Todo dia eu pegava carona para o trabalho com a minha vizinha, uma garçonete de setenta
anos chamada Lori. Nós duas trabalhávamos no turno da manhã no Hungry Harry’s Diner e
odiávamos cada segundo. Lori trabalhava lá havia vinte e cinco anos e sempre me dizia que
seu plano B era se casar com um Chris podia ser o Evans, o Hemsworth ou o Pratt, ela não
era exigente. Todos os dias, a caminho do Hungry Harry’s, ela reclamava que estava cinco
minutos adiantada e dizia que o pior lugar do mundo para se chegar cedo era o trabalho. Eu
não a culpava.
Fazia cinco anos que eu trabalhava lá. A pior coisa era chegar todos os dias cheirando a
perfume de rosas e xampu de pêssego e sair com cheiro de hambúrguer e batatas fritas. A
única coisa que me mantinha no emprego era saber que cada hora que eu passava ali me
deixava mais perto do sonho de abrir um piano-bar.
— Você vai conseguir, meu bem — falou Lori durante uma pausa no trabalho. — Você
ainda é jovem, cheia de disposição. Tem tempo de sobra para transformar esse sonho em
realidade. O segredo é não ouvir o que as pessoas dizem. Elas sempre gostam de se meter na
vida dos outros. Mantenha a cabeça erguida e não ouça essas baboseiras.
— Bom conselho.
Sorri. Eu sabia que Lori só estava falando aquilo para que não tivéssemos que voltar ao
trabalho um segundo antes do que deveríamos.
— Sabe o que minha mãe me dizia quando eu era criança e sofria bullying?
— O quê?
— Um dia de cada vez. É só isso de que precisamos para conseguir qualquer coisa. Não pense muito no futuro nem no passado. Concentre-se no agora. Aqui e agora. Essa é a melhor maneira de viver a vida. No momento. Um dia de cada vez.
Um dia de cada vez. Um dia de cada vez.
Repeti essas palavras em minha cabeça quando um cliente grosseiro gritou comigo porque
seus ovos mexidos estavam crus, quando um bebê jogou um prato de comida no chão e os
pais me culparam e, ainda, quando um cara bêbado vomitou em meus sapatos.
Eu odiava meu trabalho, mas era bom conhecer os prós e contras desse tipo de lugar.
Quando eu abrisse o piano-bar, seria parte das minhas atribuições cuidar do bom
funcionamento da cozinha.
Apenas um dia de cada vez.
— Você sempre mexe os quadris assim quando anota os pedidos? — zombou uma voz.
Sorri ao perceber a quem ela pertencia.
— Só quando sei que vou ganhar boas gorjetas.
Eu me virei e vi Dan de pé, com as mãos cheias de papéis. Ele estava lindo de calça azul-
marinho e camisa de botão azul-clara com as mangas dobradas. Seu sorriso era largo e reluzente como sempre, e era dirigido a mim. Peguei o bloco de papel e a caneta no avental e fui até ele.
— O que veio fazer aqui tão cedo?
— Estava dando uma olhada naquele lugar que tínhamos pensado em comprar.
— É?
— É. Eu amei. Adorei mesmo, mas tem cupins. Você tem um minuto para conversarmos
sobre isso? Trouxe mais algumas plantas de outros lugares que poderíamos visitar.
Fiz uma careta, olhando ao redor.
— Acho que meu chefe me mandaria embora se eu parasse de trabalhar para conversar
sobre possíveis lugares para um piano-bar.
Conheci meu amigo Dan há alguns anos em um piano-bar. Atualmente, ele trabalhava
para uma das melhores imobiliárias do estado, e, quando contei a ele minha ideia, ele se
animou para me ajudar a procurar o lugar ideal, mesmo que eu tenha dito que levaria um
bom tempo até que meus planos se tornassem realidade.
— Ah, não, claro. Eu estava por perto e pensei em parar para comer batatas fritas e tomar
um café. Estou a caminho do trabalho mesmo.
Abri um grande sorriso, e ele também.
— Podemos dar uma olhada nisso amanhã à noite, se você estiver livre.
— Sim, sim! — exclamou Dan, a animação tomando conta dele. — A gente conversa sobre
isso na sua casa. Podemos pedir comida chinesa, e eu posso levar um vinho. Posso até
preparar algo para você, uma carne ou algo assim... — ele diminuiu o tom de voz, mas sua
alegria só aumentava. Passou as mãos pelo cabelo e deu de ombros. — Você que sabe, tanto faz.
— Por mim, está ótimo. Só tem um pequeno porém. Minha casa ainda está em obras. E,
com a chuva, houve alguns vazamentos no telhado.
— Se você quiser ficar lá em casa até terminar a obra, a oferta ainda está de pé. Sei que
essas coisas podem ser uma dor de cabeça.
— Obrigada, mas acho que vou continuar perdida naquela confusão mesmo.
— Está bem. Bom, é melhor eu ir para o trabalho, mas encontro você amanhã para
falarmos sobre isso. — ele agitou os papéis no ar e piscou para mim.
— Mas você não disse que iria tomar um café e comer batatas fritas?
— Ah, sim, mas me dei conta de que... — Dan pareceu um pouco nervoso, e eu não pude
deixar de sorrir novamente. — De que eu tinha que chegar um pouco mais cedo no trabalho
para resolver umas coisas para o meu chefe.
