28/01/2017

heartbeat: capítulo 22


Tempo

O telefone chamou pela vigésima vez. Joseph desligou e atirou o aparelho ao seu lado no sofá.
A essa altura, Alex estava sendo implacável e Joseph estava pouco se lixando. Acabando a última cerveja de um pack de seis, ele ficou zapeando pelos canais da televisão sem nem pensar no que fazia. O líquido frio deslizou pela garganta. No entanto, o único sabor que guardava na boca e que sentia correndo por suas veias era o de Demi. Joseph não conseguia se livrar dela, por mais que tivesse passado as últimas duas semanas tentando. Mesmo assim manteve sua promessa. Ainda que aquilo exigisse todo seu autocontrole, não a havia procurado. O que não a impedia de aparecer em todos os pensamentos coerentes dele, tampouco de assombrar seus pesadelos enquanto dormia.
Demi tinha se transformado numa dor diferente de tudo que ele já havia conhecido.
O som do relógio tiquetaqueando na parede chamou a atenção de Joseph. Olhou para ele e imaginou Demi saindo da igreja. Era a noite do ensaio de casamento dela e de Alex.
Joseph não estava com a menor vontade de avisar a Alex que não compareceria. 
Porra, nada daquilo tinha importância. Ele não sabia quanta dor seu coração ainda seria capaz de suportar, e aparecer na igreja ou no jantar só o deixaria ainda mais arrasado. Padrinho de casamento ou não, ele não iria.
Em menos de 24 horas, a mulher que amava, com quem se imaginara dividindo toda uma vida, a mulher que ele achara que, um dia, daria à luz seu filho, já não seria Demi Jonas, mas a Sra. Alex Pettyfer.
Tudo isso era muito mais do que Joseph conseguia suportar.
De pé, ele foi até a cozinha com a intenção de abrir o segundo pack de cerveja. Mas então alguém bateu à porta. Depois de pegar a bebida na geladeira, foi atender. Um pouco surpreso com a visita, voltou para a sala de estar e se largou no sofá, sem dizer uma única palavra.
– Você está um lixo – observou Selena, entrando na cobertura. – Me avise se eu estiver enganada, mas tenho quase certeza de que você possui recursos para comprar uma lâmina de barbear. Será que o homem que vale milhões foi à falência?
– Você sempre foi engraçadinha – murmurou ele sem olhar para ela, continuando a zapear pelos canais. – Não deveria estar no jantar de ensaio?
Depois de largar a bolsa no chão, ela tirou o casaco e o cachecol.
– Tanto quanto você – brincou Selena, se jogando numa poltrona de couro. – Você não estava na igreja e não está vestido para a festa. Vamos lá, vá tomar um banho. Eu espero você se arrumar. Ah, e eu dirijo, já que está evidente que você andou bebendo.
Balançando a cabeça, Joseph pegou uma garrafa do pack, tirou a tampa e bebeu um longo gole.
Ele não respondeu, mas lançou para Selena um olhar, no mínimo, ameaçador.
– O quê? – perguntou ela com um dos tons mais inocentes que ele já ouvira.
– Ah, porra, Selena! Dá um tempo. – ele estreitou os olhos. – Você sabe que eu não vou.
Ela inclinou a cabeça para o lado, os olhos castanhos arregalados.
– Uau, Joseph, pensei que tivesse um pouco mais de garra. Você é um homem poderoso em todos os aspectos, a não ser quando se trata disso? Quando se trata de Demi, você simplesmente joga a toalha, é? – ela deu de ombros e cruzou as pernas. – Hum, acho que não o conheço tão bem quanto imaginava.
– Se ainda tenho garra? – rebateu ele. Desligando a televisão, jogou o controle remoto em cima da mesa de vidro. O som agudo fez Selena se sobressaltar. Ele ficou de pé. – Por que eu iria lutar por alguém que não corresponde ao meu amor? Estou arrasado com o que aconteceu. Acredite em mim, você nem imagina as ideias que brotaram na minha cabeça nas últimas semanas, entre elas sequestrar Demi. Vou amar aquela garota até o dia em que morrer, mas não sou nenhum otário. Sua amiga é um pouco mais sacana do que eu imaginava.
Selena o avaliou por um momento enquanto Joseph caminhava pela sala.
– Sacana? Você se dá conta de quem foi que abriu a sua porta só de calcinha logo depois que deixou Demi em casa? – ele a fitou com um olhar gelado, mas Selena prosseguiu: – Ela está em frangalhos, Joseph. Você tem um longo histórico de abandonar as mulheres depois de ir para a cama com elas. Minha amiga está machucada porque você a traiu. Esperava mesmo que ela reagisse de outro modo?
Passando as mãos pelos cabelos, Joseph fechou os olhos.
– Eu não a traí! – quando abriu os olhos outra vez, viu o choque no rosto de Selena, mas não se importou. – Talvez você tenha razão quanto a não me conhecer tão bem quanto imaginava, mas sabe que me transformei num animal insensível nos últimos anos. Por que eu iria até o trabalho dela para conquistá-la de volta? Por que eu abriria meu coração par ela? Por uma trepada? – ele riu, embora sem nenhuma diversão. Enfiando a mão no bolso, pegou o celular e o atirou para ela.
– Porra, Joseph!
– Porra, nada. Pode olhar minha lista de contatos. Não faltam mulheres disponíveis para mim e ansiosas por isso. São muitas. Com um telefonema posso trepar por dias e dias, se quiser. Gina veio aqui bêbada naquela noite, falando que o pai dela tinha morrido. Certo, talvez eu não devesse tê-la deixado entrar. Talvez eu devesse tê-la jogado na rua como o animal no qual ela me transformou. – soltando um suspiro derrotado, ele sentou-se no sofá com os cotovelos sobre os joelhos, a cabeça apoiada nas mãos e os dedos enterrados nos cabelos. – Mas não fiz isso – sussurrou. – Não fiz e agora Demi se foi. A mulher que amo não acredita em mim porque fui estúpido o suficiente para deixar a garota que amei um dia entrar na minha casa. Ela estava bêbada, tirou a calça e desabou no meu sofá. Eu nem quis tocar nela para colocá-la para fora daqui naquela noite porque ela não estava vestida. Não quis que minhas mãos tocassem nela porque tinham acabado de tocar Demi.
Ele ergueu a cabeça e olhou para Selena, imóvel.
– Eu amo a Demi. Cacete! Eu a amo tanto que passaria por tudo outra vez, pela dor e tudo mais, só para abraçá-la novamente. Mas não fiz nada de errado, a não ser deixar Gina entrar aqui. Então, não, Selena, não tem nada a ver com o fato de eu ser poderoso ou de estar jogando a toalha. A questão é que Demi não acredita em mim e, acima de tudo... que ela não me ama.
Depois de passar alguns segundos tentando absorver tudo o que Joseph tinha dito, Selena se levantou e sentou-se ao lado dele, pondo a mão em seu ombro.
– Ela ama você, sim, Joseph. Ela...
– Ora, Sel – interrompeu ele, pegando a cerveja. Terminou-a com um só gole. – Ela me disse que não. Você quer que eu repita as palavras dela? Continuam bem gravadas na minha memória. Bêbado ou não, acho que eu não teria a menor dificuldade em repeti-las.
– Eu sei o que ela disse. – ela pegou a garrafa vazia da mão dele e a colocou na mesa. – Mas também sei o que ela me disse depois que você foi vê-la naquela noite. – ele fez menção de falar alguma coisa, mas Selena o silenciou: – Ela não acredita em você nesse momento, mas ela o ama, sim. Ela falou aquelas coisas para tentar magoá-lo, do mesmo jeito que achava que você a tinha magoado. Demi está um caco, Joseph – sussurrou ela, os olhos cheios de carinho. – Seus nervos estão em frangalhos. Ela está deprimida, calada e vomitando por causa dessa situação toda. Mesmo achando que consegue tirar você da cabeça e se apaixonar por Alex outra vez, sempre que ele não está, ela fica chorando... por sua causa.
– Você diz que ela me ama, que chora por minha causa, mas mesmo assim vai se casar com ele? – perguntou Joseph, nada convencido.
– Eu sei o que você está pensando, mas...
– Ah, sabe? Porque nem eu sei direito o que estou pensando! – exclamou, ficando de pé. A cerveja não estava cumprindo sua função. Precisava de algo mais forte. Foi à cozinha, abriu a porta do armário e pegou uma garrafa de bourbon e um copo.
Selena se levantou, cruzando os braços.
– Vai me deixar terminar de falar, babaca?
– Agora sou infiel e babaca? Claro, por que não? – devolveu ele, o tom de puro sarcasmo. Encheu o copo. Depois de virá-lo, estalou os lábios e olhou para ela. – Que merda é essa da qual você está tentando me convencer, Selena? Nada disso faz sentido, caralho!
Passando para a cozinha, Selena jogou os cabelos de lado e olhou para Joseph como se ele tivesse dez cabeças.
