13/07/2016

certain love: capítulo 21 (Parte 2)


Talvez possa dar certo com Demi. Por que preciso me torturar e me privar do que mais quero, quando este deveria ser o momento em que conquistei o direito de ter tudo o que desejar? Talvez as coisas mudem e ela não sofra. Posso procurar Marsters de novo. 
E se eu abrir mão dela e nunca mais a vir, e aí Marsters perceber que fez merda? 
Porra! Meras desculpas. 
Demi e eu vamos a mais dois bares no Bairro Francês.
Mas agora ela está bêbada e não sei se vai conseguir andar até o hotel. 
— Vou chamar um táxi - decido, sustentando-a ao meu lado na calçada. 
Casais e grupos de pessoas entram e saem do bar atrás de nós, alguns cambaleando da porta. Estou com o braço firme ao redor da cintura de Demi. Ela levanta a mão e segura meu ombro pela frente, mal consegue manter a cabeça erguida. 
— Acho que um táxi é boa ideia - ela concorda, com olhos pesados. 
Ela vai desmaiar ou vomitar logo. Só torço para que consiga esperar até voltarmos para o hotel. 
O táxi nos deixa na frente do hotel e eu a ajudo a se levantar do banco de trás, e acabo carregando-a, porque ela mal consegue andar sozinha mais. Eu a levo até o elevador com as pernas por cima de um braço e a cabeça encostada no meu peito. As pessoas estão olhando. — Noite divertida? - um homem pergunta no elevador. 
— É - respondo, balançando a cabeça — Nem todo mundo aguenta beber. 
A sineta do elevador toca e o homem sai depois que as portas se abrem. Mais dois andares e eu a carrego para os nossos quartos. 
— Cadê a tua chave, gata? 
— Na minha bolsa - ela diz fracamente. 
Pelo menos está falando coisa com coisa. 
Sem colocá-la no chão, puxo a bolsa do braço dela e a abro. Normalmente, eu faria uma piadinha sobre as tranqueiras que ela carrega e perguntaria se alguma coisa ali dentro vai me morder, mas sei que Demi não está para brincadeiras. Está péssima.
A noite vai ser longa. 
A porta se fecha atrás de nós e eu a carrego até a cama e a deito ali. 
— Tô me sentindo uma merda - ela geme. 
— Eu sei, gata. Precisa dormir pra passar. 
Tiro suas sandálias e deixo no chão. 
— Acho que eu vou... - ela põe a cabeça para fora da beirada da cama e começa a vomitar. Estico o braço, pego a lata de lixo encostada no criado-mudo e consigo aparar a maior parte, mas pelo jeito a arrumadeira vai ficar puta amanhã. Demi vomita tudo o que tinha no estômago, o que me surpreende, porque comeu pouco hoje. Ela para e deita a cabeça no travesseiro. Lágrimas causadas pela regurgitação escorrem dos cantos dos seus olhos. Ela tenta olhar para mim, mas sei que está zonza demais para enxergar. 
— Tá tão quente aqui - balbucia. 
— Tá - digo, e me levanto para ligar o ar-condicionado no máximo. Depois vou para o banheiro, molho um pano na água fria e torço. Volto para o quarto e me sento ao lado dela na cama, passando o pano em seu rosto. 
— Desculpa - ela murmura. — Eu devia ter parado depois daquela vodca. Agora você tá limpando meu vômito. 
Limpo um pouco mais suas bochechas e a testa, afastando os fios soltos de cabelo grudados em seu rosto, e depois passo o pano úmido na sua boca. 
— Nada de desculpas - digo. — Você se divertiu, e só isso importa - sorrindo, acrescento: — Além disso, agora posso me aproveitar completamente de você. 
Demi tenta sorrir e bater no meu braço, mas está fraca demais até para isso. Seu quase sorriso se transforma numa careta de angústia, e o suor aparece instantaneamente em sua testa. 
— Oh, não. - ela levanta o corpo da cama. — Preciso ir pro banheiro - diz, se segurando em mim para tentar se levantar, por isso a ajudo. 
