23/01/2017

heartbeat: capítulo 20


Mestre da trapaça

Joseph sentiu as mãos dela deslizando pelo seu pescoço, delineando os músculos do peito e, enfim, avançando abaixo do abdômen. Era impossível não sorrir. Enquanto a mão mergulhava dentro da calça de moletom e a abaixava, ele sentiu os cabelos sedosos caírem sobre seus quadris nus. Joseph respirou fundo, enchendo os pulmões, quando a língua dela lambeu seu membro endurecido, fazendo círculos lânguidos na cabeça. Com os olhos ainda fechados, ele a agarrou pelos cabelos enquanto a cabeça subia e descia a boca envolvendo cada centímetro dele, a língua ávida lambendo seus fluidos. Podia ouvir o ruído de cada sugada sacana e aquilo o estava levando à loucura. Com uma enorme necessidade de ver a mulher que adorava chupando-o até levá-lo à perdição, ele se ergueu sobre os cotovelos e deparou com seu pior pesadelo a fitá-lo, os olhos cheios de malícia enquanto continuava sua exploração.

Gina.
Joseph pulou da cama, apenas para se dar conta de que era um pesadelo e nada mais.
Penteando os cabelos molhados com os dedos, suspirou de alívio. O corpo começou a suar frio enquanto os olhos vasculhavam o quarto vazio. Com o coração disparado, sentou-se na beirada da cama antes de ir até a sala.
– Gina, você precisa se levantar – gritou, passando para a cozinha, onde preparou um café forte e muito necessário.
A ideia de acrescentar uma bebida alcoólica à caneca lhe pareceu atraente, considerando a confusão que se encontrava em seu sofá, mas ele logo a dispensou. Na noite anterior, antes de dormir, Joseph telefonara para o irmão de Gina e descobrira que toda aquela história era uma grande mentira, uma espécie de truque doentio para tentar reconquistá-lo ou extorqui-lo. O irmão confirmara que o pai, de fato, estava enfiado em alguma confusão por causa de jogo, mas que estava vivo e bem, escondido no México.
Gina resmungou alguma coisa inaudível e puxou o cobertor sobre o corpo enquanto dava as costas para ele, dispensando-o com a mão como se Joseph não passasse de um terrível incômodo naquela manhã de segunda-feira.
– Eu estou falando sério. Você precisa se levantar. Não vamos esquecer que você tem um funeral para planejar. E, a esta altura, considerando o mau humor que conseguiu despertar em mim, talvez não seja o do seu pai.
Ele pegou uma caneca e olhou o relógio. Eram sete e quinze. Gina não se mexeu, então ele achou que era hora de ser mais enérgico.
– Nunca agredi uma mulher, mas você está me fazendo questionar meu senso moral. Levante-se. Agora.
Isso chamou a atenção dela. Lerda, Gina sentou-se e esfregou os olhos.
– Posso saber por que você está com tanta pressa de me tirar daqui?
– Você nunca deixa de me surpreender – bufou ele, balançando a cabeça. Tomou um gole de café.
Ela se levantou do sofá e caminhou até a cozinha, ainda sem os jeans.
– Ora, vamos, Joseph. – ela roçou a mão pelo queixo dele, que se afastou com um pulo. – O que há de errado? – perguntou ela, os olhos esbugalhados. – Você adorava quando eu o tocava. Está agindo como se eu estivesse contaminada.
Ele pôs a caneca sobre a bancada, as sobrancelhas unidas numa carranca.
– Tudo em você está contaminado – sussurrou ele por entre dentes cerrados. – Eu tenho que tomar banho. Quando eu sair, não quero vê-la aqui ou vou expulsá-la à força.
Ele ia se afastando, mas ela segurou seu braço.
– Eu ainda amo você – declarou. Joseph se desvencilhou. – Deixar você foi o maior erro da minha vida, Joseph. Por favor. Podemos consertar isso.
– Como eu disse, se você ainda estiver aqui quando eu sair do chuveiro, vai ser expulsa à força. – o tom deixava claro que ele não estava brincando. Joseph se encaminhou para o quarto, mas, antes de entrar, virou-se outra vez para Gina. – Aliás, eu estou completamente apaixonado por outra pessoa, nas nuvens, tipo “não me acordem desse sonho sensacional”. Ela é tudo o que você não é e mais um pouco. Então acho que lhe devo um agradecimento. Obrigado, Gina, de verdade. Obrigado por ter me largado e fodido minha vida por um tempo. Foi mesmo a melhor coisa que você poderia ter feito por mim. –com um sorriso cretino, ele fez uma reverência, deu uma risada e entrou no quarto.
– Vai se foder, Joseph – disparou ela, arregalando os olhos diante daquela rejeição derradeira.
