23/12/2017

begin again: capítulo 29


Friends

Joseph volta para a clínica na semana seguinte. Estou sentada na mesinha no canto da classe, fazendo planos para os lugares dos convidados no evento beneficente. Entre o bufê, leilões e entretenimento, não está me sobrando muito tempo para dormir. Talvez por isso eu não o note de imediato. Estou muito ocupada em resolver a situação dos O’Donahue e mudando-os para uma mesa vazia mais perto do palco.
– Oi. – sua voz é baixa, mas há um ar de superioridade em seu andar quando ele entra na classe. Não parece ser a caminhada da vergonha.
– Você deveria ter ligado – digo. – Eu teria preparado um novilho gordo.
Ele olha para baixo e sorri mais.
– Sempre achei que você fosse uma novilha magra.
Ele me pega de surpresa, não pela súbita reaparição, mas também pelo tom leve de brincadeira. Sua resposta súbita é confusa, mas há algo sobre ela que acende uma pequena chama dentro de mim. Balanço a cabeça, olho para baixo para que ele não possa ver meu sorriso e, lentamente, escrevo o nome dos O’Donahue em sua nova mesa.
Aja normalmente, digo a mim mesma.
– Então, o que você estava planejando fazer hoje? – ainda estou olhando para a mesa, mas meu sorriso não sumiu. Quando finalmente olho para ele, Joseph está sentado sobre a mesa, olhando o papel.
– O que é isso? – diz, ignorando a pergunta.
– Planos para o evento beneficente da clínica. Estou tentando descobrir o melhor plano de lugares para os convidados. Os pobres Smithson já foram mudados de lugar três vezes.
Ele ri e puxa o papel em sua direção.
– Onde você me colocou?
– Você vai?
– Vou, a Elise me convidou. – ele percebe minha sobrancelha levantada e rapidamente acrescenta: – Alguns de nós, da galeria, vamos. Ela também me pediu que doasse uma pintura para o leilão. Eu ia falar com você sobre isso.
– Sobre o quê? – ainda estou chocada simplesmente por ele estar aqui, que dirá falar comigo.
– Sobre o tipo de pintura que eu deveria doar. Se há alguma coisa em particular que você está procurando.
– Eu não sei. Eu...
– Ei, eu tenho uma ideia, por que você não vem e dá uma olhada no ateliê? Posso lhe mostrar uns trabalhos que tenho feito e alguns dos meus desenhos antigos. Você pode me ajudar a escolher qual deles doar. – ele me olha com expectativa.
– O quê? – alguns dias atrás ele estava me dizendo que não poderia suportar me ver de novo. Agora, aqui está ele, sentado na minha mesa, um sorriso sexy brincando em seus lábios. Sei que deveria preferir o Joseph convencido ao Joseph devastado que vislumbrei antes, e prefiro. Porém, ainda não consigo descobrir o que causou tal transformação. – Não sei se tenho tempo.
Ele se inclina para frente até seu rosto ficar a centímetros do meu, tão perto que posso sentir sua respiração aquecendo meu rosto.
– Arranje tempo – ele sussurra, e é preciso todas as minhas forças para não estremecer. Ele não perdeu nada de sua potência nas poucas semanas em que fiquei sem vê-lo; se posso dizer alguma coisa, penso que ele está mais atraente do que nunca.
Penso sobre todas as coisas que eu ainda tenho de fazer: as visitas ao hotel onde vai acontecer o evento, reuniões com os músicos e organização da impressão de material. Mal terei um minuto livre para mim mesma nas próximas duas semanas.
Droga, vou arrumar tempo. Claro que vou.
– Está bem.
