22/07/2016

certain love: capítulo 26


O sexo sempre muda tudo. É como se você estivesse vivendo dentro de uma bolha onde tudo é seguro, só paquera, e muitas vezes previsível. Uma atração pelo tipo certo de pessoa pode durar para sempre quando o mistério da intimidade é mantido intacto, mas assim que você dorme com alguém, a segurança, a paquera e a previsibilidade costumam se transformar nos seus opostos. A atração vai acabar, agora? Ainda vamos nos desejar tanto quanto nos desejávamos antes de fazer sexo? E será que um de nós não está pensando secretamente que cometemos um grande erro e deveríamos ter deixado tudo como estava? Não. Sim. E não. Sei disso porque sinto. Não é excesso de confiança nem o sonho iludido de uma jovem inexperiente e insegura. É um fato óbvio: Joseph Jonas e eu tínhamos que nos encontrar naquele ônibus no Kansas. 
Coincidência é só o nome que os conformistas dão ao destino. 
Fico de molho na banheira por algum tempo, mas decido sair antes de virar uma ameixa seca. Está doendo lá embaixo, mas sou perfeitamente capaz de andar. Só acho meigo o modo como ele pensa que precisa cuidar de mim. 
Visto o short cinza de algodão que comprei na estrada e um top preto. Faço a cama e arrumo um pouco o quarto antes de pegar o celular para ver minhas mensagens: as mesmas doideiras aleatórias de Selena. Nada ainda da minha mãe. Eu sempre deixo o celular no modo vibrar. Não suporto ouvir telefone tocando. Não adianta a gente poder colocar o toque que quiser, para mim um telefone tocando é como arranhar as unhas num quadro-negro. Vou até a janela, abro bem as cortinas para deixar que a luz do sol inunde o quarto e me apoio na sacada, olhando para Nova Orleans. Nunca vou esquecer este lugar. 
Penso em Joseph e no pai dele rapidamente, mas tiro isso da cabeça. Vou lhe dar mais alguns dias antes de tentar tocar no assunto de novo. Ele vai sofrer por um tempo, mas não gostaria que, sem querer, me usasse como uma barreira. Joseph vai precisar enfrentar isso em algum momento. 
Ponho meu telefone sobre a sacada e olho minhas músicas. Faz um bom tempo que não ouço nada meu, o que me surpreende é que isso não me fez muita falta. Não me acostumei, apenas, com o rock clássico de Joseph, ele me fez meio que adorá-lo. 
Barton Hollow. The Civil Wars. Paro nessa, minha favorita nos últimos dois meses  e ligo o alto-falante, deixando a música invadir o quarto com aquele estilo country-folk que é meu prazer secreto. Não curto muito música country, mas essa banda é uma exceção. Canto junto com John e Joy, me soltando, já que estou na privacidade do meu quarto, e cantando a plenos pulmões. Danço um pouco de pé na frente da janela. E quando começa o solo de Joy, canto junto com ela como sempre faço, tentando tornar minha voz amadora tão aveludada quanto a dela. Nunca vou conseguir cantar como ela, mas me sinto bem cantando junto. Meus lábios se fecham e meu corpo dançante fica imóvel quando noto Joseph encostado na parede, perto da porta, me observando. Sorrindo de orelha a orelha, naturalmente. Literalmente derreto com o rubor do meu rosto. 
Ele entra completamente no quarto, agora que foi flagrado, e deixa duas sacolas plásticas sobre o balcão da TV. 
— Pra alguém que tá tão dolorida - ele caçoa, suas covinhas ficando mais fundas. — Você tava mexendo essa bundinha pra valer. 
Ainda vermelha, tento distraí-lo o máximo possível do pequeno espetáculo que dei, indo até as sacolas. 
— Ah, é? E você não devia me bisbilhotar desse jeito. 
— Eu não tava te bisbilhotando - Joseph diz. — Só curtindo um pouco. Tua voz é linda.
Fico mais vermelha ainda, dando-lhe as costas e fuçando numa das sacolas. 
— Obrigada, amor, mas você é meio suspeito pra falar - olho para trás só o suficiente para lhe endereçar um sorrisinho brincalhão. 
— Não, é sério - ele diz, e parece falar a sério mesmo. — Você não canta tão mal como pensa. 
