02/05/2016

sussurros na noite: capítulo 15 (Parte 2)


Demi quase esperava que Joseph a deixasse em casa e fosse embora, mas ele acompanhou-a até lá dentro. Assim que entraram pela porta dos fundos, ouviram a voz de Nicholas, seguida de uma explosão de risos que parecia estranhamente discordante naquele ambiente de suprema dignidade e madeira escura.
— Ao que parece, estão todos na sala de jantar - ela disse a Joseph enquanto seguia os sons através do corredor. 
A família havia terminado o desjejum, e Selena olhava um álbum de fotografias com Nicholas debruçado sobre seu ombro.
— Esta raquete de tênis é quase do seu tamanho - ele comentou, com um risinho.
— Selena estava com três anos, nesta foto - Marie informou.
— A mesma idade que eu tinha quando comecei aprender a jogar tênis. 
Todos ergueram os olhos quando Joseph e Demi entraram, e o sorriso de Patrick congelou.
 — Vocês passaram a manhã inteira juntos? 
— Meu pai e Courtney emboscaram Demi na praia e obrigaram-na a tomar o café conosco - Joseph explicou tranquilamente. 
Patrick relaxou, recuperando o bom humor.
— É melhor tomar cuidado com Paul, Demi. Ele é o típico ”mulherengo”. 
Marie nunca estava completamente bem-humorada, Demi reparou quando a senhora enviou um olhar zangado para Joseph.
— Você devia impor mais disciplina àquela menina, Joseph. Os modos dela são deploráveis. — Ela é muito sozinha, e acaba ficando entediada - Demi contradisse, com delicadeza. - É extremamente inteligente, não conhece ninguém por aqui e está sempre cercada de adultos. Sua única diversão é chocar e irritar as pessoas. As crianças fazem isso o tempo todo. - Desculpando-se por ter discordado dela de forma tão aberta, deu uma palmadinha em seu ombro e acrescentou: — Bom dia, Bisavó. 
A expressão zangada da velha senhora suavizou-se um pouco, transformando-se no habitual franzir de testa. 
— Bom dia - ela respondeu, ríspida. 
— Demi gosta muito de crianças - Joseph comentou, servindo-se do café que estava num bule de prata sobre o aparador. — Gostou até mesmo de Courtney.
— Eu não gosto de crianças - Edith lembrou-os bruscamente. — Você e eu temos isso em comum, se bem me recordo.
— É verdade - Joseph concordou. 
Aquele comentário estritamente pessoal fez com que o criado que esperava junto ao aparador saísse da sala pela porta lateral, e Demi decidiu ir atrás dele. 
— Preciso lavar as mãos - disse, dando a primeira desculpa que lhe veio à mente. — Sujei meus dedos com geleia, quando estava comendo. Com licença.
Nicholas levantou-se. 
— Preciso buscar uma coisa no meu carro - falou, mas ao sair da sala de jantar encaminhou-se para a sala seguinte, no outro lado do vestíbulo. Pegou uma revista na mesinha de centro e ficou folheando-a. 
— Estou falando sério, Joseph - Marie dizia num tom severo, na sala de jantar. — Não vivi noventa e cinco anos para ver a linhagem da minha família encerrar-se com Selena. 
— Não está se esquecendo de Demi? - Joseph indagou, numa tentativa simultânea de lembrá-la de que Demi fazia parte da família e evitar uma discussão sobre os inexistentes planos de casamento entre ele e Selena.
 — Sim, de fato me esqueci de Demi - ela admitiu, atenuando ligeiramente o tom de voz. — Mas suponho que não a conheço por tempo o bastante para incluí-la automaticamente em nossa família. Entretanto, você tem toda razão. 
Joseph pareceu bem satisfeito com tal resposta, mas o comentário seguinte de Patrick desencadeou nele uma reação de surpresa, seguida de um instantâneo fluxo de raiva. 
