02/01/2017

heartbeat: capítulo 12


Jogo perigoso

O clima no meio da manhã no Central Park estava agradável, embora mais frio do que o normal para a segunda semana de agosto. Demi abriu uma pequena manta sob a sombra de uma das árvores de bordo. Pondo a mochila ao seu lado, pegou dois sanduíches, duas garrafas d’água e seu romance favorito, O morro dos ventos uivantes. Só faltava Alex.

Olhou para o relógio. Ele já estava vinte minutos atrasado. Com a cidade zumbindo com seu barulho diário e incessante até mesmo na paz serena do parque, ela resolveu telefonar para ele e descobrir por que estava demorando tanto.
Alex atendeu ao primeiro toque, uma pitada de culpa na voz:
– Por favor, não fique zangada comigo. – surpresa com a forma como ele atendeu, ela ficou calada. – Demi, você está aí?
– Sim, estou aqui, mas você não. Onde está?
– Estou em Nova Jersey, mas...
– Em Nova Jersey? Alex, eu estou sentada no Central Park!
– Demi, será que você pode me deixar explicar?
– Tudo bem, Alex, explique.
– Você se lembra do magnata japonês do qual falei, que estava interessado em investir na Morgan & Buckingham? – ele fez uma pausa, aguardando a resposta dela, mas não obteve nenhuma. – O Takatsuki Yamamoto?
– Vá direto ao assunto.
– Que merda, Demi, estou tentando. – ela suspirou e ele prosseguiu: – Ele chegou do Japão ontem à noite e só vai passar dois dias aqui. Pediu para conversar comigo, pessoalmente. Meu chefe me ligou de manhã cedo e me mandou vir para cá. – Enquanto
Demi esperava, Alex respondeu a uma pergunta feita por alguém que se encontrava ao fundo. – Gata, tenho que desligar. Desculpe, mas esta conta é muito importante.
Mais uma vez, Demi ficou calada.
– Por favor – suspirou ele. – A gente combina de novo outro dia.
– Eu sei. É só que pedi folga e estava mesmo ansiosa para...
– Demi, pare de tentar fazer com que eu me sinta culpado – disse Alex num tom irritado. – Isso é importante para mim. Eu chego à sua casa no máximo às seis. – E, com isso, ele desligou.
Depois de se recuperar do choque por Alex ter desligado na sua cara, Demi ficou de pé e, com relutância, começou arrumar os apetrechos do que deveria ter sido um encontro romântico.
Guardava a manta na mochila, quando ouviu alguém chamar seu nome ao longe. Antes mesmo de se virar para ver quem era, um formigamento familiar foi subindo por sua espinha. Já sabia. Quando enfim se virou, Joseph vinha atravessando o parque, correndo e sorrindo, com os sobrinhos ao lado.
A mochila escorregou pelos dedos de Demi enquanto ela estudava os trajes informais: uma camiseta branca de gola em V, bermudas cargo creme e um boné azul dos Yankees.
Conforme ele se aproximava, Demi tentava pôr os pensamentos em ordem.
Não era só o fato de a presença dele pulsar dentro dela. Não era porque o perfume dele lhe embriagava os sentidos, ardendo em sua mente e importunando todos os seus sonhos.
Não era nem mesmo aquele maldito beijo. Era o charme resoluto, a autoconfiança ousada, a
atração insana e a inegável dominância que ele exalava por todos os poros. Todas essas coisas formavam um coquetel letal, que assustava e fascinava Demi. Era como se, toda vez que eles se encontravam, ocorresse um paradoxo distorcido: por mais que sentisse necessidade de fugir, Demi também sentia-se inegavelmente atraída por ele. De repente, sentiu que a eletricidade no ar aumentava. Uma espécie de tensão parecia pressionar seus pulmões, deixando-a sem ar. Para piorar tudo, a visão dele a inundou de lembranças do último encontro, duas semanas antes.
Respire, Demi...
– De-mi-mi! – gritou Alena, correndo para ela.
Ajoelhando-se para abraçá-la, Demi ergueu o olhar para Joseph.
– O que estão fazendo por aqui? – perguntou, da maneira mais casual que pôde, considerando as circunstâncias.
Joseph se curvou para a frente, apoiando as mãos sobre as coxas, tentando recuperar o fôlego. Em seguida se aprumou e sorriu.
– Estou de babá e decidi trazer estes dois pirralhos para jogar futebol.
