06/08/2018

18. home sweet home


Deixei a mochila no chão da varanda da casa de Nicholas e Dallas antes de bater à porta. Senti certa apreensão, pois não sabia como seria ver os dois depois de tantos anos. O tempo
mudava as pessoas, e eu me perguntava o quanto eles tinham mudado. Deixei mais alguns
segundos se passarem antes de criar coragem.
Quando a porta se abriu, deixei escapar um suspiro. Nicholas deu um enorme sorriso antes
de me puxar para um abraço apertado.
— Seu trem deveria ter chegado ontem. Se perdeu, maninho?
Eu ri.
— Peguei o caminho mais longo.
— Certo, me deixe olhar para você. — ele recuou, cruzou os braços e riu. — Você parece musculoso... Com certeza deixou a cidade como Peter Parker e retornou como Homem-Aranha.
— Essas aranhas radioativas de Iowa não brincam em serviço, cara. E olhe só para você! —
brinquei, fingindo dar um soco no estômago dele. — Parece um amendoim. Talvez agora eu
possa chutar seu traseiro, e não o contrário.
— Rá, não conte com isso. Vejo que você continua cuidando do seu cabelo como uma
mulher — disse Nicholas, bagunçando meu cabelo perfeitamente arrumado.
— A inveja é um dos sete pecados capitais, irmãozinho.
— Não vou me esquecer disso.
Nicholas riu. Droga. Era bom revê-lo. Ele parecia ótimo, como sempre. Nunca percebemos o
quanto sentimos falta de alguém até encontrarmos essa pessoa depois de tanto tempo.
— Nicholas, quem está aí? — perguntou Dallas, saindo do banheiro e secando o cabelo com
uma toalha. Quando ela me viu, pareceu chocada. — O que você está fazendo aqui?
— É bom te ver também, Dallas.
— O que você está fazendo aqui? — repetiu ela.
Meus olhos foram de Nicholas para Dallas, e de volta para Nicholas.
— Estou começando a me perguntar a mesma coisa. O que estou fazendo aqui, Nicholas? O que está acontecendo? Estive com Demi e...
— Você esteve com Demi? — indagou Dallas.
Engraçado como não senti a menor falta do seu jeito dramático.
— Foi o que falei. Bem, ela disse que o casamento não é neste fim de semana.
— Mês que vem — corrigiu Dallas. — É no mês que vem. Por que você está com uma
mochila?
— Hum, porque me disseram que eu ficaria com vocês? Para o casamento, que parece
que não vai acontecer agora?
— É no mês que vem — repetiu Dallas. — Só no mês que vem. Eu nem sabia que você viria.
Ficar com a gente? — ela coçou a nuca, sua pele pálida ficando vermelha. Ela se parecia
muito com a irmã, mas as personalidades eram tão diferentes que as duas poderiam nem
fazer parte da mesma família. — Amor, posso falar com você lá no quarto um minuto?
Dei um passo adiante para segui-la. Nicholas sorriu, mas Dallas resmungou algo, irritada.
— Ah, desculpa. Quando você disse amor, pensei que estivesse falando comigo. Agora
entendi que foi com o meu irmão.
Nicholas riu.
— Não seja escroto.
— Não consigo evitar. Eu tenho um, então...
Os dois seguiram para o quarto, a porta batendo atrás deles. Eu me sentei no sofá e, assim
que enfiei a mão no bolso, a porta do quarto se abriu.
— Joseph? — chamou Dallas.
— Sim?
— Não toque em nada.
Ergui as mãos em sinal de rendição, e ela entrou no quarto, batendo a porta novamente.
Não acredito que você não me contou que ele estava vindo, Nicholas!
O grito de Dallas ecoou pela casa, e não pude deixar de rir. Mesmo que eu não fizesse ideia
do motivo de eu estar de volta à cidade habitada por todos os meus demônios, me senti em
casa pentelhando Dallas.
Coloquei a mão no bolso, peguei o maço de cigarros e acendi um deles. Ao dar uma
olhada ao redor, me lembrei de como Dallas era maníaca por limpeza e organização. Não
conseguia entender de jeito nenhum como Nicholas podia ser apaixonado por ela. Eu tinha certeza de que os dias dele deviam ser muito irritantes.
Quando as cinzas começaram a surgir na ponta do cigarro, entrei em pânico, Dallas iria pirar se eu deixasse cair alguma coisa em sua mesa de centro caríssima. Corri em direção à mesa da sala de jantar, que estava posta como se estivesse acontecendo um grande banquete, e peguei um pires. Bati as cinzas nele e levei-o para o sofá, onde relaxei um pouco.
— Nicholas, eu só... já estamos sob tanto estresse. Tem tanta coisa acontecendo com você, no
trabalho. Estou fazendo meu mestrado. E estamos organizando os últimos detalhes do
casamento. Você acha que é uma boa ideia Joseph ficar aqui? — perguntou ela, enquanto eu
ouvia tudo do outro lado das paredes finas.
— Ele é meu irmão.
— Você está... nós... não sei se isso é uma boa ideia.
— Ele é meu irmão.
— Mas você sabe como Joseph é. Vai arrastá-lo para a vida maluca que ele leva. É o que ele
sempre faz.
— Dallas, ele não usa drogas há anos.
Eu podia ouvir a irritação na voz de Nicholas e me senti um pouco frustrado. Meu irmão
sempre foi um dos poucos que realmente acreditou que eu seria capaz de parar. Ele e Demi.
Todo mundo me considerava uma causa perdida.
A voz de Dallas tinha o mesmo tom agressivo.
— Isso é o que ele fala. Sério, quantas vezes ele já disse isso? Você tem essa necessidade de
ser pai do seu irmão e da sua mãe. Você não pode tomar as rédeas da vida deles, meu amor. E você não é o pai do Joseph. Poxa, e ele é só seu meio-irmão, nem é seu irmão de pai e mãe!
