04/05/2016

sussurros na noite: capítulo 17


Casa dos lovatos
Palm Beach, 10:30 A.M

— Foi dormir tarde? - Selena perguntou alegremente enquanto sentava-se na beirada da cama de Demi, já toda vestida e pronta para sair. 
Demi girou de costas na cama. 
— Muito tarde - respondeu com um sorriso sonolento, pensando em Joseph. — Que horas são?
— Dez e meia. 
— Já?
Selena assentiu.
— Foi muita sorte eu ter-me lembrado de avisar Dishler para não ligar o sistema de segurança, quando ele foi dormir. Do contrário, você teria acionado o alarme ao passar pelos raios infravermelhos, quando entrou no jardim vindo da praia.
Demi arregalou os olhos. Nem lhe ocorrera a ideia de que poderia acionar o sistema de segurança da casa, na noite anterior. Na verdade, nem sequer pensara em como faria para entrar na casa, até que deu a volta pelos fundos e encontrou a porta destrancada. Bem podia imaginar como Partrick ficaria encantado, se as sirenes do alarme tivessem disparado, as luzes se acendido, e ele descobrisse que ela estivera até aquela hora com Joseph. 
— Ainda hoje vou lhe providenciar uma chave de casa e um dispositivo para abrir os portões. Existe um painel perto dos portões e você pode desligar o sistema de alarme ali mesmo, apenas digitando o código de segurança. Se não fizer isso, vai acionar o alarme quando o carro passar pelo primeiro conjunto de raios infravermelhos. Estes cercam todos os lados da propriedade, portanto não há como passar por eles sem acioná-los. 
Selena lhe disse qual era o código do sistema e Demi assentiu, mas não queria que a irmã pensasse que ela costumava comportar-se da maneira como fizera na noite anterior, e nem que pretendia continuar.
— Eu não pretendo fazer disso um... hábito - disse, constrangida, sentando-se na cama.
— É mesmo? - Selena brincou. — Bem, ”isso” já ligou esta manhã, querendo fazer planos para hoje à noite.
— Verdade? - Demi perguntou, incapaz de conter um sorriso de felicidade. 
— É, sim, e combinamos de sair para jantar, nós quatro - Selena falou, parecendo uma criança encantada com os planos. 
— O traje será formal, black-tie, mas o destino é desconhecido. O motorista de Joseph virá nos buscar logo antes de anoitecer. Isso foi tudo o que ele me disse.
Demi encolheu os joelhos até o queixo e passou os braços em volta das pernas.
Selena fez que sim.
— Nicholas me faz rir, sinto-me à vontade com ele. Mas ele me falou uma coisa muito estranha, enquanto estávamos dançando. 
— O que foi? - Demi perguntou, adorando aquela conversa entre irmãs sobre os namorados. 
— Ele disse que eu o deixava intrigado porque tenho tantas facetas diferentes. Eu... não tenho certeza se isso foi um elogio.
— E o que mais poderia ser? - Demi falou, tão enfática e leal que as duas começaram a rir. Porem, o comentário seguinte de Selena fez com que o sorriso de Demi desaparecesse.
— O mais interessante, no entanto - Selena continuou. — É que acho que é Nicholas quem tem várias facetas diferentes. Você não acha? 
— Eu... não sei. 
— Pois tenho quase certeza disso. Costumo reparar nos pequenos detalhes das pessoas, que muitas vezes passam despercebidos para os outros. Papai sempre diz que sou capaz de identificar um impostor a metros de distância. 
— Com exceção de Henry - Demi salientou rapidamente, referindo-se ao desonesto ex-noivo da irmã. 
— É verdade - ela admitiu, com um sorriso irônico. E eu não queria insinuar que Nicholas é um impostor, de jeito nenhum. 
Mas Demi não estava completamente convencida de que Selena não pensava assim. Sem saber se mudava de assunto ou aprofundava-se naquele, decidiu-se, com certa relutância, pela segunda opção.
— O que você reparou em Nicholas, que lhe pareceu incomum? 
— Em primeiro lugar, os homens adoram falar sobre si mesmos, mas Nicholas não é assim. Pelo contrário, é muito bom em fazer perguntas e tão atencioso em ouvir as respostas, que a gente nem sequer percebe que falou o tempo todo, enquanto ele limitou-se a ouvir. Agora, se ele fosse tímido eu até compreenderia este comportamento, mas ele não é nada tímido. E há mais uma coisa que achei um tanto estranha... 
— O quê? - Demi perguntou, baixinho.
— Ele não se mostra nem um pouco intimidado na presença de ninguém, nem mesmo de papai, que geralmente intimida os homens mais jovens e menos... menos bem-sucedidos do que ele.
— Eu não me sinto intimidada por ele - Demi afirmou. 
— Eu sei, mas os homens avaliam-se de acordo com suas realizações e riquezas, e nós não fazemos isso. 
