05/03/2017

heartbeat: capítulo 32


Um desvio na estrada

Demi acordou quando os raios de sol que passavam pelas persianas bateram no seu rosto, o calor não tão bem-vindo, considerando que ela e Joseph foram dormir tarde da noite. Usando o peito dele como travesseiro, ouvia a respiração tranquila de Joseph, que a acalmava. Mas isso não durou muito. Os pensamentos de Demi entraram em ação, tão pouco agradáveis quanto o despertar precoce. Flashes do Natal anterior a atingiram, um dia passado no hospital ao lado da mãe moribunda, e praticamente arrancaram o ar de seus pulmões. Alex também entrou em sua mente, queimando-lhe o estômago.
Erguendo a cabeça, olhou para o lindo rosto de Joseph e sentiu-se muito mais do que grata a ele. Embora estivesse mais feliz do que poderia se lembrar, seu astral foi mudando à medida que um vazio se ancorava fundo nas entranhas. Não queria olhar para trás, mas os fantasmas do passado não permitiam que ela seguisse em frente. A dor que sentia pela mãe pairava como uma tempestade, trazendo uma nuvem escura de tristeza.
Tentando escapar do desespero que tomava conta dela, Demi levantou da cama. A saudade da mãe a seguia a cada passo silencioso no chão frio de madeira. Estremeceu ao pousar a mão na maçaneta, tomando cuidado para não acordar Joseph ao abrir e fechar a porta. Como não eram nem oito horas, a casa ainda não havia ganhado vida. A ausência de qualquer som ou movimento deixou Demi a sós com os seus pensamentos.
Com um suspiro, foi até a árvore de Natal. Os olhos pousaram sobre diversos enfeites que ela e Dallas tinham feito para a mãe na infância: renas de purpurina prata, vermelha e dourada realçando o nome de cada uma e anjos de papel colados sobre pregadores de roupa invadiram a sua memória. Demi correu as pontas dos dedos pelas lembranças do passado com os olhos marejados. Engoliu em seco, o corpo de súbito trêmulo, o coração instantaneamente apertado. Já estava sem a mãe havia mais de um ano? A mãe que lhe proporcionara amor e insanidade na mesma dose? A voz dela ressoava em seus ouvidos enquanto Demi tentava se recompor.
Demi não ouviu Joseph entrar, mas tampouco precisava. Sua presença tranquilizadora preencheu o ar. Ele a abraçou por trás enquanto ela enxugava uma lágrima errante que deslizava pelo rosto. Ainda fitando os enfeites, Demi balançou a cabeça e respirou fundo.
– Como eu faço para deixar que ela parta?
Joseph deu um beijo suave no topo de sua cabeça e, sem dizer uma palavra, tomou-lhe a mão e a conduziu de volta ao quarto. Confusa, observou-o colocar a mala em cima da cama. Depois de abrir o zíper e de sacar uma caixinha de veludo preto, ele se sentou, fazendo sinal para que Demi se aproximasse. Joseph olhou em seus olhos, cheio de carinho e preocupação. Mais uma vez, buscou sua mão e a colocou no próprio colo, encostada ao seu peito nu, afastando os cabelos dela do ombro.
– Você não a deixa partir, meu amor – sussurrou Joseph, prendendo um medalhão oval, de platina, cravejado de brilhantes, ao redor de seu pescoço. – Você a agarra com tudo o que tem. Você a carrega por todos os momentos de alegria que vai ter no seu lindo futuro. Por suas realizações. Quando vir os olhos de seus filhos pela primeira vez. Você almeja as estrelas pensando nela. Sua mãe vai estar lá, observando. Você a perdoa pelos erros que ela cometeu e, durante os maus momentos que precisar enfrentar, você se apega a qualquer palavra de sabedoria que ela tiver dito. Mas você nunca a deixa partir. Nunca. Ela não iria querer isso.
Ao abrir o medalhão, Demi perdeu o fôlego: era a foto da mãe adolescente. O sol brilhava sobre os cabelos escuros e o sorriso realçava o brilho afetuoso e despreocupado em seu olhar, próprio da juventude. Demi não pôde deixar de pensar que era a imagem mais feliz que já havia visto da mãe. Fungou e mais lágrimas rolaram. No entanto, aquelas estavam sendo provocadas por um homem que não podia sequer imaginar o espaço vazio de seu coração que por tantas vezes preenchera.
Virando-se, Demi se enganchou em sua cintura e o fitou com intensidade.
As emoções que emanavam deles a atordoaram. Estava estupefata pelo fato de ele ser dela.
– Meu Deus, você é de verdade? – sussurrou ela.
Joseph abriu um sorriso triste.
– Acho que sim.
– Você me dá a sensação de estar num sonho – confessou Demi, enlaçando- lhe o pescoço. – Como se eu fosse sonâmbula e nem soubesse. – absorvendo o homem sincero e altruísta à sua frente, Demi se perdeu no fato de que ele era real. – Eu consigo fechar os olhos e simplesmente... confiar em você. Você é a cor na minha tela vazia, a luz na minha escuridão, o ar nos meus pulmões e eu quase o deixei escapar. Quase apaguei o nosso relacionamento. Não posso imaginar ficar sem você. Por favor, me diga que você sabe quanto eu te amo, Joseph. Eu preciso ouvir agora. Por favor.
Joseph engoliu em seco, a cabeça girando. Ela o possuía: mente, corpo e alma. Palavras... Meu Deus, ele não tinha palavras suficientes para lhe dizer quanto Demi o amava. Sabia quanto ela se arriscara mudando toda a sua vida por ele. Palavras não eram adequadas para aquele momento. Beijou-a suavemente, da maneira que ela deveria ter sido beijada na primeira vez que um homem teve permissão de sentir o seu corpo. Joseph a beijou na esperança de conseguir banir todos os resquícios de tristeza que haviam ocupado qualquer mísero espaço em seu coração. Querendo eliminar cada momento doentio e lembrança deturpada que os olhos dela tivessem testemunhado, puxou-a para mais perto, tentando protegê-la dos demônios contra os quais Demi estava lutando.
Em meio ao silêncio, apenas se ouvia o som dos corações batendo. Demi se afastou lentamente e o peso em seu peito diminuiu, já não sufocante, já não estafante.
Joseph correu as mãos pelos cabelos ondulados dela, o sorriso tranquilo.
– Feliz primeiro Natal.
– Feliz primeiro Natal – sussurrou Demi, dando-lhe mais um beijo.
Depois de um momento, afastou-o. Pôs-se de pé com um salto, atravessou o quarto e vasculhou a mala. Sacando uma bolsa branca, ergueu uma sobrancelha marota.
– Agora é a minha vez de dar presentes, mas devo avisar que você precisa começar a usá-los hoje mesmo.
Joseph passou uma das mãos pelos cabelos desalinhados e se encostou na cabeceira, com um largo sorriso.
– Esses presentes, por acaso, incluiriam um conjunto em renda preta a ser usado por você, pilhas AA e as suas pernas shmexy tremendo descontroladamente ao redor da minha cabeça?
Com os olhos arregalados, Demi soltou uma gargalhada. Ele estava delicioso, à espera dela e sem camisa ainda por cima. Engoliu em seco, já ciente de quanto sua região entre as pernas latejava. Séria, engatinhou pela cama lentamente. Segurando a bolsa, desceu um pouco as calças de moletom dele. Encheu seu corpo de beijos. Suspirando de puro contentamento, passou os lábios outra vez pelo abdômen musculoso. Sentiu Joseph enrijecer o corpo, os músculos tensos. Ele enterrou as mãos nos cabelos de Demi, que deslizava a língua pelos contornos das asas da besta de aparência maligna. Apesar de toda a malevolência, era como algodão-doce.
Demi ergueu a vista encarando-o, e seu organismo entrou em choque diante daquela intensidade sexual. Ela sorriu.
– Então... você nunca me contou por que fez esta tatuagem em especial.
Joseph pestanejou, então bufou.
– Jura que vai me perguntar isso depois dessas lambidas ardentes?
– O quê? – Demi riu, enganchando-se em sua cintura, e franziu a testa. – Eu quero saber. 
Fitando os lábios dela, Joseph deu um sorriso cretino.
– Eu fiz essa tatuagem porque sabia que as mulheres nunca... nunca... nunca conseguiriam resistir ao desejo de lambê-lo.
Demi deu um tapinha brincalhão no braço dele.
