O medo devorava o estômago de Demi, que ansiava desesperadamente por Joseph. Ela entregou as malas para a comissária de bordo ao entrar no jato particular da Jonas Industries e Selena ergueu a sobrancelha, brincalhona.
– Humm, talvez eu precise partir alguns corações para conseguir esse tratamento especial... É isso. Está decidido. Enquanto você estiver fora, vou encontrar um ricaço, deixar o cara louco por mim e aí termino com ele. Depois faço o irmão dele me mandar para onde ele estiver, no meio do maior luxo, para eu reconquistá-lo.
Demi fitou Selena, inexpressiva, com a boca aberta.
– Você sabe que eu só estou brincando, Demi.
Selena riu e agarrou a mão de Demi, puxando-a para os fundos do jato.
Tentando manter o ritmo da amiga, Demi suspirou e balançou a cabeça.
– O que é que você está fazendo, maluca? Você não vai vir comigo. Ou isso é mais uma coisa que você decidiu, de veneta?
– Este é o jato novo da Jonas Industries. Se você acha que eu vou descer antes de inspecionar cada centímetro, é tão avoada quanto eu sempre achei. – Selena se deteve e bufou. – Eu acabei de fazer uma piada. Avoada, voo, voar, voando. Entendeu?
– Sim, eu entendi, Sel. Você quer saber o que eu decidi de veneta?
Selena inclinou a cabeça, os olhos arregalados.
– Você não vai mudar de ideia, vai? Eu disse que só estava brincando, Demi. Você sabe que eu sou sua maior fã. Sei quanto isto é assustador para você: essa história toda do voo, a possibilidade de Joseph não querê-la de volta, mas você tem que fazer isso. O piloto não parece estar bêbado, quer dizer, pelo menos não muito, então é bastante seguro dizer que você está em boas mãos. Além do mais, se não for, nunca vai descobrir o que poderia ter acontecido com você e Joseph. Vai se arrepender pelo resto da vida.
Demi pousou as mãos nos ombros da amiga.
– Eu não vou mudar de ideia, Selena, mas decidi que você não pode mais tomar cappuccino. – Demi baixou os braços e sorriu. – Para uma pessoa que praticamente vibra depois de uma xícara... com duas, você parece que fumou crack.
– Ah. Certo. Minha mãe diz a mesma coisa, menos a parte sobre o crack. – Selena estendeu a mão em direção à porta da cabine dos fundos. – Ela costuma dizer que eu fico com cara de psicopata.
– O que você está fazendo? A gente não pode entrar aí.
Selena virou a cabeça bruscamente para ela.
– Por que não?
– Porque é a cabine privada do Joseph e do Kevin.
– Grande coisa. – Selena deu de ombros e abriu a porta com um empurrão. – Como eu disse, quero fazer o grand tour antes de descer.
Demi balançou a cabeça e observou Selena desaparecer cabine adentro. Quando as turbinas rugiram, ganhando vida, ela fechou bem os olhos e fincou as unhas no encosto dos assentos de couro creme. A vibração logo despertou o seu medo de voar. Ela estremeceu. Com a respiração entrecortada e o coração batendo contra as costelas, Demi se fixou no único motivo para estar ali.
Joseph...
Reprimindo o instinto de sair correndo do jato, Demi retomou o equilíbrio, enxugou o suor que se acumulava na nuca e deu dois passos hesitantes à frente. Tentou respirar fundo pelo nariz enquanto dava mais um passo, as unhas quase furando o couro gelado. Agarrando o batente de mogno liso da porta da cabine, Demi espiou para dentro e encontrou Selena esparramada numa cama king-size, o sorriso preguiçoso demonstrando que estava bem confortável.
– Levanta daí – ordenou Demi, e atravessou o quarto, tremendo.
Com um sorriso amarelo, Selena se sentou e franziu os lábios.
– Sério, você não é nada divertida.
– Eu sei.
Demi passou a mão pelos cabelos. Os olhos percorreram o aposento e pousaram sobre um boné azul dos Yankees pendurado num gancho ao lado do frigobar. Ficou paralisada por um instante. Ignorando tanto o medo de voar quanto as reclamações de Selena, que se levantava da cama, Demi roçou as pontas dos dedos nele suavemente, o coração pesado com a lembrança do sorriso de Joseph luzindo ao sol durante o jogo a que tinham assistido havia poucos meses. Como se o boné lhe queimasse a pele, Demi retraiu a mão e lágrimas quentes embaçaram sua vista. Recuando, mais uma vez resistiu à tentação de fugir... de sair correndo. O hábito de correr de tudo a consumia, mas foi desaparecendo à medida que um sorriso brotou aos poucos em seus lábios.
