Todas as sextas-feiras, depois de deixar Elizabeth na casa dos avós, eu caminhava rumo ao mercado central. Os moradores vinham até o centro de Meadows Creek para vender e trocar seus produtos. O cheiro de pão fresco, os arranjos de flores e as fofocas de uma cidade pequena faziam o passeio valer a pena.
Zachary e eu gostávamos de ver as flores, então, quando a sexta-feira chegava e trazia consigo o aroma das rosas recém-colhidas, eu sempre ficava bem ali, no meio de todo aquele movimento, inspirando as recordações e expirando a dor.
Durante minhas visitas ao mercado, sempre via Joseph andando por lá. Não tínhamos trocado nenhuma palavra desde que ele cortou a grama do meu jardim, mas eu não conseguia parar de pensar naqueles olhos tristes. Não conseguia parar de pensar na esposa e no filho dele. Quando eles morreram? Como? Há quanto tempo Joseph vivia esse pesadelo? Eu queria saber mais.
De vez em quando, eu o via sair do galpão no quintal. Ele ficava lá por horas e saía apenas para cortar madeira na serra de mesa.
Toda vez que ele passava por mim parecia que meu rosto iria pegar fogo, e eu fazia de conta que não o via. Mas eu o via, sim. Eu sempre o via, e não sabia exatamente o porquê.
Todo mundo falava que ele era grosseiro, e eu acreditei nisso. Vi sua hostilidade. Mas também vi uma parte dele que ninguém conhecia. Vi quando ele desmoronou ao saber que Zeus ficaria bem. Vi quando ele se abriu com timidez, falando da perda da esposa e do filho. Vi o lado gentil e devastado de Joseph, coisa que a maioria das pessoas não enxergava. Quando eu estava parada no meio do mercado central, ocorreu-me que havia mais um lado de Joseph que me intrigava. Todas as sextas, ele andava como se não enxergasse ninguém. Concentrava-se apenas em sua missão, que consistia em comprar sacolas de mantimentos e flores. Depois, ele desaparecia ladeira acima, até uma ponte, onde entregava as compras e as flores para um mendigo.
Só soube disso quando retornei para casa um dia e o vi entregar as sacolas. Sem conseguir disfarçar o sorriso, me aproximei. Mas ele começou a andar para casa.
— Oi, Joseph.
Ele olhou para mim sem dar a mínima.
Continuou andando.
Parecia até que estávamos voltando à estaca zero. Corri para alcançá-lo.
— Só queria dizer que achei seu gesto muito legal. Foi muito lindo o que você fez por aquele homem. Acho que...
Ele parou e se virou na minha direção. Com o semblante fechado, estreitou os olhos.
— Que diabos você pensa que está fazendo?
— O quê? — gaguejei, confusa com seu tom de voz.
Ele se aproximou.
— Você acha que não percebo como olha para mim?
— Do que você está falando?
— Quero deixar uma coisa bem clara — disse ele com rispidez. Seus olhos se tornaram sombrios novamente. — Não quero me envolver com você de maneira alguma, entendeu? Cortei a merda da grama do seu jardim porque você estava me irritando. Só isso. Não quero nada com você. Então, para de me olhar assim.
— Você... você acha que eu estou a fim de você? — perguntei bem alto quando chegamos no topo da ladeira. Ele ergueu a sobrancelha e me lançou aquele olhar que dizia claro que sim. — Só achei sua atitude legal, tá? Você deu comida para um mendigo, seu idiota! Não estava querendo te convidar pra sair ou algo assim. Só estava tentando bater um papo com você.
— E por que você quer bater um papo comigo?
— Não sei — respondi, as palavras saltando da minha boca. Não sei por que queria conversar com alguém tão volúvel. Um dia, ele estava falando sobre seus demônios interiores, no outro, gritava por eu ter dito oi. Não dava pra entender. — Fui muito burra por achar que poderíamos ser amigos.
— E por que eu iria querer ser seu amigo?
Senti um arrepio percorrer meu corpo. Eu não sabia se era a brisa fresca ou se era porque ele estava muito perto de mim.
— Não sei. Talvez porque você pareça tão sozinho quanto eu. E pensei...
— Você não pensou.
— Por que você tem que ser sempre tão cruel?
— Por que você está sempre me observando?
