19/02/2017

heartbeat: capítulo 29


Confissões e promessas quebradas

Demi olhou para o relógio de parede.
– Falta um minuto.
Correndo de seus assentos para formar uma fila confusa, quinze alunos de primeira série penduraram as mochilas nos ombros, tropeçando uns nos outros para ser o primeiro a chegar à porta.
– Srta. Lovato, você vai estar aqui amanhã?
Demi foi até a menina de olhos arregalados, o sorriso de covinhas esperando pacientemente pela resposta da professora. Ajoelhou-se na frente da criança.
– Pode ter certeza. A Sra. Nelson só vai voltar semana que vem. – O sorriso da menina se abriu ainda mais enquanto ela afastava as mechas louras que tinham saído da trança apertada. O sino soou e a correria começou. – Não se esqueçam de trazer a autorização para o passeio do mês que vem.
Demi observou as crianças passarem por ela. Os OKs delas soaram em meio ao burburinho de conversas que já se iniciavam, a animação iluminando cada rostinho.
Com um suspiro, Demi se levantou e foi até a mesa, juntando os papéis que precisava corrigir. Depois de colocá-los dentro da bolsa de lona, pegou um romance que tinha começado a ler na hora do almoço. Caminhou até a porta, olhou para a sala de aula uma última vez e saiu, dando de cara com Laura Fitzgerald, outra professora substituta que começara algumas semanas antes. Como ela era nova-iorquina e o que Demi chamaria de “clubólotra”, dava para prever o que estava prestes a dizer.
– Exatamente a pessoa que eu estava procurando. A gente vai sair mais tarde. – a morena alta de pernas longas sorriu, os olhos castanhos arregalados de animação. – O Webster Hall vai ter uma noite só para mulheres hoje. Quer ir? A Brooke, a Cary, a Stephanie, a Angie e a Melinda vão. Sei que é quinta-feira, mas... a gente só vive uma vez, certo? A gente tira uma soneca amanhã quando eles estiverem na biblioteca.
Demi sorriu e continuou seu caminho, passando pela secretaria.
– Não posso. Vou sair para jantar com o meu namorado. – Demi colocou o casaco. – Semana que vem?
Laura franziu a testa, até que compreendeu. Ergueu uma sobrancelha pinçada à perfeição e um sorriso curioso lhe invadiu os lábios.
– O namorado novo?
Demi assentiu e olhou o relógio com grande cerimônia. Queria comprar alguma coisa para vestir aquela noite, tinha planejado caminhar alguns quarteirões até uma pequena butique que Selena lhe mostrara quando haviam chegado a Nova York. Como ainda precisava passar no correio para deixar um formulário de mudança de endereço, sabia que teria pouco tempo para se arrumar.
– Quem sabe você não dá uma passada depois do jantar? – perguntou Laura, esperançosa, mantendo o ritmo de Demi enquanto ela cruzava as portas da frente.
– É. Talvez. Te mando uma mensagem mais tarde. – ao saírem para o ar gelado de meados de dezembro, Demi enrolou o cachecol no pescoço. – Tenho uns deveres para corrigir. Se conseguir terminar cedo, vou encontrar vocês.
– Merda – exclamou Laura, voltando-se para o prédio. – Esqueci as minhas chaves. Combinado, então. A gente vai estar lá depois das dez.
Demi acenou e viu Laura desaparecer escola adentro. Após calçar as luvas, começou a descer as escadas. O estacionamento estava quase vazio, os ônibus escolares tinham partido. Uma brisa de inverno levantou a bainha de sua saia-lápis enquanto vasculhava a bolsa em busca dos formulários que precisava entregar no correio. O coração se acelerou quando fitou o endereço de Joseph. Ainda temendo estarem avançando rápido demais, Demi ficou inebriada ao se lembrar de Joseph encarando-a, seus olhos percorrendo-lhe o rosto como se quisessem memorizar cada linha e curva. Com um amor e determinação que ela nunca tinha experimentado, ele a conduzira com facilidade pelo emaranhado de conflitos. Ao longo de conversas difíceis, a amparara, como se a impedisse de despencar de um precipício. Ele a acalmava, a amava e admirava cada falha dela. E, acima de tudo, nunca havia desistido dela. Eram dois ímãs, colados um ao outro desde o início; até mesmo quando ela ameaçara separá-los, fora Joseph quem os mantivera juntos. Demi cimentara o destino dos dois ao aparecer no México. Uma viagem da qual nunca haveria de se arrepender.
Suspirou diante daquele futuro cheio de incógnitas, mas que, ela tinha certeza, os levaria até onde os dois precisariam chegar. Então, seu estômago deu uma cambalhota quando ela ouviu a voz de Alex. Os batimentos se aceleraram, ressoando em seus ouvidos. Arquejou e arregalou os olhos. Sua vista escureceu apesar do sol brilhante de fim de tarde. Estremeceu e se voltou para a voz. Alex estava do outro lado da rua, de braços cruzados, recostado no carro, os olhos cravados nos dela. Sem pensar duas vezes, Demi sacou o telefone da bolsa.
– O que você vai fazer, Demi? Vai ligar para a polícia? – gritou ele, a voz ferroando-a como um enxame de abelhas furiosas. – Eu estou a mais de 30 metros de você e não estou nos limites da escola.
Demi não olhou para cima nem lhe respondeu. Abriu o telefone, os dedos trêmulos ao digitar 911. Quando a despachante entrou na linha, Demi ouviu Alex rir.
– Qual é a natureza da sua emergência?
– Preciso de um policial na esquina das avenidas Hamilton e Stone – gaguejou Demi. Seus olhos passaram de Alex para o estacionamento, já meio vazio.
Alex balançou a cabeça, com um sorriso malicioso, enquanto atravessava a rua com as mãos enfiadas nos bolsos das calças. O terror acorrentava Demi ao chão. O pânico se espalhou por seu estômago.
– Estou no estacionamento da Brody Elementary School. Tenho uma ordem de restrição contra o meu ex e ele está aqui.
– Qual é o seu nome? – indagou a atendente. Seu tom de voz era tão insanamente calmo que aquilo a assustou.
Olhando para Alex, Demi engoliu em seco, as palavras presas na garganta.
– Senhorita? Ainda está aí? Preciso do seu nome.
A cada respiração irregular, vinham à tona as ameaças sussurradas por Alex, pulsando em seus pensamentos: Serei obrigado a machucar vocês dois.
Vocês dois...
Seu instinto natural de fugir se transformou. Fechando o telefone, Demi deixou para trás o pavor e o medo borbulhou até virar raiva. Tinha pureza, franqueza e bondade ao lado de Joseph e, assim, compreendia ainda melhor a maldade de Alex. Agora tinha uma felicidade além da compreensão e odiava a infelicidade completa a que se permitira um dia. Agora tinha prazer e já não precisava tolerar a dor. Apesar da sensação de não poder respirar e do nervosismo que arrepiava suas entranhas, foi tomada pelo desejo de não mais permanecer sua prisioneira ou de deixar que ele machucasse Joseph. Deu um passo à frente, as pernas trêmulas levando-a direto até Alex.
Parado um pouco depois do alambrado que cercava a escola, Alex inclinou a cabeça para o lado. Abriu um sorriso de tubarão, com todos os dentes expostos.
