19/04/2016
sussurros na noite: capítulo 3
O departamento de polícia estava localizado no novo prédio da prefeitura, um belo edifício de estuque branco com telhado vermelho e todo contornado por uma ampla e graciosa galeria em arcos. Cercada por um gramado verdejante, pontilhado com palmeiras e antigas lamparinas a gás, a prefeitura de Bell Harbor não era apenas convidativa, mas também funcional.
Os salões do tribunal revestidos com painéis de carvalho, e um auditório que era usado principalmente para as reuniões do Conselho Municipal, ocupavam o terceiro andar. O gabinete do prefeito, os escritórios dos funcionários e o departamento de registros ficavam no segundo, enquanto a maior parte do primeiro andar estava designada para o departamento de polícia.
A mão firme de Sara havia sido contratada para planejar os espaços interiores, e seu talento evidenciava-se no escritório prodigamente destinado ao prefeito e nas salas dos tribunais, onde as cadeiras eram forradas com um lindo tecido azul escuro e bege, que complementavam o carpete. Ao chegarem à área designada para o departamento de polícia, Sara e seus decoradores tiveram de lidar com um orçamento relativamente menor e com exigências mais estritas que não lhes permitia grandes voos criativos ou muita flexibilidade.
O centro desta ampla área era ocupado por trinta mesas, agrupadas em três fileiras divididas por corredores, cada escrivaninha com seu próprio terminal de computador, além de um fichário com duas gavetas, uma cadeira giratória e outra cadeira para visitantes. Os escritórios envidraçados, destinados aos oficiais graduados, ficavam na frente do vasto salão, e salas de reuniões foram instaladas nos lados direito e esquerdo. No fundo da área, oculto por uma pesada porta que era mantida sempre fechada, havia um longo e estreito cárcere, usado para infratores temporariamente detidos que estavam sendo acusados e fichados.
Num valente esforço para diminuir o efeito árido e institucional de um mar de linóleo de cor bege, escrivaninhas bege, e monitores de computador bege, a criatividade de Sara fez com que toda a área central fosse revestida com um carpete industrial azul-escuro e bege, e mandou confeccionar cortinas nos mesmos tons para as janelas. Infelizmente, o carpete estava sempre manchado com comida, bebidas e outras sujeiras deixadas nos rastros dos noventa oficiais de polícia que utilizavam a sala em três turnos contínuos.
Demi era uma das poucas pessoas que valorizavam os esforços de Sara, ou que pelo menos reparavam neles, mas naquele dia estava tão desligada do ambiente que a cercava quanto os demais. Os feriados eram sempre os dias mais ocupados para a polícia, mas aquele parecia ainda mais ruidoso e agitado que o habitual. Os telefones tocavam sem parar e vozes elevadas, pontuadas por pequenos acessos de riso nervoso, ecoavam através do corredor vindos da sala onde quarenta mulheres se reuniam para a primeira aula de defesa pessoal ministrada por Demi. As salas de reuniões estavam todas sendo usadas por oficiais que interrogavam testemunhas e falavam com suspeitos envolvidos num assalto cometido por um grupo de adolescentes, que terminara numa perseguição em alta velocidade e, depois, num imenso engavetamento na rodovia interestadual. Os pais dos rapazes e os advogados que representavam as famílias ocupavam os telefones e andavam de um lado para o outro no saguão.
O pandemônio incomodava Roy Ingersoll, que não estava se sentindo bem, e ele se vingava andando pelos corredores entre as mesas, engolindo comprimidos antiácidos e procurando alguma coisa para criticar. Marian Liggett, sua secretária de sessenta e cinco anos que era quase surda e que considerava o recém-instalado sistema de comunicação interna como uma desgraça pouco confiável, juntava sua voz ao alarido parando na porta do escritório dele e gritando sempre que tinha de lhe passar uma ligação.
Os oficiais tentavam se concentrar no trabalho e ignorar as distrações, mas todos concordavam que isso era um bocado difícil - todos, exceto Pete Besinger, que estava tão excitado com sua despedida de solteiro naquela noite e com seu casamento que aconteceria em breve, que parecia indiferente ao mau humor de Ingersoll e tudo o mais. Assoviando baixinho, passeava pelos corredores, parando para conversar com qualquer um que estivesse disposto a falar com ele.