Fiz menção de responder, mas nenhuma palavra saiu da minha boca. Olhamos um para o outro, nossos corpos tão próximos que pareciam interligados, tão próximos que nossos lábios quase se tocavam.
— Todos na cidade têm medo de mim. Você tem medo de mim, Demi? — murmurou ele, sua respiração tocando minha boca.
— Não.
— E por que não?
— Porque eu vejo você como você é.
A frieza no olhar de Joseph se suavizou por um segundo, como se ele estivesse confuso com aquelas palavras. Mas era verdade. Eu o enxergava além da raiva em seu olhar, percebia a dor em sua expressão severa. Via seu coração arruinado, que de alguma forma se parecia com o meu.
Sem pensar, Joseph envolveu minha cintura e pressionou seus lábios contra os meus. A confusão que tomou conta da minha mente começou a desaparecer quando senti a língua dele entrando em minha boca, e retribuí o beijo, até com mais vontade que ele. Céus, como sentia falta daquilo. Sentia falta de beijar. A sensação de estar nos braços de alguém, de se agarrar a essa pessoa para não cair no abismo. O calor que toma conta da sua pele quando outra pessoa te fornece o ar para respirar naquele momento.
Eu sentia falta de ser abraçada, de ser tocada, de alguém que me quisesse...
Sentia falta de Zachary.
O beijo de Joseph era furioso e triste, agonizante e pesaroso, verdadeiro e bruto. Exatamente como o meu.
Minha língua passou pelo meu lábio inferior e pressionei as mãos em seu peito, sentindo as batidas rápidas do seu coração na ponta dos meus dedos, em todo meu corpo.
Por alguns segundos, eu me senti como antes.
Inteira.
Completa.
Parte de algo esplêndido.
Joseph se afastou rapidamente, trazendo-me de volta à realidade, à minha triste existência. Acabada.
Incompleta.
Sozinha o tempo todo.
— Você não sabe quem eu sou, então pare de agir como se soubesse — disse ele, voltando a caminhar e me deixando para trás, imóvel, perplexa.
O que foi isso?
— Você também sentiu, não é? — perguntei, vendo-o ir embora. — Parecia... parecia que eles ainda estavam aqui. Senti que Zachary estava aqui. Você sentiu sua esposa...
Ele se virou para mim com um olhar flamejante.
— Nunca mais fale da minha esposa como se você nos conhecesse.
Joseph voltou a andar depressa.
Ele sentiu.
Sei que sentiu.
— Você não pode... não pode simplesmente ir embora, Joseph. Precisamos conversar. Sobre eles. Podemos nos ajudar a nos lembrar deles.
Meu maior medo era esquecer.
Ele continuou andando.
Corri para alcançá-lo mais uma vez.
— Além do mais, essa é a razão de se ter um amigo. Conhecer a pessoa. Ter alguém pra conversar — meu coração batia disparado, e eu ficara cada vez mais irritada ao vê-lo ir embora depois do beijo mais doloroso e saciável que eu já havia experimentado. Joseph me fez lembrar de como era se sentir feliz, e eu o odiava por ter me abandonado. Odiava vê-lo acabar com aquele pequeno instante de desejo, com aquela recordação do amor que tinha sido arrancado de mim. — Meu Deus, você tem que ser um... um... monstro?
Ele se virou e, por um segundo, vi a tristeza escurecendo seu olhar, antes de sua expressão ficar fria novamente.
— Não quero você, Demi — ele ergueu as mãos e veio na minha direção. — Não quero nada com você — ele deu um passo para a frente, e eu recuei. — Não quero falar sobre a droga do seu marido morto — um passo para a frente — E não quero ouvir você falar merda nenhuma sobre a minha mulher morta — recuo. — Não quero tocar você — outro passo. Recuo. — Não quero te beijar — mais dois passos. Recuo. — Não quero passar a língua pelo seu corpo. — passos. recuo. — Tenho certeza de que não quero ser a porra de um amigo. Então, me deixe sozinho e cala a porra da boca! — gritou ele, praticamente em cima de mim, as palavras saindo de sua boca como um foguete, e sua voz, como um trovão. Tive um sobressalto, senti medo.
Quando ele finalmente recuou, o salto do meu sapato ficou preso numa pedra, e eu acabei caindo. Rolei ladeira abaixo. Apesar de alguns arranhões e da vergonha, fiquei bem.