— Mesmo se Demi tiver filhos, ela jamais dará prosseguimento à linhagem da família - Patrick falou, brusco. — Esta é uma ideia despropositada. Ela não sabe nada sobre a família Lovato e já são trinta anos tarde demais para começarmos a ensiná-la. Os filhos dela irão refletir sua própria criação e seus próprios valores, e não os nossos.
— Ela poderia aprender - Selena intercedeu bravamente. 
— Não pedi sua opinião, Selena. Embora você até possa considerá-la como um membro integrante da nossa família, ninguém mais o fará. Nossos amigos não a conhecem, nunca ouviram falar dela e jamais aceitarão... 
—Tenho uma solução para o seu problema, Patrick - Joseph interrompeu, com uma leve ameaça na voz. — Quais são seus planos para hoje à noite? 
— Não fiz planos específicos para nenhuma noite, enquanto Demi e Nicholas estiverem aqui - ele respondeu, um tanto surpreso com o tom de voz de Joseph. — Mas presumi que Selena e você talvez quisessem sair com eles à noite, levá-los à cidade e fazer o que quer que os jovens gostam de fazer. 
— Ótimo. Desde que ninguém tem planos específicos para esta noite, você pode dar uma festa para apresentar Demi aos seus amigos e, é claro, certificar-se de que ela seja bem-aceita por todos. 
— Isso é impossível - Patrick resmungou, balançando a cabeça em negativa. 
— Isso é imperativo - Joseph retrucou friamente. - Quanto mais você adiar, mais comentários estarão fazendo sobre ela e sobre o motivo de você temer que as pessoas a conheçam. Não há dúvida de que meu pai já a mencionou aos seus amigos, e logo os comentários estarão se espalhando por aí como um incêndio descontrolado.
— Ora, seja sensato, Joseph! Ela vai ficar aqui por apenas duas semanas, e depois irá embora para sempre. Além disso, creio que passar pela provação de uma festa dessas seria estressante demais para ela. 
— Ela precisa aprender a viver sob pressão - Joseph comentou com um sarcasmo velado. 
— Pois eu acho que uma festa para Demi é uma ideia sensacional — Selena falou, encolhendo-se um pouco sob o olhar gelado do pai, mas recusando-se a ser intimidada.
— Selena - ele avisou, ameaçador -, — Sua atitude está começando a me aborrecer... 
— Você sempre se aborrece quando sabe que está errado, Patrick - Marie falou. - Acontece que eu concordo com Joseph e Selena. Devemos dar uma festa para apresentar Demi à sociedade, e quanto antes, melhor.
— Tudo bem - ele disse, atirando as mãos para o alto. Depois, descontou a raiva sobre Selena, apontando-lhe friamente os resultados negativos daquela oposição sem precedentes. — Você disse que queria passar o maior tempo possível em companhia de Demi, enquanto ela estiver aqui. Em vez disso, terá de desperdiçá-lo organizando uma festa da qual ela nem vai gostar, e enviando convites a pessoas que virão apenas por curiosidade, mas que jamais a aceitarão.
— Eles irão aceitá-la - Joseph intercedeu com frieza. — Se você quiser que ela seja aceita. Porem, se por acaso receia não ter a influência necessária para isso, então terei todo prazer de emprestar a minha influência a esta festa, já que conhecemos as mesmas pessoas. - Tendo lançado o desafio, suavizou a voz e voltou-se para Selena. — Você não precisa deixar de passar seu tempo com Demi, Selena. Vou pedir para a Sra. Snowden providenciar tudo para a festa e cuidar dos detalhes. 
Fez uma pequena pausa, pensativo, e juntou: 
— Selena, imagino que você tenha algum tipo de lista de convidados que possa me dar? - Ela assentiu, e ele falou — Ótimo. Então, tudo o que precisa fazer é comunicar aos empregados que preparem a casa para hoje à noite, e a Sra. Snowden cuidará de todo o resto.