– Seu filho da mãe. Está dizendo que não sou a primeira a lambê-lo, é? – com um movimento rápido, Joseph a agarrou e a atirou sobre as costas. Demi  arfou, o coração quase parando quando ele se colocou acima dela, roçando a boca de leve na sua. – Ai, meu Deus – sussurrou ela. – Eu estava certa: você é louco.
– E você está tentando me matar com as suas perguntas – replicou Joseph, mordiscando o lábio inferior dela, algo que ele adorava fazer. – Você não pode mais usar o verbo “lamber” na minha presença. Está entendido, Srta. Lovato?
A exigência dele a percorreu como uma carícia, mas Demi estava prestes a lhe desobedecer. Ergueu uma das sobrancelhas, a boca encrespada num sorriso divertido:
– Lamber... lamber... lamber... Homem das Cavernas.
Joseph arregalou os olhos mais ou menos no mesmo instante em que enfiou as mãos por baixo da camiseta dela. Demi soltou um gritinho agudo, se contorcendo para se livrar, e tirou a mão dele de cima do seio.
– Joseph! Não, eu quero que você abra os seus presentes.
– Feito – respondeu ele, com um gemido desesperado. – Estou convencido de que você está tentando me matar, de verdade. Achei que estava indo muito bem com o meu jogo. Onde foi que eu errei?
Demi deu uma risadinha.
– Você nunca poderia fazer nada de errado e eu juro que encontro uma forma de me redimir mais tarde.
Joseph balançou a cabeça e suspirou.
Depois de beijar sua bochecha, Demi saiu de debaixo de Joseph, que se sentou de pernas cruzadas. Ela ficou no colo dele e pegou a bolsa, que havia se perdido no emaranhado de cobertas. Sorrindo, retirou um pequeno envelope.
– Tome. Isto aqui você vai ter que usar pelo resto da vida.
Joseph olhou para o envelope, onde estava escrito com a letra de Demi: Corra atrás de seus sonhos enquanto há tempo.
Com um sorrisinho, Joseph retirou um pequeno cartão: Demi lhe havia comprado uma assinatura vitalícia da Architectural Digest. Deu-se conta, então, de que ela também se lembrava das coisas que ele lhe dizia. Abraçando-a, Joseph beijou-a de leve.
– Você seria feliz ao meu lado se eu fosse arquiteto?
– Eu seria feliz se recolher lixo dos acostamentos fosse o que fizesse você feliz.
– Seria?
Sabia que Demi não estava com ele por causa do dinheiro, mas a resposta o espantou. A maioria das mulheres que conhecera, senão todas, o teria mandado enfiar os sonhos no rabo se ele não estivesse ganhando os milhões na Jonas Industries. Embora uma carreira no ramo do saneamento público jamais fosse ser uma escolha sua, sentiu o coração se aquecer. Encontrara uma mulher que o aceitaria em qualquer circunstância.
– É claro que seria – garantiu Demi, enlaçando-lhe o pescoço. Um sorriso provocador se esboçou em seus lábios. – Você ficaria um tesão com o uniforme de gari.
– Ah, sempre com segundas intenções. – Joseph a beijou na testa. Ela sorriu e ele a encarou, sério. – Obrigado. Eu adorei.
– Não, eu é que agradeço – sussurrou ela, com os lábios encostados nos dele. Soltando um dos braços, tirou uma pequena caixa da bolsa. – Tenho mais presentes para você. Este meio que coincide com a assinatura, de uma forma meio esquisita.
Joseph sorriu e começou a desembrulhá-lo. Depois de se livrar do papel de presente vermelho, encontrou uma caixa preta com o nome Patek Philippe Calatrava gravado. Como conhecia relógios tão bem quanto carros, sabia que aquela era uma peça muito cara. Adornada em ouro, era impressionante, algo que Joseph facilmente podia se ver usando. Correu os dedos pela pulseira de couro preto macio, absorvendo o design suíço contemporâneo. Embora seu Breguet atual tivesse feito um estrago de 260 mil dólares na conta bancária, aquele Patek Philippe Calatrava devia ter custado a Demi mais de 25 mil.
Demi sorriu e lhe entregou um segundo cartão com os dizeres:
Não deixe que o tempo passe sem fazer o que você quer de verdade.
Foi então que compreendeu como os dois presentes se conectavam. Joseph tomou o rosto dela entre as mãos e a beijou com todo o carinho.
– Obrigado – sussurrou, acariciando-lhe os cabelos. Demi sorriu, mas Joseph não pôde deixar de se perguntar como ela fora capaz de pagar pelo relógio. – Você usou o dinheiro que eu coloquei na sua conta? – Joseph perscrutou o rosto de Demi. Gastar o dinheiro com ele era a última coisa que queria que ela fizesse. – Eu disse para não comprar nada para mim com ele.
Demi revirou os olhos.
– Você gostou?
– É claro que gostei. Eu adorei. Mas não quero que você gaste esse monte de dinheiro comigo, Demi.
Suspirando, ela revirou os olhos outra vez. Aproximando o rosto, ficou completamente séria.
– Joseph, em primeiro lugar, eu não usei o dinheiro que você me deu. Eu tenho dinheiro guardado e usei uma parte para comprar isso.
– Demi, apesar de você ganhar um extra como garçonete, sinceramente duvido que o salário de professora substituta permita que você gaste tanta grana num relógio.
Demi chegou o corpo para trás, erguendo a sobrancelha.
– Obrigada pelo elogio.
Joseph a puxou para mais perto, enfiando uma mecha de cabelo por trás da sua orelha.
– Não foi isso que eu quis dizer, meu anjo. Mas, poxa, eu tenho uma boa ideia de quanto isto custou. Se você não usou o que eu dei, como conseguiu comprar isto?
– O Alex...
Joseph se afastou, chocado.
– O quê?
– Vai me deixar terminar, Homem das Cavernas?
Joseph assentiu e respondeu devagar:
– Está bem, estou ouvindo.
– Obrigada. – Demi passou as mãos pelos cabelos dele, tentando acalmá-lo.
– O Alex pegou o dinheiro que eu recebi do seguro de vida da minha mãe e investiu em planos de previdência privada, fundos de investimento e vários CDBs. Depois que eu desmarquei o casamento, fui olhar as minhas finanças. Tirei o meu nome de vários cartões de crédito que tínhamos em conjunto, assim como as minhas contas do controle dele. Eu as transferi para um corretor indicado pelo Trevor. O Alex pelo menos sabe fazer uma conta bancária crescer. Ela praticamente triplicou no último ano. Fiz um pequeno empréstimo usando uma das contas como garantia e comprei o seu relógio. Então, como eu disse, usei o meu dinheiro. Não o que você me deu. Satisfeito?
– Satisfeito? – repetiu Joseph como um papagaio. – Estou satisfeito com o fato de a mulher que eu amo ter sido esperta o suficiente para arrancar o dinheiro do cretino do ex. – percorrendo as costas de Demi com as mãos, Joseph roçou os lábios por seu queixo. – Mas não fico satisfeito com o fato de ela ter gastado parte dele com o namorado atual, encantadoramente sexy, depois de um pedido para que ela não gastasse muito com ele.
Demi riu.
– Ah, agora, do nada, você ficou encantadoramente sexy?
– Pode ter certeza. – Joseph sorriu, piscando para ela. Depois de substituir o relógio que estava usando pelo que Demi lhe dera, a expressão de Joseph se suavizou. – É sério, Demi. Essa é a última vez que você faz alguma extravagância por mim, está bem? Tenho tudo de que preciso sentadinho bem aqui no meu colo.
Demi suspirou e tirou o último presente da sacola.
– Veremos. Agora, tome. Este é o que eu insisto que você comece a usar hoje.
Joseph a olhou com uma expressão de suspeita e tirou o laço vermelho do que parecia ser uma caixa contendo peças de roupa.
– Algo na sua expressão me diz que isto é algum tipo de “presente vingativo”.
– Meu doce, doce Sr. Jonas, você me conhece tão bem... – ronronou ela.
Balançando a cabeça, Joseph rasgou, muito lentamente, o papel de presente verde. Hesitou, encarando Demi. Percebeu sua impaciência e riu quando ela arrancou o resto do embrulho e tirou a tampa. Antes que ele pudesse ver o que havia dentro, Demi sacou uma peça de roupa amarelo-vivo. No entanto, manteve-a embolada no colo. Ah, e como ela ria! Gargalhava.