— Ei, Jess - disse, fazendo uma pausa na escrivaninha que ficava ao lado da de Demi. — Como vão as coisas?
—Dê o fora - Jess resmungou, digitando um relatório sobre a apreensão de uma pequena quantidade de drogas que fizera no início da semana. — Não quero que seu bom humor me contagie.
Mas a eufórica animação de Pete permaneceu inabalada diante da rejeição de Jess. Parando na mesa de Demi, inclinou-se e tentou fazer uma imitação de Humphrey Bogart:
— Diga-me, boneca, o que uma garota linda como você está fazendo num lugar como este?
— Esperando encontrar um ”bom de papo” como você - Demi brincou, sem erguer os olhos das anotações que fazia para a aula que estava prestes a iniciar.
— Ah, você chegou tarde demais - Pete exultou, levantando as mãos com uma expressão embevecida. — Vou me casar na semana que vem, não ficou sabendo?
— Acho que ouvi uns rumores sobre isso - disse Demi, enviando-lhe um rápido sorriso enquanto continuava a escrever.
Na verdade, ela própria, e quase todos os integrantes da força policial, estiveram diretamente envolvidos naquele vacilante namoro de Pete. Ele conhecera Mary Beth cinco meses atrás e se apaixonara por ela à primeira vista”, segundo seus próprios cálculos. Infelizmente nem Mary Beth, nem tampouco seus abastados pais, ficaram muito entusiasmados com a ideia de um casamento com um oficial de polícia cujas perspectivas profissionais e financeiras estavam bem longe de ser deslumbrantes, mas Pete perseverou. Armado com uma considerável quantidade de conselhos de seus colegas oficiais, uma boa parte dos quais eram conselhos bem ruins, ele foi ao encalço de Mary Beth e triunfou, superando todos os obstáculos e desavenças. Agora, faltando apenas uma semana para o casamento, seu incontido entusiasmo era quase juvenil, e extremamente comovente para Demi.
— Não esqueça da minha festa de despedida de solteiro na praia, hoje à noite - ele a lembrou.
De início, Jess, Leo Reagan e Ted Burnby haviam planejado uma festa tradicional, com uma garota fazendo strip-tease e o tipo normal de bagunça de bêbados, mas Pete nem quis ouvir falar nisso. Seu casamento com Mary Beth significava muito para ele, declarou, para que fizesse qualquer coisa da qual pudesse se arrepender depois... ou que ela pudesse fazê-lo se arrepender, Jess acrescentara. Para certificar-se de que não haveria erro, Pete insistiu para que a despedida de solteiro fosse uma festa de ”casais”, e estaria levando Mary Beth consigo.
— Pensei que a festa fosse amanhã à noite. - Demi mentiu, soando como se não pudesse comparecer naquela noite.
— Demi, você precisa ir! Será uma tremenda festa. Vamos acender uma fogueira na praia, fazer um churrasco e...
— Isso está me parecendo uma violação da Lei de Proteção ao Meio Ambiente - ela provocou.
— E cerveja à vontade! - Pete acrescentou, em tom de adulação.
— Embriaguez e perturbação da ordem. Nós vamos todos para a cadeia e os jornais vão transformar esta festa num escândalo nacional.
— Ninguém estará de plantão para nos prender - ele retrucou alegremente.
— Eu vou estar - disse Demi. — Troquei o meu turno com Derek Kipinski esta noite, de forma que ele irá à sua festa logo no começo, e eu irei mais tarde. - Pete ficou um tanto desapontado, e ela acrescentou, mais séria: — Alguém precisa ficar de serviço na praia, Pete; tem havido sérios problemas com drogas naquela área, especialmente nos fins de semana.
— Eu sei disso, mas não vamos acabar com o problema simplesmente detendo os pequenos consumidores que se escondem embaixo do píer. As drogas estão chegando por barcos. Se quisermos nos livrar delas, é por aí que deveríamos começar.
— Isso é função do DEA, e supõe-se que eles estejam cuidando do assunto. Nosso trabalho é manter as drogas longe das praias e das ruas.