Só posso descrever seu sorriso resultante como “convencido”. Tento ignorar o efeito que tem sobre mim. Tento esquecer a última vez em que estivemos juntos em um ateliê, quando ele me colocou de costas em uma mesa e envolveu minhas pernas em seus quadris. Reprimir essas memórias não é tão fácil assim. Estou quase aliviada quando ele desce da mesa e caminha até a porta para pegar uma caixa de materiais. Eu me pego acompanhando-o com olhos arregalados, observando a forma como a parte de trás de sua calça jeans fica
justa quando ele se abaixa, querendo que sua camiseta suba o bastante para eu ver sua pele.
– Pensei que a gente poderia estudar algumas obras do Klimt – ele diz em voz alta, mas quase absorvida pelo papelão. É o suficiente para eu me recompor e me lembrar de onde estamos.
– Eles vão adorar as cores – digo. – Mas não sei se os garotos vão gostar dos penteados.
Vinte minutos mais tarde, as crianças entram de uma vez. No início, a atenção delas é tomada pela súbita reaparição de Joseph. As reações vão desde prazer até silêncio, dependendo da idade e do que eles entendem como uma percepção descolada. Cameron faz um aceno de cabeça, o que é praticamente o Oscar de reconhecimento dos garotos descolados, e me lembro de algo que tenho vontade de perguntar a ele desde a semana passada.
– Cameron – digo, quando chego à sua mesa. – Posso lhe pedir um favor? Com um gesto dramático, ele levanta uma sobrancelha e pisca com o outro olho.
– É só pedir.
– Não esse tipo de favor, Cameron. – Suspiro. – Você mora no mesmo condomínio da Charlotte, não mora?
Ele imediatamente parece suspeitar.
– Moro.
– Você acha que poderia ficar de olho nela? Me dizer se acontecer alguma coisa, ou se você vir algo estranho?
– Quer que eu fique espionando?
– Não – respondo, apesar de ser exatamente isso. – Só quero que você cuide dela e me diga se vir algum homem entrando no apartamento da mãe dela.
Ele aperta os olhos.
– Por que eu deveria fazer isso?
– Porque você está me devendo uma? – sugiro. – Porque estou preocupada com ela e quero saber se ela está bem?
Ele esfrega o queixo com o polegar e o indicador, como se estivesse pensando no meu pedido.
– O que eu ganho em troca?
– Ah, não sei, talvez a consciência de que você está fazendo algo de bom para alguém? Ou, se preferir, você pode pensar nisso como retribuição por eu ter ficado com você por horas numa delegacia de Nova York, quando eu poderia estar num jantar.
– Oh, vai jogar na cara mesmo? Lamento ter arruinado sua noite, Vossa Majestade.
– Você está perdoado. Ou vai estar se fizer isso para mim.
Ele dá um suspiro exagerado.
– Tá bom, tá bom. Vou ser seu espião, já que você insiste. Posso chamar você de Srta. Money penny?
Eu tento não rir.
– Não.
Um beicinho simulado.
– Dirigir um Aston Martin?
– Nem pense nisso. – começo a ir embora.
– Posso comer um monte de mulheres e participar de perseguições de lancha? – ele diz em voz alta, atrás de mim. Desta vez, escolho ignorá-lo, mas é quase impossível esconder o sorriso. Cameron pode ser um moleque insolente, mas não consigo deixar de gostar dele.
Quando a aula termina, as crianças saem umas por cima das outras, ruidosamente, gritando e se empurrando em um esforço de serem as primeiras a passar pela porta. Cameron me dá uma piscadela exagerada, e Charlotte corre e joga os braços em volta da minha cintura.
– Você ficou sabendo? – pergunta ela, sem fôlego. – Vou ficar na casa da minha mãe neste fim de semana. Ela disse que vou morar com ela logo, logo. – Charlotte olha para mim, rosto iluminado, olhos brilhantes. Sinto uma pontinha de vergonha pela forma como persuadi Cameron a ficar de olho nelas.
