetros de distância um do outro. As vozes que a cercavam ficaram abafadas e os corpos tornaram-se indistintos. O rosto dele a cegou para qualquer outra coisa. Sua respiração era a única coisa que conseguia escutar. Embora Joseph usasse uma máscara de impassibilidade, os olhos azuis revelavam mais do que deviam. Falavam incessantemente, inspirando dor no coração de Demi. Compreendeu o que ele havia feito. Não precisou perguntar.
Demi baixou os olhos dos lábios inchados salpicados de sangue e fitou sua camisa. Erguendo a vista, encontrou um olhar firme e percebeu que ele esperava alguma coisa dela. Aprovação, possivelmente, palavras que lhe assegurassem que não havia problema no que ele tinha feito. Sem saber o que falar, Demi enlaçou-lhe o pescoço e puxou sua boca para si.
Joseph agarrou-lhe a cintura e pressionou o corpo contra o dela.
– Eu tive que fazer isso, Demi – sussurrou Joseph, beijando-a suavemente. – Não conseguiria viver comigo mesmo se não fizesse.
Enfiando os dedos nos cabelos dele, Demi conteve um soluço.
– Eu sei que não. Sinto muito por ter feito você prometer aquilo.
Antes que Joseph pudesse falar, Demi o beijou com intensidade, consumida pela culpa. Sentiu gosto de sangue; era um sabor deliciosamente intoxicante porque ela conhecia sua origem. Sabia que ele fora ferido para defendê-la. Por um breve momento, estivera certa de que Joseph não podia fazer nada para que ela o amasse ainda mais. E percebeu que se enganara completamente, de pé ali, no meio de um café apinhado em Manhattan, beijando o homem que mudara seu mundo para sempre. Sua vida. O homem que ela amava um milhão de vezes mais do que alguns minutos antes. Cega para qualquer mal futuro e para a possibilidade de voltar a chorar um dia, Demi se apaixonou ainda mais por Joseph do que achara ser humanamente possível.
pessoal, resolvi postar hoje porque amanhã não irá dar para postar de novo, espero que gostem.
que capítulo foi esse? finalmente Demi contou a ele sobre o Alex ter machucado ela.
amei a porrada no Alex, ele tem que pagar pelo o que fez com a Demi.
esse finalzinho que lindos os dois <3
não sei quando volto com o outro capítulo, se eu conseguir posto aqui no final de semana mas peço que não desistam de mim, pois essa semana está tudo muito corrido, me perdoem amores.
esse finalzinho que lindos os dois <3
não sei quando volto com o outro capítulo, se eu conseguir posto aqui no final de semana mas peço que não desistam de mim, pois essa semana está tudo muito corrido, me perdoem amores.
gostaram? comentem o que acharam e até o próximo.
bjs <3
heeey, estou passando aqui só pra dizer que tenho um selinho pra você lá no blog.
ResponderExcluirhttp://ficss-jemi.blogspot.com.br/2017/02/selinho_28.html
bjs, espero q goste
Obrigado amor, agradeço demais pelo o selinho <3
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