Ela olhou de relance para a entrada do salão e viu Sara chegando; depois, rabiscou mais uma anotação em sua lista de lembretes para a aula de defesa pessoal.
— Tenho de dar uma aula daqui a dez minutos.
Pete apertou-lhe amigavelmente o ombro e seguiu devagar para a própria mesa, a fim de telefonar. Assim que ele se afastou, Leo Reagan levantou-se e cruzou o corredor até a escrivaninha de Demi.
— Aposto dez contra um que ele está ligando para Mary Beth - disse. — Já ligou para ela três vezes, hoje. — Pete está completamente abobalhado - Jess concordou. Sara aproximou-se, empoleirou os quadris na beirada da mesa de Demi e saudou os dois homens com um sorriso. Depois, inclinou-se para o lado de Leo e olhou para Pete, que estava recostado na cadeira, fitando o teto com um sorriso apalermado.
— Pois acho que ele é adorável - ela disse. — E, a julgar pela expressão no rosto dele, não há dúvida de que está falando com Mary Beth.
Satisfeito por Pete estar distraído, Leo retirou um envelope do bolso da camisa e estendeu-o para Jess.
— Estamos fazendo uma ”vaquinha” para comprar um presente de casamento para Pete e Mary Beth. Todos estão contribuindo com vinte e cinco dólares.
— O que vão comprar para eles, uma casa? - Jess perguntou. Enfiou a mão no bolso, e Demi pegou a bolsa.
— Vamos comprar um faqueiro de prata - Leo informou.
— Está brincando! - disse Jess, enquanto guardava os vinte e cinco dólares no envelope e o passava para Demi. — Afinal, quantas crianças eles estão planejando alimentar?
— Não sei. Só sei que Rose ligou para uma dessas lojas que têm uma lista dos presentes que a noiva escolheu. Você acredita que os seus vinte e cinco dólares compram apenas metade de um garfo?
— Deve ser um garfo danado de grande.
Demi trocou um olhar divertido com Sara, guardando o dinheiro no envelope. Naquele instante, o capitão Ingersoll irrompeu pela porta de seu escritório envidraçado, observou o cenário e reparou na animada reunião em torno da mesa de Demi, e logo sua expressão transformou-se numa carranca.
— Droga! - disse Reagan. - Aí vem Ingersoll. - Virou-se para sair, mas Sara permaneceu imperturbável pela carranca do capitão, ou pela sua chegada iminente.
— Espere, Leo, deixe-me contribuir com alguma coisa para este faqueiro. - Colocou o dinheiro no envelope e, depois, voltou-se para o capitão munida com o poder total de seu sorriso mais encantador, numa tentativa deliberada e altruísta de modificar o humor dele para o bem de todos. — Olá, capitão Ingersoll. Estava preocupada com o senhor! Ouvi dizer que ficou doente depois de comer aquele horrível chili, ontem, e que teve de procurar o atendimento de pronto socorro!
A carranca dele vacilou, diminuiu, e depois transformou-se naquilo que ele pensava ser um sorriso.
— Foi a sua amiga aqui quem recomendou o chili - ele disse, indicando Demi com um gesto brusco de cabeça, mas não conseguia desgrudar os olhos dos de Sara. Até tentou brincar a respeito do dinheiro que ela acabara de entregar a Reagan. — Você não sabe que subornar um oficial de polícia é um delito grave, neste Estado?
Ele realmente tinha um senso de humor atroz, Demi pensou enquanto Ingersoll acrescentava, num tom jocoso:
— Bem como interferir no trabalho de um policial que está cumprindo seu dever. Sara bateu os longos cílios para ele, que ruborizou de verdade.
— E como estou interferindo?
— Você é uma bela distração, minha jovem.
— Ah, sou mesmo? - ela arrulhou.
Pelas costas de Ingersoll, Jess abriu a boca e fingiu estar enfiando o dedo na garganta. Infelizmente, Ingersoll, que não era nenhum tolo, olhou para trás naquele exato momento e apanhou-o em flagrante.
