19/07/2017

for you: capítulo 20


Anne

Aguardo a resposta, com as unhas fincadas na palma das mãos, ao ponto de ferir minha pele.
— É muito jovem ainda, e não há nada errado com você, além dessa ansiedade — ele me encara sério — Apenas relaxe e no momento oportuno isso irá acontecer.
— Está bem — digo, aliviada. Não consigo evitar que um soluço escape de meus lábios. As
lágrimas escorrem pelo meu rosto, em um choro silencioso.
Quase uma hora depois, após uma longa conversa e uma receita médica com um contraceptivo, ele me deixa sozinha no quarto, perdida em meus pensamentos.
— Demi? — Jenny aparece à porta, com a bengala nas mãos e, uma expressão cautelosa no rosto.
— Estou aqui — estico a mão para que ela possa se guiar até mim.
— Ah, Demi — Jenny me abraça forte — Não fique triste. Talvez tenha sido melhor assim.
Melhor para quem? Perdi o homem que amo, porque acreditei nessa gravidez psicológica. Agora não tenho nem mesmo isso. Nada poderá preencher esse vazio em meu peito.
— Eu o queria tanto — soluço em seus braços, aninhada contra mim mesma, tento lutar contra o horrível sentimento de desespero, meu corpo estremece, enquanto uma dor lancinante rasga meu peito. A dor de perder alguém que se ama é inimaginável, mas perder alguém que nunca se teve é devastador — Eu queria muito, os dois. Acha que estou ficando louca?
— Não — ela suspira — Apenas deseja ardentemente uma família. Você já tem uma Demi. Eu
estou aqui.
Queria que Joseph estivesse ao meu lado também, acalentando-me, dizendo-me que ficará tudo bem. Eu não tenho mais o Joseph e não tenho mais o bebê. Isso dói.


***

Quando saímos do quarto, duas enfermeiras me lançam um olhar piedoso e isso só me faz sentir ainda mais miserável. Recolho a bolsa que havia deixado às pressas na recepção e alcançamos as ruas já em um grande movimento.
Caminho porque meu cérebro envia os comandos para minhas pernas, respiro porque os pulmões trabalham por vontade própria, mas minha alma e pensamentos estão muito longe do meu corpo.
Chegamos ao ponto de ônibus e nem sei como fui parar ali. Provavelmente Jenny me conduziu até aqui. É irônico que ela seja cega, e eu que não enxergue nada a minha frente.
Sigo para o último banco do ônibus. Uma jovem com uma enorme bolsa senta-se ao meu lado exibindo um enorme e bonito ventre do que eu acho ser de sete ou oito meses. Ela sorri para mim e eu não correspondo, a sensação que tenho é de levar uma bofetada, e a dor cava cada vez mais fundo em meu peito.
Por que quando perdemos algo que amamos muito, tudo em volta de nós faz-nos lembrar o quanto isso foi importante? Nunca teria notado casais apaixonados pelas ruas, mulheres grávidas ou mamães com seus bebês. Hoje, todos eles desfilam a minha frente, como se a vida quisesse esfregar o que perdi em meu rosto, de uma forma mórbida e cruel.
Nunca invejei Jenny, como nesse momento. Agora entendo porque ela é sempre tão forte e
independente. O mundo ao redor não pode machucá-la. Ela tem seu próprio mundo em meio ás sombras, onde ninguém entra, ninguém toca.
— Por que não se deita um pouco? — Jenny sugere, assim que entramos no apartamento — Vou preparar um chá para você. Está com fome?
— Não, obrigada — murmuro — Apenas o chá, por favor.
Vou para o quarto, abro as janelas com a esperança de que luz e vida possam entrar através delas.
Eu me reviro na cama, os raios de sol vindos da janela, não aquecem meu corpo. Não há onde eu possa olhar sem que minha vista fique turva e meu coração fique pesado. Como se um trem descarrilhado oprimisse meu peito. E meu coração grita com todas as forças por uma segunda chance, a qual eu não posso dar.
— Trouxe o seu chá — Jenny informa, alguns minutos depois.
Tentei responder, mas minha voz falha. Ainda há essa bola presa em minha garganta.
— Se precisar de algo eu estarei na sala — diz ela, coloca a bandeja na cômoda e sai em seguida.
Uma hora depois, o telefone esquecido dentro da bolsa toca. O número na tela faz meus dedos tremerem. Jogo o telefone longe como se queimasse em minhas mãos. E quando as lembranças de tudo que vivemos nos últimos dias insistem vir à tona, afasto-as com determinação. O som continua insistente. O que ele quer comigo? Já não havia me magoado o suficiente?
