17/09/2017

begin again: capítulo 3

Remembrance of the past

Vamos à galeria de táxi, para que Simon possa beber um pouco. Por mais que ele adore dirigir o Jaguar, prefere uma taça de vinho. Odeio dirigir por Nova York, mesmo à noite.
– Elise me ligou hoje à tarde – diz Simon enquanto percorremos as ruas molhadas. – Ela acha que encontrou um artista.
– Sério? – meu sorriso é genuíno. Elise nunca foi minha maior fã, mas ela ama o pai, por isso ela me tolera. Não me importo, acho que sentiria o mesmo se estivesse no lugar dela. Para o mundo exterior, não sou melhor do que uma caçadora de recompensas. Uma esposa-troféu.
– Pelo visto, ele acaba de voltar de Londres. Também não é estudante, é um artista de mão-cheia.
Meus olhos se arregalam.
– Ele vai ter tempo para dar aulas na clínica?
– Elise diz que vai. Não falta dinheiro para ele. A cavalo dado não se olham os dentes, Demi.
Curvo os dedos em volta dos bíceps de Simon e aperto de leve. Não gosto de deixá-lo aborrecido. Ele trabalha duro, o mínimo que posso fazer é tornar sua noite agradável.
Quando o táxi para em frente à galeria, Simon sai primeiro. Ele abre um guarda-chuva antes de me ajudar a sair. Levei algum tempo para me acostumar ao cavalheirismo quando começamos a nos relacionar. Na época, eu estava mais acostumada a garotos, daqueles que tomavam mais do que ofereciam.
Apesar de nossas melhores intenções para chegarmos cedo, a exposição está em pleno andamento quando entramos no local. Um garçom para diante de nós e oferece uma bandeja cheia de bebidas. Simon pega duas taças e me entrega um vinho branco enquanto sorve o tinto.
– Nada mau. – ele toma mais um gole. – Elise fez a coisa certa e encomendou itens de qualidade.
Não respondo, em vez disso, tomo meu vinho. Já que Simon é quem está financiando toda a festa, por que diabos ela não encomendaria coisas de qualidade?
Simon para e fala com um grupo de amigos. Todos têm mais ou menos sua idade, são cinquentões, por aí. Fico ao lado dele, obediente, sorrindo quando ele me apresenta, ignorando as sobrancelhas levantadas e os olhares agudos. Eles olham para mim como se eu fosse uma vadia louca por dinheiro. Tenho vontade de responder que raramente gasto o dinheiro de Simon. Tenho meu próprio salário, embora insignificante, e também minha própria conta bancária. Nunca foi o dinheiro que me atraiu nele. Foi a proteção.
Engulo a bile que estava se juntando em minha garganta. As pinturas nas paredes da galeria me chamam. Vou flutuando até elas, fico o mais próximo que posso, admirando a composição, a cor, as pinceladas. Eu poderia me perder em sua beleza por horas. Sempre amei a arte. Não sou uma grande pintora, mas sou admiradora. Não uma grande conhecedora.
– O que você achou? – a voz nasalada de Elise, com um acento das classes altas, sussurra em meu ouvido. Viro para ela e sorrio.
– São fantásticos. Lindos. Está me matando não poder tocá-los.
– Que bom que você não tocou. Acabei de vender este aqui por quarenta mil.
Não sei por que estou chocada. Estou com Simon por tempo suficiente para saber em que tipo de coisas os podres de rico gastam seu dinheiro. Não posso deixar de pensar no que poderíamos fazer com essa quantia de dinheiro na clínica.
– Aposto que o artista está feliz.
Ela sorri.
– Ele está. E você também deveria ficar, porque eu o convenci a dar aula na clínica.
A respiração foge de mim numa lufada. O Senhor quarenta mil vai dar aula para nós? Nossas crianças carentes, desinteressadas, subnutridas? Não sei se fico satisfeita ou apreensiva.
Dou um risinho, embora o sorriso não chegue a atingir meus olhos.
– Será que ele sabe onde está se metendo?
– Por que não perguntar a ele? – ela me leva para o centro do salão, onde uma grande multidão se reuniu. Um murmúrio de conversa paira no ar. Fico à margem, um pouco envergonhada, quando Elise vai abrindo caminho, tentando separar a multidão como Moisés abriu o mar vermelho.
