06/11/2017

begin again: capítulo 17


Dinner

O silêncio pode ser muito mais barulhento do que palavras. Talvez não no volume, ou em decibéis, ou seja lá de que forma você o quantifique. Mas em significado e intenção, o mutismo de Simon reverbera pela minha alma, até me ensurdecer. Ele não mencionou ter faltado à nossa hora marcada, nem me perguntou o que eu fiz. Ao longo do mês que se passou desde aquele episódio, ele parou de fazer qualquer tentativa de gentilezas ou conversas. Na verdade, ele passou a me evitar ativamente. Reuniões cedo pela manhã, jantares tarde da noite, fim de semana de trabalho. Ele finalmente começou a me mandar mensagens de texto com desculpas para ficar ausente quando tudo pelo que anseio é sua voz.
Se por um lado sinto raiva, também me sinto culpada. Apenas algumas palavras simples da minha parte e poderíamos começar o caminho de volta para onde começamos. Tudo o que tenho a fazer é prometer abrir mão do meu emprego e sei que ele começaria a descongelar. Mas o pensamento deixa um gosto ruim na minha boca. Ele está tentando me fazer chantagem emocional, mas simplesmente não é justo. Já fracassei na primeira lição de casa pedida por Louise. Estou com muito medo de explicar porque quero ficar na clínica. 
Ele deixou claro e evidente que é pegar ou largar. Simon está acostumado a tomar as decisões, enquanto eu faço o que ele pede. Eu não estou cumprindo o meu lado no acordo.
Na quinta-feira, ele desaparece; vai passar o fim de semana no campo. Chego à clínica cedo para procurar Selena e perguntar se ela quer fazer alguma coisa no sábado. Qualquer coisa para evitar quatro dias sozinha.
– Eu adoraria, mas Nicholas vai me arrastar daqui. – ela parece muito mais feliz do que na semana passada. – Dissemos que iríamos a um hotel agradável no campo para conversar. Discutir as coisas e chegarmos a alguma decisão.
Sorrio para ela como se fosse a melhor notícia do mundo. E seria, se eu não estivesse com um pouco de inveja roendo meu estômago.
– Parece uma delícia. Vocês dois vão resolver esse assunto, eu sei. – e eles vão. Porque estão se falando.
Um sorriso se estende por todo o rosto dela.
– Não é barato, mas a separação sairia mais cara, por isso vamos mesmo assim.
Separação. Pergunto-me se é esse o caminho que Simon e eu estamos percorrendo. Gostaria de poder enxergar na mente dele, entender se ele está fazendo um jogo para ver até onde vou aguentar ou se apenas jogou a toalha. Como posso lutar por alguma coisa, se ele já desistiu? Mesmo se eu quisesse.
Selena olha para mim interrogativamente.
– Você está bem?
Saio de repente dos meus pensamentos.
– Sim, estou bem. Por quê?
Até parece que vou contar sobre Simon e eu. Ela tem suas próprias preocupações. Foi tão forte por mim no passado que o mínimo que posso fazer agora é demonstrar apoio.
– Não sei, você só parecia estar distante. Triste. Você me diria se existisse algo errado, não diria?
Forço um sorriso.
– Claro que sim. Pare de se projetar em mim. Você e o Nicholas vão ficar bem. Vocês voltaram para os eixos.
Ela sorri.
– Sabe de uma coisa? Eu acho que é verdade.
Às duas e meia da tarde, estou tirando materiais do armário de arte, quando a porta se abre. Joseph entra e pendura o paletó sobre uma cadeira, revelando uma camiseta folgada e manchada de tinta que mal chega à cintura.
– Você não tem de se vestir assim só para mim – digo, inexpressiva.
Ele me olha e ri.
– O quê? Essa coisa velha? – ele puxa a bainha e eu recebo um breve vislumbre de pele. Levanto rapidamente os olhos, para olhá-lo no rosto. – Foi apenas alguma coisa que encontrei no fundo do guarda-roupa.
– Toda amassada dentro de uma lata de tinta? – pergunto, tentando não olhar para baixo novamente. Posso ver os riscos vermelhos e verdes que cruzam a frente do tecido. O abdome branquinho e firme que está por baixo.
– Mais ou menos isso.
– Bom, combina com você.
Ele se aproxima e pega o pote de tinta das minhas mãos.
– Você, é claro, está bonita como sempre.
Suas palavras acendem um pequeno fogo dentro de mim.
– Obrigada.
Trabalhamos juntos, tirando todos os materiais, enquanto conversamos amenidades. Tentamos provocar um ao outro e caímos numa conversa brincalhona reconfortante. É um contraste com o silêncio que tenho suportado.
Fácil. Agradável.
– Ei, eu queria lhe perguntar. Já teve notícias do Cameron? – Joseph se vira para mim quando terminamos de nos aprontar. Temos alguns minutos até as crianças chegarem. – Ele não veio aqui recentemente.
– Não, ele está na dele.
– Isso é algo bom? – Joseph olha para mim como se eu tivesse todas as respostas.
Lentamente, encolho os ombros.
– Não sei. Acho que é normal lamber as próprias feridas quando algo assim acontece. Um garoto da idade dele não gosta de mostrar fraqueza ou emoção. A última coisa que ele quer é pedir desculpas.
– A aflição de um garoto adolescente. Tantas emoções, mas sem capacidade de colocá-las em palavras. – ele soa quase melancólico. – Deus, fico feliz por não ter mais que ser um adolescente.
– Parece que você está falando por experiência própria.
Sua voz engrossa.
– E estou.
A atmosfera se transforma um pouquinho. De leve e brincalhona, se torna carregada e profunda. Ele olha para mim e eu olho de volta, imaginando o significado em suas palavras. Quero perguntar que emoções ele sentia naquela época, que arrependimentos ele tem agora. Pela primeira vez, quero contar sobre os que ainda carrego. Até chego a abrir a boca para dizer as palavras, para soprar minha história como flores ao vento.
Mas logo todos os pensamentos de confissão são silenciados pelo som da abertura da porta. As crianças entram numa enxurrada, sua conversa afoga tudo e o momento passa. Envolvo-me numa conversa com Charlotte, enquanto Joseph explica o que vamos fazer durante toda a tarde.
Não posso evitar de me sentir aliviada por meus segredos ainda estarem seguros.