— O que diabos está havendo com você, Smith? Demi sufocou uma risada diante do apuro de Jess, e foi em seu socorro:
— Acho que vou pegar um café - interrompeu apressadamente, enquanto se levantava. —Capitão, o senhor gostaria de uma xícara? - perguntou, num tom de voz doce e subserviente, cujo único intuito era deixá-lo surpreso e desarmado.
E deu certo.
— O quê? Bem... sim, já que você está oferecendo, eu gostaria, sim.
As cafeteiras estavam dispostas numa mesa no final do corredor, logo atrás das máquinas copiadoras.
— Duas pedras de açúcar - ele gritou, quando Demi já estava a meio caminho.
O telefone na mesa de Demi tocou e Ingersoll atendeu, somente para impressionar Sara e lhe mostrar o quanto estava ocupado o tempo todo.
- Ingersoll - rosnou no telefone. A voz masculina no outro lado da linha era educada, mas autoritária.
- Fui informado de que este era o número do telefone de Demi Lovato. Aqui é o pai dela. Ingersoll olhou no relógio. A aula de Demi estava marcada para começar dali a três minutos. — Ela está prestes a entrar numa aula de defesa pessoal. Pode ligar para o senhor mais tarde?
— Prefiro falar com ela agora.
— Aguarde um instante. - Ingersoll pressionou a tecla de espera. - Lovato! - gritou. - Você tem uma chamada particular. É o seu pai. Demi olhou por cima do ombro enquanto despejava dois cubinhos de açúcar no café dele.
— Não pode ser para mim. Eu não tenho pai... - Evidentemente, aquela declaração foi bem mais interessante do que quaisquer outras conversas na sala, pois o nível de barulho diminuiu vários decibéis no mesmo instante.
— Todo mundo tem um pai - Ingersoll salientou.
— Eu quis dizer que meu pai e eu não temos nenhum contato - ela explicou. — Quem quer que seja, deve estar procurando outra pessoa.
Com um encolher de ombros, Ingersoll pegou o telefone.
— Com quem mesmo o senhor quer falar?
— Demi lovato - o outro homem respondeu, impaciente.
— E o seu nome é...?
— Patrick Lovato. - Ingersoll ficou boquiaberto.
— O senhor disse Patrick Lovato?
— Foi exatamente o que eu disse. Agora, gostaria de falar com Demi.
Ingersoll apertou novamente o botão de espera, cruzou os braços e levantou-se, encarando Demi com um misto de espanto, acusação e incredulidade.
— Por acaso o nome do seu pai seria Patrick Lovato?
O nome do famoso financista e filantropo de San Francisco explodiu como uma bomba na sala ruidosa e, em consequência, todos ficaram mudos e imóveis. Demi parou abruptamente, segurando uma xícara de café em cada mão, e depois continuou andando. Os rostos conhecidos na sala fitavam-na com expressões desconhecidas de suspeita, assombro e fascinação. Até mesmo Sara a encarava com os olhos arregalados. Ingersoll pegou a xícara de café que ela lhe entregou, mas permaneceu perto da mesa, obviamente com a intenção de ouvir a conversa.
Demi não se importou com a presença dele ali; na verdade, mal percebeu. Jamais recebera nem mesmo um cartão de aniversário de seu pai ausente, e qualquer que fosse o motivo para ele estar subitamente à sua procura agora, não teria a menor importância. Queria comunicar isto a ele de maneira muito firme, completa e impessoal.
Deixou a xícara de café na mesa, afastou os cabelos do rosto, pegou o telefone e levou-o ao ouvido. Seu dedo tremia apenas um pouco, quando pressionou a tecla branca que piscava.
— Aqui é Demi Lovato.
Nunca ouvira a voz dele antes; era refinada e continha um toque de divertida aprovação.
— Você soa bastante profissional, Demi.
Ele não tinha o direito de aprová-la; não tinha direito a qualquer opinião, no que se referia a ela, e Demi teve de conter o impulso de lhe dizer exatamente isso.
— Não posso atendê-lo neste momento - falou, ao contrário. — É melhor o senhor ligar numa outra hora.
— Quando?
Uma recente foto de jornal surgiu num relance na memória de Demi: um homem de cabelos cor de prata, ágil e atraente, que jogava tênis com amigos num clube de campo em Palm Beach.