– Aí está você, Joseph. – a voz alta de Elise percorre o salão. – Eu gostaria que você conhecesse a Demi. Ela trabalha na clínica de que eu estava falando.
Vejo primeiro os olhos verdes. Brilhantes, intensos. Fazem meu coração fraquejar. Ele os aperta quando me vê. Meu estômago se aperta e torce como se estivesse sendo espremido por uma calandra.
Meu passado acaba de voltar para dentro da minha vida. Mal consigo respirar. Da última vez em que vi Joseph Jonas, fingi que não o conhecia. Eu estava sendo levada para longe do prédio da reitoria da universidade por meu pai, seus dedos agarrando meu pulso, lábios apertados e raivosos. Era começo da noite, e eu tinha duas horas para esvaziar meu quarto e deixar o campus, caso contrário, seria escoltada para fora por seguranças.
Tínhamos quase alcançado os salões de residência quando notei uma figura alta apoiada na varanda da frente. Ele parecia ter um cigarro na mão, mas no momento em que chegamos perto, percebi que não era um cigarro qualquer. O aroma de mofo e os olhos vermelhos dele o denunciavam.
Claro, meus olhos também estavam vermelhos, mas por uma razão completamente diferente. Meu choro havia ido e voltado pelos últimos dias. Um dilúvio quando respondi às perguntas do investigador, tentando falar sobre minha amizade com Digby e descrever o que aconteceu na noite em que ele morreu.
Menti entre dentes quando disse que não sabia de quem ele havia conseguido o ecstasy. Claro que eu sabia. Todos sabíamos. Joseph era basicamente o fornecedor naquela época.
Cada vez que eu choramingava, meu pai revirava os olhos. Ele havia deixado claro que preferia estar em qualquer lugar que não fosse ali. Estava me acompanhando apenas para se certificar de que eu não faria um papel ridículo, que eu não jogaria nossa família no ridículo.
– Você está bem? – Joseph se afastou da parede e caminhou em nossa direção.
Meu pai não disse nada, mas senti seus dedos apertarem meu braço. – Ando tentando ligar para você.
– Estou bem. – curto, conciso. Olhei para meu pai de soslaio. Ele estava olhando para nós, boquiaberto.
Joseph colocou o baseado na boca e respirou novamente. Jesus, ele queria morrer?
– Você não parece bem. Está com uma aparência péssima.
– Você conhece esse rapaz, Joseph? – A paciência do meu pai finalmente se esgotou. Eu tremia quando olhei para ele, com medo de praticamente tudo o que acontecera. Nos últimos dias eu havia visto um dos meus amigos mais próximos morrer, havia sido inquirida por jornalistas e policiais e, finalmente, havia sido levada na frente da reitoria. Eu estava exausta, acabada. Trêmula, nada mais do que uma pilha. Agora Joseph, que tinha dado a droga a Digby, estava fumando um baseado na frente do meu pai.
Talvez, se meu pai fosse outra pessoa, menos preocupado com as aparências e mais preocupado com a filha, tudo pudesse ter sido diferente. Talvez se eu tivesse sido mais forte, não a garota fragilizada que eu me tornara, poderia ter sido capaz de dar uma resposta apropriada. Em vez disso, olhei para os meus pés e balancei a cabeça. 
– Não, eu nunca o vi na vida.
– É um prazer conhecê-la. – Joseph estende a mão e me cumprimenta. Vejo seus dedos longos envolverem a palma de minha mão e sinto gotas de suor brotarem em minha pele. Preciso de todas as minhas forças para não o deixar sentir o tremor na minha mão, porque não quero que ele saiba o quanto estou chocada por vê-lo de novo.
– O prazer é meu. Elise me disse que você vai trabalhar com a gente. – não consigo olhar para ele. Em vez disso, olho para seus pés, notando como seus sapatos de couro preto são brilhantes. Parecem muito diferentes dos tênis que me lembro de ele calçar. Sempre surrados, salpicados de tinta. Como o resto dele.
– Eu gostaria. – sua voz é mais suave do que me lembro, mas a cadência de Dublin ainda está presente. – Acredito fortemente nisso.
– Nas drogas? – surpresa, olho para ele, meus olhos arregalados. Preciso inspirar fundo quando o vejo olhando diretamente para mim.