***

– Pintei isso para você. – Charlotte me entrega seu desenho. Esta semana Joseph os fez tentar o impressionismo. O papel está coberto com pinceladas grossas, uma cor se misturando com a outra. Azul por fora, vermelho por dentro. Acho que é um ônibus londrino na chuva.
– Que lindo. É mesmo para mim? – minha garganta se contrai quando ela me dá um pequeno sorriso. – Vou colocar na minha cozinha. Toda vez que eu olhar, vou pensar em você.
– É para agradecer. Por cuidar de mim. – ela puxa o lábio inferior com os dedos cobertos de tinta. – Você ainda vai me levar para passear no sábado?
Quero abraçá-la forte até espremer as incertezas para fora dela. Oito anos e já está acostumada ao desapontamento.
– Claro que vou. Tem alguma coisa especial que você gostaria de fazer?
– Você pode me levar para ver a minha mãe?
Nego com a cabeça tristemente. Ela fez a mesma pergunta na semana passada. Eu até mesmo liguei para a assistente social para ver se poderíamos, mas me foi dito que não poderia haver nenhum contato. Charlotte ainda corria risco e, apesar de Daisy ter sido liberada do hospital, saber que Darren ainda está foragido me faz concordar com eles.
– Que tal ir ao cinema? – sugiro. – Você pode escolher o filme. Nós podemos dividir um balde de pipoca. – dou uma batidinha lateral do meu quadril no dela, mas não há nenhum sinal de sorriso.
– Sinto falta dela. – seu lábio inferior treme. – Quando vou poder ir para casa?
– Não sei, querida.
Daisy não é capaz de cuidar de si mesma nesse momento, muito menos da filha de 8 anos. Os ferimentos podem ter desaparecido, mas ela anda tão ansiosa e tensa que não consegue ficar parada por mais de alguns minutos. Quando nos encontramos para o café há dois dias, ela mal conseguia acender o cigarro, de tanto que suas mãos tremiam. Darren realmente mexeu com ela.
– Não gosto lá da casa. Posso ir morar com você? – Charlotte pega minha mão e a aperta com força. – Vou ser muito boazinha e vou fazer o que você me disser. Prometo que não vou fazer bagunça.
Lágrimas queimam meus olhos. Como posso explicar para uma criança de 8 anos que meu marido não a deixaria ficar? Que meu casamento está em crise e que ela provavelmente estaria tão infeliz na minha casa quanto no abrigo?
– Por que você não gosta?
– As outras crianças são más. Uma delas jogou meu livro na privada. – ela toma um fôlego trêmulo. – Me disseram que eu vou ter que viver lá até fazer dezoito anos porque minha mãe não me ama.
Agacho-me até nossos rostos estarem no mesmo nível e a abraço.
– Você sabe que isso não é verdade, não sabe? Ela te ama muito. Ela só não está bem o suficiente agora para cuidar de você. Mas está tentando ficar melhor, e ela me disse que sente falta de você. Muita.
– Você viu ela?
Confirmo com a cabeça, consciente da injustiça de tudo isso. Posso ver as duas, mas elas não podem ver uma à outra.
– Você diz pra ela que eu a amo também?
Eu a abraço firme, tanto para esconder minhas lágrimas como para oferecer conforto.
– Claro que eu digo.