Timothy passou os braços pelas pernas de Demi.
– O tio Joe também levou a gente para dar pão pros patinhos.
Joseph passou a mão pelos cabelos de Timothy.
– É verdade. Foi um verdadeiro banquete para o Donald e a Margarida.
– Que legal – disse Demi. – Magnata dos negócios e babá num único pacote.
– Pode acrescentar isso ao meu currículo. – ele riu.
– Não consigo acreditar que vocês me viram aqui.
– Bem, na verdade, eu não vi. Foram eles – informou Joseph.
– O tio Joe mandou a gente dizer que viu você primeiro, De-mi-mi – confessou Alena, enrolando um dedinho nos cabelos de Demi. – Mas foi ele que viu e que falou pra gente dar um oi.
Erguendo uma das sobrancelhas, Demi observou o rosto de Joseph ganhar um leve tom rubro.
– Usando crianças para contar uma mentirinha, hein?
Ele balançou a cabeça e sorriu.
– Droga, você me pegou. Pode acrescentar isso ao meu currículo também. O que está fazendo aqui?
– Alex vinha me encontrar, mas teve que ir a Nova Jersey. – ela ergueu a mochila do chão. – Na verdade, eu estava me preparando para ir embora.
Alena fez beicinho.
– Você pode ficar e jogar futebol com a gente, Demi-mi-mi?
– Hum – respondeu ela, voltando a olhar para Joseph. – Acho que não. Talvez outro dia...
Alena franziu a testa.
– Não vai precisar aguentar a tortura de passar muito tempo comigo – informou Joseph,
com um sorriso malandro. – Kevin e Danielle devem chegar em dez minutos para buscar as crianças.
Demi sorriu timidamente, quase o desafiando.
– Tudo bem, então. Acho que consigo aguentar quinze minutos de desgosto. – ela pôs a mochila no chão. – Você aguenta?
– Hum, eu aguento, e muito bem. Você sabe jogar futebol?
– Eu aprendo rápido.
– Sou um ótimo professor.
Ele deixou cair a bola e deu um chute ágil. Alena e Timothy correram atrás dela.
– E estar perto de você não é tortura, Joseph – disse Demi, correndo atrás das crianças.
Ele a alcançou.
– Certo, você deixou claro que é só desgosto. Mas não se preocupe, vou mesmo tomar isso como um elogio. – Demi apenas balançou a cabeça e riu.
Durante os quinze minutos seguintes, embora tenha jogado um pouquinho, Joseph passou quase todo o tempo de fora, só olhando Demi brincar com as crianças. Sentado a uma mesa de piquenique, seus sentidos sempre vacilavam quando se tratava dela. O olhar dele passeou pelo corpo de Demi, decidindo-se, por fim, pousar no rosto, admirando aquele sorriso. Ele ouvia as risadas dela enquanto tentava registrar o modo como os sobrinhos se agarravam a Demi. Crianças possuem um senso aguçado sobre as auras das pessoas, por isso o comportamento dos dois só servia para confirmar o que o coração de Joseph já sabia: que a
presença de Demi era magnética. Consumia a todos, engolindo-os por inteiro, sem deixar espaço para arrependimentos.
Enquanto ela corria com as crianças, ele observava os cabelos ondulados balançando, o sol de verão criando uma auréola castanho-avermelhada. O desejo que sentia por ela serpenteava pelos ossos, atingindo a medula. Desde a primeira vez que pusera os olhos nela, Demi causava sensações estranhas em seu peito sempre que o encarava. Joseph sentiu um embrulho no estômago e se deu conta de que poderia se afundar ainda mais caso ela o fitasse daquele jeito com muita frequência.
A mente dele rejeitou os próprios sentimentos, ciente de que nada podia fazer para satisfazer seu desejo. A única coisa de que Joseph tinha certeza era que suas emoções estavam presas num emaranhado de proporções épicas. Ficar perto de Demi era o máximo da dor autoinfligida, mas ele estava disposto a aguentar por um único motivo: ser agraciado pela presença dela.
Joseph foi arrancado de seus pensamentos ao ouvir Kevin chamar seu nome.
Depois que ele e Demi abraçaram as crianças e se despediram de Kevin e de Danielle, Joseph foi com ela juntar suas coisas.
– Sr. Jonas, é sempre um prazer – disse Demi com um sorriso, estendendo a mão.
