08/08/2016

certain love: capítulo 34


Eu não conseguiria comer nem se minha vida dependesse disso. Só falei que iria comer para satisfazer Joseph. Em vez disso, saio e me sento na frente do hospital por um tempo. Só não quero sair daqui enquanto ele está lá dentro. Precisei de todas as minhas forças para deixar aquela enfermeira levá-lo para longe de mim.
Recebo uma mensagem de texto de Selena:
Acabei de chegar. Pegando um táxi. Logo eu tô aí. Te amo.
Quando vejo o táxi parando na frente do hospital, levo um segundo para me levantar.
Faz um bom tempo que não a vejo, desde nosso problema com Damon.
Mas nada disso importa mais para mim. Já não importa há algum tempo. Teu melhor amigo, não importa o que te faça ou o quanto te magoe, só magoa tanto porque ele é teu melhor amigo. E ninguém é perfeito. Erros foram feitos para serem perdoados pelo melhor amigo; é isso que torna alguém oficialmente o melhor amigo.
De certa forma, como Joseph, não consigo imaginar não ter Selena na minha vida.
E nunca precisei tanto dela quanto agora.
Ela corre pela calçada quando me vê, com seu cabelo longo cor preto esvoaçando solto atrás dela.
— Meu Deus, senti tanto tua falta, Demi! - ela praticamente me mata esmagada.
Bastou sua presença aqui e já estou aproveitando seu abraço e soluçando em seu peito. Eu não conseguia mais conter as lágrimas. Nunca chorei tanto na minha vida quanto nas últimas 24 horas.
— Oh, Demi, o que tá acontecendo? - sinto os dedos dela no meu cabelo enquanto choro baixinho na sua camiseta. — Vem, vamos sentar.
Selena me leva até um banco de pedra debaixo de um carvalho e nós nos sentamos.
Conto tudo para ela. Desde o motivo que me fez partir da Carolina do Norte e o dia em que conheci Joseph no ônibus no Kansas, até este momento em que estamos sentadas neste banco. Ela chorou, sorriu e riu comigo enquanto eu contava tudo o que passei com Joseph, e raramente a vi levando algo tão a sério. Só quando meu irmão foi para a prisão e depois que meus pais se divorciaram. E depois da morte de Wilmer.
Selena pode ser louca, desbocada, baladeira e normalmente não saber a hora de calar a boca, mas ela entende que há uma hora e um lugar certo para tudo, e num momento como esse, tudo o que ela me dá é seu coração.
— Não acredito que você tá passando por tudo isso depois do que aconteceu com Wilmer.
Parece uma porra duma brincadeira cruel do destino.
Parece isso, de certa forma, mas com Joseph parece muito mais do que uma brincadeira cruel.
— Garota - ela diz, pondo a mão na minha perna. — Pensa nisto: quais são as chances de tudo que aconteceu, da forma que aconteceu, ter sido só coincidência? - ela balança a cabeça para mim. — Desculpa, Demi, mas é coincidência demais. O destino de vocês dois é ficar juntos. É como um puta conto de fadas do caralho que não dá pra inventar, sabe?
Não digo nada, fico só refletindo. Normalmente, eu comentaria seu linguajar dramático, mas desta vez não consigo. Simplesmente não tenho forças.
Ela me força a olhar.
— Fala sério, você acha que iria passar por tudo isso só pra ver esse cara morrer?
Dói ouvi-la dizer essa palavra, mas me contenho.
— Não sei - olho para as árvores no gramado, mas não as vejo, na verdade. Só o que vejo é o rosto de Joseph.
— Ele vai ficar bem - Selena segura meu rosto com as mãos e me olha fixamente nos olhos. — Ele vai sair dessa, você só precisa mandar a morte catar coquinho e dizer pra ela que esse cara é teu, sacou?
Ela me surpreende às vezes. Agora é um desses momentos.
Sorrio um pouco e ela enxuga as lágrimas do meu rosto.
— Vamos procurar um Starbucks.
Selena se levanta com sua bolsa gigante de couro preto pendurada num braço e estende a mão para mim.
Eu reluto.
— Eu... Selena, na verdade, eu queria ficar aqui.
— Não, você precisa se afastar dessa energia ruim por um tempo. Hospitais sugam toda a esperança da gente, você só deve voltar quando ele já estiver no quarto e você puder me apresentar esse filhotinho de Kellan pra me matar de inveja, porra - ela abre um sorriso cheio de dentes.
Ela sempre consegue me fazer sorrir também.
Eu seguro sua mão.
— Tá - digo, cedendo.
Pegamos o Chevelle e vamos para o Starbucks mais próximo. Selena ficou babando pelo carro o caminho todo.
