29/04/2016

sussurros na noite: capítulo 12


Palm Beach
Flórida, 8:30 A.M

Na quadra de tênis, o pai e a irmã de Demi não apenas estavam esplêndidos com seus trajes brancos e corpos bronzeados, como também possuíam a graciosidade e a força de dois puros sangues perfeitamente integrados, e ela não pôde evitar de sentir-se muito impressionada no início do primeiro game do set. 
Mas, ao final daquele game, Demi já percebera mais uma coisa: seu pai jogava tênis como se a quadra fosse um campo de batalha e não tinha a menor piedade do inimigo, mesmo sendo tão óbvio que o jogo de Nicholas e Demi era irremediavelmente inferior. Além disso, tampouco demonstrava piedade em relação à sua parceira. Sempre que Selena cometia o que ele julgava ser um erro, não importava quão insignificante, ele a repreendia ou criticava. 
Tal atitude fez com que Demi se sentisse tão desconfortável que teve vontade de gritar de alegria, quando faltava apenas um game para terminar o set. Porem, em vez disso, ficou junto de Nicholas em seu lado da rede, tentando fingir que não ouvia o pai criticar Selena pela maneira como ela fizera o último ponto.
— Você ficou perto demais da rede a manhã inteira! Nicholas só perdeu o seu último saque porque você teve muita sorte. Apenas os perdedores contam com a sorte, Selena. Os vencedores dependem da própria habilidade. Você sabe disso, não é? 
— Sei, sim - Selena respondeu, tão controlada e educada como sempre. 
Porem, Demi sabia que ela devia estar se sentindo profundamente envergonhada, e imaginou se Patrick costumava comportar-se daquela forma quando jogavam com outras pessoas e em outros lugares.
— Isso é incrível! - Demi cochichou para Nicholas. — Por que ela não o enfrenta e diz que estava fazendo o melhor possível? 
— Ela não está fazendo o melhor possível - Nicholas respondeu. — Está tentando jogar bem o bastante para agradá-lo, mas não tão bem a ponto de nos fazer sentir totalmente deslocados aqui.
Demi sentiu um aperto no peito. Tivera a mesma impressão, mas quando Nicholas expressou-a com palavras transformou-a em fato, tornando impossível que ela continuasse ignorando a contrariada simpatia que nutria por Selena.
A personalidade de Patrick sofreu uma alteração completa para melhor, assim que a partida terminou. Com todo o charme cordial que exibira no dia anterior, marchou para perto da rede e enviou um sorriso de aprovação para Demi.
— Você tem um talento natural, Demi - disse. — Com a ajuda de um bom treinador, poderia tornar-se uma tenista de verdade. Posso ensinar-lhe algumas coisas, enquanto estiver aqui. 
Melhor ainda, vou lhe dar uma aula agora mesmo. 
Tal declaração provocou um riso aterrorizado em Demi.
— É muita bondade sua, mas acho que vou recusar.
— Por quê? 
— Porque não gosto muito de jogar tênis. 
— Mas isso é porque você não explora ao máximo toda sua capacidade. 
— Talvez o senhor esteja certo, mas prefiro não tentar.
— Tudo bem. Mas vejo que está em excelentes condições físicas. Gosta de correr, não é? E o que mais você faz?
— Não muita coisa.
— E quanto aquele curso de defesa pessoal que você frequentou? Deve ter aprendido taekwon-do ou jiu-jítsu?
— Sim, um pouco - Demi respondeu, evasiva. 
— Ótimo. Eu pratiquei artes marciais durante alguns anos. Vamos até ali e você poderá me mostrar o que sabe fazer. 
O sujeito não era apenas do tipo atlético, era um competidor compulsivo, Demi concluiu chocada, e não desistiria até que ela cedesse, de um jeito ou de outro. Ela também sabia que Patrick Lovato não gostava de perder, e desde que seu objetivo ali era cair nas boas graças dele, não lhe parecia uma boa ideia humilhá-lo. 
— Não sei se é uma boa ideia... 
— Não se preocupe, iremos devagar - ele insistiu. Ignorando seus protestos, deixou a raquete de tênis na grama e deu alguns passos para a frente. — Vamos lá.