Fechou os olhos, uma lágrima escorrendo pela face, e permitiu que o doce sorriso de covinhas de Joseph a enlevasse. Permitiu que ele a atirasse no desconhecido que haveria de ser o futuro dos dois. Se é que haveria algum futuro. Demi sentiu uma mão em seu ombro e enxugou as lágrimas, para evitar que Selena percebesse que estivera chorando. Rapidamente, se virou e passou por ela.
– Você está bem? – perguntou Selena, seguindo-a pelo corredor do jato.
Deslizando para uma das poltronas, Demi encostou a cabeça na janela.
– Estou ótima.
Cruzando os braços, Selena ergueu uma sobrancelha em sinal de ceticismo.
– Você não sabe mentir.
– É. Minha mãe costumava me dizer isso – sussurrou Demi, encarando Selena.
Com um sorriso cansado, Selena inclinou o corpo por cima do assento e tomou o queixo de Demi entre as mãos.
– Bem aqui, neste instante, você está exatamente onde deveria estar. Tudo vai ficar bem. Sei que você não acredita em mim, mas acho que estou tendo um momento meio mediúnico. Vai tudo acabar com um monte de bebês numa minivan verde horrorosa com o Sr. Joseph Gostoso Jonas. Você vai ver. – Selena deu uma beijoca no topo da cabeça de Demi, endireitou o corpo e se afastou. – Me mande uma mensagem quando aterrissar! – gritou, deixando a aeronave.
Após recusar uma bebida e um lanche da comissária, Demi fechou os olhos e tentou se concentrar na tal minivan cheia de bebês. O rosto de Joseph passou como um lampejo por seus pensamentos, fazendo-a sentir um misto de ansiedade e esperança enquanto o jato se deslocava. O som do coração acelerado foi engolido pelo rugido das turbinas. Ela calculou que o voo de Nova York a Play a del Carmen duraria quatro horas e quinze minutos. Depois disso, sua vida seria mudada por completo, mais do que já havia sido. Segurando os braços da poltrona com força, as palmas das mãos suadas, Demi Lovato se viu numa situação muito diferente da última vez que estivera a caminho de um novo destino, de um novo começo. Com um suspiro, observou os gigantes de aço da cidade desaparecerem por baixo de uma manta de nuvens. Angustiada, rezou para que o que estava fazendo de fato mudasse sua vida.
Dessa vez, para melhor...
Dessa vez, não mais com medo...
Dessa vez, lutando pelo homem que o destino escolhera para ela...
Depois de passar uma hora na fila da alfândega, Demi atravessou o aeroporto cheio com a mala preta de rodinhas. Foi serpenteando em meio aos mais variados turistas, de todas as etnias possíveis, mais nervosa a cada passo. Tinha chegado e já não havia como dar meia-volta. Apenas torcia para que, quando partisse, tivesse Joseph a seu lado.
No entanto, não nutria muitas esperanças de que isso acontecesse.
Ao emergir do prédio abarrotado, ela estreitou os olhos diante do sol ofuscante, a pele ardendo. Procurou o chofer que a secretária de Kevin dissera que estaria à sua espera. Através da enorme confusão de vendedores ambulantes oferecendo mantas feitas à mão, bonecas e camisetas, Demi avistou um homem baixo de cabelos escuros que segurava uma placa com seu sobrenome.
Aproximando-se, ela sorriu e mostrou-lhe o passaporte.
– Oi, eu sou Demi Lovato.
– Sim. Sim. Olá, Srta. Lovato.
Pegando a bagagem de Demi, o homem sorriu e a conduziu em direção a uma limusine preta estacionada em meio a diversos ônibus nas ruas apinhadas.
– É a sua primeira vez em Playa del Carmen?
Ele abriu a porta para ela.
Demi entrou, agradecida pelo ar-condicionado.
– Obrigada. É, sim.
Depois de fechar a porta, o homem colocou os pertences dela na mala, contornou o veículo e se acomodou ao volante. Ajustando o espelho levemente, olhou o reflexo dela ao lhe dirigir a palavra.
– Bom, seja bem-vinda. Nossa cidade é linda. Meu nome é Javier. Vou dar para a senhorita um bom tour no caminho até o hotel. Sí?