– Qual parte você não entende, Jonas? – ele retribuiu com a mesma expressão, mas ela foi em frente: – Alex foi uma aposta segura quando ela se mudou para cá. Ela conheceu você e, por mais que tivesse tentado lutar, nunca conseguiu resistir, Joseph. Não vamos nem mencionar a forma como vocês dois se conheceram. – fazendo uma pausa, uma leve risada escapou de seus lábios. – Ela se tornou sua assim que o viu. Pode acreditar, tive que ouvir tudo sobre o Sr. moreno, gostoso e bonitão. – Joseph não conseguiu se conter, erguendo uma sobrancelha curiosa diante daquela afirmação. – Depois de tudo que ela passou com Alex, você se tornou a aposta segura. Mas isso foi arrancado dela. Infelizmente, você a fez acreditar que Alex é, de fato, a aposta mais segura.
– Pare de dizer “aposta segura” – resmungou ele enquanto se servia de outra dose, ainda intrigado com o apelido do qual nunca tinha tomado conhecimento. Selena suspirou e revirou os olhos. – Então, deixe-me ver se entendi. – ele se encostou na bancada com um sorriso torto. – Ela está ficando com o prêmio de consolação que, por acaso, é o cuzão que a traiu de verdade? – ele fez uma pausa e riu. Embora a dor persistisse, o efeito da bebida foi rápido. – Mas espere. Ao que parece, eu sou o cuzão que a traiu.
– Prêmio de consolação? – perguntou ela, as sobrancelhas franzidas. – Isso é uma brincadeira para você, Joseph? Ela está sofrendo.
– É claro que não é uma brincadeira, caralho. É a porra da minha vida e o que deveria ter sido minha vida com Demi. – ele engoliu outra dose, limpou a boca com as costas da mão e bateu o copo na bancada. – Eu também estou sofrendo, mas deixe-me tentar adivinhar, você ainda acha que eu traí Demi. Pode falar. Diga que não acredita em mim.
– Para dizer a verdade, até chegar aqui, não acreditava, mesmo – respondeu ela, olhando para o relógio e depois de volta para Gavin. – Mas agora acredito.
– Ah, acredita? – ele deu um sorriso sarcástico, quase uma risada. – E por que você acredita em mim, de repente, poderosa rainha Selena?
Ela o encarou por um longo momento e, em seguida, pegou a bolsa, o casaco e o cachecol. Refez o caminho até a porta e se virou para olhar para ele.
– Porque, mesmo quando estava na pior depois de Gina – sussurrou ela, a expressão dolorida. – Você não ficou... com uma aparência tão torturada como agora.
Joseph estremeceu e o sorriso sarcástico abandonou seu rosto.
– Eu amo vocês dois – continuou Selena. – Você é meu segundo irmão e ela é a irmã que nunca tive. – ela deixou escapar um suspiro profundo. – E vê-los feridos desse jeito está me matando.
Correndo as mãos pelos cabelos, ele se empoleirou num banquinho.
– O que eu faço? – perguntou, a voz baixa e o coração ainda mais pesado. – Pela primeira
vez na vida... – ele hesitou e olhou para o chão. Bem devagar, ergueu os olhos de volta aos dela. – Deus, pela primeira vez na minha vida, Selena, eu não sei o que fazer. Ela não acredita em mim.
Embora ele não pudesse ver, do outro lado da sala, os olhos de Selena se anuviaram.
Virando-se outra vez para o relógio, um sorriso tímido surgiu em seus lábios.
– Então faça com que ela acredite, Joseph. Você tem menos de 24 horas para mudar o curso das suas vidas. – ela pendurou a bolsa no ombro e abriu a porta. – Espero ver você lá.
– Então saiu para o corredor. Joseph a viu enfiar a cabeça pela porta outra vez. – Ah, e se decidir ir atrás da sua garota, faça o favor de se barbear. Você é muito lindinho, mas essa barba por fazer não tem graça nenhuma.
Joseph deixou escapar um suspiro profundo.
– Mais alguma coisa?
– Na verdade, sim – respondeu ela, batendo o dedo na bochecha. – Vê se deixa de lado essa história de jeans e casaco de moletom também. Amo você, meu irmão.
Joseph balançou a cabeça e ficou olhando quando Selena fechou a porta e se foi.
O tempo não estava do lado dele, nem do de Demi. Olhando outra vez o relógio, Joseph ficou ali, sentado. A mente continuava abalada com a conversa. Permaneceu imóvel por mais alguns minutos, tentando sem sucesso, dar sentido a tudo que girava pela sua cabeça.
Apesar da crescente inquietação diante da ideia de nunca mais estar ao lado de Demi, a ideia de ir até lá apenas para ser rejeitado o fez se dar conta de que a decisão que estava prestes a tomar era a melhor. Não havia como negar que precisava dela, assim como os pulmões precisavam de ar. No entanto, desta vez, ele preferia sufocar a ter que encarar Demi e ouvir de novo aquelas palavras maldosas. Não. Ele não iria esta noite. E, com isso, Joseph soube que mudara o curso da vida dele e de Demi para sempre.

***

Apesar de algumas semanas terem se passado, Demi oscilava sobre uma linha tênue entre a sanidade e a loucura. Era como se fosse feita de vidro e dois pequenos martelos segurados por Alex e por Joseph arrancassem suas lascas, pouco a pouco. Tinha certeza de que, a qualquer instante, quebraria em um milhão de cacos irregulares. Os pedaços maiores, que eram Alex, cortavam sua carne. Os menores, Joseph, se enfiavam sob sua pele. Ambos iam fatiando seu coração, transformando-a num cadáver ensanguentado da mulher que fora um dia. Tinha a sensação de estar se observando a distância, como se fosse uma terceira pessoa, não mais no controle de seus pensamentos ou do caminho que seguia. Olhando para o próprio reflexo, não pôde negar a pequena sensação de alívio ao chegar à igreja e perceber que Joseph não tinha aparecido, mesmo assim, ainda o desejava. Parte dela sabia que estava sendo evasiva. Tentava colar o que se quebrara entre ela e Alex, embora uma enorme parte do relacionamento tivesse virado pó. Ainda assim, precisava se apegar a alguma coisa e se agarrou ao vislumbre de esperança de que talvez pudesse voltar a sentir por Alex o que já sentira um dia. Precisava se apaixonar por ele outra vez.
Nos últimos tempos, porém, tinha se transformado numa ótima mentirosa, fazendo o próprio jogo de resistência ao óbvio. Sentia-se a mestra da trapaça porque sabia que estava tentando se iludir achando que conseguiria esquecer Joseph e cada olhar roubado que tinham compartilhado, cada roçar acidental de pele e cada momento que tiveram juntos até o momento em que se deu conta de que o amava. A força de vontade e a cadeia de mentiras da qual tentava se convencer jamais seriam suficientes para impedir que seu coração se abrisse por inteiro depois das cicatrizes que restaram daquela confusão. Portanto, esta noite, enquanto olhava para a casca vazia da mulher na qual tinha se transformado, perguntou-se até onde a ilusão a levaria em seu casamento, por quanto tempo Joseph iria assombrá-la e por quanto tempo conseguiria se enganar. Tentando se recompor, Demi desviou o olhar de seu reflexo quando Fallon entrou no banheiro.
– Você está bem? – perguntou a amiga aproximando-se dela. – Ou continua enjoada?
Demi balançou a cabeça e pigarreou.
– Não, estou bem, agora. – ela pôs o batom na bolsa. – Selena já chegou?
– Ela me mandou uma mensagem dizendo que estaria aqui em dois minutos. –Fallon entregou a bolsa para Demi e entrou em uma das cabines do banheiro. – Ela precisou passar em algum lugar depois da igreja.
– E para onde Trevor foi? – perguntou Demi, colocando as duas bolsas sobre a bancada.
– Assim que chegamos aqui, ele percebeu que estava sem dinheiro. Correu até um caixa eletrônico.
Respirando fundo, Demi abriu a torneira e começou a lavar as mãos. Foi nesse momento que Selena surgiu no banheiro.
– Ei – cantarolou ela, tirando o cachecol.
– Aonde você foi? – sondou Demi, pegando uma toalha de papel.
Ela jogou os pertences em cima da bancada e estudou seu reflexo. Olhou para Demi.
– Eu... é... tive que sacar dinheiro.
– Mas que história é essa de todo mundo achar que precisa de dinheiro enquanto estiver aqui? – perguntou Demi, arqueando uma das sobrancelhas. – Já está tudo pago.
– Para as gorjetas de quem está nos servindo. – Selena deu de ombros. – Você, melhor do que ninguém, devia pensar nisso.
– Ah, é mesmo, acho que eu devia, sim – respondeu ela, distraída, a voz sumindo.
– Sua cabeça não está onde deveria. Eu entendo. – Demi olhou para Selena com uma  pergunta nos olhos. – Eu sei que o babaca não percebeu como você tem agido ultimamente, já que anda consumido por trabalhar até tarde outra vez, mas eu notei. – Demi fez menção de falar, mas Selena continuou: – E devo admitir que acho esse papo de ele trabalhar até tarde pura balela. Mas você parece acreditar nele, então é isso que conta, certo?
Demi deu um suspiro exasperado.
– Ai, Deus, por favor, não comece com esse assunto outra vez, Sel. – ela pegou a bolsa sobre a bancada. – Agora, não. Eu não aguento e não vou tolerar.
– Só estou tentando encontrar sentido em tudo isso, Demi. – segurando o cotovelo da amiga com carinho, Selena a impediu de sair. Com lágrimas nos olhos, Demi olhou para ela.
