Um último encontro perdido
Com os olhos cheios de lágrimas, Demi encostou a cabeça na janela do táxi e as luzes de Manhattan, enquanto a expressão de Joseph indo embora passava por sua mente como um borrão. Quanto mais se aproximava do apartamento e se distanciava do passado com Alex, maior era a sensação de que sua sanidade estava por um fio. A luz verde do relógio de pulso lhe informava que era quase uma da manhã. Havia um lampejo de esperança. Inquieta, ela fechou os olhos, rezando para que Joseph a aceitasse de volta.
Quando o táxi finalmente parou, Demi tirou um bolo de dinheiro da bolsa e o entregou ao motorista, sem saber direito a quantia, enquanto saía apressada em direção ao ar frio de novembro.
– Ei! – berrou o taxista. – Não vai fechar a porta, moça?
Demi ouviu o homem, mas o ignorou. Os pés pareciam ter criado vida própria, mantendo-a naquele caminho incerto rumo ao que esperava ser um novo começo com o amor de sua vida. Abriu a porta e atravessou a portaria. O suor colava sua roupa à pele. Com a mão trêmula, apertou o botão do elevador. O nervosismo só aumentava, alimentado pela expectativa. Uma vez que as portas se abriram, ela entrou e se encostou à parede, física e mentalmente exausta, tentando controlar a respiração, o tremor do corpo e as lágrimas, que teimavam em descer. Não sabia qual seria a reação de Joseph.
Parecia impossível atenuar as emoções que invadiam seu corpo. As portas se abriram para o que poderia ser um novo começo... ou fim. Demi permaneceu imóvel por um momento, os olhos fixos na parede do outro lado do corredor. Só o vislumbrar das portas se fechando conseguiu tirá-la da inércia. Ela se moveu a tempo de mantê-las abertas e, um pouco desnorteada, saiu no andar da cobertura de Joseph. A vista de Demi turvou e sua mente girava, sem controle, tentando prever cada cenário possível. Esforçou-se para recordar as palavras que ele lhe dissera mais cedo, deixando o medo para trás a cada passo que dava em direção ao apartamento dele.
No entanto, a centímetros da entrada, o medo retornou com tudo, ancorando-se em seu peito. Ela bateu à porta e cada batida pareceu ecoar o palpitar feroz de seu coração. Secou as lágrimas, mas o corpo inteiro ainda tremia. Minutos se passaram sem que houvesse resposta.
Ela bateu de novo, com mais força e vontade.
– Atenda, por favor – recitou, como numa prece, tocando a campainha dessa vez.
Com lágrimas escorrendo-lhe pelas faces, espiou pelo olho mágico, imaginando-o do outro lado. A ideia de que ele pudesse estar observando-a, sem dizer uma palavra, era dolorosa demais e rasgava seu coração.
– Por favor – implorou ela, tocando a campainha outra vez. – Meu Deus, Joseph, por favor. Eu te amo. Eu sinto muito.
Nada.
Pegou o celular da bolsa e digitou o número dele. Com os olhos fixos na porta, ouviu o telefone tocar sem parar.
Você ligou para Joseph Jonas. Você sabe o que fazer.
O coração de Demi ficou apertado ao ouvir a voz dele. Aquela voz doce a assombraria para sempre se ele não a aceitasse de volta. A voz que implorou para que acreditasse nele. Ligou outra vez, mas não conseguiu deixar um recado.
Sua respiração seria a única mensagem que Joseph receberia.
Palavras... não havia palavras.
Demi levou a mão à boca ao tomar consciência de que talvez ele nunca a perdoasse. Por dolorosos minutos, ficou em silêncio. Então, a dor explodiu em seu peito, seguida de uma torrente de lágrimas. Os gritos ecoavam pelo corredor.
Dando um passo para trás, sentiu as costas baterem na parede. Seus olhos estavam fixos na porta de Joseph, a lembrança de seu rosto entranhada na mente. Uma dor lancinante se ondulou e enroscou dentro dela quando, por fim, Demi decidiu ir embora. Seu coração afundava ainda mais no peito a cada andar que o elevador descia.
Com os ombros caídos e o ânimo abatido, Demi destrancou a porta de seu apartamento. A pequena luz acima do fogão projetava um brilho tênue através da sala de estar. Caminhando com cautela para não despertar Selena, entrou no banheiro do quarto. Um manto de tristeza a envolvia.
