14/09/2016

breathe: capítulo 14



4 de abril de 2014 
Três dias antes do adeus 

Esse aqui é muito bom, se você quiser algo mais forte — disse o diretor da funerária, Harold, para minha mãe. Estávamos ali, de pé, escolhendo caixões. — É todo de cobre, então resiste muito melhor à corrosão. É bem melhor que o de aço e garante um repouso extraordinário aos seus entes queridos. 
— Sim, parece muito bom — assentiu minha mãe enquanto eu continuava ali, completamente desinteressado. 
— Se você deseja alguma coisa com mais classe, talvez queira dar uma olhada nessa maravilha — os dedos de Harold alisavam o cavanhaque ao passar a mão pelo outro caixão. — Esse aqui é de bronze puro, feito de um material que dura muito mais do que qualquer outro caixão. Se quisesse algo para se despedir dos seus entes queridos com estilo, eu escolheria este. Temos também as opções em madeira. Veja bem, eles não são tão fortes, mas são resistentes ao impacto, o que também é bom. Temos diferentes tipos de madeira, como cerejeira, carvalho e imbuia. O meu preferido é o de acabamento em cerejeira, mas quando se trata de gosto, cada um tem o seu. 
— Isso é muito estranho — resmunguei. Minha mãe foi a única que me ouviu. 
— Joseph— repreendeu ela, virando de costas para o diretor da funerária. — Seja educado. — Ele tem um caixão favorito. Isso é muito estranho — sibilei, irritado com Harold, irritado com minha mãe, irritado porque Ashley e Charlie se foram. — Dá pra acabar logo com isso? — reclamei, olhando aqueles caixões vazios que em breve seriam preenchidos com tudo que eu tinha. 
Voltem para mim. 
Minha mãe franziu o cenho, mas tomou todas as decisões e cuidou dos detalhes que eu fingia que não existiam. 
Harold nos levou até seu escritório, com aquele sorriso estranho que me irritava mais a cada segundo. 
— Para as lápides, também oferecemos coroas, vasos e flores para cobrir o corpo... 
— Você está de brincadeira comigo? — murmurei. Minha mãe segurou minha mão, tentando me impedir de falar daquela maneira, mas já era tarde demais. Eu estava no limite. — Deve ser muito bom pra você, não é, Harold? — perguntei, debruçado na mesa, com os punhos cerrados. — Deve ser um trabalho do caralho oferecer uma porra de uma coroa de flores para as pessoas que amamos. Fazer as pessoas gastarem todo seu dinheiro com coisas ridículas, que não mudam merda nenhuma, só porque estão vulneráveis. Flores pra cobrir o corpo? Flores para cobrir o corpo? Eles morreram. Eles morreram, droga — gritei, levantando da cadeira. — Mortos não precisam de vasos. Eles não precisam de coroas. E não precisam de flores. Para quê? Para que, Harold? — berrei, batendo as mãos na mesa e fazendo todos os papéis voarem. 
Minha mãe se levantou e tentou me segurar, mas puxei o braço com força. Meu peito subia e descia rapidamente, e minha respiração ficava cada vez mais curta e difícil de controlar. Senti a loucura em meus olhos. Eu estava descontrolado. Estava mais devastado a cada segundo que passava. 
Saí correndo do escritório e me apoiei na parede mais próxima. Minha mãe se desculpou com Harold enquanto eu esmurrava a parede. Várias vezes. Meus dedos ficaram vermelhos, e meu coração se tornava mais frio à medida que a ficha começava a cair. 
Eles se foram. 
Eles se foram. 
Minha mãe saiu da sala e ficou ao meu lado, com os olhos cheios de lágrimas. 
— Você encomendou o cobertor de flores para os caixões? — perguntei, sarcasticamente. 
— Joseph... — sussurrou ela. Eu conseguia perceber a dor em suas palavras suaves. 
— Porque, se comprou, deveria ser verde para Charlie e roxo para Ashley. Eram as cores favoritas deles... — balancei a cabeça, sem querer mais falar no assunto. Não queria o conforto da minha mãe. Não queria mais respirar. 
Foi o primeiro dia em que percebi que eles estavam realmente mortos. O primeiro instante em que me dei conta de que tinha somente mais três dias para dizer adeus às pessoas que eram meu mundo. Balancei a cabeça mais uma vez, levei a mão à boca e, com um gemido, dei vazão à toda minha tristeza. 
Eles se foram. 
Eles se foram. 
Voltem para mim. 
— Charlie — gritei, sentando na cama. Estava tudo escuro, e meus lençóis, encharcados de suor. Senti uma brisa vindo da janela e tentei esquecer aquele pesadelo, cada dia mais real. Eram as lembranças que sempre voltavam para me assombrar. 
Vi uma luz se acender na casa de Demi. Ela foi até a janela e espiou na minha direção. Não acendi a minha. Sentei na beira da cama, meu corpo ainda quente. A luz inundou seu rosto, e vi os lábios dela se movendo. 
— Você está bem? — perguntou Demi, cruzando os braços. 
Ela era tão bonita que chegava a me irritar. 
Mas eu também ficava irritado com o fato de que meus gritos provavelmente a acordavam todas as noites. Caminhei até a janela, meus olhos ainda carregando a culpa por não ter estado com Ashley e Charlie. 
— Vai dormir — eu disse. 
— Tá — respondeu ela. Mas ela não voltou para a cama. Sentou-se no parapeito da janela, e eu me encostei na minha. Ficamos olhando um para o outro até nossos corações desacelerarem, e Demi fechou os olhos. 
Silenciosamente, agradeci a ela por não ter me deixado sozinho.


Gente nem sei o que dizer sobre esse capítulo :(
Essas lembranças ainda irá atormertar o Joseph
O que acharam? Me contem aqui nos comentários
um beijo lindonas <3
respostas aqui

2 comentários:

  1. Feitos um para o outrooo!!! Não esqueci da maratona heim!!! Continua logo por favor!!!

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    1. Talvez eu faça a maratona ou na segunda ou na quarta, prometo :)
      Vou postar hoje, um beijo lindona <3

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