– Você está apaixonada por um homem, mas vai se casar com outro. Sério, pare e pense no que está prestes a fazer. – Demi ficou muda e olhou para ela.
Mordendo o lábio e visivelmente desconfortável, Fallon saiu da cabine e lavou as mãos.
Enxugou-as e pegou sua bolsa.
– Vou deixá-las a sós. Vejo vocês lá dentro.
– Você não precisa fazer isso – sussurrou Selena, olhando para Demi depois que Fallon saiu. – Mesmo que não acredite em Joseph, não precisa se casar com Alex.
– Eu amo Alex – respondeu ela, olhando para baixo, a voz fraca.
Tomando o queixo de Demi na mão, Selena levantou seu rosto.
– Não tenho a menor dúvida de que você gosta dele, Demi, mas não está mais apaixonada, e achar que pode se apaixonar outra vez é delírio, amiga.
Demi secou uma lágrima.
– Eu vou me apaixonar por ele outra vez. – ela olhou para Selena por um longo instante e fez o seu caminho até a porta. Virando-se, fungou e balançou a cabeça. – Vou me casar com ele amanhã, Selena. Você pode me apoiar ou não, e espero, por Deus, que me apoie, mas já me decidi.
Demi abriu a porta. Antes que sua mente pudesse sequer começar a digerir a conversa que acabara de acontecer, os olhos foram capturados por um olhos verdes que lhe causava a mais inimaginável dor no coração, confusão e, agora, a respiração acelerada. 
Sentindo-se congelada, Demi conseguiu se mover enquanto fitava Joseph do outro
lado do restaurante. Ele lhe pareceu mais amarfanhado do que ela poderia ter imaginado, mas isso não impedira seu corpo de reagir ao rosto sensualmente belo. Aquele rosto cheio de dor a fitava de volta. Quase que de imediato, Demi sentiu o coração martelando no peito, gotículas de suor rastejando por cada poro da pele e cada pelinho de seu corpo se eriçando.
Embora convidados de diversas festas vagassem pelo saguão, os olhos deles não se desgrudaram. Com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans, ele caminhou até ela e a respiração de Demi ficou presa na garganta. Registrou por alto o som da porta do banheiro se fechando às suas costas quando Selena saiu.
– Você precisa conversar com ele – disse a amiga, colocando uma das mãos nas suas costas.
Antes que ela pudesse protestar, Joseph estava bem à sua frente. Com sua colônia lhe fazendo cócegas no nariz e os olhos concentrados nela. Demi teve certeza de que iria desmaiar.
– Você está linda – sussurrou ele, se aproximando.
E, por Deus, estava mesmo. Com os cabelos castanhos ondulados caindo sobre uma camisa branca combinando com uma saia curta vermelha e botas pretas na altura dos joelhos, Joseph lutava para se controlar. Fora um tolo de achar que conseguiria ficar longe depois do que Selena lhe dissera. Mas aquela era sua última tentativa de reconquistá- la.
Engolindo em seco, Demi deu um passo para longe dele, as costas batendo em Selena.
– Por que você está aqui? – nervosa, desviou o olhar do dele e passou a vasculhar à sua volta, à procura de Alex. – Você tem que ir embora.
Joseph deu um sorriso triste, a voz saiu baixa:
– Bem, faço parte do cortejo deste casamento. Embora ache que o motivo de eu estar aqui seja bastante óbvio. – ele chegou mais perto ainda. Foi então que Demi sentiu o cheiro de bebida em seu hálito. – E não, boneca, não vou embora até você conversar comigo. Está me entendendo?
Chocada, ela não respondeu. Na verdade, estava sem palavras. Apenas o fitou.
Joseph se voltou para Selena.
– Você fica de olho no Alex?
Ela assentiu.
– Eu verifiquei quando entrei. Tem uma sala vazia aqui. – Selena apontou para uma porta adjacente a eles. – Mas seja rápido.
Afastando-se de Selena, Demi semicerrou os olhos.
– Foi você que armou isto?
Selena deu de ombros. Depois de fuzilar a amiga com o olhar, Demi se virou para Joseph.
– Não vou conversar com você – zombou, fazendo menção de se afastar.
Ele a pegou pelo cotovelo.
– Então acho que vai me obrigar a fazer uma declaração pública sobre nós dois bem aqui na sua festa.
– Você não faria isso – bufou ela, desvencilhando-se.
– Hum, quanto a isso, você está muito enganada. – ele riu, o corpo cambaleante. Voltou a atenção para um homem mais velho que passava por eles. – Desculpe-me, senhor – disse
Joseph, aumentando a voz.
O cavalheiro grisalho, que felizmente não estava com o grupo de Demi, olhou para ele.
– Posso ajudar?
– Pode, sim. É que estou com um problema. Sou completamente apaixonado por esta linda mulher aqui – começou Joseph, apontando para Demi. Os olhos dela se arregalaram de incredulidade. – E ela não quer me dar alguns minutos para esclarecer um mal-entendido. O senhor tem alguma sugestão de como eu deveria lidar com essa situação?
Mostrando-se desinteressado, o homem balançou a cabeça e se afastou.
– Tudo bem – murmurou Demi, em tom acalorado. – Você tem dois minutos. – dando meia-volta, ela empurrou as portas que conduziam à sala. 
Joseph olhou para Selena.
– Mantenha Alex ocupado pelo tempo que conseguir.
Ela assentiu.
Ao entrar no salão vazio, Joseph flagrou Demi olhando para ele, os braços cruzados demonstrando o aborrecimento óbvio. Na penumbra, iluminada apenas pela lua opulenta que se exibia através de uma enorme janela, Joseph percebia o fogo ardendo com violência por trás dos olhos castanhos. Quando caminhou até Demi, ela foi se afastando e quase tropeçou em uma torre de cadeiras empilhadas.
– Não fuja de mim, Demi – disse ele, mantendo a voz baixa enquanto se aproximava.
– Não se atreva a me dizer o que fazer – cuspiu ela, o queixo empinado em desafio.
Ela continuou a se afastar, o som dos saltos ecoando por toda a sala. Queria ser impenetrável ao cheiro dele, à voz, ao rosto, mas sabia que com a proximidade de Joseph sob o brilho sereno daqueles olhos verdes, seria impossível.
Implacável, ele continuou aquela perseguição até imprensar Demi contra uma mesa.
Buscando forças, ela respirou fundo quando ele acariciou seu rosto. Mordendo o lábio, ele inclinou a cabeça e olhou fixo para ela, ambos com a respiração pesada.
– Quando eu quis ligar, não liguei, mas quase liguei. Quando eu quis ver você, e Jesus, como eu tenho precisado vê-la, eu entrei no meu carro e saí outra vez – sussurrou ele, descendo a mão livre até a cintura dela. – Diga que me ama, Demi.
– Vá se foder – sussurrou ela, o peito subindo e descendo.
Ele deu um sorriso irônico, puxando o rosto dela para o seu até estar bem pertinho.
– Esses lábios bonitos estão escondendo uma mentira. – agarrando a cintura dela com mais força, ele a puxou de encontro ao peito. – Você acha que consegue me arrancar dos seus pensamentos. Não. Você é minha, Demi. Minha – rosnou ele.
Demi não conseguia pensar. Antes que se desse conta, atirou os braços em volta do pescoço dele e o puxou para sua boca. Com os dedos enterrados nos cabelos de Joseph, ela gemeu de encontro aos lábios dele. Não era um beijo apaixonado. Era um beijo que não abria espaço para discussões, igualmente feroz e possessivo de ambas as partes. Uma irritação quente, sufocante e reprimida passou por eles, mas também havia amor ali. Com os lábios ainda colados aos dela, Joseph a tomou nos braços e a sentou sobre uma das mesas, posicionando-se entre suas pernas. Demi tentava recuperar o fôlego enquanto ele agarrava a parte de trás de seus joelhos e os enganchava ao redor de sua cintura. O doce sabor de álcool na boca de Joseph era quase o bastante para intoxicá-la. Um gemido profundo escapou da garganta de Joseph enquanto sua língua tomava a dela. Quanto mais Demi puxava os cabelos dele, mais intenso o beijo se tornava e mais profundamente ela caía, esquecendo-se de onde estava, de quem era, do espaço, do tempo e do quanto ele a magoara.
– Diga que me ama – rosnou ele, as palavras pronunciadas de encontro à boca de Demi, a mão mergulhando debaixo da saia.
Quando ele lhe arrancou a calcinha, Demi só conseguiu se concentrar na sensação das chamas que começavam a lambê-la, ameaçando o pouco de autocontrole que lhe restava. Ele cobriu a carne quente de Demi com a mão. Deslizou dois dedos para dentro dela enquanto o polegar fazia círculos em seu clitóris. Ofegante, ela afastou a boca da dele, os braços ainda agarrados ao seu pescoço enquanto respirava de maneira ofegante e abafada contra os ombros dele. Em seu misto de sentimentos, raiva, amor, paixão e mágoa, ela cravou os dentes na pele dele. Queria sangue. Queria que ele sentisse dor, que sentisse a mesma agonia que ela vinha sentindo todos os dias desde aquela manhã terrível. Joseph gemeu e, com a mão livre, agarrou os cabelos de Demi e inclinou sua cabeça para cima, deixando as costas dela tensas. Os olhos dele fuzilaram os dela. Com a respiração pesada e os dedos ainda entrando e saindo de Demi, a mente se afogou em seus arquejos. Então ele a beijou outra vez.