– Vou repetir para ver se você entende desta vez. Eu não estou nos limites da escola. Estou na calçada. Posso não ter uma trena comigo, mas sou bom de matemática. Ainda estou a mais de 30 metros de distância.
– A polícia está a caminho, Alex. – a intenção era que as palavras soassem firmes, mas não foi muito bem-sucedida.
– Eu a amava e você conseguiu me fazer odiá-la – rosnou ele, os olhos injetados de veneno. – Como pôde fazer isso comigo? Eu cuidei de você para ser envergonhado daquele jeito, porra?
– Você acha que cuidou de mim? – chocada, Demi continuou, o tom ainda mais áspero: – Sabe de uma coisa? Eu retiro o que disse. Por um tempo, você tinha me convencido de que estava tomando conta de mim, mas você me enganou. Você sabia o que eu tinha passado na infância. O que tinha visto. Você prometeu que nunca iria se transformar em um daqueles homens, mas se transformou. Eu só não percebi logo. Você usou a morte da minha mãe contra mim. Sabia que eu estava vulnerável e se aproveitou disso. Isso não é amor. É doentio, deturpado. Ah, um pouquinho de sabedoria para você, 
Alex: amar não é ficar envergonhado com o que aconteceu. Amar é ficar com o coração partido pela forma como as coisas terminaram entre a gente.
– Você acha que eu não estou magoado, caralho? – ele mencionou dar um passo à frente, mas se deteve.
– Não. Eu não acho que você esteja magoado. Acho que o seu ego está ferido. Você nunca me amou. Nunca.
Com os punhos cerrados ao lado do corpo, ele trincou os dentes.
– Eu te amei, sim, mas você deu para o meu amigo.
Demi sentiu aquele pavor tão familiar se infiltrando outra vez. Lutou contra ele, ainda encarando o homem que significara tudo para ela antes de arruinar seu relacionamento.
– E, para seu governo – acrescentou ele. – Eu não usei a morte da sua mãe contra você. Você desmoronou e eu não soube lidar com aquilo. Fiz o melhor que pude.
– E você achou que eu não iria desmoronar? – Demi sufocou um soluço. – Ela era minha mãe, Alex! Minha mãe!
Alex deu de ombros e soltou uma risada perversa.
– Seu relacionamento com ela já era tenso. Dá um tempo!
Os olhos de Demi se arregalaram, o pulso acelerando, descontrolado.
– O que isso tem a ver? Tensa ou não, era a única relação que eu conhecia. – Demi parou, incapaz de acreditar no monstro que ele tinha conseguido ocultar por tanto tempo debaixo de uma camuflagem de bondade. – Você é falso. Um camaleão. Onde, nesse seu coração de pedra, você conseguiu evocar a capacidade de fazer o que fez por ela antes de morrer? Me diga. Porque eu não consigo sequer imaginar.
– Nem eu. – deu de ombros outra vez. Os olhos obscurecidos olhavam dentro dos dela. – Maluca do jeito que ela era, não merecia a minha ajuda. Não admira que você tenha desistido logo antes de ela morrer. Até você sabia o desastre que ela era. Não pôde nem ajudá-la. Ou será que eu devia dizer que você não quis ajudá-la?
Mesmo sabendo que ele estava fazendo aquilo só para tirá-la do sério, o mundo de Demi parou e a raiva ferveu em suas veias.
– Vá para o inferno – sibilou ela. – Você foi mesmo talhado da carne cruel da sua mãe. Pelo visto, gostou da cadeia, porque é para lá que vai voltar. Desta vez, vai ser por mais do que alguns dias. Eu só queria que a arrastassem com você por ter dado à luz alguém tão babaca.
– Vá se foder, piranha! – rosnou ele. – Eu não vou para a cadeia. Conheço os meus direitos e limites. – balançou sobre os calcanhares muito calmamente. – Mais uma vez, eu estou na calçada e não há porra nenhuma que você possa fazer a respeito, Demi. Porra nenhuma. – ele olhou para um grupo de adolescentes que atravessava a rua e voltou a encará-la, a malícia em seu olhar cravando-a como um alvo. – Isto é... a menos que você queira ligar para o Joseph e contar que eu estou aqui. – fazendo uma pausa, ele balançou a cabeça e riu. – Isso, sim, seria divertido. Eu volto para a cadeia e desfruto de cada segundo sabendo que você teve de me ver enchê-lo de porrada aqui nesta calçada. Isso valeria algumas noites da minha liberdade.
Como se um interruptor tivesse sido ligado em sua cabeça, algo dentro dela mudou, algo que palavras não poderiam descrever. Segurou a bolsa de lona com força, fingindo estar impassível.
– Isso mesmo, Alex, faça ameaças vazias. É uma coisa na qual você sempre foi bom. – ela ergueu uma das sobrancelhas, fingindo desinteresse. – Você mal consegue fazer alguém sangrar. Eu, melhor do que qualquer um, saberia disso. Não é mesmo? – Demi esfregou o ponto do lábio onde ele a atingira. – Só para você saber, mal pinicou. Meus alunos da primeira série são bem melhores de soco.
– Sua vagabunda cretina! – vociferou ele, as palavras cuspidas como ácido. Tomando cuidado de permanecer na calçada, inclinou a cabeça e cuspiu de verdade nela. A saliva não a alcançou, mas Demi tampouco se esquivou. Permaneceu imóvel como uma pedra. A respiração estava irregular, o coração batendo a toda. Uma voz masculina chamou-lhe a atenção. Recuando, viu um policial saltar de uma viatura, a descontração de seu caminhar era irritante.
Com as mãos nos quadris e vincos profundos no rosto, perguntou:
– O que está acontecendo aqui?
Demi enfiou a mão na bolsa, retirando os documentos.
– Eu tenho uma ordem de restrição...
– Nada – respondeu Alex. – Ela está desperdiçando o seu tempo. – ele fuzilou Demi com os olhos e puxou a carteira do bolso traseiro. – Tome o meu cartão do sindicato. – passou-o pela cerca. – Meu tio é detetive da Narcóticos no norte do Brooklyn, em Bed-Stuy, há vinte anos.
O oficial examinou o cartão. Assentiu e abriu um sorriso.
– Olhe só para isso. – deslizou o cartão do sindicato policial. – Aposto que ele conhece Anthony Armenio.
– Eu cresci com o Anthony Jr. e com a Anna. – Alex olhou fundo nos olhos de Demi, a expressão gélida, enquanto enfiava o cartão na carteira. – Meu tio costumava me trazer até...
– Com licença – interrompeu Demi, colocando os documentos na mão do policial. – Detesto interromper essa simpática conversa, mas ele violou uma ordem de restrição do tribunal.
– Não violei coisa nenhuma – rebateu Alex, com um sorriso presunçoso. 
Impaciente, Demi virou a cabeça de súbito em direção a Alex.
– Violou, sim! Não é para você estar aqui, porra!
– Ei, ei – disse o policial, encarando Demi com severidade. – Calma.
– Não vou me acalmar – devolveu Demi, olhando de relance para seu distintivo. – É a sua função mantê-lo longe de mim, oficial McManus. – ela deu um passo atrás e cruzou os braços. – Faça-me o favor de cumprir a função exigida pelos impostos que eu pago e olhe a ordem judicial.