Com isso, ele fechou a porta, mas não sem antes deixar escapar uma última gargalhada rouca.

***

O aroma celestial de bagels nova-iorquinos do café Everything Bagels flutuava dentro do táxi que Selena e Demi dividiam. Com o granizo pesado batendo contra o veículo, martelando como se fossem moedas caindo do céu, Demi precisou se esforçar para não enfiar a mão dentro do saco e comer um.
– Dá para ouvir seu estômago roncando mais alto do que o granizo batendo no carro – disse Selena, e entregou uma maçã à amiga. – Tome, pelo menos coma isto enquanto não chega à casa dele.
– Mas quero tomar café da manhã com ele – rebateu Demi, aceitando a maçã. – Foi por isso que comprei os bagels. São os favoritos de Joseph.
Demi olhou pela janela e registrou toda a bagunça na qual Nova York se transformara da noite para o dia. Arados trabalhavam furiosamente, tentando remover aquela mistureba glacial. Considerando que eram os dois últimos dias de outubro, Demi se chocara com a implacável mudança de tempo, embora também tivesse ficado animada. Ao acordar, ouvira um recado no celular dizendo que a escola estaria fechada naquele dia. O plano era uma visita surpresa à casa de Joseph. Sabendo que ele não iria para o trabalho até mais tarde, estava contente por ainda ter algumas horinhas com ele.
Selena inclinou a cabeça para o lado e riu.
– Até parece que vocês dois vão comer. Coma logo essa maldita maçã.
Balançando a cabeça, Demi deu uma mordida.
– Nós vamos comer, sim... – ela fez uma pausa, erguendo uma das sobrancelhas numa expressão travessa. – E vou mandá-lo para o trabalho todo feliz... depois que eu deixá-lo se refestelar com outras coisinhas deliciosas.
As duas riram. Sem se dar conta de como estava, de fato, faminta, Demi devorou a maçã.
– Argh, estou com tanta inveja por você ter o dia livre – grunhiu Selena. – Talvez eu me torne professora só para poder matar aula em dias como este.
– Você ficaria infeliz. Adora trabalhar na galeria de arte.
– Eu poderia me tornar professora de arte. – Selena deu de ombros e enfiou a mão no saco de bagels. Pegou um e deu uma mordida. – Pensando bem, você tem razão. Eu ficaria mesmo infeliz. Não sou muito boa com crianças. – Demi balançou a cabeça. – Ei, amigão – gritou Selena para o motorista, bruscamente. – Eu fico nesta esquina aqui. Talvez você queira ir mais devagar, considerando que as ruas estão cobertas de morte em potencial.
O motorista de aparência durona revirou os olhos.
– Trouxe você ao seu destino no horário certo – disse ele, parando diante do trabalho de Selena. – Você ainda está viva, então não tem nada com que se preocupar. São vinte e dois e cinquenta. Sem a gorjeta.
Selena retribuiu o revirar de olhos e começou a vasculhar a bolsa.
– Está bem, está bem, eu sei como isso funciona. Fique com o troco.
Ela lhe entregou 30 dólares e o motorista abriu um sorriso largo. Ajeitando alça da bolsa no ombro, Selena se virou para Demi e deu um beijo no rosto dela.
– Tudo bem, além de tomar café da manhã e depois dar para seu namorado milionário até não poder mais, quais são seus planos para o dia?
A declaração de Selena pareceu despertar o interesse do motorista, que agora as olhava pelo retrovisor com um sorriso malicioso.
Demi ficou boquiaberta e de olhos arregalados.
– Caramba, Selena!
– Bem, é a verdade. E você vai ter um bom tempo com ele, considerando que ele trabalha pertinho daqui. Sendo assim, aproveite, amiga.
– Muito bem, estou dando essa conversa por encerrada agora mesmo. – Demi inclinou-se por cima de Selena para abrir a porta e praticamente a empurrou para fora do táxi. – Saia, sua louca.
Rindo, Selena pulou para fora do carro quase escorregando na calçada lisa demais.
– Pelo menos veja se consegue comprar comida para a gente.
– Pode deixar, eu faço as compras. Nos vemos mais tarde. Tenho umas coisas para fazer e às cinco vou encontrar Joseph no escritório dele. Vamos sair para jantar e tentar resolver essa confusão toda com Alex.
Enfiando a cabeça de volta no táxi, Selena segurou o queixo de Demi entre as mãos, os olhos cheios de carinho.
– É uma maravilha que vocês estejam tentando resolver essa bagunça toda. Não se esqueça disso. – ela deu outro beijo rápido na testa de Demi, afastou-se do veículo e fechou a porta.