Ouvi um estrondo, e meu estômago revirou. Não consegui me conter e fiquei de pé.
Segurando o pires cheio de cinzas, segui na direção do quarto, mas me detive ao ouvir a voz
de Nicholas.
— Se você falar algo assim de novo, vou embora sem olhar para trás. Sim, Joseph teve um
passado de merda. Ele estragou as coisas com você e com muitas outras pessoas. Muita gente não o perdoaria. Mas ele é meu irmão. Não tem essa merda de “meio”. Ele é cem por cento meu irmão. Vou cuidar dele, e nunca vou abrir mão disso, Dallas. Então, se isso te incomoda, bem, provavelmente temos um problema.
Os dois baixaram o tom de voz, e tive que chegar muito perto do quarto para escutar as
desculpas dela, seguidas de “eu amo você”, e mais desculpas.
Quando a porta se abriu, eu estava com o cigarro nos lábios. Os dois me encararam,
chocados ao me ver ali tão perto.
— Escutem... — comecei.
— Você está fumando dentro de casa? — perguntou Dallas, quase gaguejando, arrancando
o cigarro da minha boca. — E está colocando as cinzas na minha porcelana chinesa? — ela pegou o pires das minhas mãos. — Meu Deus. Minha mãe vai chegar daqui a algumas horas, e agora o lugar está cheirando a fumaça!
A mãe de Dallas. A única pessoa na Terra que era mais dramática e irritante que minha
futura cunhada. Como Demi  podia ter qualquer parentesco com essas pessoas?
Dallas correu até a pia, onde afogou meu cigarro, e o jogou na lixeira. Começou a esfregar o
pires com uma esponja várias vezes, murmurando algo consigo mesma. Eu e Nicholas ficamos observando-a por alguns minutos, ela parecia totalmente fora de si. Um silêncio
constrangedor tomou conta da sala.
— Então... — disse Nicholas finalmente. — Quer conhecer o restaurante do Jacob?
— Quero — respondi mais rápido que a velocidade da luz.
Jacob era um velho amigo, apesar de termos brigado por causa de sua coleção de revistas
pornôs quando éramos mais novos. Eu não sabia como seria esse reencontro, mas tinha
esperanças de que fosse melhor do que rever Dallas.
Corremos para fora de casa antes que ela pudesse ficar ainda mais irritada.
— Você acha que ela ainda não superou o fato de eu quase ter colocado fogo em seu
último apartamento? — perguntei com um sorriso no rosto.
— Ah, ela com certeza não superou isso. — Nicholas riu.
— Dá um tempo. Eu errei, reconheço.
— Um erro que custou quatro mil dólares. Um erro caro. Mas ela vai superar, não se
preocupe.
— Nicholas, por que estou aqui?
Antes que ele pudesse responder, a porta da frente se abriu.
— Você pode ficar em um dos quartos de hóspedes — disse Dallas. Seus olhos encontraram
os meus, e ela parecia mais calma. Talvez a limpeza do pires tenha feito com que ela
recuperasse o equilíbrio. — Vou colocar sua mochila lá.
— Obrigado, Dallas. Não vou me esquecer disso — respondi.
— Estaremos de volta para o jantar — disse Nicholas, dando um beijo no rosto dela.
— Estaremos? — perguntou ela, com um tom de voz preocupado.
— Sim — disse ele, apontando para si mesmo e para mim.
Ela tentou não esboçar reação, mas acabou se retraindo.
— Ah, maravilha. Vou dar um jeito de fazer comida suficiente para quatro pessoas em vez
de três. E vou colocar um lugar extra na mesa.
Senti a irritação de Dallas no ar, mas ela sorriu, voltou para dentro de casa e fechou a porta.
— Acho que somos oficialmente melhores amigos.
— Os melhores dos melhores — concordou ele. — Falando nisso... como foi ver Demi?
— Tudo bem — menti. — Só planejo evitá-la o máximo que puder.
— Ótimo — disse Nicholas, descendo da varanda. — Que bom que aqueles sentimentos do passado não existem mais, não? Melhor assim. Talvez vocês possam perdoar um ao outro, esquecer tudo e seguir em frente.
— É. Na verdade, não senti nada ao vê-la. Então, isso é bom.
Isso era verdade também. Não, era a mentira mais deslavada. Eu me lembrei das palavras
de Demi no restaurante.
Lar é sempre lar, mesmo quando você não quer que seja.
Depois de todos esses anos e da distância, de alguma forma, Demetria Devone Lovato ainda
parecia ser o meu lar.
Eu não sabia como lidar com esse fato, e era exatamente por isso que eu precisava de uma
passagem só de ida para bem longe de True Falls, Wisconsin.
Rápido.

amores, estou de volta e o que acharam do capítulo?
por que será que o Nicholas pediu para o Joseph vier antes do casamento?
ainda terá muitas tretas e muita emoção.
eu espero muito que vocês tenham gostado amores, volto em breve.
respostas do capítulo anterior aqui.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Que bom que gostou amor.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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  2. Meu comentário ficou esquesito. Ficou incrível, como de costume. Afinal, essa é a caacterística principal das suas histórias.
    Não desanima, não para. Você me tem como leitora fiel. 💞💞

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    1. Fico muito feliz que você goste amor e que fico feliz pelos os seus comentários aqui.
      Não irei desanimar, fico muito feliz de postar histórias para vocês.
      Vou postar mais hoje.
      Beijos, Jessie.

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