Acendeu a luz e encarou o próprio reflexo no espelho. Os olhos, antes tão cheios de esperança, não continham o menor sinal de vida. Correu os dedos pelo rosto, pálido e borrado de rímel. Eram sinais externos de seu coração doente. Espalmou as mãos sobre a superfície fria do mármore da pia, deixou pender a cabeça e chorou, sorvendo o ar e lutando contra a dor que tomava sua alma. Era o arrependimento, em sua forma mais brutal, que lhe apertava o pescoço com força e sem clemência.
Abriu a torneira e deixou que a água quente lhe salpicasse o rosto e limpasse a maquiagem. Secou-se com a toalha, apagou a luz e caminhou até o quarto.
Exausta, deixou-se cair na cama, com a esperança de conseguir algumas horas de sono.
Mas não, isso não aconteceria.
Segundos, minutos e horas se passaram. O rosto magoado de Joseph e seus olhos verdes confusos continuavam a invadir sua consciência. Com a respiração vacilante, deitou-se de barriga para cima e encarou o teto. Durante as horas que se seguiram, ondas de dor penetraram seu coração.
Ela o havia deixado escapar.
***
Pegou a mala na parte de trás do jipe de Kevin, o coração ainda mais apertado enquanto ele contemplava o céu claro em meio à noite fria. Kevin se aproximou com uma expressão preocupada, a mesma que estampava no rosto quando Joseph fora encontrá-lo.
– Não precisa fazer isso, rapazinho! – gritou Kevin, os cabelos escuros balançando ao vento das turbinas. – Deixar a cidade no meio da noite não vai trazê-la de volta.
Joseph não estava certo se partir seria a solução para apagar a marca que Demi gravara a fogo em sua alma. Tampouco se isso sanaria a necessidade de tê-la. A única coisa de que tinha certeza era... que precisava sair de Nova York. Dar o fora e se afastar do fantasma de Demi.
– Preciso sumir do mapa por um tempo, Kevin – argumentou Joseph, passando a mão pelo rosto. – Não posso ficar aqui. Só garanta que nossas ações saiam das mãos do Alex.
Kevin suspirou fundo e assentiu.
– É a primeira coisa que farei na segunda de manhã. – ele bateu no ombro de Joseph, o olhar se abrandando. – Você precisa estar bem quando voltar, ok? Prometa que vai esquecer a Demi de vez.
Joseph arfou ao ouvir o nome dela.
– Sim – respondeu ele, a voz grave. – Vou tentar.
Depois de se encararem por um tempo, Joseph subiu a escada que levava ao jato e observou o irmão deixar o pequeno aeroporto particular. Estava no meio do maior turbilhão de sua vida. Sem pensar duas vezes, Joseph pegou o celular do bolso da calça jeans e o atirou na pista de pouso. O aparelho se espatifou no chão.Estava falando sério ao dizer que sumiria do mapa. Não queria ninguém confortando-o ou tentando convencê-lo de que seus atos eram destrutivos. Depois de entregar as malas para a comissária de bordo, recebeu os cumprimentos do piloto:
– Boa noite, Sr. Jonas. – com os cabelos grisalhos caindo sobre a testa, o piloto apertou firme a mão de Joseph. – Tudo o que o senhor pediu já foi providenciado e devemos chegar a Play a del Carmen em pouco mais de quatro horas.
Joseph fez um curtíssimo meneio de cabeça e se dirigiu à cabine particular.
Fechou a porta e seus olhos imediatamente pousaram sobre uma garrafinha de bourbon, que clamava por ele. Joseph a fitou com desprezo. A escuridão se infiltrava em seu corpo. Tirou o casaco e o jogou sobre a cama. Tentando afastar o demônio que invadia seus pensamentos, atravessou o pequeno espaço e pegou a garrafa com o líquido âmbar que entorpeceria sua mente. Nem fez caso de um copo: abriu-a e levou-a aos lábios. O álcool queimou-lhe a garganta sem aliviar a dor nem um pouco. Foi quando se deu conta de que jamais superaria a ausência de Demi.