— Meu Deus, Demi, você tirou a sorte grande mesmo com esse cara - ela está sentada na minha frente, bebericando seu latte. — Caras tão perfeitos assim são raros.
— Bom, ele não é perfeito - argumento, girando o canudo no meu copo. — É boca-suja, teimoso, me obriga a fazer coisas que não quero fazer e sempre consegue o que quer.
Selena sorri e chupa o seu canudinho.
Ela aponta para mim rapidamente.
— Viu? Como eu falei: perfeito - ela ri e depois revira os olhos castanhos. — E por favor, obriga a fazer o que você não quer, o cacete. Algo me diz que você adora quando ele manda fazer alguma coisa- Selena dá um tapa na mesa e arregala os olhos. — Oh, ele é bruto na cama, não é? Não é? - ela mal consegue se controlar.
Contei que tínhamos transado, mas não dei exatamente nenhum detalhe suculento.
Eu abaixo os olhos.
Ela dá outro tapa na mesa, e um sujeito sentado atrás dela olha para nós.
— Meu Deus, ele é!
— Tá, ele é! - digo entre os dentes, tentando não rir. — Agora quer parar de gritar?
— Vai, você tem que me dar um detalhezinho só - ela junta o polegar e o indicador, para mostrar o tamanho do detalhezinho, e aperta um olho.
Ah, foda-se. Dou de ombros, me debruço sobre a mesa e olho para os lados para ver se ninguém está prestando atenção.
— Na primeira vez - começo a dizer, e a cabeça de Selena parece parada no tempo, de olhos esbugalhados e boca aberta. — Ele praticamente me forçou... você sabe o que quero dizer... claro que eu queria, sabe.
Ela balança a cabeça feito um boneco de mola, mas não diz nada porque quer que eu continue.
— Percebi que ele é dominador por natureza e não tava fazendo isso só porque falei que gosto. Também percebi que ele toma cuidado mesmo assim pra não exagerar, porque quer ter certeza de que eu tô bem.
— Ele já foi além disso?
— Não, mas eu sei que ele irá.
Selena sorri.
— Você é uma pequena maníaca sexual - ela diz, e eu fico tão vermelha que não consigo erguer os olhos por um momento. — Parece que ele é exatamente o que você precisava em todos os aspectos. Tirou de você coisas que nem Wilmer nem Christian conseguiram - ela olha para cima, como que para o céu, e diz rapidamente: — Você sabe que eu te amo, Wilmer - beija dois dedos e os levanta.
Depois, olha para mim de novo.
— Bom, não é por isso que eu amo Joseph.
Selena se cala na hora. Eu também. Parece que todo o ar foi sugado do ambiente. Eu nem me dei conta do que estava dizendo.
Por que eu tinha que dizer isso em voz alta?
— Você tá apaixonada por ele? - ela pergunta, mas não parece tão surpresa.
Não digo nada, apenas engulo quaisquer outras palavras que estava preparada para dizer.
— Se você não estivesse apaixonada por ele depois de tudo o que vocês viveram juntos, eu iria achar que você é que tá com um tumor no cérebro.
Mesmo detestando ouvi-la usar essa expressão horrível, sei que ela não quis dizer
nada com isso.
Mas apesar de seu papo jovial e do seu jeito de me fazer esquecer facilmente que as coisas não estão tão boas no momento, já esgotei minha capacidade de brincar disso com ela. Fico grata por ela ter me ajudado a esquecer a depressão e o temor por Joseph, mesmo que só por uns minutos, falando de sexo e conversando como costumávamos conversar.
Não posso mais.
Só quero voltar para o hospital e ficar com ele.
Selena e eu pegamos o caminho de volta depois do pôr do sol, entramos juntas no hospital e tomamos o elevador.
— Espero que ele já tenha terminado - digo, nervosa, olhando novamente para aquela imagem borrada no reflexo da porta.
Sinto a mão de Selena pegando a minha. Olho para o lado e vejo que ela está sorrindo com ternura.
A porta do elevador se abre e nós andamos pelo corredor.
Nicholas e Denise estão vindo ao nosso encontro.
A expressão dos dois faz meu coração se precipitar para o fundo do meu estômago.
Aperto a mão de Selena com tanta força que provavelmente a estou esmagando.
Quando Nicholas e Denise ficam frente a frente conosco, lágrimas rolam soltas pelo rosto dela. Denise me abraça e diz, tremendo:
— Joseph entrou em coma... os médicos acham que ele não vai resistir.
Eu me afasto dela.