— Merda — murmurou Joseph, aparecendo diante de mim num instante. — Você está bem? Aqui — disse ele, estendendo a mão para mim.
Recusei a ajuda e me levantei sozinha. Os olhos dele demostravam preocupação, mas eu nem liguei. Em alguns segundos, provavelmente estariam repletos de raiva.
Pouco antes de eu cair, ele tinha me dito para calar a boca, e era exatamente o que eu estava fazendo. Pude notar seu olhar patético em minha visão periférica, mas fui mancando para casa em silêncio.
— Ele te empurrou? — gritou Selena ao telefone. Liguei para ela assim que cheguei e contei sobre o incidente com Joseph. Eu precisava da minha melhor amiga para confirmar que, apesar de tudo, eu estava certa, e Joseph, errado.
Mesmo que eu o tivesse chamado de monstro.
— Não foi bem assim. Ele gritou, e eu meio que tropecei.
— Depois que ele te beijou?
— Sim.
— Argh, eu odeio esse cara. Odeio.
Assenti.
— Eu também.
Era mentira, mas eu não podia contar a ela meus verdadeiros sentimentos por Joseph. O quanto tínhamos em comum. Eu não podia contar a ninguém. Eu não queria admitir nem a mim mesma.
— Mas já que estamos falando nisso, me conta... — disse Selena, e eu quase pude ouvir o risinho dela pelo telefone. — Ele beijou de língua? Ele fez algum som? Estava sem camisa? Ele te deixou excitada? Você passou a mão no peito dele? Mordeu o queixo? Qual é o tamanho? É grande? Você ficou tonta? Apalpou?
— Você me cansa — ei, mas minha cabeça ainda estava analisando o beijo. Talvez não tivesse sido nada. Ou tivesse sido tudo.
Ela suspirou.
— Anda, me conta. Estou tentando trepar agora, e essa conversa está me distraindo.
— O que você quer dizer com tentando trepar? Selena, você está transando agora?
— O que você considera “transar”?
— Transar, oras, sexo!
— Olha, se você está querendo saber se tem um pênis tentando entrar na minha vagina, então a resposta é sim. Acho que isso é quase transar.
— Pelo amor de Deus, Selena! Por que você atendeu o telefone?
— Bem, primeiro as amigas, depois as trepadas, certo?
Bufei diante da risada dela.
— Oi, Demi — ouvi Matty dizer ao fundo. — Se desligar agora, te dou um turno de trinta horas na semana que vem.
— Vou desligar.
— O quê? Não. Ainda tenho muito tempo.
— Você é louca.
— Ai, Matty, para. Eu disse pra não morder aí — cacete! Minha melhor amiga era uma aberração. — Tá bom, meu docinho, preciso ir. Acho que estou sangrando. Mas acho que você deveria encontrar um tempo pra meditar e esfriar a cabeça.
— E o que significa meditar pra você?
— Tequila. Prateleira de cima, desce queimando, ajuda nas decisões difíceis. Tequila.
Parecia uma boa ideia.
Já estamos no décimo capítulo e o que acharam?
E ESSE BEIJO BRASEL? E ESSA CONVERSA DOS DOIS? E ESSE CLIMA PESADO? ADOREI
Pena que o Joseph é um grosso, mas esse beijo vai mudar muita coisa na vida dos dois
Selena é DEMAIS hahaha
Me contem aqui nos comentários o que acharam lindonas, um beijo <3
respostas aqui
E ESSE BEIJO BRASEL? E ESSA CONVERSA DOS DOIS? E ESSE CLIMA PESADO? ADOREI
Pena que o Joseph é um grosso, mas esse beijo vai mudar muita coisa na vida dos dois
Selena é DEMAIS hahaha
Me contem aqui nos comentários o que acharam lindonas, um beijo <3
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Adorei, posta logo!
ResponderExcluirJá postei amor, bjs <3
ExcluirKkkkkk rindo até 2017 com essa Selena kkkkkkkk o Joe é muito grosso, que isso!!! Mas finalmente o beijo saiu.... continua.....
ResponderExcluirSelena é demais kkkkkkkkkk
ExcluirEle é, mas com o tempo ele fica carinhoso hahaha
Já postei lindona, bjs <3