***

São quase seis da tarde quando terminamos de limpar a sala. As crianças levaram a sério o impressionismo, misturando uma miríade de cores até que tudo se tornasse uma meleca lamacenta marrom, derramando tinta sobre as mesas e o piso. Depois que coloco o esfregão e o balde de volta no armário e Joseph coloca os últimos recipientes de tinta nas prateleiras, apagamos as luzes e entramos na recepção. Não tenho uma pressa verdadeira de ir para uma casa vazia, e Joseph parece ter a mesma opinião. Nós nos encostamos na parede e conversamos como se tivéssemos todo o tempo do mundo.
– Você está bem? – ele esfrega o queixo. – Você parecia um pouco aborrecida antes. Charlotte também.
Não sei se estou surpresa que ele tenha percebido ou chocada que ele tenha mencionado.
– Ela está sentindo falta da mãe. E a pobre Daisy também sente falta dela.
Mas elas não estão autorizadas a se ver. Não até que Daisy entre nos eixos, caminhe com as próprias pernas e prove que é responsável.
– Mesmo que ela seja a mãe da Charlotte?
– Ela é uma dependente de drogas que foi tão gravemente espancada que ficou no hospital por mais de uma semana. Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido se Charlotte estivesse lá.
– Jesus. – ele parece ter levado um chute no estômago. – Aquela pobre menina. Ela não tem mesmo a menor chance, não é?
– Não. – paro de falar porque mais lágrimas ameaçam cair e estou muito cansada de me sentir assim. Como se estivesse andando no fio da navalha, avançando aos pouquinhos, com medo de cair.
– Mas ela tem você ao lado dela. Isso tem de contar para alguma coisa. – Joseph levanta meu queixo com os dedos até que eu esteja olhando diretamente para ele. – Não se esqueça disso. – Ainda está me segurando, seus dedos cobrem meu rosto e isso faz meu pulso acelerar.
– Não vou esquecer.
Ainda estamos olhando um para o outro. Minha pele formiga. Toda vez que ele fica tão perto, tenho a mesma reação. Não é consciente, mas a força da minha resposta me surpreende. Quero passar o dedo por seu lábio inferior, tocar onde a pele macia se torna úmida. Quero sentir seus dentes pressionando meu polegar quando eu o empurrar para dentro, antes que ele feche os lábios em torno de mim.
Mais do que tudo, quero que ele me puxe para perto, que funda seu corpo ao meu e que me beije como costumava fazer. Como se não tivesse escolha.
Mas sou casada.
Sou casada, sou casada, e sou casada.
Se eu pensar nisso vezes o suficiente, talvez meu corpo dê ouvidos.
– Você tem alguma coisa legal planejada para o fim de semana? – mudo de assunto, deixando a voz alegre e leve. Dou meio passo para trás, e sua mão cai do meu rosto.
– Minha mãe vem me visitar no fim de semana. Vai passar alguns dias comigo e depois ela viaja para o norte para visitar a irmã. – seu rosto se torna quase cômico quando ele acrescenta: – Estou limpando a casa a semana toda.
Solto uma gargalhada, é um alívio. Joseph sorri como se tivesse conseguido alguma coisa.
– Está com medo dela? – pergunto.
– Da minha mãe? Claro. – ele me olha como se eu fosse idiota. – Ela é adorável e tudo mais, mas, se eu não arrumar a casa antes de ela me visitar, ela insiste em passar todo o fim de semana limpando. Tem coisas lá que eu prefiro que ela não veja.
Isso soa interessante.
– Que tipo de coisa?
Ele troca o apoio dos pés.
– Eu não sei, apenas coisas. Pinturas e tal. Não gosto que ela fique vendo.
Levanto as sobrancelhas.
– Os nus?
– Você tem uma mente suja, sabia disso? – ele balança a cabeça, mas o sorriso em seus lábios me diz que está brincando. – O que faz você pensar que tenho um apartamento cheio de nus?
Seu sorriso é contagiante. A conversa é tão natural, a provocação suave.
– O que mais você pode estar escondendo da sua mãe?
Ele se aproxima de mim, e seu cabelo escuro cai sobre a lateral do rosto quando ele inclina a cabeça. Roça minha bochecha quando pressiona os lábios no meu ouvido.
– Talvez eu tenha um quarto vermelho da dor.
Há algo sobre a maneira como ele sussurra que faz meus dedos dos pés se curvarem. Não tenho certeza se é a sensação física do sopro de sua respiração na minha pele sensível, ou se é o fato de que ele está falando de um jeito sexy no meu ouvido.
Um jeito sexy, engraçado.
Eu recuo e levanto as sobrancelhas.
– Se você pode pagar para ter um quarto vermelho da dor no centro de Nova York, você está, obviamente, ganhando mais dinheiro do que eu pensava.
– Ainda não me tornei nenhum Damien Hirst. Vamos chamar de um armário meio rosa, de um leve desconforto.
Esse eu gostaria de ver.
– Por que você não vem jantar amanhã à noite? – ele quase tropeça nas palavras. – Você e Simon. Tenho certeza de que minha mãe adoraria ver que tenho alguns amigos por aqui.
– Você cozinha?
– Eu tento. Já fui conhecido por não arruinar completamente um bife. – ele está olhando para mim com curiosidade, como se eu fosse um quebra-cabeça que ele está tentando resolver. – Provavelmente não vai estar nos padrões que você e Simon estão acostumados, mas...
– Simon vai passar o fim de semana fora – digo de repente.
– E você? Você está livre? – sua voz é baixa. – Posso fazer bifes para três com a mesma facilidade com que faria para quatro pessoas.
Graças a Deus. A mãe dele vai estar lá. Se os ossos pudessem suspirar, os meus fariam isso agora, porque o alívio que sinto é palpável. Estou interpretando coisas que não existem, vendo complicações onde há apenas simplicidade. Um amigo, sua mãe e um jantar, nada mais.
– Parece bom. A que horas você me quer?