– Ah, na verdade, não estava planejando ir direto para o hotel. – Demi vasculhou a bolsa e pegou o papel onde estava escrito o endereço de Joseph. Não queria passar mais um minuto sem vê-lo, por isso deslizou no assento e mostrou o papel para Javier. – Gostaria de passar por aqui primeiro, se puder, por favor.
Assentindo, Javier se afastou do meio-fio e sorriu, os olhos castanhos brilhando no reflexo.
– Mas é claro, Srta. Lovato. Aonde quiser ir. Eu a levarei ao seu destino em um instante.
– Obrigada, Javier.
Demi se recostou e tentou processar cada emoção que lhe ocorria. A necessidade de ter Joseph ao seu lado a golpeou outra vez, intensificada para além de qualquer coisa que já tivesse sentido. A ansiedade foi apertando seu peito. Ela se remexeu, inquieta. Com a respiração cada vez mais difícil, ela observou ônibus, lambretas e veículos da Fifa, a polícia mexicana passarem a toda por ela. Embora a viagem até o coração de Play a del Carmen tivesse levado menos de vinte minutos, a espera lhe pareceu eterna. Com um nervosismo extremo, Demi teve dificuldade em se concentrar enquanto a limusine dobrava numa rua deserta e estreita ladeada por algumas mansões.
Quando o veículo parou diante da casa de Joseph, ela respirou fundo e conteve todos os instintos que lhe diziam que ele não iria aceitá-la de volta. Abriu a porta antes que Javier tivesse a oportunidade de saltar da limusine. Desceu e tentou absorver aquela estrutura monumental. Telhas clássicas de terracota mexicana coroavam a joia de estuque branco empoleirada sobre uma colina com vista para as imaculadas águas do Caribe. Afastou do rosto os cabelos castanho emaranhados pelo vento e constatou que seu cérebro estava paralisado, embora o corpo ignorasse o apelo para que ela não se movesse. O corpo, já nauseado de tanta ansiedade, sentia a atração exercida por Joseph, profunda e familiar, que a invadira desde a primeira vez que o vira. Antes que se desse conta, começou a se dirigir até a casa. Javier a chamou, mas ela ergueu uma das mãos, sinalizando para que ele a aguardasse.
De pé diante da porta de mogno escuro com vidro bisotado e jateado que se erguia como uma torre diante de sua estatura minúscula, Demi lutou contra as lágrimas, ergueu a mão trêmula e tocou a campainha. O coração acelerou, o ribombar ecoando nos ouvidos, quando um vulto indistinto se aproximou para atender. Com o corpo rijo de temor, um temor que ela mesma provocara ao fazer tudo aquilo com ela e com Joseph, Demi fechou os olhos e tentou se agarrar a alguma minúscula esperança de que não estivesse prestes a enfrentar o desastre que a mente lhe dizia ser iminente. Antes de a porta se escancarar, vislumbres dos olhos de Joseph penetraram os pensamentos de Demi. No entanto, não foram esses olhos que a receberam.
Uma mulher alta e magra sorriu para ela, com cabelos negros presos num coque apertado, usando um uniforme de empregada.
– Puedo ayudarla?
– Humm, sim. O Joseph está? – perguntou Demi, tentando controlar o tremor da voz.
– No. El señor Jonas no está aquí. Se fue a beber a Akumal.
Demi balançou a cabeça.
– Desculpe, eu só falo inglês.
– No entiendo lo que está diciendo. El señor Jonas no está aquí.
Demi se virou e fez sinal para Javier, que esperava na estrada de acesso com a bagagem.
– Sí, señorita Lovato – disse ele, subindo as escadas até a varanda coberta. – Eu trago as suas malas para você. Bom?
– Não, obrigada, Javier. Acho que o Sr. Jonas não está em casa e esta mulher está tentando me explicar onde ele se encontra. Pode traduzir para mim?
– Ahh, mas é claro. – sorrindo, Javier voltou a atenção para a mulher. – Juanita, buenas tardes.
– Buenas tardes.
– Kevin me envió al aeropuerto a recoger a esta joven y traerla de vuelta a ver a Joseph. Está en casa?
Demi esperou com toda a paciência possível enquanto conversavam. Ao término, a mulher fez um aceno de cabeça antes de fechar a porta.
Javier olhou para Demi.
– O Sr. Jonas está num bar em Akumal. Não é longe de carro. Talvez vinte minutos. Venha. Eu a levo até lá.
