19/09/2016

breathe: capítulo 18 (3/3)


Só consegui olhar para Joseph de novo depois de duas semanas. Fiquei extremamente envergonhada, constrangida pelo que aconteceu na noite do aniversário de Zachary. Porém, quando ele me chamou para falar sobre a decoração de sua casa, decidi engolir meu medo. — Você está bem? Parece estranha — observou Joseph quando eu e Elizabeth chegamos à casa dele. Eu me sentia muito desconfortável, não apenas pela minha atitude, mas também pela forma como desabei diante dele. 
— Não. Estou bem — respondi. — Só estou olhando tudo. 
Dei um sorriso falso, e ele percebeu na hora. 
— Tá. Bem, você pode fazer praticamente tudo o que quiser aqui. Tem sala de estar, sala de jantar, banheiro, meu quarto e a cozinha. E eu adoraria que meu escritório não estivesse tão bagunçado. 
Fui até o escritório e vi muitas caixas empilhadas. A mesa estava repleta de coisas e, quando ele saiu com Elizabeth e Zeus, vi um recibo meio escondido debaixo de uns papéis. Peguei-o e li. 
Cinco mil plumas brancas. 
Entrega expressa
Abri uma das caixas, e meu coração quase saiu pela boca ao encontrar outros sacos com plumas. Ele não as encontrou na loja do Sr. Henson. Ele as comprou. Encomendou milhares delas só para Elizabeth não sofrer. 
Joseph… 
— Você vem, Demi? — escutei-o chamar. Fechei a caixa e corri para fora do escritório. 
— Sim, estou aqui — pigarreei. — E o galpão? Posso ajeitá-lo também. 
— Não. O galpão não.. — ele fez uma pausa e franziu o cenho. — Não. 
Entendi na hora. 
— Certo... bem, acho que já vi tudo que precisava. Vou fazer alguns esboços e escolher alguns tecidos e cores. Conversamos depois. Preciso ir. 
— Você está com pressa.
— Pois é — dei uma olhada na direção de Elizabeth, que parecia estar em um mundo à parte, brincando com Zeus. — Elizabeth vai dormir na casa de uma amiguinha, e preciso arrumá-la. 
Joseph deu um passo em minha direção. 
— Você está zangada comigo? — perguntou gentilmente. — Por causa daquela noite? 
— Não — suspirei — Estou zangada comigo mesma. Você não fez nada de errado. 
— Tem certeza? 
— Absoluta, Joseph. Você me ajudou quando eu mais precisava, mas talvez seja melhor pararmos com tudo isso... é óbvio que não estou conseguindo lidar com essa situação. 
Ele ergueu a sobrancelha e baixou os olhos, como se estivesse desapontado. Em seguida, levantou a cabeça e deu um sorriso. 
— Quero mostrar uma coisa a vocês. 
Joseph nos levou até a parte de trás da casa e segurou a porta dos fundos para passarmos. Ouvi os grilos da noite, e parecia até que eles estavam conversando entre si. Era um som reconfortante. 
— Aonde estamos indo? — perguntei. 
Ele virou a cabeça, apontando para o bosque e pegando uma lanterna. Não perguntei mais nada. Segurei a mão de Elizabeth e o segui. Andamos pelo bosque, e ele nos levou cada vez mais para longe. 
O céu estava estrelado e, à medida que avançávamos entre as árvores, o cheiro da primavera nos dava as boas-vindas. Abrimos caminho pelo bosque, os galhos estalando aos nossos pés. — Estamos quase chegando — anunciou ele. 
— Mas aonde? 
Quando finalmente chegamos, percebi de imediato que aquele era o lugar aonde ele queria nos levar, só pela vista maravilhosa. Levei as mãos à boca, pois tive medo de que, se eu emitisse algum som, aquela beleza desapareceria. Diante de nós havia um riacho. A correnteza era quase silenciosa, como se as criaturas que navegassem ali estivessem descansando. Atrás do riacho, havia o que parecia ser uma antiga ponte. Flores cresciam nas ruínas, tornando a vista perfeita ao luar. 
— Descobri esse lugar com Zeus — contou Joseph, andando até a ponte e sentando-se. — Sempre que preciso esvaziar a cabeça, venho aqui. 
Sentei ao lado dele, tirei os sapatos e coloquei os pés na água gelada. Elizabeth e Zeus brincavam, espirrando água alegremente. 
Ele sorriu para mim, e retribuí na mesma hora. Joseph conseguia fazer as pessoas se sentirem valorizadas apenas pelo modo como sorria para elas. Eu queria que ele fizesse isso mais vezes.
 — Quando me mudei pra cá, sentia raiva o tempo todo. Sentia falta do meu filho, da minha esposa. Odiava meus pais, mesmo sabendo que eles não tinham feito nada. Por alguma razão, eu achava mais fácil culpá-los, responsabilizá-los pela morte dos dois. Era mais fácil sentir raiva do que ficar triste. O único momento em que não me sentia mal era quando eu vinha aqui e respirava o ar dessas árvores.