Arqueando a sobrancelha, o policial coçou o queixo. A irritação perpassou as suas feições, mas ele desviou o olhar de Demi. Folheou os documentos sem a menor pressa.
– Ele não violou esta ordem, Srta. Lovato. – devolveu os papéis a ela. – Até onde me diz respeito, no entanto, a senhorita talvez a tenha violado.
– O quê? – questionou Demi, com os olhos arregalados. – Como foi que eu violei a ordem? Ele apareceu no meu local de trabalho.
– Não, ele não fez isso – corrigiu o policial, sacando um bloquinho e rabiscando nele. Demi olhou para Alex, que sorriu, satisfeito. – Aqui diz que o Sr. Pettyfer não pode pisar nos limites da Brody Elementary School – continuou o oficial, os cabelos brancos esvoaçando no ar gelado. Ele rasgou o papel e lhe entregou. – Até onde posso ver, não foi o que ele fez. Está além dos limites da propriedade, numa calçada pública. Mas o que estou querendo saber é por que a senhorita está tão perto do alambrado. A menos que o Sr. Pettyfer tenha algum tipo de poder mágico que a fez atravessar o estacionamento flutuando, foi você quem se aproximou dele, de livre e espontânea vontade. – Demi abriu a boca, mas o policial a cortou: – Esse papel que está segurando é um aviso. Mais um desses e sua ordem de restrição será revogada. – o policial se dirigiu à viatura, onde se acomodou, baixou a janela e sorriu. – Sr. Pettyfer, vou ficar aqui até o senhor sair, mas estou morrendo de fome, então seja rápido.
Sorrindo, Alex assentiu e se voltou para Demi. Enfiou as mãos nos bolsos e foi recuando, lentamente.
– Eu nunca faço ameaças vazias, Demi – sussurrou. – Lembre-se disso.
Enquanto Alex dava meia-volta, atravessando a rua e entrando em seu Mercedes, o medo do qual Demi vinha tentando se livrar pinicou sua pele. Enraizou-se dentro dela, ainda mais fundo do que antes. Apertando o papel que ela tão facilmente imaginara significar sua proteção, Demi observou Alex e a viatura se afastarem. O casulo do seu passado se rompeu bem diante de seus olhos. No entanto, nenhuma linda borboleta surgiu. Em vez disso, uma mulher abalada emocionalmente se viu sozinha naquele estacionamento, a ideia delirante de que ficaria bem transformada num borrão distante. Nunca se livraria do caos imposto por Alex. Uma máquina tinha substituído seu coração em algum lugar ao longo do caminho e ela soube, naquele exato momento, que nunca estaria completamente a salvo dele.
– Ei, você não pode entrar aqui desse jeito. – Selena se levantou do sofá e colocou as mãos na cintura, abrindo um sorriso brincalhão. – Você não é mais residente e eu acabei de fazer sexo bem no meio da sala.
– Eu me mudei há três dias – Demi a encarou com uma das sobrancelhas erguidas – e você está fazendo sexo sozinha, completamente vestida?
Selena encolheu os ombros.
– Eu dou o meu jeito.
Demi jogou os pertences sobre a mesa do hall de entrada. Despiu o casaco, entrou na cozinha e pegou uma lata de refrigerante da geladeira.
– Você nem imagina o que me aconteceu – disse, sentando-se à mesa.
Selena estreitou os olhos e a examinou por um momento.
– Certo, eu já vi essa expressão. Faça-me o favor de não me dizer que você e o Joseph já estão tendo problemas. – ela se deixou cair numa cadeira na frente de Demi. – Se for isso, eu juro que desisto dos dois. Além do mais, vocês já combinaram de passar o Natal na casa da sua irmã. Não vai ferrar com as festas de fim de ano, vai?
– Nós estamos bem. – Demi balançou a cabeça e seus nervos voltaram a ficar à flor da pele. – O Alex passou pela escola hoje.
– Você ligou para a polícia, né? – perguntou Selena, impaciente. – Ele voltou para a cadeia?
– Não, não voltou. Eu liguei, sim, para a polícia, e o babaca que deu as caras disse que eu estava errada, não o Alex.
Pela primeira vez na vida, Selena pareceu ficar quase sem fala.
– Como assim? Como você podia estar errada? Isso não faz o menor sentido, caralho. A ordem judicial deve proteger você, não ele.
Demi suspirou.
– Eu fui até onde ele estava parado, atrás do alambrado.
Selena arregalou os olhos.
– Por que você se aproximou dele? Você sabe do que ele é capaz. Se o canalha apareceu na escola, quem sabe o que estava planejando?
– Talvez tenha sido exatamente isso, Selena. Talvez, por um segundo, eu não quisesse ter medo dele, do que ele poderia fazer comigo.
Selena bufou e cruzou os braços. Recostando-se, olhou pela janela da cozinha e enfiou uma mecha de cabelos louros atrás da orelha.
– Você tem que contar para o Joseph.
– Eu sei. – o estômago de Demi deu uma cambalhota, mas esconder a verdade de Joseph já não era uma opção. – Tínhamos combinado de sair para jantar esta noite, mas mandei uma mensagem de texto dizendo que não estava me sentindo bem. Vou contar para ele quando chegar em casa.
Com um sorriso cansado, Selena tomou a mão de Demi.
– Acho que seria bom você comprar umas garrafas de vinho no caminho. Talvez ajude a acalmar os ânimos.
Exasperada, Demi se levantou.
– Ah, claro, vai melhorar muito a situação se o Joseph ficar bêbado.
– Eu não estava falando dele, estava falando de você. – Selena ficou de pé e deu de ombros. – Você é que vai precisar de umas taças. Ele vai pirar, mas tenho certeza de que você sabe disso.
Demi sabia. A ansiedade tinha tomado conta dela, mas, antes que pudesse pensar demais a respeito do que estava prestes a enfrentar, um movimento rápido no corredor chamou sua atenção.
– O Justin está aqui?
Selena mordeu o lábio e balançou a cabeça.
– O Trevor?
Permanecendo em silêncio, Selena mais uma vez negou e sorriu.
Demi franziu a testa mais ou menos ao mesmo tempo que um homem alto e magro entrou na sala vestindo pouco mais do que a toalha rosa de altíssima qualidade de Selena.
– Ih, merda. Não sabia que tinha alguém aqui – disse o visitante sem nome, passando a mão rude pelos cabelos castanho-claros e úmidos. O homem fez menção de se virar, mas Selena se aproximou dele rapidamente. Ficou nas pontas dos pés, deu um beijo longo e gostoso em seus lábios e entrelaçou o braço no dele.
Arrastando o Sr. toalha rosa felpuda até a cozinha, Selena sorriu.
– Demi, este é o Jude. Jude, essa é a minha melhor amiga, a Demi.
Demi apertou a mão de Jude.
– É... Oi. Prazer em conhecê-lo – disse Demi, tentando evitar que o cumprimento soasse como uma pergunta.
Com um sorriso que realçava os dentes muito brancos e os olhos verde-claros, Jude enfiou o polegar entre a toalha e o corpo, tentando apertá-la mais na cintura.
– É, você também. Desculpe, imaginei que, na primeira vez que a gente se visse, eu estaria vestido.
– Por quê? – perguntou Selena, enfiando-se embaixo do braço dele. Correu a mão pelo abdômen definido de Jude. – Eu gosto de exibir isto aqui.
