09/11/2016

breathe: capítulo 40



Adeus

— Não — sussurrei na sala de espera, diante do médico.
— Sinto muito. Ele não sobreviveu à cirurgia. Nós fizemos todo o possível para estancar a hemorragia, mas não conseguimos... — os lábios dele se moviam, mas eu não escutava. Meu mundo tinha sido roubado de mim, minhas pernas fraquejaram. Tentei me sentar na cadeira mais próxima.
— Não — murmurei de novo, cobrindo o rosto com as mãos.
Como ele pôde ter partido tão rápido? Como ele me deixou aqui sozinha?
Não, Zachary...
Antes da cirurgia, segurei a mão dele. Disse o quanto o amava. Beijei-o pela última vez.
Como ele pôde ter partido?
O médico pediu licença e saiu da sala, mas eu sequer o notei. Starla e David apareceram alguns minutos depois, tão arrasados quanto eu. Ficamos muito tempo no hospital, até que David disse que precisávamos ir embora, tínhamos que começar a planejar o enterro.
— Encontro vocês em casa — eu disse a eles. — Elizabeth está na casa de Selena, graças a Deus. Vocês podem buscá-la?
— Aonde você vai? — perguntou Starla.
— Só quero ficar aqui mais um pouquinho.
Ela franziu o cenho.
— Querida...
— Não, de verdade, estou bem. Vou embora daqui a pouco. Será que... será que vocês podem esperar um pouco pra contar a ela?
Starla e David concordaram.
Fiquei horas na sala de espera, sem saber o que estava esperando. Parecia que todos ali estavam fazendo exatamente isso: aguardando uma resposta às suas orações, esperando um milagre.
Num canto, vi uma mulher mais velha chorando muito, totalmente sozinha, e acabei me aproximando dela. Ela estava machucada, coberta de hematomas, como se tivesse acabado de sobreviver a algo terrível. Mesmo assim, seus tempestuosos olhos me assombravam. Eu não deveria interromper aquele momento de espera, mas não consegui me conter. Abracei-a, e ela não me mandou embora. Ficamos assim por algum tempo, desabamos juntas.
A enfermeira veio informar à mulher que seu neto e sua nora tinham saído da cirurgia, mas que o estado deles era muito grave.
— Você pode vê-los. Pode visitá-los no quarto, mas eles estão inconscientes. Apenas para a senhora saber. Mas pode segurar a mão deles.
— Como eu... — a voz dela estava trêmula, as lágrimas caíam. — Como posso escolher quem eu vou ver primeiro? Como eu...
— Eu fico com um deles até a senhora chegar — ofereci. — Eu seguro a mão de um deles.
Ela me pediu que ficasse com a nora. Quando entrei no quarto, senti um arrepio no corpo todo.
A pobre mulher estava sem cor no rosto. Parecia quase um fantasma. Puxei uma cadeira para sentar e segurei a mão dela.
— Oi — sussurrei. — Sei que isso é estranho, nem sei o que dizer, mas, vamos lá, meu nome é Demi. Conheci sua sogra, e ela está muito preocupada com você. Então, você precisa lutar. Ela contou que seu marido está voltando de uma viagem e que ele está desesperado. Você precisa continuar lutando. Sei que é difícil, mas você precisa ser forte.
Lágrimas caíram dos meus olhos. Olhei para aquela mulher desconhecida e, ao mesmo tempo, tão familiar em meu coração. Pensei no quão arrasada eu ficaria se não tivesse tido a chance de, pelo menos, segurar a mão de Zachary antes de ele morrer.
— Seu marido precisa que você seja forte — sussurrei em seu ouvido, na esperança de que minhas palavras chegassem até sua alma. — Temos que ter certeza de que seu marido vai ficar bem. De que ele vai segurar sua mão. De que ele vai ter a chance de dizer que te ama. Você não pode ir ainda. Continue lutando.
Senti um aperto na minha mão e olhei para os dedos dela.
— Senhora? — Ouvi uma voz. Virei para a porta e vi uma enfermeira. — Você faz parte da família?
Não tirei os olhos das nossas mãos.
— Não. Eu só...
— Preciso pedir que a senhora se retire.
Assenti.
E soltei a mão dela.