 — Os criados ficam por minha conta - Marie anunciou.
— Demi e Selena podem passar o dia arrumando os cabelos, ou o que quer que as jovens de hoje façam para se enfeitar para uma festa especial.
Demi entrou na sala no instante em que Marie falava, e olhou confusa do sorriso de Selena para a expressão carrancuda de Patrick. 
— Vamos ter uma festa? - perguntou, quando todos pararam de falar e olharam para ela.
— Vamos dar uma festa para você, e será maravilhosa! Selena exclamou. — Joseph, muito obrigada por oferecer os préstimos da Sra. Snowden. Mas receio que ela terá de fazer os convites por telefone. 
— A sra. Snowden adora um desafio. 
 — Mas, sinceramente, não preciso de uma festa - Demi intercedeu, cautelosa. — Não quero dar trabalho a ninguém.
Patrick olhou para os outros três,
— Eu disse que ela se sentiria assim - afirmou, triunfante. Demi estava prestes a reforçar a opinião de Patrick, quando Joseph informou-a num tom arrogante.
— Esta decisão não cabe a você. A nossa vida em sociedade exige que sua família a apresente aos amigos, e uma festa é a melhor maneira de fazê-lo. 
Demi pressentiu as vibrações hostis entre os dois homens, e não pôde imaginar como uma simples festa teria provocado tudo aquilo. Considerou a ideia de ignorar a ordem de Joseph para que guardasse suas opiniões consigo mesma, mas Selena parecia tão feliz e excitada que Demi não conseguiu formular nenhum protesto, e Marie parecia tão determinada que ela soube que nem adiantaria protestar. 
— Neste caso - disse a Joseph, com um sorriso hesitante, — Gostaria que Courtney fosse convidada. - Quando ele assentiu, Demi decidiu retirar-se da discussão e da sala, e olhou para Selena. — Acho que vou subir e tomar um banho. 
Selena empurrou a cadeira para trás e levantou-se.
— Eu guardo as nossas relações de convidados e de cartões de Natal no computador. Vou imprimir uma lista de convidados agora mesmo - falou para Joseph. Para surpresa de Demi, Selena alcançou-a na soleira da porta e passou o braço sob o seu. — Isso vai ser tão divertido! Vamos sair para fazer umas comprinhas, depois iremos ao cabeleireiro, fazer uma massagem... Nicholas disse que precisa resolver algumas coisas, por isso não teremos de nos preocupar com ele. 
Demi estava tão abalada com a perspectiva de ser exibida como uma curiosidade diante de um bando de desconhecidos que a observariam, julgariam e fariam conjecturas a seu respeito, que deixou que Selena a guiasse através do vestíbulo na direção de uma sala à direita da escada, logo depois da sala de estar. Somente quando a irmã soltou-lhe o braço para abrir a porta, lembrou-se do banho e deu um passo para trás. Então, percebeu onde se encontrava e mudou de ideia. Escritório de Patrick. Era dali que Gary Dishler saía, de vez em quando. 
Uma escrivaninha de mogno entalhado ficava no lado oposto da sala, com um aparador e uma estante de livros em toda a extensão da parede. Selena foi direto para a escrivaninha, tirou uma chave da gaveta e destrancou a pequena porta de madeira sobre o aparador. Assim que ela abriu a porta, o olhar de Demi  deparou com o monitor de um computador, que ficava guardado na estante. A tela estava iluminada e o aparelho pronto para ser usado, e a mensagem piscando pedia que o usuário digitasse a senha.
Selena acomodou-se numa cadeira giratória de couro marrom atrás da escrivaninha, e virou-a para o computador. 
O coração Demi disparou, agitado, enquanto posicionava-se ao lado da irmã. 