Demi observou Javier correr até o carro. Depois de colocar a bagagem de volta no porta-malas, ele abriu a porta da limusine. Ainda de pé na varanda, Demi hesitou. A mente ainda girava, analisando cada motivo pelo qual não devia aparecer num lugar público para ver Joseph. Não podia. Não seria certo.
Precisavam de privacidade para discutir tudo. Embora a dor da espera para vê-lo latejasse em seu peito, Demi decidiu que se instalaria em seu quarto de hotel e que voltaria à noite. Assim, aproximou-se de Javier para lhe avisar de seus planos. Quando chegou perto da limusine, virou a cabeça de súbito na direção de um barulho de pneus triturando o cascalho da estrada, a distância. Erguendo a mão para proteger os olhos do sol, avistou um carro esporte grafite fazer uma curva fechada para a esquerda e entrar na pista de acesso à casa. Como os vidros eram escuros, Demi não conseguiu enxergar quem estava ao volante. Isso não impediu que o coração, que batia como um tambor, parasse por completo por um longo segundo. Ao tentar inspirar, ele voltou à vida com um batimento falho quando Joseph saltou do veículo, sorridente. Demi pestanejou, hesitante, imaginando que ele ainda não a tivesse visto. Confusa com o que estaria testemunhando, sentiu um calafrio percorrer seu corpo quando não um, mas dois motivos para o alto astral de Joseph saltaram do carro. Dando um passo incerto para trás, foi tomada pelo pânico no momento em que o olhar dele cruzou com o dela. Seu sorriso desapareceu imediatamente. Demi pôde ler a pergunta em seus olhos e teve certeza de que iria desmaiar.
Inclinando a cabeça em sinal de confusão, Joseph estacou. Sabia que os últimos dias o tinham afetado, mental e fisicamente, e que havia algum álcool correndo por suas veias, mas estava bastante certo de não estar vendo coisas.
– Que porra é essa? – sussurrou. Arrancou os óculos escuros do rosto e esfregou a base das mãos nos olhos.
– O que foi? – perguntou a bela morena, roçando os lábios vermelhos em seu maxilar. – Até parece que você viu um fantasma.
Joseph girou o ombro, afastando-a.
– Eu vi – respondeu, ríspido.
A loura platinada estonteante estalou o chiclete na boca.
– Credo! Isso, sim, é dupla personalidade. O que foi?
Joseph desviou a atenção de seus “preenchedores de vazios”, os olhos grudados em Demi, que se virava para entrar na limusine. Sem dizer mais uma palavra, ele correu até ela, o corpo reagindo da única forma que conhecia. Com o coração na boca e a confusão martelando a cabeça, Joseph estendeu a mão e lhe agarrou o cotovelo.
– O que é que você está fazendo aqui, Demi?
A sensação da pele macia atingiu sua mente, provocando lembranças que tentava esquecer.
Demi não conseguiu se virar. Com a respiração pesada, engoliu em seco, nervosa, e tentou encontrar as palavras.
– Eu vim conversar com você – sussurrou.
Joseph a soltou e deu um passo para trás.
– Olhe para mim – ordenou, a voz baixa.
Com a pulsação acelerada, Demi se virou devagar. Olhando fundo naqueles olhos confusos, ela agarrou a porta para firmar o corpo.
O rosto lindo de Demi quase tirou o fôlego de Joseph. Seus olhos se afastaram dos dela, indo pousar nos lábios trêmulos. Lábios que Deus criara para se encaixarem nos dele. Lábios que haviam perseguido cada um de seus sonhos desde que partira. Os cabelos sedosos chicoteavam à sua volta na brisa morna, cabelos criados para fazer cócegas no rosto dele enquanto fizessem amor. Joseph tentava respirar, debatendo-se contra a necessidade que sentia dela e se irradiava por cada músculo tenso do corpo, culminando numa queimação lenta e torturante. O peito se contraiu de amor, mas a raiva fervia sob a pele. Um sorriso desdenhoso se formou em sua boca.
– Seu marido permitiu que você viesse me ver? Nunca achei que o Alex fosse do tipo que concedesse à mulher um casamento aberto.
Os joelhos de Demi fraquejaram, o olhar pleno de confusão.