Ele ainda é lindo. Seu cabelo está um pouco mais curto, mas ainda tão escuro como tinta de jornal. Seu rosto perdeu os traços arredondados da juventude, substituídos por maçãs do rosto talhadas, sombreadas por um pouco de barba.
Mas eu o reconheceria em qualquer lugar. Aqueles lábios cheios e vermelhos, um ligeiro calombo no dorso do nariz. A cicatriz pequena ao lado da orelha direita que ele conseguiu quando criança, jogando futebol. Estão todos lá, um lembrete de tudo o que aconteceu há tantos anos. Tudo o que tentei esquecer.
– Quero dar algum tipo de retribuição. Recebi muitas coisas boas na vida. Outras pessoas não têm tanta sorte.
Minha mente está cheia de perguntas que não sei como expressar. Como ele passou esses anos, o que andou fazendo. Mas não dou voz a nenhuma delas, porque tenho muito medo. Medo de navegar para o passado e encalhar em um rio cheio de resíduos.
– Bem, ficaríamos muito agradecidos por sua ajuda. As crianças amam arte às quintas-feiras, é a aula favorita. – sinto-me melhor quando falo sobre a clínica. Mais pé no chão. Agora essa é a minha realidade, não aquelas memórias que estavam tentando ressurgir. – Eles não são Da Vinci nem nada, mas alguns parecem ter talento.
– Bom, Da Vinci eu também não sou.
Passo o olhar pela galeria.
– Você é muito bom.
Ele até fica corado.
– Obrigado.
É difícil não olhar para as bochechas vermelhas. Difícil esquecer a sensação de tocá-las com os dedos. Joseph não mostra o menor indício de que se lembra de mim, e estou realmente tentando não me decepcionar. Porque essa situação já é bastante constrangedora do jeito que está. Não preciso torná-la pior.
– Trouxe outro drinque para você, querida. – Simon me oferece um vinho branco. A taça está embaçada. Pequenas gotas de água correm na minha mão quando pego a bebida.
– Simon, este é Joseph, o artista que Elise encontrou. Este é Simon, o pai de Elise. Ele é dono da galeria.
Os dois homens trocam um aperto de mãos, e não posso deixar de compará-las. A de Simon é pálida e descarnada. Pelos grisalhos escapam sob os punhos da camisa.
– Prazer em conhecê-lo. Elise disse que você vai fazer maravilhas na clínica.
Uma aura de constrangimento desce sobre nós. Conversamos amenidades, brinco com meu vinho, olho para os meus pés, olho ao redor do salão. Simon e Joseph parecem muito mais à vontade, o suficiente para iniciar uma conversa sem mim. Isso me dá o espaço de que preciso para me acalmar. Lembro-me de que estou aqui como a esposa de Simon. A antiga Demi se foi. Não preciso mais ficar
assustada. É como se meu cérebro soubesse, mas meu corpo não, e pela primeira vez em anos sinto o aperto familiar no peito.
Respire. Apenas respire.
Há gente demais na sala. É como se estivessem se aglomerando ao redor de mim. Meu coração está acelerando tanto que quase dói.
– Preciso ir ao banheiro. – empurro minha taça na mão livre de Simon e quase corro pelo piso da galeria, tropeçando algumas vezes ao esbarrar em um convidado. Quando olho para trás, vejo os dois me fitando.
Meu marido e o homem que eu conhecia. O que me protege e o que me ensinou o que era paixão. Ele coloria meu corpo como se eu fosse uma tela em branco.
Algo há muito adormecido dispara faíscas dentro de mim quando me lembro de como era bom.

finalmente teve o encontro Jemi.
Demi teve algumas lembranças do passado.
terá muitas coisas reveladas ainda sobre o passado dos dois.
será que vai dar certo a Demi e o Joseph trabalhando juntos?
me digam o que acham nos comentários, ok?
espero muito que vocês gostem, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

2 comentários:

  1. Aaaahh encontro Jemi...
    Amei o capitulo...
    Sera q o Joe vai atrás dela? Aiiii...
    Ja quero Jemi se pegando kkkkk
    Mds essa fic promete to ate vendo...
    POSTA LOGO....

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    Respostas
    1. Fico feliz que gostou amor, estou muito animada com essa fanfic.
      Vou postar capítulo novo hoje.
      Beijos, Jessie.

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