Demi lançou um olhar pedindo socorro a Nicholas, e reparou que Joseph Jonas cruzava o gramado na direção deles, trazendo na mão um grande envelope de papel pardo. 
Patrick também o avistou, e acenou.
— Não sabia que você viria hoje cedo, Joseph.
— Trouxe alguns papéis para você e Marie assinarem - o outro explicou. 
— Estarei com você num instante. Demi fez um curso de defesa pessoal recentemente e está prestes a mostrar-me o que aprendeu. 
— Fiquem à vontade.
Com grande relutância, Demi deixou a raquete de tênis no chão, ao lado da de seu pai. Selena parecia nervosa, mas ficou em silêncio. Nicholas também parecia nervoso, mas Demi não sabia se ele estava preocupado com a possibilidade de ela se machucar, ou com a possibilidade de ela machucar o anfitrião deles. Joseph Jonas cruzou os braços no peito com uma expressão cética, o que deixou Demi ainda mais tensa.
— Não quero atrapalhar a reunião de vocês - disse a Joseph, esperando suscitar uma desistência de última hora. — Tenho certeza de que estes documentos são muito mais importantes do que isso aqui. 
— Não para mim - ele disse, e fez um gesto de cabeça na direção de Patrick. — Fiquem pelo tempo que for necessário. 
Demi achou aquela atitude um tanto estranha, mas não tinha escolha, exceto fazer o que ele sugeria. Encaminhou-se para o pai, lembrando-se de que não importava como ele se comportasse, não deveria derrubá-lo no chão.
— Está pronta? - ele perguntou, com uma breve e solene inclinação. 
Demi assentiu e retribuiu a mesura. 
Patrick moveu-se tão subitamente que Demi não teve tempo de reagir, e ele marcou um ponto com uma facilidade vergonhosa.
— Você não estava atenta - ele disse, no mesmo tom irritante de censura com que falara com Selena durante a partida de tênis. Em vez de lhe dar tempo para voltar à sua posição, tornou a atacá-la, apanhando-a de surpresa. — Demi, você não está se concentrando. 

Demi decidiu que, afinal, seria uma boa ideia derrubá-lo no chão. Ele adiantou-se, pensou ter visto uma abertura e atacou. Demi rodopiou para o lado e com um chute alto e rápido enviou-o direto para a grama.
— Acho que desta vez me concentrei um pouco mais - ela disse, docemente.
Um tanto mais abatido, agora, ele levantou-se e andou em círculos, procurando um novo alvo para o ataque. Mentalmente, Demi reconheceu que ele era realmente muito bom, mas também autoconfiante demais. Ele atacou; ela aparou o golpe com um bloqueio e atingiu-o na altura do diafragma, fazendo-o perder o fôlego. 
— E fiquei mais atenta desta vez - ela confessou. Demi estava acostumada com atacantes furiosos e, quando marcou o ponto seguinte, deu-se conta de que ele se tornara um deles. Ele vergou o corpo, o rosto rubro de vergonha e raiva, e seus movimentos perderam toda a graça e estilo. Esperou por uma abertura; depois girou e chutou para o alto, mas sem conseguir atingi-la. No instante em que ele se recuperou Demi acertou outro golpe, e então decidiu que já era hora de encerrar a ”exibição”, antes que fosse forçada a machucá-lo, ou correr o risco de ser atingida. 
Pousando as mãos nos quadris, afastou-se dele. 
— Para mim já chega - riu, tentando dissipar a tensão — O senhor joga duro demais.
— Ainda não acabamos - ele falou, limpando a grama da roupa.
— Acabamos, sim. Estou exausta. 
Para surpresa de Demi, foi Joseph Jonas quem veio em seu socorro.
— Patrick, é indelicadeza ficar agredindo os convidados no segundo dia de visita. 
— É verdade - Demi brincou. — Deve-se esperar pelo menos até o terceiro dia. - Virou-se para pegar a raquete caída aos pés de Joseph mas ele apanhou-a primeiro, e lhe entregou. 
— Meu pai mandou-lhe lembranças - disse, e o encanto de seu sorriso lento foi tão irritante que Demi teve dificuldade de entender suas palavras, enquanto pegava a raquete. 
— Desculpe? 
— Meu pai disse que teve uma conversa fascinante com você, hoje cedo. Ficou muito impressionado. 