Joseph não a aceitou porque sabia que, se a tocasse, não seria capaz de resistir ao desejo de puxá-la para si. Passando a mão pelos cabelos, deu um passinho para trás. Demi pôs a mochila no ombro.
Joseph sentiu as palavras presas na garganta.
– Espere, é só isso? Vai me largar aqui sozinho assim?
– Você já está bem grandinho. Acho que é capaz de encontrar alguma coisa para ocupar sua tarde.
Ele riu por um instante, mas logo ficou sério.
– É que achei que esta podia ser uma oportunidade para eu me redimir.
– Se redimir? Por quê?
– Pelo meu comportamento da última vez em que nos vimos. Desculpe se a deixei desconfortável, mas... – ele baixou a voz e a fitou nos olhos. – Não estou me desculpando pela forma como me sinto em relação a você, Demi. São meus sentimentos e não tenho como negá-los. Mas eu realmente só preciso ser seu amigo.
Ela engoliu em seco, nervosa.
– Joseph, já conversamos sobre isso e... – começou, a voz tão baixa quanto a dele.
Interrompendo-a, ele chegou mais perto.
– Eu prometo, juro por Deus, que dessa vez não vou dizer nada que a deixe desconfortável. Eu só queria falar como me sinto, mas agora chega. – ele deu um passo atrás, sem desviar os olhos dela. – Você me enlouquece por algum motivo que não consigo entender e não sei se algum dia compreenderei. Só sei que acho você a mulher mais impressionante... – ele respirou fundo. – Sei lá.Tem alguma coisa em você que... a torna diferente de qualquer outra mulher que já conheci. E por causa de tudo isso, eu me disponho a colocar meus sentimentos de lado só para ser seu amigo.
Só para estar perto de você, pensou.
O coração de Demi falhou e seu estômago revirou, numa sensação perturbadoramente agradável, enquanto ela avaliava o rosto de Joseph. Emoções verdadeiras rodopiavam por trás daqueles olhos e alguma coisa, lá no fundo, lhe dizia que ele estava sendo sincero.
– Muito bem, vamos tentar de novo. Quer que eu fique aqui com você mais um pouco?
Joseph respirou fundo, enchendo os pulmões, o nó em seu peito se desfazendo ao se dar conta de que estivera prendendo a respiração enquanto aguardava a resposta dela.
– Você gosta de beisebol, não gosta?
– Como sabe disso?
– Naquela noite em que descobri que você se chamava Demi, e não Molly... Antes de você chegar à boate, Alex me contou que a namorada dele era fanática por beisebol.
– Quer que eu jogue beisebol com você? – perguntou ela, franzindo as sobrancelhas.
– Você pode visitar todos os pontos turísticos mais espetaculares que Nova York tem a oferecer, mas não conhece a cidade de verdade até ir a um jogo dos Yankees. – ele sorriu. –Era para Trevor ir ao jogo comigo hoje, à uma da tarde, mas ele cancelou de última hora. –
Joseph sacou ingressos do bolso traseiro e os exibiu. – Tenho entradas para a temporada inteira, mas iria ser uma pena desperdiçar estas daqui.
– Você quer que eu vá a um jogo dos Yankees com você?
– Quero.
– Não sei – disse ela, olhando para o chão e de novo para ele. – Talvez isso seja um pouco de mais.
Ele abriu um sorriso lento, os olhos verdes cintilando com malícia.
– Imagino que num estádio com mais cinquenta mil pessoas eu consiga me controlar e não tentar atacá-la.
Demi fez uma cara pensativa.
– É verdade. Mas eu não sou fã dos Yankees. Vou torcer para o adversário. Será que você conseguiria aguentar isso?
Com os olhos arregalados, ele pôs uma das mãos sobre o peito, como se ela tivesse acabado de ferir seu coração.
– Hum, continue falando assim e talvez encontre um jeito de fazer com que eu não a admire tanto. Sou um torcedor fanático dos Yankees, Srta. Lovato. Mas está bem, acho que aguento me sentar ao lado de uma não fã que eu mesmo levei ao estádio.
Ela balançou a cabeça e riu.
– Está certo, vou considerar esse passeio amigável, mas sob uma condição.
– Qualquer coisa – disse Joseph, pegando a mochila dela.
– Espere, você nem sabe o que é.
Ele pôs a mão nas costas de Demi e começou a conduzi-la para fora do parque.
– Não tem problema. Seja o que for, estou certo de que consigo lidar.