Bêbado ou sóbrio, ela habitaria seu coração e sua alma até o dia em que morresse. Ele a amava. Precisava dela como do ar à sua volta... baixou a garrafa e correu a mão pelos cabelos, exausto, tentando afastar da memória a imagem dos lindos olhos de Demi. Caminhou até a janela, contemplando a cidade abaixo. Nada iria adiantar. Afogar as mágoas ou fugir não aplacariam o que sentia.
Ela se fora. À medida que o jato ganhava altitude, as luzes tremeluzentes sumiam e Joseph se perguntava quanto tempo seu luto duraria.
***
Quando a luz da manhã já fazia desaparecer as últimas estrelas, Demi se sentou na cama e foi até a cozinha. Não tinha dormido um único minuto e se sentia muito enjoada. Abriu a geladeira e pegou uma garrafa d’água. No instante em que Selena surgiu, ela afundou numa cadeira.
– Hm, pelo visto o babaca largou você aqui cedo esta manhã – comentou ela, irônica, olhando para Demi, e abriu um dos armários. – Que simpático da parte dele permitir que a noiva se arrume para o casamento na casa dela.
– Selena, eu não...
– Antes que você defenda o Alex ou suas próprias ideias delirantes, Demi, quero que saiba como o Joseph ficou arrasado ontem à noite. – Selena bateu a porta do armário com força. – Nunca o vi tão magoado.
Demi fechou os olhos, que estavam ardendo muito, o coração apertado diante da dor que havia causado a Joseph.
Ela balançou a cabeça.
– Selena, por favor. Eu não...
– Já sei, Demi. Você não está a fim de falar sobre isso – cortou ela, abrindo outro armário de supetão. – Ou, então, deixe-me adivinhar: você não acha que é uma burrice não acreditar no Joseph e se casar com o Alex.
– Selena – soltou Demi, se levantando. – Você não está me escutando. Eu não vou...
Selena se virou bruscamente, estreitando os olhos castanhos.
– Eu odeio ter que dizer isto, Demi, mas não vou estar presente hoje. Você ama o Joseph e o Joseph ama você. Ponto final. Eu acredito nele, então, se você não acredita, está me forçando a tomar partido. – ela pôs uma das mãos no quadril e correu a outra pelos cabelos castranhos e cheios. – Sinto muito, mas não vou ao casamento hoje.
– Ótimo, porque eu também não – sussurrou Demi, voltando a se sentar. – Não vou me casar com o Alex.
Com os olhos arregalados de choque, Selena esboçou um sorriso.
– Não vai? – perguntou, arfando e correndo para o lado de Demi.
Demi fez que não com a cabeça, depois caiu em prantos.
Selena se ajoelhou ao seu lado e passou os braços ao redor da cintura de Demi.
– Ai, meu Deus, ai, meu Deus. Você saiu de vez da minha lista negra. Eu te amo pra caralho!
– Eu magoei o Joseph – Demi quase engasgou ao dizer essas palavras. – Eu quis acreditar nele, e até acho que parte de mim acreditou, só que eu estava com medo e, agora, é tarde demais.
Selena pareceu confusa. Ela se levantou e puxou Demi consigo, depois pousou as mãos no rosto da amiga.
– Não é tarde demais. Assim que você telefonar, ele vai esquecer tudo. O Joseph te ama. Ele estava puto ontem à noite, mas morreria por você. Pode acreditar. Ele não parava de dizer isso.
Trêmula, Demi inspirou fundo.
– Eu fui até a cobertura do Joseph ontem à noite, mas ele não abriu a porta. – ela se afastou de Selena e se sentou numa cadeira, encolhida. – Liguei para o Joseph algumas vezes e ele não atendeu. Com certeza se encheu de mim, e eu mereço todo o sofrimento... –Demi balançou a cabeça. – Não consigo acreditar que tenha deixado isso acontecer.
– Ele não me deixou levá-lo para casa ontem à noite. – Selena caiu de joelhos e agarrou a mão de Demi. – Do jantar de ensaio, ele foi para a casa do Kevin. O que aconteceu o deixou um pouco mais sóbrio, mas estou quase certa de que o cara ainda não estava nas melhores. Pense em quanto ele estava chapado. São só sete da manhã. Joseph nem deve ter ouvido o telefone. Eu ligo para ele daqui a pouco, mas você precisa se acalmar, está bem?