– O que é? – perguntou Joseph, incapaz de afastar o humor da voz.
Demi parou de rir, pigarreou e fez o possível para ficar séria.
– Eu espero mesmo que você goste. – ela piscava de modo teatral, colocando sobre o peito um blusão com capuz dos Los Angeles Lakers. – Eu sei que o Michael vai adorar ver você usando isso durante o jogo hoje.
Joseph balançou a cabeça.
– Não. Sem chance.
– Sim, com chance.
– Ah, não.
Demi fez uma careta.
– Ah, sim.
– Não. Eu te amo, mas não vou usar isso na frente do Michael. Além do mais, eu sou um nova-iorquino doente. Trouxe o meu suéter dos Knicks.
Demi franziu mais a testa. Ela já sabia como convencê-lo.
– Sabe, eu tive muitos motivos para escolher esse presente.
– Tenho certeza disso – disse Joseph, abraçando-a. – Minha humilhação é um deles.
Demi riu.
– Não, não foi comprado unicamente para a sua humilhação. Mas poderia ser, considerando que você me fez andar de um lado para outro vestindo aquele suéter horroroso dos Yankees.
– Os Yankees não têm nada de horrorosos – retrucou ele, sorrindo. – E lembre que isso aconteceu na privacidade do meu lar, sem que ninguém visse você.
– É, isso é verdade. Mas é só que... é que eu tenho um fraco por homens de amarelo. – Demi enlaçou-lhe o pescoço e se certificou de pressionar os quadris contra os dele. Ah, sim, ele estava ficando de pau duro. – Algo na cor me deixa toda... molhada.
Joseph mordeu o lábio, examinando o rosto de Demi.
– Você é tão mentirosa...
– Ah, não, Sr. Jonas, não sou, não. Depois que eu vir você usando isso, sofrendo um pouco, garanto uma boa recompensa pelo esforço.
Deslizando a mão pelas costas de Demi, Joseph embrenhou os dedos nos cabelos dela, puxando-os só um pouco. Com uma visão nítida do lindo pescoço a centímetros de sua boca, Joseph aproveitou o momento para se deliciar, arrastando os lábios pela clavícula dela enquanto puxava os cabelos com ainda mais força.
– Eu criei uma mulher que acha que me ganha com sexo.
Inebriada de prazer com as mordidas no ombro e os chupões no pescoço, Demi não sabia direito quem achava estar enganando. Ficara encurralada e não tinha a menor intenção de sair dali.
– Está funcionando? – a pergunta saiu em forma de gemido.
– É possível – respondeu ele, tirando lentamente a camiseta dela.
Atirou-a sobre a mesa e voltou a enfiar uma das mãos em seus cabelos macios. A outra tomou seu seio. Com os olhos cravados nela, lambeu o mamilo. Mais um gemido escapou da garganta de Demi e Joseph adorou saber que estava vencendo no jogo que ela inventara.
– Está disposta a ralar para me fazer usar essa roupa hoje, Srta. Lovato?
É. Ela estava mesmo encurralada. Perdera a batalha. Mas não completamente, pois até a manhã chegar ao fim, não só se sentiu rejuvenescida pelos múltiplos presentes do namorado como ansiosa por vê-lo vestir aquele amarelo horroroso pelo resto do dia. Brenda Lee mandava ver com “Rocking around the Christmas Tree”, que retumbava nas caixas de som da sala, onde Michael e Joseph se preparavam para assistir ao jogo de basquete. Demi riu quando Dallas começou a bater o quadril de encontro ao dela no ritmo da música enquanto as duas terminavam de enrolar o último bocadinho de massa de biscoito. Demi colocou a bolota de chocolate num tabuleiro e o enfiou no forno preaquecido.
– Lembra como a mamãe adorava essa música? – perguntou alegremente Dallas ao abrir a geladeira atrás de uma massa de torta que acabaria por conter um recheio caseiro de maçã. – Era tão divertido ficar olhando ela dançar pela casa! Ela adorava o Natal.
Diante da lembrança agridoce, Demi deu um sorriso discreto. Abriu a torneira e colocou as mãos debaixo da água quente.
– É, ela adorava mesmo o Natal.
Dallas colocou a massa de torta sobre a bancada, mais uma vez batendo o quadril de encontro ao de Demi no ritmo da música. Demi suspirou, curtindo o alto astral da irmã. Não que aquilo a espantasse. De certa maneira, Dallas havia substituído a mãe muito antes de ela falecer e sempre se certificara de que Demi estivesse recebendo a atenção adequada. Desde ajudá-la com os deveres de casa até lhe ensinar a se maquiar quando tinha idade suficiente, Dallas assumiu de bom grado o papel que caíra em seu colo depois que o pai se fora. E nunca se ressentira, jogando as responsabilidades na cara de Demi. Durante os longos dias e noites sem a mãe, quer fosse por ela trabalhar até tarde como barwoman para colocar comida na mesa ou por ela estar na rua com um dos namorados, Dallas dava estabilidade à vida de Demi. Dava-lhe calma. Uma inabalável sensação de paz.
Parada com um pano de prato nas mãos, Demi sentiu uma ligeira hostilidade com relação à mãe brotar em suas entranhas. Começou a se perguntar por que permitira que as palavras da mãe a prendessem a Alex. Era verdade que a mãe não vivera para ver aquilo no que ele se tornara. Dianna Lovato deixara o mundo achando que a filha mais nova fora conquistada por um verdadeiro príncipe encantado. Demi estava bastante certa de que, se a mãe tivesse testemunhado a transformação, teria lhe falado para se livrar dele. Ainda assim, Dallas era a figura materna em sua vida e, no decorrer de longas conversas, sempre dissera que, se ele não a estivesse tratando bem, Demi devia cair fora.
Os sinais tinham estado presentes. Bandeiras haviam sido tremuladas de todas as direções pela maioria das pessoas que a cercavam. No entanto, ela as ignorara. Depois que Demi deixara Alex, nas sessões de terapia, ela descobrira que devia ter se apoiado nele após a morte da mãe por ser parte de uma coisa que já não existia. Por ter sido testemunha de uma alma que nenhum outro homem em sua vida jamais conheceria. De certa forma, apegar-se a ele era apegar-se à mãe. Era apegar-se ao seu passado. Embora tivesse fragmentos de tristeza, esse passado lhe era familiar, compreensível. Era frio, porém a aquecia; escuro, mas repleto de uma luz brilhante que ela nunca voltaria a ver. Era algo que se fora... para sempre.
Enquanto Demi secava as mãos, as palavras pronunciadas por Joseph naquela manhã penetraram seus pensamentos. Ela não só precisava perdoar a mãe pelos erros que havia cometido como precisava perdoar a si mesma. E foi exatamente o que fez na cozinha da irmã naquele fim de tarde de Natal. Mesmo sabendo que nem começaria a entender o jeito da mãe ou o modo como havia seguido seus passos, Demi se livrou do último fragmento de negatividade direcionado a si mesma e à mãe.
– Ei, perdi você por alguns instantes. – com uma voz suave, Dallas chamou Demi de volta ao presente. Colocando a mão no rosto da irmã, deu um sorriso débil. – Você está bem?
Sem responder, Demi puxou Dallas para um abraço. Como se pressentindo o que a irmã estava passando, Dallas apertou-a com força. Como sempre, o gesto reconfortante encheu Demi de amor.
– Xi, interrompemos um momento entre irmãs. – Michael riu ao entrar na cozinha com Joseph. – Somos dois babacas, cara.
Olhando para a sua joia, Joseph sorriu e se encostou no arco da entrada. Observou Demi se afastar da irmã e o amor pegou-o de jeito quando seus olhares se cruzaram. Mesmo de calça e casaco de moletom, era tão absurdamente linda que lhe tirava o fôlego. Com um sorriso no rosto que o preenchia por completo, ela foi até ele. Um calor se irradiou pelo corpo de Joseph quando Demi o enlaçou pelo pescoço, os cabelos castanhos macios descendo-lhe pelas costas. Por seu olhar, podia ver que ela estava genuinamente feliz.
– Eu já disse que você fica maravilindo de amarelo?
Demi riu, aninhando-se contra o peito dele.
Michael riu, roubando uma azeitona de uma travessa de frios.
– Claro, claro. Está parecendo o Garibaldo doidão de crack.