— Eu não sabia que ele era seu pai - Demi balbuciou, horrorizada. 
— Foi o que pensei. - Joseph voltou-se para Patrick, dando a Demi a oportunidade de escapar dali. — Patrick, se quiser comparecer ao seu jogo de pôquer de todas as quintas, eu gostaria de levar Demi, Nicholas e Selena para jantar esta noite. 
Demi já se encaminhava para a casa ao lado de Nicholas, mas ouviu o pai responder: 
— Que ótima ideia! Demi... - ele chamou. — Está tudo bem, para você e Nicholas? 
Não era uma ”ótima ideia”, e não estava ”tudo bem”. Demi virou-se mas continuou andando, numa tola compulsão de afastar-se de Joseph Jonas o máximo que pudesse.
—  Sim, está ótimo - respondeu em voz alta. Para Nicholas, acrescentou, baixinho: - Queria que dessemos um jeito de escapar disso. 
Ele enviou-lhe um rápido olhar. 
— Pois eu gostaria de saber que documentos são aqueles que Jonas quer que eles assinem.
— Joseph Jonas é suspeito de alguma coisa? 
— Todos são suspeitos, exceto você e eu. — E - ele brincou, não estou completamente seguro quanto a você. - Mais sério, juntou: — Fico imaginando que tipo de documentos exigiriam a assinatura de Marie Lovato. Se soubéssemos, talvez isso nos indicasse um rumo que nem sequer pensávamos em tomar.
Demi tinha a sensação de que ele não lhe falava toda a verdade, mas sabia que seria inútil questioná-lo. 
— Como foi que se encontrou com o pai de Jonas esta manhã? 
— Quando estava voltando da minha corrida vi um homem trabalhando no jardim e, quando ele se levantou, era evidente que estava sofrendo dores. Parei para ajudá-lo e fiquei conversando por alguns minutos. No início, pensei que fosse um jardineiro.
— Você não lhe contou nada, não é?
— Nada que possa nos prejudicar, e nada além do necessário. Na verdade, disse-lhe apenas o meu primeiro nome, mas não pude evitar de lhe contar onde estava hospedada. Será que criei algum tipo de problema? 
Nicholas pensou por um instante
— Não, absolutamente - respondeu, com um sorriso inexplicável. — O pai de Jonas não foi o único que ficou fascinado por você hoje. Creio que o filho também está impressionado. E um pouco intrigado, também.
— Comigo? É impossível!
— Reparei no jeito que ele a olhava. E você também reparou. Ficou toda nervosa. 
Demi riu diante do absurdo de tal conclusão. 
— Homens como Joseph Jonas geram uma energia sensual suficiente para iluminar a cidade de Nova York, e sabem disso. É uma forma de poder que possuem, e usam este poder em qualquer uma que esteja por perto. Eu estava por perto. Senti-me um pouco chocada, e por isso fiquei ”nervosa”. 
— É assim mesmo que funciona? Quantos ”homens como Joseph Jonas” você já conheceu?
— Tenho um conhecimento hereditário deste tipo de homens - Demi afirmou. — E, portanto, uma imunidade genética a eles.
— Sobre o que está falando?
— Sobre minha mãe. Baseada no que ela me contou, e no que vi com meus próprios olhos, meu pai deve ter sido igualzinho a Joseph Jonas. Você sabia que Selena está apaixonada por ele? Estão praticamente noivos. 
Estavam perto da escadaria que levava à varanda, e Nicholas baixou a voz.
— Selena não está apaixonada por ele. Seu pai é que está insistindo para que ela se case com Jonas. Mas ela não quer. Infelizmente - acrescentou, filosófico -, — Ela vai acabar submetendo-se e casando-se com ele. Os dois homens a dominam e intimidam por completo. 
— Como sabe de tudo isso? 
— A primeira parte ela confidenciou-me esta manhã, durante o desjejum. A segunda eu deduzi. 
— Ela lhe contou tudo isso? - Demi repetiu, surpresa. —  É difícil imaginá-la abrindo-se tanto com alguém. E por que com você?
— Porque não se sente dominada por mim. Por outro lado, sou homem e ela se intimida na presença dos homens, por isso quando lhe fiz uma pergunta de forma gentil e inocente, ela sentiu-se compelida a responder. 