Suspirando, Demi a observou caminhar até a galeria. Menos de dois minutos depois, foi sua vez de vasculhar a bolsa e pagar o motorista pelo curto trajeto. Agradeceu e saltou do táxi com cuidado. O porteiro se aproximou dela rapidamente, oferecendo a mão para ajudá- la a cruzar a calçada coberta de lama e neve. Fuçando dentro da bolsa mais uma vez, ela fez menção de lhe dar uma gorjeta, mas ele recusou, explicando que ficava mais do que satisfeito em ajudá-la. Depois de lhe agradecer, Demi atravessou a portaria e se dirigiu aos elevadores. Durante a subida, não pôde deixar de lembrar como havia se sentido nas vezes anteriores, naquele mesmo elevador. Dessa vez, apesar do estômago estar dando cambalhotas de felicidade, sentia-se tranquila.
Depois de passar pelo corredor até a cobertura de Joseph, Demi tocou a campainha. A tranquilidade que vinha sentindo de repente se transformou num misto de choque e confusão quando a porta foi aberta. Com o coração aos pulos na mesma velocidade de uma britadeira, os olhos passearam pela mulher que atendeu a porta vestindo apenas um suéter e calcinha.
Com a respiração acelerada e o corpo coberto de suor, Demi conseguiu perguntar:
– Quem é você?
Inclinando a cabeça, Gina olhou Demi de cima a baixo.
– Eu sou Gina. E quem é você?
Em algum lugar do fundo da mente de Demi, o comentário feito por Joseph durante o
jogo de beisebol veio à tona: “Além do mais, o nome dela é Gina e o meu, é claro. Eu acho que era um aviso de que estava destinado a não funcionar.”
O estômago de Demi se revirou de dor quando percebeu de quem se tratava. Joseph a fizera sentir que tinha alguma chance ao seu lado, mas na verdade, não tinha. Não podia competir com o maior amor da vida dele, com a mulher que ele amara tanto a ponto de querer se casar com ela. Sem dizer mais nada, Demi se virou depressa e voltou aos elevadores. Não iria falar com ele. Não conseguiria. O orgulho manteve seus pés em movimento, velozes.
– Ei – gritou Gina. – Você vai responder à minha pergunta ou não? Quem é você?
– Pelo visto, não sou ninguém. Estava com o endereço errado – respondeu ela, com muita vontade de chorar.
Com muita vontade de saber que não estava anestesiada. Que ainda sentia alguma coisa.
No fim das contas, não precisava se preocupar com a possibilidade de não mais sentir, pois o coração parecia ter sido esmagado como uma flor imprensada entre as páginas de um livro velho. Sentia toda a dor. Ela fazia um esforço tremendo para não vomitar. Seu espírito estava derrotado, aos pedaços, espancado e arrasado pela agressão provocada pelo homem no qual fora ingênua o bastante para confiar. Pior, fora ingênua o suficiente para acreditar que ele a amava.
Quando o elevador chegou ao térreo, apesar de todo seu esforço para controlá-lo, o estômago de Demi resolveu se rebelar. Bem ali, no meio da portaria apinhada de gente, ela
deixou cair o saco de bagels enquanto as convulsões a dominavam, mesmo depois de ter vomitado. Envergonhada, registrou ao longe uma mulher arquejando de choque. Cobrindo a boca com a mão, Demi fugiu do prédio. O ar gelado a golpeou, mas não ofereceu alívio algum para o suor que lhe cobria a pele.
Enquanto o mundo zumbia à sua volta com os pedestres percorrendo as ruas apinhadas, Demi lutava para organizar os sentidos e engolir a dor. Mas suas feridas clamavam alto, como os ventos velozes que uivavam na tempestade. Apertando a bolsa, flagrou-se andando a esmo, com pensamentos confusos. Ao dobrar a esquina, encontrou uma lanchonete. Entrou e sentou-se a uma mesa, as mãos trêmulas e aquele tremor nada tinha a ver com a baixa temperatura.
Tirando o casaco salpicado de granizo, ela correu os dedos pelos cabelos molhados e só então perdeu completamente o controle. As lágrimas escorriam sem parar enquanto ela tentava encontrar algum sentido no que acabara de acontecer. Tentou encontrar sentido na percepção tóxica, turva de quem Joseph fingira ser. Aos seus olhos, ele era o mestre da trapaça, que não lhe oferecera nada além de palavras manchadas por mentiras e traição. O longo caminho que deviam trilhar juntos agora estava coberto pelos cacos do seu coração e ele os posicionara de maneira estratégica para que ela tropeçasse e caísse. Ele era tudo o que ela queria e, ao que parecia, ela não era nada do que ele precisava.
Nada.