***

— Ele continua deixando esses bilhetinhos — suspirei, sentada na gangorra com Selena. Elizabeth brincava no trepa-trepa e no escorregador. — De vez em quando, encontro um bilhete na minha janela e não sei o que fazer. Ele diz que ainda me ama, que me quer, e depois... nada. Não entendo, não sei o que pensar.
— Ele está fazendo joguinho, e isso não é legal. Só não entendo por que fazer essa merda toda com você. Será que ele só está querendo te sacanear? Tipo, será que ele está se vingando por você não ter contado sobre o acidente?
— Não — balancei a cabeça. — Ele não faria isso.
— Já faz meses, Demi. Ele não telefonou. Não tentou entrar em contato, a não ser por esses bilhetes que aparecem, do nada, de vez em quando. Isso não é normal.
— Nunca existiu nada de normal entre nós dois.
Ela desceu na gangorra e olhou para mim.
— Talvez esteja na hora de encontrar algo normal, então. Você merece ter uma vida normal.
Não respondi, mas achei que talvez ela tivesse razão.
Só queria que os bilhetes não me dessem tanta esperança de que um dia ele iria voltar.

Só preciso de um tempo para acertar as coisas. Eu volto logo. Te amo. — JJ

Espere por mim. – JJ

Todo mundo estava errado sobre nós. Só espere por mim, por favor. – JJ

***

— Tem uma coisa roxa na sua boca, Sam — avisei quando cheguei no café.
Ele limpou a boca bem rápido e ficou um pouco envergonhado. Nas últimas semanas, Matty estava deixando Sam ir para a cozinha na hora do almoço para que ele aprendesse a preparar alguns itens do cardápio. Ele parecia feliz por finalmente fazer uma coisa de que gostava, e era muito bom nisso.
— Obrigado — respondeu ele, pegando uma pilha de pratos e levando-a para a máquina de lavar. Enquanto ele saía pela porta, Selena entrava, e eles hesitaram por um instante, um cedendo passagem para o outro.
Quando Selena me viu, deu um gritinho. Sorri.
— Adorei o batom roxo, amiga — elogiei.
— Obrigada. É novo.
— Acho que já vi esse batom antes.
— Não — ela balançou a cabeça. — Comprei ontem à noite.
— Não, acho que acabei de vê-lo há cinco segundos, na boca do Sam.
Ela corou e olhou em direção à porta.
— Que merda! O estranho do Sam usa a mesma cor de batom que eu? Preciso encontrar outro, então.
Erguei a sobrancelha.
— Você não me engana. Pode me contar.
— Contar o quê?
— O apelido que você deu para o você-sabe-o-quê dele.
Ela revirou os olhos.
— Pelo amor de Deus, Demi, temos quase 30 anos. Você não acha que já está na hora de pararmos de agir como se tivéssemos 5? — perguntou ela, indo até o balcão atender um cliente que queria um pão doce. A seriedade em seu tom de voz me fez pensar se Selena não estaria mesmo amadurecendo, até que ela gritou: — Sam Super-gigante!
Caí na risada.
— E pensar que nos últimos meses você ficou tentando me convencer de que ele era uma aberração.
— Ah, mas ele é. Sem dúvida. Ontem à noite, ele fez coisas arrepiantes — disse ela, puxando a cadeira de uma mesa vazia e se sentando. Eu realmente não sabia como ela conseguia manter esse emprego.
— O que foi que ele fez? — perguntei, sentando-me do outro lado da mesa. 
Se não pode vencê-la, junte-se a ela.
— Bom, para começar, ele fica perguntando o tempo todo o que eu estou sentindo, o que é muito esquisito. Parece até que ele quer saber mais sobre mim.
— Cara, na boa. Isso é totalmente esquisito — zombei.
— Não é? Ontem ele passou lá em casa. Perguntei em qual quarto ele queria trepar, e ele falou: “Não. Quero levar você a um lugar chique.” E depois do jantar e dos drinques, ele me levou até a varanda, beijou o meu rosto e disse que adoraria sair comigo de novo! Ele nem tentou enfiar o pênis na minha vagina.
— Que cara estranho!
— Não é? — ela olhou para a cozinha, onde Sam estava começando a esquentar a chapa. Um sorrisinho surgiu nos lábios dela. — Acho que ele não é tão esquisito assim.