— Por que não tenta de novo daqui a trinta anos?
— Não posso culpá-la por sentir-se tão aborrecida.
— Aborrecida? O senhor não me culpa! - Demi disparou, sarcástica. — Ora, é muita bondade sua, sr. Lovato.
Ele interrompeu o discurso veemente com um tom agradável, mas firme:
— Não vamos brigar em nossa primeira conversa. Você poderá me censurar pessoalmente por todas as minhas deficiências paternas daqui a duas semanas.
Demi afastou o fone do ouvido por um instante e ficou olhando para o aparelho com uma confusa frustração, depois voltou a falar.
— Daqui a duas semanas? Pessoalmente? Eu não estou interessada em nada do que o senhor tem a dizer!
— Está, sim - ele afirmou, e Demi sentiu um lampejo de furiosa admiração por aquele atrevimento descarado e pelo poder da vontade dele, que pareciam impedi-la de desligar o telefone. — Talvez eu devesse ter escrito uma carta, mas achei que com um telefonema poderíamos resolver tudo mais rapidamente.
— E o que é que o senhor está querendo resolver?
— Eu... - ele hesitou. — Sua irmã e eu gostaríamos que você se reunisse a nós na praia por algumas semanas, para que possamos nos conhecer mutuamente. Tive um ataque cardíaco há seis meses e...
A ”praia”, Demi presumiu, só podia ser o termo com que os frequentadores assíduos se referiam a Palm Beach.
— Eu li nos jornais sobre o seu problema de saúde - ela interrompeu, conseguindo transmitir uma bem calculada indiferença juntamente com o lembrete de que tudo o que sabia sobre o pai era aquilo que lia nos jornais.
Geograficamente, Palm Beach não estava muito distante mas, em termos sociais e econômicos, era como se fosse outra galáxia. A fim de aumentar seu prestígio, o jornal de Bell Harbor sempre publicava a coluna social de domingo de seu ilustre vizinho do sul, e era ali que Demi via as frequentes fotos e menções sobre seu proeminente pai e sua bem-sucedida irmã.
— Gostaria que nós três pudéssemos nos conhecer antes que seja tarde demais.
— O senhor tem mesmo coragem! - Demi explodiu, furiosa e aturdida com o inesperado ardor das lágrimas que aquele telefonema emocionalmente impregnado lhe provocava. — Já é tarde demais! Não tenho o menor desejo de conhecê-lo, não agora, depois de todos estes anos.
— E quanto à sua irmã? - ele retrucou, com suavidade. — Não tem nenhum interesse em conhecê-la?
A mente de Demi evocou prontamente a mesma foto do clube de campo onde Selena, a sua irmã, aparecia como a parceira de tênis do pai. Com os cabelos escuros atirados para trás e o braço direito estendido num gesto perfeito para um saque perfeito, Selena dava a impressão de que nada em sua vida jamais fora menos do que... perfeito.
— Não estou mais interessada em conhecê-la mais do que ela está interessada em me conhecer - Demi respondeu, mas sentiu que as palavras continham um timbre falso.
— Selena acha que perdeu uma parte muito importante da vida, por não ter conhecido você.
De acordo com as frequentes menções sobre Selena que Demi havia lido nas colunas sociais, sua vida era uma interminável sucessão de acontecimentos glamourosos e bem-sucedidos desde os troféus conquistados no tênis e hipismo até as festas suntuosas que organizava para o pai em San Francisco e Palm Beach. Com trinta e um anos, Selena Lovato era linda, estável e sofisticada, e nunca antes, em toda sua vida, tivera necessidade ou desejo de conhecer Demi. Ao reconhecer este fato, Demi reafirmou sua quase enfraquecida decisão de evitar qualquer contato com o lado mais rico de sua família.
— Não estou interessada - falou com firmeza. — Adeus.
— Eu falei com sua mãe, hoje. Espero que ela possa convencê-la a mudar de ideia - ele estava dizendo, quando Demi desligou o telefone.
Seus joelhos começaram a tremer, numa reação retardada, mas não podia demonstrar fraqueza na frente de todo mundo.
— É isso aí - disse, vivamente. — É melhor ir andando, minha aula já vai começar.
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