— Eu uso a palavra ”FRANÇA” como minha senha - Selena informou, com toda inocência. Demi observou-a abrir um arquivo com o nome de ”Lista de Convidados de Palm Beach”, e depois clicar para a impressora. Selena abaixou-se e abriu outra porta da estante, à sua direita, revelando uma impressora a laser e a unidade central de processamento do computador. 
Demi espiou rapidamente o CPU, mas seu principal foco de interesse eram os ícones dispostos no monitor, que indicavam que programas e, possivelmente, que tipos de informações Patrick estava acessando no computador. Porem, antes que tivesse a chance de dar uma boa espiada, Selena tirou uma folha de papel da impressora e recostou na cadeira, bloqueando sua visão da tela. 
— Você acha que Patrick se importaria se eu usasse o computador, mais tarde? - Demi indagou, no tom mais casual que conseguiu. — Gostaria de checar meus e-mails e também enviar algumas mensagens.
— É tão engraçado ouvir você chamá-lo pelo primeiro nome - Selena confidenciou sorrindo. — E não, acho que ele não vai importar-se que você use o computador, a não ser que ele mesmo o esteja usando. 
— Ele o usa com frequência? - Demi perguntou, com crescente agitação. 
— Sim, mas nunca por muito tempo. Costuma acessar o banco, em San Francisco, e ver o que está acontecendo. É mais para isso que usa o computador, e também para outros assuntos de negócios.
Demi sabia que o ”banco” significava o Lovato Trust em San Francisco. 
— Que outros tipos de negócios ele tem, além do banco? 
— Não sei. Papai não gosta de conversar sobre isso. Diz que bisavó e eu acharíamos complicado demais. - Selena tirou as páginas restantes da impressora, fechou e trancou as portas, guardou novamente a chave na primeira gaveta no lado direito da escrivaninha e pegou um lápis em cima da mesa.
— Vou entregar isso aqui para Joseph. Já estou pronta para sair... - avisou. Quando saíram do escritório de Patrick, acrescentou toda contente: — Vamos nos divertir um bocado. Passaremos o dia inteiro nos preparando e ficando bem bonitas para o seu ”debut”. Separaram-se ao pé da escada e Demi subiu para seu quarto. Selena levou a lista de convidados para a sala de estar e sentou-se junto à mesa. Verificou os nomes, riscou alguns deles, e depois olhou para o pai e para a bisavó. 
— Quantas pessoas devemos convidar? Como estamos muito em cima da hora, é bem provável que metade das pessoas já tenham outros planos, por isso acho que devemos convidar pelo menos o dobro. 
— Convide o mínimo possível - Patrick disparou. — Não vamos exagerar. 
Joseph ignorou-o e voltou-se para Selena. 
— Escolha aquelas que você deseja convidar, e eu escolherei as demais. Nós conhecemos as mesmas pessoas.
Selena destacou vários nomes em cada uma das onze páginas, e depois entregou a lista a Joseph. 
- Vou instruir a Sra. Snowden para cuidar de tudo - ele prometeu, levantando-se. — Às sete horas está bom, para todos vocês? 
— Está ótimo - Marie respondeu. — O tempo está bem agradável, por isso creio que podemos fazer a festa no jardim.
— Verei o que pode ser feito - Joseph garantiu, virando-se para sair. 
— Faça-me o favor de não exagerar - Patrick repetiu. Os pensamentos de Marie voltaram-se inexoravelmente para a questão do dinheiro. 
— E também não precisamos de extravagâncias - disse.
— Sirva-lhes coquetéis e hors-d’oeuvre, e não um banquete. Dois dos nossos criados podem servir as bandejas e no bar, não precisamos contratar ajudantes para isso.
— Eu cuido disso - Joseph afirmou por sobre o ombro. 
— Vamos precisar de champanhe - Selena lembrou.
— Champanhe não, espumante nacional! - Marie estipulou. 

Joseph já estava a caminho do vestíbulo, quando Selena alcançou-o. 
— Joseph  - ela disse, preocupada, baixando um pouco a voz. — Talvez devêssemos esperar um pouco para dar esta festa.