Demi se desvencilhou lentamente e pressionou a base das mãos nos olhos.
Assentiu, relutante, reprimindo um pouco a preocupação.
– Está bem, vou tentar me acalmar.
O esboço de um sorriso surgiu nos lábios de Selena.
– Estou orgulhosa de você, Demi.
– Orgulhosa de mim? – questionou ela, limpando o nariz com o dorso da mão. – Por quê? Por ter magoado o Joseph? Não consigo tirar da cabeça a expressão dele.
O olhar de Selena se abrandou e ela acariciou o rosto da amiga.
– Estou orgulhosa por você enfim ter enxergado que merece uma vida melhor com um homem que a ama de verdade e que se importa com o seu bem-estar. Talvez o Joseph fique magoado por um tempo, mas vocês dois vão ficar bem. Você vai ver.
Demi encarou Selena e se permitiu um sopro de esperança. Torceu para que a amiga estivesse certa. Selena se pôs de pé e olhou o relógio.
– Seu dia de “descasamento” deverá começar daqui a pouco menos de quatro horas. O que precisa que eu faça, além de sair e buscar café para nós duas? O daqui acabou... definitivamente, você está com cara de quem precisa de uma xícara, e eu também adoraria uma. – Selena foi até o armário do hall de entrada, pegou o casaco e o vestiu. – Quer que eu ligue para a sua irmã? – ela parou no meio do caminho. – Ou melhor, quer que eu ligue para o seu ex-futuro marido e o mande à merda?
Demi se levantou e atravessou a cozinha. Pegou uma toalha de papel e assoou o nariz. A ideia de que Alex notaria a ausência dela assim que acordasse lhe deu arrepios.
– Ele ainda não sabe.
Selena franziu a testa.
– Como assim? Eu achei que...
– Saí depois que ele já tinha dormido – interrompeu Demi, passando a mão pelo rosto. – Ele não tem a menor ideia. Você é a única pessoa que sabe.
Selena ficou boquiaberta, de olhos arregalados.
– Hum... está bem. Eu posso estar errada, mas o noivo não deveria estar a par de uma coisa dessas?
Com um suspiro, Demi passou por Selena e foi até o quarto, começando a vasculhar as gavetas da cômoda. Além de Joseph, desejava ardentemente uma chuveirada longa e quente.
– É, Selena. Eu preciso tomar um banho e, quando terminar, ligo para ele.
Selena se encostou no batente da porta, o olhar preocupado.
– Você pode pelo menos esperar que eu volte do café? Vou entrar em contato com a Dallas e o Michael para eles saberem o que está rolando, certo?
Demi fechou a gaveta e olhou para Selena.
– Pode deixar, eu espero. – aproximou-se da amiga, a expressão cheia de ternura. Obrigada.
Selena segurou o queixo de Demi e o sacudiu de leve.
– De nada. Agora vai, entra no chuveiro. Volto daqui a alguns minutos.
Demi a observou sair. Depois que a porta da frente se fechou com um baque, não pôde deixar de sentir o pavor queimar-lhe o estômago. Confrontar Alex, com ou sem Joseph a seu lado, não seria fácil. Suspirou, tentando ignorar aquela queimação incômoda. Dirigiu-se ao banheiro, colocou a calça e o casaco de moletom sobre a bancada e abriu a torneira. Enquanto o vapor quente espiralava pelo ar, despiu as roupas da noite anterior e se enfiou embaixo do chuveiro. Pegou o sabonete e o deslizou lentamente pela carne dolorida entre as pernas, lembrando-se do que Alex fizera com ela.
Demi ficou cabisbaixa, envergonhada, e os cabelosencharcados, formaram uma cortina por cima do rosto. Cada um de seus músculos parecia contundido, mas a dor em nada se comparava à do coração partido, maltratado.
Mergulhou ainda mais fundo nos recessos escuros de sua mente, repassando sem parar os atos de Alex na noite anterior. Não estava muito longe de um pesadelo. Permitira que ele se safasse de muitas coisas no decorrer do último ano. Deu-se conta da enormidade de tudo aquilo. Ficou sem fôlego ao tomar consciência de como se enganara acreditando que ele a amava e se importava com ela e com o relacionamento. A assoberbante e profunda obrigação que sentira com relação a Alex a levara àquele exato momento. A raiva de si mesma fervia em seu corpo enquanto esfregava os braços, o rosto, as pernas, cada vez mais rápido e com mais força. Queria remover a existência dele de seus próprios poros. Aumentou a temperatura da água e se retraiu ao pensar em como deixara que ele manipulasse cada uma de suas ações.