Ela parou de repente e riu.
– Ou você me ouve ou não vou a lugar algum, Joseph Jonas. Está me entendendo?
– Sou todo ouvidos.
– Isto, por exemplo. – ela indicou a mão em suas costas. Joseph sorriu e a retirou. – Nada de me tocar, nada de me despir com os olhos e nada de fazer isso... essa coisa maldita e idiota que você faz com a boca quando morde os lábios.
– O fato de eu morder o lábio a incomoda tanto assim?
Só porque me deixa louca de tesão...
– Sim. É irritante.
Ele arrastou o lábio inferior lentamente por entre os dentes, terminando com um estalar voluptuoso.
– Bem, o mesmo vale para você então.
Ela inclinou a cabeça e deixou escapar um suspiro.
– Espertinho. Você já me avisou sobre chamar qualquer tipo de atenção para meus lábios. – Ela cobriu a boca com a mão, abafando o restante das palavras. – Está melhor assim? – Ele assentiu e riu. – Só que eu não fico olhando para você como se quisesse arrancar suas roupas, nem o tocando.
Ele deu de ombros.
– Já que estamos sendo sinceros, você não faz ideia de quanto eu adoraria que você me tocasse.
– Viu só, é exatamente disso que estou falando – disse ela, afastando a mão da boca.
Demi deu meia-volta para ir embora.
Deixando escapar uma gargalhada sonora e rouca, ele correu até ela e a segurou delicadamente pelo cotovelo. Demi olhou para a mão dele. Joseph a soltou depressa e sorriu.
– Demi, só estou brincando. Ora, vamos, são só piadas... Eu sou assim mesmo.
Ela ergueu uma das sobrancelhas, incapaz de se manter séria diante dele, com aquele sorriso inocente e infantil. Sabia que ele era tudo, menos daquele jeito.
– Se quer que eu vá com você hoje, controle suas mãos, Jonas. Entendeu? Ou então eu vou lhe dar uma lição.
– Opa! Sexo violento! – ele deu um sorriso torto. Ela suspirou. – No entanto, eu não passo de um servo diante do seu desejo de que eu aja como um cavalheiro. – ele fez uma reverência brincalhona.
– Agora vamos. Temos que pegar a linha quatro.
– Espere, nós vamos de ônibus?
– Não. É a linha quatro do metrô.
– Ah, eu achei que fôssemos de carro.
– De jeito nenhum. – ele pegou a mochila das mãos dela e a atirou sobre o próprio ombro. – Vamos fazer isso ao estilo de Nova York, boneca.
Apesar da surpresa por estar de fato passando o dia com Joseph, Demi o seguiu. Duas quadras adiante, pegaram o metrô. Considerando que ela viajou cercada por um casal de adolescentes que se amassava como se estivesse numa festa de amigos, um sujeito usando vestido florido que falava sozinho enquanto comia comida chinesa com as mãos e um enorme grupo de torcedores agressivos berrando “Dá-lhe, Yankees”, Demi ficou mais do que satisfeita quando enfim chegaram ao estádio.
Uma vez lá, os dois foram comer. Demi pediu um cachorro-quente e uma garrafa d’água e Joseph escolheu um pacote de amendoim e uma cerveja. Ele lhe mostrou seus lugares, bem atrás da última base. Joseph parecia uma criança numa loja de doces e Demi achou bonitinho que um homem com tanto poder ficasse tão animado com um jogo de beisebol.
Joseph olhou para o relógio enquanto o estádio ia enchendo.
– Ainda temos um tempinho. O jogo vai começar daqui a meia hora.
Demi assentiu e olhou para o celular, notando que tinha perdido uma ligação de Alex.
Ela se remexeu no assento e pensou na encrenca em que havia se metido. Ponderou se devia ou não contar a Alex onde estava, mas antes que pudesse se aprofundar demais em seu dilema, Joseph falou:
– Vamos brincar de vinte perguntas enquanto esperamos o jogo começar. – ele enfiou um amendoim na boca. – Eu começo.
– De jeito nenhum, você começou da última vez. Eu começo.
Ele riu.
– Você não perde tempo, não é?
– Geralmente não.
– Está certo, me parece justo. Pergunte alguma coisa.
Os pensamentos de Demi vagaram pelo que queria perguntar a ele, embora não soubesse se deveria. Ainda assim, era sua vez de se permitir ser dominada pela curiosidade.