Qualquer barulhinho, do ar saindo dos dutos no forro até as pessoas passando por nós no corredor, desaparece num instante. Sinto a mão de Selena tentando pegar a minha, mas a afasto automaticamente e continuo a cambalear para trás, com as mãos apertadas no coração. Não consigo respirar... não consigo respirar. Vejo os olhos de Nicholas, cheios de lágrimas, me fitando, mas desvio os meus. Desvio porque ele tem os mesmos olhos de Joseph, e não consigo suportar.
Marna mexe na bolsa e tira um envelope. Ela se aproxima de mim cautelosamente, toma minhas duas mãos e coloca o envelope nelas.
— Joseph queria que eu te entregasse isto se alguma coisa acontecesse com ele - ela dobra meus dedos sobre o envelope, usando os seus. Não baixo os olhos, continuo olhando para ela, com as lágrimas encharcando meu rosto.
Não consigo respirar...
— Eu sinto muito - Denise diz com voz trêmula. — Preciso ir embora - ela afaga minhas mãos com ar maternal. — Você sempre será bem-vinda na minha casa e na minha família. Por favor, lembre-se disso.
Ela quase cai, e Nicholas passa o braço por sua cintura e a acompanha pelo corredor.
Fico ali parada, no meio. Algumas enfermeiras passam, mas desviam de mim.
Sinto o vento roçando o meu rosto de leve quando elas passam. Levo uma eternidade para tomar coragem e olhar para o envelope em minhas mãos. Estou tremendo.
Meus dedos amassam a aba do envelope.
— Me deixa ajudar - ouço Selena dizer, e estou fora de mim demais para protestar.
Ela tira o envelope das minhas mãos com cuidado e o abre para mim, desdobrando lentamente a carta que ele contém.
— Quer que eu leia pra você?
Olho para ela, meus lábios tremendo sem controle, e balanço a cabeça quando finalmente entendo a pergunta.
— Não... me deixa ler...
Ela me entrega a carta e eu termino de desdobrá-la, minhas lágrimas pingando no papel enquanto leio:
Demi, meu amor,
Eu não queria que fosse assim. Queria te dizer estas coisas pessoalmente, mas tinha medo. Tinha medo que se eu dissesse em voz alta que te amava, o que a gente viveu juntos fosse morrer comigo. A verdade é que eu sabia, no Kansas, que era você. 
Te amei desde aquele dia em que olhei nos teus olhos pela primeira vez, me encarando do alto da poltrona daquele ônibus. Talvez eu não soubesse disso ainda, mas percebi que alguma coisa aconteceu comigo naquele momento, e que eu jamais poderia abrir mão de você.
Nunca vivi da forma como vivi durante minha curta convivência com você. Pela primeira vez na vida, me senti inteiro, vivo, livre. Você foi a peça da minha alma que faltava, o ar nos meus pulmões, o sangue nas minhas veias. Acho que se existem mesmo vidas passadas, então fomos amantes em cada uma delas.
Conheço você há pouco tempo, mas parece que conheço desde sempre.
Quero que você saiba que mesmo na morte vou me lembrar de você. Eu sempre vou te amar. Queria que as coisas tivessem sido diferentes. Pensei em você muitas noites na estrada. Ficava olhando para o teto nos motéis e imaginava como seria nossa vida juntos, se eu sobrevivesse. Tive um ataque de pieguice e pensei em você de véu e grinalda, e até mesmo com um minimim na barriga. 
Sabe, sempre ouvi dizer que comer mulher grávida é uma delícia. 
Mas lamento ter que te deixar, Demi, lamento tanto... Queria que a história de Orfeu e Eurídice fosse real, porque aí você poderia me trazer de volta à vida cantando. 
Eu não iria olhar pra trás. Não iria ferrar tudo, como Orfeu.
Eu lamento tanto, amor...
Quero que você me prometa que vai continuar forte, linda, doce e meiga. Quero que você seja feliz e encontre alguém que te ame tanto quanto eu amei. Quero que você se case e tenha filhos e viva a sua vida. Apenas se lembre sempre de ser você mesma, e não tenha medo de dizer o que pensa, nem de sonhar em voz alta.
Espero que você nunca me esqueça.
Mais uma coisa: não se sinta culpada por não ter dito que me amava. Não precisava dizer. Eu sabia disso o tempo todo.
Com amor, sempre,
Joseph Jonas.
Caio de joelhos no meio do corredor, com a carta de Joseph entre os dedos. E essa é a última coisa que lembro daquele dia.
Dois meses depois...

Último gente :( 
Espero que tenham gostado, mas calma o Joseph não morreu...no epílogo tudo será esclarecido, logo postarei!!!
Comentem, bjs lindonas <3

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