Jude sorriu, puxando Selena para perto e lhe dando um beijo longo e caprichado.
– Tenho umas coisas para fazer – comentou Demi o desespero de sair dali aumentando a cada segundo. – Foi bom conhecer você, Jude. Tenho certeza de que a gente vai se ver por aí.
– Beleza. Sem dúvida – respondeu ele, interrompendo o beijo.
Ele desceu o corredor, deixando Demi e Selena sozinhas.
– Bem, o que você achou? Agora eu também tenho o meu colírio, não é?
Demi vestiu o casaco e pendurou a bolsa no ombro.
– Onde você o encontrou e o que aconteceu com o Justin?
Selena deu de ombros.
– A família dele meio que não apoiava nós dois juntos – ela acompanhou Demi até a porta, com os olhos brilhantes. – O Jude foi à galeria atrás de uma obra e, de alguma forma, eu o convenci a me deixar pintá-lo... nu.
Demi riu, cobrindo a boca.
– Você pintou um retrato dele pelado?
– Não, amiga. – Selena atirou o braço sobre o ombro de Demi o sorriso tão perverso quanto o do próprio demônio. – Eu pintei o corpo dele enquanto ele estava nu.
– Você acaba comigo, sabia? – Demi a puxou para um abraço. – É sério, eu adoro você.
– Gosto mais de como o Jude acaba comigo. – Selena soltou Demi e lhe deu uma cotovelada nas costelas. – Entendeu?
– Sim, é claro que entendi, maluca.
Selena deu um sorriso satisfeito. Abrindo a porta, ficou séria.
– Me ligue esta noite e me conte como foram as coisas, está bem?
Demi assentiu, voltando à realidade.
– Pode deixar.
Fitou Selena por um instante antes de contemplar seu primeiro lar em Nova York.
– Eu te amo, Sel.
– Eu também te amo.


***

Ao entrar no corredor, deixando o passado para trás, Demi se sentiu invadida por uma onda de insegurança quanto ao futuro. Mas, ainda assim, sabia que tinha de enfrentá-lo. Não mais se escondendo e começando a mudar aos poucos. Nada a acorrentaria a si... a não ser ela mesma. E isso... isso ela não permitiria.
Demi abriu a porta da cobertura. O aroma de pão de alho enchia o ar. Joseph entrou em seu campo de visão e o nervosismo percorreu seus braços, mas desapareceu quando ele andou em sua direção, o sorriso lento e deliciosamente sexy.
Ele a olhou preguiçosamente enquanto a puxava para os próprios braços.
– Você está se sentindo melhor ou vai precisar que eu brinque de médico esta noite? – ele desceu as mãos até sua cintura. – Embora isso possa ser muito gratificante para nós dois, eu prefiro que você esteja bem.
Demi sentiu borboletas no estômago.
– Estou certa de que seria mais do que gratificante – atiçou ela, os olhos concentrados na boca que desejava tão desesperadamente.
Ficou nas pontas dos pés e cedeu à tentação. Concentrou-se no presente enquanto os lábios dele derretiam.
– Hum, pelo visto você está, sim, se sentindo melhor – falou ele, empurrando-a para a sala de estar. Com os lábios ainda grudados aos dela, tirou a bolsa do ombro e a atirou sobre uma caixa de papelão que estava atrás do sofá. – Mas não pense que vai se safar com tanta facilidade. Tenho todo o equipamentonecessário para um médico no meu armário, inclusive um estetoscópio e meias três-quartos brancas para essas pernocas lindas.
Demi atirou a cabeça para trás, a curiosidade invadindo seus olhos.
– Sério?
– Não, mas posso dar um pulo correndo na Kiki de Montparnasse, aquela sex shop da Greene Street, para escolher algo bem sacaninha, se você insistir.
– Você acabou de falar francês?
– Sim... na verdade, falo francês fluentemente. Eu tenho uma língua muito talentosa. – ele roçou os lábios, provocando-a. – Mas isso não é algo que você já não saiba. Adoro a ideia de você com meias três-quartos brancas, embora tenha de admitir que prefiro você de preto.
– E eu aqui pensando que você me preferia nua... – mais uma risadinha e Joseph grunhiu. Demi inclinou a cabeça enquanto ele passava os lábios pelo pescoço dela e notou que a água na panela já borbulhava. – Está fervendo – disse com a voz rouca.
A sensação da boca de Joseph acariciando sua clavícula lhe dava ondas de prazer.
– Tenho certeza de que está. Eu sempre tive esse efeito sobre você. – a voz dele vibrava sobre a pele de Demi enquanto ele começava a desabotoar sua blusa. – Lembre que eu faço coisas com o seu corpo que ninguém mais consegue fazer.
Embora estivesse completamente excitada, Demi não pôde deixar de cair na gargalhada. Joseph se mostrou adoravelmente confuso, mas, naquele momento, todo o nervosismo a invadiu de uma só vez e ela não conseguiu parar.
Joseph a encarou com uma expressão inquisitiva e se afastou enquanto ela continuava a crise de histeria.
– O que foi? – sua boca se curvou num meio sorriso. – Não sou nenhum comediante, mas bem que achei as minhas falas divertidas.
Demi pôs a mão no seu peito.
– Eu estava falando da água no fogo. Você acha mesmo que eu usaria a palavra fervendo para descrever o que você faz com o meu corpo? 
Joseph piscou, aturdido.
– Está tentando fazer com que eu me sinta melhor? Se estiver, fracassou miseravelmente.
Brincalhona, Demi fez beicinho, passando os dedos pelos cabelos dele.
– Ora, será que eu feri o ego do meu homem?
– De diversas maneiras – admitiu ele. Como fogo, a voracidade em suas feições a devorou. Ele se aproximou do seu ouvido e sussurrou: – Mas não se preocupe: minha vingança será a sua maravilhosa ruína.
A promessa deslizou por Demi como seda. Um calafrio a arrepiou enquanto ele passava a boca, suave como uma pluma, por seu queixo, os músculos rijos de desejo. Passando a mão por sua nuca, Joseph a beijou avidamente. Deixando-a quase sem fôlego, enredou os dedos em seus cabelos e se afastou com a mesma rapidez. Enquanto tentava se recuperar do delicioso ataque mais do que especializado, Demi o ouviu sufocar uma risada. Ele entrou na cozinha. Um tanto atordoada, ela se deixou cair no sofá de couro, tirou os sapatos e os largou no chão de mármore.
– Demi! – chamou Joseph.
Ainda tonta, ela engoliu em seco e respirou fundo.
– Joseph.
– Eu acabo de fazer o seu corpo ferver, doçura – frisou ele, erguendo uma das sobrancelhas e sorrindo maliciosamente. – Acha que seria seguro afirmar que vou conseguir os mesmos resultados quando o seu corpo nu estiver preso debaixo do meu esta noite?
Sabendo que Joseph não era menos do que fascinante, estimulante, poderoso e passível de consumi-la por inteiro, Demi se viu simplesmente assentindo. As palavras dele a deixaram muda. Ele deu aquele sorriso sexy que a pegara de surpresa desde o primeiro dia e se dirigiu à cozinha. Abriu um pacote de macarrão e jogou-o na panela cheia d’água. O vapor subiu e espiralou à sua volta. Ele acendeu outra boca, passou um filete de azeite em uma panela e colocou dentro pedaços de peito de frango cobertos com farinha. Depois de lavar as mãos, pegou dois pratos no armário. Recostando-se, Demi observou a facilidade com que ele se movia na cozinha. Sabia exatamente o que estava fazendo. Um verdadeiro chef, além de gostoso e sarado.