— Então está combinado amanhã. Deixa o álcool comigo, você leva as plantas.
Com isso, ele foi embora. Deixei escapar um suspiro. Havia uns três anos que Dan era
apaixonado por mim, praticamente desde que nos conhecemos, mas nunca senti nada
parecido por ele. Dan era importante na minha vida, e eu esperava que ele lidasse bem com o fato de sermos apenas amigos.
— Ele tem casa própria, um bom emprego, diz que quer comer batatas fritas só para te ver,
tem um sorrisinho apaixonado e se oferece para cozinhar. Mas você não consegue nem
aceitar o convite de se mudar para a casa dele durante a obra? — perguntou Lori, carregando
uma bandeja com ovos mexidos, batatas e salsichas.
Eu ri.
— Minha casa é ótima. Passei todos esses anos economizando para comprar a casa que eu
sempre quis, e agora que a tenho, não vou sair de lá. Ela só precisa de alguns reparos, só isso.
— Meu bem, sua casa precisa de um pouco mais do que alguns reparos. — Lori sorriu,
colocando os pratos de comida em cima da mesa cinco antes de se virar para mim com a mão no quadril e um sorriso insolente nos lábios. — Se Dan me oferecesse uma cama para dormir, eu moraria com ele e o faria me mostrar suas plantas em cada centímetro do meu corpo e em cada canto da casa.
— Lori! — eu a repreendi, minhas bochechas queimando.
— Só estou falando. Você tem três empregos para pagar por uma casa que precisa de
reformas, e tudo isso só para provar que pode ser uma mulher independente. Você poderia
reformar a casa e ir morar com Dan, sabia?
— A casa não precisa de tantos reparos assim — argumentei.
— Demi — resmungou Lori, levando as mãos ao rosto. — A última vez que fui até sua casa
para beber com você, usei o banheiro e não fechei a porta. Sabe por quê? Porque não tinha
porta.
Eu ri.
— Ok. Entendi. Certo, ela precisa de muitos reparos. Mas eu gosto do desafio.
— Hum, você deve ser muito boa de cama para ele ficar rastejando desse jeito.
— O quê? Não, nós nunca dormimos juntos.
— É mesmo? Quer dizer que ele está caidinho por você, e vocês dois nunca chegaram aos
finalmentes?
— Nunca.
— Mas... aquele sorriso!
Eu ri.
— Eu sei, mas ele é só um amigo. E tenho uma regra para meus relacionamentos: não
namorar nenhum dos meus amigos. Nunca.
Eu já havia seguido por esse caminho antes e não tinha a menor intenção de percorrê-lo
novamente. Ainda pensava em Joseph e lamentava a amizade que tinha perdido.
Teria sido melhor se nunca tivéssemos nos apaixonado.
— Sabe, Charles e eu éramos grandes amigos quando começamos a namorar. Ele foi o
amor da minha vida, nunca encontrei ninguém igual. Ele me fazia rir antes mesmo que eu
soubesse o que era o amor. Algumas das melhores coisas da vida vêm das amizades mais
fortes — comentou Lori. Com a cabeça baixa, ela segurou o relicário que tinha junto ao
pescoço com uma foto do seu casamento. — Puxa, sinto tanta falta dele...
Ela quase nunca falava de Charles, seu falecido marido, mas, sempre que o fazia, havia um
brilho em seus olhos. Era como se voltasse ao dia em que se apaixonou por ele.
Nosso chefe nos mandou parar de conversar e voltar ao trabalho, e foi o que nós fizemos.
Sempre ficávamos muito ocupadas no período da manhã, servindo mais pessoas do que
parecia humanamente possível. Quanto mais ocupada eu estivesse, menos tempo teria para
pensar na vida.
Segurei o bule de café com firmeza e comecei a passar pelas mesas que eu estava
atendendo.
— Gostaria de mais café? — perguntei a uma mulher sentada perto da janela.
— Aceito. Obrigada.
Sorri para ela. Quando ergui a vista e olhei pela janela, meu coração quase parou. Meus
dedos tocaram o vidro, tentando alcançar a figura do outro lado da rua. Pisquei, e o que
pensei ter visto desapareceu como em um passe de mágica. Um arrepio percorreu meu corpo.
Lori olhou na minha direção.
— Você está bem, Demi? Parece que viu um...
— Fantasma? — perguntei, terminando a frase.
— Exatamente. — Ela se aproximou e olhou pela janela. — O que foi?
Um fantasma.
— Nada. Não foi nada — respondi, e me dirigi à próxima mesa com meu bule de café.
Era minha imaginação, só isso.
Nada mais, nada menos.
o Dan é super amigo da Demi porém apaixonado por ela.
quem será que a Demi viu pela a janela? algum palpite?
estou muito feliz pelo os comentários de vocês, muito obrigada.
o que acharam do capítulo? eu espero muito que vocês tenham gostado amores.
Ou Joe, ou a mãe.
ResponderExcluirMas acho que ela devia dar uma chance ao Dan. Sei la.
Continua, bb ❤
Vamos ver no que vai dar né, ainda tem tem muita coisa para acontecer.
ExcluirVou postar mais hoje amor.
Beijos, Jessie.