— Isso é tão triste - Demi falou baixinho, quando pararam junto à entrada da casa. — Eu não esperava gostar dela. Não quero gostar dela.
Nicholas deu uma risadinha.
— Mas você gosta, e vai gostar ainda mais. E também vai tentar protegê-la dos dois homens, enquanto estiver aqui. 
Às vezes aquela atitude de ”sabe-tudo” de Nicholas dava-lhe nos nervos. 
—  Por que tem tanta certeza? - perguntou. — O que o faz pensar que farei qualquer coisa desse gênero?
A raiva dela não o perturbou nem um pouco.
— Porque você será incapaz de evitar - ele afirmou num tom implacável, mas não rude. — Porque você tem uma compulsão para socorrer as pessoas que necessitam de ajuda.
— Você não é psiquiatra. 
— É verdade - ele disse, sorrindo e adiantando-se para abrir-lhe a porta dos fundos. — Mas sei reconhecer um coração mole, e o seu é mais mole do que marshmallow tostado. 
— Isso me parece horrível.
— Na verdade foi um elogio - ele retrucou calmamente. — Sou louco por marshmallow tostado. Mas não deixe que este seu coração mole interfira com seu julgamento, ou com o trabalho que tem a fazer.
Gary Dishler interceptou-os na cozinha, por isso Demi viu-se privada da oportunidade de responder aquela última provocação. 
— Foi uma manhã muito divertida - ela mentiu. — Vou subir para tomar um banho e... 
— Desculpe, Srta. Lovato - Dishler interrompeu. — Mas a Sra. Lovato quer vê-la no solário. 
— Ah... - Demi olhou para o short sujo de grama e para os braços salpicados de terra. — Primeiro preciso tomar um banho e mudar de roupa. Pode dizer a ela que estarei lá o mais breve possível? 
— A Sra. Lovato disse que quer vê-la imediatamente - ele informou. 
A intimação soava terrível, e Nicholas também reparou nisso.
— Vou com você - ele disse. 
Gary balançou a cabeça e tornou a falar com firmeza: 
— A Sra. Lovato disse que quer vê-la sozinha
O solário dava para os fundos da casa, e quando Demi viu a expressão azeda no rosto de Marie Lovato logo concluiu que a senhora assistira à breve competição de autodefesa, e não aprovara.
— Que belo espetáculo vocês deram! - Fez uma pausa para enviar um olhar crítico aos cabelos despenteados de Demi e à sua roupa suja. — Jovens bem-educadas não ficam rolando na grama, nem andam por aí com as roupas manchadas de terra.
Demi empertigou-se diante da injustiça daquele ataque. 
— Eu não queria dar um espetáculo. Na verdade, fiz tudo o que podia para evitá-lo, mas seu neto insistiu nisso. Além do mais, eu teria mudado de roupa antes de vir para cá, mas o sr. Dishler insistiu que a senhora queria ver-me imediatamente. 
O rosto da senhora gelou diante da rebelião de Demi. 
— Já terminou? - Demi fez que sim. 
— Você tem um gênio e tanto.
— Tive uma manhã e tanto. 
— Foi o que vi. Nas últimas poucas horas, você correu pela praia, e tentou salvar Paul Jonas, pelo que Joseph contou. Depois voltou a tempo de jogar tênis, mas não muito bem, e completou a manhã atarefada derrubando seu pai ao solo, não uma, mas duas vezes. Se ainda tiver energia sobrando depois do almoço, sugiro que dedique algum tempo para praticar seu saque. 
— O quê? 
— Seu jogo de tênis precisa ser melhorado. 
— Sra. Lovato, eu não faço parte do seleto grupo de ricos ociosos. Trabalho para viver e meu tempo é precioso. Por isso, prefiro passar meus momentos de lazer fazendo o que gosto, e não gosto de jogar tênis! 
— Ganhei muitos troféus, na minha época. A família Lovato sempre se destacou no tênis. Integrantes da nossa família participam de campeonatos nos clubes de campo mais exclusivos do país. O seu jogo é uma desgraça para o nome da família, mas acredito que, com muita prática, você conseguirá atingir nossos padrões.