Eu a levo até o banheiro, onde ela praticamente se joga sobre a privada, segurando a porcelana com as duas mãos. Suas costas se arqueiam para cima e para baixo e ela começa a regurgitar a seco e chorar mais. 
— Você devia ter comido aquele filé comigo, gata - fico de pé atrás dela, segurando suas tranças para que não sejam atingidas pelo bombardeio, e mantenho o pano úmido apertado contra a sua nuca. Sofro por ela, vendo seu corpo se agitar violentamente assim, sem botar para fora quase nada. Sei que a garganta, peito e estômago dela vão doer depois disso.
Quando termina, Demi se deita no piso frio. 
Tento ajudá-la a levantar, mas ela protesta fracamente. 
— Não, por favor... quero ficar deitada aqui, o chão tá fresquinho. 
Seu fôlego está curto, e sua pele levemente bronzeada está pálida e doentia como a de um paciente de pneumonia. Pego um pano limpo, molho e continuo limpando seu rosto, pescoço e ombros nus. Depois abro sua calça e a tiro cuidadosamente, aliviando a barriga e as pernas da pressão do jeans apertado. 
— Calma, não vou te molestar - digo em tom de brincadeira, mas desta vez ela não responde. 
Ela praticamente desmaia deitada de lado, com o rosto encostado no chão.
Sei que se eu a carregar agora, ela provavelmente vai acordar e ter ânsia de novo, mas não quero deixá-la assim, deitada perto da privada. Por isso me deito ao lado dela e passo o pano em sua testa, braços e ombros por horas, até que finalmente adormeço com ela. 
Nunca pensei que um dia eu dormiria intencionalmente no chão de um banheiro ao lado de uma privada, sóbrio, mas falei sério quando disse que dormiria com ela em qualquer lugar. A porta do meu quarto se abre. A luz do sol brilha através de uma fina abertura na cortina, do outro lado da cama. Me encolho como uma vampira, apertando os olhos e virando o rosto. Levo um segundo para perceber que estou deitada na cama usando o top sem alças da noite passada e minha calcinha violeta. A cama foi despida de tudo, a não ser o lençol no qual estou deitada e o lençol de cima, que parece ter sido lavado recentemente. Acho que vomitei no outro, Joseph deve ter pegado este com a arrumadeira. 
— Tá se sentindo melhor? - Joseph pergunta, entrando no quarto com um balde de gelo numa mão e uma pilha de copos descartáveis e uma garrafa de Sprite na outra. 
Ele se senta ao meu lado e deixa as coisas sobre o criado-mudo, abrindo a Sprite.
Minha cabeça está latejando e ainda sinto que posso vomitar a qualquer momento. 
Odeio ficar de ressaca. Prefiro cair de bêbada e quebrar o nariz ou algo do tipo a enfrentar uma ressaca desta magnitude. Já tive uma assim, é tão ruim que não é muito diferente de intoxicação por álcool. Ao menos de acordo com Selena, que já teve uma vez e a descreveu como “Satanás em pessoa cagando na tua cabeça na manhã seguinte”.
— Nem um pouco - respondo finalmente, e minhas palavras desencadeiam uma dor na nuca e atrás das orelhas. Fecho os olhos com força quando começo a ver tudo dobrado. 
— Você tá péssima, gata - Joseph diz, e então sinto um pano fresco passando no meu pescoço. 
— Pode fechar aquela cortina? Por favor? 
Ele se levanta imediatamente e o ouço andando, e depois o som do tecido grosso sendo puxado para fechar a abertura. Encolho as pernas nuas até o peito, puxando também o lençol para ficar parcialmente coberta, e me deito em posição fetal sobre a maciez do travesseiro. 
Joseph tira um copo descartável da embalagem e ouço o gelo estalando nele em seguida. Ele derrama Sprite sobre o gelo e aí o ouço abrindo um frasco de comprimidos. 
— Toma - ele diz, e sinto a cama se mover quando ele se senta de novo e apoia o braço na minha perna. 
Abro os olhos lentamente. Um canudo já está no copo, para que eu não precise levantar demais a cabeça para tomar um gole. Pego três comprimidos de Advil da palma da mão de Joseph e os coloco na boca, tomando só Sprite suficiente para engoli-los. 