 Ele cerrou os dentes.
— Por que está preocupada? Com os gastos? Com o fato de que os segredos escabrosos da família serão revelados? Ou é com a competição de Demi?
 Ela deu um passo para trás, como se ele a tivesse esbofeteado.
— Sobre o que está falando? 
— O que você está tentando dizer? - ele disparou de volta. 
— Eu... eu preferia esperar um pouco e planejar uma festa perfeita, em vez de reunirmos apressadamente um grupo de pessoas para uma ”festinha sem exageros” como papai e bisavó estão querendo. Nossas festas sempre foram ótimas e bem organizadas, e se a festa de Demi for menos que isso, as pessoas poderão pensar que ela não é assim tão importante para nós. Os melhores buffet precisam ser contratados com bastante antecedência, a fim de planejar os cardápios e contratar ajudantes, e não encontraremos nenhum disponível em tão pouco tempo. Depois, há o problema das flores, da música, cadeiras, mesas, toalhas... se já é difícil conseguir tudo isso em poucos dias, imagine em poucas horas. 
A expressão de Joseph suavizou-se no mesmo instante. 
— Desculpe se me zanguei, Selena. Entendi mal os seus motivos - disse, num tom gentil. — Mas devia ter percebido. Não se preocupe com mais nada, deixe todos os detalhes comigo. 

Courtney e o pai olharam para cima, quando Joseph entrou em casa
— O que aconteceu? - a menina perguntou ansiosa, reparando na expressão determinada do irmão e nos seus passos largos e rápidos. — Patrick vai dar uma festa para Demi - ele respondeu, sem se deter. - A Sra. Snowden está lá em cima? 
Courtney fez um muxoxo indelicado.
— E onde mais ela estaria? Ela segue você de cidade em cidade, de casa em casa, de hotel em hotel, sempre à sua inteira disposição vinte e quatro horas por dia... 
Aquilo era um exagero, mas Joseph não perdeu tempo em discutir. A irmã da Sra. Snowden morava numa cidade próxima a Palm Beach, e quando Joseph ia para lá, duas vezes por ano, a secretária sempre o acompanhava. Era um acordo que funcionava bem para ambos, pois mesmo estando de férias Joseph sempre tinha algum trabalho para ela e, em troca de trabalhar umas poucas horas por dia, a Sra. Snowden ganhava uma viagem com todas as despesas pagas para visitar a irmã.
— Bom dia - ela disse, virando-se do fichário quando Joseph entrou na biblioteca, que servia de escritório quando estava em Palm Beach. 
— Como vai sua irmã? - ele perguntou, automaticamente. 
— Bem, obrigada. 
Encerradas as amabilidades sociais, Joseph sentou atrás da escrivaninha e fez um sinal para que ela ocupasse a cadeira em frente. 
— Vamos dar uma festa - anunciou, empurrando-lhe um bloco e uma caneta sobre o tampo da mesa.
 — Pensei tê-lo ouvido dizer que Patrick Lovato ia dar uma festa - Courtney falou, pulando na cadeira ao lado da Sra. Snowden e apoiando a perna no braço. 
Joseph não lhe deu atenção, e a sra. Snowden pegou o bloco e a caneta.
 — Quando será a festa? - ela perguntou, com a caneta a postos. 
— Hoje à noite.
 A secretária chegou a uma conclusão óbvia:
— Um jantar íntimo? 
— Não, algo um pouco maior. 
— Maior... quanto?
Em vez de responder de imediato, Joseph examinou as páginas com os nomes e endereços dos amigos dos Lovato em Palm Beach. Pegou uma caneta e passou um traço sob os nomes das pessoas de quem ele particularmente não gostava, e daquelas que julgou que Demi não gostaria. Então, entregou as folhas para a secretária.
— Creio que umas cento e setenta e cinco pessoas, mais ou menos - respondeu. 