— Não tenho intenção nem desejo de fazer nada disso - Demi informou-a, sarcástica. — Não faço parte da família Lovato. 
— Que garota tola! Você não se parece conosco, mas no fundo é uma Lovato, muito mais do que Selena. De quem acha que herdou esta rebeldia orgulhosa que acabou de demonstrar? Por que acha que se recusou a permitir que Patrick a humilhasse, lá fora? Olhe para si mesma, neste exato momento: inflexível, segura de si, mesmo estando toda suja e desarrumada, confiante como uma rainha, julgando que tem todo o direito de enfrentar-me em minha própria casa apenas porque acha que está certa, e eu errada. Se isso não é a superioridade dos Lovatos, então não sei como você descreveria.
— Se a senhora pensa que me sinto lisonjeada com isso, devo lhe assegurar que não. 
— Hah! - Marie exclamou, dando uma palmada no braço da poltrona com um ar triunfante. — Falou como uma verdadeira Lovato! Você acredita que é melhor do que nós, embora sejamos ricos o bastante para comprar a cidade em que você mora. Como eu queria que a mãe de Patrick estivesse viva para ver isso. Quando ela veio para a Flórida a fim de levá-lo de volta para casa, pretendia ficar com a criança que mais se parecesse conosco. A despeito de toda sua astúcia, aquela mulher diabólica e tola escolheu a criança errada! 
— O que, sem dúvida, foi sorte minha. 
— Já basta de amenidades. Creio que nos entendemos muito bem, e a partir de agora poderemos chegar rapidamente a um entendimento mais profundo. Sente-se, por favor. Dividida entre a raiva e o divertimento pelo uso que Marie fizera da palavra ”amenidades” para descrever o que estiveram fazendo até então, Demi afundou na poltrona de vime ao lado dela. 
— Vou parar de ”pisar em ovos” e ir direto ao ponto - a senhora anunciou, provocando em Demi um novo fluxo de divertido temor. — Insisti para que você fosse convidada para vir aqui, e fiz isso por vários bons motivos... Por que parece tão surpresa?
— Tive a impressão de que o convite havia partido do meu pai. Ele disse que sofrera um ataque cardíaco e queria me conhecer enquanto houvesse tempo. 
Ela hesitou, brincando com o sempre presente colar de pérolas no pescoço. Depois, falou, relutante: 
— Pois teve a impressão errada. A princípio, ele rejeitou a ideia com mais firmeza do que Selena. 
— Selena rejeitou a ideia? 
— É claro que sim. E ficou extremamente aflita quando soube que você decidira aceitar o convite. 
Demi desviou os olhos, fixando-os no vaso de azaleias ao lado da sua poltrona enquanto tentava assimilar tudo aquilo sem sentir nenhuma emoção. 
— Entendo. 
— Creio que não. Quando Selena ainda era pequena, a mãe de Patrick fez de tudo para convencê-la de que a sua mãe era incapaz de cuidar de crianças, e que um juiz fizera uma lei especial para mantê-la bem afastada. Mais tarde, Selena foi levada a acreditar que você, naturalmente, acabaria sendo igualzinha à sua mãe. 
Marie fez uma pausa para que suas palavras penetrassem, depois continuou: 
— Quanto a Patrick , tinha diversos motivos para não querer trazê-la de volta à família tão tardiamente. Primeiro, por achar que seria injusto apresentá-la a um tipo de vida que você nunca pôde ter. Mas, acima de tudo, desconfio que ele sentia-se culpado por tê-la abandonado. Neste caso, é compreensível que não desejasse ficar frente a frente com alguém a quem prejudicara. Eu gostaria de ter feito esta pequena reunião de família há muito tempo, mas só pude concretizá-la depois que a mãe de Patrick, minha nora, fez o surpreendente favor de preceder-me na morte. 
— Por quê? 
— Porque ela teria rechaçado você daqui em dez minutos. Você jamais suportaria o tratamento que ela teria lhe dispensado, e eu não queria submetê-la a isso. Suponho que eu poderia ter ido vê-la, mas isto não faria com que os laços entre você, Selena e Patrick fossem restabelecidos. E o meu objetivo é este. 
Demi ficou atônita ao descobrir que o objetivo dela era restabelecer os laços da família, quando tudo o que fizera até agora fora humilhá-la, criticá-la e irritá-la. 