– Eu não me casei com ele, Joseph. Você sabe disso. Eu... eu liguei. Deixei recados. – ela não conseguia impedir que as lágrimas se acumulassem em seus olhos ao fitar a expressão chocada de Joseph. De repente, as palavras saíram numa enxurrada: – Eu deixei o Alex naquela noite e fui à sua cobertura. Tenho ligado para o seu celular todos os dias nas últimas semanas. O Kevin ligou e deixou recados com a sua empregada. O Trevor, a Selena, todos nós. – Demi desviou a vista, os olhos fixos nas duas acompanhantes de Joseph encostadas no Jaguar. Balançou a cabeça e voltou a encará-lo. – Não acho que você vá me aceitar de volta, mas precisava vir até aqui e dizer que sinto muito. Eu precisava dizer quanto te amo, Joseph. Quanto preciso de você na minha vida.
Fitando o chão, Joseph entrelaçou as mãos na nuca. Subitamente, ergueu a cabeça e olhou para o motorista.
– Javier, dame sus cosas.
Javier assentiu.
– Por supuesto, señor Jonas.
Demi observou Javier retirar sua bagagem do porta-malas e passá-la para Joseph. Depois de lhe agradecer, Joseph pegou a mão de Demi com força e a conduziu até o carro. Lutando para manter o ritmo, os saltos de Demi batiam freneticamente no pavimento. Ela fitou as duas mulheres.
A morena arqueou uma das sobrancelhas e colocou a mão na cintura.
– Hum, a gente não se importa de acrescentar uma quarta pessoa a esse ménage, mas, ainda assim, acho que você devia ter perguntado antes.
A loura assentiu e ajeitou a camiseta rosa sem manga. Demi mordeu o lábio, os olhos arregalados para Joseph.
Ele suspirou fundo, puxou Demi até a lateral do carro e atirou a mala no banco traseiro. Abrindo a porta do carona, olhou para Demi.
– Entre.
– Como? – perguntou ela, chocada.
– Você me ouviu, Demi. Entre – insistiu ele, dando a volta no carro.
A loura inclinou a cabeça para o lado.
– Aonde é que a gente vai?
– Vocês duas vão para casa – avisou Joseph, curto e grosso. Ele olhou para o motorista, que parecia estar igualmente confuso. – Necesito que lleves a estas dos a casa, de acuerdo?
– Sí, señor Jonas.
Javier fez sinal para que as duas mulheres se aproximassem.
– Você está enxotando a gente? – questionou a morena. – Não pode fazer isso.
– Acabei de fazer isso. Tenham um ótimo dia, senhoritas – replicou Joseph, olhando fixamente para Demi por cima do teto do carro. Com um displicente dar de ombros, desconsiderou por completo o arquejo emitido por uma delas. – Entre no carro, boneca.
Dobrando-se à sua vontade, Demi fechou a boca e se acomodou no banco. Depois de fechar a porta, Joseph apertou um botão e deu partida no carro.
Acelerou algumas vezes e o motor rugiu, mandando um aviso para as mulheres que continuavam atrás do veículo. Levando-o a sério, elas recuaram para cima da grama e cruzaram os braços, claramente aborrecidas. Com elas fora do caminho, Joseph pisou no acelerador e o elegante Jaguar saiu de ré pela pista de acesso, cantando pneu.
Joseph baixou a janela e gritou para Javier, que estava prestes a entrar na limusine:
– Sabes en que hotel se está quedando?
– Sí, en el Real, señor Jonas.
– Gracias – respondeu Joseph. Segurando o câmbio e o volante com força, ele olhou para Demi. – Coloque o cinto.
– O que você perguntou a ele?
– Perguntei em que hotel você está hospedada. Agora, coloque o cinto de segurança.
Sentindo a tensão emanar dele, Demi obedeceu. Joseph passou a marcha com brutalidade e partiu. A poeira se elevou, envolvendo o carro. De soslaio, Demi observava Joseph, os olhos fixos na estrada, o rosto dolorosamente impassível, o coração apertado com o longo silêncio entre os dois. Joseph pegou a autoestrada e a adrenalina correu pelas veias de Demi enquanto ele passava as marchas sem o menor esforço. Costurou por entre alguns veículos mais lentos e o velocímetro chegou perto dos 140 quilômetros por hora.
Demi ficou tensa e agarrou a alça de segurança que ficava acima de sua cabeça, olhando para Joseph.
– Você vai nos matar.
– Eu já estou morto – retrucou ele, trincando os dentes.
Agarrou o volante com mais força e pisou de novo no acelerador, dessa vez com mais violência. O impacto atirou o corpo de Demi para trás.
– Joseph! Você perdeu a cabeça?