– Quero saber por que você e sua noiva terminaram.
A expressão de Joseph se fechou enquanto ele olhava para as arquibancadas. Demi notou o verde brilhante dos olhos mudando como se uma nuvem tivesse passado pelo céu e naquele momento se arrependeu por ter tocado no assunto.
Joseph se inclinou para a frente, pôs a cerveja no chão e olhou outra vez para Demi.
– Hum, a primeira pergunta que lhe fiz da última vez em que jogamos foi sobre seu sabor de sorvete favorito. Pelo visto, você está indo direto na jugular.
– Me desculpe, eu não devia ter perguntado – sussurrou ela, baixando o olhar.
– Não, tudo bem. Eu só não esperava isso logo de cara. Mas me sinto confortável em conversar com você.
Demi ergueu a cabeça de súbito.
– Mesmo?
– Pois é, por algum motivo, eu me sinto, sim. – respirando fundo, ele se recostou e hesitou por alguns segundos. – Ela me abandonou porque a Jonas Industries estava indo à falência. Meu pai ofereceu recursos para mim e para Kevin a fim de mantê-la aberta. Mas nós, os Jonas, temos certa tendência à teimosia e recusamos a ajuda dele, pois sabíamos que conseguiríamos colocá-la nos eixos outra vez, sozinhos. – ele passou a mão pelos cabelos. – Eu expliquei tudo para ela, disse que teríamos que reduzir um pouco os custos até eu reerguer a empresa. Ela argumentou que eu devia aceitar o dinheiro do meu pai e me chamou de louco por achar que conseguiríamos nos recuperar sem a ajuda dele. Mas Kevin e eu estávamos firmes na decisão de não aceitar o dinheiro. Depois que ficamos noivos, ela passou a morar comigo, na minha cobertura. Um dia, voltei para casa depois do trabalho e encontrei uma carta, escrita com uma letra linda, dizendo que ela não podia correr o risco de não viver a vida que eu tinha oferecido até então. – ele pegou a cerveja, tomou um gole e suspirou. – Cinco anos juntos e o adeus veio numa carta.
Demi buscou os olhos dele e viu a sua dor.
– Você a amava – sussurrou.
Joseph deu de ombros.
– É, ela partiu meu coração. Achei que ela me amasse pelo homem que eu era, sem o glamour e sem o dinheiro. Quero dizer, quando a gente se conheceu, eu estava no meu
último ano de faculdade, ainda não era tão bem-sucedido. Ela traiu a esperança que eu tinha
no amor quando foi embora. – ele apertou os lábios. – Não me entenda mal. Hoje, quando olho para trás, sei que não fomos feitos um para o outro. Em primeiro lugar porque ela se preocupava demais com a maneira como os outros nos viam, e isso podia querer dizer
qualquer coisa: dos carros que dirigíamos às festas que frequentávamos. Ela não era assim quando nos conhecemos; a mudança foi gradual. Nossa maior diferença foi que ela sempre deixou claro que nunca iria querer ter filhos. Eu a amava o bastante para cogitar uma vida sem crianças, mas, como eu disse, analisando tudo, não teria valido a pena abrir mão de ter uma família por ela.
Demi abriu um leve sorriso.
– Você quer ter filhos?
– Um monte, todos enfiados bonitinhos numa minivan – admitiu ele.
– Joseph Jonas numa minivan?
– Sem dúvida – respondeu ele, pegando a cerveja. – Uma bem maneira, verde-floresta.
Demi observou-o de rabo de olho ajeitando o boné de beisebol, um pouco chocada com tudo o que ele acabara de lhe confessar. Começou a compreender a necessidade dele de preencher seus vazios.
– Você nunca mais a viu depois disso?
– Vi, sim. Recentemente, para dizer a verdade.
– E como foi? – perguntou ela, relutante.
– Foi... interessante. Eu a encontrei por acaso numa festa. Ela falou um monte de merda, disse que estava contente pela empresa estar indo tão bem. Admitiu que sentia minha falta e que ainda me amava, e depois confessou que me abandonar foi o maior erro de sua vida. – ele enfiou mais um amendoim na boca e sorriu. – Já pode imaginar aonde estou querendo chegar com isso, certo?
– Posso. Agora que você está bem de grana outra vez, ela o quer de volta.
– Na mosca. Eu sabia que você era esperta. – ele bebericou um gole da cerveja. – Além do mais, o nome dela é Jennifer e o meu, é claro, é Joseph, dois Js. Eu acho que era um aviso, ou algo assim, de que estava destinado a não funcionar.