— Oh, Joseph — sussurro, num fio de voz — Por que traiu nosso amor assim?
Ele disse-me que teria me dado o mundo, e eu entreguei-lhe meu coração, todo o meu mundo. E Joseph dispensou-me friamente, sem a mínima possibilidade de explicação, por um orgulho estúpido e incompreensível. Não contente com isso, fora consolar-se nos braços de outra, não qualquer mulher, mas a que mais desprezo.
Tento afastar esses pensamentos deprimentes. Eu não posso continuar aqui remoendo-me para sempre. Não sou uma pessoa fraca. Dói? Dói muito, mas vou recolher todos os cacos em volta de mim e continuarei lutando. Apesar de estar física e mentalmente cansada, sinto-me imbuída de uma nova e feroz determinação. Preciso de um tempo longe de tudo isso, longe das lembranças e de todas as coisas que me ferem.
Com isso em mente levanto-me às pressas. A mala que trouxe de viagem está intacta perto da porta, joga-a em cima da cama e vasculho o guarda roupa. Estamos no verão e o clima para onde vou é tão quente como na praia onde estávamos.
— Estou de partida — declaro a Jenny, assim que entro na sala — Sairei da cidade por um tempo Jenny.
— Como assim? — diz ela, apreensiva — Está indo embora?
— Ainda não sei — murmuro — Eu preciso de um tempo longe. Irei para Carolina do Norte
visitar o Harry.
— Você vai voltar não é? — diz ela, com a voz trêmula — Ainda está brava comigo?
— Eu não poderia mesmo que quisesse — caminho até ela e abraço-a apertado — Não foi culpa sua, mas eu preciso de um tempo.
— Está bem — Jenny sussurra — Mande-me notícias. Sabe que é mais do que uma amiga para mim, não é?
— Sei sim — respondo, emocionada — Vamos fazer o seguinte, deixarei o telefone com você.
Ligarei todos os dias.
— E se o Joseph ligar? — ela pergunta enrugando a testa.
— Não tenho mais nada para falar com ele — respondo, duramente — É só não atender.
— Como saberei se é você ou ele? — diz ela, envergonhada.
Droga! Sempre me esqueço que Jenny é cega.
— Não atenda nenhuma ligação nos próximos dois dias — digo, enfaticamente. — Não creio que o que ele tem para me dizer seja importante.
— Talvez ele queira falar sobre o bebê — ela insiste — Não acha que ele merece saber.
— Como ele me disse, tarde demais para isso — lágrimas queimam em meus olhos, mas recuso-me a deixá-las cair — Nem ao menos acreditou que fosse dele.
— Mas Demi...
— Resolverei isso depois, Jenny — digo, nervosa — E de maneira nenhuma, diga sobre isso. Só você e Paul devem saber para onde estou indo.
Como se Joseph fosse me procurar, rio internamente dessa ideia estapafúrdia. O motivo de estar entrando em contato, deve ser para pôr um fim em nossa história de uma vez por todas. Ainda não estou preparada para isso, quando voltar a encará-lo, preciso estar inteira e forte. Depois que despeço-me de Jenny, sinto o peito um pouco menos oprimido. Não que a dor tenha desaparecido, ela ainda pulsa em meu peito, mas é como se de alguma forma eu tivesse a empurrado em algum lugar secreto de meu coração. E é lá que ela deve ficar, pelo menos, por enquanto. Recomeçar. O adjetivo acompanha-me quanto eu pego o ônibus que me levará até meu destino, farei algumas trocas pelo caminho, mas isso me dará o tempo que preciso para refletir sobre a minha vida e o futuro na minha frente. Não poderei continuar no apartamento, isso é um fato, mas também não desejo voltar para a precária lata de sardinha a qual vivia antes.
Viajar é sempre bom, mesmo para quem está de coração partido. A paisagem e pessoas que fui deixando para trás, de certa forma renovaram minhas esperanças. E há em mim uma imensa e inexplicável vontade de ser feliz, seguir em frente. Algumas coisas acontecem para nos fortalecer e nos fazer enxergar tudo com uma perspectiva diferente. Por exemplo, o que realmente tenho feito da minha vida? Pessoas entram e saem dela, levando alguma parte de mim.
Sempre acreditei que estaria completa apenas quando tivesse uma família ao meu lado. No
entanto, como posso ser feliz com isso se eu não estiver completa, inteira? O que tenho feito por mim mesma além de aceitar migalhas da vida e das pessoas ao meu redor? É hora de mudar radicalmente, e esses dias de férias é a contrapartida para minha nova vida.