Joseph girou o volante rapidamente para a direita e a traseira do carro derrapou até parar, com um guincho, no acostamento. Outros motoristas enfiaram a mão na buzina, passando voados por Joseph e Demi enquanto a poeira se assentava ao redor do veículo. Arquejantes, eles se entreolharam. E agarraram-se um ao outro.
– Eu já estou morto – repetiu Joseph em voz baixa, mas a raiva em sua voz era tão clara quanto o céu sem nuvens.
Algo aconteceu dentro dele ao fitar os lábios de Demi. Com um movimento brusco, ele destravou o cinto dela e sentou-a em seu colo.
A respiração de Demi falhou enquanto ela fitava aqueles olhos cheios de dor. Sem conseguir controlar o desejo, espremeu os lábios contra os dele e lhe agarrou os cabelos por trás, suplicando perdão, absorvendo seu sabor familiar ao passear a língua em sua boca.
– Eu sinto tanto, Joseph. Não tenho como apagar o que fiz com você. Você sabe que não posso, mas eu te amo. Meu Deus, eu te amo tanto...
Joseph apertou as suas coxas e enfiou as mãos por debaixo do vestido. Agarrou a cintura de Demi e deixou escapar um gemido quando ela arqueou as costas de encontro ao seu peito. Sentiu os mamilos enrijecidos através do algodão leve e jurou que iria perder o controle ali mesmo. Lambendo sua boca com sofreguidão e tentando saborear cada gemido que ela soltava sob o toque dele, Joseph lutava contra a dúvida que atormentava sua mente. Com uma das mãos ainda acariciando a cintura de Demi, tomou os cabelos dela e os puxou com mais força em direção aos próprios lábios. Ela gemeu e remexeu os quadris, roçando com força no seu pau, que começava a levantar. A respiração entrecortada ecoava nos ouvidos dele junto com as palavras que ela lhe dissera na noite do jantar.
– Merda! – rosnou Joseph, afastando a boca de forma violenta.
Com a mão ainda emaranhada entre os cachos ondulados, ele a encarou por entre os olhos semicerrados.
Antes que Demi conseguisse recuperar o fôlego, Joseph abriu a porta e desceu do carro, deixando-a ajoelhada no banco do motorista. Ela agarrou o encosto de cabeça e o observou caminhar de um lado para outro da estrada, as mãos agarrando a cabeça.
– Merda! – repetiu ele, agachando-se para pegar algo no chão.
Com os olhos arregalados, Demi deu um salto quando Joseph atirou uma pedra no vidro traseiro, rachando-o. Sem hesitar, ele jogou outra contra a lanterna traseira. Demi ofegou. Confusa e com a raiva borbulhando em suas veias, puxou a mala por cima do banco e saiu correndo de dentro do carro, na direção oposta à de Joseph. As lágrimas escorriam livremente enquanto ela tentava puxar a bagagem pelas pedras.
– Aonde pensa que vai, Demi? – gritou Joseph, indo atrás dela.
Sem parar, ela lhe mostrou o dedo médio e continuou andando sem destino. Chegando ao lado dela, Joseph agarrou seu cotovelo e a girou, um sorriso torto nos lábios.
– Você está no meio do México, boneca.
– E você é um babaca! – sibilou ela, os olhos faiscando. Secou as lágrimas do rosto.
– Ah, tão linda mesmo quando está zangada. – ele tomou-lhe o queixo e passou o polegar debaixo do seu olho para limpar o rímel borrado. Deu um passo atrás e cruzou os braços. – E ainda adora me chamar de babaca, né?
Abrindo os braços, ela deu um passo à frente, o queixo erguido.
– O que é que você quer de mim, Joseph? Eu vim aqui para pedir desculpas. Você sabia muito bem que eu não tinha me casado e, ainda assim, não atendeu os meus telefonemas e fica dizendo que está morto? Eu é que estou morta!
– Eu estou morto, sim, porra! – Joseph chegou mais perto, enlaçou-a e a puxou em direção ao peito. Olhando fundo naqueles olhos lacrimosos, resistiu à tentação de beijá-la outra vez. – Você me matou, Demi – sussurrou ele, afastando os cabelos do rosto dela. Aproximando-se do seu ouvido, tirou a mala de sua mão, a voz um sussurro acalorado. – Eu não sabia que você tinha desistindo do casamento. Joguei o telefone fora no dia em que vim para cá e não li nenhum dos recados que a merda da empregada deixou para mim. Joguei todos eles no lixo.
Ele se virou de repente e foi para o carro.
– Joseph, espere!
Ele se deteve e balançou a cabeça, recusando-se a encará-la.