– Se eu pudesse, arrancaria meu coração para lhe mostrar quanto a amo. – ele mordiscou a orelha dela e Demi quase gozou nos dedos dele. – Porra, como sinto sua falta! Eu a amo tanto e você está acabando comigo, Demi.
– Seu filho da puta, você não me ama. Eu te odeio, Joseph. Eu te odeio – dizia ela, tentando afastá-lo.
Mas ele não estava disposto a largá-la. Passou o braço pelas costas dela, puxando-a para a beirada da mesa sem que os dedos parassem a deliciosa investida em seu sexo. Demi mais
uma vez enfiou as mãos nos cabelos dele, um gemido escapando dos lábios enquanto jogava a cabeça para trás, expondo o pescoço em toda a sua beleza. Joseph aproveitou a oportunidade para enterrar o rosto em sua clavícula. Ele traçou uma linha tórrida e molhada pescoço acima, mordiscando e sugando até a boca retornar à dela.
– Eu gostaria de poder odiá-la, seria mais fácil, mas você não tem ideia de quanto a amo – arquejou ele, chupando o lábio inferior dela e mordiscando-o. – E isso que você está sentindo não é ódio. Você me ama, porra. Está com raiva por algo que nunca aconteceu. Me bata de novo, caralho. Me dê um soco se precisar, mas pare de dizer que não me ama porque a única coisa que você está fazendo é mentir para si mesma. Está destruindo a gente.
Ainda agarrada aos cabelos de Joseph, ela afastou os lábios dos dele. Ambos lutavam para
respirar enquanto trocavam olhares lascivos. Mantendo uma das mãos enterrada nos cabelos dele, ela usou a outra para lhe dar um tapa. O som ecoou pelo salão. Ao mesmo tempo, Demi choramingou ao sentir os dedos de Joseph saírem de dentro dela. Seu corpo ficou vulnerável a uma torturante sensação de abandono por sua ausência.
– Odeio você – insistiu ela, o corpo todo se preparando para a batalha.
– Não, você não me odeia. Você me ama e eu a amo – rosnou ele por entre dentes cerrados, olhando furiosamente para ela. Tomou o rosto delicado entre as mãos. – Me bata de novo se precisar, boneca. Pode bater. Ponha tudo para fora.
Ela não hesitou. Deu-lhe outro tapa, fúria e confusão queimando-a por dentro enquanto lágrimas de raiva escorriam pelo rosto.
Puxando-a pela cintura, Joseph a pôs de pé e, mais uma vez, pressionou os lábios contra os dela.
– Venha embora comigo, agora. Não faça isso. Não se case com ele – suplicou Joseph.
Demi agarrava punhados do suéter dele, revirando os olhos enquanto se entregava, outra vez, à familiaridade daquele beijo, daquele cheiro, daquele toque. 
– Conversamos com ele, juntos. Eu disse que não a deixaria fazer isso sozinha. Gina não significa nada para mim. Eu não deveria tê-la deixado entrar, mas, cacete, eu não fiz nada com ela.
Lá estava a dor outra vez, fresca como uma ferida aberta, varrendo sua alma. Sangrava
sem dar o menor sinal de estancar. Sussurrando palavras doces de sedução enquanto tentava encobrir o sabor amargo da verdade, Joseph tentava reduzi-la a nada além de minúsculas partículas de poeira. Como um chicote, a dura realidade da manipulação dele estalou em seu peito, interrompendo os pensamentos de Demi com sua potência. Na mesma hora, sem um esforço consciente, os portões que circundavam a fortaleza de seu coração estilhaçado se fecharam. O mais importante agora era proteger os pedaços que restavam.
Ela deu um impulso brutal contra o peito de Joseph, empurrando-o. Baixando os olhos, lutando para vestir a calcinha, não viu o choque estampado no rosto dele. Sem olhar para trás, ela se dirigiu à porta. Com poucas passadas, Joseph a alcançou. Sem a menor intenção de deixá-la sair, agarrou-a pelo braço e a fez parar com uma derrapada. Enxugando as lágrimas dos olhos semicerrados, Demi olhou para ele.
Com a alma gritando para que ela acreditasse nele, o rosto de Joseph se enrugou de dor.
– Nunca senti meu coração tão despedaçado e ao mesmo tempo tão apaixonado. Se você tivesse me dito, no dia em que a gente se conheceu, que iria partir meu coração, e que dias, meses ou mesmo anos se passariam e eu ainda estaria sofrendo assim, eu não teria deixado de me apaixonar por você. Mas tem uma coisa que gostaria de ter feito diferente, e não é amá-la menos. – lentamente, ele levou os nós dos dedos ao rosto de Demi, enxugando as lágrimas de seus olhos lindos e confusos, a voz suave. – Eu não teria deixado Gina entrar. Essa é a única coisa que eu teria mudado, Demi. Eu não a teria deixado entrar.
Enquanto o corpo dela tremia da cabeça aos pés, Demi o fitava, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu. Selena enfiou a cabeça lá dentro.
– Demi, Lee está vasculhando a porra do restaurante à sua procura – sussurrou ela, o tom urgente.
Fungando, Demi desviou o olhar de Joseph, o coração se rasgando em pedaços. Não se sentia menos confusa do que quando entrara naquela sala com ele. Tentando se acalmar, respirou fundo, passou as mãos pelos cabelos e saiu. Joseph a seguiu, os pensamentos não menos perturbados do que os dela. Demi olhou para ele enquanto Selena, apressada, lhe entregava um lenço de papel.
– Você precisa ir embora, Joseph.
Chocado com as palavras dela, a confusão e a raiva nublaram os olhos dele.
– Não vou a lugar algum. – ele balançou a cabeça. – Eu faço parte desse cortejo de casamento e vou ficar.
Ela lhe lançou um olhar gélido.
– Você só está tentando me machucar agora.
– Quer saber de uma coisa? – começou ele, engolindo com dificuldade. – Talvez eu esteja, mesmo. Talvez eu esteja tentando machucá-la tanto quanto você está me machucando. A parte mais triste disso tudo é que, enquanto eu estava lá dentro implorando que você ficasse, não tinha me dado conta de que você já tinha partido. Então é isso, vou ficar e espero que minha presença a machuque a cada minuto, tanto quanto vai machucar a mim.
Depois de passar um bom tempo boquiaberta, Demi se recompôs, girou e caminhou rumo ao banheiro.
Selena segurou o braço dela.
– Não! Você não tem tempo. Tem que ir para lá agora, Demi. – arrancou o lenço de papel da mão de Demi e se pôs a limpar os rastros de rímel que borravam seu rosto.
Observando-a atentamente, Joseph sorriu com malícia.
– E não se esqueça do batom manchado na cara dela toda.
Demi olhou para ele e perguntou:
– Eu estou bem, certo? Não tem mais batom nenhum em mim, tem?
– Adoro ser beijado por mulheres que afirmam não me amar, fico muito excitado.
Deixando escapar um suspiro pesado, Selena entregou seu batom a Demi.
– Meu Deus, Joseph, agora você está sendo escroto – disparou Demi, aceitando o batom e aplicando-o às pressas.
– Hum, você não viu nada, ainda. – ele riu, correndo as mãos pelos cabelos negros rebeldes. – Tenho a impressão de que vou quebrar meu próprio recorde esta noite. – ele fez menção de ir embora, mas se virou pouco antes. – E, se bem me lembro, acho que lhe disse uma vez para não chamar nenhuma atenção para estes seus lábios bonitos. Guarde este batom ou eu vou arrastá-la de volta para aquela sala. E então a faço mudar de ideia. – ele passou a língua pelos lábios, lentamente, os olhos brilhando com uma luxúria insaciável.
Selena arqueou uma das sobrancelhas, surpresa.
Com o coração em pedaços, Joseph se virou devagar, enfiou as mãos nos bolsos das calças jeans e seguiu para o salão de festas. Estudando o espaço de tamanho modesto com trinta e poucas pessoas, não demorou a cruzar o olhar com Alex. Joseph grunhiu enquanto caminhava até o bar e pedia uma dose de tequila e uma garrafa de cerveja. Atirou uma gorjeta de 100 dólares para o barman e, quando se virou, deu de cara com Alex.
Engolindo a necessidade de dar uma porrada nele, Joseph não conseguiu conter o riso.
– Ah, e cá está ele: a porra do noivo sortudo. – entornou a dose de tequila de que tanto precisava e, pelo canto do olho, viu Demi entrando no salão. – E lá está sua linda noiva. – ele a indicou com um meneio da cabeça.
Com uma expressão desconfiada, Alex olhou para ele por um momento e, em seguida, virou-se e fez um gesto para que Demi se aproximasse. Se Alex não conseguiu perceber a forma nervosa com a qual ela olhou para os dois, Joseph certamente notou. Quando ela se aproximou, Joseph abriu a garrafa de cerveja com um estouro, arqueou uma sobrancelha perfeita e mordeu o lábio, certificando-se de que ela ouvisse o estalo sensual. Ela o fuzilou com os olhos.