— Não canto tão mal? - eu me viro, segurando uma garrafona de óleo Johnson’s. — O que isso significa? Que você acha que eu canto só um pouco mal? - eu o olho com desdém e mostro o óleo Johnson’s. — Eu falei uma garrafinha. 
— Bom, eles não tinham outro tamanho. 
— Hã-hã - dou outro sorrisinho, deixando a garrafa no balcão da TV. 
— Não é isso, eu acho que você não canta nem um pouco mal - Joseph responde, e ouço a cama ranger quando ele se senta na ponta. 
Olho para ele no espelho à minha frente. 
— Bom, você acertou com o xampu e o condicionador - elogio, tirando os frascos e colocando-os perto do óleo Johnson’s. — Mas o sabonete líquido, nem tanto. 
— Quê? - ele parece sinceramente decepcionado. — Você disse que não era sabonete líquido para lavar a mão. Esse aí diz claramente “Sabonete líquido para banho” no rótulo - ele aponta, como que para se justificar. 
— Tô brincando - digo, sorrindo gentilmente com sua reação. — Este tá ótimo. 
Ele parece aliviado, e deixa a mão cair ao seu lado na cama. 
— Você devia cantar. Pelo menos uma vez. Só pra saber como é. 
Não gosto dessa lampadazinha acesa que ele parece ter sobre a cabeça. Nem um pouco. 
— Só que não - balanço a cabeça para ele pelo espelho. — Da mesma forma que comer baratas ou virar astronauta por um dia, isso não vai acontecer. 
Enfio a mão na sacola e tiro... ah, não, ele não trouxe... 
— Por que não? - ele pergunta. — Vai ser uma experiência, algo que você nunca pensou em fazer, mas que depois vai te deixar nas nuvens. 
— Que-cazzo-é-isto-aqui? - pergunto, me virando, segurando uma caixa de Vagisil. 
Ele parece incrivelmente pouco à vontade.
— É... bom, você sabe - ele se encolhe todo. — Pras tuas... partes de menina - ele acena com a cabeça para minhas “partes de menina”, constrangido. 
Meu queixo cai. 
— Você não gosta do meu cheiro? Já me viu coçando ali? - estou tentando não rir. 
Os olhos de Joseph ficam do tamanho de pratos. 
— Quê... Não! Eu só achei que iria ajudar com a irritação - nunca o vi tão constrangido, e ao mesmo tempo chocado. — Ei, não é fácil pra um cara ficar na frente daquela prateleira lendo os rótulos - ele começa a gesticular com as mãos. — Eu vi que era pra essa parte do corpo e joguei na cestinha. 
Deixo o Vagisil no balcão e ando até ele. 
— Bom, esse negócio não vai ajudar a aliviar a irritação causada por... - estufo os lábios — “fricção excessiva”, mas o que vale é a intenção - eu me sento no colo dele, a cavalo sobre sua cintura, e me curvo para beijá-lo. 
Ele passa os braços pelas minhas costas. 
— Então acho que já podemos dizer que não precisamos mais de quartos separados - Joseph diz, sorrindo para mim. 
Com os dedos entrelaçados atrás de sua nuca, eu me curvo e o beijo de novo. 
— Eu mesma iria pegar suas coisas e trazer pra cá enquanto você tava fora, mas aí lembrei que joguei a cópia da tua chave no chão quando saí de lá ontem. 
Ele abaixa suas grandes mãos e segura minha bunda, me puxando mais para perto. 
Depois beija a curva do meu pescoço e fica de pé, me carregando com ele. 
— Vou pegar tudo agora - diz, me deixando deslizar cuidadosamente do seu colo. — Acho que vou levar uns dias pra aprender a tocar aquela canção e decorar a letra. Você já parece estar pronta. 
Oh-oh... Estreito os olhos para ele, olhando-o de lado. 
— Aprender por quê? 
Suas covinhas ficam mais fundas de novo. 
— Se bem me lembro, você renunciou à liberdade depois de ganhar aquele jogo de bilhar. Sua expressão é quase de pura maldade. Balanço a cabeça, lentamente primeiro, depois com mais veemência quando me dou conta da minha situação. 