Dallas lhe deu um tapinha no braço e tirou os biscoitos do forno.
– Isso doeu, amor – Michael fingiu sentir dor e esfregou o braço.
Joseph balançou a cabeça.
– Talvez você tenha razão, Michael, mas se você tivesse recebido os... presentes que eu recebi como recompensa por usar isto aqui talvez você se visse doidão de crack desfilando com um moletom dos Knicks.
Demi corou e riu.
– Sem chance, amigão – replicou Michael, atirando a azeitona dentro da boca. – Não importa o que a minha cunhada tenha lhe dado, considerando que esse seu corpinho esquisitão parece ter se exposto a uma tempestade solar, acho que você precisa segurar o seu último presente e dá-lo para mim. Caramba, eu viro sua namorada e uso um moletom dos Knicks. Mim amar você faz muito tempo, Joseph.
– Michael! – exclamou Dallas, arfante, dando outro tapa no braço dele.
Michael riu e Demi olhou para Joseph com expressão confusa.
– Último presente? Achei que a gente tivesse terminado a troca.
– Ah. Isso foi o que eu fiz você acreditar, meu doce. Para ser bastante sincero, eu sou cheio de surpresas que vão mantê-la... constantemente pirada – ele a puxou para mais perto, os lábios roçando sua orelha. – E eu não estou só falando de quando essas pernas lindas e trêmulas estão enroscadas ao redor da minha cabeça enquanto você geme o meu nome.
Alarmada, Demi olhou por cima do ombro para Michael e para Dallas. Por sorte, não estavam prestando atenção. Puxou Joseph para um beijo de parar o coração e, então, sussurrou em seu ouvido:
– Obrigada por fazer as minhas pernas tremerem como você costuma fazer.
Joseph sorriu, os olhos cheios de considerável apreciação masculina.
– O prazer é sempre meu. – Demi sorriu e Joseph olhou para Michael. – Ei, perdedor do Lakers.
Michael se virou, parando de dar atenção à profusão de comida empilhada sobre a bancada.
– O que foi, Sr. ninguém dos Knicks que não tem uma mísera chance nem em sonho?
Joseph jogou a cabeça para trás e riu.
– Diga o que quiser.
– É. Vamos ver. – Michael pegou uma cerveja da geladeira. – Posso ajudar com alguma coisa?
– É que eu esqueci de pegar, ahn... – Joseph olhou para Demi e voltou a encarar Michael – sabe, aquelas coisas com você ontem à noite...
Encostado na bancada, o cunhado tomou um longo gole da cerveja e deu de ombros.
– Não sei do que você está falando.
Pela terceira vez em menos de cinco minutos, Dallas lhe deu um tapa no braço.
– Michael, você sabe o que ele está pedindo. Deixe de ser cretino.
– Pô, amor, é Natal.
Dallas revirou os olhos. Michael bufou e enfiou a mão no bolso. Joseph virou Demi e passou os braços ao redor da sua cintura. Caminhando atrás dela, conduziu-a até Michael e arrancou um objeto da mão dele que Demi não pôde ver.
– O que vocês estão aprontando?
Demi olhou para a irmã, cujo rosto parecia prestes a se rasgar de tanta alegria.
– Ela está de tênis? – perguntou Dallas, batendo palmas com entusiasmo enquanto Demi e Joseph entravam numa salinha nos fundos da casa.
– Não – respondeu Joseph. – Que tamanho você calça, Dallas?
– Trinta e cinco.
– Senta – ordenou Joseph, apontando para um banco ao mesmo tempo que soltava a cintura de Demi.
Curiosa, Demi obedeceu.
– Por acaso eu sou um cachorro?
– Hum, aposto que, se fosse, teria um latido sexy.
Joseph se ajoelhou e avaliou uma fileira de sapatos que se encontravam debaixo do banco. Pegou o que parecia ser um Nike feminino de corrida, número 35, e calçou-o em Demi, amarrando o cadarço.
– Confortável?
Demi cruzou os braços.
– O que você está fazendo?
– Você não respondeu. Estão confortáveis?
– Estão.
– Ótimo. – Joseph entrelaçou os dedos nos dela enquanto se levantava, puxando-a do banco. – Está pronta?
Demi tirou o casaco de moletom.
– Para dar uma corrida? Claro. Por que não? Estou precisando queimar as calorias de hoje de qualquer maneira.
– Primeiro: eu ajudo você a queimar essas calorias mais tarde. Eu sou a melhor sessão de ginástica que você poderia ter. – Demi revirou os olhos e riu. – Segundo: a gente vai correr, e muito. Mas não com os pés.
Joseph parou diante da porta da garagem.
– Ok, agora você está me assustando.
Joseph pousou a mão em sua nuca e a olhou fundo nos olhos.
– Demi Lovato, a única coisa que você tem a temer é quanto eu vou te amar pelo resto da vida. E... quantas vezes vou fazer essas pernas tremerem. Mas isso não vem ao caso. Nunca tenha medo de mim, docinho. Entendeu?
Com um sorriso brincalhão, Demi ergueu a mão em continência.
– Sim, Sr. Jonas. Entendo perfeitamente, senhor.
Divertindo-se, um tanto excitado, Joseph escancarou a porta da garagem escura.
Antes de acender a luz, Demi viu-o sorrir e não pôde deixar de suspirar de alegria. Meu Deus, como adorava a energia carismática que ele emanava. Era algo que lhe saía pelos poros, dera para perceber no instante em que o conhecera, e aquilo a encantava, a dominava, a atraía, se enraizava em seu coração.
Um clique...
Suspense...
Luzes...
Quando os olhos de Demi se acostumaram, seus batimentos se aceleraram e ela perdeu o fôlego. Ali estava o veículo mais elegante que já tinha visto na vida. Branco, arrojado, com um enorme laçarote vermelho, tinha um design sofisticado que associava a estrelas de Hollywood.
– Ah, meu Deus, Joseph. Você não fez uma coisa dessas – sussurrou ela, descendo os degraus em transe, olhando dele para o carro.
Joseph a abraçou por trás e descansou o queixo em seu ombro.
– Fiz, sim. Gostou?
– Se eu gostei? Eu amei. – deslizando a mão pelo magnífico capô, deu a volta naquela máquina extraordinária, o coração ribombando. – O que é?
– Isto seria um carro, Demi.
Ela se virou, inclinou a cabeça e riu.
– Eu sei que é um carro. Quero dizer, qual é o modelo? Nunca vi um desses.
Joseph tirou o capuz da cabeça dela e lhe deu um beijo.
– Eu tinha entendido. – ele deu uma piscadela. – É um Maserati GranTurismo S e a gente está prestes a correr com ele pelas ruas como dois malucos apaixonados. Eu insisto que a gente corra. Entendeu?
Dando um passo atrás, atirou as chaves para Demi, que as pegou com um sorriso de orelha a orelha.
Demi ficou na pontinha dos pés e os dois se beijaram com ardor.
– Entendi. Entendi, sim. Mas você não precisava fazer isso. Eu disse que não precisava. A gente vai nele até Nova York?
– Não, vou mandar uma empresa de transportes colocá-lo num trailer e atravessar o país com ele. Tarde demais para dizer que não queria. Vamos. – tomando-a pela mão, conduziu-a até o lado do motorista e abriu a porta. – O câmbio é automático. Achei que era melhor para você, já que esse corpinho sexy vai estar na cidade. Ainda assim, esconde mais de 400 cavalos debaixo desse capô. Não estou brincando quando digo que você vai botar pra foder. Vamos ver o que ela consegue fazer.
Demi soltou um gritinho de prazer, deu um beijo na bochecha dele e se enfiou atrás do volante. Passando a mão pelo interior de couro vermelho macio, observou Joseph apertar o controle da porta da garagem que ficava na parede. Tirou o laçarote do carro e o contornou até o lado do carona.
Demi encarou Joseph, já sentado ao seu lado.
– Eu aperto o botão?
Com um sorriso, Joseph assentiu.
– Está ficando boa nisso.
– Espertinho. – ela atirou as chaves para ele. – Muito bem, vamos arrebentar. Velocidade, aqui vamos nós.
Demi apertou o botão e o motor ganhou vida com um ronronar baixíssimo. Ficava a léguas dos carros que já tivera, que faziam um estrondo quando ela dava partida. Saindo de ré da garagem para o sol brilhante de final de tarde, Joseph sincronizou o celular com o carro, ligando o som em níveis ensurdecedores.