Cada um de seus pensamentos.
Chorando, inspirou fundo e tentou se recompor. Não havia mais Alex. Não havia mais casamento. Fim da linha. Atordoada, Demi enxaguou o corpo não apenas do sabão, mas do veneno malicioso que ele injetara em sua alma. Saiu do chuveiro e se enrolou na toalha. De pé diante do espelho, olhou para a mulher da qual iria se despedir. Para sempre.
– Nunca mais – sussurrou. Balançou a cabeça, acariciou o próprio rosto e fechou bem os olhos. – Nunca mais.
Refletiu um instante sobre a loucura que estava por vir naquele dia, depois se vestiu, secou os cabelos e voltou para o quarto. Deteve-se quando ouviu o toque do celular: havia um recado à sua espera. Foi tomada ao mesmo tempo pela ansiedade de que fosse Alex e pela esperança de que fosse Joseph. Engolindo em seco, aproximou-se da mesinha de cabeceira e estendeu a mão trêmula para o telefone.
A ansiedade e a esperança evaporaram ao constatar que era uma mensagem de voz de Dallas. Demi cedeu ao cansaço, afundou na cama e descansou a cabeça num travesseiro. Enquanto ela escutava a irmã, preocupada, a porta da frente se abriu com um rangido. Sentou-se, ainda ouvindo os últimos segundos do recado: Dallas e Michael estavam a caminho.
– Sel? – chamou Demi, desligando o telefone. Atirou-o sobre a cama, passou a mão pelo rosto e se levantou para ir até o outro cômodo. – Espero que você tenha comprado alguma coisa para comer enquanto...
Ela parou na porta da sala de estar, apavorada. Alex estava casualmente encostado na bancada, bebericando suco de laranja. Seus olhos a percorreram.
– Quando acordei, você tinha ido embora, Demi – ele baixou o copo e foi até ela com um sorriso arrogante estampado no rosto. – Veio correndo se arrumar para se casar comigo hoje, é? – ele roçou os dedos pelo rosto dela. – Achei uma boa ideia passar aqui antes de ir para a casa do Trevor me aprontar.
– Fique longe de mim, Alex – sussurrou Demi, a voz trêmula. Deu um salto para trás, tentando esconder o medo que a dominava.
Alex piscou, surpreso.
– O quê?! – perguntou, agarrando o braço dela.
Demi se desvencilhou e cambaleou para trás, chocando-se contra a cristaleira.
– Você me ouviu. Eu mandei você ficar longe de mim, porra – sibilou ela. – Para mim chega, Alex. Acabou. Eu não estou mais disposta a ser sua vítima.
Antes que Demi pudesse reagir, ele a pressionou contra a parede, uma das mãos agarrando-lhe os cabelos enquanto a outra segurava seu queixo. Passou a língua no seu lábio inferior e perscrutou-lhe o rosto.
– Você deu para ele, não deu?
Apesar de estar com vontade de gritar de dor, ela respondeu com escárnio:
– Sim, eu dei para ele. Sim, estou apaixonada por ele e, não, não vou me casar com você agora, aliás, nunca.
Mesmo aterrorizada, ela conseguiu sentir um certo alívio, que se enraizou em algum lugar lá dentro, bem fundo.
Demi fechou os olhos, permitindo que imagens de Joseph se entranhassem em seus pensamentos, mas um tapa de Alex fez com que os abrisse novamente, assustada. O ardor percorreu seu rosto e ela começou a se debater contra o peito dele, tentando se libertar.
Com uma das mãos ainda emaranhadas em seus cabelos, Alex a empurrou pela sala e a jogou no chão. Demi caiu de quatro e tentou se levantar, mas ele a agarrou pelos cabelos e a forçou para baixo.
– Seu doente de merda! – gritou ela, agarrando seus pulsos.
Alex caiu de joelhos e puxou ainda mais os cabelos dela, obrigando-a a olhá-lo nos olhos.