— Tuas palavras foram - ele diz, com um gesto. — Abre aspas: Só quero ficar livre de comer baratas ou botar a bunda na janela do carro. Sinto muito, gata, mas você precisa aprender a ficar de boca fechada. 
— Não... Joseph - fico na frente dele, de braços cruzados. — Você não pode me obrigar a cantar na frente de uma plateia. Isso é uma crueldade. 
— Com você ou com a plateia? 
Ele dá um sorriso. 
Eu piso no pé dele com força. 
— Tô brincando! Tô brincando! - ele diz, rindo alto.
— Bom, você não pode me obrigar. 
Joseph inclina a cabeça para um lado, aqueles olhos verdes brilhando com um pouco de tudo que o torna irresistível. 
— Não, não vou te obrigar a fazer nada, mas... - que legal, agora ele está fingindo fazer bico. E o pior é que está funcionando. — Eu queria muito, muito, muito que você cantasse - ele me segura pelos cotovelos e me puxa para perto. 
Rosno para ele e cerro os dentes por trás dos lábios apertados. 
Um milhão e um. Um milhão e dois. Um milhão e três. 
Respiro fundo. 
— Tá. 
Seu rosto se ilumina. 
— Mas só uma vez! - levanto um dedo. — E se alguém rir de mim, não me deixa na cadeia! 
Ele segura meu rosto, apertando minhas bochechas com as mãos, e beija minha boca de siri.
Minutos depois, Joseph volta para o quarto trazendo suas mochilas e o violão do irmão. 
Ele está mesmo empolgado com a ideia. 
Eu estou completamente apavorada e já querendo me estapear por ter concordado. 
Mas preciso admitir que também sinto uma pontinha de empolgação. Não fico totalmente em pânico diante de uma plateia e não tive problemas para fazer um discurso sobre espécies ameaçadas de extinção no colegial, nem para fazer o papel da enfermeira Ratched em Um Estranho no Ninho na peça do último ano. Mas cantar é diferente. Não sou tão má atriz. Minha voz, especialmente em dueto com alguém como Joseph, que canta como um deus do blues-rock que derrete calcinhas, é outra história. 
— Pensei que você não quisesse ouvir o tipo de música que eu gosto. 
Joseph deixa as mochilas no chão e vai para a cama com o violão. 
— Bom, essa canção que você tava cantando e dançando tão bonitinha, seja qual for, passa. Eu tava gostando. 
— The Civil Wars, minha banda preferida do momento, acho - digo, saindo do banheiro de cabelo molhado, enxugando as pontas com uma toalha. — O nome da canção é Barton Hollow. 
— É tipo um folk moderno - ele diz, dedilhando o violão algumas vezes. — Gostei. 
Ele continua, olhando para mim: 
— Cadê o seu celular? 
Vou pegá-lo da sacada da janela, volto a música para o início e entrego para ele. Ele o coloca sobre a cama ao seu lado e aperta play. Continuo enxugando meu cabelo enquanto ele aprende a melodia de ouvido, parando e começando a música inúmeras vezes, fechando os dedos ao redor do braço do violão e testando o som das cordas até encontrar as certas, que correspondem às notas da canção. Em questão de minutos, depois de alguns acordes desafinados, ele começa a tocar o primeiro compasso facilmente. 
E quando anoitece, já tirou praticamente toda a canção, com exceção de um trecho curto que ele sempre confunde com outro. Querendo aprender o mais rápido possível, ele acabou procurando as cifras na internet, e, quando as encontrou, isso certamente acelerou o processo.
A letra foi mais fácil. 
— Acho que já quase aprendi - Joseph diz, sentado no parapeito diante de uma paisagem escura e nublada, chuvosa. Começou a chover por volta das oito da noite e não parou mais. De vez em quando, me junto a ele e canto um pouco, mas estou nervosa demais. Não sei mesmo como vou conseguir fazer uma loucura dessas, se já fico nervosa só com ele no quarto. Lá se vai minha coragem diante de qualquer plateia. Prevejo um caso extremo de pânico do palco, no fim das contas. 
— Vem, gata - ele diz com um aceno, com os dedos no braço do violão. — Só porque você conhece a letra, não significa que não tenha que ensaiar comigo. 
Me sento no pé da cama, emburrada. 
