14/05/2016

sussurros na noite: capítulo 24


Palm Beach
10:30 A.M

Em vez de retornar a ligação de Joseph, Demi foi vê-lo pessoalmente. Tinha de lhe dizer uma coisa, e não queria fazê-lo pelo telefone.
Courtney estava frequentando uma escola particular em Palm Beach, e foi Paul quem a recebeu na porta, deu-lhe um abraço confortador e disse-lhe o quanto sentia pela morte de Marie.
— Joseph está lá em cima, no escritório, e vai ficar muito contente em vê-la. - Num tom de confidência, acrescentou: 
— Pode interpretar minhas palavras como significando que ele parece um urso enjaulado, porque não conseguiu falar com você e nem saber como você estava.
Demi subiu as escadas e acenou para a Sra. Snowden, que ocupava uma sala menor ao lado da biblioteca. 
Joseph estava no telefone, no meio do que parecia uma importante conversa de negócios, quando olhou para cima e viu Demi parada na porta.
— Ligo para você mais tarde - disse e, sem a menor cerimônia, desligou na cara do seu interlocutor. Fez a volta pela mesa e envolveu Demi num abraço apertado. — Eu estava louco de preocupação por você. Como está suportando tudo, minha querida?
— Tudo bem - ela murmurou, o rosto pressionado contra a reconfortante firmeza do seu peito. 
Ele a chamara de ”querida”, e a doçura da palavra, combinada com a ternura em sua voz, deixou-a emocionada a ponto de ter de lutar contra as lágrimas.  
— Os policiais encontraram alguma coisa importante? 
— É mais importante o que eles não encontraram - Demi respondeu enquanto, com alguma relutância, erguia o rosto para encará-lo.
Joseph imediatamente notou sua palidez e a expressão assombrada nos olhos cor de azul. 
— Conte-me tudo enquanto descemos. Vou pedir a Claudine que nos prepare alguma coisa para comer. Você parece um fantasma. Gostaria que tivesse vindo para cá, ontem à noite, para que pudéssemos cuidar de você. 
A ideia de ser cuidada e protegida por alguém que fosse realmente mais capaz disso do que ela era nova para Demi e, no estado emocional em que se encontrava, quase tão pungente quanto ser chamada de ”querida”.
Joseph enlaçou-lhe a cintura e guiou-a na direção das escadas. 
— Preciso lhe dizer uma coisa, e gostaria que ficássemos a sós, sem a presença de Paul - ela pediu.
Joseph assentiu e levou-a para a sala, um comodo espetacular com o teto alto, piso de mármore branco e enormes janelas que davam para o gramado da frente, onde uma fonte espargia um jato de água sobre um peixe de bronze em tamanho natural. A casa de Joseph era arejada, iluminada e, na opinião de Demi, muito mais bonita que a de Patrick.
— Pouca coisa foi roubada ontem à noite - ela começou, quando Joseph sentou-se ao seu lado no sofá. 
No entanto, era evidente que a prioridade dele, no momento, seria cuidar dela. Antes que Demi continuasse a falar, ele pegou o telefone e pressionou a tecla do interfone. Pediu a Claudine que lhes servisse um lanche na sala, e voltou-se para ela, dando-lhe sua total atenção. 
— Ninguém invadiu a casa - ela recomeçou. — Alguém queria simular um arrombamento, mas a maior parte dos cacos de vidro estava do lado de fora, o que significa que a janela foi quebrada por dentro. A única coisa que está faltando, até agora, é o anel que Marie usava, mas o outro anel e o broche não foram tirados. O motivo não foi roubo, Joseph. Foi um assassinato.
Ele arqueou levemente a sobrancelha, como se tentasse imaginar por que alguém iria querer matar Marie.
— Tem certeza? 
— Estou tão certa quanto qualquer um poderia estar, sem a confissão da pessoa que fez isso. — Mas é quase inacreditável. Marie raramente saía, nem teria como fazer inimigos. Quem poderia querer matá-la? 
Demi respirou fundo e fitou-o direto nos olhos. 
— Acho que a polícia vai me colocar no topo da lista de suspeitos. 