Ele havia lhe mostrado o que ela de fato era: só mais um preenchedor de vazios. Demi não soube quanto tempo ficou sentada naquela lanchonete, chorando, indiferente aos clientes que a olhavam e comentavam. Quando pegou um táxi para casa, estava destruída. O coração parecia ter passado por um moedor de carne. Com os olhos embaçados pelas lágrimas, ela entrou no quarto, tirou as roupas encharcadas e vestiu uma camiseta e calça de moletom. Depois de escovar os dentes, foi para a sala de estar e afundou no sofá, o corpo ainda tremendo.
Joseph apunhalara seu coração. Ele lhe rasgara o peito com grande precisão, expondo o tecido vermelho e pulsante com suas mentiras e não havia pontos suficientes para fechar a ferida. Ela se entregara ao homem com quem achara que ficaria. No entanto, nada daquilo era real. Era apenas uma ilusão. Confiara nele e achava que o havia decifrado. Mas a verdade era simples. Por uma noite, tinha sido um fantoche nas mãos de Joseph e dançara ao som das lindas melodias que ele tocara. No entanto, nunca mais permitiria que ele voltasse a magoá-la.
Nunca mais.
Passou o dia todo ignorando as inúmeras mensagens de texto que ele enviou, dizendo-se muito animado para vê-la. Ele telefonou uma vez, mas ela dispensou a chamada, que foi direto para a caixa postal. E depois excluiu o recado sem nem ao menos ouvi-lo. Era óbvio que Joseph não sabia que tinha sido descoberto e isso só servia para deixá-la ainda mais enjoada.
Enquanto a mente tentava absorver aquilo tudo, uma batida suave soou à porta, retirando-a temporariamente do pesadelo criado pelas mentiras de Joseph. Com os reflexos entorpecidos, Demi se levantou do sofá. Abrindo a porta, o coração sofreu outro golpe devastador quando os olhos encontraram os de Alex. Ele só deveria voltar no dia seguinte.
Ela quis perguntar o que ele estava fazendo ali, mas as palavras congelaram em sua língua quando o silêncio prolongado envolveu a sala.
As palavras dele saíram suaves e relutantes enquanto a olhava no fundo dos olhos úmidos.
– Por favor... fale comigo.
Incapaz de se mexer, Demi olhou para ele sem conseguir que um pensamento coerente lhe passasse pelos lábios. Timidamente, ele ergueu o braço e colocou a mão trêmula na bochecha dela, enxugando suas lágrimas. Embora os pés tivessem permanecido plantados no chão, ela desabou quando o corpo e a mente não aguentaram a pressão feita pelos dois homens. Alex estendeu o braço para apoiá-la, segurando Demi com força enquanto encostava a testa na dela. Ela cambaleou para trás e o som da porta se fechando ecoou pelo apartamento.
– Demi, me perdoe, gata. – caindo de joelhos, Alex passou os braços pela cintura dela, encostando o rosto em sua barriga enquanto ele próprio começava a chorar.
Demi tremia ainda mais, o choro e a dor na voz de Alex quase a matando.
– Gata, eu juro, vou procurar ajuda. Vou parar de beber, Demi. Por favor, eu não posso perder você, gata. Não posso.
Demi achou que estivesse perdendo o juízo. Num determinado momento, Alex fora a
única razão pela qual ela se mantivera viva, mas aqui e agora, ele era um dos dois motivos pelos quais tinha vontade de morrer. Não queria dar poder a ele com suas lágrimas, mas a pior parte era que aquele homem de joelhos diante dela de fato a amava. Joseph, por sua vez, a havia testado e torturado com sua língua cruel e mentirosa, embora o coração de Demi ainda sofresse por ele. Sua mente disparava pensamentos conflitantes em todas as direções. Houvera uma época em que Alex fora o retrato da perfeição, mas tal imagem se estilhaçara e só restaram cacos uma colagem do que ele um dia parecera ser. Lutando para se manter à tona nas águas envenenadas nas quais afundara, Demi se deu conta de que não estava conseguindo lidar com nada daquilo.
Recuando com cautela, baixou os olhos para ele.
– Eu não posso... não consigo falar sobre isso agora – sussurrou, o corpo tremendo. – Você precisa ir embora, Alex. Por favor. Vá embora.
Ainda de joelhos, ele enterrou o rosto nas mãos. Seus soluços perfuravam os ouvidos de Demi e lhe causavam arrepios.
– Demi, por favor. Não vou sobreviver sem você. Se você me deixar, eu vou me matar. – ele ficou de pé, o corpo tremendo enquanto caminhava até ela. Ergueu as mãos para abarcar
seu rosto molhado. – Meu Deus, gata, por favor, me dê outra chance. Olhe só para você. Está tão arrasada quanto eu. Precisamos um do outro.