Selena era tão direta e perspicaz que Demi achava difícil compará-la com aquela irmã reticente que conhecera a princípio. 
— Outra coisa: Nicholas trabalha no ramo de seguros, e papai esteve queixando-se dos custos das apólices de seguro em grupo que teve de fazer para os funcionários do banco. No entanto, quando tentei dar uma chance a Nicholas de conversar com papai sobre este assunto, e talvez lhe vender um plano de seguro coletivo, ele não aproveitou a oportunidade.
— Pode ser que ele tenha achado que seria indelicado tentar vender seguros ao anfitrião. 
— Mas não teria sido, porque fui eu quem tocou no assunto, e não ele. 
—  Talvez Nicholas tenha ficado embaraçado por você ter feito a sugestão. 
— Não creio que Nicholas fique embaraçado com muita facilidade. - Demi fez um rápido lembrete mental para dizer a Nicholas que começasse a falar sobre si mesmo, e que começasse a vender seguros. Com Selena, falou com total sinceridade: 
— Eu não entendo muito bem os homens, por isso você está consultando a pessoa errada. Só posso dizer que Nicholas é um homem honesto, com quem se pode contar e, provavelmente, muito amoroso. 
Selena assentiu, circunspecta.
— Esta é a opinião que faço dele, também. - Levantou-se da cama sorrindo, com os pensamentos voltando-se para o dia que tinham pela frente. — É melhor sair desta cama e se arrumar. Pensei que podíamos dar uma volta para você conhecer a cidade, e depois fazer umas compras. Nicholas vai ficar por aqui, descansando. 
— Será que Nicholas tem um smoking para usar hoje à noite? - Demi perguntou, enquanto afastava as cobertas e saía da cama. 
— Eu já perguntei, mas ele disse que trouxe um smoking emprestado de um amigo, para o caso de precisar usá-lo aqui. 
Demi apressou-se em tomar um banho e vestiu-se rapidamente, a fim de ter tempo de ligar 
para a mãe antes de sair. Como acordara muito tarde, viu-se forçada a ligar para a loja, o que significava que seria difícil para Dianna conversar à vontade. Sentou na beirada da cama e tirou o cartão de crédito da bolsa.
Depois de concluir a chamada a cobrar pelo cartão, Demi preparou-se para um embate com a proprietária da loja, Lydia Collins, cujo estilo de gerenciamento parecia ter sido inspirado numa colônia penal. 
Embora Demi  raramente ligasse para a mãe no trabalho, Lydia sempre se comportava como se um telefonema particular fosse um motivo mais do que justo para despedir a sua melhor funcionária. 
— Lydia - Demi falou quando a dona da butique atendeu o telefone. — Aqui é Demi. Estou ligando de Palm Beach e...
A cortesia profissional de Lydia dissolveu-se em irritação.
— Sua mãe está ocupada com uma freguesa, Demi. 
 Dianna sempre estava ocupada com alguma freguesa, porque todas a adoravam e preferiam esperar para ser atendidas por ela. 
— Eu entendo, mas preciso falar com ela só um minutinho. 
— Ah, está bem! 
Lydia bateu o telefone no balcão com tanta força que Demi encolheu-se, mas no instante seguinte a voz calorosa e animada de Dianna fez com que ela sorrisse. 
— Querida, estou tão contente por você ter ligado! Como vão as coisas por aí?
Demi assegurou-lhe que o pai e a bisavó a estavam tratando muito bem, e que pareciam boas pessoas. Guardou as novidades sobre Selena para o final e, assim que tocou no nome da irmã, percebeu que a mãe ficou subitamente silenciosa. Então, contou-lhe tudo o que podia sobre Selena e finalizou:
— Você vai adorá-la, mamãe, e ela vai adorar você. Deseja ir para Bell Harbor o mais breve possível. - Aguardou um comentário da mãe, mas ela permaneceu em silêncio. — Mamãe, você está aí?
— Estou, sim - Dianna sussurrou com voz tremula, e só então Demi deu-se conta de que ela estava chorando.
O coração de Demi contraiu-se ao compreender como devia ter sido difícil para a mãe passar todos aqueles anos fingindo estar conformada com o fato de ter desistido de Selena. Agora, a simples possibilidade de um encontro com a filha a fazia chorar. Demi nem mesmo lembrava-se da última vez que a vira chorar, e sentiu lágrimas em seus olhos. 
— Ela é tão parecida com você, mamãe - disse, com voz suave. — E adora roupas, também... faz seus próprios desenhos. - Ao fundo, a voz estridente de Lydia chamou o nome de Dianna. — Acho melhor desligarmos, agora - disse. — Ligo novamente daqui a alguns dias. 
— Sim, por favor.
— Então, até lá.
— Espere... - Dianna falou, com urgência. — Você acha... acha que seria bom se eu mandasse um beijo para Selena? 
Demi piscou os olhos, afastando as lágrimas. 
— É claro que sim, mamãe. Vou dizer a ela.   
  