Embora ele tivesse dado uma risadinha, Demi percebeu a dor que ainda havia em seus olhos e resolveu deixar o assunto de lado.
– Recebi o convite que você mandou para mim e para o Alex.
– Eu ia mesmo lhe perguntar isso – respondeu Joseph, acenando para um dos vendedores de cerveja. Pediu mais uma e se virou para Demi. – Achei que poderia lhe interessar, considerando... bem, você sabe.
– Sim e obrigada pelo convite, mas o que sua mãe faz, exatamente?
– Ela sabe que é abençoada por ser uma sobrevivente, então montou uma organização para captar recursos para mulheres que sofrem de câncer de mama; que estão no meio da luta ou em remissão, e familiares de mulheres que morreram da doença. As doações coletadas no evento beneficente são divididas entre o financiamento de tratamentos em progresso, extras ou, infelizmente, para gastos com funerais.
Demi soltou a respiração.
– O gesto dela é lindo.
– É, sim. Este vai ser o décimo ano desde que ela fundou a organização. O evento sempre acontece em outubro, durante o mês de conscientização e combate ao câncer de mama. É bastante espetacular, também. Jonas-tie, champanhe e todos os ricaços de Nova York reunidos por uma noite para gastar o dinheiro com alguma coisa além de uma bosta de um cruzeiro para as ilhas Fiji ou um carro novo.
Demi riu.
– Bem, nós com certeza estaremos lá.
– Fico feliz por isso.
Sem uma única nuvem no céu, a cerimônia de abertura começou e, logo depois, o jogo estava a toda. Um estalo do taco ruidoso, atirando a bola para fora do campo, já deixou os Yankees animadíssimos. Durante toda a partida, Joseph chamou uma atenção indesejada para Demi, fazendo com que os torcedores dos Yankees que estivessem próximos o suficiente para ouvi-lo soubessem que ela estava torcendo para o time mais fraco, os Baltimore Orioles. Pessoas à sua volta a vaiavam toda vez que os Orioles faziam um ponto. E então ela dava uma cotovelada brincalhona em Joseph, prometendo pensar numa forma de retaliação. Ainda com fome e mais relaxada com a situação como um todo, Demi pediu um pretzel e decidiu tomar uma cerveja com ele. Ao final da sétima entrada, o jogo estava empatado, quatro-quatro, com todas as bases lotadas e os Yankees rebatendo.
Joseph deu um sorriso malandro para Demi e esfregou as mãos.
– Seus passarinhos estão prestes a perder.
– Você parece bastante confiante em relação a isso. – ela riu. – Eu não teria tanta certeza assim.
Os olhos de Joseph se concentraram no canto daquela linda boca, onde havia uma manchinha de mostarda. Sem pensar, ele levou a mão até o lábio de Demi e o limpou com o polegar.
Sobressaltada com o gesto inesperado, ela se encolheu.
– É que... tinha mostarda no seu lábio – justificou-se ele. Controlando o enorme desejo de lamber o dedo, Joseph usou um guardanapo.
– Você desrespeitou a regra do “não me toque” – reclamou ela, arfando, ignorando o que o corpo lutava tanto para negar. Por mais breve que tivesse sido, o toque fora insanamente gostoso, o que era muito, muito ruim.
Ele fitou os lábios dela e, em seguida, voltou aos olhos.
– Eu poderia ter deixado aí.
– Ou ter me avisado, espertinho.
Joseph deu um sorriso tão contagiante que Demi não conseguiu evitar espelhá-lo.
– Pelo visto vou ter que cumprir a promessa e lhe dar uma lição por não jogar limpo.
Ele arqueou uma das sobrancelhas em sinal de incredulidade.
– Não que eu seja contra demonstrações públicas de afeto, sobretudo vindas de você, mas como pretende fazer uma coisa dessas num estádio lotado?
Demi abriu um sorriso malvado e inclinou o corpo para a frente, cutucando o ombro de uma mulher na fileira diante deles. Ela e a amiga que a acompanhava se viraram.
– Lamento incomodar – disse Demi à loura. – Meu amigo aqui gostaria de lhe dar o telefone dele. Achou você muito bonita, mas não teve coragem de abordá-la. Você tem namorado?
Joseph sorriu, balançou a cabeça e só faltou enterrar o rosto nas mãos de tanta vergonha.