***

Passei por Nova Jersey, fiz uma parada em um hotelzinho em Maryland, o estado da Virginia e finalmente após muitas horas de viagem, chego a Carolina do Norte. O motorista atencioso deixa-me perto de um hotel pequeno, mas ao mesmo tempo charmoso. Não se compara ao que eu havia ficado em Dubai, porém é aconchegante e barato. Não estou em uma situação que eu possa desperdiçar dinheiro, não até eu dar um rumo a minha vida.
Um recepcionista ajuda com as malas e um senhor simpático me atende assim que entro no prédio de três andares.
— Eu gostaria de um quarto, por favor — digo a ele, tentando exibir o meu melhor sorriso.
— Por quantos dias, senhorita? — pergunta o senhor chamado Willian, ele possui uma voz suave e agradável.
— Eu poderia deixar em aberto?
— Claro senhorita — ele sorri, gentil — Preencha esse formulário e preciso que pague uma
pequena taxa.
— Tudo bem — Sorrio de volta.
Após preencher o formulário com meus dados pessoais e bancários, sou conduzida até meu
quarto. Como já é tarde e estou cansada, opto por banho de chuveiro mesmo, lavo os cabelos com shampoo que eu trouxe na mala e deixo a água escorrer pela minha pele por alguns minutos. Sinto-me como se estivesse lavando minha alma.
Em seguida, jogo-me na cama, apenas de robe e com uma toalha enrolada em meus cabelos
úmidos, e caio em um sono profundo em seguida.
Acordo milagrosamente no dia seguinte. Gemo ao notar meus cabelos emaranhados quando retiro a toalha. Um ninho de rato, é exatamente como ele se parece. Penteio da melhor forma possível. Após escovar os dentes, afasto as cortinas das janelas e dou boas-vindas a manhã e o sol radiante que banha meu rosto. Um calor gostoso acarinha minha pele e sinto-me viva.
— Certo Demi Lovato, você consegue — digo a garota solitária em frente ao espelho. Prendo os cabelos em um rabo de cavalo, que é o melhor que consigo no momento, visto um vestido florido, sandálias de dedo e desço para o café da manhã. De acordo com o gerente, é servido até às nove horas, então eu tenho um pouco mais de meia hora para fazer o desjejum. Não imaginei que pudesse dormir tanto, mas praticamente hibernei a noite inteira.
Pego a bolsa de mão e desço para o lobby do hotel, ele está praticamente vazio. Eu aprecio isso, gosto de ter certa privacidade. Sirvo-me de torradas, suco de laranja, queijo e salada de frutas, embora não esteja com muita fome, forço-me a comer um pouco.
Após o café, dirijo-me a recepção para usar o telefone, preciso avisar o Harry que já estou na cidade.
— Eu poderia usar o telefone? — pergunto ao mesmo senhor do dia anterior.
— Fique à vontade.
Pego número dentro da bolsa e aguardo que me atendam, ansiosamente, meus pés batendo no chão ao compasso de cada bip. No quinto toque e quando estava prestes a desistir, uma voz esganiçada ecoa do outro lado da linha.
— Alô!
— Eu poderia falar com Harry — tento me fazer ouvir sob o enorme barulho do outro lado.
— Jonathan desça daí, agora! — diz a filha de Harry, aos berros — Ele não está. Quem gostaria?
— Demi — respondo, um tom mais alto — Demi Lovato.
— Ah, Demi — murmura — Papai saiu para sua caminhada, quer deixar recado?
— Diga a ele que estou na cidade — informo, um pouco desapontada por não poder falar com ele — Gostaria de vê-lo.
— Está aqui? — diz ela, eufórica — Por que não almoça conosco? Meu pai adora você.
Fico muito feliz com a declaração. Para o rabugento e intratável Harry, admitir adorar alguém é algo muito difícil.
— Lucy! — a jovem volta a gritar ao longe — Não coloca isso na boca.
Eu tento imaginar o que possa estar acontecendo por ali. Ouço choro de criança e algo mais que não consigo identificar.
—Acho melhor não — respondo, sem jeito — Parece que você tem muito trabalho por aí.
— Imagina — diz ela, com humor — Está tudo sobre controle. Anote o endereço.
Faço um sinal para que o atendente me forneça papel e caneta. Após desligar peço informações ao jovem de como chegar até o endereço. A casa de Harry não fica muito longe do hotel, por volta de quarentena minutos mais ou menos. Resolvo dar uma volta pela cidade para passar o tempo, e duas horas depois, paro em frente a uma casa branca de classe média.
Um garoto com cerca de nove anos, vem atender a porta. Usa um saco de lixo atrás das costas e carrega em suas mãos utensílios de cozinha.
— Qual é a senha? — ele diz, com os olhos enrugados.
— O que? — pergunto indecisa de como devo agir. As únicas vezes que estive perto de crianças, foi quando eu mesma fui uma, a muito tempo no orfanato. Devo embarcar em sua fantasia infantil ou manter-me indiferente.
— Jonathan! — uma jovem a qual só falei por telefone, aparece trás do menino. Ela é loira e
baixinha, segura entre os quadris uma réplica dela, aparentemente a criança tem uns três anos de idade — Deixe a moça em paz e vá arrumar seus brinquedos.
— Mas mamãe!
— Sem mais ou menos! — ela arranca o saco das costas do menino e me encara com semblante envergonhado — Desculpe-me, sabe como são as crianças.
Apenas aceno com a cabeça. Eu não sei como são as crianças e não saberei isso tão cedo. Uma pontada dolorida pulsa em meu peito, mas afasto qualquer pensamento depressivo.
— Entre, por favor! — Camille afasta-se, e dá espaço para que eu entre.
Aguardo ao lado da porta, e espero que ela me conduza para dentro da casa. Há brinquedos das crianças por todos os lados. Não é uma casa mal arrumada, mas é notável que há crianças ali.
— Meu pai foi buscar meu filho mais velho na casa de um amigo e já estará de volta — Camille me diz antes de colocar a criança no chão e arranjar espaço para mim no sofá — Fico feliz em finalmente poder conhecer você. Ele fala muito de você, Demi. Sinto, como se a conhecesse há anos.
Sento-me apressadamente e tento esconder o rosto vermelho e os olhos marejados. Há uma
conexão de pai e filha entre Harry e eu que não consigo explicar, e também, não desejo que Camille sinta ciúmes de mim.
Lembro-me do dia que sentamos na calçada da lanchonete, tarde da noite, com nossas cervejas nas mãos, fazendo confidências da vida, após meses brigando na lanchonete. O relacionamento dele com a filha, nunca mais foi o mesmo, após divorciar-se da mãe dela, quando ela tinha doze anos. Pelo que vejo, progrediu bastante desde que ele havia ido morar com ela.