– Depois de tudo o que eu fiz, você vai e trepa com ele pelas minhas costas?
Com a pulsação acelerada, Demi usou de todas as forças para arranhar e enterrar as unhas na pele de Alex, tentando soltar o cabelo das mãos dele.
– Você não fez nada além de me arruinar – gritou ela. Um sorriso zombeteiro surgiu em meio às lágrimas. – Eu queria ter dado para ele bem na sua frente.
Com um olhar vazio e gélido, mais escuro do que o céu noturno, Alex golpeou de novo seu rosto. Demi sentiu o supercílio se abrir, a dor espetando-lhe a carne. Arquejou quando o sangue, quente e espesso, escorreu-lhe pela têmpora e pela bochecha.
Ainda agarrando seus cabelos, Alex a ergueu e puxou seu corpo de encontro ao peito. Demi ousou olhá-lo nos olhos e engoliu em seco, a garganta apertada pelo medo: sua expressão lhe dizia que a tortura estava longe do fim. A adrenalina corria por suas veias e Demi cravou as unhas dos polegares em seus olhos, lanhando as pálpebras de Alex, que soltou um uivo gutural.
Em algum lugar acima da confusão, a mente de Demi registrou o som da porta da frente se escancarando seguido dos gritos de Dallas. Em meio a uma grande agitação, Michael correu até Alex e o puxou pelos ombros, arrancando-o de cima de Demi. Os dois tropeçaram, com braços e pernas se debatendo em todas as direções. Michael aterrissou com as costas no chão e Alex caiu por cima dele. O baque alto ecoou pela sala. Michael atirou Alex para longe, rolou de lado e ficou de pé.
Dallas passou o braço pelos ombros de Demi e a apertou com força contra si enquanto a irmã chorava convulsivamente. Alex se levantou, cambaleante.
Michael se atirou para a frente e deu um soco na boca de Alex, abrindo um corte no seu lábio.
– Eu devia ter feito isso com você ontem à noite, seu merda!
Alex se recompôs e agarrou o colarinho de Michael, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa, levou vários socos e desabou no chão.
Nauseada, Demi ouvia uma confusão de vozes, inclusive a de Selena. Queria gritar, mas ficou paralisada, incapaz de emitir qualquer som. O apartamento se encheu de vizinhos preocupados e, depois de alguns minutos, dois policiais chegaram. Após uma breve explicação de Michael, um deles colocou Alex de pé e algemou as suas mãos às costas.
– Você é a porra de uma piranha – esbravejou Alex, ofegante, cuspindo sangue na direção de Demi. – Nada além da porra de uma piranha! Espero que ele te coma e te largue, como faz com todas as outras, sua vagabunda!
Aquelas palavras venenosas assaltaram a mente de Demi. Sentiu-se como uma partícula de poeira minúscula se movendo em câmera lenta no meio de um furioso tornado. Apesar de toda a confusão de gente na sala cheia, ela não conseguia ver nada... exceto o rosto de Joseph. Embora um dos policiais tivesse ameaçado tornar inesquecível o pernoite de Alex na cadeia, ela não conseguia ouvir nada... apenas o ribombar do próprio coração. A única coisa que sentia era seu total entorpecimento.
Desvencilhou-se do abraço da irmã e andou até Alex, que tinha um sorriso arrogante nos lábios sangrentos. Olhando fundo na alma perversa do homem que amara por tanto tempo, para o qual se entregara por completo, deu-lhe um tapa na cara. Incapaz de controlar a angústia reprimida ao longo de todos aqueles meses infernais, ela continuou a esmurrar o rosto e o peito de Alex, mesmo depois de suas mãos frágeis começarem a doer.
– Você fez isso comigo! – gritou, lutando contra um dos policiais. Fuzilando Alex com os olhos, foi empurrada para trás. – Eu te amei e você se transformou em tudo aquilo no qual prometeu que nunca iria se transformar! E quer saber de uma coisa? – desferiu ela, ofegante. Alex olhou por cima do ombro, não mais sorrindo, enquanto o policial o conduzia para fora do apartamento. – Se o Joseph me deixar e nunca mais falar comigo, eu vou merecer cada segundo de infelicidade.