– Quem é? – gritou ela acima da voz suave e sensual de um homem que cantava sobre uma menina que era o seu anjo. O ritmo lento era sinistro e sexy.
Ela verificou os retrovisores antes de sair para a rua. 
– Gostei.
– Massive Attack. O nome da música é “Angel” – respondeu Joseph, umedecendo os lábios, os olhos fixos nela. – Quando você não estava comigo, eu com frequência... pensava em você ouvindo isso, entre outras coisas.
Demi o encarou, o sentidos aguçados pelo tom sensual de Joseph.
– Sério? – ela pigarreou, desviando os olhos dele enquanto acelerava mais do que era a sua intenção. O carro deu um salto para a frente e ela fez uma curva rápida para a direita, saindo do condomínio. – E que outras coisas você já fez escutando essa música e pensando em mim?
Joseph deu um sorriso travesso e respondeu em voz baixa, massageando a nuca de Demi:
– Normalmente eu estou no chuveiro com a água quente caindo pelo meu corpo.
Demi prendeu a respiração enquanto ele descia a mão do pescoço para seu ombro, roçando na curva do seu seio.
– E então? – sussurrou ela, tentando se concentrar na rampa que levava à San Diego Freeway. Baixou a janela, deixando que o ar fresco penetrasse o pequeno espaço que se tornara sufocante de tão quente. – Por favor, me conte o que você faz consigo mesmo.
Joseph tinha criado um monstro sexual e adorava cada bocadinho daquilo.  Desviou os olhos azuis para o velocímetro. Sem se dar conta, seu anjo beirava os 130 quilômetros por hora, costurando por entre outros veículos, os cabelos brilhantes chicoteando o ar em torno do rosto em formato de coração. Ajustou o assento um pouco para trás, ainda deslizando a mão pelo corpo dela, em direção ao cós das calças de moletom. Acesso bom e fácil.
Provocou a pele da barriga dela com os dedos, pairando por ali antes de mergulhar por baixo do tecido. Sentiu Demi enrijecer o corpo, o carro dando um solavanco para a frente, ainda mais rápido enquanto ele descia a mão um pouco mais. Puta merda, ela não estava usando calcinha. Com o pau duro como pedra, Joseph não pôde conter um gemido. Joseph se sentiu mais do que satisfeito com a playlist: o Nine Inch Nails agora ribombava no carro, berrando sobre trepar como animais. Demi abriu as pernas e Joseph deslizou a mão pela carne macia e exposta da sua boceta, os dedos instantaneamente escorregadios. Demi gemeu e segurou o volante com mais força. Ele enfiava e tirava os dedos no ritmo constante que pulsava pelas caixas. Mais rápido, o veículo saltou para a frente, chegando perto dos 180 quilômetros por hora, e Demi levou o pé esquerdo até a beirada do assento. Atirou a cabeça para trás, os olhos se fechando, enquanto ele empurrava mais fundo, com mais força.
– Mantenha os olhos na estrada, Demi, senão eu paro – ordenou Joseph, a respiração entrecortada quando ela se remexeu de encontro aos dedos dele.
Demi jogou a cabeça para a frente, gemendo. Ao ver aquele lindo rosto se contorcer de prazer, Joseph cochichou em seu ouvido:
– Eu pego o meu pau e brinco com ele, devagarinho, enquanto penso em você.
– Continue, por favor – implorou ela, despudorada, a concentração falhando mais a cada segundo. Sabia que tudo aquilo era perigoso, mas não conseguia parar. Estava completamente enlevada, à beira do êxtase, e não queria nada além de saltar. – No que mais você pensa?
– Penso em como a gente trepa até os nossos corpos pingarem de suor e a gente não aguentar mais. – Joseph gemeu, inebriado com a umidade que lhe cobria os dedos. – Penso em como é gostosa a sua bocetinha quente em volta de mim quando você implora para eu te foder com mais força. Penso que o seu corpo treme como uma folha ao vento quando você goza.
– Ah, meu Deus... – gemeu Demi, a necessidade de parar o carro e devorá-lo aumentando a cada estocada.
Ele fazia círculos sobre o seu clitóris, intensificando a necessidade para além de qualquer controle que ainda possuía. Decidida, Demi foi tirando o pé do acelerador. Antes de conseguir encontrar um lugar, qualquer lugar, captou ardentes luzes vermelhas e azuis de um carro da patrulha rodoviária se aproximando de sua traseira.
– Joseph! – gritou, os nervos em frangalhos e o corpo na mais completa confusão. – A polícia vai parar a gente!
Joseph deu uma gargalhada e tirou a mão de suas calças.
– Ponto para a minha megerinha veloz – disse ele, como se a situação não o afetasse nem um pouco. Lambeu os dedos, ajeitou o assento e sorriu. – Não se preocupe, eu conto para eles o que estava fazendo com você. Tenho certeza de que vão entender.
Boquiaberta, Demi sacudiu a cabeça, numa tentativa vã de acalmar o corpo em chamas. Conduziu o carro até o acostamento, tremendo incontrolavelmente. É claro que aquilo, em parte, tinha a ver com os dois patrulheiros estaduais grandalhões que ladeavam o veículo, embora a maior parte estivesse relacionada a seu doloroso desejo de liberação. De olhos arregalados, o corpo pulsando com o que ela acreditava ser pura tortura, Demi buscou a bolsa, mas ela nunca a carregava.
– Puta merda! Não trouxe a carteira de motorista!
– Demi, acalme-se. – Joseph ergueu o traseiro do assento e sacou a carteira do bolso dos jeans. – Relaxe, amor, sério.
– Você está me mandando relaxar? – questionou ela rispidamente. – Eu estava a mais de 140 e estou sem carteira. Vão me arrastar para a cadeia.
Joseph sorriu com malícia, sacando a identidade.
– Primeiro, você estava a 180, para ser mais preciso. Segundo, não vão arrastar você para lugar nenhum. Terceiro, eu acabo de visualizar a coisa mais sexy: você vestida num macacão de presidiário, preto e branco, usando até aquele bonezinho. Hum, simplesmente linda.
– Você precisa de terapia – sussurrou Demi enquanto os dois policiais se aproximavam, as mãos sobre as pistolas enfiadas nos coldres.
Ela engoliu em seco, forçou um sorriso e ergueu os olhos para o policial do seu lado do carro.
– Bom dia, senhor.
Com os olhos protegidos por óculos escuros, o homem mais velho pressionou os lábios antes de falar:
– Carteira, registro e seguro.
Com o sorriso mais brilhante que ela já havia testemunhado, Joseph pegou os documentos necessários no porta-luvas. Entregando-os a Demi, deu-lhe uma piscadela.
Ela revirou os olhos e encarou o policial que aguardava.
– Ahn, estou sem a minha carteira. Vim de Nova York visitar minha irmã e a gente deixou a casa dela às pressas. Me esqueci de trazer a bolsa.
Depois de examinar os documentos, ele tirou os óculos.
– Existe alguma razão para a senhorita achar que podia dirigir a 180 quilômetros por hora na estrada?
– A culpa foi minha – interveio Joseph, inclinando o corpo em direção à janela do motorista. – Eu disse a ela que estava sentindo uma dor excruciante e que precisava ser examinado por uma enfermeira. – Joseph pigarreou. – Quer dizer, por um médico. Mas, felizmente, já estou me sentindo melhor.
Desconfiado, o guarda olhou feio para Joseph por um longo segundo, depois encarou Demi.
– Preciso do número de seguro social para procurar a sua carteira de motorista no sistema.
Ela forneceu o número e ficou olhando pelo retrovisor, nervosa, enquanto ele voltava à viatura. Ainda do lado do carona, o policial mais jovem enfiou o rosto pela janela.
– Então você é torcedora dos Yankees? – perguntou ele, os olhos grudados em Demi. – Eu sou do Bronx. Não existe nada como um jogo dos Yanks em casa.
– Eu não sou torcedora dos Yankees, mas o meu namorado é – respondeu ela, remexendo-se no assento. Aquela conversa fiada acalmou um pouco seus nervos.
O policial franziu a testa.
– Não é? Não é o que diz a sua placa.
Dessa vez, quem franziu a testa foi Demi, encarando o namorado.
– E o que diz a minha placa, Joseph?
Com um sorriso largo, Joseph pousou a mão em sua nuca.