– Você está bem? – sondou Alex. – Parece chateada.
– Estou bem – respondeu ela, a voz monótona e os olhos sobre os de Joseph o tempo todo.
– Tem certeza? Você parece... meio fora do ar.
Com a respiração trêmula, ela enfim olhou para Alex.
– Tenho, sim.
Depois de lhe dar um beijo no canto da boca, Alex passou um dos braços pela sua cintura e voltou a atenção para Joseph.
– Qual é o problema, cara? – perguntou, olhando-o de cima a baixo. – Você não apareceu na igreja e agora vem no meu jantar de ensaio vestido desse jeito?
Enquanto Joseph observava Alex fazer pequenos círculos com o polegar na cintura de
Demi, uma raiva acumulada revirava seu estômago. Olhou na direção dela por um instante.
– Estou com problemas com uma mulher – respondeu Joseph, sem se alterar.
– E? Isso não é desculpa para aparecer aqui vestido desta forma – devolveu Alex.
Com o pulso acelerado, Demi notou o fogo se acendendo por trás dos olhos de Joseph.
– Alex – interrompeu ela imediatamente –, importa mesmo a forma como ele está vestido? Vamos nos sentar, está bem?
– Importa, sim. Ele...
– Alex – interrompeu Demi, outra vez, seu tom mais insistente. – Não estou brincando. Vamos nos sentar e pronto. – Alex estreitou os olhos e, com isso, ela decidiu abrandar um pouco o tom.
– Não estou me sentindo bem. Vamos. – ela pegou a mão dele.
– Se eu fosse você, faria o que ela está pedindo. – Joseph deu um sorriso afetado, jogando o braço por cima do balcão. Bebeu um longo gole da cerveja, quase terminando a garrafa. – É só um palpite, claro, mas, se você a irritar o suficiente, ela pode ser capaz de lhe dar um tapa. – os olhos de Demi se arregalaram quando ele correu a palma da mão sobre o local onde ela o havia esbofeteado. – E aposto que iria arder pra cacete – acrescentou ele, dando as costas para os dois. Então voltou a atenção para o barman, pedindo mais uma cerveja a fim de aliviar aquele tormento autoinfligido.
– Qual é a sua, hein, meu irmão? – perguntou Alex, batendo no ombro de Joseph, que não se virou.
– Em primeiro lugar, eu não sou seu irmão e, em segundo, já disse que estou com problemas com uma mulher.
– Ele só está bêbado, eu acho – sussurrou Demi ao ouvido de Alex, o coração trovejando dentro do peito. – Vamos falar com minha irmã e com Michael.
Depois de fitar a parte de trás da cabeça de Joseph por mais alguns segundos, Alex olhou para Demi e assentiu. Com os joelhos bambos de tanto alívio, ela soltou a respiração que vinha prendendo discretamente. Enquanto abriam caminho pela festa, Demi cruzou o
olhar com o de Selena, que conversava com Fallon do outro lado do salão. Balançando a cabeça, Selena olhou para o chão e, em seguida, de volta para Demi. Foi então que Demi percebeu que a situação dela com Joseph havia colocado todos os amigos numa posição muito ruim e isso só fez crescer a agitação em seu estômago. Tentando deixar a culpa de lado, estampou um sorriso no rosto enquanto caminhava de mãos dadas com Alex, cumprimentando os convidados. Depois que Demi tolerou alguns minutos de troca de amenidades basicamente com pessoas que mal conhecia, os olhos pousaram sobre a irmã e o marido. Pensando na tortura que a noite tinha sido até ali, sentiu-se um pouco mais à vontade quando eles vieram se aproximando dela e de Alex.
Seu cunhado deu um sorriso largo e simpático quando puxou Demi para um abraço.
– Para onde você fugiu ainda agora, hein, futura Sra. Pettyfer?
Cruzando os braços, Alex inclinou a cabeça para o lado depois que Michael a soltou.
– É mesmo. Onde você estava? Sério. Minha mãe disse que a procurou por todos os lados e não conseguiu achar você.
Demi abriu a boca para falar, o coração acelerado.
– Michael – começou Dallas, olhando para Demi. Os olhos castanho-esverdeados revelavam grande sabedoria. – Eu disse que ela foi lá fora para tomar um pouco de ar. –
Demi deu um sorriso fraco e, mentalmente, agradeceu à irmã por salvá-la.
Parecendo confuso, Michael passou a mão pelos cabelos castanhos desgrenhados.
– É... talvez tenha dito mesmo. – ele ergueu seu martíni. – É bem possível que eu tenha tomado mais do que deveria destes aqui.
– Por que você foi lá fora? – perguntou Alex, pousando a mão nas costas de Demi. – Perguntei antes se estava bem e você disse que estava ótima.
Sorrindo, Dallas pegou a mão de Demi.
– Nós, meninas, podemos ficar um pouco... emotivas antes do grande dia. – sentindo-se quase tonta, Demi segurou a mão de Dallas com mais força. – Michael, por que não explica para Alex o que a gente está querendo fazer com nosso fundo de aposentadoria? Eu gostaria de conversar com minha irmã sobre a maravilhosa “fase de lua de mel”.
– Ah, sim – disse Michael, voltando-se para Alex, que olhou para Demi por um segundo e ajeitou a gravata. – Se Dallas e eu não conseguirmos nos organizar, definitivamente não vamos nos aposentar numa ilha em algum lugar.
Hesitante, Alex desviou o olhar de Demi e deu atenção a Michael.
Ainda segurando Demi pela mão, Dallas foi puxando-a pela festa, evitando cada convidado que tentava parar e conversar com ela. Sentando-se a uma pequena mesa de canto, olhou para a irmã caçula com empatia.
– O que ele disse? – sussurrou Dallas com uma curiosidade estampada nos olhos que beirava o pânico.
Demi esfregou as têmporas.
– Ele continua dizendo que não fez nada com ela – respondeu, tentando evitar que as lágrimas que faziam seus olhos arderem transbordassem. – Ele só... eu não sei.
Formando uma linha reta com os lábios tensos, Dallas a estudou, preocupada.
– Demi não existe a possibilidade de ele estar falando a verdade?
Lentamente, Demi virou a cabeça, seu olhar encontrando o de Joseph. Como acontecia todas as vezes que ela o fitava, o coração disparou e a respiração se tornou irregular. Embora ele estivesse conversando com Trevor, de pé, os cotovelos apoiados no balcão, os olhos estavam concentrados nela. A tristeza que o rondava era chocante e a deixava arrasada, assim como ele. Demi não soube dizer por quanto tempo ficaram daquele jeito, se encarando, mas lhe pareceu uma eternidade. Ela passou a mão pelos cabelos, a necessidade de acreditar nele aumentando de maneira insuportável.
Sem querer, desviou a atenção dele e se voltou à irmã.
– Eu estou tão confusa, Dallas – sussurrou. – Não paro de ver Gina abrindo a porta dele. Ela não estava vestida... ela era, assim... tão linda.
Antes que Dallas pudesse questionar a situação um pouco mais, Lee chamou Demi, a alguns metros de distância. Demi ergueu a cabeça de súbito, o corpo tremendo.
– Aí está você – bufou Lee com uma expressão de dúvida moldando seu rosto. – Eu a procurei...
– Sim, Lee – interrompeu Dallas, levantando-se. Buscou a mão de Demi, que também se pôs de pé.
– Nós sabemos. Você procurou minha irmã por todos os cantos. Ela precisava de um descanso. Estou certa de que compreende como uma noiva pode ficar nervosa na véspera do casamento. – deu um sorriso que Demi sabia ser dos mais falsos.
Lee ergueu uma das sobrancelhas devagar.
– É claro que sei – disse, ríspida. Tomando um gole de vinho branco, acenou para a mesa em forma de “U”, no meio do salão. – Todos precisam se sentar agora. O maître acaba de me avisar que os garçons já vão passar para anotar os pedidos. – sem esperar uma resposta, Lee deu meia-volta, a voz ecoando por todo o cômodo enquanto repetia o aviso para o restante dos convidados.
Dallas revirou os olhos.
– Juro que se essa mulher ficar mais loura do que já está, vai ser capaz de ofuscar o sol na capacidade de cegar um ser humano. – Demi respirou fundo, balançando a cabeça. Tomando as bochechas da irmã entre as mãos, Dallas se inclinou para falar ao seu ouvido: – Amo você, maninha. Gostaria de poder ajudá-la a superar isso. O único conselho que posso oferecer é ouvir o seu coração. – Demi olhou em seus olhos, lembranças da mãe fervilhando em sua cabeça. – Não importa que amanhã seja o grande dia. Você pode adiá-lo até conseguir resolver essa história toda com Joseph. O importante é que amanhã representa o resto de sua vida. Você precisa saber que vai passá-la ao lado do homem certo. Não se sinta presa. Você sabe que Michael e eu a ajudaremos em tudo o que for preciso, não sabe?
Pegando a mão da irmã, Demi assentiu e começou a atravessar a multidão. A cada passo,
o som de um pêndulo de relógio balançando ecoava em seus ouvidos.
O tempo estava se esgotando.
Tique...