— Por favor, me diz que não fiz nem falei nada totalmente humilhante nos bares ontem. 
Só consigo olhar para ele com os olhos semicerrados. 
Percebo que ele sorri. 
— Na verdade você fez, sim - Joseph diz, e meu coração fica apertado. — Falou pra um cara que era casada comigo e feliz, e que a gente iria ter quatro filhos, ou talvez cinco, não lembro, e depois uma menina começou a me paquerar e você levantou e começou a falar um monte, armou o maior barraco. Foi engraçadão. 
Agora acho que vou vomitar mesmo. 
— Joseph, é melhor que você esteja mentindo, que vergonha! 
Minha dor de cabeça piora. Eu não achava que pudesse piorar. 
Eu o ouço rindo baixinho e abro um pouco mais os olhos para ver seu rosto mais claramente. — Tô mentindo, sim, gata - ele põe o pano úmido na minha testa. — Na verdade, até que você se comportou bem, mesmo no caminho pra cá - noto que ele olha para o meu corpo. — Desculpa, precisei tirar tua roupa, bom, pessoalmente, gostei da oportunidade, mas foi senso de dever. Era necessário, sabe - ele finge estar sério agora, e não consigo deixar de sorrir. 
Fecho os olhos e durmo mais algumas horas, até que a arrumadeira bate à porta. 
Eu queria saber se Joseph saiu de perto de mim por muito tempo. 
— Pode entrar, vou levá-la pro meu quarto aqui ao lado pra senhora poder limpar. 
Uma senhora com cabelo mal tingido de ruivo entra no quarto, usando uniforme de arrumadeira. Joseph se aproxima da cama. 
— Vem, gata - diz, me pegando no colo com o lençol ainda enrolado nas pernas. — Vamos deixar a moça limpar. 
Acho que eu conseguiria andar sozinha, mas não vou reclamar. Até que gosto de onde estou, no momento. 
Quando passamos pela minha bolsa, estendo a mão para pegá-la e Joseph para, pega a bolsa para mim e a leva junto. Encosto a cabeça no peito dele e passo os braços ao redor do seu pescoço. 
Ele para na porta e olha para a arrumadeira. 
— Desculpa pela sujeira perto da cama - ele acena com a cabeça naquela direção, com um sorriso constrangido. — Vai ganhar uma boa gorjeta por isso. 
Ele sai comigo e me leva para o seu quarto. 
A primeira coisa que Joseph faz é fechar as cortinas, depois de me deitar sobre o seu travesseiro. 
— Espero que você esteja melhor até à noite - diz, andando pelo quarto como se estivesse procurando alguma coisa. 
— O que tem à noite? 
— Mais um bar - ele responde. 
Ele acha o Ipod perto da espreguiçadeira ao lado da janela e o coloca na mesinha da TV, ao lado da sua mochila. Solto um gemido de protesto. 
— Ah, não, Joseph, me recuso a ir pra outro bar hoje. Nunca mais vou beber enquanto eu viver. 
Vejo seu sorriso do outro lado do quarto. 
— Todo mundo diz isso - ele declara. — E eu não te deixaria beber hoje, nem se você quisesse. 
— Bom, tomara que eu me sinta bem o suficiente pra fazer qualquer coisa além de ficar na cama o dia todo, mas as perspectivas não parecem muito boas, no momento. 
— Tá, você precisa comer, isso é obrigatório. Por mais que agora você provavelmente fique enjoada só de pensar em comida, se não comer nada, vai se sentir uma merda o dia todo.
— Tem razão - digo, sentindo náuseas. — Eu fico enjoada só de pensar. 
— Ovos mexidos com torradas - ele diz, voltando para perto de mim. — Alguma coisa leve, você já sabe como é. 
— É, eu já sei como é - respondo com voz neutra, desejando poder simplesmente estalar os dedos e me sentir melhor.

Que bonitinho o Joseph cuidando dela!!!
Gostaram?
Comentem e até o próximo, bjs lindonas <3

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