— Promete que não vai fazer nenhuma cara engraçada, nem rir, nem sorrir, nem... 
— Não vou nem respirar - ele diz, rindo. — Juro! Vamos lá. 
Suspiro e me levanto, deixando meu stick de carne-seca semidevorada em cima do criado-mudo. Joseph posiciona o violão sobre a coxa e toma um golinho de chá gelado, preparando a boca para cantar. 
— Não se preocupe - diz, enquanto me aproximo lentamente. — O cara tem mais versos sozinho do que a garota, ela só faz um solo, o resto você vai cantar junto comigo. 
Dou de ombros, nervosa. 
— É verdade - admito. — Pelo menos, na maior parte da canção, tua voz vai ajudar a encobrir a minha. 
Ele coloca a palheta nos lábios e estende a mão para mim. 
— Amor, vem cá. 
Ando até lá, pego sua mão e ele me puxa entre suas pernas, o violão entre nós. 
Quando fico parada e estou onde ele quer, Joseph tira a palheta da boca. 
— Adoro a tua voz, tá? Mas mesmo se você não soubesse cantar, eu iria querer que você fizesse isso. O que os outros pensam não importa. 
Meus lábios se erguem num sorriso inseguro e tímido. 
— Tá - digo. — Vou fazer isso por você, mas é só por você, trate de se lembrar disso - aponto severamente para ele. — Vai ficar me devendo uma. 
Ele balança a cabeça.
— Antes de mais nada, não quero que faça isso só por mim, mas, como ensaiar é mais importante do que discutir com você sobre isso, vou esperar até depois de cantar no Old Point pra perguntar se você aproveitou alguma coisa, além de me contentar. 
— Acho que é justo. 
Ele balança a cabeça uma vez, se posiciona novamente, e então começa a encostar a palheta nas cordas. 
— P-peraí... talvez se você também ficar de pé, não vou me sentir tão isolada. 
Joseph ri e se levanta da sacada. 
— Caramba, garota, tá, vamos fazer do jeito que você quiser. Se resolver cantar com um saco de papel na cabeça, você pode. 
Olho para ele como se estivesse apreciando a ideia idiota. 
— Não, Demi, nada de saco na cabeça. Agora vamos fazer isso de uma vez. 
Ensaiamos até bem tarde, até que fomos obrigados a parar porque, aparentemente, estávamos incomodando os hóspedes dos dois lados. E bem na hora que eu estava começando a pegar o jeito de verdade e me soltando mais, sem me preocupar com o que Joseph poderia pensar da minha voz. 
Acho que eu estava cantando bastante bem. 
Vamos para a cama mais cedo, já que o ensaio foi interrompido, nos deitamos enroscados um ao lado do outro e ficamos conversando. 
— Fico feliz por você ter se enchido das minhas besteiras - digo, deitada na dobra do braço dele. — Senão eu poderia estar de volta à Carolina do Norte, agora. 
Sinto seus lábios pressionando o meu cabelo. 
— Preciso confessar uma coisa - ele diz. 
Aguço os ouvidos. 
— Hã? 
— É - ele diz, olhando para o teto, onde luzes do movimento da cidade lá fora traçam estranhos desenhos de vez em quando. — Em Wellington, no Kansas, no primeiro motel que a gente parou, quando você tava no banheiro de manhã e eu dei dois minutos pra você se aprontar... - Joseph para e sinto sua cabeça se mover um pouco, como se ele estivesse olhando para mim. Afasto a cabeça do braço dele para poder olhá-lo. 
— Lembro, sim, o que você fez? 
Ele abre um sorriso nervoso.
— Eu meio que fotografei tua carteira de motorista com meu celular.
Eu pisco, levemente atordoada. 
— Por quê? - levanto um pouco mais o corpo para poder olhar para ele sem correr o risco dos meus olhos virarem nas órbitas. 
— Você tá brava? 
Eu bufo. 
— Acho que depende do que você pretendia fazer com essa informação um tanto pessoal. 
Ele desvia o olhar, mas vejo seu rosto corando, mesmo na escuridão do quarto. 
— Bom, com certeza não foi pra poder te encontrar depois e te picar em pedacinhos, nada disso. 
Meu queixo cai. 