Aproximando-se lentamente, Demi engoliu em seco, a cabeça ainda mais confusa do que quando havia chegado.
– O que está tentando me dizer? – perguntou ela, dando um cuidadoso passo à frente. – Fale logo, Joseph, eu preciso saber. O que é que a gente está fazendo?
– Eu não sei o que a gente está fazendo, Demi. – ele fez uma pausa, os olhos passando dela para a autoestrada, e de volta para ela. – Eu não sei o que quero neste momento.
– Eu estraguei a nossa relação – sussurrou ela, levando a mão ao rosto enquanto fitava o chão. Tentando recuperar o fôlego que ele havia roubado dela, ergueu a cabeça. – Sim, eu estraguei a nossa relação.
Joseph a encarou por um longo momento, a mente lutando contra o que o coração queria.
– É, acho que sim – concordou ele, baixinho. Respirou fundo e se virou. – Vamos... vou levar você de volta para o hotel.
Demi sentiu-se tonta, como se o sangue tivesse todo afluído para fora da cabeça. Quando chegara ali, sabia que ele poderia rejeitá-la, mas nada poderia tê-la preparado para a solidão que a invadia. Atordoada, voltou para o carro e se acomodou no banco. Incapaz de decifrar o que sentia, Demi não conseguiu encarar Joseph quando ele deu partida no motor. Recostou a cabeça e olhou pela janela, sem enxergar nada de fato. Fez o que pôde para não explodir num ataque de histeria enquanto Joseph conduzia o carro de volta para a autoestrada.
– Como vou saber que você não vai voltar para ele? – a voz baixa e quase sumida de Joseph rompeu o silêncio. – E o que a faz achar que eu acredito que você não voltaria?
Demi virou a cabeça em direção a ele, os lábios entreabertos. O olhar de Joseph continha muita dor e foi então que ela se deu conta de quanto o magoara. Assumiu um risco calculado e estendeu a mão, roçando as pontas dos dedos pela sombra da barba. Sentiu-o enrijecer o corpo e aquilo machucou seu coração.
Baixou a mão sobre o colo e olhou para baixo.
– Eu não quero Alex, Joseph. Eu te amo – sussurrou ela, secando uma lágrima que escorrera por seu rosto.
– Você está dizendo isso agora. – ele voltou a fitar a estrada. – Você me ama enquanto estiver aqui, Demi. E quando voltar para Nova York? O que vai acontecer quando o vir outra vez?
Ela cobriu a boca com a mão e um soluço lhe subiu pela garganta.
– Eu não sei como fazer você confiar em mim se não me der uma chance, Joseph. Não sei.
Soltando o ar, Joseph agarrou o volante e não disse mais uma única palavra pelo restante da viagem.
Ao chegarem ao hotel, Demi não estava bem certa se o coração ainda batia. Não estava certa se conseguia se mexer... se conseguia respirar. No entanto, sabia que a alma se estilhaçara em um milhão de minúsculos pedaços, espalhados em algum trecho de uma autoestrada do México. Enquanto tons de rosa, roxo e laranja substituíam o sol que desaparecia no horizonte, Joseph saiu do carro e pegou a bagagem de Demi. Entregando-a ao mensageiro, enfiou a mão no bolso em busca de uma gorjeta e disse algo em espanhol.
Demi saltou e caminhou até Joseph. As palavras fluíram de sua boca, bem baixinho:
– Você tem ideia do que é querer tanto uma coisa a ponto de se dispor a mudar toda a sua vida?
Joseph esquadrinhou seu rosto.
– Está falando da maneira que eu me dispus a mudar a minha vida por você?
– É. Eu acho que nós dois estávamos dispostos a fazer isso, Joseph. Eu estava pronta para dar aquele mergulho sem nunca mais olhar para trás. Nunca mais. Estava pronta para arriscar tudo, deixar de lado o medo absurdo que eu sentia porque sabia que você e eu valíamos a pena. A gente se apaixonou em um segundo. Eu mal consegui piscar e você já tinha virado o meu mundo todo de pernas para o ar. Tive medo de que você não fosse... real. Tive medo de que ninguém conseguisse ser tão magnético como você é para mim. Isso ainda me assusta. Você ainda me assusta. – Demi balançou a cabeça. – Aí, eu vi a Gina e todos os meus medos voltaram. Meu coração quis acreditar em você, mas a minha cabeça não queria permitir isso depois que eu já me arriscara por nós. Sinto muito, Joseph. Não sei mais o que dizer a não ser que eu te amo e que preciso de você com todas as minhas forças.