Quando Demi agarrou os pulsos dele, Alex encostou a testa na dela, os olhos intensos.
– Deixe-me consertar isto. Me dê uma chance de melhorar as coisas. Eu estava bêbado, Demi. Você sabe que eu nunca teria tocado em você. Nunca, gata.
– Por... por favor, Alex – gaguejou ela, balançando a cabeça. – Você tem que ir embora. Eu não posso...
– Não, gata, por favor, me escute – implorava ele com a testa ainda encostada na dela. – Não paro de pensar na primeira vez em que beijei você. Não paro de pensar na primeira vez em que fizemos amor. Você se lembra? Eu nunca mais vou deixar de lhe dar o devido valor, Demi. Por favor. – ela tentou falar, mas ele não deixou. Apertou os lábios nos dela. Ela
tentou se afastar, mas ele desceu as mãos até sua nuca, também chorando enquanto continuava suas súplicas. – Você se lembra do que sua mãe disse antes de morrer, Demi?
Dessa vez, ela se afastou. Seus olhos se estreitaram enquanto os soluços ficavam mais intensos e tentava recuperar o fôlego.
– Não se atreva a metê-la neste assunto, Alex. Não se atreva.
Ele deu um passo à frente, colocando as mãos trêmulas nas bochechas dela mais uma vez.
– Ela nos disse para cuidarmos um do outro. Ela nos disse para resistir a qualquer batalha mais difícil que a vida pusesse em nosso caminho. Disse para nunca desistirmos do nosso relacionamento. Esta é a minha batalha e você vai me abandonar assim, Demi? Deixe-me consertar isso – sussurrou ele, fungando. – Posso dar um jeito nas coisas e melhorar tudo para a gente. Posso voltar a ser como era.
Ela olhou para ele por um longo momento. As lágrimas que escorriam pelo seu rosto mais pareciam ácido, queimando a carne. Antes que pudesse responder, o som de chaves tilintando na porta fez com que eles desviassem o olhar um do outro.
Selena entrou no apartamento, o choque em seu rosto era palpável.
– O que você está fazendo aqui? – disparou ela, olhando duro para Alex.
Passando as mãos pelos cabelos, ele se afastou de Demi, a voz se alterando.
– Nem pense em encher a porra do meu saco agora, Selena.
– Deixa eu lhe dizer uma coisa – devolveu ela, aproximando-se dele, os gestos e o tom de voz deixando bem claro que ela não estava nem um pouco intimidada. – Se você não der o fora do meu apartamento agora mesmo, vou chamar a polícia. E só para mexer com você mais um pouco – sibilou ela, enfiando o dedo no peito dele –, vou me certificar de que o melhor amigo do meu pai, que por acaso é promotor público, não se esqueça do seu nome.
Mentalmente esgotada e com o estômago se contorcendo, Demi correu para o banheiro, caindo de joelhos diante do vaso sanitário. A bile vinha com violência, num refluxo, enquanto as lágrimas banhavam seus olhos.
– Você é um filho da puta! – gritou Selena para Alex, indo atrás da amiga no banheiro.
Ele a seguiu. Selena se postou atrás de Demi, segurando os cabelos dela para afastá-los do rosto. – Veja o que fez com ela! Agora saia daqui!
– Alex, por favor. – Demi conseguiu dizer enquanto o corpo continuava o ataque, o gosto acre fazendo a língua arder. – Ligo para você mais tarde, mas vá embora.
Ele entrou no banheiro, estendendo a mão para ajudar Selena a segurar os cabelos de Demi, mas Selena lhe deu um tapa para afastá-lo.
– Caramba, você ouviu o que ela disse? Saia, Alex!
Ele esfregou as mãos no rosto, olhou para Selena por um segundo e, com os ombros caídos e os olhos baixos, deixou o apartamento.
A porta batendo fez Demi dar um pulo. De pé, ela encostou na parede e tentou recuperar o fôlego. Carinhosamente, Selena a pegou pelo braço e a ajudou a chegar até a pia.
Abrindo a torneira, Selena embebeu uma toalha em água fria e a passou pelo rosto da amiga,
que continuava a soluçar. Depois de escovar os dentes, Demi abriu o armário, as mãos tremendo enquanto avaliava os vários remédios. Estava à procura de um em especial, um frasco de Valium que seu médico do Colorado lhe receitara depois da morte da mãe. Encheu um copo plástico com água e pôs um comprimido na boca, esperando que a levasse para longe daquele pesadelo, pelo menos por um tempo. Voltou à sala de estar.