— Assim que a mãe de Patrick faleceu, percebi que poderia trazê-la até nós, e obriguei Patrick a ir em frente com o plano. Ele não teve outra escolha. 
— Não? 
— É claro que não - Marie anunciou com uma risada rouca. — Porque sou eu quem paga as contas, por aqui. 
Demi piscou os olhos e limpou a garganta. 
— A senhora faz o quê
— Eu controlo o Fundo de Investimento dos Hanover, que possui a maior parte da fortuna dos Lovatos - ela declarou, como se esta única informação esclarecesse tudo para Demi.
— Desculpe, mas não estou entendendo.
— É muito simples. Meu pai, James Hunsley, era um patife sem um tostão. Ele nasceu de uma família rica, mas perdeu toda sua herança no jogo quando tinha vinte e cinco anos. A fim de sustentar seu estilo de vida, tinha de casar com uma mulher rica e escolheu minha mãe, que era herdeira da fortuna dos Hanover. Meu avô logo percebeu o golpe e recusou-se a consentir no casamento, mas mamãe o amava e era uma jovem mimada e voluntariosa. Ameaçou fugir de casa, e meu avô acabou cedendo, mas não antes de acertar tudo de forma que meu pai jamais tivesse o controle total da fortuna de mamãe. Vovô Hanover estabeleceu um fundo de investimento que ela controlaria depois de sua morte, mas mamãe só poderia utilizá-lo com o parecer e consentimento dos curadores que ele havia nomeado. Sob os termos deste fundo, o controle permanece nas mãos do descendente mais velho dos Hanover, e nunca do seu cônjuge. No momento, eu sou esta descendente.
Demi achou melhor não fazer comentários sobre tal revelação. 
— O seu pai deve ter ficado desapontado, quando soube deste fundo.
— Ele ficou furioso, mas tão logo percebeu que sua vida não iria melhorar a não ser que ganhasse seu próprio dinheiro, tratou de pôr mãos à obra. Juntou uma fortuna modesta, nada parecida com a dos Hanover, mas é claro que metade dela pertencia à minha mãe e acabou sendo acrescentada ao fundo de investimento. Patrick herdou o tino para negócios da minha família e aumentou em muito a fortuna dos Lovato - ela afirmou com orgulho. — No entanto, não a chamei aqui para falarmos sobre Patrick. É sobre Selena que desejo conversar. Veja bem, apesar de tudo o que foi levada a acreditar sobre sua mãe e você, ontem à noite ela disse-me que achava que você parecia ser uma boa pessoa.
Até agora, tudo o que Marie lhe dissera havia sido tão negativo que Demi estava completamente despreparada para o elogio que se seguiu. 
— Para mim está claro que você possui muita coragem e uma boa índole, e eu gostaria que Selena tivesse um pouco mais destas qualidades. Quem sabe você possa ter isso em mente, 
Marie interrompeu-se ao ouvir o som dos passos de Selena, e esperou em silêncio até que a bisneta lhe desse um beijo na face.
— Seu jogo estava péssimo esta manhã - disse, ríspida. 
— Você estava jogando perto demais da rede. O que foi que lhe deu? 
— Acho que não estava num bom momento.
— Bobagem. Estava tentando não ferir os sentimentos de Demi, porque o jogo dela é deplorável. Mas já chega disso - interrompeu, quando Selena começou a responder. — Creio que você e Demi têm um jogo de golfe marcado ainda hoje? 
— Sim, marcamos uma partida para mais tarde.
— Ótimo, quero que vocês duas passem bastante tempo juntas. Quais são os planos para a noite?
— Joseph quer nos levar para jantar fora. 
— Excelente. - Marie assentiu, enfática. — Seu pai está decidido a fazer o casamento de vocês no Natal. Você também precisa passar mais tempo com Joseph. 
Demi não queria jogar golfe e sabia que Selena não queria casar com Joseph.  Patrick e Marie Lovato aparentemente não davam a mínima para os desejos daqueles que viviam sob seu controle. Porem, Demi nem tinha certeza do que queria, pois ainda estava se recuperando do choque causado por tudo o que Marie dissera, e ansiosa para relatar a Nicholas as partes mais pertinentes. Além disso, a única coisa que sabia ao certo era que queria conhecer Selena melhor.