— Harry é muito exagerado ás vezes — brinco com uma boneca esquecida no sofá — Aposto que não disse que agíamos como gato e rato.
— Disse sim — ela ri — Essa foi a melhor parte.
Conversamos animadamente sobre minhas melhores brigas com Harry, como no dia que despejei o vasilhame de açúcar na cabeça dele. Eu tenho a péssima mania de arremessar as coisas, quando fico irritada.
Camille, é uma mulher doce e simpática, não há competitividade entre nós duas. Ela sempre seria filha dele e eu... Bem, eu uma grande amiga, talvez uma filha adotiva como dizia quando queria provocá-lo.
— Olha quem está aqui? — Harry chega acompanhado de um garoto alto e magrelo, mas com cara de bebê. Creio que deva ter uns catorze anos — Demi a encrenqueira.
Harry, parece bem mais magro do que eu me lembrava, a barriga havia quase desaparecido.
Internamente desejo que essa mudança seja efeito das tais caminhadas que está fazendo. Isso é outra grande novidade para mim.
É impossível você segurar algumas emoções e, foi inevitável não correr para os braços dele,
assim como impedir que as lágrimas escorressem por meu rosto.
— Ei garotinha? — ele me embala meio sem jeito — Cadê a garota encrenqueira que eu conheço?
Ela já teria me enfiado essa boneca goela a baixo.
Só então, eu percebo a boneca presa em meus dedos. Dou risada ao perceber o quanto ele me conhece bem e também, o quanto eu havia mudado. A velha Demi faria exatamente isso.
— Eu vou terminar o almoço — Camille nos interrompe — Acho que vocês têm muito o que
conversar.
Tento afastar-me de Harry para que ela não se sinta mal, mas ele me aperta forte contra o peito. Encaro a filha dele e ela me parece tranquila, solto o ar aliviada. Não vim atrás dele para causar constrangimento ou desentendimento familiar.
— Bernard, leve seus irmãos para brincar lá fora — diz ela, ao garoto mais velho antes de seguir para cozinha.
Fico admirada que uma mulher mignon como ela, tenha tanta autoridade apenas na voz. As
crianças obedecem sem titubear.
— Então? — Harry me conduz de volta ao sofá — O que aconteceu para ter vindo de tão longe visitar esse velho feio e careca, após dois longos anos.
Desde que me mudei para Nova Iorque ele insistiu para que eu fosse visitá-lo. A correria do dia a dia e falta de dinheiro sempre me impediram.
— Saudade de um velho feio e careca? — brinco com ele — Senti sua falta.
— Incrivelmente também senti sua falta, Demi — diz ele, desconfortável — Ninguém nunca mais atirou coisas na minha cabeça.
— Que destino ruim.
Ele me encara com insistência, tentando desvendar algo em meu olhar ou algo revelador em meu rosto. Ele sempre me disse, que eu era como um livro aberto. Acho que não é verdade, ou Joseph veria todo amor que sinto por ele.
— Está apaixonada — diz ele, sem rodeios.
— É obvio assim?
— É interessante — murmura ele — Sempre me perguntei quando isso finalmente iria acontecer.
Na verdade, ele sempre me perguntou quando isso iria acontecer. Mesmo quando estive em um relacionamento ilusório com John, ele me perguntava isso. Para ele, o calhorda jamais me faria feliz e agora vejo o quanto ele estava certo.
— Gostaria que nunca tivesse acontecido — murmuro, queixosa — É uma merda!
— Hum — diz ele, com voz enrouquecida — O que esse cara fez? Já não gosto dele.
— O que ele fez? O que eu fiz? O que os outros nos fizeram? — murmuro mais para mim do que para ele — São tantas perguntas.
— Vamos pelo início — ele ri.
Conto a ele o primeiro dia que o vi no clube, a forma que dancei para ele, o jeito como me senti atraída no primeiro olhar. Sobre a proposta absurda para que fingisse ser sua noiva, mas que nos aproximou a cada dia. É inevitável não voltar a me emocionar com tantas lembranças em minha cabeça e coração. Como nosso primeiro dia no parque e na praia. Um dos momentos mais românticos e especiais em nossas vidas.
Conheço a alma dele e ele habita na minha, isso é o que mais machuca. Por outro lado, não
conseguirei esquecer o que ele fez conosco. Cada vez que imagino-o com a outra, eu morro um pouquinho. Que ele a beijou, abraçou e fez coisas que mal consigo imaginar. O ciúme e a raiva corroem-me completamente.
— Como dizem por aí, os fins não justificam os meios — murmura ele — Eu entendo que o rapaz tenha ficado baqueado. Traição não é uma coisa que nós homens, aceitamos muito bem, por outro lado, acho que deveria ter deixado você se explicar.
— Também, saber que será pai de uma forma tão abruta, é difícil — continua ele — É muita coisa para assimilar. Mas, sair com a ex-noiva, depois de tudo que fez é no mínimo estúpido. Não pense que estou defendo-o, mas os homens fazem coisas realmente idiotas quando estão com medo.
— Medo? — pergunto incrédula.
— Medo sim — ele ergue as sobrancelhas — Do amor, de sair machucado.
— Eu não creio que seja assim. Acho que por algum momento, ele tenha acreditado sentir algo por mim, e descobriu que não era verdadeiro. Joseph me magoou muitíssimo — minha voz falha — Acho que jamais poderei esquecer. Jamais poderei amar alguém como eu o amo.
Essa certeza em meu coração, arranca de meu peito qualquer esperança de voltar a me entregar a alguém novamente.
— Não deixe que ninguém maltrate seu coração, querida — ele segura minhas mãos com carinho
— Não se permita sofrer mais nessa vida por ninguém. A única pessoa responsável por sua
felicidade é você mesma. Ninguém deve passar pela vida sem conhecer o verdadeiro amor.
Dou um sorriso triste e tento absorver tudo o que ele me diz. São palavras bonitas, mas colocar em prática, isso é muito difícil. Como dizer a um coração ferido que ainda há esperanças?
— Não sei se eu consigo.
— Consegue sim — diz ele, com suavidade — A resposta que você procura está dentro de você, em seu coração. Só ele será capaz de falar se valerá a pena ou não. Quando se ama verdadeiramente todas as outras coisas ficam pequenas até mesmo, os erros.
Ouvi todos os conselhos que ele me deu de coração aberto. Conseguiria olhar para o futuro de uma forma diferente? Seria capaz de ignorar todos esses sentimentos contraditórios em meu peito e perdoar Joseph caso ele volte a me procurar? Qual será a reação dele ao saber que não há bebê? Irá me julgar novamente?