— Não. Acho que não. Estou feliz por ele estar trabalhando na cozinha. Lembro bem quando ele me disse o quanto queria isso.
— Sim, e olha que ele é bom pra cacete.
— Estou surpresa por Matty deixá-lo cozinhar.
Ela deu de ombros.
— Ele teve que deixar. Eu o chantageei, ameacei divulgar um vídeo dele pelado dançando Spice Girls se ele não desse uma chance ao Sam.
— Você é terrível, Selena — levantei da cadeira e voltei ao trabalho. — Mas uma amiga maravilhosa.
— É, eu sou de Escorpião. Eu amo uma pessoa até que ela faça alguma coisa que me deixa maluca. Aí eu viro o diabo.
Gargalhei.
— Ah, merda! — falou Selena bem alto, pulando da cadeira. Ela colocou as mãos nos meus ombros e me girou, deixando-me de costas para a janela da frente. — Não entra em pânico.
— O quê?
— Olha, lembra quando seu marido morreu e você desapareceu por um ano, e depois voltou super deprimida e começou a transar com um idiota, que, na verdade, não era um idiota, mas um homem ferido por ter perdido a esposa e o filho? Aí vocês começaram um sex-cionamento meio esquisito, em que fingiam que estavam com outras pessoas, e, um dia, vocês se deram conta de que “olha, quero que você seja você e que eu seja eu” e se apaixonaram? E aí você descobriu que seu marido estava envolvido no acidente que provocou a morte da família dele, e a coisa ficou feia, e o cara saiu da cidade e, mesmo assim, sem nenhuma explicação, ele continuou a deixar recadinhos que fizeram você ficar
ainda mais confusa e magoada e “meu Deus, parece que estou de tpm nas quatro semanas do mês e não posso mais tomar sorvete porque minhas lágrimas quentes derretem o pote todo”? Você se lembra disso tudo?
Eu pisquei.
— Sim, isso me parece familiar. Obrigada pelo flashback.
— De nada. Então tá, não surta, porque é o seguinte: sabe o cara por quem você se apaixonou? Ele está do outro lado da rua, entrando na loja de vodu.
Dei meia-volta e vi Joseph parado na frente da loja do Sr. Henson. Meu coração parecia que iria parar de bater, e senti um formigamento se espalhando pelo corpo.
Joseph.
— Você está surtando — disse ela.
Balancei a cabeça.
— Não estou.
— Você está surtando — repetiu Selena.
— Estou. O que ele está fazendo aqui?
— Acho que você tem que ir lá descobrir — disse Selena. — Você merece uma resposta pra todos aqueles bilhetinhos.
Ela tinha razão. Eu precisava saber. Eu precisava pôr um ponto final nesse assunto. Precisava seguir em frente, abrir mão de qualquer fiapo de esperança de que um dia ele voltaria para mim.
Porque eu definitivamente ainda estava esperando por ele.
— Matty, Demi vai sair pra almoçar — gritou Selena.
— Ela acabou de chegar. E ainda está na hora do café da manhã — retrucou ele.
— Tudo bem. Ela vai fazer um intervalo para o café da manhã então.
— Nada disso. Ela tem que trabalhar o turno todo.
Selena começou a cantarolar “Spice Up Your Life”, e Matty ficou vermelho como um pimentão.
— Pode ir, Demi. Demore o tempo que precisar.


e agora gente? será que eles irão colocar tudo em pratos limpos?
selena é muito doidinha kkkkkkkkk
Gostaram? me contem aqui nos comentários
bjs lindonas e até o próximo <3
respostas aqui

2 comentários:

  1. Ahhhhhhh, eu que acabei de surtar. Como assim acaba na melhor parte? Isso é um pecado, não poderia cometer isso, mas tudo bem, eu espero o próximo capítulo, roendo minhas unhas de tanta ansiedade, OMG!! Jemi, se resolvam logo. Estou amando cada parte dessa fic, está sensacional. Parabéns!!

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    1. Ah amor fico muito feliz que esteja gostando da fic.
      Sou um pouquinho mal hahaha mas não se preocupe irei postar hoje.
      Jemi logo logo estarão juntos novamente.
      bjs lindona <3

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