Marie estava sentada na poltrona preferida em seu quarto, usando outro severo vestido preto, só que agora com um enorme broche de rubis e brilhantes preso no corpete. Demi imaginou se ela teria alguma peça de roupa de cor clara, nem que fosse uma simples echarpe.
— Bisavó - Selena falou enquanto beijava a testa da velha senhora. — A senhora disse que queria ver Demi antes de sairmos. 
— Gostaria de falar com ela em particular, Selena, se você não se importa.
Selena ficou espantada, mas assentiu e saiu do quarto. Demi nem bem sentara na cadeira em frente à poltrona de Nicholas, e a mulher começou a falar, categórica: 
— O que você estava pensando, há pouco?  
Demi fitou-a com uma expressão culpada.
— Bem, estava pensando se a senhora usaria uma echarpe colorida, caso eu lhe comprasse. As sobrancelhas brancas arquearam-se.
— Você não aprova meu gosto para roupas?
— Não foi isso que eu quis dizer, de maneira alguma.
— Não acrescente a desonestidade à sua impertinência, menina. Eu entendi exatamente o que você quis dizer.
 Apanhada numa armadilha, Demi mordeu um sorriso.
— Minha mãe sempre diz que cores claras rejuvenescem, melhoram a aparência das pessoas. 
— Então você acha que minha aparência pode ser melhorada, é isso? 
— Não exatamente. É que a senhora tem estes lindos olhos azuis, e pensei que uma echarpe azul iria...
— Agora está querendo me bajular. Todos os seus defeitos estão vindo à tona, hoje - a senhora interrompeu, mas exibia um leve sorriso. — No entanto, parece que nossos pensamentos estão seguindo para um mesmo rumo. - Olhou para o teto, como se isso indicasse o rumo ao qual se referia. 
Demi acompanhou seu olhar, depois encarou-a, confusa. 
— Que rumo? 
— Para cima. Presumo que, quando eu partir, estarei seguindo para cima e não para baixo. Concorda? 
Ela estava falando sobre a morte, Demi percebeu, e seu sorriso sumiu.
— Prefiro não pensar nisso. 
Diante de tal resposta, Marie tornou-se ríspida e direta.
— A morte é um fato da vida. Tenho noventa e cinco anos e, portanto, estou encarando este fato firmemente. Mas esta não é a questão. Serei absolutamente sincera com você, e espero que não haja nenhum tipo de explosão sentimental...
Desde que ela era sempre absolutamente sincera, sem nunca enviar um aviso prévio, Demi preparou-se para ouvir alguma coisa extremamente desagradável. 
Em vez de falar, Marie pegou uma caixa de veludo azul escuro que estava sobre a mesa ao seu lado e passou-a para as mãos de Demi. Depois, começou a mexer no fecho do broche que estava usando. A idade e a artrite dificultavam em muito seus movimentos, mas Demi sabia que era melhor não se oferecer para ajudá-la, por isso permaneceu num silêncio perplexo, segurando a caixa no colo. 
— Abra a caixa - Marie ordenou quando o fecho do broche finalmente se abriu. 
Demi abriu a tampa da caixa. Aninhados no estojo de veludo havia um deslumbrante colar de rubi e diamantes, além de um par de brincos e um bracelete que completavam o conjunto. Desde que Marie estava retirando o broche, Demi pensou que ela havia decidido guardá-lo e colocar outra peça de joia. 
— O que acha? 
— Bem, elas brilham um bocado, sem dúvida - Demi respondeu com firmeza, lembrando-se da própria sugestão para que a senhora usasse uma echarpe para realçar o brilho dos olhos. 