— Preciso tomar um banho - disse. Enquanto se levantava, sorriu diretamente para Selena. — De minha parte, e também de Nicholas, gostaria de lhe agradecer por ter-nos poupado na quadra de tênis. Foi muita gentileza sua.
 — Bobagem! - Marie interrompeu. — Ela devia ter aproveitado o tempo para aperfeiçoar as jogadas e não deixar que enferrujassem!
Demi deu-se conta de que aquela mulher não iria respeitar ninguém que ela, ou seu neto, pudessem dominar, mesmo julgando ter todo o direito e privilégio de tal domínio.
— Selena está ciente de que Nicholas e eu somos seus convidados, portanto é natural que se preocupe em nos deixar à vontade. Acho que li numa coluna de etiqueta de um jornal que esta é a primeira e mais importante obrigação de um anfitrião. Não é? - Demi concluiu, tentando parecer inocente.
Marie Lovato não se deixou enganar. 
— Minha jovem, por acaso está pretendendo ensinar-me boas maneiras? 
Havia algo de indefinível em seu tom de voz; embora fosse indignado, não era zangado. Demi mordeu o lábio para ocultar um sorriso. 
— Sim, senhora, acho que estou. Só um pouquinho. 
— Que garota atrevida! - Marie resmungou, mas sem exibir uma irritação genuína. — Não suporto mais vê-la assim toda suja. Saia daqui e vá tomar seu banho. 
Dispensada, Demi virou-se para sair. 
— E não desperdice água - Marie avisou, rispidamente. Quando Demi se foi, Marie focalizou os olhos azuis em Selena. 
— Ela é uma jovem muito impertinente. Não tem respeito pela autoridade, e menos ainda pelo dinheiro. O que acha dela? 
Muito tempo atrás, quando era criança, Selena aprendera que era inútil e imprudente que qualquer pessoa, incluindo ela própria, se opusesse a um membro da família. Eles eram indômitos e imperdoáveis, enquanto que ela covarde e fraca. Ainda assim, naquela última hora, havia testemunhado sua irmã mais nova impondo-se por si mesma e por ela. Em vista disso, parecia imperativo que fizesse o mesmo. O nervosismo deixava as palmas de suas mãos úmidas, e ela esfregou-as no short. 
— Eu... me desculpe, bisavó - disse, com a voz trémula pelo pouco costume de tomar uma posição contrária. — Mas e-e-ela... 
— Pare de gaguejar, menina! Você já superou este problema de fala há anos. 
Nervosa, mas ainda determinada, Selena ergueu a cabeça, encarou a bisavó firmemente, como Demi fizera, e anunciou: 
—  Acho que ela é sensacional! 
— Bem, então por que não disse logo? 
Incapaz de responder, ou ver-se obrigada a ouvir um sermão, Selena olhou no relógio.
— Preciso correr para tomar um banho, senão vamos perder a hora da nossa partida de golfe no clube. 
— Dê uma olhada nas roupas que ela trouxe - Marie instruiu. — Certifique-se de que não há perigo de Demi envergonhar a si mesma, ou a nós, enquanto estiver aqui. Ela vai conhecer nossos amigos no clube e na cidade. Se estiver precisando de roupas, providencie.
Selena virou-se para a bisavó, com um ar consternado. 
— Não posso bisbilhotar no armário dela e dizer que as roupas não são adequadas. 
— É claro que pode. Você tem um excelente senso de estilo. Você desenha roupas. 
— Sim, mas... 
— Selena! Cuide deste assunto. E, Selena... - ela chamou, quando a bisneta começava a se afastar. — Não há necessidade de jogar dinheiro fora nestas lojas de roupas caras, a não ser que você não tenha nada que possa emprestar a ela. 

Hoje teve encontro de novo da Demi e do Joe, segredos da família lovato e aí gostaram? Comentem, bjs lindonas!!!

2 comentários:

  1. Adorei a Demi dando uma lição no pai e na avó!!! Ansiosa pelo jantar.... o que será que vai acontecer.... continuaaaa....

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    1. Que bom que gostou lindona, a demi vai sempre confrontar a bisavó hahaha, já postei bjs!

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