Trêmula, Demi observou Alex sair de sua vida tão depressa quanto entrara. Abraçou o próprio corpo e caiu de joelhos, as imagens de Joseph estilhaçando seu coração. Com um último resquício de força, Demi se encostou na mesinha de centro, enterrou o rosto nas mãos e se pôs a chorar. Dallas se sentou ao seu lado e aninhou a cabeça da irmã no seu ombro, embalando-a. Nesse instante, Demi se deu conta de que escapara de se tornar mais um número nas estatísticas de esposas violentadas.
Surpresa por ter deixado o relacionamento chegar àquele ponto, ela teve lampejos da mãe aceitando o mesmo tratamento brutal não só do pai, como de vários outros homens. As terríveis lembranças lhe deram calafrios.
– Calma, Demi – sussurrou Dallas, abraçando-a com mais força. – Já acabou.
Selena se ajoelhou ao lado delas e perguntou com suavidade:
– Você está bem?
Entregou uma bolsa de gelo para Demi e abriu um estojo de primeiros socorros. Depois de colocar um pedaço de gaze com esparadrapo no ferimento do supercílio, Selena franziu a testa.
Com os olhos marejados, Demi respondeu:
– Estou, eu estou bem, sim.
O policial remanescente se aproximou de Demi, seu corpo era estranhamente roliço e o uniforme não lhe caía nada bem.
– Senhorita, vou precisar de uma declaração sua. Os paramédicos devem chegar logo. Vão levá-la para o hospital se achar que deve ser examinada.
– Não. – Demi se contraiu ao encostar a bolsa de gelo na maçã do rosto inchada. – Não quero ir para o hospital.
– Tudo bem – respondeu o policial, olhando para a prancheta. – A senhorita pode recusar tratamento quando eles chegarem, mas, ainda assim, vão ter que aparecer por se tratar de violência doméstica.
– Demi, eu acho que você deveria ser examinada – opinou Michael, sentado no divã.
– Concordo – disse Dallas. Seu olhar transbordava preocupação.
Demi se pôs de pé, tentando controlar os pensamentos conflitantes. Deslocou-se, vacilante, pela sala, para verificar se Joseph retornara sua ligação.
Dallas e Selena se levantaram, apressadas, e a seguiram até o quarto.
– Demi... – começou Selena, confusa, segurando o braço de Demi com todo o cuidado. – Por que você não quer ir?
Demi lhe deu as costas e passou as mãos pelos cabelos. Pegou o celular e ficou consternada ao ver que não havia nenhuma ligação perdida de Joseph.
– Já disse que não, Selena. Eu não preciso ir para o hospital. – com os olhos marejados, ela desabou na cama. – Eu estou bem. Só preciso tomar umas aspirinas e dormir.
Os lábios de Selena formaram uma linha rígida. Olhou para Dallas, que também se mostrava preocupada.
Dallas cruzou os braços e se encostou no batente da porta.
– Às vezes você é muito teimosa.
– Eu sei – sussurrou Demi. – Mas é sério, eu estou bem.
Selena ergueu a cabeça e soltou o ar em direção ao teto. Então, voltou a encarar Demi e pôs uma das mãos no quadril.
– Quer saber por que não vou forçar a barra, amiga?
Demi fechou os olhos e balançou a cabeça.
– Por quê, Selena?
– Bem, porque você deu umas belas porradas no Babackleberry Finn antes de ele ser arrastado daqui.
Demi virou-se de lado e abraçou os joelhos contra o peito. Normalmente, teria achado engraçado o comentário de Selena. Mas não naquele momento. Não conseguia. Fez um enorme esforço para responder:
– Certo. – a tristeza embargava sua voz. Levou a bolsa de gelo até o rosto. Com os olhos úmidos de dor devido ao desconforto, fitou Selena. – É, acho que dei mesmo. – Demi respirou fundo e se cobriu. – Quando os paramédicos chegarem, mande-os entrar. Mas, neste instante, eu só preciso mesmo descansar.
Selena e Dallas assentiram. Sem mais uma palavra, deixaram o quarto. Na meia hora seguinte, Demi preencheu a papelada requisitada pelo policial e recusou tratamento quando os paramédicos enfim chegaram. Assim que o quarto se esvaziou e seus pensamentos se acalmaram, os olhos pousaram sobre o celular. Tomando-o nas mãos, empalideceu ao constatar que não havia nenhuma mensagem de Joseph. As lágrimas escorreram livremente por suas faces.