— Você? - ele disse, rindo. — Você? - repetiu. — Por que, em nome de Deus, alguém poderia pensar que você iria querer matá-la, ou que seja capaz de cometer qualquer ato de violência? Demi era perfeitamente capaz de lidar com a violência, mas isso era algo que não podia dizer. Portanto, limitou-se a explicar por que a polícia suspeitaria dela. Joseph ouviu em silêncio, seu divertimento anterior desaparecendo aos poucos, conforme ela falava. Com um certo alívio, Demi percebeu que ele não era ingênuo no que se referia às manobras legais, e nem tampouco tentou convencê-la de que ela não tinha com que se preocupar só porque era inocente. Na verdade, ele fez uma coisa que a surpreendeu. 
Assim que ela acabou de falar, Joseph pegou novamente o interfone e ligou para a Sra. Snowden.
— Encontre Robbins onde quer que ele esteja, e depois ligue para Kirsh. Ele está aqui na cidade, no Hotel Windsor. 
Desligou e, em resposta ao olhar de indagação de Demi, explicou:
— Robbins é o meu encarregado da segurança, e Kirsh é um dos melhores advogados criminalistas da Flórida. Ele está hospedado no meu hotel. 
Demi arregalou os olhos. 
— Kenneth Kirsh?
— O próprio - Joseph confirmou, com um sorriso tranquilizador. 
A Sra. Snowden completou a ligação para Kirsh em menos de um minuto, e Joseph pegou o telefone.
— Ken, preciso que venha aqui imediatamente.
Mal havia desligado quando a Sra. Snowden chamou-o outra vez pelo interfone, dizendo que Robbins estava na linha. Joseph pegou o telefone. 
— Onde você está? - perguntou. Depois de uma pausa, juntou: — Ótimo, poderá chegar aqui em duas horas. - Ouviu por alguns segundos. — Não faz mal, isso é mais importante.
Kenneth Kirsh era um pouco mais baixo do que parecia quando Demi o via nos noticiários em rede nacional, falando sobre o último criminoso que ele ajudara a escapar da punição. Para todos os policiais, de todas as partes do país, ele era um verdadeiro flagelo. Para Demi, naquele momento, ele parecia terrivelmente bom. 
O advogado ouviu com atenção quando Demi contou-lhe tudo o que sabia e seus motivos para temer o que poderia acontecer depois. Não descartou a possibilidade de Demi ser considerada a principal suspeita mas, como Nicholas, achou animador o fato de que ela não teria nenhum benefício financeiro com a morte de Marie Lovato.
— Suponho que você nunca tenha sido acusada de nenhum crime violento, em seu passado? - ele indagou em tom de brincadeira, e quando Demi respondeu que não, ele sorriu e entregou-lhe seu cartão. — Ligue para mim neste número, se for intimada a depor. - Estendeu o braço e despediu-se de Joseph com um aperto de mão. — Obrigado por me chamar, estou lisonjeado - disse. 
Demi ainda estava digerindo o fato de que o arrogante Kenneth Kirsh sentia-se lisonjeado com a oportunidade de interromper suas férias e sair em disparada para a casa de Joseph, quando olhou no relógio.
— Preciso voltar para casa - disse. — Não quero deixar Selena sozinha por muito tempo. Patrick está acertando os detalhes do funeral, mas Selena está cuidando de todo o resto, e parece prestes a desabar.
— Quero dar mais dois telefonemas para me certificar de que estejamos preparados para qualquer eventualidade, por isso vou deixar que você volte para casa sozinha, desta vez - Joseph falou, tomando-a nos braços para beijá-la. 
— Acho que isso eu consigo fazer - ela tentou brincar.
 — Sim, mas eu não gosto - ele retrucou, com um sorriso sombrio. — Gosto de acompanhá-la até em casa. Gostaria de ter tido a chance de carregar seus livros, e de lhe passar bilhetinhos durante a aula. 
Demi fitou-o, confusa, e ele tornou a beijá-la antes de explicar num tom quente e carinhoso:
— Você me faz sentir como um adolescente apaixonado pela primeira vez.
Apaixonado? Demi perscrutou o rosto bronzeado, reparando na ternura contida em seus olhos, no sorriso brincando em seus lábios firmes, e soube que ele era sincero. O sorriso alargou-se enquanto ela o olhava, e Demi soube que ele estava lhe dizendo que era sincero.   