— Estas peças, juntamente com o broche, pertenceram à sua tataravó Hanover. Estão na minha família há mais tempo do que quaisquer outras jóias e, por este motivo, possuem um profundo significado para mim. Você é a pessoa que está na família há menos tempo, apesar de não ser por sua culpa, e embora eu normalmente não me entregue a sentimentalismos, ocorreu-me que estas jóias talvez possam significar uma espécie de ponte sobre o abismo do tempo, por assim dizer. Hoje usei este broche pela última vez, mas confesso que estou ansiosa por vê-lo em você... quando estiver usando algo mais apropriado do que estas calças compridas masculinas, é claro.
— Em mim? - Demi repetiu, surpresa. Então, lembrou-se do jantar formal que estava sendo planejado para aquela noite, e juntou: — É muita gentileza sua permitir que eu o use, mas... 
— Que garota mais tola! Não estou lhe emprestando estas jóias, estou dando-as como um presente. O rubi é sua pedra de nascimento. Quando eu me for, elas a farão lembrar-se de mim e dos ancestrais que você nunca teve a oportunidade de conhecer. 
Um choque súbito fez com que Demi se levantasse tão de repente que teve de segurar o estojo das jóias antes que caísse no chão. Agora entendia porque tudo aquilo fora precedido por uma conversa sobre a morte. 
— Espero que a senhora viva por muitos anos e tenha ainda muitas chances de usar estas jóias. Não preciso delas para lembrar-me da senhora depois que... que... 
— Eu morrer - Marie completou, abrupta. 
— Não quero pensar nisso agora, não quando acabei de conhecê-la. 
— Pois eu insisto para que você aceite as jóias agora mesmo. 
— Eu não quero! - Demi exclamou com firme teimosia, e deixou a caixa novamente sobre a mesa.
— De qualquer forma elas serão suas, algum dia.
— Não quero falar sobre ”algum dia”.
— Espero que não se mostre tão obstinada em relação ao meu testamento, porque decidi modificá-lo de forma que você receba a parte a que tem direito...
— Sim, eu vou mostrar-me igualmente obstinada! - Demi interrompeu e, para seu espanto, Marie Lovato começou a rir alto, um som áspero e rascante que era tão animador quanto desafinado. 
— Mas que criatura teimosa você é - Marie acusou, enxugando as lágrimas de riso com a pontinha do lenço.— Nem consigo lembrar-me da última vez que alguém achou que poderia me demover de alguma coisa, depois que minha decisão estava tomada. Até mesmo Patrick sabe que é inútil opor-se a mim quando assumo uma posição.
Demi não queria parecer rude ou ingrata, e suavizou o tom de voz. 
— Apenas não quero falar sobre sua morte, ou sobre qualquer coisa relacionada a isso. É... deprimente!
— Isso afeta-me da mesma maneira, e com frequência. - Marie resmungou, e Demi percebeu que ela estava fazendo uma piada.
 Abaixou-se e, impulsivamente, beijou a face enrugada de Marie. 
— Pois vou lhe comprar uma echarpe ”rejuvenescedora” para neutralizar os efeitos - prometeu, endireitando o corpo.
— Nada muito caro. - Marie avisou quando ela saía. 

E a Selena desconfiando do Nicholas? O que acharam do capítulo? Bjs e até o próximo!

4 comentários:

  1. amei o capítulo, espero que selena não fique com raiva do nick e da demi quando ela descobri a verdade... posta logo, amor

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    1. Espero que não também, estou escrevendo os outros capítulos lindona. Postarei o outro logo, bjs <3

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  2. Amando a fic!!! Acho que todos nós nos enganamos com a Selena, ela é mais esperta do que pensamos.... doida pra ver mais momentos fofos Jemi!!! Posta logooo!!!

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    1. Vai ter muito momentos fofos de Jemi, aguarde lindona! Bjs

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