Considerando que passava o dia todo atrás de uma mesa, não havia outra forma de aquele corpo se manter tão magnificamente em forma. Os olhos percorreram os jeans desbotados pendendo perfeitamente da cintura delgada. Observou como os músculos se flexionavam por baixo da camiseta preta a cada movimento. Agia de maneira casual apesar de emanar tanto poder. Perguntou-se se ele estaria ciente disso.
Como todo o seu conhecimento culinário não passava de um macarrão instantâneo, Demi sabia que precisaria tirar o atraso no departamento gastronômico. Considerando que Joseph tinha um chef particular para preparar a maior parte das refeições, achava divertido que ele soubesse tudo aquilo. No entanto, aquela não era a primeira vez que se admirava de algo que Joseph fazia ou dizia. Uma cálida sensação de conforto se espalhou por ela. Alex nunca tinha cozinhado para eles. Sempre saíam para jantar. Não que Demi não gostasse de ser mimada até certo ponto, mas amava os pequenos gestos de Joseph. De alguma forma, enquanto o observava retirar uma garrafa de vinho branco da geladeira e servir uma taça para cada um, sabia que ele ia preencher sua vida com inúmeras pequenas coisas que equivaleriam a mais do que qualquer outro homem jamais poderia lhe dar. Por um breve segundo, ela sorriu. Em seguida, a realidade do que a noite reservava voltou a atacar seus nervos. 
Demi se encolheu, lamentando ter mentido para ele. Engoliu em seco, respirou fundo e ficou de pé. Passou à cozinha e se postou atrás de Joseph, no fogão. Abraçou-o, ficou na ponta dos pés e pousou o queixo em seu ombro.
– Eu não sabia que você cozinhava. Você fica cada vez mais e mais sexy.
Ele riu.
– Espere aí. Eu pensei que fosse shmexy.
Ele espetou um macarrão da panela com um garfo e se virou para dá-lo a Demi, que o aceitou.
– Shmexy? – perguntou ela, mastigando, claramente confusa. – É essa a sua versão da palavra?
Virando-se, Joseph arqueou uma das sobrancelhas, o olhar divertido.
– Não, boneca. É a sua versão quando você bebe demais. – ele lhe sapecou um beijo no topo da cabeça. – E eu acho isso muito shmexy.
Ela o encarou, sorrindo.
– Não tenho a menor ideia do que você está falando, mas vou concordar.
– Mulher esperta. Vá se sentar, shmexy. Deve estar tudo pronto daqui a um minuto.
– Shmexy. – Demi riu. – Bem, no que posso ajudá-lo, Sr. Shmexy?
– Coloque isto na mesa.
Joseph pegou um cesto de pão de alho da bancada.
– Só isso? – ela obedeceu. – Não há nada mais que eu possa fazer por você?
Sorrindo, Joseph se encostou na bancada e cruzou os braços.
– Como é que você consegue fazer uma pergunta tão simples e inocente soar tão sexy?
Com seu sorriso peculiar, Demi pôs as mãos nos quadris.
– Talvez seja um dom. Um presente para você.
Joseph mordeu o lábio e foi até ela, sussurrando em seu ouvido: – Se é um presente, posso desembrulhar, então?
Demi respirou, trêmula, ao sentir sua voz suave tão próxima.
– A gente tem que comer primeiro.
– Viu só? Você acaba de fazer a mesma coisa, Srta. Lovato. – ele massageou sua cabeça, os olhos vidrados com um desejo inconfundível. – Você sabe como eu adoro... sobremesa.
O calor se irradiou pelo corpo de Demi, indo se aninhar no seu estômago. Céus, ele era irresistível. Soltando o ar que vinha prendendo, ela balançou a cabeça.
– O senhor precisa aprender a se controlar.
Tentando ela mesma exercer o autocontrole, porém mais preocupada com a guinada dramática que a conversa estava prestes a dar, Demi se afastou e se acomodou na cadeira.
Meio chocado, Joseph a observou por um segundo e, em seguida, se voltou para o fogão.
– Você me priva de qualquer controle que eu já tive um dia. – ele escorreu a massa e espalhou um pouco de molho de tomate sobre ela. – Mas você já sabe disso.
A verdade. Lá estava ela, esfregada bem em sua cara. Demi sabia que ele não conseguia se controlar quando ela estava por perto e, embora se sentisse da mesma forma, naquele momento, não foi capaz de suportar o fato de que Joseph a desejava. Não conseguia suportar a si mesma. A pergunta açoitou o ar antes mesmo que ela pensasse duas vezes:
– Por quê, Joseph? – ela ergueu os olhos da mesa. – Por que você me escolheu? Você pode ter a mulher que quiser. Por que eu?
Virando-se, Joseph franziu a testa.
– Por que eu não iria querer você, Demi?
Ela deu de ombros de maneira casual.
– Porque não há absolutamente nada de especial em mim. Eu sou fraca de tantas maneiras e você... você é forte. – Demi se remexeu na cadeira. – Nada em mim se encaixa no que você precisa ou merece.
Joseph ficou perfeitamente imóvel, o olhar inabalável.
– Por que está dizendo tudo isso?
– Eu consigo listar mais razões pelas quais você não deveria me querer.
Ela deu de ombros.
– Não quero que você liste mais nenhuma razão idiota pela qual acha que eu não devia querer você. – ele se aproximou, sem saber de onde estava vindo aquilo tudo. Pegando a mão de Demi, gentilmente a levantou da cadeira. Seus olhos dançaram pelo rosto dela. – Você quer que eu diga por que eu preciso de você, Demi? Porque é isso que você é para mim. Você é uma necessidade. Não um querer. – com os olhos marejados e os lábios trêmulos, Demi balançou a cabeça e mencionou falar, mas Joseph tomou o seu rosto entre as mãos e puxou-o para mais perto. – Não tenho certeza se algum dia você vai entender, mas eu já disse que preciso de você mais do que da minha próxima respiração. Desde o dia em que nos conhecemos, do segundo em que pus os olhos em você, nunca mais houve ninguém que merecesse ocupar um centímetro de espaço na minha mente. – ele acariciou os lábios dela com os polegares, beijando-a na testa. – Deus me criou para amar você. Me deixe curar as feridas do seu coração. Eu sei que esta mulher machucada não existia antes do Alex. Eu me recuso a acreditar nisso.
O amor vencendo as mentiras. A confiança vencendo a desconfiança. Com o coração se desfazendo, Demi respirou fundo.
– Eu menti para você – confessou ela, com a voz falha, enxugando as lágrimas.
Não deixando transparecer o desconforto, Joseph afastou lentamente as mãos do rosto de Demi.
– Espere aí... mentiu sobre o quê?
Seus olhos fuzilaram Demi, fazendo-a recuar. Sem conseguir respirar, a mente num turbilhão, ela foi atingida pela náusea com a força de um soco. Cobrindo a boca com a mão, saiu correndo em direção ao banheiro, quase tropeçando nas caixas de sua mudança, espalhadas por toda a cobertura.