***

O dia passa rapidamente, me diverti muito ao lado de Harry e Camille. As crianças são bem
agitadas, mas também muito bem educadas. Fiquei apaixonada por sua filha mais nova, que não me deixou partir sem antes tomar um chá com suas bonecas. Eu descobri que gosto de crianças e, inacreditavelmente, elas gostam de mim. Talvez um dia eu venha ter filhos, e sinto que serei uma boa mãe. Minha visita não foi muito longa, após dois dias, resolvo voltar para casa. Tenho a necessidade inexplicável de seguir adiante. Há muitas possibilidades a minha frente, e irei enfrentá-las com bravura. Muitas ideias povoam minha mente. Pela primeira vez, eu volto a sorrir de verdade. 
Nova Iorque, é a cidade que eu amo e não troco por nenhum outro lugar no mundo. Há tanta vivacidade, diversidade e alegria impregnado nela. Nem mesmo com as cansativas horas de viagem, não consigo me manter imune a ela. Desejo rever Jenny, e pedir desculpas por meu comportamento tão arisco. Colocar em prática todos os planos que fiz nos últimos dois dias, e secretamente, bem lá no fundo do coração, desejo poder rever Joseph.
Isso é estúpido e masoquista, eu sei, mas é o que sinto. Eu posso mentir para todas as pessoas, mas não para mim. Ainda amo-o, não o deixei de amar um único segundo e acho que amarei por toda a vida. E isso, é uma grande merda!
Abro a porta do apartamento e paro estática. Não sei se estou mais indignada ou horrorizada com o que vejo.
— Jenny? — encaro-a, completamente chocada — O que aconteceu? Quem fez isso?
Como alguém pôde ter coragem de agredir alguém tão indefesa, como Jenny? As marcas e
arranhões em sua pele, traz à tona a velha Demi que há em mim, e que havia ficado adormecida por algum tempo, mas que volta com força total. Imediatamente, sou invadida por uma enxurrada de lembrança: as agressões de meu pai contra minha mãe e eu, quando eu era apenas uma criança indefesa, os gritos e as brigas que só pareciam aumentar a cada dia. Apesar de ter acontecido há tanto tempo, ainda tenho pesadelos horríveis com isso tudo, marcou-me de uma forma que eu desejo muito esquecer. E nada me irrita mais do que pessoas covardes. Quem quer que tenha feito isso, saberá o que acontece quando mexem com meus amigos. Isso eu garanto!
— Jenny? — sussurro para ela, sinto todo o meu corpo tremer de raiva — Brian esteve aqui? Foi ele que bateu em você?
Não faço ideia de como Brian possa tê-la encontrado, mas se John, que eu não tive contato por mais de dois anos, havia surgido dos mortos para atazanar minha vida, não me espantaria que Brian tivesse a mesma ideia estúpida, ambos são inescrupulosos, covardes e vigaristas. Todavia, não deixarei que Brian escape ileso como John, apesar da boa surra que Joseph deu nele, o desgraçado merecia coisa muito pior.
— Não — Jenny responde, num fio de voz. Vejo-a apertar os dedos como sempre faz quando está nervosa ou com medo.
Seguro o queixo dela com delicadeza e viro seu rosto de um lado examinando os arranhões no rosto perfeito. Não eram profundos como os dos braços e pescoço, aparentemente não deixará cicatrizes, mas não deixa de ser revoltante. Nos braços, as marcas arroxeadas de dedos, e eu nem consigo imaginar o resto. A pessoa que fez isso estava com muita raiva.
— Quem foi Jenny? — pergunto de mansinho para não assustá-la ainda mais.
— Não importa — ela se afasta de meu toque e encolhe-se ainda mais contra o sofá.
— Claro que importa — murmuro, angustiada. Sinto-me culpada, se não tivesse partido de forma tão intempestiva, nada disso teria acontecido. Deveria ter encarado meus problemas de frente, como 
Harry havia aconselhado. Só que ao invés disso, havia fugido como um cãozinho assustado deixando-a mercê de um desalmado — Conte-me o que aconteceu, por favor.
Ela morde os lábios, vejo que estão trêmulos. Está meditando entre me contar ou não.
— Foi o Neil?
— Não! — responde ela, com a expressão indignada — Que absurdo! Ele nunca me machucaria.
Solto o ar aliviada. Seria muito decepcionante para mim se fosse ele o causador desses
machucados. Tudo que sei do relacionamento deles, é que Neil é louco por ela. Até mesmo pagará uma possível cirurgia para que ela volte a enxergar e custa-me acreditar que ele pudesse ser capaz de algo tão vil como agredir uma mulher, ainda mais, cega. E minha experiência com o sexo oposto me dá o direito a ter dúvidas. Meu pai dizia amar minha mãe, mas constantemente deixava-a coberta de hematomas. John um dia jurou me amar e não hesitou em levantar a mão para mim.
— Então me diz quem foi? — insisto. Ao ver que permanece calada sento-me ao seu lado — Se não me contar perguntarei ao Neil, você decide.
Eu apostaria meus rins no mercado negro de que ele não faz a mínima ideia do que aconteceu a ela. Pela aparência das escoriações, elas são recentes, e me pergunto como ela vem escondendo isso dele, já que parecem inseparáveis.
—Por favor, não! — Jenny tateia meu corpo até encontrar minhas mãos — Não faça isso Demi, por favor.
— Ele não sabe sobre isso não é? — pressiono-a um pouco mais — Não contou a ele.
— Vou deixá-lo — Jenny responde algo que surpreende-me — Não daria certo, de qualquer forma.
O que? Que merda havia acontecido durante esses dias em que estive fora? Falei com elas poucas vezes, pois sempre que conversávamos ela arranjava um jeito de introduzir Joseph no assunto. A primeira vez foi algo sobre ele ter ido até o apartamento que eu nem sequer descobri o motivo, pois fiquei tão abalada que inventei um motivo para finalizar a ligação. Nas outras ocasiões, não dei oportunidade que ela citasse-o novamente, apenas perguntava como ela estava e garantia estar tudo bem comigo. Agora, essa nova informação que colocaria um ponto final em sua relação com Neil Durant é completamente surpreendente para mim. Imaginei que quando voltasse para casa eles teriam agendado a data do casamento, embora seja impossível, já que ele ainda é legalmente um homem casado e pelo que parece a esposa está fazendo jogo duro.
— Foi ela que fez isso? — uma ideia brilha dentro de minha cabeça — Anne fez isso com você?
— Não — Jenny sussurra, virando para o outro lado.
Uma merda que não. Eu não gosto de Anne, embora nunca tenhamos nos vistos pessoalmente, mas uma mãe que despreza a própria filha por ser deficiente física, e que vive sendo alvo de capa de revistas por frequentar festas no mínimo duvidosas, é capaz de qualquer coisa.
Levanto-me e vou direto para o quarto dela, pego um casaco comprido no guarda roupa dela e volto para a sala.
— Vamos — ajudo-a levantar-se e vestir o casaco. Ela olha através de meus ombros e parece
estar confusa com meu gesto.
— Para onde vamos?
— Eu vou resolver essa merda toda — arrasto-a para fora do prédio.
—Não, Demi! — murmura ela, tentando libertar o braço que eu seguro firmemente — Não se meta nisso! Não sabe com quem está lidando.
— Pode até ser Jenny — viro-me de frente a ela com olhar determinado — Mas essa bruxa vai descobrir quem eu sou. Enquanto isso, não posso deixá-la aqui sozinha de novo. Eu não cometo o mesmo erro duas vezes.
Apesar de seus protestos insistentes consigo levá-la até nosso antigo prédio no Bronx.
Receosamente, ela conta-me o que aconteceu na noite anterior e quem havia a agredido. Como eu suspeitei, Anne havia feito da vida dela um inferno.