— Desde que estamos tão em cima da hora e o senhor deseja que seja um jantar, suponho que prefira fazer a festa em um de seus clubes? Apesar de que, sinceramente, não acredito que haja tempo suficiente para... 
— Quero que seja na casa de Patrick Lovato. No jardim, para ser mais específico. 
A sra. Snowden piscou várias vezes.
— O senhor quer dar uma festa esta noite, para cento e setenta e cinco pessoas, no jardim e com jantar? Isso significa que teremos de contratar um buffet e... 
Joseph descartou o problema com um gesto. 
— Você pode fazer o jantar em estilo americano, como da última vez que recebemos aqui em casa. Mas certifique-se de que haja um bom número de garçons para servir aperitivos e bebidas, ou mesmo para levar os pratos para os convidados que não queiram ficar na fila. Quero tudo de primeira. 
— É claro - ela disse, mas parecia abalada.
Providencie uma boa quantidade de champanhe, e que seja Dom Pérignon. Ah, e arrume também aquelas coisas de gelo, elas ficam bonitas nas mesas.
— Esculturas de gelo? - ela perguntou, com a voz fraca.
— Sim. E flores, é claro. 
— É claro - ela ecoou, baixinho. 
— Também vamos precisar de uma orquestra. Você conhece a rotina, já fez tudo isso dezenas de vezes. 
—  Sim, mas não em tão pouco tempo! - ela exclamou, parecendo prestes a chorar por ter de admitir que havia algo que não conseguiria fazer. — Sr. Jonas, eu não vou conseguir providenciar tudo isso num só dia! 
— E eu nem esperava que conseguisse - ele retrucou, impaciente. — Nós acabamos de comprar dois hotéis na cidade. Deixe tudo por conta deles. 
Agora que a Sra. Snowden visualizava uma forma de empreender uma tarefa que ainda seria hercúlea, tanto do ponto de vista de logística quanto de diplomacia, aceitou o desafio sem pestanejar. 
— Terei autoridade sobre os gerentes dos hotéis - declarou, radiante. 
— Evidente que sim - Joseph confirmou, ríspido. — E terá de fazer os convites por telefone. Diga a todos que está ligando em nome de Patrick e que a festa será dada por ele, a fim de apresentar a filha Demi.
 A secretária assentiu. 
— Vou precisar de ajuda. Temos duas secretárias em nosso escritório de San Francisco que são perfeitamente capazes de fazer um convite de última hora por telefone e cumprir a tarefa de maneira bem satisfatória. Posso enviar-lhes a lista por fax, mas elas terão de fazer ligações interurbanas. Tudo bem? 
— Está ótimo, assim. — Há mais um problema: é bem provável que os convidados imaginem que estejam sendo chamados na última hora apenas para preencher os lugares vagos, e que seus nomes não constavam da lista original. Neste caso, vão sentir-se ofendidos e certamente recusarão o convite. 
Joseph  pegou a correspondência que ela abrira e deixara sobre a caixa de couro em sua mesa. 
— Então diga-lhes que acabamos de descobrir que os convites originais não foram entregues. Ponha a culpa no correio, se quiser. Todo mundo faz isso. 
Courtney tirou a perna do braço da cadeira e levantou-se.
— Isso está parecendo mais uma destas festas ”chatas” de Palm Beach. Ainda bem que meu nome não está na lista. Eu não iria a uma festa assim, nem arrastada
Joseph ergueu os olhos da carta que estava lendo.
 — Demi pediu, especificamente, que você fosse convidada. Por favor, não me obrigue a arrastá-la até lá. 
Em vez de mostrar-se beligerante e birrenta, como Joseph esperava, Courtney ficou atônita. — Demi me convidou? Você deve estar brincando! 
— Não estou, não.