Ele estava se abrindo. 
Por favor, continue
— Fico feliz por você ter encontrado algo que te trouxe um pouco de paz. 
— Sim. Eu também. — ele passou a mão pela barba pequena, que estava crescendo bem rápido. — Já que não estamos mais nos “ajudando”, você pode vir até aqui, se quiser. Pra encontrar paz. 
— Obrigada. 
Ele simplesmente assentiu. 
Elizabeth pulou e a água espirrou para todos os lados, praticamente nos encharcando. Mesmo querendo repreendê-la, o sorriso em seu rosto e a agitação de Zeus eram contagiantes. 
— Obrigada por trazer a gente aqui, Pluto! Adorei! — gritou ela, erguendo as mãos, animada. — Venha sempre que quiser. 
 Que bom que minha filha gosta de você. Senão, nunca mais nos falaríamos. 
— E que bom que o meu cachorro gosta de você. Senão, eu já teria me convencido de que você era uma psicopata. As pessoas sempre devem confiar no instinto dos animais. Os cachorros sabem julgar o caráter de uma pessoa muito melhor que humanos. 
— Ah, é? 
— Sim. — ele parou e passou a mão pelo cabelo. — Por que sua filha me chama sempre de Pluto? 
— Ah... Porque da primeira vez que nos encontramos, chamei você de puto. Ela perguntou o que significava e, quando percebi que era uma péssima mãe, disse a ela que tinha dito pluto, e expliquei que você era grande e desengonçado. 
— Então ela acha que sou desengonçado? 
— É, pelo visto sim. 
Ele riu. 
— Bom, isso faz com que eu me sinta bem melhor. 
Eu retribuí o sorriso. 
— Deveria. 
— Bom, se Elizabeth vai continuar me chamando de pluto, vou pensar em um nome para ela... Que tal Fifi? É a namorada do Pluto. 
— Somos uma dupla — disse Elizabeth, pulando de alegria. — Pluto e Fifi! Pluto e Fifi! 
— Acho que ela gostou da ideia — observei. 
— Demi? — ele se virou na minha direção, bem sério. 
— Sim? 
— Sei que não podemos mais fazer as coisas que estávamos fazendo antes, mas será que podemos ser amigos? — perguntou ele, constrangido. 
— Achei que você não sabia ter amigos. 
— Não sei — ele suspirou, coçando a nuca. — Mas espero que você possa me ensinar. 
— Por que eu? 
— Porque você acredita em coisas boas, mesmo quando seu coração está partido. E eu não consigo me lembrar das coisas boas. Aquilo me entristeceu. 
— Quando foi a última vez que você se sentiu feliz, Joseph? 
Ele não respondeu. O que me entristeceu ainda mais. 
— Claro que podemos ser amigos — acrescentei. 
Todo mundo merece ter pelo menos um amigo em quem possa confiar seus medos e segredos. Suas culpas e alegrias. Todos merecem ter uma pessoa que vai olhar em seus olhos e dizer: “Você é autossuficiente, você é perfeito, mesmo com todos os seus problemas.” Eu achava que Joseph merecia isso muito mais do que os outros. Os olhos dele carregavam muita tristeza, muita dor, e tudo que eu queria era abraçá-lo e dizer que era autossuficiente. Mas eu não queria ser amiga dele por pena. Não. Queria sua amizade porque, diferente das outras pessoas, ele enxergava além da minha felicidade fingida e, às vezes, me encarava como se dissesse: “Você é autossuficiente, Demi. Você é autossuficiente... apesar de todos os problemas.” 
Ele estreitou os olhos como se estivesse me vendo pela primeira vez. Fiz o mesmo. Nenhum de nós dois queria piscar. A seriedade daquele momento começou a nos deixar constrangidos. Ele pigarreou, e eu também. 
— Fui longe demais? — perguntei. 
— Sim, foi. Mudando de assunto... — disse ele, passando a mão pelo cabelo. — Notei que você estava lendo Cinquenta tons de cinza na última vez que cortei a grama do seu jardim. Ruborizei na hora, e meu ombro esbarrou no dele. 
— Não me julgue. É para o clube do livro. E, além do mais, o livro é bom. 
— Não estou te julgando. Bom, estou sim, mas só um pouquinho. 
— Não fale mal sem ao menos tentar lê-lo. 
— É? E quanto do livro você já “tentou”? 
Ele me dirigiu um olhar convencido, e juro que meu rosto pareceu pegar fogo.
Sorri, dissimulada, e comecei a andar de volta para casa. 
— Você é um babaca — resmunguei. — Vamos, Elizabeth, você precisa se arrumar para dormir na casa da sua amiguinha. 
— Você está indo para o lado errado — observou Joseph. 
Parei e virei na direção contrária, passando por ele. 
— Você continua sendo um babaca. 
Sorri, e ele fez o mesmo. Caminhamos lado a lado de volta para nossas casas, seguidos por Elizabeth e Zeus. 