Caindo no sofá, ela cobriu os olhos com o braço e tentou se recompor. Lembrava-se de ter se sentido dessa mesma forma apenas duas vezes na vida: no dia em que a mãe morrera e no dia do enterro. Os nervos de Demi estavam em frangalhos. Ela só queria desaparecer.
Selena sentou-se ao lado dela e ergueu as pernas de Demi sobre seu colo, a voz cheia de preocupação.
– Meu Deus, Demi, não consigo acreditar que ele veio aqui. Você está bem?
Sem tirar o braço de cima do rosto, ela fez que sim.
Selena suspirou, esfregando a perna da amiga.
– Espere só até o Joseph ficar sabendo. Vai dar um ataque. – ela olhou para o relógio. – Já são cinco horas. Não era para você encontrá-lo no escritório daqui a pouco?
– Eu não vou – disse Demi, engasgando e começando a chorar outra vez.
Selena franziu as sobrancelhas.
– Demi, o que houve?
– Quando cheguei à casa dele hoje de manhã, foi Gina quem abriu a porta – soluçou ela, se levantando do sofá. Entrou na cozinha, balançando a cabeça, ainda sem conseguir processar tudo aquilo. – Mal estava vestida. E o filho da puta ainda teve a coragem de passar o dia todo me ligando e mandando mensagens de texto.
Selena saltou do sofá, os olhos arregalados.
– Cacete! Como é que é?
– Eu não entendo – fungou Demi, pegando um guardanapo e assoando o nariz. – Estou me sentindo uma babaca, uma completa idiota. Ele me usou. – ela atirou o guardanapo no lixo e sentou-se à mesa da cozinha, as mãos cobrindo o rosto. Selena puxou uma cadeira e afastou os cabelos de Demi dos ombros. – Mas eu sei o que foi, Sel. Ele não conseguiu ficar comigo desde o começo, então virei um joguete doentio e perverso para ele conquistar.
– Você já falou com ele?
– É claro que não! Nem vou falar.
– Bem, vou ligar para esse escroto. Não consigo acreditar numa coisa dessas – bufou ela, levantando-se da cadeira. Acelerada, pegou a bolsa sofá e soltou um palavrão, baixinho.
– Não, Sel. Não quero que você ligue para ele. Joseph vai vir aqui e eu não consigo lidar com mais nada nesse momento.
Ela sacou o telefone, ignorando Demi. Olhou para o aparelho.
– Pelo visto, nem vou precisar.
Demi enxugou o nariz no dorso da mão.
– Como assim?
– Tenho quatro chamadas perdidas e duas mensagens de texto dele. – Selena as estudou, os olhos se arregalando. – Ele está vindo para cá.
– O quê? – Demi deu um pulo e se aproximou. Agarrou o telefone de Selena e verificou as mensagens.
Joseph: Eu liguei e mandei algumas mensagens para Demi. Você falou com ela hoje? Ela não me retornou. O sempre impaciente e um pouco tenso J.J.
Joseph: Esquece. Acabei de falar com seu irmão e ele disse que Alex voltou mais cedo. Estou indo para o seu apartamento. Saindo do escritório agora. J.J.
– Acho que você vai conversar com ele esta noite, Demi.
– Não. Não consigo lidar com ele agora. – Demi começou a andar de um lado para outro. Apesar do Valium, os nervos não estavam mais calmos. – Entre a vinda de Alex e tudo que aconteceu hoje, simplesmente não aguento, Selena.
– Bem, o que você vai fazer? – perguntou Selena, a voz suave. Aproximou-se e colocou a mão no ombro da amiga. – Ele enviou o último texto há vinte minutos. Mesmo com trânsito, vai chegar a qualquer momento.
– Diga a ele que estou doente, de cama ou algo assim.
– Amiga, se eu falar com ele, vou perder a cabeça. Eu adoro o Joseph, mas estou tão puta com ele que não vou conseguir ficar calada. Aí ele vai saber de tudo e ainda vai querer entrar e falar com você.
Sem hesitar, Demi atravessou a sala, pegou o celular na bancada e mandou uma mensagem de texto para ele.
Demi: Eu estou bem, Joseph. Estou em casa doente, de cama.
A resposta dele chegou relativamente depressa.
Joseph: Queria que você tivesse me avisado, docinho. Eu poderia ter tomado conta de você o dia todo. Chego aí em cinco minutos. Estou dobrando a esquina. Está precisando de alguma coisa? Te amo.
Balançando a cabeça, enojada, ela tentou abafar um soluço, mas de nada adiantou. Com as mãos trêmulas, mandou uma mensagem de volta.
Demi: Não venha para cá. Falo com você outra hora.
O texto seguinte não chegou tão rápido. Demi começou a ficar nervosa, até que ele respondeu.