– Ah. Você não deve ter notado quando a gente estava na garagem. – ele riu, passando os dedos pelos cabelos dela. – É a abreviação de “New York Yankees Lover”. Com o escudo do time e tudo. Tenho de admitir que ficou muito bacana.
Apoiando o rosto nas mãos, Demi olhou para baixo e riu.
– Você é mesmo o espertinho em pessoa.
– Você esqueceu de dizer que sou shmexy – lembrou Joseph.
Antes que Demi pudesse fazer qualquer comentário sarcástico, o policial mais velho voltou.
– Muito bem, a sua carteira de motorista de Nova York confere. No entanto, vou ter que lhe aplicar uma advertência por você não estar com ela. É só levar a multa e a carteira a qualquer delegacia da região de San Diego que ela deverá ser dispensada. Assine o seu nome ao lado do X.
Ele lhe entregou a papeleta branca. Depois de rabiscar o nome, devolveu-o.
O policial arrancou a cópia-carbono amarela, estendendo-lhe o original.
– Considerando que você parece ser uma boa moça e que eu não estou a fim de preencher a papelada, não vou prendê-la. Eu deveria fazer isso, levando em conta a velocidade a que estava dirigindo. Mas vai ganhar uma multa por estar dirigindo acima do permitido. Poderia lhe custar até mil dólares e a suspensão da carteira por trinta dias. – O policial fez uma pausa, se abaixou e olhou para dentro do carro. Embora a cara feia fosse direcionada a Joseph falava com Demi: – E sugiro que repense a sua velocidade da próxima vez que o cavalheiro disser que está passando mal.
Demi assentiu, contendo um suspiro de alívio.
– Vou repensar. Obrigada, senhor.
Ele deu um breve meneio de cabeça. Depois que os policiais se afastaram, Joseph caiu na gargalhada, dando tapas no próprio joelho.
Demi voltou à estrada, preocupada com a velocidade.
– Não acredito que você esteja rindo – reclamou, tentando se controlar para não fazer o mesmo.
Passando a mão pelos cabelos, Joseph deu um sorriso.
– Sua cara estava impagável.
– Aposto que queria estar com uma câmera.
– Docinho, você não tem ideia do que eu teria feito para estar com uma.
Mais uma vez, Demi revirou os olhos. Levaram o dobro do tempo para voltarem à casa da irmã, porque ela estava dirigindo, como diria Joseph, “igual à minha avó”. Dessa vez, chegaram menos... acalorados do que no início do passeio. Saltando do carro, Demi foi olhar a placa. E de fato Joseph mandara colocar as letras NYYLVR.
Ao entrar no vestíbulo, depois de cobrir de beijos o seu amante dos Yankees, Demi ouviu Michael gritar que os Knicks estavam ferrados na mão dos Lakers. Foi a vez de ela cair na gargalhada. Joseph lhe deu uma palmadinha na bunda e se dirigiu à sala. Demi foi para a cozinha. Dallas estava tirando um presunto assado no mel de dentro do forno. No instante em que o saboroso aroma chegou ao nariz de Demi, um ataque de náusea a atingiu, fazendo-a estacar. Com os olhos vidrados, ela se dobrou, cobrindo a boca com a mão.
– Você está bem? – perguntou Dallas, colocando o presunto para esfriar. – Não está com uma cara muito boa.
Mais uma cheiradinha e Demi não aguentou. Girando sobre os calcanhares, atravessou a cozinha, quase tropeçando num banco ao lado da bancada. Mal conseguiu chegar ao banheiro do primeiro andar e não teve tempo sequer de fechar a porta. Ajoelhou na frente da privada. Com outra ânsia que lhe retorceu as entranhas, segurou os cabelos para trás e seu corpo se livrou violentamente do café da manhã reforçado e do almoço que comera mais cedo. A garganta queimava com a bile. Arfou, engasgando ao vomitar.
– Meu Deus, Demi!
Dallas correu para dentro do banheiro, ajudando Demi a segurar os cabelos.
– A porta – grunhiu Demi. – Feche a porta.
Dallas obedeceu e Demi se levantou, os nervos abalados com a súbita reação do corpo. Curvada sobre a pia, abriu a água fria e colocou as mãos debaixo.
– Que diabos foi aquilo? – perguntou Dallas, com os olhos arregalados.
Demi balançou a cabeça e sorveu a água das mãos, que melhorou a queimação na garganta.
– Não tenho a menor ideia – sussurrou. – Eu cheguei e o cheiro do presunto me deixou enjoada.
Dallas se recostou na parede, os braços cruzados.
– Não é a primeira vez que você vomita nos últimos tempos.
Demi secou o rosto com uma toalha.
– Verdade. Tenho andado muito estressada, Dallas. – ela atirou a toalha na bancada e abriu o pequeno armário acima da pia. – Você tem uma escova de dentes nova?
– Aí dentro, não. Debaixo da pia.
Abaixando-se, Demi abriu o outro armário. Depois de vasculhar uma cestinha, encontrou o pacote. Abrindo-o, ficou de pé e passou pasta de dente. Escovou os dentes energicamente, querendo se livrar do gosto ruim.
– Eu sei que você anda muito estressada, Demi, mas já pensou – Dallas fez uma pausa, colocando uma das mãos no ombro de Demi – que você pode estar grávida?
Encarando o reflexo da irmã, Demi parou a escovação imediatamente e se virou.
– Não. Por que isso passaria pela minha cabeça? Eu tomo pílula.
– Você tem tomado direito?
Com um suspiro, Demi enxaguou a boca.
– Acho que sim.
– Você acha que sim? – zombou Dallas. – A pílula só funciona quando a gente toma todos os dias. Quando foi a última vez que você menstruou?
– Caramba, são os meus nervos! – explodiu ela. – Aquilo tudo que aconteceu entre mim e o Alex, sem falar na história toda com o Joseph. Eu não estou grávida.
Os olhos verdes de Dallas se suavizaram, preocupados.
– Responda à pergunta, Demi: quando foi a última vez que você ficou menstruada?
Tentando se lembrar de sua última menstruação, Demi passou a mão pelos cabelos.
– Não tenho certeza... Talvez na segunda semana de outubro.
– Certo. Na segunda semana de outubro. – Dallas abriu o armário acima da pia e lhe entregou uma caixa. – O Michael e eu ainda estamos tentando. Tem dois exames aí dentro. Pode ir fazendo xixi.
Demi abriu a caixa e tirou os dois exames.
– Não estou acreditando.
– No que é que você não está acreditando? – colocando as mãos nos quadris, Dallas olhou para ela, incrédula. – Você não menstrua desde meados de outubro. Todas as vezes que falei com você desde que saí de Nova York, você disse que estava lutando contra algum tipo de náusea. Você culpou o nervosismo. Eu compreendo. Mas está tudo bem agora. Então, não tem motivo para andar tão tensa. Se a questão for tão simples quanto nervosismo, sente-se e faça o exame. Não tem com que se preocupar.
Demi baixou a calça e se sentou na privada. Esperando a ação da mãe natureza, rasgou a embalagem dos dois exames.
– Dava para você parar de me encarar? Parece que sou uma criança aprendendo a ir ao banheiro sozinha.
– Ah, dá um tempo. – Dallas revirou os olhos e brincou com os cabelos enquanto se olhava no espelho. Fazendo um coque desalinhado, olhou para Demi de soslaio. – Fui eu que ensinei você a ir ao banheiro sozinha. Não vamos esquecer que sou dez anos mais velha. Limpei a sua bunda vezes demais para o bem de qualquer uma das duas.
Demi não ousou continuar aquela conversa. já era demais para a sua cabeça. Mas tudo bem, pois a mãe natureza enfim deu o ar da graça. Demi segurou os dois exames sob o fluxo de urina, certificando-se de que ambos ficassem encharcados. Depois, depositou-os sobre o papel higiênico que Dallas colocara cuidadosamente sobre a bancada.
Demi lavou as mãos. Começou a ficar tonta enquanto observava os palitinhos que, naquele momento, a deixavam assustada pra cacete. Apesar de ter tratado as náuseas das últimas semanas como uma crise de nervos, subitamente, aquilo já não lhe parecia plausível. As palavras negação, medo e estupidez lhe passaram pela cabeça. O suor já se acumulava acima do lábio.
Pegou a caixinha vazia do teste de gravidez e virou-a para ver que cara teriam um positivo e um negativo. Observando que uma linha representava um futuro sem fraldas e que duas linhas a mergulhavam de cabeça na maternidade, Demi começou a mordiscar a unha do polegar.