— Nossa, que alívio! - rio. — Mas, falando sério, por que você tirou a foto? 
Ele olha para o teto de novo, aparentemente perdido em pensamentos. 
— Eu só queria ter certeza de que poderia te achar novamente - ele confessa. — Sabe... pro caso de cada um decidir seguir seu caminho. 
Meus olhos sorriem para ele, mas minha boca não. Não estou brava por ele ter tirado a foto por esse motivo, isso meio que me faz querer beijá-lo, mas não sei se gosto dessa parte do “pro caso de cada um” também. Isso me faz achar, mais do que eu já achava, que ele planejava ir embora em algum momento, independente do que acontecesse. 
— Joseph? 
— Sim, gata? 
— Tem mais alguma coisa que você não tá me contando? 
Ele fica em silêncio. 
— Não. Por que tá perguntando isso? 
Olho para o teto também. 
— Não sei, mas sempre senti uma estranha... relutância em você. 
— Relutância? - Joseph exclama, surpreso. — Eu relutei pra te convencer a fazer esta viagem comigo? Ou pra te chupar? 
— Não, acho que não. 
— Demi, a única coisa que já me fez relutar foi me perguntar se era certo a gente ficar junto.
Ergo o corpo da cama e me viro completamente para olhá-lo. A sombra no seu rosto deixa seus olhos mais ferozes. Ele está sem camisa, com um braço dobrado atrás da cabeça. 
— Você acha que não estamos certos? 
Essa conversa está começando a revirar meu estômago. 
Ele estende a mão que não está atrás da sua cabeça e segura meu pulso com delicadeza. 
— Não, gata, eu... eu acho que estamos certos de todas as maneiras... e por isso penso... por isso pensei que fosse melhor a gente não se envolver. 
— Mas isso não faz o menor sentido. 
Ele me puxa para si e me deito nele, com as mãos no seu peito. 
— Eu só não tinha certeza se a gente devia ir em frente - ele diz, passando os dedos no cabelo atrás das minhas orelhas. — Mas, gata, você também não tinha muita certeza de nada. 
Volto a me deitar ao seu lado. Nisso ele tem razão. 
A única coisa que ainda não entendo é: quais eram as razões dele para tomar tanto cuidado para não se envolver, afinal? Ele sabe por que saí de casa, e sabe tudo sobre a morte de Wilmer. Tenho uma lista quilométrica de motivos válidos presa na porta da geladeira com um ímã em forma de banana, pra todo mundo ver. Os motivos de Joseph ainda estão escondidos em algum lugar, dentro de uma caixa de sapatos com “Cartões de Natal” escrito na tampa. 
E eu acho que não é só o pai dele. 
Joseph tira o braço de baixo da minha cabeça e sobe em mim, com uma perna de cada lado, seu corpo apoiado nos braços musculosos. 
— Fico feliz por você não conseguir dormir com música - ele diz, aparentemente lembrando a primeira coisa que falei para ele, e então se abaixa e me beija. 
Levanto os braços e aninho seu rosto lindo nas minhas mãos, puxando-o para baixo para me beijar de novo. 
— E eu fico feliz por Idaho ser famoso por suas batatas. 
Ele franze o cenho. 
Apenas sorrio e o puxo para os meus lábios de novo. Ele me beija profundamente, enroscando sua língua na minha. E então começa a me beijar descendo para a barriga. Faz um círculo ao redor do meu umbigo com a língua e enfia os dedos por baixo do elástico da minha calcinha. 
— Acho que não consigo... - digo baixinho, olhando para ele.
Joseph lambe minha barriga e beija meus dedos quando minhas mãos alcançam seu rosto e depois seu cabelo. 
— Nada de sexo - diz. — E prometo que vou te chupar com cuidado - ele tira minha calcinha e eu levanto um pouco a bunda para facilitar. 
Ele beija a parte de dentro da minha coxa. Depois, a outra. 
— Vou manter minha língua bem úmida pra não arder - ele diz com delicadeza, e beija minhas coxas de novo, chegando mais perto do meu calor. 
Gemo um pouco quando seus dedos me tocam bem cuidadosamente e abrem meus lábios. 
— Cacete, amor, você tá inchada mesmo - seu comentário é sincero, sem nenhum sinal de provocação. 