Joseph: O que está acontecendo, Demi? Alex está aí com você? Sei que ele já voltou.
– Meu Deus, ele acha que Alex está aqui – soltou ela, limpando as lágrimas do rosto. – O que eu digo agora?
Selena suspirou.
– Demi, você precisa conversar com ele.
– Selena, não vou conversar com ele agora. O que escrevo de volta?
Demi não esperou a resposta da amiga. Entrou em pânico e mandou uma mensagem que esperava ter algum efeito.
Demi: Eu não estou em casa.
– Bem – começou Selena –, o que você disse a ele?
– Eu disse que não estava em casa. – ela atirou o telefone em cima da mesa. A ideia de triturá-lo em pedacinhos se tornava mais atraente a cada segundo. – Agora ele não virá até aqui.
– Ai, meu Deus, Demi. Agora mesmo é que ele vai vir.
– Por que viria aqui se não estou? – perguntou ela, na defensiva.
– O Joseph não é bobo, só por isso. – Selena foi até a cozinha pegar uma garrafa de água. – No máximo você conseguiu convencê-lo de que Alex está aqui com você.
– Ele não vai vir – retrucou ela, afundando no sofá.
– Amiga, eu estou dizendo, ele está vindo para cá.
Selena mal terminou a frase e uma batida soou à porta e como foi brusca. Com o coração acelerado, Demi pulou do sofá e foi até lá. Pelo olho mágico, viu Joseph no corredor.
– Puta merda – sussurrou.
Selena se aproximou.
– Eu avisei. O que vai fazer agora? – perguntou ela, a voz tão baixa quanto a de Demi.
– Diga a ele que menti sobre não estar aqui. Que estou realmente de cama e... – ela fez uma pausa, enxugando as lágrimas enquanto organizava os pensamentos. – Que eu não queria que ele me visse porque estou horrorosa, ou algo assim.
– E como você espera que eu o impeça de entrar? – sussurrou Selena com urgência.
Joseph bateu outra vez e Demi jurou ter sentido como se alguém apontasse uma arma para sua cabeça.
– Eu não faço ideia, mas não diga nada a ele sobre o que sei. Vou conversar com ele em breve. É que eu não consigo... – sua voz foi sumindo. Cobrindo a boca com a mão, Demi começou a chorar de novo.
– Demi, eu entendo, está bem? Não vou falar nada para ele. Vá para o seu quarto, apague as luzes e se enfie na cama. Vou tentar mantê-lo no corredor.
Sentindo o coração na garganta, Demi fez o que Selena dizia e correu para o quarto.
Selena abriu a porta, saiu para o corredor e a fechou às suas costas. Cruzando os braços, olhou para Joseph.
Joseph olhou para ela por um momento, a intuição lhe corroendo o estômago.
– O que diabos está acontecendo? Ele está aí dentro com ela?
– Não. Ele não está lá dentro com ela, Joseph. Ela está de cama, doente e muito sozinha. Acabou de dormir por causa de um remédio que lhe dei mais cedo.
– Em primeiro lugar, ela me mandou uma mensagem há menos de cinco minutos. Em segundo, por que ela mudou a história de repente?
– Bem, ela tem baixa tolerância a qualquer tipo de medicamento. E como eu disse, dei a ela o remédio uma boa meia hora antes de ela mandar a mensagem. – Selena respirou fundo.
– Respondendo à sua pergunta sobre ela ter modificado a história, digamos apenas que ela teve um dia horrível e que está com cara de merda. Ela não queria que você a visse assim.
Ele sorriu com ironia.
– Você acha que sou idiota, Selena? – mandou ele, surpreendendo-a. – Porque, se acha, está redondamente enganada. Se ela está lá dentro tentando fazer as pazes com ele, o mínimo que poderia fazer é me contar em vez de mentir, caralho!
– Já falei que ele não está aqui. Você me conhece o bastante para saber que não sou uma mentirosa dissimulada e intrigueira, Joseph. – deixando escapar um suspiro melodramático, ela olhou para as unhas. – É uma pena que eu não possa dizer o mesmo sobre certas pessoas que conheço.
Embora tivesse ficado confuso, Joseph percebeu que havia mais por trás do comentário de Selena, mas não estava disposto a lhe perguntar a respeito, não naquele momento. No entanto, iria se certificar, em definitivo, de que não estava sendo enganado. Passando por ela, estendeu a mão para a maçaneta e entrou. Com o coração batendo de forma irregular, examinou a sala de estar à procura de Demi.
– Eu já disse que ela está na cama, dormindo – repetiu Selena.
A palavra cama reverberou pela cabeça de Joseph como um rufar de tambores enquanto uma onda de náusea o dominava. Sem pensar e sentindo-se o psicopata paranoico
completo no qual tinha certeza estar se transformando, Joseph atravessou o corredor depressa até o quarto de Demi.