– Fiquei sabendo, você está animada? – tento ecoar seu entusiasmo, mas soa falso para meus ouvidos cansados. Essa sensação incômoda no meu interior simplesmente não quer desaparecer.
– Mal posso esperar. Minha mãe diz que podemos decorar meu quarto e comprar uma colcha nova.
Está vendo?, digo a mim mesma. Nenhuma menção a Darren. Não sou insensível a ponto de abafar seu entusiasmo com minhas preocupações.
– Uau, e de que tipo você vai comprar?
Ela dá de ombros.
– Não sei, mas com certeza alguma coisa rosa. Eu amo rosa.
Sua afirmação do óbvio me faz sorrir. Estou prestes a responder quando sua assistente social coloca a cabeça na porta e olha para Charlotte.
– Você está pronta? Tenho um táxi esperando lá fora.
– Desculpe. Fui eu que a segurei aqui. – mostro um sorriso e pego um pedaço de papel da minha mesa, rabisco apressadamente o meu número de celular e entrego à Charlotte. – Aqui, guarde este número com você para o caso de precisar de alguma coisa – digo, tentando manter a voz leve. – Você pode me ligar a qualquer hora e depois me contar qual colcha você escolheu.
Ela enfia o papel no bolso e sai correndo. Faço uma aposta comigo mesma de que vai acabar na máquina de lavar ao anoitecer, com a tinta escorrendo e se misturando na água enquanto gira e gira. Eu daria um celular a ela se pudesse, um com meu número na discagem rápida, mas seria um pouco estranho. Muito estranho. De qualquer maneira, eu não teria como fazer isso.
– Você está bem? – Joseph para ao meu lado, com os braços cheios de latas de tinta. – Parece a quilômetros de distância.
Apenas uns quinze quilômetros, eu acho. Em um condomínio de concreto caindo aos pedaços, onde pessoas podem ser espancadas e quase morrer e seus vizinhos nem mesmo notarem. Onde as crianças exibem contusões como braçadeiras e ninguém nem pisca.
Respiro fundo.
– Estou bem. Só tenho coisas demais para fazer nas próximas semanas. Não sei como vou conseguir encaixar tudo.
– Posso ajudar com alguma coisa?
– Você é bom em planejamento de lugares?
– Uma merda? – ele oferece. Tento não rir.
– Em lidar com gerentes de hotel, gente com frescura para comer, músicos, gráficas? – começo a desfiar minha lista de desgraças. – Criar catálogos de leilões...
– Bom, com isso eu posso ajudar. Já trabalhei em exposições suficientes para saber catalogar.
Olho para ele diretamente nos olhos.
– Quem é você e o que você fez com Joseph Jonas? Sabe aquele idiota malvado, mal-humorado, que não queria responder minhas mensagens?
– Estou tentando ser seu amigo – ele admite. – Eu disse que seria e fracassei absurdamente, então estou tentando uma segunda vez, amiga.
A forma como ele diz dispara pequenos impulsos de eletricidade que percorrem minha espinha de cima a baixo. Ficamos ali por um instante, olhando um para o outro. Me sinto idiota, porque não consigo pensar em nada para dizer em resposta. Assim, em vez disso, fico ali parecendo tonta e tentando não rir.
– Posso acompanhá-la até lá fora? – pergunta ele. Por um momento, penso em cavalheiros vitorianos cortejando senhoras acompanhadas por damas de companhia.
– Não... eu... hum... tenho que terminar aqui. Vou demorar pelo menos umas duas horas.
– Sem problemas. Vou terminar de limpar e depois vou deixar você em paz.
Você está livre na segunda-feira para ir ao ateliê? Podemos escolher uma pintura e conversar sobre catálogos.
Sorrio antes de responder.
– Você acreditaria se eu dissesse que essa é a melhor oferta que recebi em semanas?