***

Só há uma pessoa que eu confiaria para protegê-la exceto Neil e eu.
— Pode tomar conta dela Paul? — pergunto ao jovem furioso a minha frente. Assim como eu, está indignado com o que vê.
Paul é professor de defesa pessoal, ele nos ensinou alguns truques quando trabalhávamos no
clube, então eu tenho certeza que Jenny tentou se defender de alguma forma, mas, merda, a garota é cega, é injusto de qualquer forma.
— Não quer que eu vá com você? — diz ele, prendendo-a contra o peito.
— Não, fique aqui e cuide dela está bem?
— Vocês são dois idiotas! — grita ela, nervosa — Não se envolvam nisso!
Eu não respondo, apenas lanço um olhar para Paul e saio apressadamente. Eu sei exatamente onde eu devo ir, e quem eu devo procurar.
O cansaço, após horas de viagem desaparecem magicamente e dá lugar a adrenalina correndo pelo meu corpo, eu poderia levar um tiro a queima roupa, e posso jurar, eu seria incapaz de sentir a dor.
Praticamente cruzo a cidade inteira até chegar ao meu destino. Paro alguns minutos em frente ao gigantesco prédio espelhado, não é a primeira vez que venho aqui, na primeira e última vez, fui barrada na recepção. Hoje, nem o papa em pessoa irá me impedir de falar com ele. Respiro fundo e entro, não vejo dificuldade em entrar, os primeiros andares são destinados ao comércio na verdade, em sua maioria, escritórios e lojas de grife, até mesmo há uma loja da Tiffany ali. Os três últimos andares eram reservados a Durant & Tecnologia, sendo um para recepção e setores de desenvolvimento, o penúltimo para sala de reunião e conferência e o último para presidência e diretoria.
A mesma jovem da outra vez encara-me com olhar de desprezo conforme eu me aproximo da mesa da recepção. Por que uma mesa tão grande, se ela parece uma ratinha atrás dela? Olho em volta da sala, tudo parece gigante e intimidador. No entanto, parece um pouco frio e bem masculino, e os detalhes do designe no nome em prata na parede e em outras coisas como na mesa e cadeiras, dão o toque de elegância ao local. É um prédio muito bem projetado e eu, como aspirante em arquitetura não consigo evitar apreciar o trabalho feito ali, assim como a decoração. Porém, eu não vim aqui para isso. Obrigo meu cérebro a manter o foco e enfrentar a jovem indigesta a minha frente.
— Desejo falar com Neil Durant — digo a jovem, que olha-me de cima a baixo com cara de nojo.
Meu jeans e camiseta, não a agradam nem um pouco. Eu deveria ter colocado algo um pouco mais elegante, eu sei. E como de costume, eu ajo primeiro e depois eu penso.
— A senhorita tem hora marcada? — pergunta ela, com divertimento na voz. Pelo que vejo, não se lembra, ou finge não se lembrar de mim.
Eu não posso dizer o mesmo, por que dias atrás, tive vontade de arrancar aquele sorriso idiota do rosto dela.
— Não, mas ele irá me atender.
— O Sr. Durant está em uma reunião — diz ela, com falsa simpatia — Marque uma hora com a secretária dele. Aqui está o cartão.
Eu olho para o número comercial impresso no cartão elegante e tenho vontade de enfiar pela goela adentro dela. Rasgo o papel em inúmeros pedaços e despejo em cima da mesa. A jovem me encara chocada. Isso é bom, não estou para brincadeiras e acho bom que ela saiba disso.
— Eu farei um escândalo tão grande — inclino-me na mesa e fico a altura dos olhos dela — Tão grande, que poderá ser ouvido no Japão.
Os olhos castanhos e esbugalhados focam-se em mim. Ela olha para o segurança parado na porta.
— Nem pense nisso! — Eu pego o telefone em cima da mesa e entrego a ela. — Agora, avise ao Sr. Durant que Demi Lovato está aqui e exige falar com ele.
Não sei se ela está com medo do escândalo que prometi a ela ou do que poderia fazer a sua
integridade física. No mesmo instante a mulher faz a ligação e conversa baixinho com alguém do outro lado da linha.
— Está bem — sussurra ela — Vou mandar subir.
A recepcionista suspira e me encara:
— Você pode subir — diz ela, contra vontade — A Srta. Walker estará aguardando-a.
Sigo em direção ao elevador que dá acesso à presidência, espero que outra loira não me cause problemas. Tenho sérios problemas com elas.
— Srta. Lovato?
— Sim — respondo a jovem, incrivelmente bonita e loira que aguardava-me em frente ao
elevador. Caramba, ela é realmente bonita e não tem o olhar debochado de algumas mulheres que vi por ali. Eu gostei dela. Parece-me uma daquelas pessoas que você se identifica a primeira vista. Será que Joseph tem uma secretária tão bonita como ela?
— O Sr. Durant irá recebê-la — diz ela, cortando meu pensamento ciumento — Espere apenas um minuto que vou...
— Essa, é a sala dele? — pergunto indo em direção à porta.
— Sim, mas — ela começa a protestar conforme avanço — Deve esperar senhorita...
Abro a porta com brusquidão.
— Neil! Ou dá um jeito na vaca da sua mulher ou... — entro praticamente berrando e paro de
falar, ao observar seu rosto pálido e assustado.
Encaro-o com olhar surpreso e de boca aberta. Observo-o respirar fundo, tentando acalmar-se, enquanto pressiona firmemente a barra da mesa com tanta força que pergunto-me como ainda está intacta.
— Sr. Durant, desculpe, ela não me deixou avisar... — diz Penélope, com o rosto queimando de vergonha.
— Tudo bem, Penélope. Pode sair — Neil interrompo-a e solta a mesa, movendo os dedos para que a circulação volte ao normal — O que Anne fez Demi?
Ele pergunta-me, assim que Penélope relutantemente deixa a sala. Eu suspiro e esfrego a testa tentando aliviar a tensão, são muitas coisas acontecendo em um curto intervalo de tempo.
— Olha Neil, quer dizer, Sr. Durant, não disse a Jennifer que viria até aqui e se souber vai me matar — respondo, sento-me na cadeia em frente à mesa dele, mesmo sem convite, estou muito nervosa.
— Demi, vá direto ao assunto — diz ele, ríspido.
— Aquela cadela, simplesmente apareceu no restaurante e fez um escândalo — estou muito
irritada.
— Eu vou matá-la! — sibilou ele, mais para ele mesmo do que para mim. — Juro que vou matá-la.