– Demi! – chamou Joseph, indo atrás dela.
Ela bateu a porta e a trancou. Debruçada sobre a privada, sentia as ânsias de vômito indo e vindo. Estava há horas com o estômago vazio, então nada saía.
– Demi, me deixe entrar.
Mais uma vez, a ânsia deu uma guinada violenta em seu estômago. Ela balançou a cabeça e olhou dentro do vaso.
– Eu... eu preciso de um segundo, Joseph.
– Não, Demi – retrucou ele, sacudindo a maçaneta. – Abra a porta. Agora!
Mesmo detectando a preocupação em sua voz, ela também percebeu o tom de autoridade e não achou impossível que Joseph colocasse a porta abaixo se ela não obedecesse. Levantou-se. Com tantas emoções invadindo-a ao mesmo tempo, sentia-se completamente perdida. Escancarou a porta com os olhos vidrados. As palavras jorraram antes mesmo que Joseph pudesse dizer qualquer coisa:
– Sabia que uma em cada três mulheres acaba num relacionamento mental ou fisicamente abusivo?
Joseph a fitou em silêncio. Seus músculos enrijeceram imediatamente enquanto a adrenalina corria por suas veias.
– Mas a parte engraçada é que as coisas não começam assim. Tudo começa maravilhoso, bem sólido. Aí, pouco a pouco, a relação muda e você se pergunta se está ficando louca. Você questiona a própria sanidade. Num minuto, a pessoa que você ama é gentil e atenciosa e, no seguinte, pira. Nas primeiras vezes que isso acontece, você deixa pra lá, achando que a pessoa teve um dia ruim, mas depois aquilo se transforma num padrão de comportamento. A vítima de abuso não está alheia a ele, mas passa a se culpar.
Com o corpo todo em estado de alerta, Joseph tensionou o maxilar e roçou os dedos pelas faces dela, olhando fundo em seus olhos.
– O Alex bateu em você? – sussurrou ele, controlando o tom de voz.
Tremendo, Demi engoliu em seco.
– Você sabia que o abuso mental pode provocar depressão, ansiedade, desamparo, baixa autoestima e desespero? Mas isso não importa, porque os seus sentimentos não contam e você não percebe que nunca vão contar. Às vezes, o autor do abuso faz você pensar que contam. Então, você mais uma vez acredita que quem devia estar num manicômio é você, não ele. Mas normalmente as suas necessidades e os seus sentimentos... se você tiver coragem de expressá-los, e a maioria das mulheres não tem... são ignorados, ridicularizados, minimizados e desconsiderados. Dizem que você é exigente demais ou que há algo errado com você. Basicamente, negam o seu direito de sentir... qualquer coisa.
Chorando histericamente, Demi andou até a sala e foi seguida por Joseph. Sentou-se no sofá e o encarou.
– Às vezes você se afasta dos amigos e das pessoas que ama. Às vezes nem permitem que você tenha amigos. Apesar de você ter dado à outra pessoa o seu coração e a sua alma, o comportamento dela se torna tão errático que você tem a sensação de caminhar num campo minado. Mas você continua a amá-la porque ela não era assim quando você a conheceu, então fica óbvio que a culpa é sua. Então... e eis aqui a parte mais histérica, e é incrível como tudo se torna confuso... você começa a inventar desculpas para os comportamentos imperdoáveis do outro na tentativa de se convencer de que é normal. Num esforço real e insano de se convencer de que foi você que a transformou no monstro que ela se tornou.
Com o coração aos saltos, Joseph se ajoelhou na frente dela. Uma eletricidade carregada de raiva se irradiou por seus nervos quando tomou as mãos de Demi, entrelaçando os dedos.
– Pelo amor de Deus, Demi, me conte o que ele fez com você.
Em prantos, Demi começou a rir.
– Espere, Joseph, escute só a melhor parte. Duas mulheres de uma organização de combate à violência doméstica me disseram que eu permiti que isso acontecesse porque sou “um produto do meu ambiente”. Sério, dava para ser mais clichê? Eu já contei para você sobre os meus pais? Já disse que, depois que o meu pai nos deixou, minha mãe continuou a correr atrás de babacas? 
Querendo arrancar a resposta de dentro dela, Joseph negou. Demi nunca tinha se aberto daquela forma e ele sabia que precisava deixá-la falar. Apertou as suas mãos enquanto o peito se comprimia a cada respiração irregular dela.
– Pois era o que ela fazia. Arrumava um atrás do outro como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Eu entendo que ser mãe solteira era difícil para ela. Entendo mesmo. Mas ela definitivamente tinha um talento especial para pegar o bêbado da vizinhança no bar mais próximo para ajudá-la a pagar o aluguel do mês seguinte. Eles ajudavam por um tempo até darem no pé como o meu pai fez, mas isso nunca acontecia sem um preço. Ela os deixava esbofeteá-la se o jantar não estivesse pronto na hora que eles chegassem ou se a casa não estivesse limpa até eles tirarem as botas imundas. Cada um tinha uma cara, mas todos vinham do mesmo molde. Cada um deles foi talhado do mesmo pedaço de cera abusivo.
Demi apertou as mãos de Joseph.
– Então, essas mulheres me disseram que testemunhar a fraqueza da minha mãe levou à minha própria fraqueza, assim como o fato de ela assistir ao meu avô bater na minha avó foi o que levou à dela. Falaram que eu fui criada para achar que era certo um homem fazer isso com uma mulher. Que a autoestima vinha de se submeter às necessidades de um homem a qualquer custo. Mesmo que isso significasse ter que me rebaixar vez após outra.
Ela fez uma pausa e prosseguiu:
– Mas acontece que nem sempre os filhos puxam aos pais. Cinquenta por cento das crianças que crescem assistindo a uma situação dessas não seguirão os passos dos pais, quer seja um menino que veja o pai bater na mãe ou uma menina que veja a mãe apanhar. Só que eu puxei à minha mãe, Joseph. Segui o mesmo caminho. – Demi olhou para as mãos entrelaçadas com as de Joseph. Os dois se encararam, os olhos igualmente doloridos, e ela teve imensa dificuldade em pronunciar as palavras. – Elas também disseram isso porque eu briguei com o Alex no dia do nosso casamento e eu enfim rompi o ciclo.
E lá estava a pergunta respondida. A pergunta cuja resposta Joseph já sabia.
Seu estômago mergulhou num poço sem fundo. Pálido, ele se levantou devagar, lâminas de ira dilacerando o seu peito. Sangue. Queria o sangue de Alex e o queria naquele instante.
Demi se pôs de pé, as pernas trêmulas.
– Não. Por favor, não – sussurrou, olhando os olhos cheios de veneno. Levando as mãos até o seu rosto, ela tremia junto com ele. – Eu estou aqui com você, Joseph, e estou bem. – o silêncio se tornou sufocante enquanto Joseph tentava ficar inexpressivo. Mas não estava funcionando. Dava para perceber que ele estava prestes a explodir. – Eu não lhe contei porque não queria que você se machucasse. Não queria que você se metesse em alguma enrascada ou que passasse por mais nada além do que já passou. Por favor, não me odeie por ter mentido para você. Por favor, não.
Joseph soubera que ela estava mentindo naquela noite. Algo muito profundo em suas entranhas lhe dissera isso. No entanto, outra parte o enganara, fazendo-o acreditar nela. Joseph a olhou, confuso, uma carranca maculando seu rosto.