– Quanto tempo isso demora?
Mal acabara de fazer a pergunta quando, em um dos exames, uma única linha se tornou rosa-clara. Demi abriu um pequeno sorriso, prestes a suspirar de alívio. No entanto, o sorriso desapareceu no momento em que outra linha clamou por um pouco de atenção, ficando rosada. Os olhos de Demi passaram para o outro exame, que já mostrava duas linhas vermelhas brilhantes.
Fitando os dois palitinhos que significavam que a sua vida estava prestes a mudar mais do que ela poderia compreender, Demi tentou respirar.
Respire...
Números.
Datas.
Horários.
Cálculos de todos os tipos martelaram sua cabeça. Um calendário mental, cruel como ele só, lampejou na mente de Demi. A primeira vez que fizera amor com Joseph, na noite da festa beneficente da mãe dele, fora poucos dias antes de ela terminar com Alex. Poucos dias após ela e Alex terem feito amor.
Respire...
Dias.
Horas.
Minutos.
Lembranças de todos os tipos atravessaram o seu coração como uma flecha. Teve a sensação de que lhe arrancavam cada segundo que ela e Joseph tinham passado juntos no decorrer das últimas semanas, remendando lentamente o que quase se rompera. Não havia como negar que a criança que carregava na barriga podia não ser dele. As chances eram de escassas a nulas. Nas duas noites gloriosas que tinham compartilhado, dormira com Joseph um punhado de vezes. Nas semanas que levaram àquela noite e as que se seguiram, estivera com Alex diversas vezes. De braços abertos, perdoando cada decisão confusa que ela tomara, Joseph a aceitara de volta, mas nunca havia esperado ter que lidar com uma situação como aquela. Pai substituto do filho de um homem que odiava. Um homem que detestava com cada fibra do ser. Isso certamente poderia acabar com eles. Aquilo que ainda iriam se tornar não seria mais do que um sonho... nunca chegaria a ser. Apenas uma miragem.
A possibilidade de perder Joseph para sempre rasgou o peito de Demi enquanto ela se curvava e abraçava a barriga que logo floresceria com vida. Uma linda vida que compartilhava o seu sangue, mas que talvez não compartilhasse o sangue sem o qual não podia viver.
Respire...
– Demi. – a voz suave de Dallas mal conseguiu interromper seus pensamentos... seu pesadelo. Demi sentiu o toque carinhoso da irmã no pescoço.
– Demi, olhe para mim.
Com os olhos marejados, Demi cobriu a boca e balançou a cabeça.
– Talvez não seja do Joseph – choramingou, tentando manter a voz baixa. – Ah, meu Deus, Dallas, talvez não seja dele.
Dallas abraçou Demi da maneira que a mãe fazia quando ela se machucava.
– Eu sei, meu anjo. Eu sei. – no limite da insanidade, Demi tremia, os soluços abafados contra o peito de Dallas, que acrescentou: – Me escute, está bem? Quero que você se deite. Eu digo ao Joseph que você estava cansada e que foi tirar um cochilo. Isso deve satisfazê-lo até a gente acabar de jantar. Assim você tem tempo para pensar no que vai dizer a ele. Está bem?
Com os lábios trêmulos, Demi assentiu. Pegou um lenço de papel e examinou o próprio reflexo. Seus olhos, inchados e escurecidos pelo rímel borrado, logo encarariam o homem que ela amava tão desesperadamente. Que talvez viesse a perder. Depois de esfregar o rosto com água e sabão, abraçou Dallas e se dirigiu ao quarto de hóspedes. Seu coração despencou ao ouvir Joseph gargalhar com as alfinetadas de Michael sobre a derrota dos Knicks.
Fechou a porta e seus pensamentos rodopiaram sem controle. Estavam prestes a fazê-la desmoronar. Como dar a notícia que iria mudá-los para sempre? Palavras... Sua mente se via privada das palavras certas. Será que ele a abandonaria na Califórnia? Imagens do rosto dele no segundo em que soubesse de tudo invadiram a cabeça de Demi. Queimando como chuva ácida, a bile subiu por sua garganta. Envolta numa névoa muito escura, não só de medo como de solidão, ela afundou outra vez na cama, dobrando as pernas contra o peito. Tentou pensar no que diria e como diria. Mas, à medida que os minutos passavam, logo se deu conta de que nenhuma palavra tornaria qualquer parte daquilo simples. A vida estava prestes a mudar. Não precisou ficar deitada por muito mais tempo, rezando para que Joseph ficasse ao seu lado, porque, um instante depois, a porta abriu com um rangido e entrou o homem que iria roubar o ar dos seus pulmões para sempre. O homem que, independentemente da decisão que tomasse nos minutos seguintes, seria o dono de seu coração para sempre.
Demi engoliu em seco e se sentou.
– Já terminaram de comer? – perguntou, tentando não transparecer desespero.
Ele tirou o horroroso casaco dos Lakers, ficando só de camiseta branca e jeans Dolce & Gabana que batiam logo abaixo do glorioso V que desenhava os seus músculos abdominais. Passou a mão pelos cabelos negros revoltos e se alongou. Abriu um sorriso contagiante, lembrando-lhe o que poderia perder.
Afundando na cama, tomou-a nos braços e a recostou no peito enquanto encostava na cabeceira.
– O Michael tinha razão. Embora a gente vá embora daqui a dois dias, ficar nesta casa poderia me engordar miseravelmente. – rindo, ele beijou-a na testa. – Eu já estava cheio com os 5 quilos de batatas fritas e molho quando a sua irmã avisou que o jantar estava pronto. Então, decidi pular o jantar. Além do mais, quando soube que você estava aqui sozinha, não consegui resistir.
Demi deu um sorriso débil, absorvendo aquela covinha, afogando-se em cada centímetro de barba por fazer. Seus olhos seguiram o contorno daquele lindo rosto, que havia sequestrado seu coração e o mantido refém desde o instante em que o vira. Um rosto que talvez, em breve, não fosse mais do que uma lembrança que tocara sua vida pelo mais breve instante.
– Ei – disse Joseph, buscando o olhar dela. – O que foi que aconteceu?
E lá estava a pergunta que conduziria os dois por um caminho que poderia despedaçá-los. Seus destroços se espalhariam por uma estrada que era garantia de esperança. De amor e promessas.
Respire...
– Preciso lhe contar uma coisa – sussurrou Demi, o corpo entorpecido como quando Joseph se fora.
Joseph foi invadido pela preocupação. Passando as pernas de Demi ao redor da própria cintura, tomou o rosto dela entre as mãos, olhando em seus olhos.
– Fale comigo, boneca. O que foi?
– Eu... eu... – as palavras, certas ou erradas, ficaram presas na garganta enquanto ela tentava puxar o ar para dentro. Tentava fazê-las sair. Era chegado o momento. Respire... – Joseph, eu estou grávida.
O alívio, como uma onda que se quebrando, percorreu-o por inteiro. A mulher que ele havia amado desde o minuto em que entrara em sua vida, com quem estava certo de que formaria uma família, acabava de lhe dizer que seria pai. Pai. Joseph sentiu-se orgulhoso com aquela palavra e se lembrou do próprio pai. Aquilo não era uma má notícia. Com certeza Demi estava assustada, assim como Joseph, mas não havia motivo para isso. Ele faria tudo que estivesse ao seu alcance para se certificar de que ela e o filho fossem amados além de qualquer medida. Com uma alegria diferente de qualquer coisa que já tivesse experimentado, Joseph beijou Demi intensamente e uma cascata de momentos por vir preencheu sua alma.
No entanto, quando ela se afastou de imediato, toda a animação se esvaiu. A expressão vazia de seu olhar gritava algo que não lhe passara pela cabeça. Sentindo-se sufocado, esperou que Demi dissesse alguma coisa. Qualquer coisa. Apenas rezava para que não fosse o que ele achava que era. Por mais que a amasse e, por Deus, como a amava , jamais permitiria que Demi se livrasse de algo que era uma parte deles.
– Joseph – sussurrou Demi, o coração acelerado. Nos poucos segundos em que ele a beijara, havia sentido um amor muito profundo e soube que ele não entendia o que estavam prestes a enfrentar. – Talvez não seja seu.