Sabendo que precisava explicar a dor que lhe infligira, discou seu número. Mordia a parte interna do lábio enquanto ouvia tocar. A ligação caiu na caixa postal. Ela já ia encerrar o telefonema, mas se deteve. Apreensiva, desejava-o agora intensamente, e a dor lhe apertava o peito.
– Joseph... eu... É a Demi – sussurrou, tentando não tropeçar nas emoções. – Não acredito que você vai voltar a falar comigo algum dia, mas preciso dizer umas coisas.
Respirou fundo e soltou o ar antes de seguir em frente:
– O Alex me fez sentir menos viva, Joseph. Mas você... você me trouxe de volta à vida. Quando a Gina abriu a porta, naquela manhã, eu...
Demi fez uma pausa, enxugando as lágrimas.
– Fiquei com medo de você tê-la aceitado de volta, mas eu devia ter deixado que você se explicasse. Sinto muito. Com tantas garotas no mundo para se apaixonar, você foi logo me escolher. Sinto muito por não ter acreditado em você quando devia. Eu te amo, Joseph. Você dizia que me amava desde a primeira vez em que me viu, e eu também te amei desde o começo. Alguma coisa dentro de mim me disse que era para eu estar ao seu lado, mas eu lutei contra isso. No início, muitas coisas a seu respeito me assustaram, mas depois, você me mostrou quem é de verdade.
Incapaz de continuar lutando contra sua dor, Demi se pôs a chorar descontroladamente.
– Me perdoe, por favor, por ter lutado contra nós, Joseph. Por favor, me perdoe por não lutar a nosso favor quando eu sabia que era para a gente ficar junto. Me perdoe por ser fraca. Mas, acima de tudo... obrigada por me amar. Obrigada por seu sorriso de covinhas e por suas tampinhas. Eu nunca mais vou conseguir olhar para uma sem pensar em você. Obrigada por seus Yankees idiotas e por suas observações espertinhas. Obrigada por querer fazer passeios de carro tarde da noite comigo e assistir ao pôr do sol. Obrigada por querer tudo comigo, o bom, o ruim e tudo o que há entre um e outro.
Demi fez uma pausa e balançou a cabeça, mas, antes que pudesse dizer qualquer outra palavra, a caixa postal a cortou, o longo bipe avisando que o tempo havia se esgotado.
– Me desculpe por ter mostrado apenas o meu lado ruim – sussurrou ela, fitando o teto e pressionando o telefone contra o peito.
Joseph foi embora e agora?
Demi finalmente jogou as verdades na cara do Alex, ele é um fdp bater na Demi mas amei ela metendo um tapa na cara dele também hahaha.
Michel te amo, bem feito pro Alex.
e o que acham que vai acontecer agora, será que ele vai voltar ou a Demi vai atrás dele?
e vocês acham que o Alex vai voltar?
deixem seus palpites.
Meu Deus,Por que o Joe foi embora eu entendo ele sabe sei que dói e ele não vai ouvir o recado da Demi, como será que ela vai ficar quando descobri que ele foi embora,será que o Kevin vai dizer pra onde ele foi,ela tem que ir atrás dele
ResponderExcluirEla vai ficar mal mas irá fazer de tudo para encontra-ló.
ExcluirVou postar hoje, bjs lindona <3
Menina, que capítulo foi esse?? Chocada!!
ResponderExcluirAcho que merecemos um capítulo hoje...
Beijos <3
Que bom que está gostando.
ExcluirVou postar hoje, bjs lindona <3
Não acredito que o Alex teve coragem de bater nela... Chocada.... Cretino covarde... Sem contar que ele praticamente violentou ela na noite anterior... Eu pelo menos vi assim... Eu estava rezando pro Joe chegar e acabar com esse Alex e ele foi embora.... Estou achando estranho a Demi vomitando... Pelo amor de Deus me diz que ela não está grávida do Alex por favor!!!! Continua....
ResponderExcluirEle é um babaca cretino.
ExcluirO Joseph está muito magoado, ele só precisava esquecer de tudo.
A Demi não está grávida, não por enquanto hahaha
Vou postar hoje, bjs lindona <3