A mulher e a amiga riram.
– Eu tenho, mas posso terminar o namoro por ele.
– Bem, não faz diferença. O fato de você ter namorado não é um problema para o meu amigo aqui – replicou Demi, fria. – Tem papel e caneta?
A mulher vasculhou a bolsa, sacou uma caneta e arrancou um pedaço do talão de cheques.
Entregou os dois a Demi, que os passou para Joseph.
– Tome aqui, companheiro. Anote os números para a moça bonita. – ela riu e o cutucou com o cotovelo. – E deixe de ser tão tímido com as mulheres.
Exibindo seu sorriso cheio de covinhas, Joseph rabiscou depressa e devolveu o papel à loura. Ela deu uma olhada rápida e sorriu.
– Joseph, é? É um nome bonito para combinar com esse seu rostinho. Com certeza vou ligar.
Joseph assentiu e Demi riu.
– Você não tem escrúpulos – sussurrou ele, atirando uma casca de amendoim na cabeça de Demi.
Rindo, ela tirou a casquinha dos cabelos.
– Eu avisei.
Depois de muitas cascas de amendoim, o jogo terminou com os Yankees vencendo por três pontos. Durante toda a viagem de metrô de volta para Manhattan, Joseph demonstrou grande orgulho em lhe recordar o placar. Também confessou que o número que rabiscara para a mulher era falso. Em sua defesa, alegou que não curtia mais louras. Balançando a cabeça, Demi riu e o repreendeu. Ele a acompanhou no táxi para se certificar de que Demi chegaria bem em casa.
Pedindo ao motorista que mantivesse o taxímetro ligado, saltou com ela para levá-la à entrada do prédio.
Mais uma vez, Demi lhe estendeu a mão.
– Foi um prazer passar o dia com você, Joseph.
– Posso apertar sua mão? Não quero desrespeitar mais regras.
– Pode, sim.
Ele apertou a mão dela, sentindo a mesma onda de calor que lhe invadia toda vez que tinha a oportunidade de tocá-la. Sentindo-se como uma entidade cheia de malícia, egoísta e desejosa ele a soltou, por fim.
– O prazer foi todo meu.
Respirando bem fundo, Demi o observou caminhar de volta ao táxi e partir. Enquanto subia de elevador, a cabeça foi ficando agradavelmente confusa, pensando naquele dia maravilhoso. Tentou se acalmar, ciente de que não devia ter passado a tarde com Joseph de forma alguma. O saldo era infernal, mas a libertação era doce, de uma forma perturbadora.
Havia aprendido coisas a respeito dele que jamais imaginara serem possíveis. Algo se mexeu
em seu peito, um desejo aumentado por Joseph misturado à dor pelo que ele havia sofrido.
Em um esforço para tirá-lo da cabeça, Demi se concentrou na ideia de que Alex devia estar à sua espera. Para seu alívio, ele estava confortavelmente esparramado no sofá quando ela entrou em casa. Durante a hora seguinte, ele a encheu de detalhes sobre como havia conseguido uma das maiores contas que a firma conquistara nos últimos dez anos.
Depois de ponderar se devia ou não lhe contar sobre o dia com Joseph, Demi decidiu não fazê-lo, afinal não queria estragar a alegria de Alex. Agora só faltava convencer a si mesma de que esse era o real motivo para manter o encontro em segredo. Então resolveu a discussão que incendiava sua mente da forma mais simples que pôde: ele não perguntou sobre o seu dia, então ela não contou.


amores desculpa por não ter postado esse final de semana e que eu fiquei fora esses dias e não deu mesmo mas gostaria de desejar um ótimo 2017 para todos e que esse ano seja maravilhoso para todos nós <3
agora sobre a história, Alex deixou a Demi sozinha no parque, ainda bem que o Joseph e as crianças apareceram.
eu adorei esse capítulo, os dois cada vez mais se aproximando e Demi mais confusa ainda.
gostaram lindonas? me contem aqui nos comentários.
respostas aqui

2 comentários:

  1. Isso aí Alex... Quem não presta assistência abre concorrência kkkkk continue ausente querido que a Demi vai se dar bem!!! Continuaaa!!!

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    1. ainda bem que ele sumiu para os dois ficarem juntos kkkk
      desculpe por não ter postado antes, fiquei sem internet e só voltou hoje, vou postar.
      bjs lindona <3

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