Arde um pouco, mas, meu Deus, quero tanto isso... 
Sinto seu hálito quente no meio das minhas pernas. 
— Vou tomar bastante cuidado - ele diz, e fico sem ar quando sua língua muito úmida me lambe uma vez lentamente, seus dedos ainda me mantendo aberta, mas sem exercer pressão sobre a área. 
Meu corpo derrete nos lençóis quando ele me lambe várias vezes, usando só pressão suficiente para que eu não sinta dor, apenas um êxtase completo e desinibido.

Estamos ensaiando Barton Hollow há dois dias, sobretudo no nosso quarto no Holiday Inn, mas já fomos andando até o Mississippi no final da Canal Street e ensaiamos um pouco ali também. Acho que Joseph teve essa ideia para tentar discretamente me deixar mais à vontade para cantar em público. Não havia muita gente lá quando fomos, mas mesmo assim eu estava nervosa pra caramba. A maioria passava sem parar para ouvir, mas uma ou outra pessoa ficava um pouco, ao passar. Uma mulher sorriu para mim. Mas não sei se foi um sorriso de pena porque sou péssima, ou se ela realmente gostou da minha voz. 
Acho que podia ser uma coisa ou outra. 
No terceiro dia, Joseph tem certeza de que já estamos prontos e está preparado para ir ao Old Point logo e se apresentar. Eu, nem tanto. 
Preciso de mais uma ou duas semanas, meses ou anos. 
— Você vai conseguir - ele diz, amarrando as botas. — Na verdade, vai arrasar. Quando terminar, vou precisar bater nos caras querendo te agarrar. 
— Ah, para - digo, vestindo um top preto com alças de corrente bem lindinhas. De jeito nenhum vou usar tomara que caia numa noite como esta. — Eu vi como as garotas te olhavam naquela noite, acho que cantar junto com você é a única vantagem pra mim, porque todo mundo vai prestar atenção demais em você pra notar meus erros. 
— Amor, você conhece a canção melhor do que eu - ele diz. — Para de ser tão pessimista - sua camiseta preta cobre seus músculos abdominais. Ele está usando um cinto preto e prateado, mas só enfia a camiseta um pouco em volta da fivela, deixando o resto por cima dos seus quadris esculturais. Jeans escuro.
O que ele estava dizendo? 
— A única coisa que você precisa lembrar - ele continua, enquanto passa desodorante. — É de não cantar toda a letra, você poderia cantar menos, mas continua cantando nas minhas partes também - ele ergue a sobrancelha, olhando para mim. — Não que isso me incomode, só achei que você iria ficar mais tranquila tendo que cantar menos. 
— Eu sei, é que tô tão acostumada a cantar junto a música toda... meio difícil pegar o jeito de não cantar algumas partes. 
Joseph balança a cabeça. 
Enfio os pés nas minhas sandálias novas e vou me olhar no espelho alto ao lado do balcão da TV. 
— Você tá tão sexy - Joseph diz, chegando por trás de mim. 
Ele enfia as mãos na minha cintura e beija meu pescoço, depois dá um tapa na minha bunda coberta pelo jeans justo, quase aderente, e eu dou um gritinho, porque dói. 
Ele beija alegremente na bochecha. 
Eu me encolho e o empurro, provocante. 
— Vai borrar minha maquiagem. 
Joseph se afasta sorrindo, pega a carteira do criado-mudo e enfia no bolso de trás. 
— Bom, acho que é isso - ele diz. 
Ele vai para o meio do quarto e estende uma mão para mim, com o outro braço dobrado às costas, e faz uma reverência, sorrindo. As pontas dos meus dedos se aproximam dos seus e ele pega a minha mão e me puxa para a porta.
— E o violão? 
Paramos antes de abrir a porta e ele me olha, agradecido. 
— É, pode ser útil - diz, pegando o violão pelo braço. — Se Tom não estiver lá, a gente pode dar azar e ficar sem um violão pra tocar. 
— Ah, então eu não devia ter falado nada. 
Ele balança a cabeça e me puxa para a porta.

Gostaram? Como será que a Demi irá se sair na primeira apresentação dela? O Joseph incentivando ela, tão lindinhos!!!
Comentem e até o próximo, bjs <3

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