– Eu nunca poderia odiar você, Demi. Acredita em mim?
Demi assentiu, as lágrimas escorrendo.
– E você está preocupada comigo?
– Estou – admitiu ela debilmente. – Preciso proteger você. Fui eu que causei tudo isso.
– Me proteger depois do que ele fez com você? – questionou ele, a exasperação cortando o ar. Joseph levou as mãos ao seu rosto, perfurando-a com os olhos. – Meu Deus, Demi, você não causou nada disso, mas não pode me pedir para não fazer nada com ele.
– Por favor!
Rangendo os dentes, Joseph se virou.
– Não.
Demi ficou apavorada ao vê-lo pegar as chaves na bancada. Indo até ele, a mente assaltada por imagens do que ele estava prestes a fazer, irrompeu numa crise histérica da qual jamais se achara capaz. Chorara muitas vezes ao longo da vida, mas nada chegava perto da quantidade de lágrimas que aquele corpo diminuto estava produzindo. Não conseguia respirar, não conseguia pensar. Ela mal pôde atravessar a cobertura, as pernas pareciam se deslocar através da lama. Demi agarrou o braço de Joseph quando ele estava prestes a abrir a porta da frente.
Joseph se virou, a expressão feroz, o olhar percorrendo-a por inteiro.
– Você está me pedindo para não ser homem, Demi, e eu não posso fazer uma porra dessas. Não posso. Você é minha e, se eu não tivesse ido embora, isso não teria acontecido. Não me peça para não consertar essa situação da única forma que eu sou capaz.
Com a respiração suspensa e o coração desintegrado diante da ideia de que ele se culpava, Demi hesitou por um instante antes de levar a mão ao seu rosto. Acariciando-lhe o queixo, balançou a cabeça, a voz um suave sussurro.
– Joseph Jonas, você é mais homem do que qualquer um que eu já conheci. Você é bondoso. Você é gentil. Você é forte e espirituoso. Você é atraente e simpático e, apenas com as palavras mais simples, consegue reduzir a maioria das mulheres a coisas abobalhadas.
Afastando os dedos do seu queixo, ela os arrastou até seu peito.
– Você é de uma sensibilidade impressionante e não poderia fazer mais nada para eu me apaixonar ainda mais por você. Nem uma coisinha. – colocando-se na ponta dos pés, teve uma crise de nervos ao entrelaçar as mãos em sua nuca, trazendo seu rosto para mais perto. – E nada disso é culpa sua.
Lutando contra a fúria, Joseph encostou a testa na dela.
– Não, Demi. Se eu não tivesse ido embora...
– E se eu não o tivesse aceitado de volta.
– Ele não deveria ter tocado a porra de um dedo em você – rebateu ele, tentando conter a raiva. – Não é a mesma coisa.
– Eu sei que não é. Mas você quer saber o que é?
Joseph colocou a mão em seu quadril, enfiando os dedos, enquanto desviava o olhar. Demi tocou seu rosto, fazendo-o encará-la, e continuou:
– Se você sair por aquela porta para ir atrás dele, não vai ser diferente de qualquer homem que eu já conheci. Por favor, não tire esse homem de mim, Joseph. Por favor.
Mas que inferno. A expressão naqueles olhos verdes, combinada com seu apelo suave, deu a Joseph a sensação de estar encostado na parede. A cabeça estava confusa, completamente dominada por suas palavras. Dividido entre a necessidade de socar Alex até deixá-lo à beira da morte e de não querer fazer Demi sofrer ainda mais, a tensão torturava Joseph. Demi abrira todas as feridas para ele, até sangrar, toda a dor e todas as lembranças sofridas. Antes disso, ela parecera inacessível, mas, naquele dia, afogara cada medo num mar de confiança que Joseph sabia que só ele possuía. Mas, puta merda, não seria capaz de escapar à própria hostilidade se permitisse que Alex se safasse. O instinto masculino de Joseph clamava pela destruição do homem que machucara a mulher que ele amava. Sua mulher. Estava mesmo ferrado. Imerso em seus pensamentos, Joseph trincou os dentes até doer. Olhando fixamente nos olhos da mulher sem a qual sabia que não conseguia viver, tomou uma decisão que esperava não assombrá-lo durante cada minuto que passasse acordado, pelo resto da vida.
– Não vou atrás dele. – o próprio Joseph se retraiu quando as palavras deixaram sua boca. – Prometo. Mas você vai me dizer onde ele bateu. Está me entendendo? Eu preciso saber.
Embora Demi enxergasse a relutância em seus olhos, seu tom de voz era sincero. Suspirou e fez um curto meneio de cabeça.
– Está bem.
O peito de Joseph se contorceu devido à dor contida em sua voz. Segurando- lhe a mão suavemente, ele a conduziu até a cozinha e desligou o fogo, o frango já tinha torrado. Demi apertou a mão de Joseph com ainda mais força enquanto se dirigiam ao quarto. Olhando-se, permaneceram em silêncio como se não soubessem o que dizer. Tentando extirpar qualquer vestígio de raiva de seu rosto, Joseph enlaçou sua cintura e a puxou com força para si mesmo. Dali a segundos, ela amoleceu em seus braços, as lágrimas caindo insistentes. Aninhou o nariz nos cabelos dela, respirando o doce perfume de xampu enquanto Demi tentava se preparar para o que estava prestes a lhe dizer. O cérebro de Joseph não conseguia compreender como alguém podia machucá-la. Ela era frágil. Carinhosa. Vulnerável. Joseph sabia que o toque dela era a única coisa que possuía que era verdadeiro e puro.
Alex tirara sua pele metodicamente, camada por camada, expondo partes que nenhuma mulher deveria ter de expor. Joseph temeu quebrar a promessa de não ir atrás daquele idiota doentio. A cada segundo que Demi desmoronava em seus braços, Joseph chegava perigosamente perto de perder qualquer aparência de controle.
Quando o pranto de Demi diminuiu a ponto de se transformar num murmúrio suave e sua respiração retornou ao ritmo normal, Joseph inclinou o queixo dela para cima com suavidade. Um lampejo de compreensão luziu em seus olhos.
– Você está bem?
Demi limpou o nariz.
– Eu estou. E você?
Não, não estava. Nem perto disso. Sentia-se fora do prumo. Mas como queria mantê-la o mais calma possível, assentiu.
– Meu Deus, você ainda nem comeu. – deixando escapar um suspiro exausto, passou a mão pelos cabelos de Demi. – Está com fome?
– Não – sussurrou ela.
Não estava. Como ainda tinha a sensação de que poderia vomitar, comida era a última coisa em que iria pensar.
– Está bem. Vou jogar uma água no rosto. – beijou-a suavemente. – Já volto.
Demi o observou desaparecer banheiro adentro. Depois que ele fechou a porta, ela respirou fundo, tentando diminuir a tensão do corpo. Não funcionou. Não queria dar detalhes sobre aquela manhã para Joseph. Reviver aquilo tudo podia ser o último golpe devastador em sua sanidade. Percebia que ele lutava contra o instinto de ir atrás de Alex e isso já era ruim o suficiente. Aquilo tudo poderia enervá-lo além do seu limite.