As palavras que Alex lhe dissera poucas horas antes de ela reatar com ele:
“Você se lembra do que sua mãe disse antes de morrer, Demi? Ela nos disse para cuidarmos um do outro. Ela nos disse para resistir a qualquer batalha mais difícil que a vida pusesse em nosso caminho. Disse para nunca desistirmos do nosso relacionamento.”
Taque...
Os apelos lancinantes de Joseph na chuva:
“Você não me odeia. Você me ama. E, meu Deus, Demi, eu amo você com tudo que existe dentro de mim, com tudo que sou, com tudo que algum dia serei.”
Com as palmas das mãos suadas e o corpo tremendo, Demi deu mais alguns passos.
Tique-taque...
Enquanto tentava lutar contra as lágrimas, a voz de Alex martelava em seu pensamento:
“Deixe-me consertar isto. Posso dar um jeito nas coisas e melhorar tudo para a gente. Posso fazer voltar a ser como era.”
Tique-taque... Tique-taque...
“Venha embora comigo, agora. Não faça isso. Não se case com ele. Conversamos com ele, juntos. Eu disse que não a deixaria fazer isso sozinha. Gina não significa nada para mim. Eu não deveria tê-la deixado entrar, mas, cacete, eu não fiz nada com ela.”
Tique-taque... Tique-taque... Tique-taque...
Completamente dividida, Demi fez um enorme esforço para retornar à cadeira sem desmaiar.
Soltando a mão de Dallas, afundou no assento à cabeceira, os olhos seguindo Joseph enquanto ele atravessava o salão. Posicionou-se de frente para ela, a visão um do outro tão desobstruída quanto a lua cheia numa noite de céu limpo. Passando um dos braços por cima da cadeira de Trevor, ao seu lado, Joseph inclinou a garrafa de cerveja para Demi, com um sorriso preguiçoso.
Remexendo-se desconfortavelmente, ela desviou sua atenção de Joseph quando Alex se sentou ao seu lado. Quando ele se inclinou para beijá-la, os olhos dela voaram de volta a Joseph e, se não estava enganada, percebeu a mandíbula dele enrijecendo. 
Engolindo em seco, se afastou de Alex.
– O que há de errado com você esta noite, hein? – perguntou ele, irritado.
Ela pigarreou.
– Nada. Já falei que não estou me sentindo bem. Só isso.
– Acho bom que você saia dessa antes de amanhã – avisou ele, aproximando a cadeira da mesa. – E algo me diz que você está mentindo sobre essa porra de indisposição.
O corpo de Demi foi varrido por um tremor involuntário ao pensar no quanto era transparente aos olhos dele. Sem dizer nada, estendeu a mão por cima da mesa para pegar o copo d’água.
Bebericando-o nervosamente, tentou acalmar os pensamentos turbulentos. Um dos garçons se aproximou para anotar seu pedido, oferecendo-lhe um alívio temporário.
Precisava de uma bebida forte, mas, considerando que Alex lhe dissera que não havia bebido nada desde que voltara da Flórida, ela abriu mão da ideia. Tentando impedir que os olhos vagassem até Joseph, manteve a cabeça abaixada, olhando para as próprias mãos em seu colo.
– Então – Peter, primo de Alex, gritou para ele do outro lado da mesa –, devemos presumir que você e a patroa vão começar a fabricar bebês amanhã à noite, depois do casamento.
Demi ergueu a cabeça de súbito, os olhos voando até Joseph. Encarando-a, ele deu um sorriso forçado e afetado e falou:
– Eles devem produzir um monte de bebês e comprar uma minivan verde.
Demi entreabriu os lábios enquanto o observava se recostar no assento, muito à vontade.
Virando o resto da cerveja, Joseph deu de ombros e soltou uma risada leve que não combinou com a expressão em seus olhos. Tirando aqueles que sabiam o que estava acontecendo entre os dois, o restante do salão irrompeu numa gargalhada histérica.
– Vamos esperar que sim, Joseph – disse Richard, rindo. – Lee e eu queremos netos o mais rápido possível. E se eles puderem encher uma minivan verde de baixinhos, isso nos deixará ainda mais felizes.
– Bem, não sei se vamos começar a fabricar bebês assim tão rápido, mas com certeza vamos nos divertir praticando – devolveu Alex, passando o braço pelos ombros de Demi.
Ela deslizou a mão pelo pescoço, sentindo o suor aumentar a cada segundo. 
– E a minivan verde não vai rolar.
– Tudo bem, já chega dessa conversa sobre minivans – riu Lee. – Peter, já que você é o padrinho, estou certa de que deve ter preparado um discurso para esta noite.
– Na verdade, tia Lee, não preparei, não – respondeu ele, chamando um dos garçons. – Só o que escrevi com muito cuidado em cartões para amanhã.
– Ora, vamos lá, Peter. – ela apoiou os cotovelos na mesa, cruzando as mãos sob o queixo. – Você não precisa de cartões. É só se levantar e dizer alguma coisa para os noivos.
– Eu ficaria satisfeito em fazer um discurso para nossos maravilhosos noivos – afirmou Joseph, se metendo na conversa e cravando os olhos frios em Demi.
Ela o encarou, o coração quase parando.
– Que nada, você não quer fazer discurso nenhum, Joseph – interrompeu Trevor, o nervosismo na voz revelando que tentava salvar aquela situação. – Você nunca foi bom nisso.
Levantando-se da cadeira, Joseph oscilou, ligeiramente. Olhou para Lee.
– Fiz cursos de oratória na faculdade. Trevor não tem a menor ideia do que está dizendo. Sou muito bom nessa merda.
– Valeu por me salvar, Jonas – agradeceu Peter. – Sou péssimo de discurso, com ou sem cartão.
– Muito bem, Joseph. Faça sua mágica – vibrou Lee com um sorriso radiante brincando nos lábios.
Sentada ao lado dela, Selena pegou a mão de Demi e sussurrou:
– Puta... que... pariu.
Demi rapidamente fitou Trevor, os olhos suplicantes. Ele balançou a cabeça e deu de ombros.
Virando-se, Joseph ficou de frente para Demi e para Alex, os olhos imediatamente focando nos dela. Tentando controlar o corpo trêmulo, ela estava à beira das lágrimas enquanto o observava pegar a cerveja.
– Hum, o que dizer, o que dizer... – murmurou Joseph, olhando fixo para Demi. Plantou os pés no chão e se encostou na parede, a cabeça pendendo de leve. – Bem, vamos começar com a verdade. É uma boa ideia, não é? – perguntou ele, erguendo a voz. Olhou ao redor por um segundo, para todos aqueles rostos sorridentes a observá-lo. Desencostando da parede, voltou a encarar Demi. – Me ensinaram que dizer a verdade é sempre uma coisa
boa... e a verdade para mim é que, se eu disser que desejo a você e ao Alex muita sorte... estaria mentindo... porque não desejo porra nenhuma disso.
Os sorrisos sumiram dos rostos. Logo depois que Lee deixou escapar um arquejo, um silêncio denso caiu sobre o ambiente. Com o coração martelando no peito e a respiração ofegante, Demi olhou para Joseph, a dor no rosto dele queimando o corpo dela. Sentindo a mão de Alex apertar-lhe de leve o ombro, Demi se virou para ele. Seus olhos se estreitaram sobre Joseph como os de uma cobra.
Trevor pigarreou e se levantou da cadeira.
– Como podem ver, parece que a bebida está falando por Joseph. Eu avisei que ele nunca foi bom nisso.
– Sente-se, Trevor – murmurou Joseph, sem tirar os olhos de Demi.
– Sério, cara – começou Trevor –, acho que...
– Sente-se... aí... Trevor – repetiu ele, devagar.
Ajeitando os óculos sobre o nariz, Trevor retomou seu lugar, hesitante.
Depois de alguns momentos fitando Demi intensamente, o olhar de Joseph percorreu o salão.
– Sério, gente, eu estava brincando. Foi só uma piada, cacete. É claro que lhes desejo sorte. E como poderia não desejar, não é mesmo? Este casal maravilhoso que vai produzir um monte de bebês. – ele riu, cruzando os braços. – Quem sabe não vão fazer esses bebês nos bancos traseiros de uma minivan verde?
– Joseph – começou Richard educadamente. – Filho, quem sabe você não para por aí? O jantar já deve estar chegando.
– Isso mesmo, pode parar essa merda por aí – disse Alex, a voz fria e serena se projetando até o outro lado do salão. Ele apertou o ombro de Demi com mais força ainda, franzindo a testa. – Agora, Jonas.
Os lábios de Demi tremiam. De repente, o salão lhe pareceu pequeno, como se o prédio inteiro desmoronasse. Com o coração falhando, ela olhou para Joseph. A boca dele formou um dos sorrisos mais tristes e doces que ela já tinha visto.
Erguendo a cerveja, Joseph esfregou a mão sobre o rosto com ferocidade.
– Certo, certo, vou parando por aqui. Certo – disse ele, olhando à sua volta. – Vamos lá, todo mundo, ergam seus copos em homenagem à linda noiva e ao noivo.
Com uma tensão desconfortável agitando o ar, amigos e familiares estenderam a mão em direção às suas bebidas.
Com os olhos concentrados em Demi, Joseph respirou fundo.