– Puta merda! Que porra você está fazendo, Jonas? – cuspiu Selena, indo atrás dele. – Ela está dormindo.
Pedindo a Deus que Selena não estivesse mentindo, ele abriu a porta de Demi, bem devagar. Uma luz tênue vinda da cozinha se derramou para dentro do quarto, mostrando que Demi, de fato, se encontrava sozinha na cama. Joseph teve certeza de que o suspiro de alívio que escapou de seus lábios e que saíra queimando seus pulmões a acordara. Respirou fundo, encostou-se à porta e passou as mãos pelos cabelos energicamente.
– Está vendo? Ela está dormindo, Joseph – sussurrou Selena. – Agora vamos. Ela não está se sentindo bem.
Joseph sentiu-se um perfeito idiota por não ter acreditado na mulher em quem deveria confiar.
Ele não podia sair. Ficou paralisado quando os ouvidos se saturaram com a respiração de Demi, a mesma que, havia menos de 24 horas, lhe dissera repetidas vezes que o amava. Por Deus, ele a adorava, mas, mesmo que apenas por um instante, duvidara do que ela lhe dissera. Não queria acordá-la, mas precisava tocá-la. Precisava sentir alguma parte do corpo de seu anjo. Apesar das súplicas de Selena, Joseph se viu atravessando o quarto. Aproximou- se da cama, onde Demi estava deitada de costas para ele. Um sorriso amargo se formou em seus lábios enquanto as pontas dos dedos penteavam os cabelos dela, com delicadeza.
Inclinou-se pertinho dela, os movimentos cuidadosos na intenção de não despertá-la enquanto lhe acariciava a bochecha com os nós dos dedos.
– Amo você, Demi – sussurrou antes de lhe beijar na cabeça com ternura. – Eu queria ter estado aqui hoje para cuidar de você, boneca.
Era tudo do qual ele precisava, só aquele pouquinho, e então seria capaz de dormir a noite toda.
Com a respiração se acelerando devido ao toque dele, desejado e indesejado, a cabeça de Demi berrava: Você me enfurece! Você me dá nojo! Você me despedaçou!, ao mesmo tempo que o coração gritava: Por favor, fique. Preciso de você na minha vida. Somos incríveis juntos. 
Uma lágrima quente escorreu pelo rosto dela enquanto as unhas cravavam nas palmas cerradas. Mas ela não se mexeu.
Ficou quietinha até ouvi-lo sair do quarto. Selena o acompanhou para fora do apartamento e para fora da vida de Demi. Soltando a respiração que vinha prendendo desde o instante em que ele entrara, Demi se virou. Com os olhos banhados em lágrimas, viu a silhueta de Selena à porta.
Ela ia entrando, mas Demi disse:
– Preciso ficar sozinha, está bem? Eu... desculpe por fazer você passar por isso, Selena. Eu... eu sinto muito – gaguejou enquanto chorava. – Muito obrigada. Mas simplesmente não consigo... não consigo falar sobre isso.
– Tem certeza de que vai ficar bem, Demi? – sussurrou Selena, a voz cheia de preocupação.
– Vou encontrar Justin daqui a pouco. Mas posso ficar em casa se você precisar.
Fungando, Demi balançou a cabeça.
– Não, pode ir. Vá se divertir. Eu vou ficar bem.
Selena ficou ali por um segundo, soltou um suspiro pesado e então fechou a porta lentamente.
Na escuridão completa, Demi enrolou os cobertores bem apertados ao redor do corpo trêmulo, a cabeça tentando absorver o dia cruel que tivera. 
Sono.
Precisava do sono como precisava de oxigênio, de água e de comida mas tinha certeza de que ele não viria. Não, o sono não seria seu amigo esta noite.
Em vez disso, a solidão, a mágoa, a confusão e a dor o substituiriam.

e agora? será que a Demi vai acreditar no Joseph depois de ter visto a Gina?
Alex voltou antes do que esperava, ele é um pé no saco hahaha
tadinho do Joseph :( o que acham que vai acontecer? comentem.
ate o próximo, bjs amores <3

2 comentários:

  1. Caracoles, Meu Deus odeio quando as pessoas não enfrentam logo os problemas o Joe não fez nada e a Demi nem coragem de conversa e colocar em pratos limpos antes de pensar e tomar decisões precipitadas que droga

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    1. É verdade, mas ela também está chateada com ele achando que ele ''fez'' alguma coisa.
      Muita coisa está por vim ainda e algumas não são nada boas.
      Vou postar hoje lindona, espero que esteja gostando. bjs <3

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