— Neste caso, acho que não tenho outra escolha - ela disse, num tom de mártir. — Isto é, se eu não for, ela se verá cercada de pessoas terrivelmente maçantes. - Já estava saindo, quando parou e virou-se. — Joseph?
— O quê? - ele perguntou, sem desviar a atenção da carta. 
— Por que está fazendo tudo isso por Demi? Por que Patrick, ou Marie e Selena, não estão organizando a festa? 
— Patrick está se comportando como um filho da mãe arrogante, e não se pode confiar em Marie para organizar uma festa, pois ela é miserável demais. Selena estava disposta a cuidar de tudo, mas ainda não consegue enfrentá-los e os dois acabariam fazendo tudo do jeito que querem. Se eles não organizarem uma festa decente e apresentarem Demi como se deve, ela nunca será capaz de andar de cabeça erguida por aqui. 
Alguns momentos depois, Joseph deu-se conta de que Courtney não havia saído do escritório. Ergueu os olhos, exasperado, e deparou com a menina recostada na porta, observando-o. 
— O que foi, agora? - perguntou, impaciente. 
— O que você acabou de me dizer explica porque eles não estão organizando a festa. Mas não explica porque você está.
Absurdamente irritado com tantas perguntas, Joseph encarou-a.
— Eu não sei por que - respondeu, rápido. — Mas suponho que esteja com pena dela, pois Patrick estava agindo como um maldito esnobe e tratando-a como se ela fosse uma parente pobre. 
Isso me deixou furioso.
— Ela é uma parente pobre - Courtney salientou simplesmente. — E você também é um esnobe. 
— Muito obrigado - ele disse, sarcástico. — Agora, será que já terminou ou ainda tem alguma dúvida obscura que queira esclarecer? 
— Na verdade, eu tenho, sim - Courtney respondeu. Uma vez assisti a um filme chamado The Carpetbaggers, em que havia um sujeito muito rico que era dono de um estúdio de cinema, e ele transformou uma prostituta numa estrela famosa. E você sabe por que ele fez isso? 
— Não, Courtney. Por quê? 
— Porque queria casar com ela mas, primeiro, tinha de torná-la importante, para que fosse digna dele. 
— O que diabos isso tem a ver comigo?  
Courtney encolheu os ombros.
— Nada, eu só fiquei pensando. 
— Se você está insinuando que eu pretendo me casar com Demi, ou que ligo a mínima para o que as pessoas pensam dela, então está duplamente enganada. Agora, saia daqui e deixe-me trabalhar.
Depois que ela saiu, Joseph teve de ler o primeiro parágrafo da carta duas vezes, então largou-a sobre a mesa e recostou-se na cadeira, com os olhos fixos no campo de flores azuis da tela impressionista pendurada na parede à sua frente.
Não sabia por que fizera tanta questão daquela festa para Demi, quando isso ia contra seus objetivos pessoais. Naquela noite, outros homens iriam conhecê-la e achá-la tão encantadora de se ver e tão fascinante de se ouvir quanto ele próprio achara. Iriam reconhecer as mesmas qualidades admiráveis da beleza inconsciente e da radiosa candura que tanto o intrigaram, e pressentiriam que havia muito mais nela, sob a superfície. Considerando-se que já se sentia ridiculamente possessivo em relação a ela, a festa seria um tormento.
Não sabia por que irritara-se com Patrick, nem por que se elegera como o defensor particular de Demi, exceto pelo fato de que havia nela algo tão franco e inocente, uma bondade e um orgulho delicado, que ele sentia um inexplicável anseio de protegê-la até mesmo do pai dela.   

Ai gente, o Joseph já está começando a gostar dela...amei esse capítulo. Espero que tenham gostado também até o próximo, bjs!!!

2 comentários:

  1. Adorei o Joe enfrentando o pai dela!!! Essa festa promete!!! Super fã da irmã do Joe !!! Continua....

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vai prometer mesmo, prepara-se!!! Já postei lindona, bjs <3

      Excluir