Fez uma pausa, o corpo trêmulo, e fitou os olhos dele, subitamente vazios de emoção. Vazios das centelhas pelas quais ela se apaixonara. Ouviu-o engolir em seco, ouviu sua respiração se acelerar e teve um calafrio antes de ir em frente:
– Minha última menstruação foi alguns dias antes de você e eu ficarmos juntos pela primeira vez. Só tenho uma vaga ideia do tempo de gestação, mas...
– É mais provável que você esteja carregando o filho do Alex – completou Joseph, a voz falha.
Sem suportar aquilo, desceu da cama e se pôs a andar de um lado para outro, sua mente agora era um emaranhado de emoções com as quais não conseguiria lidar naquele momento. Sentia raiva da situação que fora atirada em cima dele e da mulher que preenchia a sua vida de forma indescritível. Vestiu o casaco e olhou para Demi, que o encarava, confusa.
– Tenho que ir.
– O quê? – sussurrou Demi, colocando-se de pé. – Aonde você vai?
Sentiu-se péssimo ao ver o pânico em seu olhar, mas não tinha como ficar ali. Tentando atenuar a confusão que sabia estar estampada no próprio rosto, aproximou-se dela e passou a mão pela delicada curva de seu queixo. Ela o encarava com os lábios trêmulos, os olhos eram poças verdes profundas implorando-lhe que não se fosse. Merda. A dor lhe rasgava os músculos enquanto ele lutava para ficar. Conversar com ela. Tentar descobrir o que iriam fazer. Que Deus o ajudasse. Embora quisesse, não podia. Precisava escapar, e agora.
Em silêncio, Joseph se virou e deixou o quarto, levando junto o coração de Demi, coberto de cicatrizes. A constatação de que ele talvez não fosse capaz de lidar com aquela pressão toda passou como um rolo compressor pela cabeça dela, deixando-a sem fala e aos pedaços. Uma lágrima solitária rolou enquanto ela sorvia o ar, trêmula. Mais uma vez a sós com os seus pensamentos, Demi tentou se recompor ao apagar a luz que ficava ao lado da cama.
Na escuridão, afundou no colchão, observando as sombras que dançavam no teto. Deslizou a mão pela barriga, dando-se conta da enormidade da tortura que estava por vir. Sem dúvida ficaria destruída com os dias que passaria sem saber de quem era o filho. Demi se viu numa estrada que não imaginara percorrer tão cedo na vida. Definitivamente, não sob aquelas circunstâncias. No entanto, precisava acreditar que havia um motivo para aquilo estar acontecendo. Ainda chorando, lutou para descobrir que motivo era esse, mas não conseguiu. À medida que os segundos se transformavam em minutos, e os minutos em horas, sua única certeza era que precisava encontrar o pedaço faltante do coração, que deixara aquele quarto com um homem destroçado. Sem pensar duas vezes, tirou uma jaqueta leve da mala e saiu apressada para o corredor. Enxugando as lágrimas, deu de cara com a irmã. Dallas segurou Demi pelos ombros.
– Meu Deus, você está bem? Eu ia ver como você estava. Achei melhor dar um tempo.
Em frenesia, Demi balançou a cabeça e correu para a cozinha. Dallas a seguiu. Supondo que Joseph tivesse saído com o carro que lhe dera de presente, Demi pegou as chaves de Dallas de um gancho na parede, ao lado da geladeira.
– Aonde você está indo? – perguntou Dallas.
– Preciso encontrá-lo – respondeu Demi, indo em direção à garagem.
– Ele não foi embora.
As palavras de Dallas detiveram Demi, que se virou bruscamente.
– Como assim?
– Ele não saiu de carro. Acho que foi até o píer.
O coração de Demi parou por um momento enquanto recolocava as chaves no gancho. Aproximou-se das portas francesas da saleta. Nadando num mar de dor, ela as escancarou e saiu para o ar fresco da noite. Tremendo com a brisa marítima, Demi vestiu a jaqueta e começou a subir o morro que ficava logo além da casa da irmã e que conduzia a uma escada de madeira já gasta.
Não demorou muito para encontrar Joseph. Como Dallas imaginara, ele estava sentado num banco, perto do píer, o feixe da luz do cais brilhando sobre o seu corpo. Parecia um anjo, mas Demi sabia que ele estava no inferno. Minúsculas gotas de suor se formaram em sua testa enquanto contemplava o oceano e o homem que amava. Com os cabelos esvoaçantes, Demi levou as mãos à boca e inspirou fundo, tentando encontrar coragem para ir até ele. Em algum lugar entre a lembrança do que haviam sido juntos e o que sempre lhes reservara o destino, Demi achou coragem. Até aquele momento, Joseph talvez tivesse representado apenas uma pequena parte de seu passado, mas Demi precisava que ele preenchesse cada segundo, minuto e hora de seu futuro e não estava disposta a deixá-lo escapar por nada. Não podia. Recusava-se a fazê-lo.
Segurando com toda a força o corrimão de metal enferrujado, começou a descer as escadas lentamente, o coração palpitando a cada passo. Quando chegou à areia, Joseph se levantou e a encarou. Demi estacou, a respiração falhando. Enquanto as ondas se agitavam mais, chocando-se contra o píer, Joseph caminhou em sua direção. Enfiou as mãos nos bolsos e cravou os olhos nos dela, parando a poucos metros. Mesmo a distância, Demi podia sentir o coração dele arder, podia sentir a inegável ligação existente entre os dois.
– Eu te amo, Demi Lovato. – ele olhou para o chão e, então, de volta para ela. – Acho que te amo desde antes de saber que você existia. – sua voz era tão suave que Demi mal conseguia ouvi-lo. Ele chegou mais perto e levou a mão à sua face, o gesto tão gentil quanto o seu olhar. – Tenho quase certeza de que você fazia parte dos meus sonhos antes mesmo de entrar na minha vida. Senti isso na primeira vez em que a vi. Você me puxou na sua direção. Assumiu o controle do meu coração e nunca mais soltou. E, mesmo se tivesse, eu não teria deixado. Eu não teria sido capaz. Alguma coisa em você... me era familiar e aquilo me assustou pra cacete, embora eu soubesse que, de alguma forma, a gente precisava um do outro. Eu nunca fui homem de acreditar em qualquer tipo de destino. Achava que era uma bobajada melosa que as mulheres liam em romances, mas, sentado aqui pelas últimas duas horas, comecei a pensar em você e em mim. No nosso romance. – mais uma vez, ele se deteve, a cabeça inclinada enquanto enxugava uma lágrima que escorria. – Você sabia que era para eu ter ido naquela viagem a Ohio com o Trevor quando você estava na faculdade?
– Sabia – sussurrou ela. Apesar dos nervos começarem a se acalmar, não sabia ao certo se aquilo era o adeus dele. – A Selena me contou.
– Certo. – chegando ainda mais perto, Joseph a abraçou e roçou os lábios nos dela. – Nunca foi para você estar com o Alex. Você tinha que acabar comigo, mas o destino atrasou nosso relacionamento. Este bebê pode não ser meu, mas é parte de uma necessidade na minha vida. Algo que vai merecer a minha atenção mesmo depois que eu tiver partido. Eu não estava brincando quando falei sobre o bom, o ruim e tudo o que há entre um e outro. Isto é o que está no meio. –  Demi deu um gritinho e, por Deus, o coração de Joseph derreteu. – De pé aqui, esta noite, eu lhe dou a minha palavra como homem, amigo e amante, de que, se esse bebê não for meu, não vou amá-lo menos do que amo o anjo que o carrega. Não posso afirmar que não estou com medo porque seria mentira e eu prometi que nunca mentiria para você. Estou morto de medo e sei que você também. Assim, Srta. Lovato, se você me perdoar por ter agido como um babaca, deixando-a sozinha enquanto colocava a cabeça em ordem, você e eu vamos passar os próximos meses juntos nos borrando de medo. Não importa o que aconteça, a gente vê o que faz. Combinado?
Demi assentiu e o puxou para um beijo. Deixara a casa da irmã nadando num mar de dor e de incerteza. Mas agora, ao se ver naquela linda noite de Natal beijando o homem que ficaria ao seu lado em qualquer situação, afogava-se num mar de alívio tão amplo que as palavras jamais poderiam descrevê-lo.

esses presentes deles? que lindos.
a Demi está grávida, de quem será esse filho? 
o que será que vai acontecer agora? deixem seus palpites.
gostaram? até o próximo
bjs amores <3

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