***

Depois de uma hora olhando para nomes no mapa de assentos, percebo que agora estou apenas olhando para o nada. Meus olhos estão ardendo e estou morrendo de fome, para não mencionar o fato de precisar de uma injeção de cafeína. Então sigo para a pequena cozinha no primeiro andar, na esperança de que alguém não tenha comido todos os biscoitos Bourbon antes de eu ter a chance de pegar alguns.
Não passo muito tempo na clínica fora dos horários estipulados. É diferente quando não há pacientes no edifício. Sem vida e estéril. Se minha vida fosse um filme de terror, esta seria a parte em que os zumbis invadem. 
Quase rio quando encontro Selena na cozinha. Embora ela não seja uma morta- viva, está com a aparência péssima. Há sombras escuras debaixo de seus olhos, e seus lábios estão secos e rachados. Parece que ela não tomou líquido nenhum durante semanas.
– Ei, você está bem? Parece horrível. – claro, eu lamento imediatamente a diarreia verbal.
Seu rosto se enruga.
– Estou grávida.
Por um momento, minha respiração enrosca na garganta.
– Parabéns! Ai, meu Deus, não posso acreditar. – faço menção de abraçá-la, mas ela se inclina sobre a pia e vomita. Afasto seu cabelo do rosto enquanto espasmos reviram seu estômago. Mesmo que não saia nada, sinto náuseas de solidariedade.
– Pobrezinha – murmuro. – Há quanto tempo isso vem acontecendo?
– Uma semana – diz ela, entre espasmos. – É uma coisa horrível. Ninguém fala o quanto faz a gente passar mal.
– Mas você vai ter um bebê! Isso é maravilhoso. – acaricio seu cabelo enquanto ela limpa a boca. Não há nem mesmo um traço de ciúme em mim a respeito de seu estado de gravidez. Apenas entusiasmo, ansiedade e um monte de compaixão. Ela parece mal de verdade.
– Eu sei. Eu deveria estar animada e correndo por aí, mas só me sinto péssima o tempo todo. Quem chamou isso de enjoo matinal era um idiota, ou um mentiroso.
– Você pode tomar alguma coisa para isso?
Ela nega com a cabeça.
– O médico diz que é normal. Na verdade, ele chegou ao ponto de dizer que é um bom sinal, porque estudos mostram que mulheres que sentem enjoo são menos propensas a sofrer aborto.
Tento não rir da expressão no rosto dela. Uma mistura de horror e raiva, com uma pitada de ansiedade.
– Se os homens menstruassem e tivessem bebês, imagine como o mundo seria subpovoado.
– Você não está errada. – ela toma um gole de água, girando o pescoço como se para relaxar a tensão. – De qualquer forma, o que você está fazendo aqui tão tarde?
Enrugo o nariz.
– Coisas do evento.
– Ai, coitada de você. Faz a gente analisar o enjoo matinal de outro modo. – ela quase sorri. – Ainda assim, pelo menos você sabe que vai acabar em algumas semanas.
– Acabo de receber uma oferta de ajuda.
– De quem?
– Joseph. Ele parecia realmente... estranho, na verdade. Nada parecido com o cara que gritou comigo no telefone na semana passada. Ele foi atrevido, quase convencido. – enrugo todo o rosto, tentando a descrição correta. – Parecia que ele estava flertando comigo.
Selenase distrai com a claraboia, olhando-a como se fosse algo incrível.
– Selena?
Ela olha para mim. Sua expressão é quase culpada.
– Nicholas pode ter contado a ele sobre você e Simon se separarem – ela confessa.
Oh.
Acho que essa poderia ser a explicação. O tom descontraído. A maneira como ele sorriu para mim e me chamou de amiga.
– Espero que ele não tenha tido a ideia errada – digo. Selena sabe que não estou procurando nada, nem ninguém, não agora, quando ainda estou sob o teto de Simon. Estamos tentando manter as coisas amigáveis. Partir para outra tão depressa seria errado.
Ela balança a cabeça, e noto um pouco de cor voltando ao seu rosto.
– Ele não iria tentar nada. Ele sabe que você está vulnerável, e não acho que Joseph seja um idiota. Ele se sentiu muito culpado sobre beijá-la e depois lhe dar um gelo.
– Não quero que ele se sinta culpado. Eu só... – o que eu quero? Não sei mais.
Tudo o que sei é que o retorno à nossa amizade fácil de hoje foi como encontrar um farol em meio a uma tempestade. Me ancora e me levanta ao mesmo tempo. Vê-lo me deixa mais feliz do que estive em semanas. Se pudermos ser amigos, estou plenamente disposta. – Não quero dar falsas esperanças a ele, eu acho.
– Você não está fazendo isso. Não vai fazer. – ela parece muito certa... adoro a crença que ela tem em mim. Eu só queria ter a mesma certeza.

como dito antes voltei com mais um capítulo para vocês.
Joseph voltou e agora os dois voltaram a ser ''amigos''.
será que isso irá durar por muito tempo? acho que não.
me digam o que acharam nos comentários.
feliz natal meus amores e obrigado por tudo.
espero que aproveitem o capítulo, volto em breve.

3 comentários:

  1. Amei!!!! Feliz natal, linda!!! 💜💜💜💜

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    1. Obrigada amor, fico muito feliz que tenha gostado capítulo.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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