— Deve ser uma emergência e tanto, para você ter-me tirado do serviço em Atlanta - Jack Robbins falou enquanto fechava a porta do escritório de Joseph, duas horas depois. — O que aconteceu? 
Joseph ergueu os olhos para o homem atarracado e vigoroso que era o encarregado da segurança de todos os empreendimentos de Joseph ao redor do mundo. Como muitos dos homens que cuidam da segurança de clientes importantes, Robbins era um ex-agente do FBI. Aos cinquenta anos, era a imagem de um empresário cordial, sereno e em excelente forma física. Mas, sob esta imagem, era um homem duro, obstinado e incansável. Joseph o considerava um de seus maiores trunfos nos negócios. E era também o único empregado que Joseph permitia ser seu amigo
— Ainda não tenho certeza do que aconteceu - Joseph respondeu, recostando na cadeira. — Provavelmente não é nada, mas quero me certificar de que continue sendo ”nada”. Você soube que Marie Lovato foi assassinada ontem à noite?
— Está em todos os noticiários, mas pelo que ouvi dizer foi um assalto seguido de morte. 
— Não creio que tenha sido isso. - Joseph lhe contou quem era Demi, e depois fez um relato das informações que ela lhe passara. Quando terminou, disse: — A polícia vai querer atribuir a culpa a alguém que teve acesso à casa, ou que esteve por perto na hora do crime.
Robbins franziu a testa, confuso.
— Você não está pensando seriamente que pode ser considerado suspeito?
— Não daria a mínima, se este fosse o caso. 
— Então, o que eu estou fazendo aqui? 
— Não quero que Demi seja considerada suspeita.  
Robbins observou seu patrão por um longo momento, e começou a sorrir. 
— Ah, então é isso que está acontecendo, não é? 
Esperava que Joseph negasse, ou ignorasse seu comentário. 
Mas, ao contrário, ele assentiu. 
— Sim, é isso.
O sorriso de Robbins alargou-se e ele comentou, em voz baixa: 
— Você está ”ferrado”, meu amigo...
— Provavelmente. Mas antes que eu me ”ferre” de uma vez, quero me certificar de que a polícia descubra quem é o verdadeiro assassino, em vez de contentar-se com Demi só porque ela é nova no cenário. Palm Beach não tem exatamente um alto índice de homicídios, e os policiais daqui não estão acostumados a investigá-los.
— Se Demi Lovato for uma herdeira, será a escolha mais lógica, não importa se a polícia tenha ou não experiência. 
— Então vamos ajudá-los a encontrar uma escolha ainda melhor. - Joseph entregou-lhe por cima da mesa uma lista que Demi fizera, e Robbins pegou-a. — Estes são os nomes das pessoas que estavam na casa durante o dia e a noite de ontem. Uma delas matou Marie, ou então permitiu que o assassino entrasse na casa. Use suas conexões, faça uma pesquisa no banco de dados. Se você escavar bem fundo, a sujeira acabará aparecendo. O meu medo é que a polícia local decida que Demi é a assassina e pare de escavar. Quero que você continue procurando até encontrar a sujeira, e quero que seja rápido. 
Tendo concluído, Joseph esperou que Jack levantasse e pusesse mãos à obra.
— Alguma pergunta? - acrescentou.
— Sim, uma - o amigo disse, com um leve sorriso. — Por acaso você tem uma foto desta garota? 
Joseph interpretou mal o motivo de tal pergunta. 
— Você não precisa investigar Demi - disse, impaciente — Quero que investigue os outros. Demi seria incapaz de fazer mal a uma mosca. Tem medo de armas até quando estão bem trancadas num armário.
 — Não estou querendo investigá-la. Só queria dar uma olhada na mulher que finalmente o apanhou. 
— Jack, dê o fora daqui e comece a trabalhar. Não quero ver o nome de Demi nem mesmo associado a um possível suspeito, na imprensa. - Apesar de tal afirmação, Joseph sentiu um súbito impulso de exibir a mulher que amava, e abriu a gaveta da escrivaninha. — Por outro lado - disse, enquanto Robbins se levantava. — Não quero que sua curiosidade sobre a aparência de Demi atrapalhe seu trabalho. 
Entregou a Robbins o jornal onde fora publicada uma reportagem sobre a festa de Demi. No alto da página havia uma foto que dava uma visão geral da festa, com Demi e o pai em primeiro plano. 
— Morena, é? - Jack brincou. - Pensei que você gostasse das loiras.
— Gosto desta morena. 
— De onde ela veio?
— De Bell Harbor. É uma decoradora de interiores.
— Quem quer que tenha ”decorado” o exterior dela fez um excelente trabalho - Jack comentou com admiração. Vejo que o senador Meade concedeu a graça de sua presença política na festa. 
— É claro. Ele e Patrick consideram-se eternamente úteis um ao outro - Joseph acrescentou, mas Jack não estava ouvindo. Deslizou o jornal pela escrivaninha na direção de Joseph, e apontou para um casal que aparecia dançando num canto da foto.
— Esta é Selena, irmã de Demi - Joseph explicou.
— Eu conheço Selena. Quero saber quem é o sujeito com quem ela está dançando.
— Um amigo de Demi. Ele acompanhou-a nesta viagem para lhe dar apoio moral quando ela encontrasse a família pela primeira vez. Está no ramo de seguros.
— Qual é o nome dele?
— Nicholas Parker. Por quê? 
— Não sei. Ele me parece... conhecido.
— Talvez já tenha lhe vendido uma apólice de seguro. Você pode investigá-lo junto com os outros da lista.
— É o que farei. 
— A Sra. Snowden vai acompanhá-lo até seu quarto. Precisa de um computador?
— Não. - Jack mostrou a maleta, que continha seu laptop. — Eu nunca saio de casa sem ele. 

O que acharam do capítulo? Comentem lindonas, bjs <3

2 comentários:

  1. Adorei o Joseph defendendo ela, amo os momentos fofos Jemi... curiosa pra saber a reação dele quando descobrir que ela é uma policial... continua... posta mais de 1 capítulo hoje por favor!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Já está perto dele descobrir e não será nada bom.
      Lindona, eu estou terminando ainda o outro capítulo...então não poderei postar dois capítulo hoje, mas se eu tiver com alguns adiantados no decorrer da semana, talvez eu poste dois capítulos durante a semana tá bom?
      Já postei o novo capítulo, bjs <3

      Excluir