Joseph pigarreou, mas não disse uma palavra.
Mais uma vez incapaz de resistir ao próprio querer, à própria necessidade, Demi se aproximou e deu um beijo suave e demorado no rosto de Joseph. Fechou os olhos enquanto o calor do corpo dele irradiava até o seu. Joseph ergueu as mãos, enterrando os dedos com força na cintura de Demi e roçando os lábios no topo de sua cabeça. Ela o ouviu respirar fundo como se quisesse se fortalecer, mas, antes que pudesse abrir os olhos, ele a soltou. Com o coração ribombando, viu-o voltar para dentro do carro e deixar o estacionamento cantando pneu.
Com a sensação de que Joseph não via a hora de se afastar, Demi abraçou a si mesma, enjoada com o que havia feito com eles. Toda a esperança se desvanecera. Atordoada, ela encarou o mensageiro, que estava à sua espera com a bagagem. Com um sorriso simpático, ele fez um aceno de cabeça e a conduziu até o lobby. Demi o seguiu, a respiração superficial enquanto tentava organizar os pensamentos para mostrar a identificação apropriada à recepcionista.
Depois de devolver o passaporte a Demi, a jovem de cabelos escuros sorriu para ela.
– Muito obrigada por escolher o Roy al Playa del Carmen, Srta. Lovato. O Rafael a acompanhará até o quarto. As suítes presidenciais se encontram num prédio separado, mas é possível caminhar até elas. – deslizou um folheto e o cartão do quarto pelo balcão de mármore cor de argila. – Qualquer informação sobre a sua suíte e sobre as amenidades oferecidas pelo resort podem ser obtidas aqui. Ou a senhorita pode ligar para o concierge a qualquer hora. Espero que aproveite a sua estadia.
– Obrigada. – Demi se virou para Rafael. – Obrigada, mas não preciso de ajuda com a bagagem.
– Tem certeza, senhorita? É um prazer.
– Tenho, sim.
Ele assentiu e Demi deixou o lobby imaculado para penetrar o ar úmido noturno. Olhando para o folheto com o número do quarto, dobrou uma esquina e seguiu um caminho de pedras arredondadas que conduzia até os fundos do resort.
Uma banda de mariachi tocando ao fundo e os risos dos veranistas zumbiram em seus ouvidos. Ia puxando a mala e tentando desviar a atenção dos casais felizes que dançavam debaixo da teia de diamantes entretecida por estrelas que se estendia acima de suas cabeças. A inveja varou Demi. Era ela que deveria estar ali, mas estragara qualquer chance. Ao chegar ao seu prédio, deslizou a chave do quarto pela porta de vidro, arrastou os pés para dentro do pequeno hall e entrou no elevador. Com o coração ansiando por Joseph, perguntou-se por que deveria pernoitar. Não pertencia àquele lugar. Seu motivo para estar ali desaparecera, se perdera para sempre de sua vida e não havia nada que pudesse fazer para dissuadi-lo.
Quando as portas do elevador se abriram, saiu para um corredor que continha seis suítes. Encontrou o seu número e passou o cartão pelo leitor da entrada. Empurrou a porta e acendeu as luzes. A dor continuou a comprimir tudo à sua volta enquanto atravessava a ampla suíte. Exausta física e mentalmente, agarrou o bambu de uma das quatro colunas da cama king-size. Tirou os sapatos e os deixou cair sobre o chão de mármore frio. Sentindo-se esvaziada de mente, corpo e alma, afundou na cama e pressionou o rosto no travesseiro, chorando.
Ele se fora. Sua outra metade, com sorriso de covinhas, fã dos Yankees, presenteador de tampinhas, se fora e não havia nada que ela não faria para voltar no tempo.
No entanto, seu tempo se esgotara.
Que burro esse Joseph, ela te quer de volta.
E esse beijo no carro? Ele não resiste hahaha
Joseph aceita ela de volta, será que eles irão voltar? Quem vai atrás de quem primeiro?
deixem seus palpites.
gostaram? até o próximo.
gostaram? até o próximo.
bjs amores <3
Não acredito que ele foi embora... Mas ele vai voltar né? Diz que sim!!! E se ela desistir e ir embora dessa vez? Meu Deus estou muito ansiosa!!! Posta logooo!!!
ResponderExcluirSurpresa e garanto que vai ser boa hahaha
ExcluirVou postar hoje, bjs lindona <3