– Um brinde a tampinhas de garrafas, aos Yankees e, acima de tudo... – ele fez uma pausa, a voz baixando a um sussurro. – E, acima de tudo, a uma bela garota chamada Molly que se recusa a acreditar no homem que a ama mais do que ela pode imaginar. – ele soltou uma risada leve e condescendente. – Ah, sim... e a Demi e ao Alex.
Lá estava a dúvida. Embora mal agitasse a superfície, estava ali, se fazendo presente,
mexendo com cada nervo de Demi. De algum lugar bem no fundo de sua mente veio a noção de que talvez ele não estivesse mentindo. Fechando os olhos, ela sufocou um soluço que ameaçava subir pela garganta. Abrindo-os outra vez, sentiu o rosto empalidecer quando
Alex se virou para ela bem devagar, com uma expressão que ela nunca vira. Franzindo a testa, ele se virou de repente e fuzilou Joseph com um olhar glacial.
Levantando-se da cadeira, Trevor pegou o braço de Joseph.
– Vamos lá, meu irmão, acho que você bebeu demais esta noite. Vou levá-lo para casa.
Ainda olhando para Demi, Joseph desvencilhou o braço.
– Beleza. – ele fungou, altivo. – Esta festa está uma merda, mesmo.
Demi registrou o arquejo de Lee. Tomando a mão da noiva, Alex se levantou.
– Acho que Demi e eu vamos acompanhar você até lá fora, Joseph. – Sua voz saiu ameaçadoramente baixa, a fúria ardendo em seus olhos.
Joseph o fuzilou antes de se virar para sair do salão com Trevor. Tentando tomar ar,
Demi se levantou, o corpo tremendo.
Pondo-se de pé, Selena sussurrou:
– Vou com vocês.
– Nós já voltamos – anunciou Alex, apertando cada vez mais a mão de Demi.
– Está tudo bem? – sondou Richard, também se levantando da cadeira.
– Está tudo bem, papai – respondeu Alex, passando por ele.
A irmã de Demi olhou para ela, preocupada. Fez menção de se levantar, mas com duas sacudidas silenciosas de cabeça, Demi acenou para que ela não os acompanhasse. Relutante, Dallas sentou-se outra vez e sussurrou alguma coisa ao ouvido de Michael.
Enquanto Alex a arrastava pelo saguão, Demi se esforçava para acompanhá-lo, a mão suada contra a dele. Quando saíram do restaurante para o ar frio, os olhos de Demi buscaram os de Joseph, mas ele não olhava para ela. Seu foco era Alex, que virava a cabeça de um lado para o outro, entre Joseph e Demi.
– Vocês dois estão trepando? – disparou entre dentes cerrados.
– Não, Alex – respondeu Demi, sem fôlego, o estômago revirando de medo e náusea. – Não tem nada acontecendo entre a gente. Joseph só está bêbado.
Os olhos de Joseph ganharam a dureza e o brilho de pedras preciosas, e a sede de sangue corria em suas veias.
– Você não a merece – rosnou, se aproximando de Alex até seus rostos praticamente se tocarem. – Nem... um... pouquinho.
Antes que o coração de Demi desse mais uma batida, Alex desferiu um golpe certeiro na boca de Joseph. Arfando, Demi puxou o braço do noivo enquanto olhava o outro cambalear para trás.
Um sorriso arrogante se espalhou no rosto de Joseph quando se recuperou do golpe.
Dando um passo à frente, passou a mão pela boca ensanguentada, sem que os olhos cheios de ódio abandonassem os do rival. Alex partiu para cima de Joseph outra vez, mas Trevor o segurou. Sem se mostrar afetado por nada daquilo, Joseph permaneceu imóvel como pedra, olhando para ele.
Bufando, cuspiu em Alex. A saliva tingida de sangue o acertou na cara, escorrendo.
Richard saiu correndo do restaurante, os olhos arregalados diante da cena que se desenrolava.
– Seu filho da puta! – gritou Alex, lutando para se desvencilhar de Trevor e de Richard. – Eu vou matá-lo, seu merda!
– Joseph! – soltou Selena. – Vamos, vou levá-lo para casa!
Andando de costas, com Selena puxando seu braço, Joseph olhava fixamente para Demi.
Ela sentia seu olhar frio e cheio de dor percorrê-la por inteiro. Enfiando a mão no bolso, sacou uma tampinha de garrafa e a acariciou com os dedos antes de atirá-la para ela. Demi a sentiu batendo em seu peito, o coração se apertando diante do gesto. Baixando os olhos, como se estivesse em câmera lenta, viu a tampinha bater no chão e girar em círculos, sem controle. O movimento reproduzia seus sentimentos à perfeição. Embora Alex continuasse gritando e outros clientes tivessem se reunido do lado de fora, o único som que chegava aos ouvidos de Demi, tal como unhas arranhando um quadro negro, era o tinir da tampinha.
Ecoava em sua alma enquanto uma única lágrima se libertava, escorrendo pela face.
Erguendo um pouco a cabeça, flagrou Joseph ainda a fitá-la. Seu belo rosto lhe pareceu cansado, despedaçado, derrotado. Ele se virou e, como um fantasma evaporando no ar, desapareceu dentro do carro de Selena. Naquele segundo, com o coração no estômago, Demi teve certeza de que aquela última imagem dele ficaria cauterizada em sua lembrança e a assombraria para sempre.
Enquanto observava as lanternas traseiras se dissiparem até se transformarem num brilho
distante em meio ao trânsito caótico de Manhattan, sentiu a mão de Alex em seu braço, o toque rijo como ferro queimando sua carne. Antes que ela percebesse, ele a levava depressa de volta para o restaurante, ambos escoltados pelo pai de Alex e por Trevor. Engolindo em seco, Demi ia enxugando as lágrimas enquanto o corpo tremia da cabeça aos pés. Uma vez que entraram no salão de festas, Alex a soltou e caminhou, com passos duros, até a mesa.
Desenganchou a bolsa dela do assento da cadeira e tirou as chaves do bolso, o rosto febril de
raiva:
– Eu e minha noiva estamos indo embora – esbravejou ele, caminhando de volta para Demi.
– Vocês não podem ir embora, Alex – retrucou Lee, insistente, olhando em volta. Ela se levantou da cadeira, indicando o salão com um gesto amplo. – Você tem convidados aqui.
É claro que tem algo acontecendo entre você e Demi, mas terão que resolver isso mais tarde.
Ele olhou para a mãe com frieza.
– Como eu disse, estamos indo embora, caralho!
Os olhos de Lee se arregalaram e ela fez menção de dizer alguma coisa, mas Richard pôs a mão em seu ombro, silenciando-a.
– Eu sei que diabos eu vou fazer amanhã – vomitou Alex, apontando para si mesmo. Depois de pegar a mão de Demi, apontou para o grupo de madrinhas. – Vocês sabem o que vão fazer amanhã?
A multidão de familiares e de amigos os fitou, tensos, em silêncio, se remexendo nas cadeiras. A irmã de Demi ia se levantando. Mais uma vez, Demi balançou a cabeça, os olhos implorando para que ela não fizesse nada. Apertando os lábios de preocupação, Dallas cruzou os braços, fitando Alex com os olhos semicerrados. No entanto, permaneceu em silêncio.
– Foi o que pensei. – ele foi puxando Demi rumo à porta. – Nos vemos todos amanhã às onze.
Depois de pegar o casaco de Demi na chapelaria, Alex foi abrindo caminho pelo saguão, praticamente atropelando os outros clientes. Uma vez que chegaram ao carro dele,
Demi respirou fundo, tentando convencer seus nervos a se acalmarem. Deslizando no assento, mordia o lábio, nervosa, enquanto observava Alex contornar o carro, o fogo nos olhos dele desencadeando uma onda de pavor por todo o organismo dela. Entrando, ele bateu a porta e, sem olhar para sua noiva, deu partida no motor.
Demi teve a sensação de estar sufocando enquanto ele saía da vaga, apertando as mãos no volante, a mandíbula se contraindo e relaxando. Com pensamentos sobre Joseph disparando em sua cabeça, ela percebeu que estavam indo na direção errada.
– Preciso voltar para o meu apartamento – sussurrou ela, o sangue apressado nas veias.
Ribombava e combinava com a dor que latejava em seu peito.
– Caralho, você está completamente louca se acha que vou deixá-la voltar para casa – vociferou ele, sem que os olhos deixassem a rua. O coração de Demi parou por um segundo e começou a martelar como se fosse explodir. – Você vai ficar comigo esta noite –acrescentou Alex, em tom mais duro. – Eu a levarei em casa amanhã, antes da cerimônia, para pegar suas coisas.
Pensando no que dizer, ela olhou para ele, mas se encolheu quando Alex virou a
cabeça em sua direção, a fúria nos olhos ameaçando incendiá-la. Durante o restante do percurso, Demi ficou em silêncio, e quando pararam na frente da casa dele, teve a certeza de que afundava nas profundezas do inferno. Saindo do carro, ele não pronunciou uma única palavra enquanto subiam as escadas até a porta da frente.