— Não foi só isso. Ela gritou aos quatro ventos que Jennifer era uma vagabunda, puxou-lhe os cabelos, esbofeteou-a várias vezes — faço uma cara de desgosto — Jenny foi demitida do
restaurante.
— Maldita Anne! — Neil urra e dá um soco na mesa. — Jennifer me disse que não foi trabalhar ontem, também que não trabalharia durante o resto da semana, que estava indisposta. Por que ela foi? E por que mentiu para mim?
— Não sei. Não sabia que ela havia dito isso e não me importa. Quero saber que tipo de
providências pretende tomar? — digo friamente.
Neil pega o telefone e liga para Penélope.
— Não, claro que não! — ouço-o gritar para jovem ao telefone — Telefone para Adam,
imediatamente! Jesus, o homem está realmente furioso e não quero estar na pele da mulher dele.
— Onde ela está? Passei no apartamento mais cedo e vocês não estavam.
— Agora ela está com Paul.
Vejo-o apertar a ponta do nariz e contar até dez, mas parece não surtir o efeito que gostaria.
— Está me dizendo, que ela está machucada e que em vez de me procurar foi atrás de outro
homem? — pergunta, entre dentes. Os ciúmes pulsando nas veias de seu pescoço.
O que há com esses homens? Acham que na primeira oportunidade pulamos para outra cama como eles. Isso é revoltante.
— Ah, por favor, não seja idiota. Não está com outro homem — respondo irritada — Está com um amigo nosso, e antes que pense besteira ele é gay.
— Não me importa que ele seja gay, padre ou um maldito monge budista. Está com
a minha mulher, consolando, abraçando e fazendo coisas que são minha obrigação. Onde ela está? — pergunta, ainda mais irritado.
— No Boulevard, nosso antigo prédio — respondo receosa.
A forma possessiva que ele se refere a ela, é romântica e assustadora ao mesmo tempo. Não sei se gosto disso. Ele é muito autoritário, se fosse meu namorado já teria arremessado um vaso na cabeça dele.
Penélope volta a sala quebrando a tensão que se instalou no ambiente.
— O Dr. Crighton está na linha — ela murmura.
Olho para à mesa e vejo a luz do telefone piscando em espera. Neil atende e começa a falar com o quem imagino ser o advogado dele.
— Dê um jeito em Anne — faz uma pausa para respirar — Ou juro que vou matá-la.
Escuto a ligação em silêncio e sei que tomei a decisão certa. À partir daqui, ele assumirá o
controle e dará um jeito naquela louca.
— Por que não está aqui, porra! — ele berra e eu salto na cadeira, assustada.
— Certo. Desculpe. Estou muito nervoso — diz ele, resignado.
Neil olha para o relógio e volta a me encarar.
— Demi está aqui, ela pode passar todas as informações que precisa — me encara e eu aceno
com a cabeça — Preciso falar com a Jennifer e saber como ela está.
Ele desliga e vai em direção à porta.
— Em que apartamento ela está?
— Ao lado do meu antigo apartamento. E, Neil — indago, receosa — Vá com calma, tudo bem?
Ontem à noite não foi fácil, a última coisa que ela precisa é de um maluco ciumento que...
Ele não responde, apenas acena e deixa-me falando sozinha. Aguardo o advogado na companhia de Penélope. Ela tenta me deixar confortável o máximo possível. Não sei se porque esse é seu temperamento, ou se quer fazer média, agora que descobriu que sou amiga da futura noiva do chefe.
Como eu não costumo errar em meus julgamentos com as pessoas, creio que esse seja seu
temperamento mesmo. Quarenta minutos depois, surge um homem alto, musculoso e incrivelmente atraente. Ele mal encara Penélope, que finge olhar através da janela.
— Demi? — Adam encara-me de cima a baixo, com olhar apreciativo.
— Sim.
— Se eu imaginasse que era tão linda, eu teria voado até aqui — diz ele, galanteador.
— Com licença — Penélope passa por nós como um trem bala.
Meu Deus! O que deu na mulher agora?
— O que precisa de mim — pergunto, ignorando o atrevimento anterior.
Imediatamente Adam coloca-se em uma postura profissional e inicia o mesmo interrogatório de Neil, só que vez ou outra, anota o que considera importante.
— Só preciso de alguns dados pessoais seus.
Passo a ele tudo o que é necessário e rezo para que essa tortura termine logo. Estou muito cansada e meu corpo exige banho e cama.
— Demi Lovato — murmura ele, batendo no bloco em sua mão — Demi Lovato. Será?
— Vai ficar repetindo meu nome como um idiota ou irá fazer alguma coisa?
— Espirituosa, bonita, boca dura — ele ri — Deve ser a mesma.
— Precisa de mais alguma informação? — suspiro.
— Creio que tenho tudo o que preciso — murmura ele, ainda pensativo — Você seria testemunha se for preciso? Não presenciou a cena, mas encontrou a vítima machucada.
— Sim, com certeza.
— Você tem namorado?
Era só o que me faltava, esse idiota, apesar de lindo, cantando-me de novo. Que tipo de advogado ele é? A última coisa que penso é em homens e suas complicações. Mal havia resolvido minha relação com Joseph, isso se tivermos alguma relação ainda.
— Vá para o inferno — salto da cadeira com raiva.
— Não, espere — diz ele, ao me ver fulminando-o com os olhos e atravessar a porta — Eu só
queria saber se...
Mostro o dedo do meio para ele que fica as gargalhadas e passo por Penélope, que encara-me com raiva gratuita. Bem, eu conquistei uma inimiga. É uma pena, de todas as pessoas ali, ela foi a única que tive simpatia.
— Segure-o — peço ao homem que sai do elevador.
Assim que entro, vejo Adam e Penélope, a minha frente, em uma discussão acalorada. Agora
entendo o olhar fulminante em direção a mim. Senhor, deve ter alguma coisa errada na água dessa cidade. Por que estamos babando por homens tão complicados e impossíveis como esses? Jenny, Penélope e eu. Tolas, estúpidas e apaixonadas. Merda.
O celular escolhe esse momento para vibrar em meu bolso. Penso que seja Harry, prometi que ligaria para avisar que cheguei em segurança.
Joseph! Apoio-me contra a parede de ferro gelada e tento manter firme as minhas pernas
trêmulas. Meu coração dispara no peito como bateria de escola de samba.
Atender ou não atender? Deus, o que eu faço. Meu lado racional diz para que eu ignore-o, mas o coração implora para que eu fale com ele. O que eu faço?