Ela arrancou os maus pensamentos da cabeça e foi remexer em algumas caixas de mudança que ainda continham seus pertences. Procurando pijamas, deparou com uma foto da mãe e da irmã tirada numa viagem a Santa Cruz, muitos anos antes, abrindo sorrisos forçados. Aqueles pequenos momentos de relaxamento haviam sido uma ilha de bondade em meio ao mar de caos. Apenas um fragmento de algo inconstante. Demi engoliu as lágrimas, pois sabia que estava prestes a chorar o bastante por uma noite. Enfiou a lembrança debaixo de uma pilha de suéteres.
Joseph ressurgiu do banheiro quando ela já tinha trocado de roupa e havia colocado calças de moletom e uma camiseta. Ele vestia apenas uma cueca samba-canção e o rosto exibia ainda mais raiva. Demi o observou se sentar na beirada da cama. Algo em sua postura a alarmou. Foi como se os poucos minutos que tivera para si o tivessem transformado numa bola incendiária. Demi engoliu em seco e subiu na cama. Meu Deus, tudo o que queria era amenizar seu conflito interno. Chegando por trás dele, colocou as mãos em seus ombros e se pôs a massageá-los, tentando remover a tensão que emanava dele em ondas de calor.
– Joseph – começou Demi, a voz suave, escolhendo as palavras com cuidado. – Por que a gente não dorme? Estamos mentalmente exaustos. Podemos falar sobre isso amanhã.
Joseph balançou a cabeça. Depois de girar o pescoço para alongá-lo, encostou-se nos travesseiros apoiados contra a cabeceira.
De joelhos, Demi se virou e olhou para Joseph. Sombras da mais fria hostilidade perpassavam seu rosto e ela se sentiu culpada por não permitir que ele fizesse aquilo pelo qual ansiava tão desesperadamente. Desviou os olhos, incapaz de testemunhar sua dor por mais tempo.
– Olhe para mim, Demi – ordenou ele com um sussurro atormentado.
Demi obedeceu. 
Joseph sentiu seu nervosismo, sua hesitação e aquilo mexeu com seus pensamentos.
– Venha aqui – pediu ele, estendendo a mão.
Demi a tomou e ele a guiou até seu lado. Aninhando-se de encontro a Joseph, descansou a cabeça em seu peito. Embora a tensão emanasse do próprio corpo, o aroma sedutor de sua colônia e o batimento constante e forte do coração a acalmaram e levaram sua mente até um lugar onde ela se sentia segura. A mão que subia e descia por suas costas a levava ainda mais fundo para dentro de um reduto de euforia que só Joseph podia proporcionar.
– Onde foi que ele bateu em você?
Sabia que ele ia fazer a pergunta, mas, ainda assim, ela provocou um arrepio que a chocalhou até os ossos, arrancando-a imediatamente dos poucos segundos de tranquilidade. Enroscada, grudada nele, Demi levantou a cabeça e olhou fundo naqueles olhos inquisitivos. Apontou para o supercílio. Para a mancha sobre a qual ela mentira ao homem que amava. O homem que Demi precisava que confiasse nela. Seu corpo se enrijeceu de tensão. Uma raiva infernal queimou nos olhos dele e a mandíbula estremeceu. Exceto pela
respiração acelerada de Joseph, o silêncio pairava no ar, pesando sobre o coração de Demi.
– Eu estou bem, Joseph – sussurrou ela, fingindo segurança.
Joseph fumegava. A necessidade de apagar Alex da face da Terra se enraizava em cada uma de suas células, tendões e músculos. No entanto, ele sentia a necessidade de confortar Demi, de manter a compostura. Com todo o cuidado, colocou-a montada em si. Podia senti-la tremer e aquilo mexeu com sua cabeça. Acabou com ele.
Olhando a pequena cicatriz, deslizou o polegar por ela. Era pouco perceptível, mas o simples fato de saber como surgira consumia Joseph. Como podia um homem, um homem de verdade, fazer uma coisa dessas com uma mulher? Era algo que Joseph não conseguia nem mesmo começar a assimilar.
Passou o braço ao redor da cintura dela enquanto pousava a mão em sua nuca e aproximava-lhe o rosto. Por um segundo, olhou nos olhos dela antes de roçar os lábios na cicatriz que para sempre marcaria seu lindo rosto. Uma marca deixada ali por um filho da puta que jamais a merecera.
– Onde mais ele bateu em você, Demi?
Joseph sabia que estava abrindo espaço para mais sofrimento, mas uma parte dele precisava passar por aquilo. Demi tinha sofrido muito mais do que ele. Ou não. Aquela era uma pergunta que definitivamente não podia responder por ser uma situação que nunca tivera de suportar.
– Na minha boca – respondeu Demi, baixinho, vendo Joseph se encher de fúria. 
Ela gelou.
Joseph se retraiu, lutando contra a compulsão de sair correndo de dentro de casa.
– Na sua boca – repetiu, calmamente, mais uma vez tentando controlar o tom. – Ele bateu na sua boca, porra?
Hesitante, Demi assentiu. Olhando seus lindos lábios tremerem, Joseph sentiu um pouquinho do seu perfume. Naquele instante, a única coisa que lhe passava pela cabeça era colocar outra marca naqueles lábios. Ele a puxou com firmeza.
Demi soltou um suave gemido quando as línguas se encontraram, quentes e molhadas. O beijo foi desesperado, urgente e devorador. Apesar da demonstração de posse tê-la pegado de surpresa, ela sabia que ele estava demarcando território. Mas não se importava, porque era o que ela queria. Precisava disso e sabia que ele precisava marcá-la. Enredou os dedos em seus cabelos, puxando com força.
– Não consigo acreditar que ele tenha machucado você, amor. A única coisa que eu vou fazer é venerar estes lábios. Venerar este corpo. – agarrando-a pela nuca com mais força ainda, Joseph tornou seu beijo ainda mais profundo. – Quando olho para você, tenho a sensação de olhar para a outra metade de mim mesmo. Você preencheu o vazio da minha alma, por isso é uma deusa para mim. E é assim que eu sempre vou tratar você. Pelo resto da sua vida. Isso eu prometo.
Demi o beijou com ainda mais intensidade. As palavras dele se gravaram em seu coração. Agora, ela só queria respirá-lo.
Enquanto puxava a camiseta de Demi pela cabeça, Joseph sabia que essas promessas seriam fáceis de cumprir. Preferia arder nas profundezas do inferno a voltar atrás em sua palavra porque ela era mesmo uma deusa em sua vida. Sua amante. Sua amiga. Sua, para sempre.
Mas malditas fossem aquelas mesmas labaredas infernais, pois, ao deixar a própria marca em sua amada, percebeu que havia uma promessa que não seria capaz de cumprir, porque haveria de protegê-la até a morte.
O mais absurdo de tudo, e que Deus o ajudasse...
É que estava ansioso por quebrá-la.

pessoal, resolvi postar hoje porque amanhã não irá dar para postar, então para não deixarem vocês sem capítulo resolvi postar hoje e quarta-feira volto com mais um capítulo.
agora sobre o capítulo, esse encosto do Alex apareceu de novo, esse maldito.
Selena de namoradinho novo hahaha
Demi era para você ter deixado o Joseph dá umas porradas no Alex porque ele está merecendo.
gostaram? comentem o que acharam.
até o próximo.
bjs amores <3
respostas aqui

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