Com os nervos tremendo e a pele arrepiada, Demi teve um sobressalto quando Alex bateu a porta com violência. Depois de arrancar o paletó, ele afrouxou a gravata e foi à cozinha, onde pegou uma garrafa de Jack Daniel’s do armário. Escolhendo um copo na bancada, encheu-o até a borda e virou metade. Com as sobrancelhas franzidas e a hostilidade transbordando de seus olhos, ele fez sinal com o dedo para que Demi se aproximasse. Ela não conseguia respirar direito enquanto despia o casaco e deixava a bolsa cair no sofá. Olhou para ele do outro lado da sala, uma espiral fria de medo percorrendo sua espinha.
– Venha aqui, Demi – ordenou ele, a voz com um tom calmo e repugnante.
Ela engoliu em seco, encarando-o. Respirando enquanto os passos ecoavam no chão de mármore, foi avançando com cautela, a ansiedade crescendo. Ao chegar perto dele, a bile subiu pela garganta de Demi quando Alex a agarrou pelo braço, trazendo-a até seu peito.
Sentindo o coração dele martelar contra o dela, Demi não ergueu os olhos para ele. Não conseguia. Algo mais sombrio do que o medo a havia dominado. Tentando recuperar o fôlego, olhou para a boca dele, encrespada num sorriso perverso.
Pondo os dedos sob o queixo dela, Alex foi erguendo seu rosto lentamente, fitando-a nos olhos, a voz baixa:
– Você deu para ele, não deu?
– Não – sussurrou ela, os músculos ficando mais fracos a cada segundo.
Com o hálito quente no rosto dela, o tom de voz dele permaneceu igual, mas os olhos ficaram ainda mais rigorosos.
– E você espera que eu acredite nisso?
– Espero – respondeu ela, tentando manter o corpo firme.
Demi sentiu o estômago revirar quando ele passou o outro braço em torno de sua cintura, apertando suas costas. Ele baixou a cabeça, correndo o nariz ao longo da testa dela.
Demi respirou fundo quando Alex usou o peso do corpo para empurrá-la, prendendo-a contra a bancada de granito frio. Com lágrimas brotando, o coração triplicou de velocidade quando ela enfim o encarou. Os cabelos louro-escuros dele, geralmente penteados com capricho caíam sobre a testa.
– Você sabe que, se deu, não significou absolutamente nada para ele – sussurrou, roçando os lábios na orelha dela. – Joseph trepa com qualquer coisa que abra as pernas para ele.
Embora dominada pelo pavor provocado pelo que ele acabara de dizer e seu coração estivesse exposto com feridas recém-abertas, Demi não respondeu, e ao mesmo tempo se esforçava para afastar as palavras dele.
Enterrando o rosto nos cabelos dela, Alex a puxou com mais força ainda de encontro ao peito rijo.
– Você deu para ele?
– Não, Alex. – com o corpo ainda tremendo, as palavras sussurradas escaparam de sua boca, a voz fingindo inocência.
Lentamente, ele foi arrastando as pontas dos dedos pelo rosto de Demi e deslizou o polegar pelos lábios trêmulos dela.
– Você me ama, Demi?
Olhando para ele, ela ficou confusa com a pergunta e não soube responder. Baixou o olhar, a mente acelerando enquanto pensava no que dizer.
– Tivemos uns meses difíceis, Alex – sussurrou ela, erguendo os olhos de volta para ele.
Alex inclinou a cabeça para o lado.
– Você não respondeu à minha pergunta. – ele chegou mais perto dela, o hálito soprando em seu rosto. Uma das mãos agarrou-lhe a cintura enquanto a outra a prendeu pela nuca.
– Você me ama, Demi?
Ela engoliu em seco e olhou para ele, um soluço escapando dos lábios.
– Eu o amo, sim, mas acho que...
Ele a interrompeu, levando rapidamente os dedos aos seus lábios para silenciá-la.
Respirando com dificuldade, o corpo dela estremeceu quando Alex deixou as mãos caírem e as pousou sobre a bancada de granito, imprensando-a como um animal.
– Então prove – sussurrou ele, o rosto a centímetros do dela, o hálito recendendo a bebida. – Se você não deu para ele e se me ama, Demi, então prove.
Ela olhou para ele, o corpo, a mente e a alma tremendo, enquanto Alex deslizava as pontas dos dedos pelo braço dela. Tomando sua mão, ele a levou para o quarto. Fechou a porta com um baque e começou a tirar a roupa. Durante todo o tempo, não tirou os olhos dela, sua intenção revelando uma necessidade urgente de reclamá-la para si.
– Tire a roupa – ordenou em voz baixa, aproximando-se.
Completamente nu diante de Demi, Alex tinha a respiração pesada, o som pairando no ar.
Demi permaneceu enraizada, imóvel, morrendo aos poucos por dentro.
– Você vai provar. – ele emoldurou o rosto dela com as mãos. Demi desviou o olhar, mas ele lhe segurou o queixo, trazendo sua atenção de volta para ele. – Porque, se não fizer isso –sussurrou ele ao ouvido dela –, vou saber que deu para ele. E você quer saber o que vai acontecer, então? – com o coração ricocheteando, ela engoliu em seco, a garganta parecia ter sido forrada com uma lixa. Ela balançou a cabeça. – Serei obrigado a machucar vocês dois – sibilou ele, atrapalhando-se ao tentar desabotoar a blusa dela.
Imóvel e em silêncio, seus instintos a avisavam para fugir dali, mas ela não conseguia. Na escuridão do quarto, as lágrimas que tentava esconder fluíam em silêncio enquanto Alex a despia, por fim deixando-a exposta tanto física quanto mental e emocionalmente.
Empurrando-a para a cama, ele pairou sobre o corpo nu. Seu rosto estava salpicado com
um misto de raiva, tesão e posse. Abrindo-lhe as pernas, afundou-se dentro dela e só então a obscuridade do que Alex havia se tornado a envolveu como uma sombra fria. Ela compreendeu, naquele exato momento, que estava se apegando a algo que nunca mais voltaria a ser como antes.
Ela nunca poderia amá-lo como fizera um dia e nunca poderia amá-lo do jeito que agora amava Joseph. Quando seu corpo já não tinha mais nada para oferecer, ela sucumbiu à dormência que a abraçou. Fechando os olhos, tentou desligar-se por completo enquanto
Alex a penetrava com mais e mais força, uma dor interminável pulsando por sua cabeça.
Imaginou os olhos de Joseph acima dela, em vez dos olhos escuros e vingativos que a fitavam. Respirando fundo, tentou imaginar que eram as mãos de Joseph apalpando seus seios, o suor dele pingando sobre seu corpo e seus lábios beijando sua boca.
Joseph...
Alex grunhiu e despencou todo o peso do corpo em cima dela quando terminou. Em poucos minutos, estava dormindo.
Demi passou horas ali, a mente repassando as palavras de Joseph, sem parar. Sentindo-se como se tivesse traído o próprio coração, que pertencia a Joseph, Demi saiu da cama, a respiração rasa enquanto os pés tocavam o chão gelado.
Não haveria véus de renda e nenhum juramento no dia seguinte. Promessas não seriam
feitas e mentiras não seriam ditas. Joseph estava certo. Seus lábios continham mentiras e elas talvez tivessem arruinado o futuro deles juntos. Ela o amava e agora iria atrás dele. Só lhe restava ter esperanças de que a perdoasse por duvidar dele e de seu amor. Demi juntou as roupas e se vestiu no maior silêncio possível. Também juntou a coragem de que tanto precisava para enfim abandonar Alex.
Ficou no vão da porta do quarto dele, observando o vulto adormecido. Com lágrimas brotando nos olhos, sentiu o coração partir e se remendar de uma só vez.
– Adeus, Alex – sussurrou.
Quase tropeçando nos próprios pés descalços, passou rapidamente à sala de estar e pegou os sapatos, o casaco e a bolsa. Tentando evitar fazer barulho, vestiu o casaco, mas manteve os sapatos na mão enquanto caminhava, pé ante pé, em direção à porta da frente. Pôs a mão na maçaneta, respirou fundo e abriu a porta, bem devagar. Embora a porta tivesse rangido, o som ecoando pela casa, seu medo de acordar Alex foi reduzido pelo medo incapacitante de perder Joseph para sempre.
Essa última possibilidade a atirou no vento frio de inverno.
Tique-taque...

Demi insiste em dizer que ama o Alex e fica maltratando o Joseph. 
amei esse beijo dos dois.
e o Joseph fazendo o discurso para eles? amei ele falando que eles não se merecem.
que ódio desse Alex deu um soco no coitado do Joseph, mais amei ele falando a verdade na cara do Alex.
será que o Alex acreditou na Demi quando disse que não tinha nada com o Joseph? acho que não.
gostaram? até o próximo.
bjs amores <3
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5 comentários:

  1. Como você faz isso para bem aí quando ela finalmente se tocou e vai atrás do Joe OMG

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    1. Sou mal hahaha, brincadeirinha.
      Mas muita coisa vai acontecer e só vendo daqui pra frente mesmo.
      Vou postar hoje, bjs lindona <3

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  2. Como você faz isso para bem aí quando ela finalmente se tocou e vai atrás do Joe OMG

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  3. Estou mega curiosa e sofrendo aqui!! Posta logo!!

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    1. Também sofro mas calma, logo passa! hahaha
      Postei o capítulo já, bjs lindona <3

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