tadinha da Demi, está querendo uma família e está sofrendo com isso :(
essa Anne é uma vaca mesmo, bater na adorável Jenny.
o que acharam da Demi fazendo barraco? adorei hahaha.
será que irão dar um jeito na Anne? e esse advogado saidinho?
será que a Demi irá falar com o Joseph?
espero que tenham gostado.
até logo, bjs amores <3
acessem esse blog de fanfics jemi maravilhoso, confiram.
respostas do capítulo anterior aqui

4 comentários:

  1. Olha, não dá, sério. Cada capítulo um tombo novo rs. Tadinha da Demi, sofreu tanto na infância e penso que o que ela mais queria era uma família. Mas creio que isso logo irá acontecer rs. Se eu já tinha um ódio grande pelo John, essa Anne acaba de entrar no top da pessoa mais odiada, está há minha lista de pessoas que eu queria dar uma boa bofetada pra aprender. Logo a Jenny? É sacanagem, tô com um ódio tão grande, meu Deus. Eu adorei a Demi indo lá pra fazer barraco e resolver essa parada, ela está mais do que certa, tem que defender a Jenny mesmo e ela deveria ir dar uma surra nessa Anne. Enfim... Cada dia amo mais essa fic, não quero que ela acabe nunca. Tomara que a Demi resolva atender o Joe né rsrsrs, estou louca pra vê eles juntos de novo. Ansioso pelo próximo capítulo. Bjs.

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    1. fico muito feliz que esteja gostando amor. Essa Anne é uma cobra pois ela quer o Sr. Durant de volta só que ele ama a Jenny mas a Demi foi lá e resolveu tudo.
      Será que ela irá atender o Joseph? só no próximo capítulo hahaha
      vou postar hoje, bjs <3

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  2. Simplesmente amo essa história, to super ansiosq para as cenas do próximo capítulo, e eu gostaria de saber, tipo eu estou de férias da universidade se você esta também de férias (seja colegio ou uni) se sim voce poderia por acaso fazer uma maratona, tipo pode ser um capítulo por dia, aguardo ansiosamente pelos próximos capítulos e espero que você consiga fazer a maratona.
    XOXO
    Cgfh

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    1. Fico muito feliz que esteja gostando amor. Eu já acabei meus estudos mas eu trabalho e faço curso então fico sem tempo de postar aqui, no momento eu estou de férias somente por essa semana do curso e prometo que vou postar uma maratona de pelo menos dois capítulos.
      vou postar hoje e vou deixar um aviso no capítulo, bjs <3

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