***

Eram dez e meia quando ouvi um barulho alto. Eu me esgueirei para fora da cama e abri a porta. Susan estava parada com os braços cruzados ao lado de Elizabeth, que ainda vestia pijama, segurando Bubba e sua mochila. 
— Susan, o que houve? — perguntei, preocupada. — Elizabeth, você está bem? — ela não respondeu e olhou para o chão, envergonhada. Virei para Susan e insisti: — O que aconteceu? — O que aconteceu? — sibilou ela. 
— O que aconteceu é que sua filha achou que era legal contar histórias de zumbis para as outras meninas e deixou todas elas apavoradas. Agora tenho dez crianças na minha casa que não querem dormir com medo de pesadelos! 
Fiz uma cara de espanto. 
— Sinto muito. Tenho certeza de que ela não fez por mal. Posso ir até lá e falar com as meninas, se você quiser. Certamente foi um mal-entendido. 
— Um mal-entendido? — Susan bufou. — Ela começou a imitar um zumbi e disse que iria comer o cérebro das outras! Você me disse que ela não estava traumatizada com a morte do seu marido. 
— Ela não está — respondi, sentindo o sangue ferver. Olhei para Elizabeth e vi as lágrimas caírem. Eu me abaixei e a abracei. — Está tudo bem, querida. 
— Obviamente, ela não está bem. Ela precisa de ajuda profissional. 
— Elizabeth, meu amor, tape os ouvidos rápido — ela obedeceu. Senti meu sangue ferver e encarei Susan, irada. — Vou dizer uma coisa a você, da melhor maneira possível. Se você falar mais uma vez sobre a minha filha dessa forma, eu quebro a sua cara. Arranco esses seus cabelos falsos de aplique e ainda conto para o seu marido que você está trepando com o entregador do mercado. 
— Como você se atreve? — perguntou ela, horrorizada. 
— Como eu me atrevo? Como você se atreve a vir até aqui e falar da minha filha assim, dessa forma grosseira e mal-educada? É melhor você ir embora. 
— É isso que vou fazer! Talvez seja melhor você não aparecer no nosso clube do livro também. Sua energia e seu estilo de vida não são boas influências. E mantenha sua filha longe da Rachel — ordenou ao se afastar. 
— Não se preocupe — berrei. — Vou manter mesmo. 
Até as pessoas mais calmas se descontrolam quando alguém fala de seus filhos: isso transforma qualquer mãe num bicho capaz de qualquer coisa para proteger sua cria de todas as feras do mundo. Não me orgulhei do que disse a Susan, mas, do fundo do coração, era exatamente o que eu sentia. 
Sentei ao lado de Elizabeth na sala. 
— Mamãe, as meninas falaram que sou esquisita porque gosto de zumbis e múmias. Não quero ser esquisita. 
— Você não é esquisita — falei, puxando-a para perto. — Você é perfeita exatamente como é. — Então por que elas ficaram falando isso? — perguntou ela. 
— Porque... — suspirei, tentando achar as palavras certas. — Porque, às vezes, as pessoas têm dificuldade em aceitar as diferenças. Você sabe que zumbis não existem, certo? — ela assentiu. — E você não quis amedrontar as outras meninas, quis? 
— Não — respondeu ela, rapidamente. — Eu só queria que elas brincassem comigo como os personagens do Hotel Transilvânia. Não queria assustar ninguém. Só queria que elas fossem minhas amigas. 
Meu coração ficou despedaçado
— Quer brincar com a mamãe? — perguntei. Ela balançou a cabeça. 
— Não. 
— Então, que tal assistirmos a um desenho no Netflix e fazermos a nossa própria festa do pijama? 
Os olhos dela brilharam, e as lágrimas pararam de cair. 
— Podemos ver Os Vingadores? — perguntou. 
Ela adorava super-heróis tanto quanto o pai. 
— Claro que sim. 
Ela dormiu assim que o Hulk apareceu na tela. Coloquei-a na cama e beijei sua testa. Mesmo adormecida, Elizabeth sorriu e, em seguida, fui para a minha cama em busca dos meus próprios sonhos.


Demi descobriu que o Joseph anda comprando as plumas para a Elizabeth
Adorei a Demi dando um fora na Susan kkkkkkkk
Tadinha da Elizabeth, ela é tão fofa
E aí gente, o que acharam da maratona? Me contem aqui nos comentários
Por hoje é só, quem sabe eu não faço mais depois
bjs amores e até o próximo <3

2 comentários:

  1. Adorei a maratona!!! Muito obrigada por ter feito!!! Acho ótimo eles pararem com esse negócio de se envolver pensando nos ex.... muito sinistro isso!!! A Elisabeth é uma fofa sempre... Na torcida pra que eles sigam em frente e comecem uma história verdadeira entre eles!!! Continua...

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    Respostas
    1. Que bom que gostou amor.
      Mais a Demi vai ficar doidinha com esse negócio de eles só serem amigos kkkkkkkkk Elizabeth é um amorzinho <3
      Vou postar hoje amor, bjs <3

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