essa Charlotte é uma fofa mas ao mesmo tempo ela fica triste por causa da mãe.
e a Demi já não está mais conseguindo resistir ao Joseph hahaha.
imagine o Simon nesse jantar, acho que não daria certo.
esse jantar promete é o que eu posso dizer.
prometo que logo ocorrerá o beijo dos dois.
me digam o que acham nos comentários, ok?
espero que gostem do capítulo, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

6 comentários:

  1. Aáaaa que capítulo perfeito
    To amando essa fic.
    Como vc pode para ai quero outro capitulo aaaaaa mds o q sera q vai acontecer nesse jantar, tomara q role o beijo de Jemi. To ansiosa pra q Jemi se pegar kkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fico feliz que esteja gostando amor.
      O que eu posso garantir é que não vai rolar o beijo ainda no próximo capítulo porém acontecerá algumas coisas entre Joseph, Demi e a mãe dele neste jantar.
      Mas prometo que o beijo está chegando hahaha.
      Vou postar novo capítulo hoje.
      Beijos, Jessie.

      Excluir
  2. Perfeito!!!! 💜💜💜

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fico feliz que esteja gostando amor.
      Vou postar novo capítulo hoje.
      Beijos, Jessie.

      Excluir
  3. Não vejo a hora da Demi se separar do simon kkk quero meu jemi

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Suas preces estão perto de serem atendidas porém terão muitas coisas ainda para acontecerem.
      Jemi está perto de acontecer, prometo.
      Vou postar novo capítulo hoje.
      Beijos, Jessie.

      Excluir